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CRIMINOLOGIA
ISBN 978-85-9502-464-9
CDU 159.9:343.1
Introdução
Neste capítulo, você vai estudar a atuação do psicólogo nas áreas criminal,
cível, do trabalho e da família. Na área criminal, a atuação desse profissional
abrange o apoio às decisões judiciais nos sistemas carcerários, nos insti-
tutos psiquiátricos forenses (IPFs) e na área criminalística. A participação
na área civil ocorre por meio da realização de avaliação para subsidiar
processos de indenização, interdições (principalmente nas queixas de
transtorno de estresse pós-traumático), danos neuropsicológicos e dores
crônicas. No direito do trabalho, a atuação é nas avaliações para proces-
sos que necessitem de estudo dos danos pessoais e no assédio moral.
Já na área da família, o psicólogo atua em processos de separação e
divórcio, disputa de guarda de filhos, regulamentação de visitas, guarda
compartilhada, síndrome de alienação parental, divórcio destrutivo e
violência intrafamiliar.
a sofrer algum dano físico. Além disso, os motoristas têm o dever de dirigir
com responsabilidade para que não aconteça um acidente ou para que não
atropelem alguma pessoa.
O dever, para o direito civil, é o ponto inicial a ser considerado num pro-
cesso civil. O descumprimento desse dever é o que caracteriza o ato ilícito.
E, para caracterizar esse descumprimento, necessita-se verificar se houve
negligência/imprudência, ou se o ato foi intencional. Considera-se que houve
negligência se a pessoa não foi suficientemente zelosa para evitar o ato ilícito.
Para avaliar isso, é necessário analisar seu comportamento e sua conduta, não
importando sua intencionalidade. Considere, por exemplo, que um corretor
de imóveis não analise todos os documentos de um imóvel no momento da
venda. Após o novo proprietário ter tomado posse, aparecem débitos na Receita
Federal que inviabilizam a venda do imóvel e o negócio deve ser desfeito. Se
o corretor agisse com zelo, levantando todas as negativas necessárias antes do
processo de venda, esse fato não teria acontecido. Ou seja, ele violou o dever
de prestar um serviço adequado. Como exemplos de ato ilícito intencional
comum, você pode considerar os ataques e as agressões, porém é necessário
provar a intencionalidade (HUSS, 2010).
Outro aspecto que caracteriza um ato ilícito é a existência de algum dano. O
dano pode ocasionar prejuízo econômico ou não. O prejuízo econômico é tudo
o que a pessoa lesada gastou em função do ato ilícito de outro. Já o prejuízo
não econômico é o sofrimento, a dor física ou emocional ocasionada pelo ato
ilícito. O processo requer indenizações para compensar os danos sofridos.
Segundo Huss (2010), na área civil, a atuação do psicólogo ocorre nos casos
de indenizações e interdições. As indenizações são requeridas sempre que
houver um dano ou o querelante alegar dano psíquico. O dano psíquico é uma
sequela emocional ou psicológica de um fato particular traumatizante. Nesse
sentido, o psicólogo pode ser chamado para realizar uma avaliação psicológica
que identifique a real presença do dano, ou seja, o nexo causal, caso em que deve
verificar o estado psicológico anterior ao ato ilícito, precisando a gravidade do
sofrimento. Ou seja, ele tem de comparar o estado atual com o estado anterior,
identificando se houve prejuízo. A natureza de qualquer intervenção posterior
para aliviar ou diminuir o dano será determinante para que haja indenização
ou alguma compensação pelos prejuízos econômicos ou não.
Indenização
Como as indenizações financeiras são expressivas, o DSM–IV (AMERICAN
PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2002) alerta para as simulações nesse tipo
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Interdição
A interdição se refere à impossibilidade de uma pessoa exercer por si mesma
atos da vida civil. Ela está prevista no Código Civil (BRASIL, 2002) e envolve
casos de debilidade mental ou enfermidade psíquica em que a pessoa não
tem o discernimento imprescindível para a prática dos atos da vida civil. Ao
psicólogo nomeado perito pelo juiz caberá a avaliação que corrobore ou não
a presença da debilidade/enfermidade mental e o seu grau. Para a Justiça, é
necessário que seja esclarecido se a pessoa é portadora de doença mental que
a incapacite de reger a si e aos seus bens. Um processo de interdição inclui
a validade, a nulidade ou a anulabilidade de negócios jurídicos, testamentos
e casamentos. É prejudicada também a contratação de deveres e a aquisição
de direitos, a aptidão para o trabalho e a capacidade de testemunhar, assumir
tutela de incapaz e exercer o poder familiar.
Ainda dentro do direito civil, o psicólogo atua nos contextos ligados ao
direito de família, como você vai ver na próxima seção.
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Outra área de atuação dos psicólogos judiciais no direito de família são os divórcios
destrutivos, que englobam grandes disputas e violências. Nesse tipo de divórcio, a
criança está triangulada numa forma não muito saudável, pois atua como pêndulo
emocional do conflito numa perspectiva muito perversa na sua vinculação com ambos
os pais. A formação dessas triangulações e a dificuldade do casal em dissolvê-las
sustentam anos de brigas em tribunais.
Para aprofundar esse assunto, leia o artigo As competências da Psicologia Jurídica na
avaliação psicossocial de famílias em conflito, disponível no link a seguir.
https://goo.gl/fdzq9k
Direito do trabalho
O direito do trabalho rege as relações entre empregadores e funcionários
e visa a estabelecer uma plataforma de direitos básicos. Nesse cenário, o
psicólogo jurídico pode ser solicitado como perito em processos trabalhistas
para verificar os danos psicológicos causados por um acidente do trabalho,
bem como para avaliar o nexo entre as condições de trabalho e o reflexo na
saúde mental do funcionário. Também pode atuar em casos de afastamento e
aposentadoria por sofrimento psicológico e em casos envolvendo indenizações.
Essas indenizações se diferenciam das indenizações compensatórias do direito
civil, pois visam a repor a perda salarial e as despesas adicionais geradas
pelo dano no trabalho que incapacite parcial ou totalmente para a atividade
laboral. As queixas de danos pessoais sofridas no trabalho são semelhantes
aos danos do direito civil, como o transtorno de estresse pós-traumático, os
danos neuropsicológicos e as dores crônicas. A maioria das empresas hoje
fornece o benefício do seguro, com indenização por acidente do trabalho e por
morte. Porém, os trabalhadores ainda recorrem às leis de indenização devido
a incapacidades adquiridas no decorrer do trabalho que os impossibilitem
de executá-lo. Os cuidados com as simulações ou exageros dos sintomas são
os mesmos em todas as avaliações que envolvam recompensas financeiras
(HUSS, 2010).
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Direito de família
O direito de família faz parte do direito civil, que engloba normas jurídicas
referentes à estrutura, à organização e à proteção da família. Ele trata das
relações familiares, bem como das obrigações e dos direitos resultantes dessas
relações. Assim, o direito regula e estabelece as normas do convívio familiar.
Os artigos 1.511 a 1.783 do Livro IV (Direito da Família) do Código Civil
(BRASIL, 2002) versam sobre casamento, direito de proteção dos filhos,
filiação, adoção, poder familiar, direito patrimonial, regime de comunhão,
entre outros. Você também deve atentar aos artigos 1.784 a 2.046 do Livro V
(Direito das Sucessões) (BRASIL, 2002).
Segundo Lago et al. (2009), a atuação do psicólogo jurídico destaca-se
nas áreas de processos de separação e divórcio, regulamentação de visitas,
disputa de guarda, guarda compartilhada, síndrome de alienação parental,
divórcio destrutivo e violência intrafamiliar. Assim, esse profissional pode
atuar como mediador e/ou com avaliação psicológica por solicitação do juiz,
podendo sugerir encaminhamento para tratamento psicológico ou psiquiátrico
da(s) parte(s).
Na separação e no divórcio, quando há necessidade de atuação de um
psicólogo, é devido à natureza litigiosa. A atuação consiste, então, em uma
participação nos processos em que as partes não conseguiram acordar em
relação às questões de guarda dos filhos, partilha dos bens, estabelecimento
de pensão alimentícia e direito de visitação. O desacordo ocorre em função, na
maioria das vezes, dos conflitos do rompimento do vínculo afetivo-emocional.
Na regulamentação das visitas, mesmo após a decisão judicial, podem surgir
questões de ordem prática ou novos conflitos, e se faz necessário recorrer
novamente ao judiciário. Nesses casos, os psicólogos jurídicos podem ser
chamados a contribuir por meio de avaliações com a família para informar
ao juiz a dinâmica familiar e sugerir medidas conciliatórias. Como mediador,
eles podem trabalhar os conflitos intrapessoais das relações familiares para
chegar a um acordo colaborativo.
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As falsas acusações de abuso sexual podem aparecer nas disputas de guarda de filhos
em função de sentimentos de vingança ou conflitos graves entre os ex-cônjuges.
Sabe-se que a maioria dos abusos sexuais é intrafamiliar, porém quando se trata
de disputa de guarda de filhos é necessário um cuidado e uma investigação mais
apurados, além de um olhar crítico por parte dos psicólogos judiciais que farão a
avaliação psicológica.
Estudos indicam que 95% dos casos de acusação de abuso sexual na disputa de
guarda são falsos. O psicólogo deve explorar e compreender o sistema familiar e a
validade das queixas, devendo possuir conhecimento de três áreas forenses: as práticas
e os procedimentos em disputa de guarda, as técnicas de avaliação de abuso sexual
e a avaliação dos supostos abusadores. Ademais, deve realizar uma investigação com
uma atitude de respeito e de busca de evidências.
Os efeitos sobre a criança envolvida nesse processo podem ser semelhantes aos que
afetam crianças que foram realmente abusadas, levando-as a apresentar patologias
graves na esfera afetiva, psicológica e sexual. Em alguns casos, elas podem também
acreditar que realmente foram abusadas (LAGO; BANDEIRA, 2009).
Como você deve ter notado, os assuntos abordados neste capítulo desdo-
bram-se em muitas reflexões que devem ser levadas adiante pelos psicólogos
que atuam na área judicial do trabalho, criminal e familiar. Esses profissionais
devem buscar uma atuação na área de promoção de saúde mental, auxiliando
as pessoas nas suas realizações pessoais e profissionais, de forma que possam
exercer a sua cidadania com toda a plenitude. Atuar nas políticas públicas para
humanizar os sistemas carcerários e oportunizar tratamentos àqueles que os
necessitam, atuando para além da avaliação psicológica, são ações para as
quais o Conselho Federal de Psicologia e suas entidades de classe buscam
espaço na esfera judicial. Naturalmente, ainda há muito a ser feito e muitas
evoluções no caminho da atuação do psicólogo judicial.
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Leituras recomendadas
BRASIL. Decreto-lei nº. 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Brasília, DF, 1940.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848.htm>.
Acesso em: 05 mar. 2018.
Campos de aplicação da psicologia forense 39
BRASIL. Decreto-lei nº. 3.689, de 3 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Brasília,
DF, 1941. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689.
htm>. Acesso em: 06 mar. 2018.
BRASIL. Lei nº. 4.119, de 27 de agosto de 1962. Dispõe sôbre os cursos de formação em
psicologia e regulamenta a profissão de psicólogo. Brasília, DF, 1962. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/1950-1969/L4119.htm>. Acesso em: 06
mar. 2018.
COSTA, L. F. et al. As competências da psicologia jurídica na avaliação psicossocial
de famílias em conflito. Psicologia e Sociedade, v. 21, n. 2, p. 233-241, 2009. Disponível
em: <http://www.redalyc.org/html/3093/309326666010/ >. Acesso em: 27 mar. 2018.
MEDEIROS, A. C. A.; SILVA, M. C. S. A atuação do psicólogo no sistema prisional: anali-
sando e propondo novas diretrizes. Revista Transgressões, v. 2, n. 1, 2014. Disponível em:
<https://periodicos.ufrn.br/transgressoes/article/view/6658>. Acesso em: 03 mar. 2018.
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.