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Bases psicofisiológicas da meditação

Bases psicofisiológicas
da meditação
Professor Airton Papeschi

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Bases psicofisiológicas da meditação

Agradecimento 3

Apresentação 3

Introdução 3

Definição e tipos de meditação 4


SUMÁRIO Efeitos da meditação sobre o sistema endócrino e sua fisiologia 7

Funcionamento neuropsicológico 14

Sistema circulatório: efeitos cardiovasculares 21

Sistema respiratório: fundamental na prática da meditação 23

A meditação e a cura 26

Importância da meditação para o sistema imunológico 28

Várias formas de meditar 30

Aplicação clínica da meditação 32

O câncer e a meditação 36

Meditação e sistema digestório 39

Autoconhecimento e discernimento 46

Meio ambiente, meditação e saúde humana 46

Alguns efeitos fisiológicos e bioquímicos da meditação 48

Aprendizagem, atenção e concentração 49

Meditação e o mundo corporativo 50

Caso clínico 51

Conclusão 53

Links importantes para leitura complementar 56

Referências bibliográficas 57

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AGRADECIMENTO
Agradeço a colaboração da professora Aline Voltarelli, sem a qual não seria possível a conclusão desta
apostila.

APRESENTAÇÃO
Caro(a) aluno(a), é com enorme prazer que escrevo este material sobre psicofisiologia da meditação.
Relato aqui experiências pessoais e outras baseadas no aprendizado acadêmico e na própria curiosidade
inerente ao ser humano, e devo confessar que tive minhas sérias restrições ao processo como um todo.
Acreditei durante diversos anos que a possibilidade de efeitos fisiológicos da prática da meditação era apenas
uma ilusão ou um placebo para atenuar os problemas cotidianos.

O necessário aprofundamento nas mais variadas técnicas e os estudos mais recentes podem ser facilmente
realizados com base em diversos materiais espalhados pelas livrarias e em revistas especializadas. A prática da
meditação requer uma completa reeducação do organismo. Devemos propor-nos a mergulhar nele e observar
criteriosamente todos os processos vitais que normalmente passam despercebidos. Como fisiologista, pude
constatar realmente os seus efeitos. Mesmo após relutar, percebi que podemos nos beneficiar e muito dessa
prática, que deve ser disseminada o mais rapidamente possível, pois são efêmeras as contraindicações e as
melhorias, evidentes e palpáveis.

Atualmente, existe uma farta literatura sobre o tema. Resta-nos saber discernir entre aquelas que realmente
possuem credibilidade e outras que apenas estão no mercado com objetivos diversos.

Durante a leitura deste material, elucidamos uma série de dúvidas e plantamos outras tantas sobre
a meditação. Exacerbamos a curiosidade, pois não é possível esgotar todo o conteúdo nesta apostila.
Observamos aos alunos que o desenvolvimento de técnicas pessoais é possível desde que tenhamos um
claro objetivo a ser alcançado: paz interior, foco, disciplina e principalmente ciência de seu papel no universo.

Então vamos lá! Verifique no material alguns exemplos dos efeitos morfopsicofisiológicos da meditação
em nosso organismo. Que esta obra seja um sinalizador importante em sua vida e na das pessoas que o(a)
cercam. Bem-vindo(a) e relaxe... Ótima leitura!

INTRODUÇÃO
Diversas pessoas no mundo inteiro sentem que uma avalanche de acontecimentos invade sua vida e
acabam por sucumbir. Ficam assim expostos a diversas moléstias, pois o sistema imunológico é um dos mais
afetados pelo estresse. Então, na busca constante por soluções, as pessoas desesperam-se e tentam optar
pelo mais simples: a cura por meio de fármacos, de hospitais, enfim, da medicina tradicional. Claro que
esse procedimento é indispensável em vários casos e não questionamos a sua importância no combate a
moléstias. Reconhecemos também o seu papel mais do que relevante no contexto social. Referimo-nos apenas
a uma alternativa, na tentativa de amenizar diversas situações problemáticas vinculadas a saúde humana,
comprovada por diversos experimentos científicos, os quais serão descritos no transcorrer da apostila.

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Existem diversos significados para a meditação. O mais interessante é aquele que se refere a um mergulho
no próprio organismo com objetivo claro de resolver diversos problemas cotidianos. Com isso, os efeitos
do estresse na vida moderna ficam diminuídos por meio da contemplação e reflexões. Outros importantes
aspectos estão relacionados com a cura e a elevação espiritual.

Por um bom tempo, a prática da meditação vem sendo realizada das mais variadas formas e por um
número imenso de pessoas no mundo todo. Ela inclui diversos caminhos, todos com o objetivo de levar a um
conhecimento interior profundo, acalmar a mente e o espírito e devolver ao indivíduo a paz e a tranquilidade
necessárias para que ele possa enfrentar as adversidades do cotidiano.

Os interesses de profissionais vinculados à saúde e cientistas de forma geral prendem-se à observação


de resultados proeminentes e inquestionáveis, seja por sugestão, como acreditam os céticos, ou por outros
mecanismos quaisquer. O que na verdade importa é o resultado final.

A meditação é prática comum entre os orientais. Com o passar dos séculos, a cultura ocidental foi tomando
conhecimento dos seus benefícios e incorporando-os a sua vida como um anexo ao tratamento de inúmeras
moléstias e distúrbios mentais.

Acreditamos também que brevemente diversas instituições vinculadas à saúde pública adotarão
profissionais que poderão disseminar a prática, uma vez que, cientificamente, segundo autores e pesquisas
citados nos anexos, a melhoria no estado clínico é significativa.

Figura 1. Fonte: http://fscomps.fotosearch.com/compc/CSP/CSP412/k18100654.jpg.

DEFINIÇÃO E TIPOS DE MEDITAÇÃO


Caberia aqui um breve histórico sobre como e onde surgiu a meditação. A resposta para esses
questionamentos é praticamente impossível. Acreditamos que o homem pré-histórico, que dependia única e
exclusivamente da caça, tinha repentes de completa e absoluta concentração ao tentar obter seu alimento

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e, uma vez nessa situação, conseguia esvaziar completamente a mente, ficar isolado e mergulhar nos seus
mais profundos pensamentos. Com o passar do tempo, as preocupações adotaram proporções diferentes, e
o próprio processo evolutivo fez com que houvesse a necessidade cada vez maior do diálogo entre corpo e
mente.

Definição
A citação a seguir posiciona-nos em relação à definição sobre a meditação.

A palavra meditação vem do Latim, meditare, e significa ir para o centro, no sentido de desligar-se do
mundo exterior e voltar à atenção para dentro de si. (DANUCALOV; SIMÕES, 2006).

Meditação em sânscrito é Dhyāna que significa “pensar ou refletir” é quando se mantém a consciência na
atenção sem alterar ou oscilar a concentração. Ela também é entendida como estado de Samādhi que significa
“êxtase”, promovendo uma dissolução da nossa identificação com o ego e total aprofundamento de nossos
sentidos (DANUCALOV; SIMÕES, 2006).

Seu objetivo é compreender o que antes não compreendíamos, ver o que antes não víamos e estar onde
nunca estivemos em relação a um objeto ou sujeito (MOHAN, 2003). Levando a pessoa a tornar-se atenta,
experimentar o que a mente está fazendo enquanto ela o faz, estar junto com a própria mente e desenvolver
o autoconhecimento e a consciência. Observa-se os pensamentos, para que seu fluxo seja progressivamente
reduzido. O que parece simples é extremamente complexo para algumas pessoas, principalmente os ocidentais,
tão ligados ao que pode acontecer e não ao que está acontecendo (DANUCALOV; SIMÕES, 2006) (fonte:
http://www.apanat.org.br/site/meditacao/, acesso em: 8.jul.2015).

Nos estudos de Cardoso et al. (2004), foi dada uma definição operacional detalhada de meditação ampla
o suficiente, que inclui práticas tradicionais à base de crença em ambientes clínicos. Usando uma abordagem
sistemática baseada em técnicas de consenso, os autores definiram qualquer prática como meditação se:

a. utiliza uma técnica específica e claramente definida;

b. envolve relaxamento muscular em algum lugar durante o processo;

c. envolve a lógica de relaxamento, isto é, não pretende analisar os possíveis efeitos psicofísicos, não
pretende julgar o possível resultado e não tem a intenção de criar qualquer tipo de expectativa em relação
ao processo;

d. envolve um estado autoinduzido;

e. utiliza um artifício de autofoco ou “âncora” de atenção.

Levando-se em conta o modelo de definição proposto, podemos estabelecer que meditação é um mergulho
interior com o objetivo de nos conhecermos intimamente, de nos instrumentalizarmos para enfrentarmos as
adversidades cotidianas com maior eficiência.

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Tipos de meditação
Existem diversas vertentes, mas cada uma delas leva a um mesmo fim e segue uma determinada
padronização, principalmente no que diz respeito a concentração, foco e efeitos no corpo humano.

A prática da meditação está associada a uma série de fatores, por exemplo: qual é o objetivo a ser
alcançado? Estamos nos referindo a um exercício de cunho espiritualista ou terapêutico? Dependendo da
situação ou do momento, ambas serão empregadas com sucesso relativo satisfatório, em grande parte dos
casos estudados. Outra importante vertente é a direção da atenção.

Juntamente com as técnicas, temos outras interações importantíssimas, como a âncora - um som, uma
palavra a ser proferida durante o processo, um determinado objeto como instrumento de fixação do olhar -
ou até mesmo a postura indicada, que pode ser imóvel, sentada, ou ainda em movimento.

Existem diversos tipos de meditação. Vamos citar algumas:

Zazen: talvez a mais antiga de todas, remonta há 2.500 anos. Busca o encontro com as suas características
mais internas, um mergulho no corpo e na mente. A posição mais indicada é a sentada, e o alvo da concentração
é o fluxo respiratório.

Kinhin: importante porque pode ser feita em movimento, durante uma caminhada, por exemplo. O alvo
são os pés e o caminho a ser percorrido, levando-se em consideração a intensidade das pisadas.

Meditação transcendental: é originária dos hindus e tem como ponto-chave a repetição frequente de
um mantra para si mesmo.

Meditação cantada: como o próprio nome insinua, é realizada com auxílio de um cântico na forma de
mantra.

Tai chi: considerada como uma das artes marciais orientais. A pessoa assume diversas posturas de forma
lenta e associada a respiração intensa.

Qi-gong: prática oriental que mescla exercícios físicos, meditação, relaxamento e exercícios de respiração.

Ioga: nesse tipo de meditação, existe a necessidade de fazer com que o corpo se torne mais flexível,
aliado a exercícios respiratórios, visando acalmar a mente.

Não esgotamos aqui os diversos tipos de meditação. Sempre será interessante associarmos novas vertentes
e compartilharmos conhecimentos, então, caso conheça outros tipos, o fórum será um ambiente propício
para a discussão.

O tempo de meditação diária varia muito de uma pessoa para outra e do grau de complexidade que
conseguiu atingir no processo de meditação. Em boa parte da literatura consultada, 15 minutos diários para
principiantes são bem aceitos, podendo acontecer variáveis em função de outras intercorrências fisiológicas.

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Nos capítulos seguintes, estudaremos algumas práticas como parte de um processo de cura e de
manutenção da saúde humana.

Os efeitos benéficos que a meditação traz para o organismo considerando o psicológico são bastante
descritos na literatura (ARAÚJO; MELLO; LEITE, 2007).

A prática da meditação produz tranquilidade mental e física, autoconfiança, estado de equilíbrio físico e
emocional, no lugar de comportamentos agressivos. Para tal, é necessários realizá-la aos poucos para evitar
o desconforto (DANUCALOV; SIMÕES, 2007). Praticando diariamente a meditação, algumas variáveis são
percebidas como estabilidade nos aspectos que envolvem a personalidade (MENEZES; DELL’AGLIO, 2009).

Figura 2. O silêncio na “Sala do Cristal”, templo Matrimandir, 2010. Fonte: https://viagensculturais.


files.wordpress.com/2010/06/meditacao-matrimandir-sala-do-cristal1.jpg.

Os tipos de meditação dividem-se quanto às práticas em atenção focada e monitorização aberta.


Basicamente, na atenção focada, se utiliza um objeto externo, quer seja corporal ou mental, por meio do
qual se ignoram outros estímulos (LUTZ et al., 2008).

Menezes e Dell’Aglio (2009) estudaram a meditação do tipo passiva sentada e inferiram que é útil para o
ser humano por oferecer resultados positivos em diversos níveis da vida do indivíduo.

Dedicar um tempo do dia para meditar é importante para evitar o estresse. Ficar a sós durante alguns
instantes, durante a meditação, ter um tempo consigo mesmo, traz harmonia a mente e corpo, traz felicidade,
pois mente sã é igual a corpo são.

EFEITOS DA MEDITAÇÃO SOBRE O SISTEMA ENDÓCRINO E SUA FISIOLOGIA


Sabemos que o sistema endócrino é um importante aliado do sistema nervoso no controle das atividades
orgânicas. Por meio da liberação de seus hormônios, contribui de forma consistente na manutenção das
funções vitais do corpo. Vamos conhecer um pouco da fisiologia do sistema para que possamos compreender
e relacionar a meditação a ela.

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As glândulas endócrinas secretam seus hormônios diretamente na corrente sanguínea. Estes, por sua vez,
atuam em locais específicos chamados alvos. A homeostase corporal depende também do bom funcionamento
também do sistema endócrino.

Veremos agora um pequeno resumo das principais glândulas do corpo, os hormônios que produzem e as
respectivas funções. Sem dúvida esse conhecimento servirá para podermos conciliar a atividade hormonal
com a fisiologia da prática da meditação.

Hipófise
A hipófise é uma pequena estrutura localizada na sela túnica do osso esfenoide. Apresenta uma ligação
estreita com o sistema nervoso. É considerada a glândula mestra do corpo, pois produz substâncias que
regulao funcionamento de todas as demais. Também tem uma ligação estreita com o hipotálamo.

Podemos dizer que a hipófise é dividida em duas partes distintas. Uma delas é conhecida por neuro-
hipófise e a outra, como adeno-hipófise. Esta é capaz de gerar hormônios que atuam em outras glândulas
do corpo, como:

• Somatotrofina, ou SH: regula o crescimento físico.

• Prolactina: está relacionada à produção de leite materno nas glândulas mamárias.

• Corticotrofina (hormônio adrenocorticotrófico - ACTH): vital para o metabolismo celular, está


intimamente relacionado à atividade das células das suprarrenais que auxiliam no controle hídrico do
organismo.

• Tireoideotrófico (hormônio tireotrófico - TSH): age diretamente sobre a glândula tireoide.

• Hormônio folículo-estimulante (FSH): atua tanto no crescimento dos folículos ovarianos femininos
quanto no organismo masculino diretamente na produção de espermatozoides.

• Hormônio luteinizante (LH): importante tanto para a liberação do óvulo quanto para a produção de
testosterona nos testículos.

Hipotálamo
O hipotálamo controla a secreção hormonal da hipófise. Os neurônios dele são os responsáveis pela
fabricação e liberação dos hormônio antidiurético, que regula os níveis de agua do sangue, e ocitocina, que
estimula as contrações uterinas durante o parto.

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Figura 3. Fonte : http://www.medicinageriatrica.com.br/2012/07/10/sudorese-hiperhidrose-hipotalamica/.

Figura 4. Hipófise. Fonte : http://www.sobiologia.com.br/conteudos/Corpo/sistemaendocrino.php.

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Tireoide
A tireoide é a glândula que, por meio de seus hormônios T3 (tri-iodotironina) e T4 (tiroxina), controla
o funcionamento do corpo todo. Como exemplos, podemos citar: manutenção da normalidade da pressão
sanguínea, do ritmo cardíaco e das funções sexuais. A glândula pode sofrer alterações que comprometem o
seu funcionamento, como a produção em excesso de hormônios, chamada hipertireoidismo, e a deficiente,
conhecida por hipotireoidismo.

Figura 5. Tireoide. Fonte: http://blogs.universal.org/cristianecardoso/pt/fadiga-alteracao-


de-peso-queda-de-cabelo-x-tireoide-conheca-as-causas-e-sintomas/

Paratireoides
Essas glândulas estão dispostas na região do pescoço e geralmente são quatro, extremamente pequenas,
com o tamanho aproximado de uma ervilha. São responsáveis pela produção do paratormônio, ou PTH, que
regula a quantidade de cálcio e fósforo na corrente sanguínea e ainda está vinculado à absorção de vitamina
D. Quando a concentração no sangue é baixa, ele é capaz de buscar o cálcio armazenado nos ossos.

Quando, em determinadas situações, ocorre uma hipofunção dessas glândulas, pode gerar irritabilidade
ou tetania, podendo levar a asfixia e consequentemente a morte. Sua hiperfunção pode causar cistos ósseos,
osteoporose e até mesmo lesões renais.

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Timo

Figura 6. Timo. Fonte: http://www.teliga.net/2011/08/sangue-e-orgaos-hemocitopoieticos.html.

Localizado entre os pulmões, é eficaz durante a infância, principalmente, pois produz hormônios que
atuam diretamente no sistema imunológico contra infecções, principalmente no recém-nascido. Durante
o desenvolvimento do indivíduo, vai diminuindo até a fase adulta, quando fica muito reduzido quanto ao
tamanho e à função.

Suprarrenais
Secretam a adrenalina, considerado o hormônio que prepara o homem para que possa efetuar uma
determinada ação. Quando, em caso de necessidade, o corpo prepara-se para uma situação emergencial, ele
pode enfrentar um determinado obstáculo, um perigo iminente, ou fugir. Em ambas as situações, ocorre todo
um preparo orgânico que nos auxilia na tomada de decisões. Ficamos mais alertas, percebendo rapidamente
qualquer ruído, uma vez que nossos órgãos sensoriais estão preparados.

A adrenalina promove taquicardia, fazendo com que o sistema circulatório fique mais eficiente nas pernas
e braços, adaptando o indivíduo ao salto ou à corrida, caso haja necessidade. Gera ainda aumento da
frequência respiratória e da taxa de glicose no sangue, pois o gás oxigênio, em contato com esta, produzirá
mais energia. O mais interessante ocorre na pele: ficamos pálidos devido ao envio de sangue para outros
sistemas do corpo, e consequentemente diminui a temperatura.

A meditação diminui o ritmo respiratório, o que, consequentemente, inibe a produção de hormônios como
a adrenalina e o cortisol, secretados em situações de estresse, o que facilita o controle das funções cardíacas.
O coração apresenta ainda um sistema nervoso intrínseco que auxilia o sistema nervoso central no controle
dos mecanismos cardiovasculares.

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Figura 7. Glândula suprarrenal. Fonte: http://www.calculorenal.org/img/sistema-urinario-39.jpg.

Glândula pineal

Figura 8. Glândula pineal. Fonte: http://www.monografias.com/trabajos68/


autoconsciencia-glandula-pineal/autoconsciencia-glandula-pineal2.shtml.

Está entre os hemisférios cerebrais, logo acima do tálamo. O hormônio secretado por ela, a melatonina,
é fundamental para a manutenção do equilíbrio entre corpo e mente, uma vez que incide diretamente no
bem-estar das pessoas de forma geral.

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A melatonina é produzida a partir de um conhecidíssimo neurotransmissor, a serotonina. Atribui-se a esse


hormônio o controle do ciclo dia/noite por intermédio da luminosidade percebida pela retina e encaminhada
ao hipotálamo. Atualmente, pesquisas apontam a melatonina como importante no controle do desejo sexual.

Pâncreas
Localizado na região abdominal, produz hormônios importantes para o bom funcionamento do corpo: a
insulina, que regula a glicemia, e o glucagon, que atua no sentido oposto. Quando por qualquer motivo a
pessoa deixa de se alimentar durante um longo período, ocorre a produção do glucagon, que tem a função
de, uma vez transportando pela corrente sanguínea, liberar a glicose que está sob a forma de glicogênio, um
polímero. O glicogênio é composto por diversas moléculas de glicose que ficam armazenados no fígado. Em
caso de necessidade, o corpo utiliza a glicose para gerar energia.

Glândulas sexuais
As glândulas sexuais, testículos no caso masculino e ovários no caso feminino, são estimulados por
hormônios produzidos pela hipófise. Os ovários produzem estrógenos e progesterona, e os testículos, a
testosterona.

Sabemos que o amadurecimento sexual traz inúmeros problemas, dúvidas e interrogações. Na adolescência,
vários desses hormônios estão em ebulição. Um exemplo clássico é a testosterona, que atua sobre as
características sexuais secundárias masculinas e femininas, o que atesta a importância da descarga hormonal
ocorrida nesse período.

Outros órgãos
Para concluir, temos órgãos que também desempenham papel de glândulas secretoras de hormônios.
Vamos citar aqui alguns exemplos: os rins secretam a renina, importante porque regula a entrada e a saída
do sangue nos glomérulos renais; o estômago produz a gastrina; e no duodeno ocorre a produção de
colecistoquinina.

Não é nosso objetivo aqui elucidarmos todas as dúvidas sobre o sistema endócrino. Tais problemas
poderão sugerir uma pesquisa mais detalhada em outros materiais. Citamos os hormônios uma vez que o
seu controle é efetuado diretamente pelo sistema nervoso central e pela hipófise. Sabemos que alterações
mesmo que pequenas nessas regiões podem gerar diversos danos significativos em nosso organismo.
Quando, pela prática da meditação, exercemos o devido controle sobre o sistema nervoso, educamos o corpo
a atuar de acordo com as necessidades momentâneas, sem atropelos ou estresse, que acabam por interferir
diretamente em toda a fisiologia, um processo notório, como descrito ao longo deste material. Isso se deve
a descargas hormonais e interferências de importantes neurotransmissores, como a serotonina.

Para que possamos esclarecer o que foi proposto, observe a figura a seguir e as interações possíveis entre
os diversos sistemas, neurotransmissores, hormônios e funções.

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Figura 9. Fonte: http://www.espacocomenius.com.br/neurotransmissoresinteragin.jpg.

https://www.youtube.com/watch?v=Y2rH-DFfHVU&list=PLCyOPCuYn_Rx9HkHVdAo1tIPwg1tl3GIz

FUNCIONAMENTO NEUROPSICOLÓGICO
Nas últimas décadas, a prática da meditação tem sido objeto de estudo acadêmico, porém somente
em 1990 começou a haver pesquisas de revisão bibliográficas e de estudo clínicas a respeito de seu papel
neuropsicológico. Aqui abordaremos de forma sucinta o que pode acontecer ao sistema nervoso quando
submetido à prática da meditação.

O indivíduo praticante da meditação de qualquer vertente sabe que aquietar a mente é como se estivesse
se preparando física e psicologicamente para poder assimilar todo o aprendizado que virá pela frente. A
atuação neuronal é inquestionável, pois nesse processo somos capazes de reconstruir estruturas, arquitetar
ideias e possibilidades, enfim, estamos sempre nos reinventando no aspecto neurológico.

Diversas conexões neuronais são refeitas, e sinapses são restabelecidas e reordenadas. O controle do
sistema nervoso autónomo sobre os órgãos e vísceras fica mais eficiente, com seus canais de comunicação
mais limpos e eficientes. O lobo frontal e o temporal podem, em determinadas condições, criarem o que
chamamos de uma consciência relativa em função da quietude conseguida durante o processo de meditação.
Valores emocionais são ativados de forma importante pelo sistema límbico.

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A ansiedade, a depressão os problemas de relacionamento são controlados e em diversos casos


desaparecem completamente, deixando o indivíduo que é portador dessas anomalias sem os medicamentos,
que, como sabemos, possuem diversos efeitos colaterais.

De um lado, temos as indústrias criando fármacos que são necessários, mas que em muitos casos podem
muito bem ser substituídos por diversas técnicas e pela própria reeducação da mente.

Os efeitos calmantes e relaxantes devolvem a necessária clareza de raciocínio para que as decisões do
cotidiano sejam embasadas em fatos palpáveis, além de todos os benefícios já citados.

Dois estudos descritos em Oficina da Psicologia (2011) servem de exemplo para demonstrar a importância
da prática meditativa sobre a atividade cerebral. No primeiro deles, conduzido por psiquiatras do Hospital
Geral de Massachusetts, nos Estados Unidos, um grupo experimental constituído por 16 voluntários realizou
um curso de Mindfulness de oito semanas, que consistia de encontros semanais para meditação em grupo e
de meditação individual em casa, guiada por gravações de áudio. Foram analisadas imagens de ressonância
magnética da estrutura cerebral dos referidos voluntários, obtidas nas duas semanas anteriores e posteriores
ao curso, bem como imagens da estrutura cerebral de um grupo de controle que não praticou meditação.
Verificou-se que, após o curso, os componentes do grupo experimental tiveram benefícios cognitivos e
emocionais, decorrentes do aumento da densidade da massa cinzenta do hipocampo, região cerebral ligada à
aprendizagem e à memória, e do aumento das estruturas cerebrais ligadas à autoconsciência e à percepção.
Além disso, tiveram redução dos níveis de ansiedade e estresse, pela diminuição da densidade da massa
cinzenta na amígdala.

No segundo estudo, realizado na Universidade da Califórnia, foram analisadas as imagens cerebrais de 54


indivíduos, divididos em dois grupos, cada um deles formado por 11 homens e 16 mulheres: de um lado, o
grupo experimental, formado por 27 praticantes de diferentes tipos de meditação (“Shamatha”, “Vipassana”
e “Zazen”, combinados ou não com outros estilos), cujo tempo de prática variava de 5 a 46 anos, e, de
outro, o grupo de controle, constituído por 27 não praticantes. As imagens, obtidas por meio de tensores
de difusão, permitiram observar a conectividade do cérebro. Em comparação com o grupo de controle, o
grupo experimental revelou maior conectividade em todos os lobos cerebrais, no corpo caloso anterior, nas
estruturas límbicas e no tronco cerebral, bem como redução da atrofia cerebral do tecido da substância
branca, atrofia esta relacionada com o avanço da idade.

Ambos os experimentos apenas corroboram a ideia de que a prática constante da meditação traz benefícios
incalculáveis do ponto de vista neuropsicológico, melhorando consideravelmente a qualidade de vida, além
de cooperar para que diversas moléstias ou degradações naturais do corpo sejam postergadas.

Embora ainda tenhamos alguns passos a percorrer, os resultados já podem ser notados e indicam uma
capacidade interessante do sistema nervoso central de poder se modificar, se adaptar a situações desagradáveis
desenvolvendo diversos mecanismos fisiológicos para gerar benefícios para todo o corpo humano.

Em seguida, estudaremos um pouco da anatomorfofisiologia do sistema nervoso, incluindo a sua unidade


fundamental, o neurônio.

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Um pouco de fisiologia do sistema nervoso


Comecemos o estudo da fisiologia neuropsicológica com a unidade fundamental do sistema nervoso: o
neurônio.

Figura 10. Neurônio. Fonte: http://falandodesaudeebeleza.blogspot.com.br/2011/08/regime-pode-causar-canibalismo-de.html.

O neurônio é uma célula capaz de receber informações provenientes do meio ambiente, transmitir,
interpretar, memorizar, assimilar e provocar reações das diversas partes do corpo. Tais reações são voluntárias
ou mesmo involuntárias para proteger partes vitais do nosso corpo. Inúmeros mecanismos de funcionamento
do neurônio são conhecidos, como aquele por neurotransmissores, dentre os quais existe, por exemplo, a
serotonina.

Cada célula nervosa é composta por corpo celular, dendritos e axônio. O corpo celular é a própria célula,
enquanto dendritos e axônios são seu prolongamento. Além dos neurônios, existem, nos vertebrados, as
células gliais, que são importantes no processo de sustentação deles. Dentre os tipos das células gliais, temos
os astrócitos, os oligodendrócitos e as células de Schwann.

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Figura 11. Fonte: http://www.sobiologia.com.br/conteudos/FisiologiaAnimal/nervoso4.php.

A fisiologia descrita na figura 11 demonstra uma diferença de potencial elétrico entre os dos lados da
membrana plasmática dos neurônios. Esse sistema de funcionamento baseia-se na inversão de cargas, tornando
possível a transmissão de impulsos de um local para outro. Em seguida, tudo retorna às posições originais.
Chegando ao final do neurônio, ocorre um encontro com as vesículas carregadas de neurotransmissores, que
são substâncias químicas encarregadas de propagar a mensagem para a célula seguinte.

É interessante notar aqui que estímulos provenientes do meio ambiente como calor, dor, frio, pressão,
tato, gustação, olfação, paladar enfim são percebidos por essas células fantásticas, transformados em
impulsos elétricos, posteriormente químicos e novamente elétricos até atingit o sistema nervoso central que
se encarregará de interpretar esses estímulos e transformá-los em sensações

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Figura 12. Estrutura do sistema nervoso. Fonte: http://neurocientifico.blogspot.


com.br/2013/06/divisao-anatomica-do-sistema-nervoso.html.

A fisiologia encefálica mostra como ocorre o controle das atividades vitais. O cérebro é um órgão maravilhoso
com massa aproximada de 1,3 kg, composto por cerca de 100 bilhões de neurônios e quase 50 trilhões de
neuroglias. O número de sinapses (para se ter uma ideia, um único neurônio é capaz de se conectar a
outros mil por meio delas), ou seja, de intervalos entre as células nervosas, é enorme, o que demonstra
a capacidade de conexão existente no órgão. Devido a sua grande importância para nosso organismo, é
revestido por três membranas, chamadas meninges - dura-máter, pia-máter e aracnoide -, além do líquido
cefalorraquidiano e da estrutura óssea.

O cérebro recebe e interpreta informações, gera sensações, responde a estímulos provenientes do meio
ambiente, memoriza dado, reconhece situações de perigo e pessoas, enfim, gerencia todas as funções
corpóreas em conjunto com o sistema endócrino.

A prática da meditação auxilia o organismo a resolver situações com mais assertividade e a elaborar
respostas concretas para situações do cotidiano. Aquietar a mente e oxigenar o cérebro por meio de uma
respiração correta faz toda a diferença na fisiologia desse extraordinário órgão humano.

Na figura 13, temos um mapa do encéfalo com um resumo de suas funções e regiões anatômicas.

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Figura 13. Funções das regiões cerebrais. Fonte: http://www.ebah.com.br/content/ABAAABB_QAL/sistema-nervoso.

Figura 14. Regiões cerebrais. Fonte: http://www.dicasdesaude.info/curiosidades/funcoes-do-sistema-nervoso.

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Vídeos importantes para compreender a fisiologia da meditação, extraídos do Youtube relativo ao programa
Globo Repórter, de 2006.

https://www.youtube.com/watch?v=4UrA-uptNmU

https://www.youtube.com/watch?v=JgWJ7IIpJcY&list=PLCyOPCuYn_Rx9HkHVdAo1tIPwg1tl3GIz

Silêncio e saúde
A mente quieta permite permanecer no “agora”, perceber o conflito. Desconstruir esses pensamentos, os
rótulos, é um passo inicial importante para uma mente sã.

Dedicar um tempo para que possamos nos conhecer mais profundamente por alguns minutos pode
ser difícil, pois temos o péssimo hábito de tranferir responsabilidades inerentes a nossa vida a terceiros
falando demasiadamente, quando o mais viável é a interiorização. É possível, com disciplina, sem forçar a
neutralização do pensamento, com exercício diário, fazer a observação dos sentidos, da energia concentrada,
da intimidade consigo mesmo, com consciência de pensamento. Para tanto, há necessidade de sair do apego,
com a identificação de formação de imagens erradas e desses monólogos que prejudicam o psíquico.

O corpo fica saudável ao permanecer na observação atenta. Isso permite afastar sentimentos complexos
como medo, angústia e depressão, que nos remetem a instabilidade e um pensamento ansioso e crítico ao
extremo. Isso é prejudicial à saúde porque afeta uma série de conexões neurológicas, de neurotransmissores
e hormônios. O reflexo desses sentimentos, assim, instala-se no corpo físico, causando diversos problemas.

Enquanto há pensamento, haverá divisão, separação, isolamento. Para a desfragmentação de imagens,


há necessidade do desenvolvimento psíquico, para que alcancemos a ordenação correta do caleidoscópio
em que vivemos na sociedade urbana, que faz com que nossa relação com o mundo seja completamente
desequilibrada. A meditação devolve a reorganização às atividades cerebrais, de forma a trazer o equilíbrio
novamente na percepção das situações do cotidiano.

A meditação não é ditada pelo pensamento, mas faz uso do pensamento para se comunicar. Não envolve
religião, mas é uma atividade suprema e sagrada da inteligência, eliminando paradigmas.

A condição de ficar no aqui e agora é o importante, não o passado, no vai e vem da memória. Então, a
inteligência integrativa e amorosa faz perceber o movimento no tempo. Observar o presente, o que realmente
importa, é o que a meditação traz para uma mente quieta, para o autoconhecimento e a saúde.

O estresse pode ser dominado


Três décadas de pesquisas mostram que a meditação é um bom antídoto ao estresse, pois permite
reformatar o cérebro, para se evitar os pensamentos viciados. A meditação faz uma reprogramação, de forma
que o pensamento seja identificado com o real, trazendo saúde. Esse exercício, mesmo sendo por segundos,
pode contribuir para melhora do estado geral de corpo e mente.

20
Bases psicofisiológicas da meditação

A meditação libera endorfinas, que são substâncias das conexões nervosas (sinapses) que amortecem a
sensação de ansiedade.

Emoções
O equilíbrio psicofisiológico e a harmonia interior podem ser trazidos pela meditação independentemente
da técnica específica. A meditação leva a experiências de estado de transe que envolve uma profunda
sensação de paz e tranquilidade. A conquista dessa harmonia deve-se ao foco, à concentração e à capacidade
do organismo voltar a seu ritmo normal, levando à homeostase entre as emoções e os processos fisiológicos.

Todos os fluidos corporais, bem como as conexões neuronais, possuem uma dinâmica que deve ser
mantida pelo organismo, e, para tanto, a prática da meditação desempenha um importante papel.

SISTEMA CIRCULATÓRIO: EFEITOS CARDIOVASCULARES


Resumo do sistema circulatório:

https://www.youtube.com/watch?v=6lS8EeeuqBw

Uma importante observação faz-se necessária neste momento do estudo. Sem o conhecimento mínimo
de anatomia e fisiologia dos sistemas envolvidos, é muito complicado entender como a prática da meditação
pode atuar de maneira eficiente. Nosso objetivo não é desenvolver meticulosamente o conteúdo de fisiologia
e sim fazer uma síntese do que será necessário para a compreensão dos aspectos relacionados à prática da
meditação e a seus efeitos.

Descreveremos agora parte da anatomorfofisiologia dos sistemas respiratório e circulatório de maneira


palatável para entendermos definitivamente como ocorre esse fenômeno da quietude, da reflexão, da
reorganização e reestruturação mental conhecido como meditação. À primeira vista, pode parecer complexo
e de difícil compreensão, mas tudo vai se encaixar até o final do curso.

O coração direito assim chamado por ser constituído pelo átrio direito e o ventrículo direito recebe o
sangue proveniente de todo o organismo e o envia através da artéria pulmonar aos pulmões onde será
oxigenado e retornará ao órgão pelas veias pulmonares, posteriormente seguirá ao ventrículo esquerdo, com
paredes mais espessas e ocupando um espaço maior, levará o sangue através da aorta para todas as partes
do corpo, sangue esse devidamente oxigenado.

21
Bases psicofisiológicas da meditação

Figura 15. Coração humano. Fonte: http://perlbal.hi-pi.com/blog-images/338753/mn/1209236348.jpg.

O coração é um órgão oco, com peso de aproximadamente 300 g, localizado em uma região denominada
mediastino, e tem como função primordial encaminhar o sangue para as trocas gasosas nos pulmões,
recebê-lo de volta e posteriormente bombeá-lo para as diversas partes do corpo. É constituído por um tecido
especial, o muscular cardíaco, e é dotado de quatro válvulas que impedem o refluxo sanguíneo dentro das
cavidades cardíacas.

O ritmo cardíaco determina a pressão que o sangue vai execer nas paredes das artérias e veias, e é
exatamente a pressão um dos alvos principais da meditação. Acredita-se que, durante a prática correta, tanto
o ritmo cardíaco quanto a pressão sanguínea diminuem consideravelmente, evitando os efeitos maléficos em
longo prazo de anomalias neles.

O controle do ritmo cardíaco também ocorre pela produção de adrenalina nas suprarrenais. Como já visto
anteriormente, esse hormônio é produzido para condições especiais, como situações de fuga ou combate. É
uma substância que atua em receptores celulares das células da musculatura lisa, componente do coração,
alterando o seu comportamento: ela acelera os batimentos cardíacos e aumenta consideravelmente a
respiração.

Meditar reduz consideravelmente na circulação sanguínea os hormônios ligados ao estresse, como é


o caso da adrenalina, e estimula no cérebro a produção de endorfinas, hormônios de ação analgésica,
estimuladores da sensação de bem-estar. Respirar corretamente fornece um aporte maior de oxigênio para
as células do corpo em decorrência disso a produção de energia através do metabolismo celular ocorre de

22
Bases psicofisiológicas da meditação

modo mais eficiente, suprindo as necessidades energéticas do organismo. (Adiante na apostila, discutiremos
os aspectos bioquímicos da respiração celular.)

Pessoas com deficiência cardiovascular melhoram consideravelmente após a prática da meditação.

Figura 16. Vasos sanguíneos do corpo humano. Fonte: http://3.bp.blogspot.com/_FOLa2TKy5N4/


S8SUBVULmwI/AAAAAAAAACQ/V1StyM9x8LI/s1600/corpo%20humano%20vasos%20sanguineos.jpg.

O sangue humano circula através de quilômetros de vasos sanguíneos, levando oxigênio e nutrientes,
além de inúmeras substâncias, como hormônios, para as células das mais diversas partes do corpo.

O calibre desses vasos pode variar de acordo com a situação, por meio de substâncias vasodilatadoras ou
vasoconstritoras, que operam no sentido de diminuir a pressão interna ou aumentá-la. Nosso corpo é dotado
de três tipos de vasos, de maneira geral: as artérias, as veias e os capilares.

O sangue, em tese, pode ser arterial ou venoso. Por definição, venoso é aquele rico em gás carbônico,
proveniente da respiração celular. O arterial, rico em gás oxigênio, é proveniente da hematose realizada nos
pulmões e vai auxiliar as células no processo de produção de energia em forma de ATP.

O sangue humano é composto por elementos figurados, que são células e fragmentos de células e o
plasma. As hemácias são encarregadas do transporte dos gases respiratórios, os glóbulos brancos defendem
o organismo de ataques provenientes dos agentes externos, e as plaquetas são básicas no processo de
coagulação sanguínea.

SISTEMA RESPIRATÓRIO: FUNDAMENTAL NA PRÁTICA DA MEDITAÇÃO


Um pouco de fisiologia do sistema respiratório pode ser vista no vídeo a seguir.

https://www.youtube.com/watch?v=_NrhxezkFH4

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Bases psicofisiológicas da meditação

No que diz respeito à prática da meditação, esse sistema tem um papel formidável, pois é por intermédio
do seu ritmo que conseguimos estabilizar as funções vitais e consequentemente levar a uma homeostasia
de todo o corpo.

O nosso sistema respiratório é complexo e eficiente. Tem como função precípua efetuar as trocas gasosas
nos pulmões. Como geralmente chamamos de respiração celular o processo de produção de energia nas
células, vamos tratar o sistema apenas como ventilação.

Atenção plena - a ciência do mindfulness (Jon Kabat-Zinn)

https://www.youtube.com/watch?v=CAO39iWackc

Figura 17. Estruturas componentes do sistema respiratório. Fonte: http://www.studiomel.com/images/respiracao.jpg.

Os componentes básicos são nariz, boca, faringe, laringe, traqueia, brônquios, bronquíolos e alvéolos,
além, é claro, dos pulmões. A hematose, ou seja, a troca do gas carbônico pelo oxigênio, acontece no interior
de pequenas bolsas denominadas alvéolos, que são muito numerosos, porém frágeis e susceptíveis a vários
agentes tóxicos. O cigarro, por exemplo, é um grande inimigo dos alvéolos, podendo levam a completa
ineficiência do corpúsculo.

A respiração deve começar pelo nariz, órgão adaptado a receber o ar proveniente do meio externo.
Ele é capaz de filtrar o ar, reter as partículas em suspensão pelo muco e aquecê-lo. Ao passar pelo nariz,

24
Bases psicofisiológicas da meditação

o ar dirige-se para as vias aéreas. Na traqueia, os cílios que estão presentes em sua parede retêm outras
partículas que conseguiram ultrapassar a barreira da cavidade nasal.

Aqui voltamos a comentar sobre o grande vilão: o cigarro. Ele é capaz de transformar células cúbicas, que
revestem as paredes da traqueia, em células pavimentosas, achatadas e pouco eficientes. Quanto aos cílios,
o hábito de fumar pode destruí-los por completo.

As ramificações das traqueias são os brônquios, que por sua vez se dividem em estruturas cada vez
menores, os bronquíolos. Nas extremidades destes, é possível encontrar os alvéolos, que são as estrelas da
companhia, pois fazem a hematose.

Setenta e cinco por cento, em média, dos movimentos respiratórios são de responsabilidade do diafragma,
um músculo situado na base dos pulmões separa o tórax do abdome. Quando praticamos a meditação, a
atenção deve estar concentrada nesse músculo, e diversas técnicas o priorizam.

O controle do ritmo respiratório é de fundamental importância porque traz consigo uma série de situações
como já citadas anteriormente neste material. O aporte de oxigênio para as células diminui consequentemente
a quantidade de energia também, sendo assim o efeito dominó faz com que a fisiologia e o metabolismo
fiquem em um nível basal.

Com a prática da meditação, o gasto energético é menor e pode ser canalizado para situações vitais. O
corpo, principalmente o sistema nervoso central e as hemácias, necessita de uma quantidade grande de
glicose, que, em contato com o oxigênio do ar atmosférico, produz energia.

Nascemos sabendo respirar corretamente. Com o passar do tempo, perdemos essa característica, e o que
era correto cede lugar a uma respiração equivocada, frágil e com efeitos fisiológicos duvidosos. Sabemos
que ,aumentando o ritmo respiratório desordenadamente, interferimos em toda fisiologia corporal. Sentir o
ar entrar pelas narinas devagar, com calma e discernimento, movimentar corretamente o diafragma, como
demonstrado em vídeo presente nesta apostila, auxilia-nos a viver com mais tranquilidade.

Reparar no que está acontecendo no nosso interior e reagir a contento é o segredo de uma vida mais
completa e acima de tudo repleta de canais sensíveis e abertos para receber novas energias e entrar em
plena harmonia com o universo.

Vídeo:

https://www.youtube.com/watch?v=Qa7DwuqCNjk

Respiração na prática meditativa


A respiração recebe atenção especial durante as práticas de ioga. Diversos estudos têm investigado os
efeitos delas sobre o sistema respiratório.

A figura a seguir mostra as fases da respiração durante a meditação:

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Bases psicofisiológicas da meditação

Figura 18. Fonte: http://lnasci.com/wp/archives/82.

A respiração de forma que aumente a concentração provoca melhora significativa na atenção e no


controle do estresse. Na forma mindfulness, um tipo específico de meditação, já citado anteriormente, está
o significado de consciência do bem-estar com foco no agora. (SHAPIRO; SCHWARTZ; SANTERRE, 2005).

A MEDITAÇÃO E A CURA
Segundo o site http://www.spm-be.pt/2013/01/7-Beneficios-da-Meditacao-para-a-saude.html (acesso em
20.mai.2015), há uma série de benefícios na meditação que confirmam uma expectativa de cura. Quanto maior
é nosso conhecimento em relação aos efeitos da mente no corpo, maiores são as chances de interferências
do sistema nervoso em diversas anomalias do organismo.

Isso começa pelo sistema imunológico. Segundo uma pesquisa desenvolvida pela Ohio State University, a
prática frequente aumentou consideravelmente a resistência a tumores e doenças causadas por microrganismos
em pessoas idosas. Outra constatação: o equilíbrio emocional permaneceu mais estável, e os problemas
desse tipo foram em grande parte reduzidos.

Outro fator associado à prática é, segundo a University of Western Australia, que as mulheres relaxadas
podem ser mais férteis. Mais um estudo, esse em homens na Turquia, descobriu que o estresse pode dificultar
a capacidade locomotora do espermatozoide, o que interfere diretamente na fecundação.

Reduz a pressão arterial, atua como anti-inflamatória e também pode contribuir para reduzir os sintomas
da síndrome do intestino irritável. Esses benefícios estão ancorados em pesquisas realizadas pela Harvard
Medical School, no caso da pressão arterial, e pela State University of New York, no do intestino irritável.

Podemos ainda citar diversos outros benefícios. No transcorrer da apostila, teremos um capítulo especial
da atuação da meditação no combate ao câncer. Se imaginarmos que o corpo é governado em sua plenitude

26
Bases psicofisiológicas da meditação

pela mente, e que ela é responsável por um conjunto de ações que nos mantêm vivos e saudáveis, é fácil
identificar a eficácia do processo.

Cuidamos geralmente dos efeitos e esquecemo-nos das causas. A vida moderna impõe uma rotina
estressante em todos os aspectos, e não precisa de muito para o homem ficar estressado, o que pode
ocorrer até mesmo com um indivíduo sozinho e sem problemas graves. Coloque-o em uma ilha, observe o
que ocorre dentro de uma cela de mosteiro ou na cadeia: se não tiver autocontrole, seus pensamentos o
pulverizarão. O homem é um ser social, que precisa de outros indivíduos a sua volta, como família e amigos.
Em uma multidão, poderá sentir-se só e desamparado, pois a mente é a condutora das atitudes e do corpo.

As técnicas de meditação influenciam diretamente sobre o organismo do homem, quer seja na área de
prevenção, tratamento ou cura. Refletem-se na saúde do ser humano, pois a atenção concentrada e plena
atua decisivamente no cérebro, no corpo e no espírito, numa visão holística (HILL, 2003).

A meditação exige uma atenção aos pensamentos. O objetivo é anulá-los, o que não é algo fácil, pois
exige um fluxo de análise de si mesmo, numa compreensão profunda, sem afastar a carga energética que
a mente esteja fazendo como fuga. Ficar parado e observar o que acontece no momento é um grande
passo para criar condições de sentir a dinâmica do pensamento, como se este funcionasse numa linguagem
subliminar. Essa concentração exige determinação e treino.

O ego coloca-se como vítima, sem consciência da identificação com pensamentos cotidianos, levando a
fugas descabidas. A observação da manifestação dos pensamentos, como um cientista de si mesmo, permite
perceber a ilusão, as ansiedades, os medos, desmontando emoções depressivas, substituindo pensamentos
nos porões da memória. A meditação entra “curando” com serenidade essas identificações, trazendo educação
emocional e psíquica.

A percepção do pensamento, no momento em que este incorpora o estado de atenção plena, não
encontra identificação com esse tipo de emoções. O estado de consciência com real percepção de si mesmo,
tornando o ser presente consigo mesmo de forma consciente, com mente silenciosa e novo condicionamento
de alta compreensão, destrói vícios de pensamento, por autoconhecimento e harmonia.

A atenção plena facilita a reformatação cerebral e consequentemente acaba por interferir no mecanismo
imunológico e de cura de doenças, sendo utilizada em clínicas especializadas com ótimos resultados.

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Bases psicofisiológicas da meditação

IMPORTÂNCIA DA MEDITAÇÃO PARA O SISTEMA IMUNOLÓGICO

Figura 19. Fonte: http://blogdogpap.blogspot.com.br/2014/02/10-motivos-para-consumir-polen.html.

O sistema imunológico é responsável pela defesa do organismo contra o ataque de invasores externos
(bactérias, vírus, substâncias tóxicas). A defesa do organismo ocorre por intermédio dos glóbulos brancos
(leucócitos), produzidos continuamente pela medula óssea e órgãos especiais. Os glóbulos brancos são células
com intensa atividade, que dependem de um aporte energético considerável para o seu funcionamento, o
qual está relacionado à respiração, por meio do gás oxigênio, e à circulação sanguínea, que proporciona a
chegada de nutrientes e gases até as células.

Essas células realizam dois fenômenos importantes, denominados fagocitose (englobar e destruir agentes
nocivos ao corpo) e diapedese (propriedade dos glóbulos brancos de atravessar as paredes dos vasos
sanguíneos para combater o foco de infecção). Sua forma de atuação pode ser bem observada na figura
a seguir. A defesa do organismo ainda envolve a quimiotaxia. Trata-se de um rastro químico seguido pelos
glóbulos brancos em direção aos antígenos que podem causar problemas.

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Bases psicofisiológicas da meditação

Figura 20. Atuação dos leucócitos. Fonte : http://autoimunes.no.sapo.pt/propriedades_dos_leucocitos.htm.

Todos esses processos ocorrem com uma eficácia maior se o corpo estiver em homeostase. Para tanto,
há necessidade cada vez mais evidente de cuidarmos da saúde no seu mais amplo sentido (bem-estar físico,
mental e social). A conquista da saúde está vinculada a diminuição da ansiedade e do estresse, motivo pelo
qual um cuidado maior com a completa harmonia entre mente e corpo é primordial, e um dos mecanismos
para tal conquista sem dúvida é a meditação.

As principais células do sistema imunológico pertencem a dois principais grupos: macrófagos e linfócitos.
Macrófagos destreom as células invasores fazendo o seu englobamento a digestão. Já os linfócitos detectam e
protegem o organismo por meio de substâncias específicas denominadas anticorpos. Existem também órgãos
que atuam no sistema imunitário: medula óssea, timo, linfonodos, tonsilas, baço, adenoides e apêndice cecal.

Em matéria publicada pela revista (http://veja.abril.com.br/noticia/saude/ciencia-prova-que-meditacao-


fortalece-o-sistema-imonologico/, acesso em 8.jul.2015), foi estabelecida uma relação entre o sistema
imunológico e a meditação, por meio de sua influência sobre uma enzima que atua sobre o DNA, a telomerase:

Co-autora do estudo, o primeiro a relacionar telomerase e meditação, Elizabeth Blackburn ganhou o prêmio
Nobel de Medicina em 2009 pela descoberta da telomerase e dos telômeros, sequências do DNA que ficam no
final dos cromossomos e tendem a se encurtar toda vez que uma célula se divide. Mas, sempre que a medida
dos telômeros fica baixa, a célula tende a não se dividir mais e pode, eventualmente, morrer. É aí que entra a
telomerase. A enzima é capaz de reconstruir o tamanho de um telômero, impedindo que ele entre em colapso.
Estudos anteriores já apontavam a telomerase como o elo entre o stress psicológico e a saúde física.

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Bases psicofisiológicas da meditação

VÁRIAS FORMAS DE MEDITAR


Independentemente de onde se esteja e do ambiente que o cerca, a prática da meditação é viável sempre.
É fundamental uma regra: a atenção plena. A manutenção da coluna ereta, sentado no chão, em pé ou
caminhando, pode ser um bom começo. Preste atenção ao seu ritmo respiratório. Um mantra pode ajudar.
Pode-se usar qualquer palavra ou frase, basta apenas repetir no momento da expiração.

O aspecto visual é um fator que pode também interferir positivamente na prática. Basta imaginar uma
paisagem, um local em que se esteve e de que se tenham boas recordações.

Meditação e atenção
Segundo o site http://mindfulnessbrasil.com/o-que-e-mindfulness/ (acesso em 8.jul.2015), as práticas de
mindfulness (atenção plena) são utilizadas na prática clínica contemporânea, principalmente na psicologia e
na medicina. A mindfulness pode ser entendida como um conjunto de práticas contemplativas de integração
mente e corpo baseadas na experiência do momento presente, com consciência plena e atitude aberta e não
julgadora a cada instante.

A função cognitiva que a meditação mais pode afetar é a atenção, pois ela é um treinamento de atenção
concentrada.

Aspectos cognitivos da criança e a meditação


Em um mundo em que a informática e o cotidiano caótico bombardeiam as crianças de todos os lados, elas
tendem a ficar inquietas. A pressão social faz com que desenvolvam responsabilidades tardiamente na grande
maioria dos casos, não as preparando para o mundo e para a concorrência. Junte a isso a crueldade de uma
sociedade que é extremamente competitiva e as famílias menos estruturadas e com valores diferenciados
e relativos. A criança desde cedo precisa estar disposta a lidar com essas dificuldades impostas por todos.

Nas escolas, as crianças começam o seu processo de amadurecimento. Algumas conseguem se desenvolver
e se adaptar com facilidade, outras ficam à margem. E como lidar com as dificuldades inerentes à vida
moderna? A resposta é simples, tanto nos primeiros casos, quando o sucesso está próximo, quanto no
segundo, onde a luta é inglória: a meditação.

Vamos aos fatos concretos: crianças necessitam de atenção, de foco, e isso é fornecido continuamente
pela prática da meditação. Algumas escolas já estão adotando a prática com bons resultados. Não se trata
de uma novidade pedagógica: em vários locais do mundo, muitas foram as tentativas de inserir disciplinas
que colaborem para o bom andamento do curso, na tentativa de fazer com que 30 ou 40 crianças fiquem
sentadas observando a figura dos professores de um lado para outro em sala de aula ou ainda com um livro
didático nas mãos fazendo leitura e interpretações chatas e cansativas.

Como já mencionado, as crianças vivem em um mundo cheio de apelos tecnológicos, onde o controle
remoto está ao alcance das mãos e a programação fica tão fragmentada quanto a vida social ou familiar.
Muitas delas já desde muito cedo manipulam com incrível habilidade as tecnologias vigentes, dando aulas de

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Bases psicofisiológicas da meditação

sua utilização aos adultos como um verdadeiro manual de instruções infantil! É de se pensar em reconstruir
um modelo educacional que parece ficou estagnado no tempo, aprisionado no período paleolítico, com um
giz em uma das mãos e um data show em outra.

A atividade da criança durante a idade escolar deve ser valorizada, ainda mais pelos profissionais de
educação, pais ou responsáveis. O período em que ela está em uma instituição de ensino juntamente com
os colegas pode trazer benefícios fundamentais, como o aprendizado de forma construtiva e coletiva, o
desenvolvimento da ética e de aspectos da vida em sociedade que estão negligenciados nos dias atuais.
Aprender definitivamente não passa por ser apenas um sujeito passivo do processo de aprendizagem.
Professores e alunos devem estar em sintonia para que a informação fique realmente como um legado, uma
maneira de aproximar a ficção de sala de aula com a realidade em que vivemos.

Crianças capazes de deixar a mente aberta ao aprendizado conseguem um grau de evolução espantoso.
Atingem conhecimentos plenos em pouco tempo porque um fator está a seu favor: o foco, a atenção e a
preocupação em entender o processo, buscar a aprendizagem como um todo.

O nosso ritmo de vida precisa andar de acordo com os nossos passos. Nós, adultos, não podemos correr atrás
das inovações desenfreadamente sem muita expectativa, apenas por correr, e legar a crianças e adolescentes
essa mesma perspectiva. A meditação parece ser a melhor saída para todos, independentemente da idade.
Conseguirmos dialogar com as nossas entranhas, descobrirmos como, na realidade, funciona o nosso corpo
e principalmente qual é a sua velocidade, é o caminho a ser trilhado por todos.

Mudanças são mais do que necessárias e bem-vindas, mas nenhuma consegue êxito se não tiver
cumplicidade, se todos não olharem para o mesmo horizonte, buscarem o mesmo foco. É possível: basta
pararmos um pouquinho com a correria para buscarmos em nós mesmos as respostas. Assim, as encontraremos
mais cedo do que imaginamos.

Figura 21. Fonte: http://www.children.dhamma.org/img/education-anapana-05.jpg.

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Bases psicofisiológicas da meditação

Figura 22. Fonte: http://autoconhecimento9.blogspot.com.br/2015/05/novas-evidencias-indicam-que-meditacao.html.

APLICAÇÃO CLÍNICA DA MEDITAÇÃO


Como ferramenta de tratamentos coadjuvantes, a meditação é o foco principal de determinados programas
de saúde. O Programa de Redução de Estresse Baseado em Mindfulness (MBSR – Mindfulness-Based Stress
Reduction), por exemplo, é um programa desenvolvido por Kabat-Zinn (2001), baseado em exercícios de
respiração e consciência corporal, no qual se observa redução do estresse e melhora no sofrimento físico e
mental. A imagem a seguir descreve como ocorre esse processo no cérebro.

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Bases psicofisiológicas da meditação

Figura 23. Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2009/11/656756-


estudo-liga-meditacao-a-menor-risco-de-ataque-em-cardiopata.shtml.

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Bases psicofisiológicas da meditação

Tratamento da dor
Podemos tentar definir a dor segundo o site http://www.methodus.com.br/artigo/975/meditacao-para-
combater-a-dor-cronica.html (acesso em 12.jul.2015):

A Associação Internacional para o Estudo da Dor (Iasp, na sigla em inglês), principal instituição
voltada para o tema, propôs um conceito de dor utilizado por grande parte dos profissionai da
saúde: trata-se de “uma experiênda. sensorial e emocional desagradável, associada a lesão tissular
real ou potencial, ou ainda descrita em termos que evocam essa lesão”. Especialistas ressaltam que
a dor é “sempre subjetiva”.

A análise da definição permite concluir que existe uma estreita relação entre uma lesão em um grupo
de células, em um tecido qualquer, que provoque desconforto, e a experiência sensorial que efetivamente
potencializa a sensação de dor. Lembremo-nos de situações cotidianas quando espetamos o dedo em
um objeto perfuro-cortante: a simples observação do fato já faz com que o estímulo ou a sensação seja
potencializado. A equação é simples: contusão gera desconforto, que, por sua vez, origina o estresse e o
medo. Ao somarmos todas as variáveis, surgirá uma situação que várias vezes acaba por escapar do controle.

A prática meditativa tem por finalidade acalmar a mente, controlar o estresse e regular a produção
de hormônios, como foi discutido no item relativo ao sistema endócrino. Por sua vez, essas substâncias,
juntamente com os impulsos nervosos, podem ser devidamente estabilizadas e organizadas de modo
a minimizar o processo. Nesse sentido, a meditação ajuda o cérebro a ter um melhor controle sobre o
processamento da dor e das emoções.

A efetiva intervenção baseada na mindfulness (atenção plena) para a promoção de saúde tem sido
estudada exaustivamente em diversas populações, incluindo pessoas com doenças como câncer, depressão,
ansiedade, dor, doenças cardíacas e transtornos relacionados ao trabalho com alto índice de estresse:

A dor física e o sofrimento emocional estão indissociavelmente interligados, como há muito tempo já sabe
a área “psi”, conforme ressaltam a psicanálise e a psicossomática. Qualquer dor é acompanhada de sofrimento
e resistência, num entrelace fisiopsíquico que não deixa dúvidas sobre a unidade e a dinâmica existentes
entre mente e corpo. Levando isso em conta, a prática da atenção plena em pacientes com dor crônica é
particularmente eficaz porque ajuda a distinguir, por meio da experiência pessoal e subjetiva, sensações físicas
da dor nos processos mentais e emocionais que aumentam o sofrimento. A dor passa a ser vista apenas como
“outra sensação”, e o medo de senti-Ia é reduzido de maneira significativa (fonte: http://www.methodus.com.
br/artigo/975/meditacao-para-combater-a-dor-cronica.html, acesso em: 12.jul.2015).

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Bases psicofisiológicas da meditação

Figura 24. Fonte: http://zenshinwellness.com.br/blog/2012/09/o-que-e-meditacao/.

A meditação e o movimento
Quando nos referimos à meditação e ao movimento, estamos falando da possibilidade de exercitar a
meditação correndo ou mesmo caminhando, mantendo a atenção necessária ao entorno, mas conseguindo
fazer a devida introspecção para obter resultados satisfatórios. Hoje em dia, o hábito de andar de bicicleta
ou correr é quase epidêmico, portanto, podemos nos aproveitar dele de maneira a possibilitar o processo de
meditação em situações como essas.

Os benefícios serão os mesmos, mas exigirá maior disciplina, sendo, para algumas pessoas, muito mais
prazeroso.

Figura 25. Fonte: http://luz-na-terra.blogspot.com.br/2013/01/meditacao-natureza-da-mente-semente-das.html.

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Bases psicofisiológicas da meditação

Figura 26. Fonte: http://sakuracentroterapias.blogspot.com.br/2012/06/momentum-meditacao-em-movimento.html.

O CÂNCER E A MEDITAÇÃO
Definição e características do câncer
Podemos definir câncer como um conjunto de diversas doenças que apresentam um ponto em comum:
o crescimento desordenado das células, que podem invadir tecidos e órgãos e espalhar-se pelo organismo,
causando metástases.

As causas são as mais diversas, podendo ser internas ou externas. Fatores ambientais, hereditariedade,
hábitos e estilo de vida, medicamentos, entre outros, geram informações errôneas, no processo de duplicação
celular, que levam o indivíduo a adquirir a doença. As que mais nos interessam no momento são as relacionadas
com tipo de vida e hábitos pouco saudáveis. O envelhecimento também pode ser um dos desencadeadores
do processo, uma vez que ocorre modificação nas estruturas celulares com maior frequência e exposição por
um período mais prolongado aos problemas derivados do ambiente.

Podemos citar ainda mudanças geradas no meio ambiente pelo próprio homem, que, além de desequilibrar
sua relação com a natureza, afetando a sobrevivência de todas as formas de vida, comprometem também
a própria saúde humana. A destruição quase que completa da camada de ozônio, por exemplo, permite a
passagem da radiação ultravioleta, que atinge de forma implacável a pele, levando a modificações no DNA.

Sabemos que células mutantes com grande potencial para se tornarem cancerígenas surgem a todo
momento em nosso organismo. Este exerce um controle eficaz por meio do sistema imunológico, que é capaz
de detectá-las e removê-las.

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Bases psicofisiológicas da meditação

Figura 27. Origem do câncer. Fonte: http://www1.inca.gov.br/conteudo_view.asp?id=322.

O problema é que nem todas são rastreadas devidamente e removidas, pois esse processo depende de
um gatilho genético que poderá ser disparado a qualquer momento ou ainda de rastros químicos deixados
por tais células, que na verdade são complexos geralmente proteicos gerenciados por moléculas de DNA.

Existem diversos tipos de tratamento, incluindo cirurgias, quimioterapias e a associação entre ambas,
radioterapia etc. Mais recentemente, foi inserida no processo a meditação como técnica de suporte.

Efeitos da meditação nos casos de câncer


A meditação age na prevenção de doenças em vários níveis, pois o bem-estar proporcionado por ela gera
um estado livre de doenças. Como a meditação traz uma visão assertiva de si mesmo, mudando o sentido
da vida e da morte, a partir de uma consciência ampliada, ela fortalece o sistema imunológico do organismo
(ELIAS, 2003).

Existem determinadas situações, como estresse, medo, ansiedade, tristeza, mágoa, ressentimento, culpa,
que podem bloquear a ação do sistema imunológico ou dificultá-la ao extremo. Os benefícios da meditação
estão vinculados à redução do tônus simpático, que está associado à ansiedade, e ao aumento da atividade
parassimpática, que está associada à calma, à tranquilidade, bem como ao aumento da melatonina, hormônio
que estimula a ação do sistema imunológico.

Os benefícios do uso da meditação no combate ao câncer se mostram pela eficiência dessa prática nos
cuidados paliativos, pelo fato de mudar o foco de atenção do ser humano, levando-o a um relaxamento que
promove alívio do estresse e saúde mental.

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Bases psicofisiológicas da meditação

Figura 28. Representação gráfica do cuidado humano. Fonte: http://aquichan.


unisabana.edu.co/index.php/aquichan/article/view/126/253.

Figura 29. Fonte: http://uniaoglobaldeatitudes.blogspot.com.br/p/o-movimento-de-conscientizacao-da-uga.html.

Abordando essa questão sob um viés religioso, nas Escrituras diz-se que Deus fez o homem à sua imagem
e semelhança. Por conseguinte, como um espelho, se mudamos a imagem sobre nós mesmos, o que consiste
na meditação em Deus como centro de toda inteligência e luz, tal reprogramação da mente exerce influência
sobre o corpo, tornando possível a cura do câncer.

38
Bases psicofisiológicas da meditação

A ciência simplesmente não tem os instrumentos para observar tal fenômeno, que é, ao mesmo tempo,
vivo e infinito, em que o organismo do ser humano é comparado a um rio, que não se permite parar para ser
analisado. O pensamento concentrado em energias positivas, a meditação transcendental, faz verdadeiras
mudanças no ser humano.

Uma vez que a medicina tradicional se ancora em uma base científica que requer que os fenômenos
sejam intrinsecamente provados, convencendo os olhos naturais, é notório que o poder da mente, conforme
colocado aqui, é desprezado por ela. No entanto, acreditar que por meio do pensamento é possível destruir
uma célula cancerígena torna-se viável quando se considera o aumento da defesa do organismo através do
carinho do indivíduo consigo mesmo, da meditação focada na assertiva de que ele é realmente saudável.

Figura 30. Fonte: http://autoconhecimento9.blogspot.com.br/2015/05/novas-evidencias-indicam-que-meditacao.html.

O câncer é uma multiplicação celular que sofre algum tipo de problema em sua regulação. Assim, conforme
já exposto anteriormente, se as pessoas conseguem controlar o fluxo de ar e de sangue por intermédio da
meditação, e se isso interfere na atividade metabólica celular, estamos tratando de uma arma poderosa cujo
poder na cura ou na prevenção do câncer deve ser no mínimo, investigado.

Desse modo, a meditação merece um novo olhar e mais investimentos em termos de pesquisa, pois
se apresenta como instrumento importante nos cuidados do ser humano, holisticamente (como um todo)
falando, por reduzir a severidade da dor do indivíduo acometido por câncer.

MEDITAÇÃO E SISTEMA DIGESTÓRIO


Ao longo da apostila, podemos perceber em diversos momentos a importância da meditação para a vida
moderna. Vários são os motivos que nos levam a crer que há uma enorme necessidade de pararmos para
que nosso organismo possa adaptar-se às características inerentes a essa vida agitada.

À medida que apenas nos mantemos no pragmatismo cotidiano, abrimos uma enorme lacuna para que
situações desagradáveis possam nos acometer. Isso pode trazer vários efeitos maléficos. Sentimos que nosso
organismo chega ao limite, e, por consequência, isso traz perturbações em todos os sistemas, tendo como
alvo fundamental o nervoso e o endócrino. Ambos já foram discutidos na apostila. Agora vamos nos fixar em
implicações importantes da meditação em outros aparelhos, neste caso, o sistema digestório.

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Bases psicofisiológicas da meditação

O processo digestório de macronutrientes está associado a ações enzimáticas e hormonais, que podem
sofrer alterações importantes dependendo do estado emocional da pessoa envolvida. E é nesse ponto que
a meditação passa a desempenhar um importante papel no funcionamento do sistema digestório, pois, em
geral, entre as queixas mais frequentes das pessoas sob estresse estão dificuldade de digestão, dores e
acidez no estômago, produção exagerada de saliva e contrações no esôfago que se propagam por todo o
tubo digestório. A meditação, por sua vez, conforme reiterado anteriormente, ajuda no controle da ansiedade
e do estresse.

O conhecimento prévio da fisiologia do trato gastrointestinal (TGI) ajuda no entendimento das mudanças
provocadas em nosso organismo pela ação do estresse e da ansiedade, que alteram substancialmente desde
o nível molecular até o sistema nervoso central. Assim, apresentamos a seguir alguns detalhes acerca da
anatomia e fisiologia do sistema digestório.

Anatomorfofisiologia do sistema digestório


O sistema digestório é composto por um longo tubo cheio de curvaturas, secreções e tecidos especializados.

Boca: canal onde o alimento sofre transformações físicas por meio da mastigação e químicas pelas enzimas
produzidas nas glândulas salivares.

Faringe: canal por onde circulam o ar e os alimentos.

Esôfago: ducto musculoso que liga a faringe ao estômago.

Estômago: trata-se de uma dilatação do esôfago, órgão importante onde ocorre a digestão de parte dos
lipídios ou gorduras e das proteínas. O estômago é uma bolsa muscular responsável pela digestão parcial
dos alimentos. Apresenta um pH diferente (de 1,0 a 2,0) do restante do organismo, responsável por criar
o ambiente ácido, por meio da produção de HCl, propício para a atuação da pepsina. Identificamos quatro
regiões: cárdia, fundo, corpo e piloro. Possui cerca de 50 mL de volume quando vazio, mas, após a ingestão
de alimentos, pode se expandir para até 4 L.

Intestinos: neles, ocorre a maior parte do processo digestivo, onde diversas enzimas terminam a digestão
e os nutrientes já estão no tamanho adequado para adentrar a corrente sanguínea, o que ocorre ao longo
do intestino delgado. No intestino grosso, ocorre a absorção de água e a formação das fezes. O intestino
termina no ânus.

Glândulas anexas: glândulas salivares, fígado e pâncreas.

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Bases psicofisiológicas da meditação

Figura 31. Anatomia do sistema digestório. Fonte: http://revista-biogenese.


webnode.pt/aulas/ensino-fundamental/sistema-digestorio/.

Controle nervoso do sistema gastrointestinal


Apesar de possuir sistema nervoso próprio, denominado intrínseco, o trato digestório também é regulado
em parte pelo SNA (sistema nervoso autônomo).

O sistema nervoso extrínseco do TGI é a inervação simpática e parassimpática, localizada nos plexos da
submucosa e no miontérico na própria parede do tubo, onde ocorre comunicação com os sistemas simpático
e parassimpático.

Com o contato visual, a imaginação, o odor e o sabor dos alimentos, o nervo vago é estimulado e vai gerar
a liberação de gastrina, acetilcolina e histamina, que interagem com receptores de células parietais.

Na fase gástrica do processo, diversos fatores contribuem para ativação do nervo vago na parede gástrica,
como estimulantes, cafeína e até mesmo aumento de volume gástrico. Ocorre então a produção de HCl. A
acetilcolina e os peptídeos, presentes no estômago, estimulam a produção de gastrina, proporcional também
ao aumento na quantidade de HCl. No final, ocorre um tamponamento proporcionado pelas proteínas

41
Bases psicofisiológicas da meditação

presentes na dieta alimentar. Para compensar o fenômeno, ocorre maior produção de gastrina e do próprio
ácido, com o principal objetivo de manter o pH ácido do estômago.

O TGI apresenta seu próprio sistema neural, com o qual todas as funções são controladas.

A comunicação entre os neurônios do sistema digestório ocorre por intermédio de neurotransmissores. Os


principais são:

• Acetilcolina: responsável pela musculatura lisa, pelo relaxamento dos esfíncteres e sua produção
ocorre nos neurônios colinérgicos.

• Norepinefrina: produzido pelos neurônios adrenérgicos, é responsável pelo antagonismo em relação à


acetilcolina no que diz respeito à musculatura lisa. Ainda aumenta a secreção intestinal e pancreática.

• Bombesina (GRP): produzida pelos neurônios da musculatura gástrica, sua principal função é aumentar
a secreção do hormônio gastrina.

Hormônios relacionados ao TGI


São de extrema importância, pois regulam todas as funções do TGI, como contração e relaxamento de
musculatura lisa e esfíncteres, liberação de enzimas e até inibição da secreção dos demais hormônios.

Os polipeptídeos intestinais podem ser:

• Hormônios: substância produzida por células endócrinas. Sua secreção é via circulação porta, passando
posteriormente pelo fígado até atingir a célula-alvo para poder penetrar nos devidos receptores e
desenvolver seu papel.

• Parácrinos: hormônios que atuam no próprio tecido onde são secretados. Conseguem atingir as
células-alvo por difusão simples. Somastostatina é o principal peptídeo de ação parácrina. Sua função
é inibitória sobre todo o sistema digestório.

• Neurócrinos: liberados de acordo com o potencial de ação. Sua difusão ocorre através das sinapses.

O quadro abaixo identifica alguns hormônios e seus respectivos locais de produção.

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Bases psicofisiológicas da meditação

Principais hormônios do sistema digestório

- Gastrina: Produzido pelas células G do estômago em resposta à alimentação (quimo), esse hormônio
atua aumentando a mucosa da parede gástrica e contribui para o esvaziamento do estômago.

Importante: O ambiente ácido do estômago é neutralizado pelo bicarbonato de sódio que é produzido pelo
pâncreas, estimulado pela gastrina.

O controle da gastrina também pode ser feito pela secretina, hormônio produzido no próprio intestino
delgado quando em contato com o alimento.

– Colecistocinina (CCK): Sua produção é estimulada pelos lipídios e proteínas que adentram o intestino
delgado. Estimula a contração da vesícula biliar, proporcionando a liberação da bile armazenada. Produz
também o inibidor gástrico, que atua no estômago diminuindo os movimentos peristálticos. Consequentemente,
aumenta a permanência do quimo no duodeno, permitindo maior interação com as enzimas digestivas.
Promove também a digestão e a absorção dos lipídios. Outras ações importantes: estimula o pâncreas a
produzir e liberar diversos grupos enzimáticos responsáveis pela digestão de diversos nutrientes; estimula o
crescimento do pâncreas exócrino e da vesícula biliar.

– Secretina: É liberada pelas células S do duodeno em resposta aos íons positivos de hidrogênio ácidos
graxos presentes no lúmen intestinal. Atua no sentido de neutralizar a acidez do estômago por meio de
secreções do pâncreas e da vesícula biliar. Esse processo é de capital importância, uma vez que a atividade
enzimática nessa região deve estar entre 6,0 e 8,0.

- Peptídeo insulinotrópico-dependente (GIP): É produzido nas células do intestino delgado (duodeno e


jejuno). Podemos afirmar que é o único dos hormônios gastrointestinais que é secretado em resposta aos
três grandes grupos de nutrientes: aminoácidos, ácidos graxos e glicose. Tem como função estimular a
produção de insulina pelo pâncreas e inibir a secreção gástrica.

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Bases psicofisiológicas da meditação

Figura 32. Fonte: http://www.scielo.br/img/revistas/rn/v22n4/a09fig01.gif.

Inter-relação entre processo digestório, meditação e dieta


Sabe-se que o processo digestório, em termos resumidos, consiste em transformar os alimentos em partes
cada vez menores, para que os nutrientes sejam absorvidos pelo organismo, a fim de serem usados como
energia e nutrição das células. A qualidade dessa energia e dessa nutrição está diretamente relacionada à
qualidade dos nutrientes ingeridos, alguns dos quais influenciam no estado emocional, que, como vimos, é
igualmente influenciado pela meditação. Dessa inter-relação, decorre mais um motivo, entre outros, para a
adoção de uma dieta balanceada e rica em determinados nutrientes proporcionados por alguns alimentos.

O feijão e a lentilha, por exemplo, são ricos em triptofano, aminoácido essencial na formação da serotonina,
que, como vimos anteriormente, é de vital relevância para o combate ao estresse. Cereais integrais não podem
faltar, pois são ricos em vitaminas, em proteínas consideradas magras e em diversos aminoácidos essenciais.
Outro aliado importante é a banana, porque possui triptofano, uma proteína que pode ser convertida em
serotonina, além de vitaminas do complexo B e potássio. Sementes como castanha-do-pará, castanha-de-
caju e amêndoas também são amplamente indicadas no combate ao estresse, pois, além de vários desses
componentes, como triptofano e vitaminas do complexo B, possuem ainda magnésio. Deve-se priorizar o
consumo de carnes magras, principalmente de peixes e, entre estes, os de águas profundas, visto que o
ômega-3 neles presente é um importante auxiliar no processo de controle da ansiedade.

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Bases psicofisiológicas da meditação

A proposta de integrar meditação e alimentação adequada (sem falar da importância de diversas outras
práticas, como exercício físico, leitura etc.) tem por princípio demonstrar que o conjunto faz com que possamos
sentir realmente a melhoria sem o auxilio de medicamentos. Viver melhor depende de uma série de fatores.
Como fatores estressantes são inerentes ao mundo moderno, resta-nos saber como e com que armas podem
combatê-lo de uma forma eficiente. Quando não nos encontramos bem de saúde, tudo parece sombrio e
pouco ou nada agradável, assim ficamos vulneráveis, e nosso sistema imunológico fica enfraquecido.

A alimentação correta vai gerar substâncias que serão incorporadas pelo organismo para que possa
realizar todas as reações químicas necessárias para a manutenção da vida.

Segundo reportagem de Luciana Carvalho na revista Exame (http://exame.abril.com.br/estilo-de-vida/


noticias/10-alimentos-que-ajudam-no-combate-ao-estresse, acesso em 22.mai.2015), existe a possibilidade
de potencializar os efeitos do estresse no cotidiano com uma alimentação equivocada. Segundo o texto, é
possível estabelecer uma melhor qualidade de vida desde que consigamos nos alimentar de forma correta, a
cada três horas, preferencialmente, e restringindo a utilização de alimentos industrializados. A atividade física
é fundamental também para que ocorra a plena harmonia corporal.

Figura 33. Nova pirâmide alimentar. Fonte: http://www.sobiologia.com.br/figuras/Corpo/piramidealimentar_m.jpg.

Ainda a propósito da conexão entre dieta adequada e meditação, vale a pena assistir a um vídeo que trata
do importante papel da enzima telomerase, já citada anteriormente, que retarda o envelhecimento celular

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Bases psicofisiológicas da meditação

e que, segundo alguns estudos, apresenta-se em maior quantidade naqueles que sabem relaxar – daí a
influência benéfica da meditação – e mantêm uma alimentação adequada.

https://www.youtube.com/watch?v=1rrqLStTwOo

O dia sempre começa muito cedo e a hora de ir para a cama raramente é a adequada, impedindo que a
maioria das pessoas consiga dormir as 8h recomendadas por dia. “Com a correria e o estresse que essa rotina
traz, é comum que ocorram problemas com a digestão, muitas vezes, causados pela pressa e as más escolhas
na alimentação”, afirma a nutricionista especializada em nutrição saudável Selva Fierro.

Não existe nenhuma comprovação científica de que o estresse possa causar má digestão ou qualquer
distúrbio gástrico, mas entre seus efeitos, alguns sintomas podem se manifestar no aparelho digestivo. Os
mais comuns são o aumento da acidez e dores abdominais. Isto ocorre porque o estômago produz ácidos que
auxiliam no processo digestivo, porém, em situações de estresse, há um aumento significativo da produção.
(Fonte: http://exame.abril.com.br/estilo-de-vida/noticias/nao-deixe-o-estresse-atrapalhar-sua-digestao,
acesso em: 12.jul.2015).

AUTOCONHECIMENTO E DISCERNIMENTO
Ao pé da letra, autoconhecimento significa conhecer a si mesmo, saber enfrentar seus limites e conseguir
conviver harmoniosamente com suas derrotas. Ter discernimento sobre algo é apreender o caminho a ser
percorrido.

Unindo as duas pontas, tem-se alguém compenetrado em suas capacidades e limites, que se conhece, que
sabe claramente onde pode pisar com firmeza, que compreende o mundo como ele realmente se demonstra
a sua frente, com todas as qualidades e defeitos inerentes a qualquer ser vivente. Conquistamos isso por
meio de disciplina espiritual e da prática meditativa.

A meditação é um caminho concreto, que aponta para a serenidade, que é princípio, meio e fim de tudo.
Sabendo lidar com as adversidades de um mundo conturbado, conseguiremos nos desvencilhar de um
emaranhado de nós que nos prende à mediocridade.

Resumindo, é por meio do autocontrole que nos conhecemos de fato. A grande teia da vida ata-nos de
maneira tal que, mesmo lutando contra uma série de fatos absolutos, procuramos nos enganar e fingir que
isoladamente conseguiremos atingir nossos principais objetivos.

MEIO AMBIENTE, MEDITAÇÃO E SAÚDE HUMANA


A preocupação humana com o meio ambiente é uma forma de sanar todas as feridas da humanidade.
Temos uma situação em que o planeta todo está carente de atenção, e medidas urgentes devem ser tomadas
imediatamente. Em contrapartida, observamos na tabela a seguir o descaso em relação a um dos principais
problemas humanos, a exploração desenfreada e descabida visando apenas o lucro imediato, sem a devida
preocupação com o futuro. E a saúde, onde entra em tudo isso?

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Bases psicofisiológicas da meditação

É fácil perceber que integrar a saúde do planeta com a do ser humano é fundamental, e o ponto de
equilíbrio pode estar na meditação, pois esta é um exercício de autoconhecimento que nos proporciona um
contato direto do homem com o meio ambiente.

Figura 34. Fonte: http://www.mundoeducacao.com/upload/conteudo_legenda/b6f087c2047c0e1680e4632578824ed3.jpg.

Tabela 1: Desmatamento

Desmatamento Observado Total Desmatado (ha) Intervalo (anos) Taxa anual (ha)
Período de 2012 a 2013 23.948 1 23.948
Período de 2011 a 2012 21.977 1 21.977
Período de 2010 a 2011 14.090 1 14.090
Período de 2008 a 2010 30.366 2 15.183
Período de 2005 a 2008 102.938 3 34.313
Período de 2000 a 2005 174.828 5 34.966
Período de 1995 a 2000 445.952 5 89.190
Período de 1990 a 1995 500.317 5 100.063
Período de 1985 a 1990 536.480 5 107.296

Fonte: https://www.sosma.org.br/projeto/atlas-da-mata-atlantica/dados-mais-recentes/.

As figuras são antagônicas: enquanto uma delas nos faz acreditar nas boas intenções humanas, a segunda
traz números importantes sobre o desmatamento e é preocupante, pois identifica uma boa parcela que está
preocupada apenas com o lucro rápido e fácil.

Enquanto a natureza agoniza, o universo humano passa por inúmeras reações importantíssimas. Falamos
por diversas vezes no transcorrer do texto sobre a importância da prática meditativa. E coloca-nos em contato
íntimo com nosso interior e integra mente e corpo de forma a nos tornar mais receptivos aos apelos, a cada
dia mais intensos, provenientes da destruição do cenário externo, que é a natureza. Se nosso interior não
estiver em perfeita sintonia, não conseguiremos ser plenamente saudáveis, segundo o conceito de “saúde”
da Organização Mundial de Saúde.

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Bases psicofisiológicas da meditação

De modo explícito, a natureza mostra-nos que somos frágeis assim como ela e que precisamos um do
outro, da sombra de outra árvore, do sol que vem em meio às folhagens, da água das chuvas, do solo fértil,
do ar que respiramos. Somos um só corpo. Estamos completamente fragmentados no mundo, soberanos com
nossa superior inteligência que nos serviu até agora para atrair diversos tipos de problemas. A comunhão
entre todos os seres é uma dádiva; possuímos a perspicácia de conhecer e poder de modificar o que está a
nossa volta. Falta atitude, falta foco, atenção, concentração e conhecimento de si mesmo e do mundo que
nos rodeia, e todos estes são elementos trabalhados pela meditação.

A paz interior depende diretamente da exterior. Ao observar a figura a seguir, o que vem à sua mente de
imediato?

Figura 35. Fonte: http://wallpaper.ultradownloads.com.br/133144_Papel-de-Parede-Natureza--133144_1440x900.jpg.

É importante o debate sobre a interação do homem com o meio ambiente, que é frágil, aparentemente
simples, mas, se analisarmos a figura com foco nas relações vitais, perceberemos que tudo se encaixa
perfeitamente. A interferência humana nesse espaço deve ser benéfica, pois é plenamente possível a
sobrevivência harmoniosa. Conseguiremos inserir o ser humano na paisagem de maneira a contribuir ou pelo
menos minimizar os efeitos devastadores da ocupação dos espaços pelo homem.

A natureza fornece elementos imprescindíveis para a nossa sobrevivência, e é primordial estabelecermos


uma relação de respeito e cumplicidade. Utilizamos a matéria e procuramos devolver ou pelo menos diminuir
os efeitos nocivos da humanidade.

A grande lição que deveríamos aprender ao analisar a imagem apresentada é a paz que emana.

ALGUNS EFEITOS FISIOLÓGICOS E BIOQUÍMICOS DA MEDITAÇÃO


As reações metabólicas que ocorrem em nosso organismo são fundamentais para a fisiologia celular e
consequentemente para todo o corpo. Um exemplo que pode esclarecer um pouco da bioquímica é a reação
de produção de energia no interior da célula.

A molécula de glicose sofre diversas reações em duas fases distintas. A primeira é considerada anaeróbica,
ocorre no citosol (líquido que banha o citoplasma da célula) e não requer a presença do gás oxigênio. Ocorre
então a produção de piruvato, juntamente com duas moléculas de ATP. O processo prossegue com a entrada

48
Bases psicofisiológicas da meditação

do piruvato na mitocôndria (organela celular), que é oxidado a acetato para posterior combinação com a
coenzima. Assim, temos o chamado ciclo de Krebs e a cadeia transportadora de elétrons. No final, temos a
produção da energia necessária para a continuidade da vida e a liberação do gás carbônico.

O exemplo está resumido e serve apenas para demonstrar que a chegada às células da glicose e do gás
oxigênio proveniente da ventilação é dependente de um veículo em comum, o sistema circulatório, que
é gerenciado pelo sistema nervoso e endócrino. Assim, os sistemas não podem ser compartimentados e
entendidos como estruturas dissociadas.

Caso tenhamos o controle dos processos vitais, os mecanismos ocorrem naturalmente e sem dificuldade,
e uma alternativa possível para viabilizar esse controle é a meditação, por meio da qual é possível, por
exemplo, postergar o aporte de oxigênio e glicose para as células, sem alterar o resultado final, ou seja, a
produção de ATP.

Um texto veiculado no site http://psiquecienciaevida.uol.com.br/ESPS/Edicoes/67/artigo225287-2.asp


(acesso em 7.jul.2015) apresenta alguns dos efeitos bioquímicos da prática da meditação, por exemplo, o
aumento da produção de neurotransmissores como a serotonina, levando a melhorias cognitivas, calma e
relaxamento, entre outras.

Em termos fisiológicos, pensamentos de origem negativa oriundos do córtex pré-frontal imediatamente


caminham para o sistema límbico que está associado a emoções, ocorrendo então a produção do cortisol
(hormônio do estresse). Isso gera uma sensação de mal-estar e desconforto que pode ser momentânea ou
prolongar-se por horas ou dias. Imaginando que o processo ocorra sucessives vezes, o sistema imunológico
fica frágil.

A meditação atua como uma fonte alternativa ao uso de medicamentos que fazem aumentar a receptação
de serotonina e dopamina pelo cérebro, ambos neurotransmissores ligados à sensação de bem-estar. Enfim,
vários são os benefícios da meditação, e eles podem ser vistos nos anexos desta apostila.

APRENDIZAGEM, ATENÇÃO E CONCENTRAÇÃO


Todas estas mudanças acarretam em melhoras significativas da atenção e concentração e consequentemente
da função cognitiva, aumento da sensação de calma, relaxamento e alegria espontânea, maior sociabilidade,
melhores estados de humor, melhor sono e função imunológica. As implicações para a Psiquiatria são ainda
maiores, já que a meditação pode representar um tratamento alternativo (primário ou secundário) de baixo
custo com pouca ou nenhuma necessidade de atualização e com técnicas que podem ser incorporadas ao estilo
de vida de qualquer indivíduo. (Fonte: http://psiquecienciaevida.uol.com.br/ESPS/Edicoes/67/artigo225287-4.
asp, acesso em: 8.jul.2015).

Para aprender e conseguir assimilar, é importantíssimo manter atenção e o foco total. Conseguir essas
proezas não é uma tarefa das mais fáceis, principalmente em se tratando de jovens e adolescentes. Existem
apelos muito mais significativos do que ficarmos o tempo todo ou algumas horas por dia sentado, ouvindo
a explanação de alguém sobre algum assunto pelo qual não temos o menor interesse. Somos obrigados por
uma estrutura social que criou a escola, a faculdade, o emprego segundo esse modelo e nos deu prontos,
sem direito a reclamações.

49
Bases psicofisiológicas da meditação

A prática constante da meditação vem ajudando muitas pessoas ao redor do mundo a se adaptar às
condições impostas pelo modelo social e escolar que existe atualmente. Apenas uma das extremidades
ceder não levará a absolutamente nada. Aqui também é pertinente estudarmos e discutirmos as formas de
modificação de uma estrutura que com o passar do tempo foi ficando cada vez mais obsoleta. Constantemente
estamos procurando inovações que façam do modelo educacional vigente algo mais concreto e adaptado às
situações do cotidiano.

No texto disponível em http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/educacao/conteudo_391596.shtml


(acesso em 12.jul.2015), podemos conhecer um exemplo de implantação e sucesso da prática meditativa
nas escolas como auxílio no controle da ansiedade e do estresse, além de influência positiva na concentração
da criança.

É bem verdade que já ocorreram mudanças no processo educacional em alguns setores. Citamos como
exemplo a possibilidade de estudarmos em casa via EAD, no qual adaptamos o estudo ao melhor horário e
conseguimos um grau de concentração melhor, além de nos organizarmos de maneira mais eficiente.

O modelo atual de aprendizagem precisa ser revisto no sentido de proporcionar aos discentes um
aprendizado mais consistente e menos estressante. Várias regiões do cérebro, dentre elas o lobo frontal e
a área da visão, no posterior do sistema nervoso central, são acionadas durante um processo de leitura e
assimilação. Assim, entender, assimilar e decodificar as mais diversas disciplinas é um grande desafio a ser
conquistado.

MEDITAÇÃO E O MUNDO CORPORATIVO


A citação a seguir serve como subsídio para que possamos compreender a maneira como a prática
meditativa vem sendo incorporada à área corporativa com resultados satisfatórios, mesmo aquelas mais
céticas ou em ambientes pouco convencionais:

A revista Você S.A. publicou na edição de março/2014 um artigo sobre foco e produtividade, onde Chade-
Meng Tan do Google é o destaque com seu programa de desenvolvimento profissional com base na meditação.
Segundo ele, estudos provam que a meditação estimula a ínsula, região cerebral ligada ao desenvolvimento
da autoconfiança, e ativa o córtex pré-frontal, responsável pela tomada de decisões e pelo pensamento
estratégico (fonte: http://www.alimentoevoce.com.br/2014/05/meditacao.html, acesso em 12.jul.2015).

No mundo corporativo, cada vez mais, a descoberta da prática meditativa está associada a um rendimento
maior de produtividade, uma vez que o foco, a atenção e a percepção são potencializados pelos períodos
de descanso produtivo. Em contrapartida, a rotina, principalmente em grandes empresas, acarreta certos
níveis de exigência e competitividade que são estressantes. A obrigatoriedade de estar disponível sempre
e permanentemente disposto, as reuniões intermináveis e os prazos curtíssimos para realização de tarefas
complexas são combustíveis que acabam por levar a consequências desagradáveis. A meditação podem ser
uma das mais vantajosas saídas, uma vez que não exigem um local especial, nem grandes investimentos
por parte dos empresários, e os resultados são praticamente instantâneos, na grande maioria dos casos.
Considerando todas as perspectivas, a tentativa é válida.

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Bases psicofisiológicas da meditação

Ainda no campo corporativo, porém migrando para a saúde, um hospital é um local onde todas as emoções
humanas acabam por se encontrar e, normalmente, o que prevalece nesse ambiente é o sentimento negativo.
Em várias unidades de saúde, como relatado em texto anexo, a adoção da meditação já faz parte do cenário
tanto para funcionários quanto para pacientes, podendo estender-se a familiares. Invariavelmente, quando
a necessidade conduz a este tipo de ambiente por uma questão de risco à saúde, procuramos refúgio em
palavras, pessoas ou locais para que façamos uma reflexão que atenue nossa situação de fragilidade.

Quanto aos profissionais de saúde, também estão expostos diariamente a momentos de extrema ansiedade
e estresse. Para essas pessoas, o preparo psicológico é fundamental. É preciso que tenham a devida segurança
e possam atuar de maneira assertiva até mesmo em situações nas quais a tomada de decisão é rápida e
da qual depende a vida de alguém. Por tudo que foi demonstrado, a eficiência não está associada a longas
jornadas de trabalho, a plantões intermináveis. Profissionais de saúde, pacientes e familiares devem estar
dispostos a colaborar para o encaminhamento seguro das decisões tomadas e do tratamento a ser realizado.

Figura 36. Fonte: http://www.megajogos.com.br/jogador/cristian/blog/post-488060.

CASO CLÍNICO
Para concluir o projeto pedagógico, relatarei uma conversa que transformei em entrevista efetuada com
uma pessoa que passou a praticar meditação a partir de uma série de acontecimentos em sua vida, após
alguns anos sofrendo com inúmeros problemas de saúde.

Nomes, locais e alguns acontecimentos serão modificados/omitidos por motivos éticos.

Em que momento você resolveu começar a prática da meditação?

Resp. Quando já havia tentado tudo. Todos os recursos estavam esgotados, tinha fortes dores de cabeça,
enxaqueca a ponto de perder dias de trabalho. Com o passar do tempo, outros acontecimentos desagradáveis
se acumulavam, como hipertensão, síndrome do pânico...

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Bases psicofisiológicas da meditação

Como a meditação surgiu na sua vida?

Resp. Uma amiga praticante de Yoga havia tentado me levar por diversas oportunidades e eu incrédula,
jamais fui. Cansada de recorrer a medicações, médicos, hospitais, pensei em aceitar.

Quando você começou a sentir os efeitos benéficos da prática?

Resp. A partir das primeiras semanas. Logo de cara comecei a sentir algumas modificações. A calma
e o controle, que sempre foram complicados em minha vida, foram sendo aos poucos conquistados. Nos
primeiros momentos, achei ser impossível conseguir a tão propalada paz interior. As tentativas se sucederam
com muito receio, várias vezes pensei em desistir, não conseguia a concentração e o foco necessário e tudo
me parecia confuso. Mas a persistência foi recompensada.

E as dores?

Resp. Aos poucos as medicações foram diminuindo, as crises de enxaqueca também. Não acreditava
no que estava acontecendo, estava conseguindo manter a calma e a serenidade em situações em que
anteriormente não conseguia. As tensões foram diminuindo, a administração do tempo, que estava complexa,
difícil de ser conseguida, passou a ser uma constante em minha vida. Minha família também sentiu os efeitos
da mudança. Falar que a dificuldade desapareceu completamente é uma inverdade, as conquistas ocorrem
aos poucos.

Há quanto tempo é praticante da Yoga?

Resp. Três anos aproximadamente, entre tantas idas e vindas.

E a depressão e a síndrome do pânico?

Resp. Para falar a verdade, no começo continuei normalmente com a medicação. O médico havia receitado
cloridrato de fluoxetina 20 mg duas vezes ao dia e Lexotan 3 mg duas vezes ao dia também. Comentou
comigo que os efeitos começariam a ser sentido efetivamente após 90 dias. O acompanhamento psicológico
seria aconselhável.

Como minha vida pessoal e profissional estava complemente comprometida, resolvi fazer tudo o que foi
solicitado pelo médico. A prática da meditação veio depois de algumas semanas, e hoje percebo que deveria
ter começado muito tempo atrás.

Hoje não tomo mais remédios para ansiedade, depressão, síndrome do pânico ou qualquer outra moléstia,
é preciso aprender a ouvir o corpo, endender o que ele está tentando nos passar o tempo todo.

Os apelos são constantes e não damos o tempo necessário para que possamos interpretar as diversas
etapas que passamos na vida e as constantes modificações em nosso organismo.

Esse relato foi mais uma demonstração, mesmo que pequena, da importância da prática da meditação.
Não nos referimos apenas aos benefícios em relação às anomalias da vida moderna. Sabemos hoje que a

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Bases psicofisiológicas da meditação

aplicação da meditação pode ser extremamente importante em todos os setores. Hoje, crianças e adultos
podem e devem se beneficiar dela para ajustar o foco, melhorar consideravelmente a atenção e se adaptar
ao mundo moderno.

Todos os indícios demonstram que a possibilidade de termos uma vida cada vez mais agitada é mais do
que real, é efetiva. A expectativa com a informatização e a otimização do tempo é muito preocupante, e
cada vez estamos nos afastando mais das pessoas que estão a nossa volta. Verificando o que acontece no
interior de trens de metrô, ônibus, restaurantes, faculdades e até mesmo no próprio ambiente de trabalho,
as pessoas estão conectadas, como que ligadas por um cordão umbilical à vida moderna e à tecnologia.

O homem precisa de um contato mais estreito com a natureza e com as demais pessoas. Estamos
caminhando a passos largos para um individualismo perigoso. Acredito que a meditação seja uma das
soluções palpáveis e sem efeitos colaterais, o que a torna eficiente. Pensamos em situações que possam
nos fornecer melhorias e até mesmo a cura de diversos transtornos neurofisiológicos por meio da prática
constante dela.

Conforme se depreende do que foi relatado na entrevista, a tomada de consciência é plenamente possível,
bem como alguns cuidados especiais com a mente, para que ela possa se reciclar. A meditação é uma
alternativa que vale a pena ser experimentada, pois certamente irá trazer melhor qualidade de vida a seus
praticantes.

CONCLUSÃO
Saúde é entendida, segundo a Organização Mundial da Saúde, “como um completo estado de bem-
estar físico, mental e social e não meramente a ausência de doença (OMS, 1946 apud FLECK, 2000, p. 34).
Sendo assim, qualquer variável dentro desses aspectos pode gerar situações desconfortáveis que podem ser
facilmente percebidas – no caso de uma doença, por exemplo – ou apenas vivenciadas, gerando problemas
em longo prazo. Em decorrência disso, torna-se imperativo o conhecimento interior, e uma das formas de
conseguirmos isso é a meditação, que nos possibilita paz e convívio com os nossos problemas sem atropelos
ou subterfúgios.

Nossa sociedade vive a era do consumismo. Raras são as pessoas que se preocupam com o próximo e que
realmente têm intenção de proporcionar uma boa educação aos seus filhos. Vemos então uma sociedade com
todos os seus valores invertidos, com crianças, na maioria dos casos, como pequenos ditadores, determinando
o que deve e como deve ser efetivado em determinada tarefa. Para não criar constrangimentos, os pais não
conseguem impor limites claros, não conseguem exercer sua autoridade, até mesmo porque na maior parte
do tempo estão ausentes, trabalhando, e a educação fica terceirizada, o que nem sempre é uma boa saída.
A convivência, quando ocorre, é sempre tumultuada, uma verdadeira batalha por atenção e vaidades.

Nesse cenário caótico, surge uma pequena luz lá no final do túnel: a meditação como alternativa de
vincular pais e filhos e fazer com que todos tomem o seu devido lugar não apenas no aspecto familiar e sim
na sociedade como um todo.

Assistimos diariamente a cenas de guerra civil, com um número crescente de mortes decorrentes do
avanço da criminalidade. A sociedade varre toda a sujeira para baixo do tapete. Somos todos amplamente

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Bases psicofisiológicas da meditação

responsáveis por esse estado de coisas, por não votar corretamente, por não lutar para que todos possam
ter acesso a educação de bom nível, saúde decente, moradia e segurança. Atitudes isoladas aqui e ali tentam
modificar ao menos um mínimo possível, masainda assim são vistas com indiferença pela maioria, que,
infelizmente, acredita ser onipotente e onipresente.

Os orientais deram-nos, e fornecem-nos diariamente, uma lição de humildade em inúmeros aspectos


invejáveis de sua cultura. Um deles é o tema discutido nesta apostila, a meditação, que, acima de qualquer
coisa, é um exercício de conhecimento interior.

Precisamos com urgência de um conjunto de propostas coerentes e de um investimento maciço em


educação para que, em algumas décadas, consigamos resgatar um pouco do espírito crítico e de respeito
mútuo, elementos potencializados pela prática da meditação.

Observe as figuras a seguir:

Figura 37.

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Bases psicofisiológicas da meditação

Figura 38. Fonte: http://3.bp.blogspot.com/_5HZ6XuoKKeA/TRxJwUbb_2I/AAAAAAAAADs/JuhBLRCzfdw/s1600/lord-krishna.jpg.

Essas figuras, uma vez observadas, causam alguma sensação? Qual? É possível descrevê-la? Tente. Esse
é apenas um exercício sobre o tema proposto: cada pessoa poderá ter as mais diversas interpretações,
dependendo do momento e do contexto.

Fica claro aqui que questões como ética, cidadania e longevidade dependem principalmente da educação
em todos os sentidos. Vimos que, para que um mecanismo pedagógico qualquer possa dar frutos, todos os
pilares educacionais, como interesse, atenção, foco, trabalhados pela meditação, devem estar vinculados.
Dessa forma, é possível contribuir para uma sociedade mais justa e honesta.

Colocamos à disposição de todos uma série de artigos e vídeos que ilustram esta ou aquela teoria abordada
ao longo da apostila, porém reforçam sempre o compromisso de trazer à luz do debate as diversas nuances
de uma proposta que proporciona inúmeros benefícios ao homem sem causar comprometimentos ou efeitos
colaterais: a prática meditativa.

A prática constante da meditação entra definitivamente para a lista de procedimentos para a aquisição
de uma vida menos atribulada. Em qualquer lugar, a qualquer momento, podemos nos deixar levar pelos
aspectos amplamente positivos da prática. Para tanto é preciso estar disposto a iniciar e dar os primeiros
passos, sair da zona de conforto e deixar as desculpas para um segundo plano.

Resumindo:

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Bases psicofisiológicas da meditação

Figura 39. Fonte: http://www.alimentoevoce.com.br/2014_05_01_archive.html.

LINKS IMPORTANTES PARA LEITURA COMPLEMENTAR


http://www.istoe.com.br/reportagens/51821_O+PODER+DA+MEDITACAO+PARTE+1, acesso em
16.maio.2015.

http://www.istoe.com.br/reportagens/51829_O+PODER+DA+MEDITACAO+PARTE+2, acesso em
16.maio.2015.

http://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/redacao/2015/05/17/sus-usa-meditacao-budista-para-
tratar-estresse-e-depressao-aprenda-a-fazer.htm, acesso em 17.maio.2015.

http://psiquecienciaevida.uol.com.br/ESPS/Edicoes/67/meditacao-a-nova-medicina-preventiva-a-
meditacao-e-a-225287-1.asp, acesso em 23.maio.2015.

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