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GUARAPARI/ES
2020
ISABELLA SARMENTO ALVES FERREIRA
GUARAPARI/ES
FACULDADES DOCTUM DE GUARAPARI
2020
FACULDADES DOCTUM DE GUARAPARI
FOLHA DE APROVAÇÃO
BACHAREL EM DIREITO.
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Prof. Esp. Fabricio da Mata Correa
Faculdades Doctum de Guarapari
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Prof.: Esp. Joadir de Souza Junior
Faculdades Doctum de Guarapari
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Prof.: Me. Antônio Ricardo Zany
Faculdades Doctum de Guarapari
À Deus, que nos criou e com sua infinita
bondade e me iluminando até o presente
momento; À esta instituição, seu corpo
docente, direção, administração e cada
professor do curso de Direito que
oportunizaram a janela que hoje vislumbro
um horizonte superior; À meus pais,
Daniele Cristina Sarmento Alves Ferreira e
Rodrigo Alves Ferreira, e minha irmã
Isadora Sarmento Alves Ferreira que me
orientam na caminhada da vida, me
aconselham e protegem com amor; À meu
namorado, José Bernardo Neto, que é meu
grande incentivador; Ao meu orientador
Fabrício da Mata Correa pelo suporte no
pouco tempo que lhe coube e incentivos.
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RESUMO
O presente artigo tem como objetivo propiciar uma reflexão de como é necessário
entender os efeitos que um infrator psicopata pode trazer sendo inserido novamente
na sociedade, ao ser classificado como semi-imputável, bem como refletir como as
leis podem ter efeitos negativos dependendo de como for determinada, em que pese
a capacidade de manipulação que os agentes portadores de Transtorno Antissocial
possui. Este assunto está relacionado com o aumento de violência que a sociedade
sofre nos dias atuais. Em muitos casos, é difícil identificar o psicopata, e quando se
consegue diagnosticá-lo, o mesmo não é classificado como doente mental, não
levando em consideração a falta de remorso e sua incapacidade de aprender com a
punição. Além de averiguar a validade da exatidão na avaliação de risco e sua
importância. Este assunto tem grande relevância social que de fato é um problema
real que merece uma atenção maior por parte do judiciário. Em que pese a
necessidade de ser tratada judicialmente como doença mental, vez que o indivíduo
portador de tal transtorno, tem ausência de remorso, e é incapaz de aprender com a
pena, invalidando assim a finalidade da pena privativa de liberdade.
1 INTRODUÇÃO
Este artigo tem como objetivo analisar os riscos que o infrator psicopata pode
trazer para a sociedade, haja vista que não se trata apenas de meros infratores e sim
de psicopatas. Psicopatas não são apenas aqueles que cometem crimes hediondos e
sim aqueles que são capazes de interagir com todos na sociedade, além disso, é
pessoas que possuem uma inteligência elevada, um charme superficial, são falsos e
incapazes de amar, dificultando assim a identificação dos mesmos. Porém, a
sociedade só tem acesso a essa identificação quando o caso ganha grande
repercussão.
2 DA PSICOPATIA
2.1 Histórico
A psicopatia em si deve ser tratada como doença que afeta de certa forma a
capacidade do indivíduo de se correlacionar com outros devido a falta de remorso,
compaixão, e emoções em geral. Alguns estudiosos tratam a psicopatia como doença
curável, porém outros dizem que não existe reversão. Assevera-se que o indivíduo
acometido de psicopatia não deve cumprir penas como pessoas comum mas sim
medida de segurança, haja vista que o papel ressocializador da prisão seria falho
quando se trata de um indivíduo psicopata. Por outro lado, ao cumprir medida de
segurança receberá tratamento adequado e havendo a possibilidade de ser curado
de sua psicopatia e como resultado ser reinserido na sociedade.
presumida quanto à inimputabilidade, uma vez que a própria lei indique que a sanção
penal executada será a medida de segurança, sendo de competência do juiz constatar
que o inimputável realizou um injusto penal.
Ademais a medida de segurança é um dos meios de sanção penal determinada
pelo Estado ao indivíduo inimputável, classificada em dois tipos: a detentiva, que
dispõe sobre a internação em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico, e a
restritiva, na qual o tratamento psiquiátrico é em regime ambulatorial (art. 41, 97,
caput, 1ª parte, do CP). As medidas de segurança estão dispostas no artigo 96 e
incisos do Código Penal, conforme segue: ''Art.96: As medidas de segurança são: I –
internação em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico ou, à falta, em outro
estabelecimento adequado; II – sujeição a tratamento ambulatorial'' (BRASIL, 1940,
online).
Além disso, para o indivíduo com distúrbios antissociais que represente risco a
ordem social no período que estiver recluso deverá ser submetido a perícia anual.
Com efeito, a essência do instituto da medida de segurança é somente preventiva,
diferente da pena que possui natureza retributiva-preventiva.
Assim é o entendimento de Damásio (2014, p. 272):
Importante frisar que a grande maioria dos crimes cometidos por psicopatas
são cruéis e bastante violentos. A fim de satisfazer desejo próprio de ver o sofrimento
de outrem, por serem indivíduos que não possuem remorso.
Apesar da inexistência de tratamento adequado e eficaz para a cura do
Transtorno Antissocial é desconhecida, havendo carência de uma atenção especial à
classe, uma vez que o perigo que oferecem é ininterrupto. Um exemplo veraz disso,
é a história de Francisco Costa Rocha (Chico Picadinho), cujos crimes vieram a chocar
o país (JÚNIOR, 2010).
Francisco Costa Rocha nasceu em 27 de abril de 1942. Fruto de uma relação
extraconjugal de seu pai com uma mulher 20 anos mais jovem, foi rejeitado pelo seu
genitor desde o nascimento. Os casos de sua mãe com homens casados sempre o
perturbavam. Os problemas de comportamento começaram desde cedo, na escola
arranjava brigas e confusões com os colegas. Abandonou os estudos quando
adolescente, e passava os dias aprontando nas ruas com um grupo de arruaceiros.
Tentou trabalhar, porém não permanecia muito tempo em um emprego por causa de
sua falta de disciplina. Passou pela aeronáutica e até mesmo policial militar tentou ser,
porém a indisciplina ficava em seu caminho.
Em 2 de agosto de 1966 Francisco conheceu a bailarina Margareth Suida. Se
encontraram em um bar, e em seguida Francisco convidou-a para visitar seu
apartamento. Esse seria o seu último dia de vida. Ela foi estrangulada com um cinto,
diversos hematomas e mordidas na região dos seios, também foram encontrados no
corpo da vítima. Na banheira, com o auxílio de uma gilete retalhou o corpo da vítima,
que, segundo Casoy (2009b), estaria mais perto de uma dissecação do que um
esquartejamento. O apartamento no qual vivia pertencia a um amigo que o denunciou,
com medo de que fosse responsabilizado pelo ocorrido. Francisco foi preso no dia 5
de agosto de 1966. Condenado a 18 anos por homicídio qualificado, somados a 2
anos e 6 meses por destruição de cadáver, porém sua pena foi comutada para 14
anos, quatro meses e 24 dias.
Permaneceu até o ano de 1972 na Penitenciária do Estado de São Paulo, onde
fez supletivo do 1º e 2º graus – recebia visitas frequentes e acabou até mesmo se
casando enquanto ainda estava preso. Era considerado um prisioneiro de confiança,
trabalhando diretamente na diretoria da penitenciária. Entre os anos de 1972 e 1974
cumpriu sua pena na Colônia Penal Agrícola Professor Noé Azevedo, em Bauru.
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depois, em 1996 seu pedido de progressão foi mais uma vez negado tal como o pedido
de conversão para medida de segurança.
No mês de abril de 1998 ele deveria ganhar liberdade, porém a Promotoria de
Taubaté, valendo-se do Decreto de 1934, citado anteriormente, que prevê a interdição
de direitos civis dos psicopatas, impediu a liberdade do mesmo, por estar
despreparado para viver em sociedade, Francisco continua até os dias de hoje na
Casa de Custódia de Taubaté
Após extrapolar o limite de 30 anos de medida de segurança o magistrado da
comarca de Taubaté solicitou que ele deixasse o estabelecimento e fosse transferido
para uma unidade de tratamento psiquiátrico.
Neste caso fica nítido que na pena privativa de liberdade por si só não se obtém
resultado esperado só evita que os antissociais, em que pese a continuidade
continuam praticando dentro do ambiente prisional. Demonstrando que a prisão pra
eles não é a solução, logo os indivíduos considerados psicopatas devem cumprir
medida de segurança recebendo o tratamento ideal para sua conduta específica, com
realização de tratamento por profissional adequado. O magistrado em diversos casos
deve submeter o agente ao exame pericial de risco, e sendo constatada personalidade
psicopata submeterá ao agente medida de segurança, para que sua restrição de
liberdade não seja de caráter punitivo, mas, com o fim de tratá-lo. Assim espera que
o indivíduo psicopata seja tratado como inimputável, conforme veremos mais adiante,
por meio de medida de segurança, objetivando aptidão a conviver e sociedade
somente em caso de comprovação de redução de periculosidade.
O caso de Chico picadinho deixou de forma clara que mesmo cumprindo sua
sentença em unidade prisional comum ele não estava ressocializado, onde não havia
realizado o tratamento adequado o que aumentou, consideravelmente suas chances
de reincidência, logo, ao ser solto voltou a cometer delitos vindo a ceifar mais uma
vida. Somente ao reincidir Chico picadinho foi submetido á tratamento específico, para
que um dia possa reintegrar a sociedade não dando margem ao juízo para uma soltura
precoce e não pondo a sociedade em risco com um psicopata sem tratamento à solta.
Finalizando, é explicito o fato de o Estado ter ciência que a pessoa não possui
condições plenas de viver em sociedade e mesmo assim é obrigado a solta-la.
Cabendo nesses casos ao Poder Judiciário identificar tal problema e requisitar
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Será efetuada uma análise crítica com a avaliação dos riscos de violência, e
como essa violência pode afetar a integridade humana. Vejamos o que o autor
Quinsey et al. (2006, n.p. apud HUSS, 2011, p. 137) tem a dizer, no que tange a
exatidão da avaliação de risco:
Observe o que Barbaree (2005, n.p.; BARBAREE et al., 1999, n.p. apud HUSS,
2011, p. 135-36) tem a dizer:
5.1 Champinha
que foi a Justiça pedir o fechamento da UES. O que faz com que o destino daquele
que lá estão abrigados, seja incerto.
João Acácio Pereira da Costa, em meados da década de 60, aos quatro anos
de idade tornou-se órfão. Em consequência de tal acontecimento um tio passou a criá-
lo, juntamente com seu irmão. Não havia indícios de que se tornaria um serial killer.
Após alguns anos por meio de fuga passou a morar nas ruas de Joinville (SC),
começando sua carreira delinquente com pequenos roubos.
Com o passar dos anos, mudou-se para o estado de São Paulo, e logo
começou a amedrontar proprietários de mansões, onde realizava assaltos e
posteriormente estuprava as vítimas, que por vezes eram levadas a óbito. Algumas
características em seus crimes brutais eram sempre ir aos locais planejados para os
assaltos de transportes públicos ou até mesmo de táxi, ao chegar sempre retirava os
calçados e desligava todos os disjuntores de luzes, usando como iluminação somente
lanternas com luzes vermelhas.
No ano de 1967 foi preso, com seus 24 (vinte quatro) anos de idade. Vindo a
ser condenado por 88 processos, sendo 4 homicídios e 7 tentativas e mais 77 roubos.
Ao atingir 30 anos de prisão, estando em regime de reclusão, conseguiu a
liberdade, e quatro meses depois foi assassinado, por um indivíduo que afirmou estar
sendo ameaçado com uma faca por João Acácio Pereira da Costa, após ter
questionado o motivo pelo qual teria matado sua mãe e seus dois irmãos.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por meio deste trabalho, é construída uma reflexão no que tange a psicopatia,
o direito penal e os riscos ao qual o infrator psicopata pode trazer para a sociedade
após sua reinserção, dependendo da forma como a lei for determinada. Foi
desenvolvida uma análise de assuntos relevantes a pesquisa de forma esclarecedora
para concluir que em modo geral a reinserção do psicopata infrator afeta não só a
sociedade, mas também o próprio infrator.
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Teve como propósito uma contribuição à sociedade e aos estudos sobre o tema
enquanto trabalho de conclusão de curso, que intentou repensar as formas da
aplicabilidade da lei e nos seus efeitos.
Conforme analisado após as pesquisas realizadas, o infrator psicopata deve
ser tratado como pessoa acometida de doença, ou seja, inimputável. Em que pese a
capacidade do indivíduo de se correlacionar com outros devido à falta de remorso,
compaixão, e emoções em geral. Assevera-se que o indivíduo acometido de
psicopatia não deve cumprir penas como pessoas comuns, mas sim medida de
segurança, haja vista que o papel ressocializador da prisão seria falho quando se trata
de um indivíduo psicopata. Por outro lado, ao cumprir medida de segurança receberá
tratamento adequado e havendo a possibilidade de ser curado de sua psicopatia e
como resultado ser reinserido na sociedade. No decorrer do trabalho foi explanada a
legislação vigente e o entendimento doutrinário, levando à reflexão a real necessidade
de criação de lei distinta, que seja eficaz para a solução dos debates e escassez do
risco que os psicopatas trazem a sociedade.
Além disso, como foi discorrido no artigo, o avaliador tem dificuldades em dar
uma exatidão na avaliação de risco quando o psicopata não apresenta violência,
dificilmente sendo capaz de dizer a medida de violência daquele infrator haja vista que
psicopatas, no geral, são pessoas que possuem uma inteligência elevada, um charme
superficial, são falsos e manipuladores, dificultando assim a identificação dos mesmos
e a identificação de violência.
Ao que diz respeito a inimputabilidade, a dificuldade que os psicólogos forenses
tem quando vão prestar assistência aos tribunais, as investigações de
inimputabilidade estão entre as mais difíceis por várias razões, mas a principal é que
a doutrina legal tende a ser pouco clara a respeito do assunto.
Sendo assim, os efeitos que a sociedade pode sofrer com a reinserção desses
infratores sem assistência psicológica ou judicial é bem pior do que se imagina, pois,
o nível de violência do psicopata tende a aumentar com o passar dos anos sendo
possível voltar as ruas para cometer crimes tão cruéis quanto antes.
Por fim, conclui-se, com este artigo, que não é responsabilizar o Direito a
maneira pela qual ele trata os psicopatas, mas é de fato um problema real que merece
uma atenção maior por parte do judiciário. Em que pese que a psicopatia deve ser
tratada judicialmente como doença mental, vez que o indivíduo portador de tal
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ABSTRACT
This article aims to provide a reflection on how it is necessary to understand the effects
that a psychopathic offender can bring to be inserted back into society, when being
classified as semi-inputable, as well as reflecting how laws can have negative effects
depending on as determined, in spite of the manipulation capacity possessed by the
antisocial disorder carriers. This issue is related to the increase in violence that society
suffers today. In many cases, it is difficult to identify the psychopath, and when he is
diagnosed, he is not classified as mentally ill, regardless of his lack of remorse and his
inability to learn from punishment. In addition to ascertaining the validity of accuracy in
risk assessment and its importance.
REFERÊNCIAS
CASOY, Ilana. O quinto mandamento: caso de polícia. São Paulo: Ediouro, [2009a].
CLECKLEY, H. The mask of sanity. 5. ed. Saint Louis: C. V. Mosby and Company,
1941.
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal. 14. ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2012.
JESUS, Damásio de. Código Penal anotado. 22. ed. São Paulo: Saraiva, 2014.
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JÚNIOR, Humberto Maia. A prisão perpétua de Chico Picadinho. Época, 23 set. 2010.
Disponível em: <http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI174597-
15228,00-A+PRISAO+PERPETUA+DE+CHICO+PICADINHO.html>. Acesso em: 5
jun. 2020.
SHINE, Sidney Kiyoshi. Psicopatia. São Paulo: Casa do psicólogo, 2000. Disponível
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BR&lr=&id=TvuB_5gJnTQC&oi=fnd&pg=PA11&dq=apanhado+hist%C3%B3rico+da+
psicopatia&ots=6CoWZMBqj5&sig=rPfQV08EePNeFQNcodgWObN4C28&redir_esc
=y#v=onepage&q=apanhado%20hist%C3%B3rico%20da%20psicopatia&f=false.
Acesso em: 05 jun. 2020.
SILVA, Ana Beatriz Barbosa. Mentes perigosas: o psicopata mora ao lado. Rio de
Janeiro: Objetiva, 2008.