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RESUMO: O presente trabalho busca contribuir com o debate acerca da imputabilidade penal
adequada ao psicopata serial killer à luz do direito penal brasileiro. Analisa o que é um
psicopata e suas características comportamentais, ponderando acerca de sua falta de
sentimentos nobres e dos fatores que podem desencadear comportamentos reprováveis.
Discorre acerca do conceito de serial killer e o que os difere dos demais homicidas, descreve o
conceito analítico de crime, com enfoque especial na culpabilidade e na imputabilidade,
demonstrando quais as possibilidades aceitas no ordenamento jurídico brasileiro e qual o real
impacto desta classificação para o agente que praticou o delito. Apresenta o emblemático caso
de Francisco de Assis Pereira, conhecido como o “maníaco do parque”, que cometeu diversos
crimes na década de 90, entre os quais estupros e homicídios, analisando sua vida, seus crimes,
o julgamento e a sentença a ele imposta. Por fim, busca colaborar com a discussão apresentando
o resultado da pesquisa nas considerações finais.
ABSTRACT: The present work contributes to the search for the debate about the appropriate
criminal imputability to the serial killer psychopath in the light of Brazilian criminal law. To
analyze what a psychopath is and its behavioral characteristics, pondering about its lack of
feelings and the factors that may present reprehensible nobles. It discusses the concept of serial
killer and what makes it different from other murderers, describes the analytical concept of
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Artigo apresentado à Universidade Potiguar – UnP como parte dos requisitos para obtenção do título de Bacharel
em Direito, 2022.
2
Graduando em Direito pela Universidade Potiguar – UnP - samuelrox254@gmail.com
3
Graduando em Direito pela Universidade Potiguar – UnP - Saulo_freitas23@hotmail.com
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Professor-Orientador Professora no curso de Direito da Universidade Potiguar. Especialista em Direito
Constitucional (Damásio Educacional) e Direito Penal e Processo Penal (Universidade Potiguar). Extensão em
Direitos Fundamentais pela Universidade Católica Portuguesa do Porto (Portugal). – E-mail:
gercina.cavalcante@unp.br
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crime, with a special focus on culpability and imputability, demonstrating what are the accepted
possibilities in the Brazilian legal system and what is the real impact of this classification for
the agent who committed the crime. the case of Francisco de Assis Pereira, known as the
“maníaco do parque”, who committed several crimes in the 90s, among which he presents his
rape and homicides, analyzing his life, his crimes, the trial and the sentence imposed on him.
Finally, seek to collaborate with the discussion of the research result in the final considerations.
Keywords: Psycho. Serial killer. Imputability. Maníaco do Parque.
1 INTRODUÇÃO
Este trabalho discorrerá acerca da psicopatia e o tratamento que a ela é dado no Direito
Penal brasileiro, com enfoque especial nas penas cominadas aos crimes cometidos por estes
indivíduos. Dissertará sobre aspectos característicos da personalidade psicopata, com intuito de
entender o que os caracteriza. Buscará entender o que é um Serial Killer, também chamado de
assassino em série, demonstrando o que os define, além de compreender seu elevado grau de
periculosidade.
Após entender o que é um psicopata serial killer, abordará o conceito analítico de crime,
que se divide em fato típico, ilícito e culpável, com enfoque na imputabilidade, que é parte
integrante da culpabilidade, e sua abordagem no direito brasileiro. Buscará entender qual a
imputabilidade adequada para um psicopata serial killer, dentro das possibilidades existentes
no ordenamento jurídico brasileiro.
Será analisado o caso de Francisco de Assis Pereira, conhecido como Maníaco do
Parque, realizando uma análise acerca das sanções a eles aplicadas, qual seu possível
diagnóstico e a imputabilidade aplicada ao seu caso. Discorrerá sobre a pertinência e eficácia
destas sanções, buscando compreender se estas auxiliaram no processo de ressocialização e
prevenção de reincidência.
O presente artigo busca contribuir com a discussão ainda pouco explorada acerca da
psicopatia no Direito Penal brasileiro, apoiando-se na ciência através de aspectos psicológicos
e psiquiátricos integrados ao direito para proposição de uma solução para a imputabilidade de
psicopatas.
O método de pesquisa é de caráter exploratório e descritivo, posto que, por meio da
legislação, da doutrina jurídica e da análise de caso concreto buscará descrever e explicar as
formas mais adequadas de aplicação da imputabilidade aos psicopatas assassinos em série. O
presente trabalho foi elaborado, no que diz respeito à coleta de dados, utilizando o procedimento
bibliográfico, de modo a serem usadas tanto fontes primárias (legislação vigente, doutrina e
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projetos de lei que tratem do tema), bem como, fontes secundárias (livros, artigos, publicações
especializadas e entrevistas).
2.1 DA PSICOPATIA
Já a psiquiatra Ana Beatriz Barbosa (2012) explica que a psicopatia não é uma doença,
é uma maneira de ser. Por estas características singulares Palomba (2003) os classifica como
condutopatas e fronteiriços, tidos como
É necessário estabelecer os limites onde termina a noite e onde começa o dia, onde
não é mais doença mental e é normalidade mental. Sucede que entre a noite e o dia há
a aurora, que não é nem dia nem noite, mas é aurora, que começa com o sol a dezoito
graus abaixo da linha do horizonte, cuja luminosidade já se pode notar na parte da
Terra que estava em sombras. Em psiquiatria forense também termina a alienação
mental quando se observam os raios da razão iluminarem o livre-arbítrio, e termina
essa ‘aurora’ quando razão de livre arbítrio se fazem totalmente presentes, que é a
normalidade mental. (PALOMBA, 2003, p. 155).
Observa-se que a psique destes indivíduos transita em uma zona cinzenta. Estão na
divisa entre a sanidade e a insanidade, não sendo consensual nem sequer se seu estado é de
enfermidade ou apenas um distúrbio de comportamento.
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O termo Serial Killer ou Assassino em Série, foi criado na década de 1970 por Robert
Ressler, um ex-agente de investigação aposentado do Federal Bureau of Investigation (FBI) ou
Departamento Federal de Investigação norte-americano, com notável contribuição para o tema.
O conceito mais difundido de Serial Killer segundo Pereira e Russi (2016) o caracteriza
como um agente que comete dois ou mais assassinatos, com um perfil de vítima ideal criado
por ele, geralmente com semelhança de faixa etária, sexo, raça, profissão, escolhidas ao acaso
dentro do perfil criado por ele, e sem razão aparente são mortas para satisfação de sua fantasia.
Conforme Pereira e Russi (2016) o intervalo de tempo que separa os crimes, pode variar
de horas, dias ou até mesmo anos, por motivos desconhecidos, ou até que sejam presos ou
mortos.
Observa-se, portanto, que o número de assassinatos cometidos por si só não caracteriza
o agente como um assassino serial, deve-se examinar o modus operandi, o perfil de vítima, a
frequência destes atos e a necessidade de satisfação que este busca em seus atos criminosos.
Constatada essa diferença, cumpre salientar que o assassino serial não se confunde com
o homicida comum, mesmo que este tenha mais de uma vítima. Bem como não se confunde
com o assassino em massa, que se caracteriza por um grande número de mortes em um único
ato, que geralmente termina com a morte do próprio delinquente, a exemplo do crime ocorrido
em março de 2019, na Escola Estadual Professor Raul Brasil no município de Suzano, no estado
de São Paulo.
O elo entre a psicopatia e os assassinatos seriais está na busca pela satisfação de seus
desejos e fantasias, pela ausência de sentimentos e de remorso, o alto grau de egoísmo e
indiferença ou prazer com o sofrimento alheio, o psicopata não encontra freios morais ao
concretizar seus desejos, mesmo que estes envolvam a morte, a tortura e o abuso de outras
pessoas.
Os psicopatas assassinos em série conseguem facilmente dissimular esta condição, posto
que seu distúrbio está ligado à falta dos chamados sentimentos nobres, não lhe faltando, via de
regra, deficiência de cognição.
Segundo Silva (2004) estes indivíduos geralmente não são descuidados com sua
aparência, adaptando-se facilmente a comunidade e aos costumes locais, possuem família,
filhos e um emprego. Apesar de executar seus crimes de forma violenta e cruel, a aparência de
vida comum os torna acima de qualquer suspeita, dificultando sua captura.
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O fato de aparentarem uma vida normal, escondendo seus atos criminosos, demonstra,
consoante Silva (2004), que eles compreendem que o seu comportamento é rejeitado pela
sociedade e tem total consciência do fato criminoso que comete.
Menciona-se o caso de Dennis Lynn Rader, serial killer norte-americano conhecido
como BTK ou Estrangulador BTK, um indivíduo aparentemente normal, casado e pais de dois
filhos, assassinou 10 pessoas no período compreendido entre 1974 e 1991, enquanto ostentava
o cargo de presidente da igreja luterana local.
Em síntese para haver nexo causal o resultado deve ser fruto da conduta praticada, não
podendo ser imputado a um agente um resultado que não tem ligação com a conduta praticada.
A teoria adotada no sistema penal brasileiro para determinar o nexo de causalidade é a da
equivalência dos antecedentes causais, também conhecida como conditio sine qua non,
conforme o art. 13 do Código Penal (BRASIL, 1940), o resultado, de que depende a existência
do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão
sem a qual o resultado não teria ocorrido.
A teoria supracitada encontra fortes críticas no tocante a possibilidade de regressão
infinita da causa que deu origem ao fato, como por exemplo responsabilizar uma mãe por ter
dado a luz a um assassino, ou a avó deste por ter dado a luz a mãe do assassino, por este motivo
surge a ideia da teoria da Conditio sine qua non.
Esta teoria possibilita a análise de dolo e culpa, não bastando que uma conduta seja a
causa ao resultado de uma determinada atividade criminosa, é necessário que o agente tenha
dolo ou culpa em sua ação. Retornando ao exemplo anterior, uma mãe, ao dar a luz ao seu filho,
não tem dolo ou culpa em um crime que seu filho cometeu anos após seu nascimento.
Superadas todas as etapas anteriores, mas ainda dentro do fato típico, procede-se a
análise da tipicidade, material e formal. Entende-se a tipicidade formal como a simples
subsunção do fato à norma, enquanto a tipicidade material é a efetiva lesão ao bem jurídico
tutelado, lesão esta que deve ser penalmente relevante para que a tipicidade material esteja
caracterizada.
Após verificada a existência do fato típico haverá a análise de ilicitude, também
conhecida como antijuridicidade, que é a contrariedade entre o fato e o ordenamento jurídico
vigente.
Via de regra a ilicitude é presumida quando está configurado o fato típico, entretanto,
pode ser relativizada de acordo com a teoria da indiciariedade ou ratio cognoscendi. A
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Exclusão de ilicitude
Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato:
I – em estado de necessidade;
II – em legítima defesa;
III – em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito.
Excesso punível
Parágrafo único - O agente, em qualquer das hipóteses deste artigo, responderá pelo
excesso doloso ou culposo.
A ilicitude, que é presumida, sustenta-se até o momento que o acusado faz a prova da
existência da excludente. Portanto, para facilitar o entendimento, a aplicação da ilicitude induz
ao seguinte raciocínio: o indivíduo pratica um fato típico, presume-se este fato como
antijurídico, que é a regra, verifica-se a existência de uma causa de exclusão da ilicitude, que é
tratada como exceção. Superada a análise da antijuridicidade o exame do crime passa a sua
última fase, que é a culpabilidade.
3.1 CULPABILIDADE
A culpabilidade pode ser entendida, de forma sucinta, como “o juízo de reprovação
pessoal que se realiza sobre a conduta típica e ilícita praticada pelo agente.” GRECO (2009).
No ordenamento jurídico brasileiro foi adotada a teoria da culpabilidade limitada.
Esta fase da análise do crime tem em seu escopo três elementos básicos, segundo a
doutrina majoritária, que são a imputabilidade, a potencial consciência da ilicitude e a
exigibilidade de conduta diversa.
A potencial consciência da ilicitude trata acerca da ciência ou da potencial ciência do
autor de que o ato por ele praticado é contrário à legislação vigente. A simples alegação de
desconhecimento da lei não é motivo para afastar a culpabilidade do agente, esta deve ser
valorada de acordo com o contexto social do agente e sua real possibilidade de acesso a este
conhecimento, conforme art. 13 da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB),
“art. 3º Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece” (BRASIL, 2002).
A previsão legal supracitada não tem caráter absoluto, a valoração acerca da potencial
consciência da ilicitude deve ser amparada nas circunstâncias pessoais e sociais do indivíduo.
Ao proceder este exame há a possibilidade de redução ou isenção de pena, conforme o art. 21
do CP:
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Aduz-se do texto legal que se era impossível que o indivíduo tivesse o conhecimento da
lei ele estará isento de pena, enquanto o agente que, dadas as suas circunstâncias pessoais e
sociais, deveria ter a consciência da ilicitude de seu ato terá um quantum reduzido de sua pena.
Há também a inexigibilidade de conduta diversa como uma excludente de culpabilidade,
trata-se de uma previsão lega, conforme o art. 22 do CP, “se o fato é cometido sob coação
irresistível ou em estrita obediência a ordem, não manifestamente ilegal, de superior
hierárquico, só é punível o autor da coação ou da ordem.” (BRASIL, 1940).
Estando o agente sob ordem, não manifestamente ilegal, de superior hierárquico este
não responde pelo possível crime, apenas respondendo quem deu a ordem. Por sua vez, quanto
a coação irresistível, esta deve ser de caráter moral, posto que a coação física irresistível exclui
a conduta.
Entende-se como coação moral irresistível tem-se um coator, que usa o emprego de
grave ameaça para obrigar um indivíduo a fazer ou deixar de fazer algo, sendo esta ameaça
grave de tal maneira que não haja juízo de reprovabilidade da conduta do agente que se viu
obrigado a realizá-la. A exemplo, pode citar o caso de uma pessoa que, com seus parentes
sequestrados e ameaçados de morte, foi coagida a roubar uma joalheria.
Por fim, dentro da culpabilidade, há o elemento da imputabilidade, que é cerne central
do debate proposto pelo presente trabalho e que será discorrido a seguir, trazendo sua definição,
possibilidades e critérios de aplicação.
Sob uma ótica penal temos que: Imputabilidade penal é o conjunto de condições
pessoais que dão ao agente capacidade para lhe ser juridicamente imputada a prática
de um fato punível. (DAMÁSIO, 1998, p.465).
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Se o indivíduo é capaz de entender a ilicitude do fato que está praticando deve ser
considerado apto a responder por ele. Entretanto, se o agente era totalmente incapaz de
compreender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com este entendimento deve
ser considerado inimputável, conforme prescreve o art. 26 do CP (BRASIL, 1940):
Inimputáveis
Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental
incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz
de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse
entendimento.
Observa-se que o inimputável é o oposto do imputável, ao tempo da ação ou omissão
este é totalmente incapaz de compreender que está praticando um fato ilícito, estando este isento
de pena. Cumpre ressaltar que o art. 26 dá a entender que há isenção de pena, enquanto parte
da doutrina entende que a inimputabilidade exclui o crime.
Há critérios claros para a definição da imputabilidade do agente, conforme explica
Guilherme de Souza Nucci (2017) o binômio necessário para a formação das condições pessoais
do imputável consiste em sanidade mental e maturidade.
Há diferentes critérios de definição da imputabilidade, o adotado no direito penal pátrio
é o critério misto ou biopsicológico, que abrange o critério biológico acerca da existência de
doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, bem como o critério
psicológico com a ausência, no momento da prática do crime, de compreensão do caráter ilícito
do fato e da possibilidade de comportar-se de acordo com esse entendimento.
As causas que excluem a imputabilidade são a doença mental, a menoridade penal e a
embriaguez completa acidental A embriaguez deve ser acidental, fruto de caso fortuito ou força
maior, além de completa, retirando totalmente a capacidade de julgamento do indivíduo.
Conforme preceitua o Código Penal (BRASIL, 1940):
Art.28, II, § 1º - É isento de pena o agente que, por embriaguez completa, proveniente
de caso fortuito ou força maior, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente
incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse
entendimento.
abrange todas as moléstias que causam alterações mórbidas à saúde mental. Entre elas,
há as chamadas psicoses funcionais: a esquizofrenia; a psicose maníaco-depressiva;
paranoia etc. É também doenças mentais a epilepsia; a demência senil; a psicose
alcóolica; a paralisia progressiva; a sífilis cerebral, a arteriosclerose cerebral; a histeria
etc. (MIRABETE, 2004, p. 211).
O agente nesta condição tem uma redução da pena, posto que tem ciência, mesmo que
reduzida, que o fato é ilícito ou pode determinar-se de acordo com esse entendimento, entretanto
por suas condições pessoais não se espera dele total discernimento em suas ações.
A semi-imputabilidade pode ser tida como uma reduzida capacidade de entendimento e
autodeterminação, havendo ainda domínio da lucidez sobre a demência. Deve o agente
responder com um quantum de redução de pena proporcional a sua limitação de discernimento.
Mirabete trata os psicopatas, livres de outras moléstias da mente, como semi-
imputáveis, entendendo que estes não são portadores de doença mental, mas de uma
perturbação mental, que não lhes tira a razão nem a capacidade de discernir o certo e o errado,
o legal e o ilegal.
Os psicopatas, por exemplo, são enfermos mentais, com capacidade parcial de
entender o caráter ilícito do fato. A personalidade psicopática não se inclui na
categoria das moléstias mentais, mas no elenco das perturbações da saúde mental
pelas perturbações da conduta, anomalia psíquica que se manifesta em procedimento
violento, acarretando sua submissão ao art. 26, parágrafo único. Estão abrangidos
também portadores de neuroses profundas (que têm fundo problemático por causas
psíquicas e provocam alteração da personalidade), sádicos, masoquistas, narcisistas,
pervertidos sexuais, além dos que padecem de alguma fobia. (Mirabete, 2004, p. 213-
214).
para 40 anos, não havendo até o presente momento nenhuma manifestação quanto a esta
alteração no prazo máximo do art. 75.
sexual. Em certo período após o acontecido com seu patrão, começou a se relacionar com uma
mulher transexual, durante um período de 14 meses, a moça chamada Tainá Rodrigues, na
época com 22 anos de idade.
De acordo com a reportagem Crime no parque – Folha de São Paulo, depois das
descobertas das mortes das mulheres, Tainá Rodrigues foi chamada para ser ouvida na
delegacia, em seu depoimento relatou que Francisco era muito agressivo, a espancava com
diversos socos sempre que era contrariado ou se aborrecia de qualquer outro modo. Além do
acima relatado a depoente arguiu que no dia terminaram seu relacionamento, após uma relação
sexual, ele declarou que “um dia seria famoso, mesmo que fosse nas páginas policiais dos
jornais”, demonstrando o caráter narcisista de Francisco, além de expor sua insegurança e
necessidade de autoafirmação. (CRIME, 1998).
O psiquiatra forense Guido Palomba afirma que todo crime é a fotografia exata e em
cores do comportamento do indivíduo. Não se sabe ao certo até hoje o porquê de Francisco
matar suas vítimas da forma como fazia, se há um motivo específico que desencadeou essa sua
vontade de matar, espancar, torturar fisicamente e mentalmente, praticar necrofilia e em alguns
casos a prática de canibalismo.
O seu modus operandi era simples, porém muito eficaz, ficava observando suas
potenciais vítimas, por vezes o fazia por horas, percebendo, segundo o próprio, a linguagem
corporal, em busca de mulheres tristes e frágeis, com baixa autoestima.
Após escolher a vítima, se aproximava e se identificava como fotógrafo, a chamava para
uma sessão de fotos experimental de alguma marca famosa, nem todas aceitavam, mesmo assim
ele continuava a insistir, com a ideia de torná-la famosa.
Quando havia o aceite por parte de alguma mulher, os dois partiam em sua moto até o
parque onde Francisco dizia que seria a suposta sessão dela, chegando lá, com sua ótima lábia
convencia as vítimas a entrar no parque com ele, falando que a equipe estava logo ali perto, só
a alguns metros dentro do parque.
Chegando ao local, segundo as vítimas que conseguiram escapar, Francisco mudava,
daquele carismático fotógrafo para um maluco descontrolado e muito agressivo, xingando e
narrando os terríveis atos que iria praticar com elas, por vezes ele mostrava os corpos em
decomposição de suas outras vítimas.
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Sua primeira vítima a jovem “Pituxa” está viva, Pereira colocou esse nome nela não se
sabe o porquê, mas seu nome real é outro, “M.F.T”., a empregada doméstica falou um pouco
de como que foi sua abordagem e dos seus momentos de terror.
de trabalho e sumido, informando inclusive que este funcionário já foi procurado outras vezes
pelo desaparecimento de outra pessoa, de um antigo relacionamento.
Fato interessante é que nesse mesmo dia que sumiu, ele deixou uma carta dizendo que
seu tempo ali teria acabado, e precisava partir, ao lado deixou uma matéria do jornal, na qual
falava do desaparecimento de jovens e um retrato falado.
No dia que desapareceu uma privada do seu local trabalho entupiu, ao realizarem o
reparo perceberam alguns objetos obstruindo os canos por onde deveria passar a água, esses
objetos eram de suas vítimas, em uma tentativa frustrada se desfazer de seus troféus, que
poderiam constituir prova contra ele, entre eles foi encontrado o documento de identidade da
jovem Isadora.
De acordo com Alves e Godoy (1998), não havia dúvida quanto a identidade do maníaco
do parque, era Francisco Pereira, iniciou-se uma caçada nacional, com duração de 23 dias,
ocorrendo a prisão no dia 04 de agosto de 1998, no município de Itaqui/RS, fronteira com o
Uruguai.
4.2 JULGAMENTO
De acordo com Kleber Tomaz (2018), Francisco Pereira foi julgado por diversos crimes,
entre eles atentado ao pudor, estrupo, assassinato, ocultação de cadáver, vilipendio a cadáver e
estelionato. Passou por quatro julgamentos entre 2001 e 2002, totalizando uma pena de 285
anos de prisão.
No primeiro julgamento, em 2001, Francisco assumiu a autoria do crime e foi
condenado a 16 anos de prisão, por assassinato. No segundo, já em 2002, negou a autoria dos
fatos e foi condenado a 107 anos de prisão, por estupro, roubo e atentado violento ao pudor
contra 9 vítimas. O terceiro julgamento ocorreu também em 2002 e culminou na condenação
de 24 anos e 6 meses por assassinato, estelionato e ocultação de cadáver da vítima Isadora. Por
fim seu último julgamento resultou na condenação de 121 anos, 6 meses e 20 dias por
assassinato, ocultação de cadáver e atentado violento ao pudor contra 5 vítimas. Conforme
reportagem de Kleber Tomaz (2018).
Em seus julgamentos Francisco foi considerado imputável pelos jurados, apesar de ser
apontado como semi-imputável pelos laudos médicos, que afirmavam que ele conseguia
compreender que estava cometendo crime, porém não conseguia controlar sua agressividade e
suas emoções. Durante seu julgamento, Francisco Pereira assumiu os crimes cometidos contra
as vítimas mortas, negando os cometidos contra as que sobreviveram. Psiquiatras avaliam que
essa negação pode ser fruto de medo de rejeição.
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Preso desde 1998, Francisco alega que cometeu seus crimes por conta de uma “coisa
maligna" e que hoje se considera uma pessoa normal. O “maníaco do parque” deve ganhar
liberdade em 2028, quando terá cumprido 30 anos de prisão, tempo máximo de encarceramento
permitido à época de seus crimes, segundo Kleber Tomaz (2018).
O Ministério Público tenta a instauração de um incidente de insanidade mental como
solução para a iminente volta de Francisco as ruas, segundo a promotora Giovana Marinato
Godoy
Nesse caso específico do Francisco, que cometeu crimes bárbaros com muitas vítimas
e recebeu pena altíssima, a volta dele à sociedade poderia colocar em risco a vida de
outras pessoas. (TOMAZ, 2018)
Em entrevista o próprio afirmou que não conseguiu se controlar ao ver as vítimas e que
sua primeira intenção era de matar, nunca foi para estuprar. É inegável que Francisco, quando
liberto, poderá representar um risco, posto que sua condição é incurável.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
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