Você está na página 1de 27

INSTITUTO ENSINAR BRASIL

FACULDADES DOCTUM DE GUARAPARI

ISABELLA SARMENTO ALVES FERREIRA

PSICOLOGIA E O DIREITO PENAL: OS RISCOS QUE O INFRATOR PSICOPATA


PODE TRAZER AO SER REINSERIDO NA SOCIEDADE

GUARAPARI/ES
2020
ISABELLA SARMENTO ALVES FERREIRA

PSICOLOGIA E O DIREITO PENAL: OS RISCOS QUE O INFRATOR PSICOPATA


PODE TRAZER AO SER REINSERIDO NA SOCIEDADE

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado ao Curso de Direito das
Faculdades Doctum de Guarapari, como
requisito parcial à obtenção do título de
Bacharel em Direito.

Área de Concentração: Direito Penal.

Orientador: Prof. Esp. Fabricio da Mata


Correa.

GUARAPARI/ES
FACULDADES DOCTUM DE GUARAPARI
2020
FACULDADES DOCTUM DE GUARAPARI

FOLHA DE APROVAÇÃO

O Trabalho de Conclusão de Curso intitulado: PSICOLOGIA E O DIREITO


PENAL – OS RISCOS QUE O INFRATOR PSICOPATA PODE TRAZER AO SER
REINSERIDO NA SOCIEDADE, elaborado pelo aluno ISABELLA SARMENTO
ALVES FERREIRA foi aprovado por todos os membros da Banca Examinadora e
aceita pelo curso de Direito das Faculdades Doctum de Guarapari, como requisito
parcial da obtenção do título de

BACHAREL EM DIREITO.

Guarapari, ___de ____________ 2020

_____________________________________________
Prof. Esp. Fabricio da Mata Correa
Faculdades Doctum de Guarapari

_____________________________________________
Prof.: Esp. Joadir de Souza Junior
Faculdades Doctum de Guarapari

_____________________________________________
Prof.: Me. Antônio Ricardo Zany
Faculdades Doctum de Guarapari
À Deus, que nos criou e com sua infinita
bondade e me iluminando até o presente
momento; À esta instituição, seu corpo
docente, direção, administração e cada
professor do curso de Direito que
oportunizaram a janela que hoje vislumbro
um horizonte superior; À meus pais,
Daniele Cristina Sarmento Alves Ferreira e
Rodrigo Alves Ferreira, e minha irmã
Isadora Sarmento Alves Ferreira que me
orientam na caminhada da vida, me
aconselham e protegem com amor; À meu
namorado, José Bernardo Neto, que é meu
grande incentivador; Ao meu orientador
Fabrício da Mata Correa pelo suporte no
pouco tempo que lhe coube e incentivos.
4

PSICOLOGIA E O DIREITO PENAL: OS RISCOS QUE O INFRATOR PSICOPATA


PODE TRAZER AO SER REINSERIDO NA SOCIEDADE

Isabella Sarmento Alves Ferreira1


Esp. Fabricio da Mata Correa2

RESUMO
O presente artigo tem como objetivo propiciar uma reflexão de como é necessário
entender os efeitos que um infrator psicopata pode trazer sendo inserido novamente
na sociedade, ao ser classificado como semi-imputável, bem como refletir como as
leis podem ter efeitos negativos dependendo de como for determinada, em que pese
a capacidade de manipulação que os agentes portadores de Transtorno Antissocial
possui. Este assunto está relacionado com o aumento de violência que a sociedade
sofre nos dias atuais. Em muitos casos, é difícil identificar o psicopata, e quando se
consegue diagnosticá-lo, o mesmo não é classificado como doente mental, não
levando em consideração a falta de remorso e sua incapacidade de aprender com a
punição. Além de averiguar a validade da exatidão na avaliação de risco e sua
importância. Este assunto tem grande relevância social que de fato é um problema
real que merece uma atenção maior por parte do judiciário. Em que pese a
necessidade de ser tratada judicialmente como doença mental, vez que o indivíduo
portador de tal transtorno, tem ausência de remorso, e é incapaz de aprender com a
pena, invalidando assim a finalidade da pena privativa de liberdade.

Palavras-chave: Infrator. Psicopata. Sociedade. Inimputabilidade.

1 INTRODUÇÃO

Este artigo tem como objetivo analisar os riscos que o infrator psicopata pode
trazer para a sociedade, haja vista que não se trata apenas de meros infratores e sim
de psicopatas. Psicopatas não são apenas aqueles que cometem crimes hediondos e
sim aqueles que são capazes de interagir com todos na sociedade, além disso, é
pessoas que possuem uma inteligência elevada, um charme superficial, são falsos e
incapazes de amar, dificultando assim a identificação dos mesmos. Porém, a
sociedade só tem acesso a essa identificação quando o caso ganha grande
repercussão.

1 Graduando em Direito. E-mail: isabella.sarmento.alves@gmail.com


2 Especialista em Direito Penal. E-mail: fabricio.jus@gmail.com
5

É necessário investigar como isso pode refletir na sociedade, buscando


esclarecer a saúde mental destes infratores, aprofundando sobre a periculosidade e
sobre a impulsividade no comportamento homicida.
Outrossim, pouco se sabe sobre a diferença entra a violência do psicopata e a
dos não psicopatas. Uma crença amplamente difundida é a de que a medida que
envelhecemos é menor a probabilidade de agirmos antissocialmente; na verdade, os
40 anos já foram identificados como a idade do limiar em que os infratores
provavelmente ficam “gastos” ou apresentam um decréscimo marcante no seu
comportamento criminal
Conforme dispõe Heilbrumet (1998, n.p. apud HUSS, 2011, p. 99) essa
redução geral no crime pode ser um retardo acurado do comportamento criminal não
violento, mas não do comportamento criminal violento em psicopatas. Os psicopatas
parecem continuar a cometer índices mais altos de violência do que os não psicopatas
mesmo depois dos 40 anos. Eles podem até mesmo apresentar maior violência
emocional.
Desta forma, é possível analisar a relação entre comportamento criminal e a
violência com psicopatia. No desenvolvimento do artigo será explanada a maneira
como o judiciário costuma tratar e punir de maneira ineficaz o infrator psicopata,
juntamente com uma análise crítica à avaliação dos riscos de violência e como essa
violência pode afetar a integridade humana, averiguaremos os efeitos da
imputabilidade e da inimputabilidade e pontuaremos os efeitos negativos que a lei
pode causar reintegrando o infrator psicopata na sociedade.

2 DA PSICOPATIA

2.1 Histórico

A psicopatia é um termo abordado frequentemente na atualidade. Todavia, seu


estudo não é recente, e vem sendo questiona da há centenas de anos; diante da
complexidade do tema, houve diversos pensamentos, inclusive já foi relacionada à
doença mental. Vale ressaltar que Benedict Augustin Morel, atentando-se ao senso
etimológico, principiou a concepção de herança degenerativa:
6

Em 1857, Morel criou a categoria de “Loucura dos Degenerados”: ele


entendia que fatores externos (por exemplo, o álcool e outros tóxicos)
influenciavam de maneira direta a degeneração do indivíduo, e que o mesmo
podia ser considerado de um “mal temperamento. (SHINE, 2000, p. 13).

Valetim Magnan expandiu a concepção de degeneração, iniciando a abstração


de desequilíbrio mental, baseando-se no ponto de vista neurológico, havendo um
desequilíbrio dos centros nervosos (SHINE, 2000). Inclusive, tal instabilidade estava
“quase” dentro da normalidade (desequilíbrio simples), porém, com possibilidades da
degeneração pender para o lado mais grave. Determinados traços desequilibrados
como sensibilidade e vontade são coerentes aos sintomas de psicopatia até os dias
atuais (SHINE, 2000).
Ainda sobre a concepção de constituição degenerada, a tese de Cesare
Lombroso (1836-1909), um antropologista italiano, defendeu o pensamento “homem
criminoso” em 1876. Ele acreditava que tipos criminosos poderiam ser detectados por
meio da aparência, o que já foi descartado há algum tempo. Todavia, a busca para
compreender o estímulo criminoso é acolhida até hoje por alguns estudiosos (SHINE,
2000).
Apesar do consenso, de que está relacionada ao comportamento antissocial,
em havido muito debate sobre os critérios e os limites da psicopatia. Cleckley (1941)
foi pioneiro a expor um parecer permanente e inclusivo da psicopatia em seu livro The
Mask of Sanity (A Máscara da Sanidade). Nesse sentido, identificou peculiaridades
diversas que definem ou compõem o perfil clínico do psicopata. As características
incluem:
a) charme superficial e boa inteligência;
b) ausência de delírios e outros sinais de pensamento irracional;
c) ausência de nervosismo;
d) não confiável;
e) falsidade e falta de sinceridade;
f) ausência de remorso ou vergonha;
g) comportamento antissocial inadequadamente motivado;
h) julgamento deficitário e falha em aprender com a experiência;
i) egocentrismo patológico e incapacidade de amar;
j) deficiência geral nas reações afetivas principais;
k) perda específica de insight;
7

l) falta de resposta nas relações interpessoais gerais,


m) comportamento fantástico e desagradável com bebida e, às vezes, sem;
n) suicídio raramente concretizado;
o) vida sexual e interpessoal trivial e deficitariamente integrada;
p) fracasso em seguir um plano de vida.
Nesse sentido para obtenção do conceito atual da personalidade psicopática,
é essencial verificação de um apanhado de suas rotulagens.
Inicialmente, a Organização Mundial de Saúde (2017) estabelece o distúrbio de
personalidade, distinguindo-o pela insensibilidade ou frieza, transgressão das
obrigações sociais, insensibilidade para com outrem. O International Statistical
Classification of Deseases and Related Health Problems (ICD), classificado como
Código de Doença Internacional (CID) no Brasil, lida com o tema como Transtorno de
Personalidade Dissocial, ao qual os possuem a peculiaridade de se entediarem.
Nessa linha, conclui-se que psicopatia é um transtorno antissocial e, dentro de
infinitas classificações, busca-se não somente uma conceituação exata, mas também
a correlação entre a delinquência e tal transtorno antissocial.

2.2 Os Aspectos do Psicopata

Sabe-se, levando em consideração o disposto anterior, que especialistas na


área da Psicologia classificam a psicopatia como um desvio de conduta. Além do mais,
muitas das vezes, são julgados e punidos pelo crime como uma pessoa comum.
Consequentemente, ao serem reinseridos na sociedade, a probabilidade de ocorrer
reincidência são notavelmente altas.
Outrossim, a propriedade mais expressiva da psicopatia é a capacidade de
manipulação sobre outrem: fazendo uso de suas inverdades utópicas, levando a todos
a crerem que tal realidade é verídica.
Nesse sentido nota-se a lacuna de emoções, tais como a empatia, honestidade
e dificuldade de adaptar-se socialmente. Sidney Kiyoshi Shine (2000) usa a definição
de Hervey M. Cleckley do que é a psicopatia:

1. O psicopata está livre de sinais ou sintomas geralmente associados a


psicoses, neuroses ou deficiência mental. Ele conhece as conseqüências de
seu comportamento antissocial, mas ele dá a impressão de que tem muito
8

pouco reconhecimento real de sentimentos dos quais verbaliza tão


racionalmente.
2. Ele é incapaz de se adaptar em suas relações sociais de forma satisfatória
de uma maneira geral.
3. O psicopata não é detido em suas ações pela punição; aliás ele parece
desejá-la.
4. Sua conduta carece normalmente de uma motivação ou se uma motivação
pode ser inferida, ela é inadequada enquanto explicação para tal
comportamento.
5. Ele sabe se expressar em termos de respostas afetivas esperadas mas
demonstra uma total falta de consideração e uma indiferença em relação aos
outros.
6. Ele demonstra uma pobre capacidade de julgamento e uma incapacidade
de aprender com a experiência, que pode ser vista nas “mentiras
patológicas”, crime repetitivo, delinquências e outros atos antissociais. Os
pacientes repetem furtos aparentemente sem sentido, falsificações,
bigamias, trapaças e atos indecentes e chocantes em público inúmeras
vezes. (CLECKLEY, 1949, p. 415 apud SHINE, 2000, p. 17-18).

A psicopatia em si deve ser tratada como doença que afeta de certa forma a
capacidade do indivíduo de se correlacionar com outros devido a falta de remorso,
compaixão, e emoções em geral. Alguns estudiosos tratam a psicopatia como doença
curável, porém outros dizem que não existe reversão. Assevera-se que o indivíduo
acometido de psicopatia não deve cumprir penas como pessoas comum mas sim
medida de segurança, haja vista que o papel ressocializador da prisão seria falho
quando se trata de um indivíduo psicopata. Por outro lado, ao cumprir medida de
segurança receberá tratamento adequado e havendo a possibilidade de ser curado
de sua psicopatia e como resultado ser reinserido na sociedade.

2.3 Psicopatia e o Direito Penal

A psicopatia no direito penal brasileiro é tratada como semi-imputabilidade, ou


seja, o réu recebe pena reduzida de 1/3 a 2/3 de sua pena pela sua característica
distinta. O fato do indivíduo ser semi imputável não o condiciona à aplicação de
medida de segurança juntamente com aplicação de pena, pois o código penal
brasileiro adota o sistema vicariante que impede tal aplicação de forma vinculada.
Para tratar sobre psicopatia e Direito Penal e os riscos que o infrator psicopata
traz sendo reintegrado na sociedade, é preciso saber qual é a definição de
psicopatia/psicopata; segundo Othon Sidou (2066, p. 846), psicopata é o:
9

Indivíduo que, de inteligência, raciocínio e afetividades normais, apresenta


transtornos de conduta, de natureza grave, os quais exorbitam o traço normal
das vidas dos homens comuns e o transformam num inadaptado social.

Diante de tal explicação, no que se refere a psicopatia, há alguns sinais que


recomendam a indicação de um profissional da área, segundo Fiorelli e Mangini (2015,
p. 127-50), tais como:

a) Transtornos de ansiedade (alteração de memória, sensação de tensão,


irritação, dificuldade de concentração);
b) Transtorno obsessivo-compulsivo
c) Transtorno do estresse pós-traumático (alterações comportamentais,
perda ou redução do sentimento,modificação da autopercepção);
d) Transtornos dissociativos (amnésia dissociativa,transtorno de
personalidade,transtorno de transe ou possessão);
e) Depressão
f) Transtorno de preferência sexual
g) Transtornos de pensamento e percepção
h) Transtornos mentais Orgânicos (demência, alucinose).

Logo, nota-se que o comportamento psicopata muitas vezes está ligado a


violência e situações delituosas. A violência psicopática é dividida de duas formas
sendo elas instrumental e reativa, conforme explica o psiquiatra Cleckley (1941, n.p.
apud HUSS, 2011, p. 99) ambas são:

Violência Instrumental é a violência que tem um objetivo claro definido ou é


planejada e a violência reativa é perpetrada a partir da emoção. Se você está
planejando assassinar a sua esposa ou parceira porque quer receber o
dinheiro do seguro, essa é uma violência instrumental.

Casoy (2009a) cita como exemplo de violência instrumental o caso do


assassinato do casal Richthofen, que foi assassinado por sua filha e mais dois
comparsas (irmãos Cravinhos) que repercutiu em todo país. Essa repercussão se deu
por tamanha crueldade e frieza dos criminosos que planejaram o crime visando a
herança de Suzane.
Observando o exemplo acima é evidente que indivíduos que possuem
transtorno de personalidade antissocial possuem impulsos de violência de grau
elevado os distinguindo dos demais indivíduos, em que pese, a incapacidade de
controlar impulsos, entender os fatores lícitos e sentir remorso. Nesse sentido
Zaffaroni e Pierangeli (2011, p. 546) dispõem que:
10

Se por psicopata consideramos a pessoa que tem uma atrofia absoluta e


irreversível de seu sentido ético, isto é, um sujeito incapaz de internalizar ou
introjetar regras ou normas de conduta, então ele não terá capacidade para
compreender a antijuridicidade de sua conduta, e, portanto, será um
inimputável. Quem possui um incapacidade total para entender valores
embora os conheça, não pode entender a ilicitude.

Deste modo, pode-se analisar a relação da psicopatia e o


comportamento criminal, ao ponto de que psicopatas não têm o controle de suas
ações e, com o passar dos anos, suas atitudes se tornam cada vez mais imprevisíveis
e violentas. E para agravar ainda mais a situação o Código Penal Brasileiro se omitiu
com relação a psicopatia, consequentemente surge a incerteza em definir a punição
a ser aplicada, cabendo aos magistrados, com base em laudos, seguir uma das várias
correntes doutrinárias

2.3.1 Pena Privativa de Liberdade X Medida de Segurança

Com a ocorrência do delito, o Estado executa seu poder de punir. No Brasil as


sanções cabíveis ao psicopata são: pena privativa de liberdade e medida de
segurança.
A pena privativa de liberdade proíbe o direito de ir e vir do indivíduo, que fica
recluso na prisão, visando obtenção de punição e prevenção. Pode ser aplicada em
regime de reclusão (para crimes considerados mais graves ou em regime de detenção
(crimes com menor gravidade). Devendo sempre progredir, do regime fechado para o
semiaberto, e, do semiaberto para o aberto, objetivando a ressocialização do
delinquente. Visa, ao final do cumprimento da pena é reeducar e ressocializar o
condenado, na tentativa e reinseri-lo na sociedade.
A medida de segurança é aplicada nos indivíduos classificados como
inimputáveis, e/ou semi-imputáveis que cometem crime. Podendo ser tratamento
psiquiátrico, internação em hospital de custódia ou tratamento ambulatorial. Seu
fundamento está no estado de perigo que o indivíduo apresenta juntamente com seu
ímpeto criminoso.
Visando aplicação uma medida de segurança a um cidadão intitulado semi-
imputável, será necessário a constatação da periculosidade real do agente. Com isso,
quanto maior for a quantidade e a gravidade de delitos realizados no passado, maior
será a probabilidade de reincidência no futuro. Todavia, a periculosidade será
11

presumida quanto à inimputabilidade, uma vez que a própria lei indique que a sanção
penal executada será a medida de segurança, sendo de competência do juiz constatar
que o inimputável realizou um injusto penal.
Ademais a medida de segurança é um dos meios de sanção penal determinada
pelo Estado ao indivíduo inimputável, classificada em dois tipos: a detentiva, que
dispõe sobre a internação em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico, e a
restritiva, na qual o tratamento psiquiátrico é em regime ambulatorial (art. 41, 97,
caput, 1ª parte, do CP). As medidas de segurança estão dispostas no artigo 96 e
incisos do Código Penal, conforme segue: ''Art.96: As medidas de segurança são: I –
internação em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico ou, à falta, em outro
estabelecimento adequado; II – sujeição a tratamento ambulatorial'' (BRASIL, 1940,
online).
Além disso, para o indivíduo com distúrbios antissociais que represente risco a
ordem social no período que estiver recluso deverá ser submetido a perícia anual.
Com efeito, a essência do instituto da medida de segurança é somente preventiva,
diferente da pena que possui natureza retributiva-preventiva.
Assim é o entendimento de Damásio (2014, p. 272):

Penas e medidas de segurança constituem as duas formas de sanção penal.


Enquanto a pena é retributiva-preventiva, tendendo atualmente a readaptar
socialmente o delinquente, a medida de segurança possui natureza
essencialmente preventiva, no sentido de evitar que um sujeito que praticou
um crime e se mostra perigoso venha a cometer novas infrações penais.

Com relação ao tempo de duração da Medida de Segurança, existem


questionamentos, ou seja, há divergências, pois existe a crença de que a medida de
segurança é a pena perpétua “maquiada”, jogando por terra a garantia Constitucional,
em que a pena aplicada aos semi-imputáveis, deverá somente ser substituída pela
medida de segurança, e aos inimputáveis, a duração não poderá ultrapassar o tempo
da pena máxima cominada ao crime. Todavia para que a Medida de Segurança venha
cessar, deve-se haver perícia médica com comprovação do encerramento da
periculosidade.
Nesse sentido, de acordo com Rogério Greco (2012, p. 669):
12

Apesar da deficiência do nosso sistema, devemos tratar a medida de


segurança como remédio, e não como pena. Se a internação não está
resolvendo o problema mental do paciente ali internado sob o regime de
medida de segurança, a solução será a desinternação, passando-se para o
tratamento ambulatorial, como veremos a seguir. Mas não podemos liberar
completamente o paciente se este ainda demonstra que, se não for
corretamente submetido a um tratamento médico, voltará a trazer perigo para
si próprio,bem como para aqueles que com ele convivem.

Nessa linha, dispõe o § 1º do artigo 97 do Código Penal (BRASIL, 1940), em


que a internação e o tratamento ambulatorial não terão tempo preestabelecido, sendo
continuado o tratamento enquanto não for constatado por perícia médica que foi
cessada à periculosidade do agente.
Portanto é notório que a Medida de Segurança é o tratamento mais adequado
ao psicopata, em que pese que é possível um tratamento mais humanizado, com mais
atenção a conduta social específica de cada agente. Vale ressalte que, ao ser punido
com pena privativa de liberdade, o mesmo cumpre em unidade prisional comum, não
tendo atenção ao seu problema, podendo ser reinserido na sociedade de maneira
precoce, pois os infratores tratados como semi-imputáveis cumprem menos pena (art.
26 §1, CP). Logo sem o tratamento o risco de reincidência que já é elevado torna-se
ainda maior.

2.3.2 Imputabilidade e Inimputabilidade Relativa

Segundo o autor Zaffaroni (2011, p. 540-42) pode-se conceituar assim a


imputabilidade:

a imputabilidade é, como regra geral, a capacidade psíquica de culpabilidade,


ou em outras palavras, é a capacidade psíquica de ser sujeito de reprovação,
composta da capacidade de compreender a antijuridicidade da conduta e de
adequá-la de acordo com esta compreensão.

Identificam-se dois critérios para a conclusão da inimputabilidade: biológico


(existência de desenvolvimento mental imperfeito ou atrasado ou doença mental); e
psicológico (total capacidade, no momento da ação ou omissão, compreendendo a
ilicitude do fato ou delinear-se de acordo com essa ciência).
De todas as diferentes questões legais em que os psicólogos forenses
procuram prestar assistência aos tribunais, as investigações de inimputabilidade estão
entre as mais difíceis por várias razões. Primeiro, a doutrina legal tende a ser pouco
13

clara: a natureza da doença mental suficiente para absolver um acusado por


inimputabilidade tem sido e modo geral indefinida pelas cortes; além do mais, não há
respostas claras quanto a saber se a diferença entre o certo e errado enfatizaria uma
distinção legal, uma distinção moral ou o nível do prejuízo.
Segundo Huss (2011) as avaliações forenses são retrospectivas e querem que
o psicólogo forense reconstrua o estado mental do acusado semanas ou até meses
depois do crime. Essa tarefa frequentemente se revela difícil porque os métodos de
avaliação psicológica avaliam a saúde mental atual, eles não permitem que o valor
viaje de volta no tempo para avaliar o estado mental de alguém precisamente durante
um crime.
As disposições mencionadas acima apresentam uma análise sobre como os
infratores psicopatas têm facilidade em simular a inimputabilidade, saindo em muitos
casos isentos de culpa, já que os psicólogos forenses apresentam dificuldade em
reconstruir o estado mental atual, assim como avaliar a saúde mental do infrator na
época do crime.

3 A PERICULOSIDADE – O INDIVÍDUO PERIGOSO

No Direito Penal, periculosidade é a grande probabilidade de o agente vir ou


tornar a praticar ato previsto como crime. Será presumida pela lei e,
consequentemente, no cumprimento compulsório de medida de segurança a ser
reconhecida pelo juiz. Neste sentido com relação ao significado do termo jurídico
Sidou (2016, p. 767) dispõe: ''Capacidade ou propensão que o indivíduo tem para
cometer ato delituoso ou voltar a praticá-lo''. Nesse ínterim, entende-se que o indivíduo
perigoso é possuidor de um desequilíbrio em sua personalidade.
Logo surge o questionamento: é possível curar um indivíduo psicopata? O
Transtorno de Personalidade Antissocial é reversível?
A grande maioria dos psiquiatras não acredita que a psicopatia seja curável, no
caso de Cleckley (1941), esse posicionamento se origina das experiências clínicas
com as formas conhecidas de psicoterapia, quer vieram a ser frustradas. Uma vez que
as terapias biológicas, como por exemplo, eletro choque, uso de algumas drogas e
neurocirurgia também não se mostraram diferentes, visto que defendem que as
razões de transtornos de personalidade antissocial sejam fisiológicas e não
14

construídas por mediante do ambiente em que cresceram ou vivem. E, apesar de uma


minoria, salientar que seja possível e eficaz a realização de tratamento não há nenhum
tratamento conhecido na área médica para tal transtorno.
Destarte, conforme já explanado nesse trabalho, mesmo que os portadores de
tal transtorno venham a ter sua liberdade de ir e vir restrita, posteriormente, acarretará
em reincidência, na hipótese de surgimento vontade de cometer delitos, em que pese
a lacuna de remorso e sentimento. Nessa linha de raciocínio, Silva (2008, p. 133)
alega que: “estudos revelam que a taxa de reincidência (capacidade de cometer novos
crimes) dos psicopatas é cerca de duas vezes maior que a dos demais criminosos”.
Com isso, é notório a incapacidade de correção, visando reinserção do
psicopata à sociedade. Evitando assim a ocorrência de um novo delito somente no
período que esta recebendo a sanção, e, sendo libertos voltarão a cometer crimes.
Sendo assim, tal modalidade de pena não está apta a ressocializá-los, não obtendo o
resultado ao qual se destina.

3.1 Duração de Medida de Segurança

O tempo de duração das medidas de segurança já foi alvo de debate no


supremo tribunal de justiça, haja vista a lacuna deixada pelo código penal vigente. As
medidas de segurança, como citado anteriormente estão dispostas no art. 96 do
código penal (BRASIL, 1940).
Ciente de quais são os meios de medida de segurança o código dispõe que a
internação ou tratamento ambulatorial será aplicado por tempo indeterminado, sendo
estendido o prazo enquanto não for averiguado por perícia a cessação da
periculosidade do agente, outrora o código prevê somente o prazo mínimo que é de 1
a 3 anos, conforme descrito no Art. 97 § 1º do Código Penal (BRASIL, 1940).
Somente com o texto da lei dar se por entender que enquanto não for sanada
a periculosidade o indivíduo não dará fim a sua medida de segurança. Nesse sentido
dispõe a súmula do Superior Tribunal de Justiça (STJ) de n° 527: “O tempo de duração
da medida de segurança não deve ultrapassar o limite máximo da pena abstratamente
cominada ao delito praticado" (BRASIL, 2015, online). Diante disso conclui-se que, no
caso de o cumprimento da medida de segurança ser limitado a pena abstrata imposta
ao crime efetuado, evidentemente, haverá necessidade de permanecer no período de
15

tempo em que permanecer a periculosidade do agente, não havendo a possibilidade


de ultrapassar 30 (trinta) anos.
Visando um melhor entendimento com relação a Súmula 527 do STJ,
considerando ainda o Transtorno de Personalidade Antissocial (BRASIL, 2015).
Considerando ainda o texto do art. 75 do Código Penal ao qual alega que, "O tempo
de cumprimento das penas privativas de liberdade não pode ser superior a 40
(quarenta) anos" (BRASIL, 1940, online). Surge a seguinte indagação: Se for atingido
o tempo limite de cumprimento de medida de segurança, e por meio de perícia médica
for constatada o elevado índice de periculosidade?
Cabe propositura de ação civil de interdição em desfavor do agente,
juntamente com requerimento de internação psiquiátrica compulsória.
Consequentemente, o magistrado terá a faculdade de decretar a interdição civil do
indivíduo em razão de doença mental grave, conforme dispõe art. 1767 c/c art. 1769
ambos do Código Civil (BRASIL, 2002), bem como a interdição compulsória com fulcro
no art. 6° da 10.216/2001, que dispõe sobre os direitos das pessoas que sofrem de
transtornos mentais (BRASIL, 2001). Ainda sobre a jurisprudência supra é permitida
a justificação na Lei 10.216/01, nos casos de interdição, a determinação judicial da
internação compulsória do indivíduo perigoso e impossibilitado de conviver
socialmente, com base em laudo pericial que leva a percepção da real necessidade
de internação.

3.2 Os Riscos que o Infrator Psicopata Pode Trazer ao Ser Reinserido na


Sociedade

Sabe-se que não há prisão em especial para psicopatas, conforme citado


anteriormente. Com efeito as sanções cabíveis aos psicopatas são definidas pela Lei
de Execuções Penais, por intermédio do tratamento nos hospitais de custódia e sobre
o tratamento psiquiátrico, dispostos nos artigos 99 ao artigo 101 do Código Penal
(BRASIL, 1940). É notório que o Judiciário brasileiro se depara com recorrentes
dificuldades, especialmente com aqueles que executaram os crimes brutais. Ocorre
que, no cometimento do delito, caberá ao juiz estabelecimento sanções dispostas no
Código Penal.
16

Importante frisar que a grande maioria dos crimes cometidos por psicopatas
são cruéis e bastante violentos. A fim de satisfazer desejo próprio de ver o sofrimento
de outrem, por serem indivíduos que não possuem remorso.
Apesar da inexistência de tratamento adequado e eficaz para a cura do
Transtorno Antissocial é desconhecida, havendo carência de uma atenção especial à
classe, uma vez que o perigo que oferecem é ininterrupto. Um exemplo veraz disso,
é a história de Francisco Costa Rocha (Chico Picadinho), cujos crimes vieram a chocar
o país (JÚNIOR, 2010).
Francisco Costa Rocha nasceu em 27 de abril de 1942. Fruto de uma relação
extraconjugal de seu pai com uma mulher 20 anos mais jovem, foi rejeitado pelo seu
genitor desde o nascimento. Os casos de sua mãe com homens casados sempre o
perturbavam. Os problemas de comportamento começaram desde cedo, na escola
arranjava brigas e confusões com os colegas. Abandonou os estudos quando
adolescente, e passava os dias aprontando nas ruas com um grupo de arruaceiros.
Tentou trabalhar, porém não permanecia muito tempo em um emprego por causa de
sua falta de disciplina. Passou pela aeronáutica e até mesmo policial militar tentou ser,
porém a indisciplina ficava em seu caminho.
Em 2 de agosto de 1966 Francisco conheceu a bailarina Margareth Suida. Se
encontraram em um bar, e em seguida Francisco convidou-a para visitar seu
apartamento. Esse seria o seu último dia de vida. Ela foi estrangulada com um cinto,
diversos hematomas e mordidas na região dos seios, também foram encontrados no
corpo da vítima. Na banheira, com o auxílio de uma gilete retalhou o corpo da vítima,
que, segundo Casoy (2009b), estaria mais perto de uma dissecação do que um
esquartejamento. O apartamento no qual vivia pertencia a um amigo que o denunciou,
com medo de que fosse responsabilizado pelo ocorrido. Francisco foi preso no dia 5
de agosto de 1966. Condenado a 18 anos por homicídio qualificado, somados a 2
anos e 6 meses por destruição de cadáver, porém sua pena foi comutada para 14
anos, quatro meses e 24 dias.
Permaneceu até o ano de 1972 na Penitenciária do Estado de São Paulo, onde
fez supletivo do 1º e 2º graus – recebia visitas frequentes e acabou até mesmo se
casando enquanto ainda estava preso. Era considerado um prisioneiro de confiança,
trabalhando diretamente na diretoria da penitenciária. Entre os anos de 1972 e 1974
cumpriu sua pena na Colônia Penal Agrícola Professor Noé Azevedo, em Bauru.
17

Obteve a liberdade condicional em 1974 por bom comportamento, 8 anos depois de


sua condenação – foi excluído o diagnóstico de personalidade psicopática, nesse
primeiro momento.
Em 1976 pediu abrigo a um velho amigo, que estava ciente do crime cometido
por ele, mas mesmo assim lhe deu moradia. Em 15 de setembro do mesmo ano foi
instaurado contra Francisco um processo por lesão corporal dolosa, resultado de uma
relação de uma noite extremamente violenta que teve com uma mulher que conheceu
em um bar, vindo quase a estrangulá-la, além de perfurar o útero da mesma com um
instrumento perfuro-cortante.
Transcorrido um mês deste fato, Chico conheceu a prostituta Ângela de Souza,
de 34 anos, levou-a até seu apartamento onde estrangulou a mulher durante a relação
sexual. Se dando conta do que havia feito, e das consequências que isso lhe traria,
repetiu o procedimento de tentar se livrar do corpo aplicado a primeira vítima, levando
o cadáver até o banheiro e, desta vez munido de uma faca de cozinha, um canivete e
um serrote começou a retalhar o corpo. Sua tentativa de se livrar dele pelo vaso
sanitário foi falha, em decorrência do entupimento do encanamento, foi então que lhe
surgiu a idéia de picar o corpo em pedaços bem pequenos para facilitar o transporte.
Desta vez pode ser caracterizado, de fato, como um esquartejamento. Colocou as
partes do corpo em sacos plástico e as condicionou em uma mala e uma sacola. Foi
preso em 26 de outubro de 1976, em Niterói, ao tentar entrar em contato com um
antigo amigo de cela.
A defesa de Chico Picadinho alegou insanidade mental e que o motivo de ter
esquartejado o corpo era decorrente dessa perturbação e não uma tentativa de ocultar
o cadáver. Porém, o laudo de sanidade mental logo foi apresentado, considerando-o
semi-imputável e afirmando que se tratava de um indivíduo com personalidade
psicopática, tendo seus crimes sido cometidos em decorrência desta. Foi condenado
a 22 anos e seis meses de prisão.
No ano de 1994, a progressão de seu regime para o semiaberto foi negada, o
laudo emitido pelo centro de observação criminológica lhe deu o diagnóstico de
“personalidade psicopática perversa e amoral, desajustado do convívio social e com
elevado potencial criminógeno” (JÚNIOR, 2010, online) e aconselhava o
encaminhamento dele para a Casa de Custódia e Tratamento de Taubaté. Dois anos
18

depois, em 1996 seu pedido de progressão foi mais uma vez negado tal como o pedido
de conversão para medida de segurança.
No mês de abril de 1998 ele deveria ganhar liberdade, porém a Promotoria de
Taubaté, valendo-se do Decreto de 1934, citado anteriormente, que prevê a interdição
de direitos civis dos psicopatas, impediu a liberdade do mesmo, por estar
despreparado para viver em sociedade, Francisco continua até os dias de hoje na
Casa de Custódia de Taubaté
Após extrapolar o limite de 30 anos de medida de segurança o magistrado da
comarca de Taubaté solicitou que ele deixasse o estabelecimento e fosse transferido
para uma unidade de tratamento psiquiátrico.
Neste caso fica nítido que na pena privativa de liberdade por si só não se obtém
resultado esperado só evita que os antissociais, em que pese a continuidade
continuam praticando dentro do ambiente prisional. Demonstrando que a prisão pra
eles não é a solução, logo os indivíduos considerados psicopatas devem cumprir
medida de segurança recebendo o tratamento ideal para sua conduta específica, com
realização de tratamento por profissional adequado. O magistrado em diversos casos
deve submeter o agente ao exame pericial de risco, e sendo constatada personalidade
psicopata submeterá ao agente medida de segurança, para que sua restrição de
liberdade não seja de caráter punitivo, mas, com o fim de tratá-lo. Assim espera que
o indivíduo psicopata seja tratado como inimputável, conforme veremos mais adiante,
por meio de medida de segurança, objetivando aptidão a conviver e sociedade
somente em caso de comprovação de redução de periculosidade.
O caso de Chico picadinho deixou de forma clara que mesmo cumprindo sua
sentença em unidade prisional comum ele não estava ressocializado, onde não havia
realizado o tratamento adequado o que aumentou, consideravelmente suas chances
de reincidência, logo, ao ser solto voltou a cometer delitos vindo a ceifar mais uma
vida. Somente ao reincidir Chico picadinho foi submetido á tratamento específico, para
que um dia possa reintegrar a sociedade não dando margem ao juízo para uma soltura
precoce e não pondo a sociedade em risco com um psicopata sem tratamento à solta.
Finalizando, é explicito o fato de o Estado ter ciência que a pessoa não possui
condições plenas de viver em sociedade e mesmo assim é obrigado a solta-la.
Cabendo nesses casos ao Poder Judiciário identificar tal problema e requisitar
19

interdição civil do agente em razão de sua psicopatia, desta forma o internando


compulsoriamente em clinica psiquiátrica especializada.

4 EXATIDÃO NA AVALIAÇÃO DE RISCO

Será efetuada uma análise crítica com a avaliação dos riscos de violência, e
como essa violência pode afetar a integridade humana. Vejamos o que o autor
Quinsey et al. (2006, n.p. apud HUSS, 2011, p. 137) tem a dizer, no que tange a
exatidão da avaliação de risco:

Não é de causar surpresa que sejamos mais precisos em situações em que


existem altos índices de base de violência. Geralmente, quanto mais perto o
índice base de violência estiver de 50%, maior a probabilidade de exatidão
das avaliações de risco. A avaliação do risco de violência no público em geral
sempre permanecerá baixa porque a violência é relativamente rara.

Observe o que Barbaree (2005, n.p.; BARBAREE et al., 1999, n.p. apud HUSS,
2011, p. 135-36) tem a dizer:

As pessoas geralmente perguntam sobre a exatidão da avaliação de risco.


Essa pergunta é muito difícil de responder com uma simples porcentagem ou
em uma frase. Em vez de conseguir afirmar definitivamente sobre a precisão
dos psicólogos forenses ao avaliarem o risco de violência, provavelmente
será melhor identificar alguns dos aspectos difíceis na avaliação da violência
e algumas das situações em que os psicólogos forenses são bons na
avaliação de risco. [...] Especificamente, é difícil obter informações precisas
de follow-up. A violência é um comportamento que não é prontamente
relatado ou facilmente identificado, exceto em casos extremos. [...] Um
problema relacionado a avaliação de risco é a medida da violência. (grifo
nosso).

Observa-se que o estado mental do indivíduo pode alterar-se rapidamente,


tanto por estímulos externos quanto internos a ele. Portanto, o resultado somente se
aplica a um momento específico e encontra-se sujeito a diversos fatores capazes de
influenciá-lo – por isso a dificuldade na identificação de risco de violência. O resultado
do exame, é de grande relevância para o indivíduo avaliado e para a sociedade, pode
representar a diferença entre ser encaminhado para a prisão comum ou para um
manicômio judiciário; entre permanecer no cumprimento de uma pena, ou ter a
reintegração à sociedade autorizada, além do aspecto terapêutico de maior interesse
para as ciências da saúde (FIORELLI, 2015).
20

Deste modo, nota-se que o estado mental do indivíduo pode alterar-se


rapidamente, dificultando a exatidão em relatar se o indivíduo está apto a voltar para
a sociedade ou se há riscos, as consequências na falta de exatidão na avaliação de
risco podem desencadear problemas tanto para a sociedade quanto para o infrator.

5 CASOS DE PSICOPATAS FAMOSOS: CRIMES CRUÉIS COMETIDOS POR


PSICOPATAS E CONSEQUENTEMENTE MAIS NOTICIADOS

5.1 Champinha

Roberto Aparecido Alves Cardoso, mais conhecido como Champinha. Cometeu


em novembro de 2003, quando tinha apenas 16 anos, um crime que viria a chocar o
país.
No inicio do mês de novembro daquele ano, o jovem casal de namorados Liana
Friedenbach (16 anos) e Felipe Caffé (19 anos) decidiram acampar na zona rural de
Embu Guaçu, região metropolitana de São Paulo. Infelizmente, seus caminhos
cruzaram com os de Champinha e seus amigos. Os jovens foram sequestrados por
Champinha e seu bando, formado por mais 4 homens maiores de idade. Felipe foi
executado com um tiro na nuca, já Liana, foi abusada sexualmente pelo grupo, e, dias
depois, assassinada com 16 facadas no peito por Champinha. Enquanto os 4 adultos
foram condenados a prisão, o menor foi mandado para a FEBEM, atual Fundação
Casa. O caso fez com o tema maioridade penal voltasse com grande força a ser
noticiado nas mais diversas mídias. Cumpriu 3 anos de medida socioeducativa, e, as
vésperas de seu término, foi convertida em medida “protetiva” de tratamento
psiquiátrico com contenção, mediante solicitação do Ministério Público.
Permaneceu, então, na Fundação casa até o final de 2006, quando completou
21 anos, pois pela lei brasileira, não mais poderia permanecer em local de internação
de menores. Todavia, em virtude de laudos apresentados pelo IML, atestando que
Champinha é detentor de uma personalidade de grande periculosidade, e que age por
impulsos, o que o faz incapaz de viver em sociedade, foi, finalmente, transferido para
a Unidade Experimental de Saúde, onde permanece até hoje. Recentemente o caso
voltou a ser noticiado, devido ao pedido do Ministério Público Federal de São Paulo
21

que foi a Justiça pedir o fechamento da UES. O que faz com que o destino daquele
que lá estão abrigados, seja incerto.

5.2 O Bandido da Luz Vermelha

João Acácio Pereira da Costa, em meados da década de 60, aos quatro anos
de idade tornou-se órfão. Em consequência de tal acontecimento um tio passou a criá-
lo, juntamente com seu irmão. Não havia indícios de que se tornaria um serial killer.
Após alguns anos por meio de fuga passou a morar nas ruas de Joinville (SC),
começando sua carreira delinquente com pequenos roubos.
Com o passar dos anos, mudou-se para o estado de São Paulo, e logo
começou a amedrontar proprietários de mansões, onde realizava assaltos e
posteriormente estuprava as vítimas, que por vezes eram levadas a óbito. Algumas
características em seus crimes brutais eram sempre ir aos locais planejados para os
assaltos de transportes públicos ou até mesmo de táxi, ao chegar sempre retirava os
calçados e desligava todos os disjuntores de luzes, usando como iluminação somente
lanternas com luzes vermelhas.
No ano de 1967 foi preso, com seus 24 (vinte quatro) anos de idade. Vindo a
ser condenado por 88 processos, sendo 4 homicídios e 7 tentativas e mais 77 roubos.
Ao atingir 30 anos de prisão, estando em regime de reclusão, conseguiu a
liberdade, e quatro meses depois foi assassinado, por um indivíduo que afirmou estar
sendo ameaçado com uma faca por João Acácio Pereira da Costa, após ter
questionado o motivo pelo qual teria matado sua mãe e seus dois irmãos.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por meio deste trabalho, é construída uma reflexão no que tange a psicopatia,
o direito penal e os riscos ao qual o infrator psicopata pode trazer para a sociedade
após sua reinserção, dependendo da forma como a lei for determinada. Foi
desenvolvida uma análise de assuntos relevantes a pesquisa de forma esclarecedora
para concluir que em modo geral a reinserção do psicopata infrator afeta não só a
sociedade, mas também o próprio infrator.
22

Teve como propósito uma contribuição à sociedade e aos estudos sobre o tema
enquanto trabalho de conclusão de curso, que intentou repensar as formas da
aplicabilidade da lei e nos seus efeitos.
Conforme analisado após as pesquisas realizadas, o infrator psicopata deve
ser tratado como pessoa acometida de doença, ou seja, inimputável. Em que pese a
capacidade do indivíduo de se correlacionar com outros devido à falta de remorso,
compaixão, e emoções em geral. Assevera-se que o indivíduo acometido de
psicopatia não deve cumprir penas como pessoas comuns, mas sim medida de
segurança, haja vista que o papel ressocializador da prisão seria falho quando se trata
de um indivíduo psicopata. Por outro lado, ao cumprir medida de segurança receberá
tratamento adequado e havendo a possibilidade de ser curado de sua psicopatia e
como resultado ser reinserido na sociedade. No decorrer do trabalho foi explanada a
legislação vigente e o entendimento doutrinário, levando à reflexão a real necessidade
de criação de lei distinta, que seja eficaz para a solução dos debates e escassez do
risco que os psicopatas trazem a sociedade.
Além disso, como foi discorrido no artigo, o avaliador tem dificuldades em dar
uma exatidão na avaliação de risco quando o psicopata não apresenta violência,
dificilmente sendo capaz de dizer a medida de violência daquele infrator haja vista que
psicopatas, no geral, são pessoas que possuem uma inteligência elevada, um charme
superficial, são falsos e manipuladores, dificultando assim a identificação dos mesmos
e a identificação de violência.
Ao que diz respeito a inimputabilidade, a dificuldade que os psicólogos forenses
tem quando vão prestar assistência aos tribunais, as investigações de
inimputabilidade estão entre as mais difíceis por várias razões, mas a principal é que
a doutrina legal tende a ser pouco clara a respeito do assunto.
Sendo assim, os efeitos que a sociedade pode sofrer com a reinserção desses
infratores sem assistência psicológica ou judicial é bem pior do que se imagina, pois,
o nível de violência do psicopata tende a aumentar com o passar dos anos sendo
possível voltar as ruas para cometer crimes tão cruéis quanto antes.
Por fim, conclui-se, com este artigo, que não é responsabilizar o Direito a
maneira pela qual ele trata os psicopatas, mas é de fato um problema real que merece
uma atenção maior por parte do judiciário. Em que pese que a psicopatia deve ser
tratada judicialmente como doença mental, vez que o indivíduo portador de tal
23

transtorno, tem ausência de remorso, e é incapaz de aprender com a pena,


invalidando assim a finalidade da pena privativa de liberdade. Em consequência disso,
conclui-se que há uma premência na elaboração de uma lei, no âmbito criminal,
voltada intrinsecamente ao psicopata levando em consideração sua periculosidade,
onde, ao ser avaliado o nível os delinquentes serão classificados conforme sua
perturbação mental., especialmente os indivíduos mais perigosos, que voltarão a
delinquir, um exemplo é o caso supracitado do Chico Picadinho, onde a ausência do
laudo não foi detectado no cometimento do seu primeiro delito como portador do
transtorno e foi submetido a pena restritiva de liberdade.
Isto posto, deverá ser o indivíduo psicopata distinto dos demais, sendo
classificado como inimputável, para que possam ser acompanhados pela medicina, e,
mesmo no caso de atingir o tempo máximo de 30 anos, em especial para os indivíduos
portadores do Transtorno de Personalidade Antissocial, haja uma exceção, levando
em conta somente sua periculosidade. Considerando o perigo constante que trazem
para sociedade ao serem reinseridos.
Apesar de haver consenso que a psicopatia é semi-imputável, é notório que o
Código Penal se omite nesse caso em específico, e, consequentemente há
magistrados que classificam os psicopatas como doentes mentais, sendo este
inimputável, e não semi-imputável.
Finalizando, o presente trabalho teve grande relevância, com relação ao
entendimento da complexidade do tema no que diz respeito o Direito Brasileiro,
gerando discussão entre juristas e médicos, em que pese as consequências jurídicas.
24

PSYCHOLOGY AND CRIMINAL LAW: THE RISKS THAT THE INFRINGER


PSYCHOPATH CAN BRING TO BEING REINCERNED IN SOCIETY

Isabella Sarmento Alves Ferreira3


Prof. Esp. Fabricio da Mata Correa4

ABSTRACT
This article aims to provide a reflection on how it is necessary to understand the effects
that a psychopathic offender can bring to be inserted back into society, when being
classified as semi-inputable, as well as reflecting how laws can have negative effects
depending on as determined, in spite of the manipulation capacity possessed by the
antisocial disorder carriers. This issue is related to the increase in violence that society
suffers today. In many cases, it is difficult to identify the psychopath, and when he is
diagnosed, he is not classified as mentally ill, regardless of his lack of remorse and his
inability to learn from punishment. In addition to ascertaining the validity of accuracy in
risk assessment and its importance.

Keywords: Offender. Psycho. Society. Inimputability.

3 Graduando em Direito. E-mail: isabella.sarmento.alves@gmail.com


4 Especialista em Direito Penal. E-mail: fabricio.jus@gmail.com
25

REFERÊNCIAS

BRASIL. Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código penal. Poder


Executivo, Rio de Janeiro, RJ, 31 dez. 1940. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm. Acesso em: 5
jun. 2020.

______. Lei nº 10.216, de 6 de abril de 2001. Dispõe sobre a proteção e os direitos


das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial
em saúde mental. Poder Executivo, Brasília, DF, 9 abr. 2001. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/LEIS_2001/L10216.htm. Acesso em: 05 jun.
2020.

______. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Código Civil. Poder Executivo,


Brasília, DF, 11 jan. 2002. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm. Acesso em: 05 jun. 2020.

______. Superior Tribunal de Justiça. Súmula n° 527. O tempo de duração da medida


de segurança não deve ultrapassar o limite máximo da pena abstratamente cominada
ao delito praticado. Terceira Seção, 18 mai. 2015. Disponível em:
https://scon.stj.jus.br/SCON/sumulas/toc.jsp?livre=527&b=SUMU&thesaurus=JURIDI
CO&p=true. Acesso em: 5 jun. 2020.

CASOY, Ilana. O quinto mandamento: caso de polícia. São Paulo: Ediouro, [2009a].

______. Serial Killers Made in Brasil. Rio de Janeiro: Ediouro, [2009b].

CLECKLEY, H. The mask of sanity. 5. ed. Saint Louis: C. V. Mosby and Company,
1941.

FIORELLI, José Osmir; MANGINI, Rosana Cathya Ragazzoni. Psicologia Jurídica.


6. ed. São Paulo: Atlas, 2015.

GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal. 14. ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2012.

HUSS, Matthew T. Psicologia forense. São Paulo: Artmed, 2011.

JESUS, Damásio de. Código Penal anotado. 22. ed. São Paulo: Saraiva, 2014.
26

JÚNIOR, Humberto Maia. A prisão perpétua de Chico Picadinho. Época, 23 set. 2010.
Disponível em: <http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI174597-
15228,00-A+PRISAO+PERPETUA+DE+CHICO+PICADINHO.html>. Acesso em: 5
jun. 2020.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. CID-10: classificação estatística


internacional de doenças e problemas relacionados à saúde. Trad. Centro
Colaborador da OMS. 10. ed. São Paulo: EdUsp, 2017. v. 1.

SHINE, Sidney Kiyoshi. Psicopatia. São Paulo: Casa do psicólogo, 2000. Disponível
em: https://books.google.com.br/books?hl=pt-
BR&lr=&id=TvuB_5gJnTQC&oi=fnd&pg=PA11&dq=apanhado+hist%C3%B3rico+da+
psicopatia&ots=6CoWZMBqj5&sig=rPfQV08EePNeFQNcodgWObN4C28&redir_esc
=y#v=onepage&q=apanhado%20hist%C3%B3rico%20da%20psicopatia&f=false.
Acesso em: 05 jun. 2020.

SIDOU, J. M. Othon. Dicionário Jurídico: Academia Brasileira de Letras Jurídicas. 9.


ed. rev. e ampl. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2016.

SILVA, Ana Beatriz Barbosa. Mentes perigosas: o psicopata mora ao lado. Rio de
Janeiro: Objetiva, 2008.

ZAFFARONI, Eugênio Raúl; PIERANGELI, José Henrique. Manual de direito penal


brasileiro. São Paulo: Revista do Tribunais, 2011. v. 1.

Você também pode gostar