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Respiração e Consciência
- março 01, 2019

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RESPIRAÇÃO E CONSCIÊNCIA

RECONSIDERANDO A VIABILIDADE DO TRABALHO RESPIRATÓRIO NAS


INTERVENÇÕES PSICOLÓGICAS E ESPIRITUAIS NO DESENVOLVIMENTO
HUMANO

Peter Levine, Ph.D. & Ian Macnaughton, Ph.D.

Tradução: Diana Fontoura

Sumário

Este documento oferece uma estrutura conceitual e diretrizes para a utilização


de técnicas respiratórias como uma ferramenta no desenvolvimento psico-
espiritual. O objetivo é ampliar o campo teórico e prático para terapeutas que
utilizam a observação do corpo e especificamente padrões respiratórios no
transcurso da psicoterapia. Explora-se a relação entre respiração e consciência e
identificam-se dois padrões ou estilos principais de resposta respiratória. O
estudo discute a importância de se observar o padrão respiratório de um
indivíduo, e são fornecidos parâmetros para avaliar tais padrões e dar
seguimento à intervenção. São fornecidas diretrizes para uma intervenção
adequada aos terapeutas que trabalham com ambas as questões de traumas de
choque e de desenvolvimento. Isto inclui quaisquer contra-indicações e cuidados
que possam ser necessários se forem utilizadas intervenções respiratórias com
pacientes que possuam diversas condições médicas, psicológicas e espirituais.

A informação contida neste artigo não deve levar o leitor a assumir que um

terapeuta deva utilizar as técnicas de respiração como abordagem preferencial.


A idéia principal é esboçar alguns dos parâmetros para o terapeuta considerar se
deve trabalhar dessa forma ou não.

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Introdução

Nosso mundo está passando por uma mudança rápida e complexa nas
atividades sociais, econômicas e políticas. Os afazeres dos seres humanos
estão se tornando cada vez mais turbulentos e incertos, e precisamos aprender
novas formas de administrar essa incerteza e nos mantermos em dia com o ritmo
crescente da mudança. Assim sendo, cada um de nós é desafiado a fazer
ajustes apropriados para manter algum grau de estabilidade no mundo.

Alguns teóricos estão alarmados com a aparente falta de habilidade da


sociedade para lidar com a inundação de novas informações, tecnologias, forças
socioeconômicas e questões políticas locais, nacionais e mesmo globais. Uma
vez que a mudança, por si mesma, demanda ajustes, nós devemos corresponder
de formas novas que estejam fora de nossas experiências pessoais e sociais.
Isto requer inovação e flexibilidade e devemos desenvolver a habilidade de
pensar em termos de relacionamentos complexos associados com o processo de
mudança.

Não apenas a mudança é desafiadora em si mesma, como também a taxa de


mudança está aumentando. Em seu livro de 1971, Future Shock, Toffler salienta
o fato de que é absolutamente necessário desenvolver a capacidade
organizacional para tratar com a mudança, se quisermos lidar com sua
aceleração de maneira bem sucedida. De acordo com Toffler, “o choque do
futuro é a desorientação vertiginosa causada pela chegada prematura do futuro
e pode ser a doença mais importante do amanhã”.

O desafio de ser pró-ativo no desenvolvimento de nossa capacidade para lidar


com essas mudanças efetivamente é grande, e muitos especularam sobre nossa
habilidade para tal.

Russell identificou o aumento exponencial na quantidade de informação que


devemos confrontar, e Campbell se pergunta “se iremos, em breve, vaguear por
uma outra fase de escuridão”.

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Como indivíduos, precisamos encontrar novas formas de lidar com este grau de
velocidade da mudança, e desenvolver métodos coletivos para transformar o
desafio que ele apresenta, em oportunidades para melhorar a condição humana
a nível local, nacional e global. O trabalho respiratório é uma resposta importante
ao desafio.

Seção 1: Respiração e Consciência

Por milhares de anos, a atenção na respiração tem sido um foco significativo em


muitas práticas psicológicas e espirituais. Muitos dos sistemas orientais
relacionados ao desenvolvimento humano são, na verdade, psicologias para o
desenvolvimento que iniciam no ponto onde as psicologias ocidentais terminam.
Sistemas orientais e shamânicos utilizam a respiração tanto para o
desenvolvimento psicológico como para o crescimento espiritual e, ao contrário
do sistema ocidental, eles não fazem uma diferenciação entre ambos.

Nas culturas orientais existem duas abordagens principais para se trabalhar com
a respiração. A primeira utiliza a percepção da respiração para desenvolver um
foco de consciência plena, a segunda utiliza a respiração forçada ou
hiperventilação como uma forma de gerar experiências transformadoras, como
na Kundalini ou outras yogas. Nas culturas shamânicas orientais, geralmente
levam-se anos de treinamento, meditação, controle e conscientização sob a
orientação rígida de um professor, shaman, mestre ou guru, para que um
indivíduo esteja apto para utilizar a respiração e a energia do corpo (bio-energia)
para transformação pessoal.

No ocidente, existem várias novas abordagens para se trabalhar com a


respiração. Uma das mais recentes envolve o uso da “alta energia” da
hiperventilação, geralmente descrita como o uso das metodologias orientais
traduzidas para os termos ocidentais. Como exemplos, incluem-se o Trabalho
Respiratório Holotrófico de Grof, alguns tipos de renascimento, e certas versões

ocidentais das práticas shamânicas.

Os autores deste trabalho têm algumas preocupações em relação a este tipo de


“alta energia” da hiperventilação. Tal respiração geralmente é conduzida sem
uma preparação e orientação extensiva, que faz parte das tradições orientais e

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uma preparação e orientação extensiva, que faz parte das tradições orientais e
shamânicas de exploração da consciência. Quando tentamos importar técnicas
orientais para nossa cultura precisamos considerar o contexto dentro do qual
elas foram desenvolvidas, posto que os seres humanos funcionan de forma
consistente com a sociedade e com o contexto. Nosso desafio é desenvolver
técnicas de trabalho respiratório que sejam coerentes com a cultura ocidental.

Tradicionalmente, atividades esportivas formam a base para o modo ocidental de


trabalhar com a respiração e com o corpo. Esse modelo “do gladiador ou
guerreiro” enfatiza os aspectos físicos da respiração – de estar realmente vivo no
corpo. Neste contexto, os ocidentais correm o risco de utilizar a abordagem da
respiração de “alta energia” sem um sentido global da estrutura subjacente a
este conceito. No ocidente, a utilização de métodos respiratórios culturalmente
adequados para o desenvolvimento psico-espiritual está em evolução. Nós
acreditamos ser importante ir além de considerá-la como uma técnica, e

argumentamos em favor de uma abordagem conservadora na utilização da


respiração para a transformação da consciência.

Para decidir que abordagens são adequadas, os terapeutas precisam entender o


processo de transformação pessoal e reconhecer em que momento acontecem
mudanças significativas de percepção. É importante que eles reconheçam os
efeitos das diversas abordagens dos trabalhos respiratórios, como a
hiperventilação, em nosso funcionamento como organismos, se influenciam
devido ao fato de estar dentro de um contexto cultural específico ou pelo fato de
possuir uma psicofisiologia específica.

As origens da psicologia ocidental são relativamente recentes quando


comparadas aos diversos sistemas em uso mundialmente, que explicam,
controlam e afetam a condição humana. O primeiro psicólogo ocidental a
considerar a respiração e seus efeitos na consciência foi Freud. Já em idade
avançada, ele desenvolveu uma consciência rudimentar das mudanças

respiratórias no sistema nervoso, e das mudanças vegetativas (autônomas)


vivenciadas por seus pacientes durante o que ele acreditava ser regressões de
nascimento.

Foi Wilhelm Reich, um aluno de Freud, quem se tornou o principal pesquisador

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Foi Wilhelm Reich, um aluno de Freud, quem se tornou o principal pesquisador
no campo da respiração. Reich utilizou padrões respiratórios mais ativos e
provocação muscular para dissolver o que ele denominava de couraça de
caráter. Sua teoria era que a neurose da pessoa é interligada com uma
tendência a criar armaduras, como uma defesa contra sentir a plenitude de
um Self mais saudável. Essa armadura toma diversas formas, conforme o
distúrbio específico do paciente. Qualquer que fosse a forma, ela sempre tem a
função de interromper a sensação da pulsação, um vigor central que ele
denominou “força vital”.

Jung também trabalhou com a respiração, utilizando-a como uma ferramenta


para o relaxamento e a liberação da imaginação ativa. Alguns analistas
Jungianos utilizam um processo de consciência respiratória, soltando a
respiração muito sutil e lentamente, permitindo imagens, pensamentos,
sensações e experiências inconscientes emergirem.

Nós acreditamos ser importante utilizar a sabedoria de ambas as visões, oriental


e ocidental, do desenvolvimento humano. O mundo ocidental contribuiu bastante
para a compreensão da função da neurofisiologia no funcionamento dos
indivíduos. Nós reconhecemos que, para um organismo existir e sobreviver, ele
necessita de um sistema nervoso regulador com duas qualidades principais: uma
estabilidade básica e uma capacidade de flexibilidade, mudança e adaptação.

A estabilidade e a flexibilidade devem existir em um equilíbrio dinâmico. Ao


oscilar dentro de um limite estreito o suficiente para manter a homeostase, elas
criam um estado constante que nos dá a consistência de sermos capazes de
funcionar como seres humanos. Cada aumento no nível de auto-regulação no
funcionamento gera um novo estado estável, e este novo padrão de estabilidade
provê o alicerce para o nível seguinte de flexibilidade, e assim por diante.

Originalmente, Reich considerava a terapia como um processo para reduzir ou


quebrar a armadura. Nós precisamos repensar o que isso realmente significa,

uma vez que a redução ou dissolução da armadura de um indivíduo pode


desorganizar todo o seu sistema de adaptação e de como ele lida com a vida.
Quando nós, como terapeutas, intervimos na remoção de algumas dessas
armaduras de defesa, torna-se essencial encontrar outros

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recursos mais funcionais para o indivíduo. Isto o capacita a manter a estabilidade
que ele necessita para se manter funcional no mundo.

Quando Reich originalmente desenvolveu esse processo de


desencouraçamento, na Alemanha da 2º pré-Guerra Mundial, as pessoas tinham
mais defesas do que têm hoje – um ponto importante no desenvolvimento atual
de teoria e prática. Agora, nosso propósito deveria ser criar mais funcionalidade
e organização, e utilizar essa perspectiva ao considerar qualquer novo tipo de
intervenção no funcionamento psicofisiológico de uma pessoa, de forma que
esses recursos possam ser acessados integralmente a longo prazo.

Por exemplo, podemos olhar o que acontece quando energia transformadora é


aplicada ao organismo humano. Quando ela é introduzida prudentemente, o
organismo ou sistema é capaz de reorganizar-se num nível maior de estabilidade
e aumentar seu potencial para uma flexibilidade futura. No entanto, se a energia
for introduzida em grandes quantidades, sobrecarregando o sistema acima de
sua habilidade de manter seus limites de contenção, o sistema sucumbe numa
desorganização caótica.

Hoje, extremos comportamentais coexistem em muitas pessoas, elas podem


apresentar uma rigidez excessiva e uma tendência simultânea a serem
desfocadas ou dispersas em suas energias. Uma pessoa que utilize métodos
intensos de respiração de alta energia para ampliar a consciência, pode agir sob
a ilusão de estar se tornando mais espiritualizada e evoluída, quando na verdade
está se tornando, fundamentalmente, mais dissociada. Ela pode adotar a
hiperventilação e experimentar algum tipo de alívio, ou pode criar uma
dissociação adicional. Como regra geral, quando um sistema se move
demasiado para fora do seu equilíbrio, ele continuará gerando uma

desestabilização adicional, sem perceber. É por isto que acompanhar o


“processo” de uma pessoa repetitivamente irá, geralmente, reforçar o padrão
mal-adaptativo.

No entanto, intervenções graduais podem permitir que o organismo mantenha a

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No entanto, intervenções graduais podem permitir que o organismo mantenha a
integridade, maximize o processo de reorganização funcional e desenvolva o
potencial para maior flexibilidade – contanto que esta flexibilidade esteja contida
por um sistema estável e aumente gradativamente. O processo de utilizar
pequenas intervenções, avaliando o impacto e reavaliando o que fazer em
seguida, é um processo que denominamos titulação.

Através da evolução, os organismos desenvolveram maneiras de lidar com as


tentativas de mudar o status quo, e quaisquer tentativas de alterar estas
capacidades de enfrentar as situações têm que mover-se lentamente. A
sabedoria natural da neurofisiologia, e a maneira como ela conseguiu lidar com
as tentativas de mudar sua orientação no mundo, deve ser respeitada: Nós não
podemos mudar, da noite para o dia, aquilo que evoluiu através de milhões de
anos. Se fosse possível efetuar mudanças significativas rápida e facilmente, nós
não seríamos flexíveis, mas instáveis!

A introdução repentina de quantidades consideráveis de energia, conforme


acontece durante intensa hiperventilação e catarse, pode desestabilizar a
organização do “Self” de uma pessoa. Se uma pessoa foi excessivamente
estável, poderá sentir-se bem ao experimentar se soltar. Isto pode fazê-la sentir-
se como, “Uau, estou do outro lado, estou livre, estou flutuando com o cosmos”.
No entanto, com esta sensação de flutuação pode vir uma desorganização
do Self, de forma que a pessoa não consegue refazer o seu caminho com
passos pequenos; ela precisa forçar a respiração completamente, ou não forçá-
la em hipótese alguma. É bem parecido com a ingestão de drogas como o LSD.
A droga desestabiliza a química fisiológica e isto desestabiliza o funcionamento
do Self. Ninguém pode dizer exatamente qual é o efeito.

O LSD pode ser útil em certas circunstâncias, e pode abrir as portas da


percepção, mas também inicia um processo potencialmente desorganizado. Na
maioria dos casos, as pessoas não sabem como usar a experiência para realizar
mudanças úteis, e isso pode levar a resultados muito disfuncionais.

Trabalhar com a respiração também pode abrir uma percepção para outras
realidades, e para outras dimensões de consciência. Nesta forma de intervenção
terapêutica, a arte está em saber integrar essas experiências na totalidade da
personalidade, e fazer isso de forma que seja saudável para o desenvolvimento

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personalidade, e fazer isso de forma que seja saudável para o desenvolvimento
e para a psicofisiologia da pessoa. Se o trabalho respiratório for utilizado sem
uma integração adequada, ele simplesmente recriará o mesmo antigo caminho
disfuncion com o qual a pessoa estava originalmente lutando. Isso não abordará
o processo criativo de desintegração e reorganização, nem introduzirá nova
informação ou padrões estabilizadores paralelos para apoiar o senso de
integração e totalidade da pessoa.

A experiência necessita ser integrada adequadamente, num processo repetitivo,


crescente e auto-organizador. Isto é o que conduz todos os nossos processos de
desenvolvimento e espirituais. Isto pode ser visto na experiência de uma criança.
A cada estágio de desenvolvimento a criança adquire novas habilidades e então
passa para um novo estágio, tal como o ‘terríveis dois anos’, e a ordem se
desintegra. No entanto, cada estresse emocional ou mental é seguido por uma
nova síntese significativa.

Uma criança não pode ser transformada em um adolescente através da ingestão


de um medicamento; o medicamento simplesmente geraria um distúrbio em sua
realidade. Ela não teria a experiência de vida para conter adequadamente à
energia das gônadas de um adolescente, e ficaria seriamente desorientada. Isto
é o que acontece quando se utilizam medicamentos e métodos de respiração
intensa para criar experiências intensas. A pessoa necessita de informação,
preparação, experiência, bem como ir passando através das fases de
desenvolvimento, antes que estas experiências possam ser integradas como um
deslocamento que faz parte do desenvolvimento em direção à realização de seu
potencial completo.

Alguns indivíduos podem se fixar em torno de “novos caminhos”, como o uso da


respiração intensa, de forma que possam continuar a ter experiências intensas.
Quando isto acontece, indica uma adição ao processo. Certo tipo de experiência
pode precisar ser gerada várias vezes para que seja resolvida sem que a pessoa
se sinta incompleta ou tenha uma sensação de perda. As pessoas que têm a

tendência a se tornarem fixadas (adictas) a certo tipo de experiência, podem não


ser capazes de se ajustar de maneira bem sucedida à intensidade da
intervenção utilizada e os mecanismos saudáveis de defesa podem entrar em
colapso, reduzindo assim, sua capacidade de atuar. Isto pode resultar em
ansiedade específica ou generalizada, somatização, doença, psicose ou

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ansiedade específica ou generalizada, somatização, doença, psicose ou
depressão.

Algumas das novas psicologias, inclusive aquelas que utilizam os métodos de


hiperventilação, focaram na catarse, no tema expressivo ‘deixe sair’, e há muita
preocupação em relação a esta técnica. Em 1990, Gendlin demonstrou sua
preocupação em relação aos perigos do trabalho catártico e analisou as teorias
de Janoff, contrastando-as com as de Levine e Grove.

Seção 2: Respiração, Ansiedade e Consciência

Aqui examinaremos a relação entre respiração, ansiedade e consciência. Iremos


nos referir aos dois padrões respiratórios diferentes e seus efeitos na
consciência.

Padrões respiratórios
Existem dois padrões respiratórios básicos que pode ser útil compreender no
contexto da psicoterapia: hiperventilação e hipoventilação. Estes padrões são
duas polaridades em um continuum de padrões respiratórios que vão desde a
respiração ofegante até uma respiração muito superficial, limitada.

O uso do termo hiperventilação pode levar a conclusões errôneas. A maioria das


pessoas denominadas hiperventiladoras são, na verdade, hipoventiladoras que
apresentam episódios periódicos de hiperventilação relativa. Os verdadeiros
hiperventiladores são agressivos, indivíduos do tipo A, que desenvolvem uma
vitalidade, uma energia, através do bombeamento de sua respiração. Essas
pessoas normalmente são vistas malhando nas academias e elas progridem
numa carga e excitação constantes em suas vidas. Elas precisam ser
sensibilizadas para sua capacidade de pulsação interior e se desvencilhar dos
ritmos que as pressionam e apertam, os quais elas utilizam para desenvolver e
perpetuar seu padrão de energia do tipo A.

Em contraposição, os tipos hipo/hiperventiladores, se retraem ao experimentar a


carga ou onda de energia. Em seu modo predominante de hipoventilação, o
padrão respiratório débil acumula dióxido de carbono no sangue. Isto leva à
alteração na acidez do sangue e a um metabolismo incompleto que resulta num
aumento sérico láctico (serum lactate), irritando as funções reguladoras centrais

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aumento sérico láctico (serum lactate), irritando as funções reguladoras centrais
do cérebro no hipotálamo e tronco cerebral, contribuindo para os vários
problemas digestivos, alérgicos, imunológicos e gerais de baixa energia que
frequentemente os afetam.

A hipoventilação repetida predispõe o indivíduo a um desequilíbrio metabólico.


Isto desencadeia mecanismos compensatórios que envolvem os sistemas
secretores dos rins e pulmões numa tentativa de restabelecer a homeostase. É
estimulado um aumento respiratório nos pulmões, o que reduz a acidez do
sangue e aumenta a alcalinidade. Infelizmente, esta mudança abrupta no pH,
associada com uma ativação simpática dos receptores nos músculos
intercostais, produz uma sobrecarga de excitação que leva a uma respiração
forçada adicional, o que por sua vez produz ansiedade e ainda mais carga,
assim criando um ciclo vicioso crescente; em outras palavras, um ataque de
pânico.

Olhando sob uma outra perspectiva, o que está realmente acontecendo é que a
respiração forçada gera um padrão de carga que mobiliza a ansiedade, de forma
que uma ansiedade crônica de baixo grau se torna aguda. Quando a
hiperventilação é levada a extremos, ela remove o controle do córtex e permite
que os efeitos ansiosos venham a inundar o sistema, levando a pessoa através
do estado ansioso. No entanto, a pessoa retorna à hipoventilação e a ansiedade
cresce novamente. Tipicamente, isto resulta em uma alternância entre os
estados de hipoventilação (ansioso) e hiperventilação (dissociado).

As pessoas que fizeram muito trabalho respiratório intenso irão, às vezes, criar
este padrão. Elas hipoventilam por um período de tempo, quase sem respirar, e
então trocam para a hiperventilação. Assim, o sistema não está regulando a si
mesmo e não está estável. Em lugar disso, os dois modos estão separados –
divididos entre si e desconectados. A respiração se torna disfuncional e
descoordenada do funcionamento geral do organismo.

Desta forma, é absolutamente essencial, ajudar os indivíduos hipo /


hiperventiladores a conter e regular seu mecanismo de carga, e guiá-los para a
normalização dos ritmos biológicos. Isto os ajudará a desenvolver uma
estabilidade mais flexível e adaptiva.
Apesar de ser verdade que técnicas que encorajam uma hiperventilação

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Apesar de ser verdade que técnicas que encorajam uma hiperventilação
descontrolada podem, em último caso, levar a pessoa à libertação do pânico,
este tipo de alternância

eventualmente propicia a uma ampliação ainda maior do padrão. É como colocar


o termostato da casa para ligar a calefação a 50°F e desligar novamente a
100°F. Apesar de a temperatura média ambiente ser 75°F, os moradores da casa
irão primeiramente sentir frio e depois quase sufocarão. Obviamente, é muito
mais desejável ter um termostato que ligue aos 73°F e desligue a 77ºF.

Quando as técnicas de hiperventilação são utilizadas repetidamente, a pessoa é


encorajada a dissociar os padrões de hipo e hiperventilação ainda mais, ao invés
de restabelecer o equilíbrio respiratório. Isto afasta a pessoa de um repertório
dinâmico de experiência, e ela pode perder o senso do self central, essencial. A
experiência não é mais contínua e coerente, mas passa a expressar-se em
termos desses extremos.

Asim, a experiência interna da pessoa é orientada em torno da ansiedade ou


inundação, da contenção e não respirar, ou respiração forçada e inundação. Este
fenômeno pode ocorrer na abordagem da Terapia Primal, onde a orientação no
sentido de ter um sentimento, geralmente um sentimento de regressão, se torna
um objetivo, um caminho que, se acredita, levará ao sentido real de si mesmo.

Se este caminho de gerar experiências intensas se tornar parte da forma de vida


da pessoa, ela poderá acabar sem senso de auto-regulação, levando a um
senso de self diminuído. Nós acreditamos que o self essencial evolui a partir de
um senso de regulação interna, e desta forma, aprender como regular o self é
fundamental no pleno desenvolvimento do potencial humano de uma pessoa.
Insto inclui prestar atenção às mudanças nos padrões reguladores e então
utilizar intervenções adequadas.

Quando nos tornamos conscientes da amplitude das sensações e sentimentos

que fluem sutilmente, os quais compõem o processo geral de auto-regulação,


orientação, resposta, abordagem e retirada, sabemos que estamos vivos,
conectados, e humanos. Todas estas respostas orientadoras se tornam partes da
auto-regulação, da homeostase, conforme a pessoa começa a experimentar sua
respiração automaticamente.

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respiração automaticamente.

Na prática pode ser útil gerar uma respiração suave à moderada de forma a
acessar diversos estados de afeto e consciência. Por exemplo, ao trabalhar com
a raiva de um paciente, um terapeuta pode fazer com que ele empurre a mão do
terapeuta com firmeza e expire enquanto empurra. Isto descarrega a energia
associada com a raiva. Contudo, o terapeuta não encoraja ou permite que o
paciente dramatize a raiva que ele sente. Desta forma, o terapeuta ajuda a
conter a expressão de sua experiência emocional.

Seção 3: Intenção na Utilização das Técnicas Respiratórias

Como mencionado anteriormente, a oposição saudável da estabilidade não é a


instabilidade; preferivelmente, a flexibilidade é o complemento da estabilidade.

Estabilidade e flexibilidade: dinâmica do sistema


Ao utilizar intervenções respiratórias, o terapeuta necessita desenvolver uma
maneira de avaliar os sistemas e parâmetros do paciente para poder projetar
uma intervenção que gere tendências adaptivas ótimas. Isto cria várias
perguntas: Quais são as tendências adaptivas de uma pessoa? Quais são as
tendências mal-adaptivas? Como podem elas ser avaliadas? Por onde se
começa uma intervenção? O terapeuta necessita desenvolver uma abordagem
equilibrada, baseada nas intervenções adequadas para cada paciente
individualmente.

Avaliação adequada
Como mencionado acima, o hipoventilador é caracterizado por um padrão de
evitar a carga. O paciente tem uma ansiedade subjacente da qual ele geralmente
não tem consciência, mas que, ainda assim, o guia inconscientemente. O
hipoventilador é levado a evitar excitação, tem uma tendência a minimizar o

contato intenso e apresenta comportamentos de evitação. Além disso, é provável


que tenha questões de desenvolvimento não resolvidas, questões de família-de-
origem e outros problemas relacionados com sua estrutura de caráter específica
(conforme explicado no texto previamente).

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Uma pessoa com uma estrutura de caráter principalmente mental tenderá a ser
um hipoventilador, enquanto uma pessoa com uma estrutura de caráter mais
emocional, tenderá a alternar entre a hiper e a hipoventilação. A pessoa mais
mental pode estar perdida em um mundo de sonhos, com uma orientação para a
vida mais filosófica ou espiritual, conectada através de uma causa voltada para
tal orientação. Por outro lado, um tipo emocional pode utilizar a hiperventilação
para gerar experiências espirituais transcendentes de maneira emocional. Isto,
contudo, reforça sua incapacidade de estar no mundo e controlar as emoções.

Na psicoterapia corporal, às vezes acredita-se que o corpo tem sua própria


sabedoria natural e que esta sabedoria guiará a pessoa à totalidade. Como a
maioria das afirmações generalizadas, esta teoria pode levar-nos para longe de
nosso objetivo. Por exemplo, a premissa de que, encorajar um paciente a
hiperventilar e entrar numa catarse irá, naturalmente, levá-lo a um estado de
bem estar, certamente não é verdadeira.

Estratégias com diferentes estilos de respiração

Intervenção para o hiperventilador: Ao trabalhar com um hiperventilador


energético e expressivo, o terapeuta pode levar o paciente a aumentar
levemente sua respiração e elevar o nível de ativação. Isto estimulará o sistema
nervoso simpático a tornar-se dominante, levando a uma descarga
parassimpática e uma resposta de alívio. Desta forma, o paciente vivenciará a
experiência de um ciclo de carga e descarga e se familiarizará com a sutileza de
sua própria experiência interna. O terapeuta deverá encorajar o paciente a
desenvolver um interesse pela experiência interna e uma orientação mais interna
(contrastando com a explosão emocional). Através deste tipo de experiência, o
terapeuta está ensinando ao paciente que aumentos graduais podem levar a
experiências positivas.

Faz-se necessário ajudar o paciente a seguir lentamente, pois ele quer forçar,
deseja maior carga, intensidade, e experiência, e também será necessário ajuda-
lo a ultrapassar os bloqueios para alcançar um o alargamento e aprofundamento
no seu desenvolvimento pessoal. Por si próprio o paciente geralmente tentará
utilizar a respiração para satisfazer o padrão ao qual é adicto. A tarefa do

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utilizar a respiração para satisfazer o padrão ao qual é adicto. A tarefa do
terapeuta é encorajar o prazer de uma experiência mais sutil. Um importante
objetivo da terapia é substituir a tendência de gerar mais intensidade por um
senso de facilitar o aumento e o domínio da carga, levando a uma liberação mais
suave. O terapeuta pode discutir com o paciente sobre a percepção das
mudanças incluindo perguntas do tipo: “O que está acontecendo agora?; Como é
estar assim?; De que forma isso é diferente?; O que você quer a partir deste
lugar?; O que você sente nesta área?; Quais são as imagens a partir de seu
corpo?; Quais são as sensações que você está experimentando?; De que forma
elas são diferentes das anteriores?”

Intervenção para o hipoventilador: Quando o padrão respiratório de um


paciente está mais próximo da hipoventilação, o objetivo é titular a experiência
gradativamente, apenas o

suficiente para estimular suavemente a respiração, levando a uma ativação


mínima. Isto tenderá a normalizar o padrão respiratório e auxiliará o paciente a
desenvolver sua própria capacidade de conter mais carga sem fragmentação,
levando a uma maior vitalidade central sem ansiedade.

O objetivo aqui é deslocar a homeostase numa direção que possa acolher mais
vida. O paciente tenderá a dissociar conforme for se aproximando de qualquer
coisa semelhante a uma resposta de hiperventilação.

O terapeuta precisa ajudar o paciente a permanecer presente com a excitação


que está sendo aumentada gradualmente. Conforme a respiração do paciente
começa a alcançar um padrão de maior normalidade ele, de fato, começará a
associar. A princípio, isto pode não ser confortável e ele pode precisar de
encorajamento adicional para tolerar a experiência. Ele pode se deslocar para
uma leve dissociação e o terapeuta precisará direcioná-lo de volta para o que
está sendo associado.

O processo de trazer o paciente de volta para a consciência num nível de


associação mais alto, estimulando suavemente e então re-associando quando o
paciente dissocia ligeiramente, é a abordagem recomendada quando se trabalha
com este padrão. A idéia é utilizar técnicas respiratórias para ajudá-lo alcançar o
ponto onde ele pode associar sem passar para a dissociação. Se ele dissocia

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ponto onde ele pode associar sem passar para a dissociação. Se ele dissocia
durante o processo, o terapeuta precisa identificar o fato e garantir que a
dissociação seja mínima e trazer o cliente de volta através da re-associação.

Na psicoterapia corporal, é importante trabalhar com a consciência do corpo e


com uma consciência muscular. Por exemplo, o terapeuta pode dar apoio
fisicamente na coluna na região lombar e perguntar. “Como você sente este
apoio na coluna?” ou “Como este apoio afeta sua respiração?”. Este tipo de
intervenção pode induzir a uma maior consciência corporal, e lembremos que até
que o paciente tenha consciência das sensações musculares e tenha
incorporado sua própria experiência, ele não conseguirá modificar padrões
antigos. Esta abordagem requer muita educação e informação para que o
paciente possa entender o benefício pessoal do trabalho.

Seção 4: Desenvolvendo uma Experiência Espiritual

Quando falamos de uma experiência espiritual, talvez seja mais correto pensar
sobre as nossas áreas não desenvolvidas. A extensão dessas áreas irá então,
levar ao desdobramento de dimensões espirituais. É importante ter uma visão
desta experiência como um desenvolvimento e não apenas como uma prática
psicológica ou espiritual. É um processo evolutivo no desenvolvimento humano.

Nós acreditamos que a função do terapeuta é encorajar o paciente a viver de


maneira mais confortável dentro de si mesmo, e apóia-lo a superar o vício de
alcançar experiências transcendentes e espirituais. Para fazer isso, precisamos
ajudá-lo a desenvolver a riqueza diária da experiência interna. Uma vez que esta
riqueza seja descoberta e incorporada como parte de sua experiência contínua,
sua vida espiritual será naturalmente gerada a partir da riqueza da experiência
interna, e não será um objetivo em si mesmo. Precisamos promover a noção de
que somos seres biológicos, presos na carne e no espírito anímico da carne; que
nós somos uma parte do cosmos e de toda a existência.

A abordagem para a experiência espiritual será diferente para o hipo e


hiperventilador. Este último irá querer forçar e tenderá a se focar ou se viciar em
qualquer abordagem que possa

gerar a experiência transcendental. Por outro lado, o hipoventilador entrará na

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gerar a experiência transcendental. Por outro lado, o hipoventilador entrará na
experiência espiritual como algo dissociado da vida diária. A tarefa do terapeuta
é levar ambos os tipos de volta para o desenvolvimento diário. Então, ao invés
de acostumar-se com a espiritualidade fora de si, a pessoa aprenderá a
entregar-se aos seus próprios fluxos vegetativos e encontrará a natureza de sua
realidade dentro de seu auténtico self instintivo.

Seção 5: Uma Explicação da Estrutura do Caráter e Modelo “Bodynamic”

Em todo este trabalho são utilizados os termos Estrutura de Caráter e Modelo


“Bodynâmico”. A seção seguinte tem o objetivo de prover definições e estruturas
para esclarecer esses termos para os leitores que não estão acostumados a
eles.

Estrutura de caráter
Embora o material sobre estrutura de caráter citado a seguir tenha sido
desenvolvido originalmente por Reich, ele é extraído do modelo Bioenergético de
Lowen.

O caráter é definido como um padrão de comportamento fixo, o modo


característico que um indivíduo tem de lidar com seu esforço por obter prazer. É
estruturado no corpo na forma de tensões musculares crônicas geralmente
inconscientes, que bloqueiam ou limitam os impulsos para se dirigir ao mundo e
alcança-lo. O caráter também é uma atitude psíquica, reforçada por um sistema
de negações, racionalizações e projeções, e atrelada a um ideal de ego que
afirma seu valor. A identidade funcional do caráter psíquico com a estrutura
corporal ou postura muscular é a chave para a compreensão da personalidade,
uma vez que nos capacita a perceber o caráter a partir do corpo, a explicar uma
atitude corporal pelas suas representações psíquicas e vive-versa.

Na bioenergética, as diferentes estruturas de caráter são classificadas em 5 tipos


básicos. Cada tipo tem um padrão de defesa próprio em ambos os níveis,

psicológico e muscular, que o distingue dos outros tipos. É importante notar que
esta é uma classificação de atitudes defensivas e não de pessoas. Reconhece-
se que nenhum indivíduo apresenta um tipo único, puro, e que todas as pessoas
em nossa cultura, combinam alguns ou todos esses padrões defensivos em sua
personalidade. A personalidade de um indivíduo, diferentemente de sua estrutura

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personalidade. A personalidade de um indivíduo, diferentemente de sua estrutura
de caráter, é determinada por sua vitalidade; isto é, pela força de seus impulsos
e pelas defesas levantadas para controlar esses impulsos.

Não existem dois indivíduos semelhantes, nem em sua vitalidade inerente nem
nos padrões de defesa originados nas experiências de vida. No entanto, faz-se
necessário classificar em tipos para que haja compreensão bem como clareza na
comunicação. Os cinco tipos são
denominados esquizóide, oral, psicopata, masoquista, e rígido. Estes termos são
utilizados por serem definições de transtornos de personalidade conhecidas e
aceitas na profissão psiquiátrica. Nossa classificação não transgride criterios
estabelecidos.

Estrutura de caráter esquizóide: O termo esquizóide descreve uma pessoa


cujo senso de si mesma é diminuído, cujo ego é fraco e cujo contato com o corpo
e seus sentimentos é grandemente reduzido.

Estrutura de caráter oral: Dizemos que uma personalidade é oral quando ela
contém muitos traços típicos da infância, do período oral da vida. Esses traços
são fraquezas no aspecto da independência, uma tendência a amparar-se em
outros, uma agressividade diminuída e o sentimento interior de necessitar ser
cuidado, apoiado e protegido.

Estrutura de caráter psicopata: A essência da atitude psicopata é a negação


do sentimento. Todos aqueles que possuem este caráter, apresentam um grande
investimento de energia na propria imagem. O outro aspecto dessa
personalidade é a propensão ao poder, e a necessidade de dominar e controlar.

Estrutura de caráter masoquista: O indivíduo masoquista é aquele que sofre e


se lamenta ou reclama, mas se mantém submisso. A submissão é a tendência

dominante do masoquista. Se o caráter masoquista demonstra uma atitude


submissa em seu comportamento externo, ele é exatamente o oposto
interiormente. Num nível emocional mais profundo, ele tem sentimentos fortes de
despeito, negativismo, hostilidade e superioridade.

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Estrutura de caráter rígida: O conceito de rigidez deriva da tendência desses
indivíduos em se manterem rijos, tensos – orgulhosos. Desta forma, a cabeça é
mantida bem para cima e a coluna reta. Estas particularidades poderiam ser
consideradas positivas se não fosse pelo fato de que o orgulho é defensivo, e a
rigidez inflexível. O caráter rígido tem medo de se entregar, se render,
associando isso à submissão e colapso. A rigidez torna-se uma defesa contra a
tendência masoquista subjacente.

A estrutura de caráter define a maneira com que o indivíduo lida com sua
necessidade de amar, sua busca por intimidade e proximidade, e seu esforço
para obter prazer. Vistas por este ângulo, as diferentes estruturas de caráter
formam um espectro ou hierarquia, na qual num extremo está à
posição esquizóide, que suprime da intimidade e proximidade por serem muito
ameaçadoras, e no outro extremo está a saúde emocional, onde não há
contenção do impulso de buscar abertamente a proximidade e o contato. Os
diversos tipos de caráter se encaixam nesse espectro ou hierarquia conforme o
nível em que permitem a intimidade e o contato.

Modelo Bodynamic
Fundado por Lisbeth Marcher, a teoria Bodynamic é o resultado do trabalho de
um grupo de terapeutas Dinamarqueses que juntos estudaram, trabalharam e
desenvolveram por mais de 15 anos. A teoria combina a experiência de muitas
pessoas que trabalharam com um sistema poderoso, descobrindo e expandindo
seus limites continuamente. As distintas personalidades envolvidas nesse projeto
estão refletidas nos muitos aspectos da teoria. Um dos aspectos, a Psicologia de
Desenvolvimento Somático, realiza sua potência através da integração de novas
pesquisas no desenvolvimento psicomotor de crianças com sistemas de
psicoterapia profunda. Esta abordagem de desenvolvimento permite a ativação
direta de habilidades motoras não desenvolvidas (corpo) e recursos psicológicos
(mente).

Marcher tinha consciência da idéia Reichiana de que, se as crianças forem


frustradas em uma atividade, elas podem tencionar seus músculos para deter
essa atividade. Ela entendeu que quando a frustração de uma atividade de
desenvolvimento é precoce ou severa, a criança pode se tornar resignada e a
musculatura correspondente será flácida, (hipotônica). Se a resposta do

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musculatura correspondente será flácida, (hipotônica). Se a resposta do
ambiente for adequada, os músculos terão um tônus neutro e a criança tenderá a
ter uma resposta saudável às situações futuras. Considerando que cada fase de
desenvolvimento compreende um conjunto específico de tarefas psicomotoras
de desenvolvimento, e que todas essas tarefas possuem músculos associados a
elas, podem ocorrer três resultados globais para cada fase:
1) resignado (frustração precoce), 2) retido ou rígido (frustração tardia), e
3) saudável (resposta adequada).

Vejamos quais são as sete fases de desenvolvimento, listadas em ordem


crescente e pela questão estrutural com que nelas se
lida: existência, necessidade, autonomia, vontade,

amor/sexualidade, opinião, e solidariedade/desempenho. Cada uma será


entendida em termos de um posicionamento precoce, um posicionamento tardio,
e um posicionamento saudável. Tomando a fase da vontade (2 a 4 anos de
idade) como exemplo, o posicionamento precoce é caracterizado pelo auto-
sacrifício, o posicionamento tardio é caracterizado pelo julgamento, e o
posicionamento saudável, pela assertividade. Ver as dificuldades dos pacientes
nesses termos ajuda o terapeuta exprimir as intervenções apropriadamente. Um
esquema das sete fases é apresentado no Apêndice “A” com um resumo das
diferentes fases - precoce, tardia e saudável – com os estágios, bem como uma
correlação aproximada ao modelo Bioenergético de Lowen.

Ao possuir essa informação específica, o terapeuta tem como definir com


precisão as áreas não desenvolvidas que correspondem a uma questão em
particular. A possibidade de trabalhar diretamente com a resignação somática
transforma a natureza da psicoterapia. Ao invés de focar na resistência,
compreensão ou libertação emocional, os pacientes aprendem a sentir seus
corpos de uma forma que os ajuda a despertar esses recursos não
desenvolvidos, os quais foram deixados de lado ou nunca foram aprendidos. A
conquista desses novos recursos, que são exatamente aqueles necessários

(mas ausentes) facilita grandemente a resolução do trauma do desenvolvimento.


Ao mesmo tempo capacita o paciente a novas ações em sua vida diária,
inclusive ao desenvolvimento de recursos para recolocar-se dentro de sua
famílias-de-origem e seu contexto social.

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Um dos aspectos marcantes da abordagem do modelo Bodynamic é o mapa
corporal, uma ferramenta diagnóstica desenvolvida empiricamente. O mapa
corporal é um mapeamendo codificado com cores da elasticidade (hipo, hiper ou
neutro) de mais de duzentos músculos. Os terapeutas do modelo Bodynamic são
treinados para fazer esse mapa para cada paciente. O teste é feito manualmente
e apresenta um índice de repetição de mais de 90%. Com o mapa, pode-se ler a
história do desenvolvimento do caráter do paciente. Pode-se, literalmente, ver
quais estágios são caracterizados pelo trauma de desenvolvimento. Os
resultados do teste podem ser analisados funcionalmente, nos termos dos
recursos e habilidades do paciente em áreas como vínculação, grounding, foco,
limites, etc. Traumas de choque e de nascimento também podem ser lidos
diretamente a partir do mapa.

A abordagem do desenvolvimento somático também pode levar a novos e


interessantes caminhos para se trabalhar com uma ampla gama de questões,
inclusive família-de-origem, limites somáticos, choque (tais como abuso físico e
sexual), questões relacionadas às experiências uterinas e de nascimento , e o
uso de terapias somáticas com crianças.

Com essa informação introdutória sobre Estrutura de Caráter e Bodynamic em


mente, podemos agora atentar para as aplicações práticas do trabalho
respiratório. A estratégia para trabalhar com um paciente em particular depende
não apenas de sua composição psicológica mas também de sua estrutura de
caráter atual. Por exemplo, um hiperventilador poderia ser uma pessoa com uma
significativa estrutura de vontade, que se manteve firme suportando situações de
vida difíceis, ou poderia ser uma estrutura de desenvolvimento tardio, tal como
as estruturas de opinião rígida ou de solidariedade/desempenho.

Haverá estratégias ligeiramente diferentes para cada uma dessas estruturas


relacionadas, mas elas têm atributos em comum. Se um paciente com estrutura
de vontade está tendo dificuldade em passar por uma carga, ele pode ficar com

medo da ocorrência de uma explosão e ficar preso enquanto estiver tentando


passar da carga para a descarga. Por outro lado, um paciente com
estrutura rígida tentará forçar sem sucesso, fracassando na conquista do
relaxamento. Ambos pacientes terão uma dificuldade similar conforme ficarem
presos na carga sem conseguir passar por ela.

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presos na carga sem conseguir passar por ela.

Ao trabalhar com esses pacientes, especialmente com a contida estrutura


de vontade, o terapeuta necessita ser tanto firme quanto gentil. Talvez seja
necessário que ele auxilie o paciente conforme ele respira, e libere a respiração
através da utilização de massagem ou apoiando a coluna. A respiração pode ser
utilizada como um complemento para a massagem, assim que o paciente estiver
se preparando para se soltar. Isto diminuirá a atividade mental da pessoa,
promovendo uma sensação de alívio e tranqüilidade, e permitirá que ela se
entregue.

Todas as estruturas de caráter tardias têm algumas questões envolvendo a


entrega. Quando ocorre a entrega e o paciente está respondendo através do
sistema parasimpático, ele está muito mais atento às sutilezas das sensações. A
comparação do estado simpático ao parassimpático pode ser assemelhada à Lei
de Weber Fechnen: Se você tem cem velas em um quarto e tira uma delas, você
não percebe; mas se você tem apenas quatro velas e tira uma, você pode
perceber a diferença.

No estado parassimpático, o paciente começa a perceber e experimentar


sensações além de dor, apoio, e tensão, e começa a se dar conta de que existe
um outro universo disponível para ele. Ele agora é capaz de experimentar uma
completa gama de sensações. Mais tarde, ele pode aprender a acessar essas
sensações por si próprio, com ou sem a respiração. Ele se torna consciente de
sensações mais sutis, suaves, e de fluidez, vida, conexão, ganhos e poder. Cada
uma destas sensações será sentida diferentemente por pessoas com diferentes
estruturas de personalidade, mas qualquer que seja sua constituição, cada
pessoa começa a ter um sentimento de que há algo sob a tensão e a energia.
Pessoas com um padrão de estrutura de vontade são mais propensas a estar
conscientes da tensão, enquanto aquelas com uma estrutura de
caráter rígido/realizador estarão mais conscientes da excitação, da capacidade
de lidar com sensações energéticas e o subseqüente movimento para a entrega.

Uma vez que os pacientes de estrutura de vontade precisam aprender a passar


através da tensão e experimentar a carga, o terapeuta deve trabalhar com suas
tensões a ajudá-los a soltar a musculatura. Por outro lado, se os pacientes têm
uma estrutura rígida, o terapeuta precisa ajudá-los a conquistar um fluxo livre de

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uma estrutura rígida, o terapeuta precisa ajudá-los a conquistar um fluxo livre de
sensações de forma que eles possam conectar suas diferentes experiências. O
terapeuta deve impedir que o paciente vá para os mesmos padrões fixos. Uma
vez que o paciente comece a aceitar e sentir-se confortável com as novas
sensações e obter confiança resultante de uma experiência bem sucedida, ele
irá então ser capaz de relaxar seus padrões de tensão ou passar através de
seus padrões de controlar a intensidade.

Um paciente hipoventilador, geralmente personifica as primeiras estruturas de


caráter. O primeiro benefício que o hipoventilador experimentará ao aumentar a
respiração é captar mais oxigênio, e isto o capacitará a obter mais energia e
conter mais carga. A pessoa de estrutura oral ou de necessidade, por exemplo,
será capaz de sentir alguma vitalidade, percepção de seu centro e satisfação. É
crucial que o hipoventilador aprenda a desenvolver a auto-ajuda. (Nota: Este não
é um trabalho regressivo, é mais sensato evitar a utilização da respiração para
trabalho regressivo, mas o trabalho respiratório pode ser útil para dar alguma
auto-ajuda extra).

Se o paciente tem uma estrutura de existência mentalmente orientada, é


importante fornecer a ele um forte senso de segurança, de forma que ele não
sinta estar fragmentando-se ao experimentar alguma carga.

Ele precisa aprender a sentir a carga diretamente no corpo, e então trabalhar em


sua contenção. Sua tendência natural será fugir da sensação aumentada,
portanto faz-se necessário desenvolver a carga aos poucos, ajudando o paciente
a ficar com a experiência.
Este padrão de evitação é encontrado em ambas as estruturas
de existência mental e emocional, mas é expresso de diferentes maneiras. O
tipo mental tende mais a contorcer, coçar, e arranhar, ao passo que o
tipo emocional tende mais a manifestar emoção, ficar histérico, ou acaba

compelido a expressar algum sentimento. É possível ajudar ao paciente a


experimentar a sensação. O tipo emocional precisa aprender a conectar-se com
sua natureza energética, à sua realidade corporal, ao passo que o
tipo mental precisa conectar-se mais com suas sensações corporais de forma
que possa enfrentar, tolerar, e controlar parte da carga aumentada.

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que possa enfrentar, tolerar, e controlar parte da carga aumentada.

É importante que o terapeuta tenha cuidado para não forçar a


estrutura mental para a dissociação, ou a emocional para a catarse, uma vez que
ambas são, de fato, formas de dissociação. O terapeuta necessita trabalhar no
nível onde o paciente seja capaz de controlar e suportar a carga. Nas estruturas
de caráter primitivas (existência, necessidade, autonomia, e vontade), a
respiração não é a melhor abordagem para expor questões de desenvolvimento
não resolvidas. Nas estruturas posteriores (amor/sexualidade, opinião,
e solidariedade/desempenho), a respiração é mais útil. O paciente tem os
recursos para integrar o impacto, se houver desenvolvido mais força egoica e
estabilidade autonômica nos estágios de desenvolvimento iniciais.

Os pacientes que hiperventilam, que são caracteristicamente as estruturas


posteriores, podem utilizar a respiração como uma ferramenta para descobrir
níveis mais sutis de sua experiência. Aqui, o terapeuta ajuda ensinando o
paciente a relaxar, prestando atenção ao sistema nervoso. O relaxamento
acontece quando o cliente flui na excitação ou carga de maneira bem sucedida e
é capaz de entrar em diferentes estados alterados de consciência.

Esse tipo de relaxamento profundo pode apoiar a hiperamnésia e uma habilidade


para fazer mais associações, assim como o álcool e algumas drogas moderadas
conseguem afrouxar o super ego, nosso sensor e juiz crítico. Quando um
paciente se entrega a um relaxamento profundo, ele é capaz de acessar mais
material de sua essência, não necessariamente apenas memórias, mas também
como ele enxerga o seu self, como ele sente, e como ele experimenta a
diferença entre o seu self público e particular, os sentimentos profundos e os
desejos.

Contrariamente, as estruturas hipoventiladoras necessitam ser fortemente


encorajadas, apoiadas e auxiliadas a respirar. Isto pode ser feito com um suave
trabalho no tórax. Se o terapeuta colocar a mão suavemente na lateral do tórax

do paciente, irá encorajá-lo a utilizar a respiração lateral, que geralmente, é mais


espontânea. O paciente poderá precisar de apenas duas ou três respirações
antes de experimentar uma notável sensação de carga do sistema nervoso. Ao
permanecer com essa experiência até que a carga se associe completamente
como sensação ou sentimento, o paciente pode ir em direção à integração.

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como sensação ou sentimento, o paciente pode ir em direção à integração.
Neste momento, o terapeuta pode fazer algum movimento ou trabalho emotivo.
O paciente pode ficar um pouco tonto, ou ficar um pouco inquieto, e pode
precisar de contato ou apoio para alcançar liberação. É importante para o
paciente, dosar a experiência gradualmente, ao invés de forçar a passagem por
este ponto de tontura ou de cabeça leve.

Neste ponto, o objetivo da terapia é desenvolver algum senso de fluxo de


energia, e reforçar a capacidade do paciente para lidar com a carga sem
fragmentação. Esta é uma experiência corretiva muito importante porque
reorganiza a crença básica do cliente no Eu, e sua capacidade de integrar
sensações mais intensas. Por exemplo, uma estrutura do tipo

mental acredita que vai, de alguma forma, se desestruturar ou desintegrar.


Existem variações, mas é um tema geral. Quando um paciente consegue
experimentar mudanças na realidade sem se desestruturar, ele está passando
para uma maneira mais funcional de estar no mundo.

Seção 6: Estratégias para Questões Traumáticas e de Desenvolvimento

Tendo examinado as diferentes estruturas de caráter e os padrões respiratórios


específicos associados com elas, torna-se possível agora, olhar para as
estratégias terapêuticas para ambas as questões traumática e de
desenvolvimento.

Começamos examinando como trabalhar com as questões incompletas de


desenvolvimento dos hiperventiladores. Geralmente, essas pessoas não
expressam ou não vivenciaram muito a espiritualidade. Talvez elas freqüentem
uma igreja ou sinagoga, mas uma experiência espiritual verdadeira geralmente
lhes foge. Exceto por uma sensibilidade emocional, os hiperventiladores são
fortemente devotados, como na estrutura de “vontade”, ou não acreditam na
experiência espiritual, como a estrutura rígida (“Não é racional” ou “Eu estou

tentando, mas eu não pareço estar encontrando-a”). Às vezes eles irão


expressar decepção, uma vez que eles tentaram meditar para modificar sua
realidade e nada aconteceu. Nestes casos, um terapeuta pode trabalhar
diretamente com a respiração para construir um pouco de carga. Eventualmente,
a pessoa começará a entrar em experiências de descarga mais profundas,

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a pessoa começará a entrar em experiências de descarga mais profundas,
estados alterados de consciência, e estados respiratórios suspensos. Eles
começarão a ‘ver’ imagens e vivenciar sensações corporais sutis.

Estas pessoas podem estar substancialmente presentes em seus corpos sem ter
os problemas encontrados nos indivíduos das primeiras estruturas. Quando sua
experiência começa a mudar, eles começam a desenvolver interesse na
espiritualidade e querem explorá-la. Os indivíduos da estrutura
de amor/sexualidade então, começam a abrir-se sexualmente, vivenciando amor
juntamente com sexualidade, como uma união espiritual. Eles se tornam mais
capazes de conectar com seus sentimentos e desejam um relacionamento mais
completo do que tinham anteriormente. Indivíduos da estrutura de vontade que
têm tentado vencer a barreira de suas tensões sexuais, ou realizadores que
estivessem tentando alcançar o orgasmo, começam a ceder. Uma sensação de
derretimento é um passo à frente positivo em seu desenvolvimento espiritual.

Para pessoas com uma estrutura mental (esquizóide), a espiritualidade tende a


ser acentuada ou vinculada a imagens ou pensamentos. Conforme a pessoa se
abre, os sentimentos do corpo se tornam mais ancorados na espiritualidade,
começando com uma conexão mútua. Trabalhar com a respiração é uma boa
abordagem nesta situação, porque estes pacientes possuem sentimentos reais
pela primeira vez e começam a se abrir em seus corpos, movendo-se com a
respiração e sentindo prazer.

Isso convida inicialmente a uma transferência positiva, e apóia o


desenvolvimento de uma boa aliança terapêutica. Um trabalho respiratório
ocasional neste ponto é muito útil. Também pode ajudar o paciente a
desenvolver a força para resistir ser inundado por sensações e qualquer material
emocional espontâneo que possa surgir. Conforme ele aprende a controlar a
carga e tolerá-la, a experiência se torna a de desenvolver uma capacidade
pessoal aumentada e limites saudáveis.

Ao trabalhar com hipoventiladores e questões de desenvolvimento, um terapeuta


necessita ensiná-los como conter a sensação aumentada e a carga, de forma
que eles possam experimentar a carga em seus corpos enquanto se mantém
ancorados nas sensações.

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Caso contrário, a energia subirá e se concentrará na cabeça. Para que o
paciente se mantenha ancorado, ele precisa aumentar sua energia e então
move-la para baixo. É essencial que o terapeuta saiba quando a energia se
move de uma área do corpo para a outra. Quando um grupo trabalha com
respiração forçada do tipo hiperventilação, geralmente ninguém, que tenha a
capacidade de reconhecer os fluxos e mudanças vegetativas, cuida dos
movimentos da energia de cada pessoa. Isto pode ser perigoso. A respiração é
uma ferramenta poderosa para mover a energia, desde que seja utilizada
apropriadamente e conduzida por profissionais qualificados. Se a intenção é a de
utilizar as abordagens satisfatoriamente e com sensatez, são necessárias
diretrizes éticas e treinamento adequado (Macnaughton, Bentzen, and Jarlnaes).

As questões de desenvolvimento são diferentes de questões de choque ou


trauma e necessitam ser abordadas diferentemente. Em questões traumáticas a
respiração pode ser utilizada para ajudar um paciente conectar-se com o sistema
nervoso autônomo e desenvolver um senso de recursos que pode ser utilizado
para ajudar. Um terapeuta pode escolher fazer isso antes de trabalhar com o
choque em si. É útil trabalhar suavemente com os padrões respiratórios durante
a renegociação da resposta do trauma antes de utilizar o trabalho respiratório
para melhorar integração e o senso de integridade.

Seção 7: As Contra-indicações

O trabalho respiratório pode ser contra-indicado, ou motivo de preocupação em


certas condições médicas, e é importante que o terapeuta esteja a par deste
potencial. Tais condições incluem diabete, hipoglicemia, lupus, esclerose
muscular, problemas cardíacos, câncer, úlcera estomacal, epilepsia, problemas
glandulares, doenças urológicas, e doenças do fígado.

A hiperventilação pode causar uma queda do açúcar no sangue e esta situação


pode ser significativa para pacientes com diabete e hipoglicemia. Uma

quantidade de pessoas reativou seus sintomas de lupus, esclerose muscular e


outros transtornos auto-imunes e condições crônicas através de intensa
respiração forçada. Pessoas cujos sintomas estavam atenuados durante anos,
tiveram que ser hospitalizados porque seus sintomas retornaram. O stress
aumentado da hiperventilação poderia precipitar um ataque cardíaco naqueles

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aumentado da hiperventilação poderia precipitar um ataque cardíaco naqueles
com problemas nessa área, e possivelmente poderia aumentar a taxa de
propagação de câncer no corpo.

Terapeutas não devem iniciar o trabalho respiratório com pacientes que possuam
uma úlcera estomacal ativa. No entanto, se o terapeuta puder utilizar a
respiração de maneira bastante sensível e prudente, é possível ajudar a aliviar
problemas estomacais e intestinais. Um dos testes de diagnóstico para epilepsia
é se o cérebro irá produzir ondas pontudas quando eles hiperventilam, mesmo
que seja por apenas algumas poucas respirações. Lupus é um transtorno auto-
imune caracterizado por um colapso e desorganização significativos do sistema
e, dessa forma, qualquer energia que seja introduzida deve ser da menor
dosagem possível caso contrário, o sistema se tornará mais desorganizado.

Similarmente, problemas endócrinos (tais como tiróide hiperativa – doença de


Graves) são um provável resultado de desorganização do sistema nervoso
central: Se for introduzida muita energia através da respiração, o terapeuta pode
não ter condições de controlar o que irá acontecer a alguns dos órgãos. Por
exemplo, um paciente com problemas nos rins que utilize a hiperventilação,
forçará os rins, fazendo com que eles secretem íons de bicarbonato adicionais e
colocará mais stress nos próprios rins. Isto poderia fazer com que eles falhem.
Se o órgão sob stress for o fígado, ele pode não ser capaz de lidar com todo o
material

tóxico adicional que estiver sendo gerado como resultado da respiração


aumentada. Estas contra-indicações não são necessariamente absolutas, mas
são preocupações e precauções sérias que o terapeuta deve considerar.

Seção 8: Preocupações Psicológicas, Problemas Dissociativos e Abuso


Sexual

Considere este cenário: Sendo um terapeuta, você está trabalhando com o

padrão respiratório de um paciente e ele dissocia significativamente na terceira


respiração. Se você se surpreender, faltou algo na fase de avaliação.
Obviamente, o terapeuta deve conhecer as estruturas de caráter e
psicopatologia o suficiente para saber quando não se deve utilizar trabalho
respiratório. Se você tem um paciente que seria tipicamente diagnosticado como

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respiratório. Se você tem um paciente que seria tipicamente diagnosticado como
borderline ou personalidade múltipla, é muito difícil saber qual o significado ele
irá colocar naquela experiência de estado alterado. O paciente pode respirar
algumas vezes, ser inundado por imagens e projetá-las sobre você. Tal paciente
necessita conectar muito mais lentamente, em termos de transferência, ao invés
de ter uma transferência rápida provocada por uma hiperventilação.

Um exemplo adicional dos problemas de percepção que estados alterados de


consciência podem criar: Uma pessoa vai ao dentista e utiliza óxido nitroso[1].
Isto libera algumas imagens, sentimentos ou fantasias sexuais. Uma vez que os
limites da pessoa não estão claros quando ela está neste estado alterado de
consciência, ela fica confusa e não tem certeza se o dentista a molestou ou não.

O trabalho respiratório muito raramente é apropriado para trabalhar diretamente


com choque e trauma, apesar de ser útil em algumas situações (mencionadas
anteriormente neste artigo) para desenvolver recursos e revelar material
inconsciente prévio. Isto é mais real para indivíduos com estruturas de caráter
tardias. Como terapeuta, você não quer forçar seus pacientes prematuramente.

Personalidades histérica, obsessiva ou explosiva

Pacientes obsessivos podem acostumar-se com o trabalho respiratório. Se ele


for realizado corretamente, o terapeuta pode utilizar a hiperventilação para ajudar
a quebrar a obsessão, mas isso requer sutileza e destreza. O terapeuta deve
saber como levar a respiração até um determinado ponto, atiçar e estimular um
pouco, obter uma boa conexão vincular e ser capaz de utilizar algumas outras
intervenções para afrouxar. Se você forçar muito, irá simplesmente reforçar o
comportamento obsessivo. Se a pessoa for histérica, o terapeuta deve apenas
desmascarar as questões emocionais gradualmente, do contrário, ela tenderá a
vivenciar uma inundação. Existem, ao menos, cuidados no trabalho com
personalidades explosivas e violentas. Forçar estes pacientes pode gerar
comportamento violento.

Não é adequado introduzir trabalho respiratório para pacientes que estejam


lidando com situações não resolvidas de nascimento e intra-uterinas. Mais
precisamente, é importante que a respiração inicie a partir da geração de ritmos
biológicos profundos, não aqueles impostos pelo terapeuta. A pessoa pode haver

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biológicos profundos, não aqueles impostos pelo terapeuta. A pessoa pode haver
respirado no nascimento e criado um choque ou reação similar; se o terapeuta
introduzir um padrão respiratório mecânico, o paciente ficará preso ainda mais
no padrão de choque. No entanto, se o paciente já trabalhou algum choque de
nascimento ou intra-uterino, a respiração abdominal suave, e então algum
padrão ofegante suave podem se utilizados como recurso para recapturar um
pouco da “felicidade intra-uterina”. É importante ter em mente que estes passos
devem ser colocados dentro de um contexto adequado. Um terapeuta não deve
fazer uma sessão de

“renascimento” se o paciente ainda apresenta choque de nascimento ou


qualquer choque relacionado ao pescoço; as respostas podem ser imprevisíveis
se o paciente tentar forçar fisicamente através desse choque.

Resumo

Este documento discutiu as implicações ao tratamento da resposta respiratória


de indivíduos no processo de psicoterapia. Os padrões ou estilos de respiração
foram relacionados num continuum que varia daqueles indivíduos que respiram
em excesso (hiperventiladores) ao outro pólo de indivíduos que respiram de
menos (hipoventiladores). A relação entre respiração, ansiedade e consciência
foi discutida com base nessa polaridade. Foi explorada a importância de se
colocar atenção na respiração e as intervenções em padrões respiratórios. Isto
levou à descrição de intervenções adequadas para os diversos padrões
respiratórios e estruturas de caráter. A necessidade de incluir cuidado e
flexibilidade na aplicação das intervenções respiratórias foi descrita, o que levou
à avaliação dos tipos de condições médicas e questões psicológicas onde as
intervenções respiratórias poderiam ser contra-indicadas.

Conclusões

A atenção ao padrão ou tipo de respiração apresentada pelo paciente pode

fornecer informações úteis ao terapeuta na prática da psicoterapia. A intervenção


no padrão respiratório de um paciente pode ser útil na indução do paciente à
auto-regulação e a um senso de integridade. Estas intervenções devem ser
utilizadas dentro de um contexto de compreensão do padrão respiratório do
paciente, as implicações em suas questões psicológicas, neurofisiológicas, e de

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paciente, as implicações em suas questões psicológicas, neurofisiológicas, e de
desenvolvimento (estrutura de caráter). Além disso, cuidados específicos
necessitam ser mantidos em mente quando houver qualquer evidência de
choque, trauma, condições médicas ou questões dissociativas. Espera-se que
esta apostila forneça algumas diretrizes ao terapeuta que deseje estar atento e
aplicar intervenções na respiração do paciente, com o objetivo de aumentar seu
bem estar psicológico e espiritual.

Referências

Campbell, R. (1985).
Fisherman’s Guide to a Systems Approach to Creativity and Organization.
p. xi. Boston: New Science Library/Shambala.

Gendlin, E.T. (1990). Emotions, Psychotherapy and Change.


In J.D. Safran and Lês Greenberg, (Eds) On emotion in therapy. New York:
Academic Press.

Levine, P. (1990 – 1991). The Body as Healer: Revisioning of Trauma,


in Somatics, 8(1).

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In M. Sheets-Johnstone (Ed.), Giving the body its due. Albany Press.

Lowen, A. (1975). Bioenergetics. New York: Penguin Books.

Macnaughton, I. (1983). The Wisdom of the Body. Unpublished manuscript.

Macnaughton, I. (1989).
Developing a design inquiry model by conducting a restropective design analysis.
Unpublished dissertation. San Francisco: Saybrook Institute.

Macnaughton, I., Bentzen, M. Jarlnes, E. (1993).


Ethical guidelines for the use of somatic psychoterapy

Energy and Character, Vol. 24, No. 2. Also see page 64.

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Russel, P. (1983). The Global Brain. Los Angeles: J.P. Tarcher.

Toffler, A. (1971). Future Shock.

Este artigo primeiramente apareceu no Energy and Character, The Journal of


Biosynthesis, Vol 27, No 1, Abbotsbury Publications, London, England, e
reimpresso sob autorização.

[1] Antigamente os dentistas utilizavam óxido nitroso, “o gas do riso”, como


anestesia.

ansiedade experiência somática meditação mudanças

peter levine respiração se somatic experience

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