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RESUMO
O presente trabalho aborda o comportamento da mente de um psicopata e serial killer, a forma
de agir, suas parafilias, seu modus operandi, sua assinatura. Psicopatas são incapazes de
aprender com a punição ou de modificar seu comportamento. A grande problemática
abordada é o quanto este criminoso é ou não inimputável, com destaque para a opinião de
juristas, psiquiatras e psicólogos, ressaltando a forma que tal indivíduo deve ser tratado pelas
leis brasileiras. Aborda conceitos de crime, culpa capacidade civil e criminal, distúrbios
psicopatológicos, e os conceitos de imputabilidade, semimputabilidade e inimputabilidade à
luz da Constituição Federal, do Código Penal e de Processo Penal Brasileiro. Além disso, são
feitas reflexões quanto á identificação da capacidade penal e das medidas de segurança
aplicáveis. Desse modo foi possível observar que há ausência de um protocolo brasileiro para
capacitar e especializar os profissionais, já que todos os procedimentos são baseados no que
é feito em outros países.
Palavras Chaves: Psicopatologia. Direito Penal. Imputabilidade.
ABSTRACT
This paper discusses the mind of a psychopath and serial killer, how to act, their paraphilias,
his modus operandi signature. Psychopaths are unable to learn from the punishment or to
modify their behavior. The big issue addressed is how much this is criminal or not untouchable,
bringing while working discussion between various scholars, and these lawyers, psychiatrists
and psychologists. We cannot fail to mention the way that this individual should be treated by
the Brazilians laws. It concepts of crime, guilt, civil and criminal capacity, psychopathological
disorders, and the concepts of accountability, semi-accountability and unaccountability in the
light of the Constitution, of our Criminal Code and Criminal Procedure. Reflects on the
identification of criminal capacity and applicable safety measures. We can see at work the lack
of professionals and lack of studies on these subjects in our country, because professionals
are based on studies conducted in other countries.
Key words: Psychopathology. Criminal Law. Imputability.
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INTRODUÇÃO
A partir século XIX diversos estudos vêm sendo realizados com base nos conceitos propostos
pelo criminalista Cesare Lombroso (BATISTA, 2011).
Há relatos na literatura de que os Serial Killers possam apenas cometer um crime, como
exemplo, o da jovem Suzane von Richthofen ou vários como no caso do Maníaco do Parque.
O que mostra ser frequentemente motivados por abusos na infância, manipulação, poder,
sexo, raiva. Os criminosos relatam também que a vítima merecia ser tratada com requintes
de crueldade e, consequentemente a morte, por isso mataram. Alguns alegam terem ouvido
vozes, as quais pedem para cometer o ato (CASSOY, 2004).
Podendo ser levado um tempo até que este venha a ser preso ou contido, pois o perfil destes
criminosos mostra que estes podem matar em intervalos regulares ou não, demorando uma
semana, meses, até mesmo anos. Tal assunto é pouco explorado em nosso país, não sendo
verificadas as consequências decorrentes deste fato (CASSOY, 2004; SILVA, 2008).
Psiquiatras e Advogados de defesa alegam a insanidade, problemas psicológicos. Mas até
onde vai a culpa? Será que são mesmos loucos? Para os leigos, realmente parecem loucos,
porém tais criminosos são racionais ao planejarem, calcularem os passos de suas vítimas.
Normalmente aparentam serem pessoas normais, qual aparentam conseguindo viver
normalmente em sociedade, são indivíduos com inteligência considerada normal, ou acima
do normal, São pessoas que apresentam alterações de personalidade (CASSOY, 2004).
A grande problemática é como julgar esses crimes, já que são classificados como Imputáveis,
Semi-imputáveis ou Inimputáveis.
Com o passar do tempo surgiu a Criminologia, junto com a Psiquiatria Forense que em
conjunto buscam, o bem-estar desses indivíduos. Porém, a divisão entre os doutrinadores em
classificar se são Imputáveis ou Inimputáveis, gera uma grande discussão. (EÇA, 2010;
CASSOY, 2004; SILVA, 2008)
Com isto, boa parte dos doutrinadores classificam esses indivíduos como Semi-imputáveis
chegando a Imputáveis, já que a Psicopatia não tem cura. Assim, aplica-se a medida de
segurança, para que este seja tratado em um Hospital Psiquiátrico e esteja longe da
sociedade. (EÇA, 2010; CASSOY, 2004; SILVA, 2008)
Desse modo é objetivo do presente estudo é proporcionar uma reflexão sobre o tema se este
indivíduo é ou não responsável pelos seus atos, podendo ou não vir a ser penalizado conforme
determina a Lei.
DESENVOLVIMENTO
Distúrbios Psíquicos
O Criminalista Cesare Lombroso (1876), estudou durante o século XIX os doentes mentais,
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publicando L’UomoDeliquente com a tradução para a língua portuguesa em 2007 por
Sebastião José Roque. Nesta publicação classificou os indivíduos em: “pessoas de boa
índole”.
Mas além de “pessoas de boas ou más índoles” também existe a questão de transtornos, na
opinião de Abdalla Filho (2004) há inúmeros tipos de transtornos de personalidade, alguns
são bem parecidos, porém bem definidos e que são objetos de considerações não somente
do ponto de vista científico ou médico, como também do ponto de vista social, político e
jurídico.
Atualmente é utilizada para se definir os transtornos mentais, a classificação preconizada pela
Organização Mundial de Saúde (OMS), citada na Classificação Internacional de Doenças
(CID), sob os códigos F00 a F99, na qual se distinguem os transtornos mentais e
comportamentais e, especificamente no CID F60 são classificados os transtornos de
personalidade e suas subclassificações. Nesta classificação, os transtornos de personalidade
têm a seguinte explicação:
PSICOSES
Psicose é o estado mental patológico em que o indivíduo se apresenta com um
comportamento antissocial. O quadro clínico é de um indivíduo que pensa e age da sua
maneira, não sendo compreensível para uma pessoa normal, somente ele está certo, não
existindo o outro. O mundo, aos olhos de um psicótico, as regras em que vive, são
completamente diferentes daquele de uma pessoa normal (BATISTA, 2011).
Por se tratar de psicoses, podem ter diversos tipos de distúrbios, como descontrole agitação,
agressividade, insônia severa, paranoia, angustia. Por não se adaptarem e não entenderem
as regras de convívio social, não deveria ser tratado como criminosos comuns, já que não
conseguem conviver em sociedade. Sendo assim, estes indivíduos devem ser retirados do
convívio com outras pessoas e, consequentemente encaminhados para clínicas de tratamento
de distúrbios mentais ou de comportamento (BATISTA, 2011)
Dentro ainda desta classificação há a esquizofrenia, que é um tipo de psicose endógena.
Trata-se de uma doença mental mais complexa, envolvendo delírios, alucinações, apatia,
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incoerência, hiperatividade, dentre outros sintomas. A principal evidência deste distúrbio
aparece na adolescência em que o indivíduo começa a apresentar mania de perseguição e
dificuldades em se relacionar com o ambiente em que vive e, muitas vezes, com sinais de
agressividade e tendência ao suicídio (BALLONE, 2005).
O Transtorno Bipolar também é um tipo de psicose, sendo conhecido psiquiatricamente como
“Psicose Maníaco–Depressiva” ou PMD. Este transtorno é decorrente de alterações na
polaridade do cérebro, com consequentes alterações de humor e crises de ansiedade,
melancolia e agitações (BALLONE, 2005).
Ainda no quadro das Psicoses, há um transtorno denominado de “Serial Killer” na qual
Schechter (2013), citou que o termo foi atribuído ao agente especial Robert Ressler do
governo dos Estados Unidos da América, “Federal Bureau of Investigation” (FBI). Para o FBI
(1992), a definição de Serial Killer, ou Psicopatas deve ter três ou mais eventos separados em
três ou mais locais distintos, com um período de “calmaria” entre os homicídios. Por outro lado
tal, classificação é ampla demais, sendo muito genérica, podendo qualificar tipos de homicidas
que em si, não são Serial Killer. Alguns especialistas neste assunto como EÇA (2010),
consideram que esses criminosos não se encaixam em nenhuma das categorias clinicas
tradicionais de transtorno mental, sendo considerada como uma categoria especial.
A maioria dos Serial Killer são do sexo masculino, como um tipo bem especifico de crime, ou
seja, homicídio sexual brutalmente violento, tal como simbolizado por Jack, o Estripador
(SCHECHTER, 2013).
As vítimas são escolhidas pelo acaso e mortas sem nenhuma razão aparente. Raramente, o
Serial Killer conhece sua vítima. Na verdade, este não procura uma gratificação no crime,
apenas exercita seu poder e controle sobre outra pessoa, no caso, a vítima (CASSOY, 2004).
A mente de um psicopata tem início, muitas vezes, durante a infância, havendo histórico de
abusos sexuais, os quais realizados pelos pais ou por parentes próximos. Essa psicopatologia
pode se manifestar em crianças órfãs, adotadas, as quais viviam em ambientes onde
passavam necessidades e ambiente agressivo (SCHECTHER, 2013).
Há relatos que esta psicopatologia se inicia muitas vezes com a tortura de animais, colocação
de fogo em objetos: “Eles vivem entre nós, parecem fisicamente conosco, mas são
desprovidos deste sentido tão especial: a consciência” (SILVA, 2008).
Não pode ser estabelecido se é exatamente da forma descrita que se desenvolve a psicopatia,
pois seus portadores podem ser de qualquer nacionalidade, cultura, sociedade, credo,
sexualidade, ou nível financeiro (CASSOY, 2004). Os Seriais Killers são divididos em quatro
tipos
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• Visionários: é um indivíduo completamente insano, psicótico. Ouve vozes
dentro de sua cabeça e as obedece. Pode também sofrer alucinações ou ter
visões.
• Missionário: socialmente não demonstra ser um psicótico, mas internamente
tem a necessidade de “livrar” o mundo do que julga imoral ou indigno. Este tipo
escolhe certo grupo para matar, como prostitutas, homossexuais, etc.
• Emotivos: matam por pura diversão. Dos quatro tipos estabelecidos, é o que
realmente tem prazer de matar e utiliza requintes sádicos e cruéis.
• Libertinos: são os assassinos sexuais. Matam por desejo sexual. Seu prazer
será diretamente proporcional ao sofrimento da vítima sob tortura e ação de
torturar; mutilar e matar lhe traz prazer sexual. Canibais e necrófilos fazem
parte deste grupo (CASSOY, 2004).
“Serial Killer” também é dividido em categorias: “organizados” e “desorganizados”,
geograficamente estáveis ou não. O denominador comum entre todos os tipos é o sadismo,
desordem crônica e progressiva. Há seis fases do ciclo do Serial Killer: a) Fase Áurea: onde
o assassino começa a perder a compreensão da realidade; b) Fase da Pesca: quando o
assassino procura a sua vítima ideal; c) Fase Galanteadora: quando o assassino seduz ou
engana sua vítima; d) Fase da Captura: quando a vítima cai na armadilha; Fase do
assassinato ou totem: auge da emoção para o assassino; f) Fase da Depressão: que ocorre
depois do assassinato. Após a última fase, o indivíduo engatilha reinicia o ciclo (CASSOY,
2004).
O que instiga um psicopata a cometer seus crimes é violar as regras. A maioria dos Psicopatas
são violentos e cruéis, não sentindo a menor culpa por aquilo que estava fazendo a sua vítima.
Pais que matam seus filhos, filhos que matam pais, estelionatários, ladrões, golpistas,
gangues que ateiam fogo em pessoas, criminosos de colarinho branco, empresários, políticos
corruptos, também podem serem considerados “Serial killers”. Pois há diversos níveis de
psicopatia (SILVA, 2008).
Os “Serial killers” podem mudar conforme o tempo, a patologia: Serial killers com
personalidade passional, Serial killers com personalidade depressiva, Serial killers
Narcisistas, Serial killers explosivos e Serial killers Ostentativos (FRANÇA, 2011).
É preciso estar atento para o fato de que, ao contrário do que se possa imaginar, existem
muito mais “Serial killers” que não matam do que aqueles que chegam à desumanidade
máxima de cometer um homicídio (SILVA, 2008).
Os Serial Killers costumam ser espirituosos e muito bem articulados, tornando uma conversa
divertida e agradável. Geralmente contam histórias inusitadas, mas convincentes em diversos
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aspectos, nas quais são sempre os mocinhos. Não economizam charme nem recursos que
os tornem mais atraentes no exercício de suas mentiras. Para algumas pessoas, se mostram
suaves e sutis, tal como os galãs da TV e do cinema, não têm a menor preocupação ou
constrangimento ao serem descobertos; não aparentam ter vergonha, de terem realizados o
crime, podem mudar de assunto com a maior tranquilidade ou dar uma resposta totalmente
fora do contexto (SILVA, 2008)
Esses indivíduos normalmente são narcisistas e supervalorizam sua importância e seus
valores, se vendo como o centro de tudo, que tudo deve girar em torno deles. Para os
Psicopatas, matar, roubar, estuprar, fraudar não é nada grave. E para “driblar”, passam a
culpar outras pessoas por seus atos, se eximindo de culpa (SILVA, 2008).
Uma das características que um Serial Killer ou psicopata pode ter é a mania de mentir,
trapacear e manipular as pessoas. Antes deve ser observado que todos mentem, uns mais
outros menos. A mentira é um ato espontâneo para não magoar pessoas, ou para conseguir
algo. Pode-se observar que esses criminosos não passam muito tempo pensando no que é
certo ou errado, dando uma simples resposta “Eu fiz porque deu vontade” (SILVA, 2008).
Os Psicopatas tendem a viver o dia a dia e a mudar seus planos com frequência. Quase não
pensam no futuro e muito menos se preocupam consigo mesmo. Precisam de coisas que os
excitem, que tragam emoção, um “barato” para a vida deles. Outrossim, deve ser destacado
mesmo que seja cometido apenas um crime, estes devem ser considerados como Psicopatas
podendo haver reincidência no ato, tornando-se pessoas perigosas para serem reinseridas
no convívio social (HARE, 2013).
Estudos revelam que a taxa de reincidência criminal dos Psicopatas é cerca de duas vezes
maior que a dos demais criminosos. E quando se trata de crimes associados à violência, a
reincidência cresce para três vezes mais. Diante disto, pode ser afirmado que é muito difícil
identificar um Serial Killer tão somente por ter cometido inúmeros crimes, quando é certo que
indivíduos que mesmo tendo cometido apenas um, são considerados de extrema
periculosidade, tanto quanto os outros que chegaram a cometer dois ou mais crimes (SILVA,
2008; CASSOY, 2004).
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(SCHECHTER, 2013).
Por que então a ciência ainda não conseguiu se atentar para o fato de que a psicopatia, é tão
antiga quanto o pecado? Há inúmeras respostas para isso, mas para o autor Schechter (2013),
é porque um homem que cometia atos terríveis de mutilação e assassinato com vítimas
inocentes não era necessariamente considerado um criminoso em eras passadas e, assim se
tornando parte do cotidiano das pessoas e, se um psicopata aparecesse, este poderia
ingressar no exército e assassinar brutalmente homens, mulheres, e crianças o quanto
quisesse e pior, sendo promovido e honrado e, por isso, ganhar uma promoção.
Outra razão que leva a crer que a psicopatia surgiu no mundo durante a modernidade é que,
na era pré-industrial não havia imprensa. Não há registros em jornais nobres, não porque não
existia, mas sim porque tais periódicos não existiam. Quando Jack, o estripador, apareceu
haviam os tablóides, popularizando-o inicialmente em Londres e, posteriormente em todo o
planeta (SCHECHTER, 2013).
Há registro sobre os contos de fadas, onde sua origem era para adultos e não como hoje,
para crianças. Embora sejam cheios de magia e encantamento são também, como muitos
estudiosos têm apontado, documentos históricos, refletindo a realidade social da época. O
conteúdo extremamente macabro de muito desses contos, deixa claro que seus ouvintes
estavam bastante familiarizados com o tipo de maníacos e homicidas que hoje chamamos de
“Serial Killers” (SCHECHTER, 2013).
Segundo alguns historiadores, na era pré-moderna, o Sr. Vlad III, conhecido como Drácula,
foi um dos piores Psicopatas. O mesmo era um príncipe considerado excêntrico, que
subjugava seus inimigos, com sadismos indescritíveis, recebeu esse codinome, existindo,
ainda, outro, o “Vlad Teles”, que seria “Vlad, o Empalhador”, que era sua forma de tortura
favorita (ERNANDES, 2013).
Outro psicopata foi o “Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet”, ensejando até roteiro de filme. Não
se sabe ao certo se ele realmente existiu; há uma divisão entre os historiadores. Os que
afirmam de sua existência relatam que pode ter chegado a matar cerca de cento e sessenta
pessoas, quando não com sua garganta cortada, era pela cadeira que usava para atendê-las,
que jogava a pessoa até um calabouço, onde vinham a falecer com a queda (SCHECHTER,
2013).
Assim, foram aparecendo conforme os séculos, chegando ao tão famoso “Jack Estripador” .
Os assassinatos aconteceram de agosto a novembro de 1888. Até onde se sabe foram cinco
vítimas, sendo estas prostitutas. No seu modus operandi, decapitava, arrancava tripas,
amputava, cortava de inúmeras maneiras as suas vítimas. Foram criadas diversas teorias;
que poderia ser um médico, açougueiro ou até mesmo uma mulher, porém nunca foi
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comprovado, e este nunca foi preso (SCHECHTER, 2013).
Com o passar das décadas e conforme a mídia crescia, sendo esta por jornais, tablóides,
rádio, televisão, etc., os casos de homens e mulheres que matavam de formas cruéis foram
ficando mais conhecidos, dando a falsa impressão de se tratarem de crimes recentes.
Todavia, nota-se de que até mesmo nos idos da Roma Antiga, Psicopatas e Serial Killers
transitavam entre a população. Dessa forma vemos o quão cruel a humanidade é,
independente do século ou da época.
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A CONDUTA DOS PSICOPATAS
Uma pessoa comum é capaz de cometer um homicídio, mas temos que pensar o porquê desta
pessoa ter sido levada a cometer tal perversidade.
Já um psicopata não precisa de “motivos aparentes” para vir a matar alguém. Esta conduta,
em nenhum momento é fruto de um sofrimento emocional profundo, ou de fatores
precipitantes incompreensíveis que normalmente impulsionam indivíduos comuns a
cometerem crimes. Estes indivíduos culpam suas vítimas, alegando que estas tiveram o
destino que mereciam, minimizando o seu ato, como se ele não tivesse tido outra escolha
(SCHECHTER, 2013; SILVA, 2008).
PERFIL DO CRIMINOSO
Desde meados dos séculos XIX a polícia percebeu que a obra de muitos criminosos
reincidentes pode ser reconhecida a partir do que geralmente se conhece como “modus
operandi”. A maneira como a porta é arrombada, o modo com o qual um cofre foi aberto, a
maneira como a vítima é capturada, esquartejada, etc. (INNES, 2003).
No início do século XX os criminologistas começaram a prestar atenção a outros assuntos
que não fossem as características físicas do “biótipo criminal” e começaram a estudar os
processos mentais, que levava às pessoas a criminalidade (INNES, 2003).
Fazer o perfil de um criminoso é mais fácil quando o ponto de partida é o motivo do crime. No
caso dos Serial Killer, é um trabalho dificílimo, uma vez que o motivo é sempre psicopatológico
e desconhecido. A dificuldade consiste no fato de o investigador ter dificuldades em entender
a lógica totalmente particular daquele criminoso. Por outro lado, é importante ressaltar que
para se fazer um perfil criminal, é preciso ter um grande conhecimento em psiquiatria e
psicologia forense. Infelizmente, a prática diverge totalmente do que trazem os filmes e
seriados, onde um investigador comum consegue traçar o perfil obtendo êxito na procura
(CASSOY, 2004).
No caso do Jack Estripador, o médico legista observou que na ponta do lençol havia muito
sangue, dando a entender que a face da vítima havia sido coberta na hora do crime,
constatando também que as mutilações realizadas nas vítimas foram executadas pelas
mesmas mãos e tinham o mesmo padrão (CASSOY, 2004).
Já, no caso do “Estrangulador de Boston”, foram 13 assassinatos sexuais, sendo as vítimas
mortas em seus apartamentos, atacadas sexualmente e normalmente amordaçadas com
artigos de seu próprio vestuário. Outra característica, é que o estrangulador deixava suas
vítimas nuas e em poses provocativas, com as cordas do estrangulamento amarradas com
um laço, como se fosse um ornamento (CASSOY, 2004).
O “modus Operandi” (M.O) é estabelecido observando-se o tipo de arma utilizada no crime,
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a vítima selecionada, o local escolhido para a execução do crime, além de outros detalhes
ganhando maleabilidade à medida em que o infrator ganha experiência e confiança, sendo
considerada como uma alteração no seu modo de agir ou na “sua marca registrada”, o que
pode levar e dificultar a elucidação dos crimes justamente para criar dúvidas e confusão aos
investigadores (CASSOY, 2004).
A assinatura no crime é considerada como a digital do agressor. Mesmo que este não deixe
suas digitais, deixará sua marca; aquilo que vem a repetir em todos os crimes que vem
cometendo ou virá a cometer (CASSOY, 2004).
Os Psicopatas e Serial Killers têm invariavelmente suas próprias assinaturas sinistras, quase
sempre criativas, podendo pegar um objeto simbólico, como um casulo de mariposa enfiada
na garganta de suas vítimas gravar uma mensagem bizarra na carne das mesmas, escrever
passagens bíblicas com letras sangue nas paredes dos quartos, etc (SCHECHTER, 2013).
Diferente do M.O, a assinatura nunca muda, mas alguns aspectos dela podem se desenvolver,
como exemplo, Serial Killers que mutilam suas vítimas post morten. São consideradas
assinaturas quando o criminoso: I) Mantém a atividade sexual em uma ordem especifica; II)
Usa repetidamente um específico tipo para amarrar sua vítima; III) Infringe a diferentes vítimas
o mesmo tipo de ferimentos; IV) Dispõe o corpo de certa maneira peculiar e chocante; V)
Tortura e/ou mutila suas vítima e/ou mantém alguma outra forma de comportamento ritual
(CASSOY, 2004).
Esse tipo de assinatura ostensiva só é usado por aqueles assassinos Psicopatas que
encontram especial prazer em provocar a polícia e chamar a atenção da mídia. Entretanto,
não são todos os Psicopatas que querem aparecer, alguns querem somente ficar nas
sombras. Mas para criminologistas estes também têm um tipo de assinatura, por exemplo, o
fetiche por usar cordas no crime, ou mordidas nos seios, como no caso do Vampiro Estuprador
(SCHECHTER, 2013).
A diferença para Cassoy (2008), é que modus operandi é comportamento erudito. O agir de
um criminoso, como irá cometer o delito, é dinâmico, podendo mudar, mas a assinatura é o
que o criminoso faz para se realizar, é produto da sua fantasia, é estático, imutável.
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dos fatos antes que policiais compareçam.
Art. 169. Para o efeito de exame do local onde houver sido praticada a
infração, a autoridade providenciará imediatamente para que não se altere o
estado das coisas até a chegada dos peritos, que poderão instruir seus
laudos com fotografias, desenhos ou esquemas elucidativos (CPP).
São quatro as qualificações para cena do crime. Esses critérios são: a localização, a área, a
natureza e o vestígios que ali se encontrarem (ERNANDES, 2015).
Como descrito por Cassoy (2004), a cena de crime nos conta uma história, como se fosse
uma novela, onde há personagens, começo, meio e fim. Na cena do crime há como identificar
se o criminoso é organizado, desorganizado. Em caso de Serial Killer e Psicopatas, existe
uma assinatura e o M.O dele. Assim, os peritos e investigadores podem com essa análise,
identificar o culpado.
IMPUTABILIDADE PENAL
Desde os primórdios, a sociedade vem moldando indivíduo conforme, suas regras o seu modo
de agir e de pensar. Assim, vamos organizando o nosso modo de viver, as nivelações de tipos
(FRANÇA, 2011).
Com o passar dos tempos, o que era correto, hoje não é mais. Porventura, nós somos
humanos passamos a entrar em conflito com os interesses, afinal não somos todos iguais,
temos opiniões, gostos, manias diferentes uns dos outros. Passamos então a ter conflitos com
o que se entende por regras, pela civilidade, trazendo alto nível de intolerância, nessas
divergências de pensamentos (FRANÇA, 2011).
O direito penal tem por finalidade proteger pessoas, bens, para que seja possível conviver de
forma correta como dita a sociedade. Assim pode-se conceituar o crime, seja material onde
viola o bem que é protegido e o formal, onde é violada uma norma penal (ZAFFARONI, 2004).
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imputável”, já no âmbito jurídico segundo Diniz (2017), imputabilidade é o ato de atribuir
responsabilidade a alguém por uma infração. Segundo o art. 26 do Código Penal:
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levado ao juiz, para que este tenha conhecimento do fato e possa julgar da melhor forma o
crime (NUCCI, 2005).
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com o passar dos anos, houve consequentemente a forma de punição evoluiu, assim como a
forma de investigação dos crimes.
Atualmente há uma lista de regras que a sociedade diz ter e, cada país tem sua forma de
julgar os crimes, cometidos pelos agentes.
No Brasil, há o Código Penal, onde contém diversas formas de avaliação para variados
crimes, nos casos dos crimes contra a vida (VADE MECUM, 2011).
Havendo classificações: doloso (quando o agente agiu com dolo), culposo (não teve a
intenção de fazer), formas que se pode aumentar a pena do agente, tendo então as
qualificadoras (VADE MECUM, 2011).
As penas e as medidas de segurança que podem ser postas ao agente, é para que tenha
controle e equilíbrio social. O autor Gomes (1990), expõe:
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Para presos comuns, o julgamento de psicopatas e Serial killers deve se analisar a
imputabilidade. Sendo julgado imputável seguira para o sistema penitenciário, se for semi-
imputavel irá para um Hospital Psiquiátrico (SZKLARZ, 2016).
A medida de segurança é uma sanção penal, normalmente usada por inimputáveis, mas
também usado ao semi-imputaveis, no sentido de preservar a sociedade da ação de
delinqüentes temíveis e de tentar recuperá-los (SZKLARZ, 2016).
CONCLUSÃO
Deve ser ressaltado que Psicopatas e Serial Killers, planejam cada ato que farão com
antecedência. Estes demonstram sentir prazer em ver o desespero, o sofrimento da vítima. A
maior parte destes criminosos, não tem uma pessoa especifica para ameaçar, agredir
fisicamente e matar, escolhendo aleatoriamente suas vítimas. Normalmente seu M.O vai se
modificando conforme vai passando o tempo em que está atuando. Porém, sua assinatura é
a mesma em todas as vezes que cometem seu crime.
Por isso, deve-se ter cuidado na hora de investigar, pois cada detalhe no local do crime é de
extrema importância, podendo ser a chave de todo quebra cabeça para descobrir a autoria do
crime e levar até o verdadeiro culpado; grande parte desses criminosos teve algum trauma ou
uma infância conturbada, o que contribuiu a se tornarem criminosos.
Os Psicopatas e Serial Killers não demonstram nenhum tipo de sentimento, são incapazes de
sentir empatia para com o outro, o que pode gerar dúvidas entre os doutrinadores se este
criminoso deveria ou não ser considerado imputável, já que alguns transtornos psicológicos
têm como características, a empatia.
No decorrer deste trabalho, houve a dificuldade de se encontrar pesquisas realizadas no
Brasil, pois além da falta de pesquisas, há também a falta de profissionais especializados para
abordar este assunto.
A maior parte de pesquisas realizadas, até mesmo por profissionais brasileiros é baseada em
trabalhos profissionais de outros países, porém deve ser dado destaque que no Brasil,
também há criminosos com esse perfil, consequentemente percebe-se uma divisão entre os
juristas e até mesmo entre os psicólogos e psiquiatras. Sendo assim, como mostrada
anteriormente, boa parte desses doutrinadores é da corrente que Psicopata e Serial Killer
deve ser considerado imputável, pois estes criminosos estão cientes da ilicitude dos seus
atos, uma vez que, além de planejarem os crimes atuam com requintes de crueldade,
utilizando-se da principal característica, o Sadismo.
Como conclusão final observa-se que a justiça Brasileira não tem condições de lidar com
estes indivíduos, pois as medidas de segurança aplicadas são somente em casos de
inimputabilidade e semi-imputabilidade, trazendo a grande problemática do que se fazer com
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os criminosos que são julgados imputáveis, já que estes vão para uma penitenciaria e acabam
cometendo mais crimes lá dentro ou até mesmo instigando rebeliões conforme observamos
no presente trabalho. O correto seria a criação de unidades específicas para este tipo de
criminoso para que estes sejam devidamente monitorados, muitas vezes, até o final de suas
vidas.
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