Você está na página 1de 64

FUNCIONAMENTO

DO CORPO HUMANO,
PRIMEIROS
1 G

SOCORROS E
ANTIDOPAGEM
1. FUNCIONAMENTO DO CORPO HUMANO

2. PREVENÇÃO DE LESÕES DESPORTIVAS E


PRIMEIROS SOCORROS

3. ANTIDOPAGEM

Raúl António Bandarra Pacheco // Luís Horta IPDJ_2021_V1.0

INSTITUTO PORTUGUÊS DO DESPORTO E JUVENTUDE MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO


PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES GRAU I
FUNCIONAMENTO DO CORPO HUMANO,
PRIMEIROS SOCORROS E ANTIDOPAGEM

FUNCIONAMENTO Índice
DO CORPO HUMANO CAPÍTULO I.
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
RESUMO
3
3
1. APARELHO LOCOMOTOR 4
1.1. INTRODUÇÃO 4
1.2. OS MODELOS CLÍNICO E SOCIAL 6
2. APARELHO CARDIORESPIRATÓRIO 9
2.1. SISTEMA CIRCULATÓRIO 9
2.2. SISTEMA RESPIRATÓRIO 11
3. SISTEMA DE REGULAÇÃO 12
3.1. SISTEMA NEURO-HORMONAL 12
3.2. REGULAÇÃO DA TEMPERATURA E SISTEMA DE ARREFECIMENTO 13
PONTOS-CHAVE 14
SINOPSE DA UNIDADE CURRICULAR 32
AUTO VERIFICAÇÃO DOS CONHECIMENTOS 33
RECOMENDAÇÕES DE LEITURA 34
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 34
GLOSSÁRIO 35

1. FUNCIONAMENTO DO CORPO HUMANO


Raúl António Bandarra Pacheco 2. PREVENÇÃO DE LESÕES DESPORTIVAS E PRIMEIROS SOCORROS
3. ANTIDOPAGEM

INSTITUTO PORTUGUÊS DO DESPORTO E JUVENTUDE MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO


PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES GRAU I
FUNCIONAMENTO DO CORPO HUMANO,
PRIMEIROS SOCORROS E ANTIDOPAGEM

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM RESUMO


Neste primeiro nível de formação são descritos os na prevenção de lesões desportivas, bem como o valor
GERAIS
l Adquirir conhecimentos nas áreas do funcionamento principais componentes anatómicos do aparelho locomotor determinante do exame médico desportivo na saúde do
com especial destaque para as estruturas osteoarticulares e praticante desportivo. O treinador não deve demitir-se do
do corpo humano com enfoque especial nos aparelhos
musculo-tendinosas fundamentais para melhor compreen- seu papel de educador, principalmente junto dos praticantes
cardiocirculatório, locomotor e sistema de regulação.
são da biomecânica e funcionamento do corpo humano, desportivos mais jovens.
l Reconhecer os estilos de vida saudáveis, identificar contribuindo assim para a prevenção de lesões provocadas Nas principais lesões desportivas, destacam-se as de
as principais lesões desportivas e executar primeiros pela prática desportiva, principalmente na relação entre natureza microtraumática, também chamadas de sobrecarga
socorros básicos cargas de treino e risco de lesões. Destaque especial para que estão na origem de muitas lesões inflamatórias como
a importância da musculatura do membro inferior, pois aí tendinites, bursites, ligamentites, podendo até estar na
ESPECÍFICOS se localizam muitas das lesões desportivas provenientes de origem de fraturas de fadiga.

3
Adquirir conhecimentos básicos sobre anatomia
l
traumatismos diretos (agudos) ou de sobrecarga (hipersoli- Salienta-se também o papel do treinador como agente
humana e fisiologia relacionados com o movimento, os citação). promotor dos primeiros socorros básicos. Para o efeito deve-
esforços e a recuperação funcional. Descrevem-se também os sistemas cardiorrespiratório rá saber administrar os primeiros cuidados em situação de
Conhecer o funcionamento do corpo humano para
l
e neuro-hormonal que ajudam a interpretar o esforço físico, doença aguda, bem como identificar os sinais que exigem
sinais de fadiga do organismo e a sua recuperação funcional. encaminhamento e intervenção dos cuidados de saúde
melhor contribuir para a prevenção de lesões.
Reforça-se a importância das regras de higiene de vida diferenciados.
Reconhecer as regras de higiene na prática desportiva.
l

Valorizar a importância do exame de avaliação médico-

>
l

-desportivo na saúde do praticante desportivo.


Identificar as principais lesões desportivas e os princi-
l

pais mecanismos inerentes à sua génese.


Reconhecer os principais fatores de risco de lesão
l

desportiva.
Executar primeiros socorros básicos e ter noções bási-
l

cas de referenciação.

INSTITUTO PORTUGUÊS DO DESPORTO E JUVENTUDE MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO


PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES GRAU I
FUNCIONAMENTO DO CORPO HUMANO, 1. FUNCIONAMENTO
PRIMEIROS SOCORROS E ANTIDOPAGEM DO CORPO HUMANO

1.
APARELHO 1.1. As estruturas osteoarticulares

LOCOMOTOR O aparelho locomotor humano é formado pelo sistema


ósseo e muscular. Os ossos, músculos e tendões produzem
A coluna vertebral (Fig.1) fundamental para a mobilidade
do corpo, possui 33 vértebras, ossos curtos divididos em: co-
diversos tipos de movimentos através do trabalho que reali- luna cervical com sete vértebras que constituem a região do
zam em conjunto nos pontos onde existem articulações. pescoço; 12 vértebras dorsais que se articulam com as coste-
O esqueleto do ser humano adulto tem 208 ossos, constituí- las e constituem o tórax; a coluna lombar com cinco vértebras;
dos por uma matriz de fibras e proteínas, na qual se depositam o sacro com cinco vértebras fundidas e o cóccix com quatro
sais de cálcio e fósforo, que conferem ao osso uma dureza carac- vértebras muito reduzidas e geralmente fundidas.
terística. No seu interior o osso contém a medula óssea, vermelha
ou amarelada, onde se produzem as células sanguíneas.
Quanto à sua forma, os ossos podem ser longos, como
os dos braços e pernas, com extremidades arredondadas
(epífises) e uma zona intermédia (diáfise); curtos, como os
CLAVÍCULA
ESCÁPULA VÉRTEBRAS
CERVICAIS
4
do tarso; e planos, como os do crânio. C1-C7
ÚMERO
O esqueleto humano divide-se em três partes: cabeça,
tronco e membros. A cabeça apresenta duas áreas: crânio,
RÁDIO
que compreende oito ossos (um frontal, dois parietais, um
ULNA VÉRTEBRAS
ESCÁPULA
occipital, dois temporais, um etmoide e um esfenoide); e os DORSAIS
T1-T12
OSSOS
ossos da face. DA MÃO
FÉMUR

RÓTULA VÉRTEBRAS
LOMBARES
TÍBIA
L1-L5
FIBULA

SACRO
OSSOS
DO PÉ
COXIS

FIGURA1 - Esqueleto: membro superior, inferior e coluna vertebral.

INSTITUTO PORTUGUÊS DO DESPORTO E JUVENTUDE MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO


PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES GRAU I
FUNCIONAMENTO DO CORPO HUMANO, 1. FUNCIONAMENTO
PRIMEIROS SOCORROS E ANTIDOPAGEM DO CORPO HUMANO

As costelas são ossos longos em forma de arco que delimi- ARTICULAÇÕES Pelo seu grande envolvimento na prática desportiva e
tam a caixa torácica, protegendo os pulmões e o coração. São As articulações correspondem a “junções” dos ossos ser sede frequente de lesões, destacamos a articulação do
12 pares dispostos simetricamente, 10 articulam-se pela extre- permitindo que as várias regiões realizem um número com- joelho e articulação tibiotársica.
midade anterior com o esterno, enquanto os restantes dois pa- plexo de movimentos, que são a base fundamental da vida Assim, na articulação do joelho (Fig.2), salientamos a
res têm as extremidades anteriores livres (costelas flutuantes). corrente e, em particular, da vida desportiva. importância dos ligamentos laterais (interno e externo),
Os membros superiores (Fig.1) incluem o braço, forma- Uma articulação é formada por topos ósseos, cartilagem ligamentos cruzados (anterior e posterior) e meniscos, para a
do pelo úmero; antebraço, com dois ossos longos (cúbito e e ligamentos. estabilidade desta articulação.
rádio); e mão, constituída pelo carpo (oito ossos curtos que Para que os ossos se possam mover nas articulações, Na articulação tibiotársica (Fig.2), os ligamentos laterais
estruturam o pulso), metacarpo (cinco ossos) e dedos (falan- as suas superfícies articulares são cobertas de cartilagem contribuem para uma correta estabilidade desta articulação.
ges). A união dos membros superiores com o troco denomi- (cartilagem articular) e lubrificados por um líquido sinovial. O conhecimento destas estruturas contribui para uma
na-se cintura escapular, contendo ainda as duas clavículas e Estas estruturas são mantidas em posição pelos ligamentos e melhor interpretação do gesto desportivo e prevenção das
duas omoplatas. pelas cápsulas articulares (estruturas fibrosas). lesões desportivas.
Os membros inferiores (Fig.1) articulam-se com o tronco
pela cintura pélvica, que é constituída pelos ossos da púbis, 5
ísquio e ílio. Também se dividem em três partes: coxa com o
fémur; perna com a tíbia e o perónio; e o pé constituído por
tarso, metatarso e dedos (falanges). Na articulação do joelho Fémur
existe ainda um pequeno osso que é a rótula. Tendões fibulares
Patela
Retináculo superior
Retináculo superior
Retináculo inferior Tendão dos extensores Ligamento
longos dos dedos lateral Cartilagem
Extensores articular
Ligamento
longos cruzado Menisco
Retináculo anterior
Tendão fibular curto inferior
Perónio
O conhecimento destas Tendão fibular longo
Tibia
Tendão de Aquiles Tendão fibular
estruturas contribui para uma melhor
interpretação do gesto desportivo e
FIGURA2 - Articulação do pé (tibiotársica) e articulação do joelho.
prevenção das lesões desportivas.

INSTITUTO PORTUGUÊS DO DESPORTO E JUVENTUDE MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO


PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES GRAU I
FUNCIONAMENTO DO CORPO HUMANO, 1. FUNCIONAMENTO
PRIMEIROS SOCORROS E ANTIDOPAGEM DO CORPO HUMANO

1.2. As estruturas
músculo-tendinosas
Os músculos são constituídos pelas fibras musculares, Componentes anatómicos dos músculos estriados (Fig.3)
células alongadas compostas de miofibrilhas. Estas contêm CORPO MUSCULAR (A) – parte contráctil do músculo consti-
duas proteínas, a miosina e a actina, responsáveis pela con- tuída por fibras musculares. Úmero
tração muscular. TENDÃO (B) – constituído por tecido conjuntivo,
Pronador
rico em colágeno e que fixa o corpo redondo

muscular ao osso. Cúbito


Rádio
APONEVROSE – membrana que envolve os mús- Pronador
quadrado
Fibra Muscular Retículo
Sarcoplasmático culos.
BAINHAS TENDINOSAS – estruturas sobre as quais deslizam
Miosina os tendões. A sua função é permitir
o deslizamento fácil do tendão.
SUPINAÇÃO PRONAÇÃO
6
Miofibrila BOLSAS SINOVIAIS – pequenas bolsas formadas por uma
Actina
membrana serosa que possibilitam o
Sarcómero deslizamento muscularem. FIGURA3 - Músculo estriado.

OS MÚSCULOS SÃO ÓRGÃOS ATIVOS DO MOVIMENTO


Os músculos respondem aos impulsos transmitidos pelas Exemplos de movimentos:
fibras nervosas e ao contraírem-se, movem os ossos como se Flexão – diminuição da amplitude (grau) de uma articulação. Abdução do membro inferior – movimento para fora com
fossem alavancas. Os músculos são capazes de transformar Extensão – aumento da amplitude (grau) de uma articulação. afastamento do plano de simetria do corpo.
energia química em energia mecânica. Representam cerca Pronação da mão – movimento de rotação do dorso da mão Inversão do pé – movimento complexo que roda a ponta do
de 40 a 50 % do peso corporal. Distinguem-se dois tipos para cima. pé para dentro e para baixo.
de músculos: os esqueléticos (ou estriados), de contração Supinação da mão – movimento de rotação da palma da Eversão do pé – movimento complexo que roda a ponta do
voluntária, e os lisos de contração involuntária responsáveis mão para cima. pé para fora e para cima.
pelos movimentos viscerais do organismo. Exceção feita ao Adução do membro inferior – movimento para dentro com
músculo cardíaco que é estriado e de contração involuntária. aproximação do plano de simetria do corpo.

INSTITUTO PORTUGUÊS DO DESPORTO E JUVENTUDE MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO


PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES GRAU I
FUNCIONAMENTO DO CORPO HUMANO, 1. FUNCIONAMENTO
PRIMEIROS SOCORROS E ANTIDOPAGEM DO CORPO HUMANO

No tronco e na região dorsal, os principais músculos são posterior destacamos os isquiotibiais (bicípite femural, semi-
o trapézio, na parte superior do tórax, e que eleva os ombros tendinoso, semimembranoso), que são músculos extensores
O corpo humano e mantém a cabeça em posição vertical; e os grandes dor- da articulação coxo-femural e flexores do joelho. Destaque
sais, que cobrem toda a parte inferior do dorso. Na região ainda para os músculos adutores da articulação coxo-femu-
tem cerca de anterior, destacam-se os peitorais e os intercostais que parti- ral. Nos músculos da perna, salientamos os anteriores (tibial

500
cipam ativamente nos movimentos respiratórios. anterior) responsáveis pela dorsiflexão do pé e extensão dos
Nos membros superiores, destacam-se os deltoides, os dedos, os peroniais laterais que fazem a eversão do pé e o ti-
bicípites e os tricípites que executam a flexão e extensão do bial posteriores e os flexores dos dedos que fazem a inversão
antebraço sobre o braço. do pé e a flexão plantar.
Nos membros inferiores (Fig.4), destacam-se os glúteos A necessidade do conhecimento mais exaustivo da
músculos na região nadegueira; os músculos da região anterior da musculatura do membro inferior, advêm do facto de aí se

esqueléticos. coxa psoas, reto femoral, vasto interno (vasto médio), vasto localizarem muitas das lesões desportivas provenientes
externo (vasto lateral) e sartório que são músculos flexores
da articulação coxo-femural e extensores do joelho. Na face
de traumatismos diretos (agudos) ou de sobrecarga (hiper
solicitação). 7
SISTEMA MUSCULAR
Esternocleidomastóideo
Trapézio
Músculo ilíaco Músculo psoas maior MÚSCULOS ÍSQUIOTIBIAIS
Deltoide
Músculo
Peitoral Maior glúteo médio
Reto Abdominal Músculo iliopsoas
Oblíquo Externo
Dorsal Músculo tensor
da fáscia lata Músculo pectíneo
Tríceps Braquial
Músculo adutor longo
Bíceps Braquial
Flexores Dedos Músculo grácil
Extensores Dedos Músculo
sartório Músculo reto da coxa

Músculo Músculo vasto medial


Glúteo Máximo vasto lateral
Sartório
SEMIMEMBRANOSO BÍCEPS FEMURAL SEMITENDINOSO
Adutor Longo
Reto Femoral
Semitendinoso
Bíceps Femoral

Gastrocnémios FIGURA4 - Músculos da coxa.


Sóleo

INSTITUTO PORTUGUÊS DO DESPORTO E JUVENTUDE MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO


PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES GRAU I
FUNCIONAMENTO DO CORPO HUMANO, 1. FUNCIONAMENTO
PRIMEIROS SOCORROS E ANTIDOPAGEM DO CORPO HUMANO

A cada conjunto de músculos com a mesma função,


chama-se músculos agonistas. Aos seus pares, ou seja ao QUE TIPO DE CONTRAÇÃO PODEMOS TER A NÍVEL DO MÚSCULO?
conjunto de músculos que fazem o movimento contrário,
chama-se músculos antagonistas. CONTRAÇÃO ISOTÓNICA CONTRAÇÃO ISOMÉTRICA CONTRAÇÃO ISOCINÉTICA
O músculo pode ter dois tipos de atividade: concêntrica Refere-se a uma contração em que Refere-se a uma contração em que o Refere-se a uma contração em que o
na qual se contrai e encurta e excêntrica na qual se contrai e um músculo encurta enquanto exerce comprimento externo do músculo não músculo se contrai e encurta a veloci-
alonga. Esta última atividade é muito importante nas mano- uma força constante que corresponde se altera, pois a força gerada pelo mús- dade constante em toda a amplitude
bras de desaceleração e travagem e é muito exigente para o à carga que está sendo erguida pelo culo é insuficiente para mover a carga à articular qualquer que seja o ângulo
tecido muscular. músculo. qual está fixado. articular do movimento.

INSTITUTO PORTUGUÊS DO DESPORTO E JUVENTUDE MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO


PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES GRAU I
FUNCIONAMENTO DO CORPO HUMANO, 1. FUNCIONAMENTO
PRIMEIROS SOCORROS E ANTIDOPAGEM DO CORPO HUMANO

2.
APARELHO 2.1. Sistema circulatório

CARDIORRESPIRATÓRIO O coração e os vasos sanguíneos, constituem o sistema


cardiovascular, cuja finalidade é o transporte através do san-
miocárdio (músculo contráctil do coração) e endocárdio
(camada interna). Está dividido em duas câmaras (Fig.5). As
gue de nutrientes e oxigénio a todas as células, removendo superiores são as aurículas e as inferiores os ventrículos, sepa-
daí os produtos nocivos para o organismo. radas por válvulas. As aurículas recebem o sangue das veias,
O coração é o órgão central do sistema circulatório. É um enquanto os ventrículos enviam o sangue nas artérias. O ven-
músculo de forma cónica que está localizado entre os dois trículo direito envia o sangue aos pulmões para se oxigenar,
pulmões, no interior da caixa torácica, rodado para o lado enquanto o ventrículo esquerdo envia o sangue a todas as
esquerdo. No adulto tem aproximadamente 250 gramas partes do corpo. É o sangue arterial proveniente dos pulmões.
equivalentes a um punho fechado. No seu movimento o coração tem uma fase de contração
O coração é formado por pericárdio (membrana externa), (sístole) e uma fase de repouso ou dilatação (diástole).

9
Aorta

Veia cava superior

Artéria pulmonar Artéria pulmonar


(pulmão direito) (pulmão esquerdo)

Tipos de circulação
Veias pulmonares esquerdas
Veias pulmonares direitas (do pulmão esquerdo) B A GRANDE CIRCULAÇÃO OU SISTÉMICA
(do pulmão direito para
a auricula esquerda) A - Ventrículo esquerdo // Todo o corpo //
Aurícula direita
Válvula semilunar aórtica B PEQUENA CIRCULAÇÃO OU PULMONAR
- Ventrículo direito // Pulmão //
Válvula tricúspide Válvula bicúspide (Mitral) Aurícula esquerda

Veia cava inferior

Septo

Circulação arterial (com O2)


FIGURA 5 - Coração: estrutura anatómica. Circulação venosa (com CO2) FIGURA 6 - Circulação sanguínea.

INSTITUTO PORTUGUÊS DO DESPORTO E JUVENTUDE MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO


PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES GRAU I
FUNCIONAMENTO DO CORPO HUMANO, 1. FUNCIONAMENTO
PRIMEIROS SOCORROS E ANTIDOPAGEM DO CORPO HUMANO

Tensão arterial e frequência cardíaca:


VASOS SANGUÍNEOS O que é?
Artérias: são vasos eferentes que possuem paredes espes- A tensão arterial referencia dois valores: o valor mínimo
sas constituídas por tecido elástico, que conduzem o sangue que corresponde à diástole e o valor máximo, que corres-
do coração para as diversas partes do corpo. São pulsáteis. As ponde à sístole.
artérias à medida que se afastam do coração, formam ramos Em cada contração cardíaca, num adulto em repouso, é
sucessivamente menores A arteríolas B capilares. expelido cerca de 70ml de sangue; como existem em média
Veias: são unificações das vénulas que aumentam de calibre 70 contrações por minuto, temos cerca de 5 litros bombea-
à medida que se aproximam do coração. Têm paredes mais finas dos por minuto.
com válvulas que impedem o refluxo de sangue que circula a Chama-se frequência cardíaca ao número de contra-
baixa pressão. Acompanham geralmente o trajeto das artérias. ções cardíacas por minuto; as pulsações correspondem ao
Capilares: são vasos originados das arteríolas. A sua sangue lançado para a artéria aorta em jatos sucessivos.
unificação forma as vénulas. É aqui nesta rede fina de vasos Habitualmente, o número de pulsações por minuto
que se processam as trocas de oxigénio e nutrientes e se
removem os resíduos metabólicos.
medido no pulso (artéria radial) corresponde aos batimen-
tos cardíacos. 10
Convenciona-se como normal no ser humano uma fre-
quência cardíaca entre 50 e 100 batimentos por minuto. Fre-
quências cardíacas em repouso abaixo de 50 batimentos por
minuto constituem a bradicardia e acima de 100 batimentos
por minuto a taquicardia.
Os praticantes desportivos têm frequência cardíaca em
Fluxo sanguíneo repouso baixa devido ao processo de adaptação provocado
Arteríola pelo treino e por isso podem ter bradicardias fisiológicas. O
Metarteríola chamado “coração do atleta” tem igualmente um peso e ta-
manho maiores por aumento da espessura das suas paredes
Capilares
e/ou volume das suas cavidades.
Esfincter
Pré-capilar

Vénula
Fluxo sanguíneo FIGURA 7 - Vasos sanguineos.

INSTITUTO PORTUGUÊS DO DESPORTO E JUVENTUDE MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO


PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES GRAU I
FUNCIONAMENTO DO CORPO HUMANO, 1. FUNCIONAMENTO
PRIMEIROS SOCORROS E ANTIDOPAGEM DO CORPO HUMANO

2.2. Sistema respiratório

O sistema respiratório é constituído pelas fossas nasais,


pela boca, laringe, traqueia, brônquios e pulmões. O tecido
pulmonar é constituído por uma grande quantidade de
alvéolos. Por sua vez a parede dos alvéolos é revestida por uma
membrana respiratória ao nível da qual se processam as trocas
gasosas. Assim, os pulmões funcionam como interface entre o
meio gasoso e o meio líquido (sangue), pois é aqui que se enri-
quece de oxigénio (O2) e elimina o dióxido de carbono (CO2).
INSPIRAÇÃO EXPIRAÇÃO

Cavidade nasal
Nariz
Boca
Lingua
Cavidade nasal
Faringe
CONTROLO DA RESPIRAÇÃO
11
Em repouso,
Laringe
Traqueia

Costelas Brônquios a frequência


Pulmão
direito
Coração
Alvéolos respiratória
Pleura
Pulmão
esquerdo ronda os
Diafragma

Nos alvéolos pulmonares o O2 passa para o sangue (glóbu- A respiração é controlada automaticamente por um
los vermelhos), enquanto o CO2 o abandona. Este intercâmbio centro nervoso localizado no bolbo raquidiano. Desse centro
de gases obedece às leis da física de difusão de uma zona de partem os nervos responsáveis pela contração dos músculos
maior concentração para outra de menor concentração. respiratórios (diafragma e músculos intercostais).
A respiração compõe-se de inspiração (entrada ativa de ar A respiração é ainda o principal mecanismo de controlo
nos pulmões) e expiração (saída passiva de ar dos pulmões). do pH do sangue. Se o pH for baixo, logo com maior quantida-
Para respirar é indispensável efetuar movimentos ao nível da de de CO2, aumenta a frequência e a amplitude dos movimen-
caixa torácica que possibilitam a inspiração e expiração. Os tos respiratórios, portanto aumenta a ventilação pulmonar.
músculos intercostais, escalenos, abdominais e o diafragma Quanto maior for o trabalho muscular, maior será a produção
entre outros, asseguram os movimentos necessários. de CO2 e maior será o ritmo respiratório.

INSTITUTO PORTUGUÊS DO DESPORTO E JUVENTUDE MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO


PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES GRAU I
FUNCIONAMENTO DO CORPO HUMANO, 1. FUNCIONAMENTO
PRIMEIROS SOCORROS E ANTIDOPAGEM DO CORPO HUMANO

3.
SISTEMA DE 3.1. Sistema neuro-hormonal

REGULAÇÃO É constituído pelo sistema nervoso e pelo sistema hormo-


nal e tem como função, coordenar toda a atividade corporal.
Os neurónios são constituídos pelo corpo celular, dendrites
e axónios e têm como função principal transmitir e receber as
O sistema nervoso é constituído pelo sistema nervoso “mensagens” que lhe chegam.
central e pelo sistema nervoso periférico. O primeiro integra As mensagens nervosas designam-se impulsos ou influxos
o encéfalo e a espinal-medula, e o segundo é constituído nervosos. O contacto que um neurónio estabelece com outro
pelos nervos e pelos gânglios. neurónio ou com uma célula muscular designa-se por sinapse.
O encéfalo é constituído pelo cérebro, cerebelo e tronco cerebral. O sistema endócrino ou hormonal tem uma estreita relação
As células que constituem essencialmente o sistema com o Sistema Nervoso, através do eixo Hipotálamo-Hipófise. (glân-
nervoso designam-se por neurónios. (Fig.7) dulas localizadas no cérebro e que regulam a secreção hormonal).
É constituído pelas glândulas endócrinas que produzem

12
Neurónio
Pontos de Sinapse e lançam hormonas diretamente no sangue. As hormonas são
Sinapses
mensagens químicas que regulam a atividade de diferentes
Sinal elétrico
órgãos. Como o sangue percorre todo o organismo, as hor-
monas atuam à distância, sobre os tecidos, órgãos ou outras
Bainha de Mielina
glândulas (ex.: adrenalina que é produzida pela glândula su-
prarrenal e que prepara o organismo para os esforços físicos).
Axónio
Dendritos
A comunicação hormonal realiza-se por via química, atra-
vés das hormonas. Somente determinadas células, chamadas
Neurónio células alvo, estão equipadas para receber o sinal que uma
dada hormona transmite através de recetores que possuem.

Núcleo

Axónio do
neurónio anterior >>
FIGURA 8 - Neurónios.

INSTITUTO PORTUGUÊS DO DESPORTO E JUVENTUDE MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO


PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES GRAU I
FUNCIONAMENTO DO CORPO HUMANO, 1. FUNCIONAMENTO
PRIMEIROS SOCORROS E ANTIDOPAGEM DO CORPO HUMANO

3.2. Regulação da temperatura e


Sistema de arrefecimento
O ser humano é um ser homeotérmico, isto é, possui a por temperaturas ambientais elevadas. O organismo liberta,
capacidade de manter a temperatura corporal dentro de através das glândulas sudoríparas, água aquecida, que evapora
um certo intervalo pré-determinado, apesar das variações na superfície externa da pele, libertando energia térmica para
térmicas do meio ambiente (homeostasia térmica). o meio ambiente e arrefecendo o organismo. Em situações de
Quando se verifica um aumento da temperatura no exte- atividade muito intensa, a perda de água por transpiração pode
rior, o corpo humano, através de mecanismos homeostáticos ultrapassar os 1,5 litros por hora. Daí a importância da ingestão
de termogénese, diminui a temperatura corporal por processos regular de líquidos, sobretudo água para repor as necessidades
como a vasodilatação, havendo uma transferência de energia hídricas e evitar assim a desidratação.
para o exterior e a produção de suor, que evapora, diminuin- Quando a temperatura externa diminui, o centro coor-
do a temperatura ao nível da pele. A sudorese é um eficiente
mecanismo de arrefecimento do organismo em situações
denador envia então uma mensagem por vias eferentes
(nervos motores) de modo a ocorrer uma vasoconstrição e 13
desencadeadas, por exemplo, por atividade física intensa ou contração muscular que aumenta o calor metabólico.

EXEMPLO
O ciclista, perante um obstáculo, trava de imediato sem pensar para evitar a
queda. Assim, perante uma situação ameaçadora, o corpo reage sempre de
forma a proteger-se. As respostas motoras e hormonais são conjuntas.
A temperatura de equilíbrio
Existem hormonas que atuam essencialmente na fase ronda os 37ºC
catabólica que caracteriza a realização de esforço físico ! (limites normais: 36,1ºC - 37,2ºC)
(adrenalina, glucagina, entre outras), enquanto que outras
atuam preferencialmente na fase anabólica que caracteriza os
períodos de recuperação (testosterona, insulina, entre outras).

INSTITUTO PORTUGUÊS DO DESPORTO E JUVENTUDE MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO


PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES GRAU I
FUNCIONAMENTO DO CORPO HUMANO,
PRIMEIROS SOCORROS E ANTIDOPAGEM

Pontos-chave
! da subunidade
1. O aparelho locomotor tem como principal função a 5. O sistema nervoso central e o sistema hormonal
execução dos movimentos, sendo os ossos as estru- comandam e coordenam toda a atividade corporal.
turas de suporte e de proteção e os músculos os seus
elementos ativos. As articulações constituem a forma 6. O exercício físico produz, como reação imediata
de permitir a realização dos movimentos envolvendo do organismo, o aumento de todas as suas funções
as estruturas ósseas das várias regiões. nomeadamente a frequência cardíaca, a frequência
respiratória e o metabolismo celular.
2. As articulações do joelho e tibiotársica, pelo seu
grande envolvimento na prática desportiva em geral, 14
são frequentemente atingidas por lesões. O conhe-
cimento das suas estruturas anatómicas contribui
para uma melhor interpretação do gesto desportivo e
prevenção de lesões.

3. O número de pulsações por minuto, medido habi-


tualmente no pulso (artéria radial) corresponde aos
batimentos cardíacos.

4. Chama-se ritmo ou frequência respiratória à frequência


da inspiração/expiração (ciclos) durante um minuto. Num
adulto em repouso ronda os 10 a 15 ciclos/minuto.

INSTITUTO PORTUGUÊS DO DESPORTO E JUVENTUDE MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO


PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES GRAU I
FUNCIONAMENTO DO CORPO HUMANO,
PRIMEIROS SOCORROS E ANTIDOPAGEM

PREVENÇÃO DE Índice
LESÕES DESPORTIVAS E CAPÍTULO II.
1. ESTILOS DE VIDA SAUDÁVEIS
1.1. REGRAS DE HIGIENE NA ATIVIDADE DESPORTIVA
16
16

PRIMEIROS SOCORROS 2.
1.2. O EXAME MÉDICO DESPORTIVO
PRINCIPAIS LESÕES NA ATIVIDADE DESPORTIVA
2.1. LESÕES MACRO TRAUMÁTICAS
19
20
21
2.2. LESÕES MICRO TRAUMÁTICAS 21
3. PRIMEIROS SOCORROS 22
3.1. NAS FERIDAS CUTÂNEAS 23
3.2. NAS LESÕES OSTEO-MÚSCULO-ARTICULARES 24
3.3. NOS TRAUMATISMOS CRANIANOS E VERTEBRAIS 28
PONTOS-CHAVE 31
SINOPSE DA UNIDADE CURRICULAR 32
AUTO VERIFICAÇÃO DOS CONHECIMENTOS 33
RECOMENDAÇÕES DE LEITURA 34
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 34
GLOSSÁRIO 35

1. FUNCIONAMENTO DO CORPO HUMANO


Raúl António Bandarra Pacheco 2. PREVENÇÃO DE LESÕES DESPORTIVAS E PRIMEIROS SOCORROS
3. ANTIDOPAGEM

INSTITUTO PORTUGUÊS DO DESPORTO E JUVENTUDE MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO


PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES GRAU I
FUNCIONAMENTO DO CORPO HUMANO, 2. PREVENÇÃO DE LESÕES DESPORTIVAS
PRIMEIROS SOCORROS E ANTIDOPAGEM E PRIMEIROS SOCORROS

1.
ESTILOS DE VIDA 1.1. Regras de higiene na atividade O que faz o treinador?

desportiva “O treinador não deve restringir a sua


SAUDÁVEIS intervenção junto dos atletas apenas
Todos reconhecemos que a prática de atividade despor- à orientação técnica da atividade
tiva tem um papel fundamental na nossa sociedade, não só
desportiva.”
promovendo a saúde das populações, mas também lutando
contra alguns dos flagelos que a afetam atualmente como, O treinador deve ter uma intervenção pedagógica junto
por exemplo, a toxicodependência e a exclusão social. dos jovens atletas transmitindo-lhe uma série de regras de hi-
A saúde é definida pela organização mundial de saúde giene, que por um lado promovam a saúde e por outro façam
como o mais alto nível de bem-estar físico, psíquico e com que a relação do atleta com a atividade desportiva seja
social. salutar e sem problemas.

16

Em suma o treinador não deve


demitir-se do seu papel de
educador principalmente junto
dos mais jovens.

INSTITUTO PORTUGUÊS DO DESPORTO E JUVENTUDE MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO


PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES GRAU I
FUNCIONAMENTO DO CORPO HUMANO, 2. PREVENÇÃO DE LESÕES DESPORTIVAS
PRIMEIROS SOCORROS E ANTIDOPAGEM E PRIMEIROS SOCORROS

✓ ✓ l Lavagem dos dentes com uma técnica adequada e utili-


zando um dentífrico com flúor pelo menos duas vezes ao
dia.
l Observação regular por um estomatologista ou espe-
cialista em medicina dentária, mesmo que o atleta não
→ OS CUIDADOS NUTRICIONAIS → O BANHO tenha sintomas, para despiste de patologia dentária
O treinador deverá incentivar o jovem atleta a ter uma nu- O treinador deve incentivar os atletas a tomarem um assintomática.
trição adequada, rica e diversificada, através de uma ingestão banho após os treinos ou competições, o que representa
equilibrada dos diversos alimentos contendo os macronu- um ato fundamental de higiene física, permitindo eliminar
trientes e micronutrientes necessários. os produtos da sudação resultantes da atividade desportiva !
e proceder à limpeza da própria pele.
✓ O monitor deve aconselhar os atletas a não compartilha-
rem toalhas e a utilizarem chinelos no balneário de forma 17
a evitarem o contágio de agentes que provocam infeções
cutâneas e das unhas (pé de atleta, por exemplo). → O ÁLCOOL
O treinador deve chamar a atenção do jovem atleta para
os efeitos negativos que o álcool pode ter no rendimento
→ O SONO ✓ desportivo após a sua ingestão e, simultaneamente, para
O período de descanso noturno é essencial para a recuperação o aumento de risco de lesões desportivas (diminuição da
biológica do atleta, principalmente do jovem atleta. Cada indivíduo coordenação motora, da atenção, dos reflexos e da capacida-
tem um padrão ideal de sono que deve ser respeitado, tanto em de de reação). O atleta deve igualmente estar informado que
termos de duração como em termos de horário. A maioria das o álcool tem um efeito diurético e, por isso prejudica a sua
pessoas dormem cerca de 8 horas diárias, mas existem pessoas → A HIGIENE ORAL recuperação, principalmente após esforços em que perdeu
que lhes bastam 7 horas de sono diário enquanto outras necessi- O treinador deve recomendar ao jovem atleta os seguintes muita água através da sudação.
tam de 9 horas. A qualidade do sono tem igualmente um papel cuidados de higiene dentária de forma a contribuir para a pre- O alcoolismo conduz à dependência física e psíquica, a
preponderante. O padrão usual de sono de cada atleta não deverá venção das lesões desportivas: inúmeras doenças do fígado (cirrose), do pâncreas (pancrea-
ser alterado, mesmo durante estágios ou antes de competições, o l Evitar a ingestão de alimentos ricos em hidratos de carbo- tite), do coração (miocardiopatia alcoólica), dos músculos
que acontece com alguma frequência devido a atitudes incorretas no simples (açúcares), principalmente no intervalo entre (miosite), entre outras.
de determinados técnicos ligados ao fenómeno desportivo. as refeições.

INSTITUTO PORTUGUÊS DO DESPORTO E JUVENTUDE MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO


PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES GRAU I
FUNCIONAMENTO DO CORPO HUMANO, 2. PREVENÇÃO DE LESÕES DESPORTIVAS
PRIMEIROS SOCORROS E ANTIDOPAGEM E PRIMEIROS SOCORROS

!
igualmente informado de que a utilização de drogas sociais mas essencialmente por motivos estéticos e na procura de
fornece a ilusão de uma felicidade transitória, mas que na uma melhoria da imagem corporal.
maioria das vezes acaba na desinserção social do utilizador e
com o possível caminho de recurso ao roubo e à prostituição. O treinador deve informar e/ou recomendar o jovem
O atleta deverá ser igualmente informado que no atleta sobre algumas medidas relacionadas com a utilização
desporto a utilização de drogas consideradas leves, como os de substâncias dopantes:
→ O TABACO canabinoides (marijuana, haxixe, etc.) é proibida, não porque l A sua utilização, para além de representar uma batota,
O treinador, ao trabalhar nos grupos etários em que provoquem um aumento do rendimento desportivo na é ilegal e pode pôr em causa a preservação da saúde,
normalmente se dá a iniciação dos hábitos tabágicos, deve grande maioria das modalidades desportivas mas porque o devido aos efeitos secundários da generalidade destas
informar os jovens atletas sobre os riscos do uso do tabaco. desporto deve ser encarado como uma escola de virtudes, substâncias.
Deverá esclarecer o atleta que a utilização do tabaco, onde não cabe um atleta que utiliza este tipo de substâncias. l O jovem deve ser ensinado a saber lidar com a sua
para além de aumentar a incidência de doenças cardiovas- A utilização de algumas drogas ditas mais pesadas (heroína e imagem corporal. O treinador deve ajudar o jovem com
culares, respiratórias e cancerosas, tem efeitos nefastos na
prestação desportiva devido principalmente a uma diminui-
cocaína) é igualmente proibida no desporto.
O treinador, se detetar que um dos seus jovens atletas
problemas de imagem corporal (excessivamente magro
ou gordo, por exemplo) a inserir-se no grupo, minorando 18
ção da difusão alvéolo-capilar a nível pulmonar. utiliza drogas sociais não deve ter uma atitude de rejeição do desse modo os efeitos psíquicos que podem advir daque-
atleta, mas sim utilizar a prática desportiva como método para la imagem. O jovem magro e longilíneo não se integra

!
promover a sua recuperação e a reinserção social. facilmente nos desportos que envolvam força e contacto
físico, enquanto que o gordo e brevilíneo não se sente à

!
vontade nos desportos que envolvam resistência aeróbia.
l O treinador deverá instruir o jovem atleta em relação
à inexistência de produtos milagrosos que lhe possam
ser sugeridos por terceiros como forma de melhorar o
→ AS DROGAS SOCIAIS rendimento desportivo ou a imagem corporal. Alguns
Tal como para o tabaco, o treinador que trabalha nos suplementos nutricionais muitas vezes encobrem na sua
grupos etários em que normalmente se dá a iniciação da → SUBSTÂNCIAS DOPANTES composição substâncias dopantes.
utilização das drogas sociais deve informar os atletas dos A utilização de substâncias dopantes há muito que
perigos da utilização das drogas sociais, explicando-lhes que deixou de ser um problema restrito ao desporto de alto
mesmo as ditas mais leves provocam dependência física rendimento. Sabemos hoje que a utilização de substâncias
e psíquica e uma tendência para o aparecimento de uma
escalada para drogas mais pesadas. O jovem atleta deve ser
dopantes pode começar durante a adolescência, não só com
o intuito de se obterem melhores resultados desportivos,
>>
INSTITUTO PORTUGUÊS DO DESPORTO E JUVENTUDE MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO
PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES GRAU I
FUNCIONAMENTO DO CORPO HUMANO, 2. PREVENÇÃO DE LESÕES DESPORTIVAS
PRIMEIROS SOCORROS E ANTIDOPAGEM E PRIMEIROS SOCORROS

1.2. O exame médico desportivo


!
Uma boa forma física, adquirida na juventude e mantida Cada candidato deve assim fazer-se acompanhar deste
ao longo da vida, parece ser uma condição essencial para que modelo próprio onde serão registadas as declarações pessoais,
o corpo possa funcionar saudavelmente no melhor das suas da responsabilidade do candidato ou do seu encarregado de
capacidades. A prática desportiva só deve ser aconselhada educação no caso dos menores de 18 anos. Seguem-se os an-
→ DOENÇAS TRANSMISSÍVEIS POR CONTACTO SEXUAL após a realização de um exame médico desportivo. Para atle- tecedentes: familiares, pessoais e desportivos. Logo de seguida
O treinador deve informar os atletas que não há perigo tas federados, este é obrigatório e tem uma validade anual. o exame objetivo com os seguintes parâmetros em avaliação:
de contágio do vírus da imunodeficiência adquirida ou de De acordo com a legislação em vigor, deve ser utilizado o biometria e exame ectoscópico, oftalmológico, otorrinolaringo-
outros vírus transmitidos por via sanguínea (hepatites B e C, modelo obrigatório de ficha de exame de avaliação médico lógico, estomatológico, abdominal, genito-urinário, cardiocircu-
por exemplo) durante a prática da atividade desportiva, se desportiva, fornecido pelo Instituto Português do Desporto latório e respiratório. Por fim, registo dos exames auxiliares de
forem tomadas as medidas preventivas adequadas. Desse e Juventude, IP. diagnóstico, frequência cardíaca e tensão arterial.
modo nenhum atleta pode permanecer em competição ou
no treino com uma lesão que sangra sem que a hemorragia
Esta deve ainda ser a oportunidade para o esclarecimen-
to de algumas dúvidas sobre regras alimentares corretas, uso 19
esteja controlada e a lesão devidamente coberta por um de medicamentos e conhecimento das implicações médico-
penso. -legais do uso de substâncias dopantes.
O treinador deve informar os jovens atletas da necessida-
de da utilização de preservativo em qualquer tipo de relação
sexual tida com um(a) parceiro(a), muitas vezes facilitada
pelo convívio social associado à própria atividade desporti-
va. Atualmente não existem parceiros(as) seguros(as) a não
existir a proteção adequada.

Importância do exame médico?


O exame médico desportivo não deve ser encarado apenas como
uma mera resposta a um requisito burocrático, legal, mas sim como
um ato médico fundamental para a saúde e segurança do candidato.

INSTITUTO PORTUGUÊS DO DESPORTO E JUVENTUDE MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO


PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES GRAU I
FUNCIONAMENTO DO CORPO HUMANO, 2. PREVENÇÃO DE LESÕES DESPORTIVAS
PRIMEIROS SOCORROS E ANTIDOPAGEM E PRIMEIROS SOCORROS

O exame médico desportivo é Pode ser realizado por qualquer médico, mediante o preen-
assim um meio de triagem de de- chimento do impresso próprio para a realização do exame. Se
necessário ou se existirem contraindicações, deverá referenciar
terminadas patologias ou situações para um médico com formação específica em medicina des-
clínicas, principalmente na população portiva ou para os Centros de Medicina Desportiva do Instituto
jovem, imprescindível para aferir a Português do Desporto e Juventude, IP (Lisboa, Porto).
No caso dos praticantes inscritos no regime de Alto Rendi-
aptidão ou inaptidão dos praticantes mento, é obrigatória a realização do exame médico desporti-
para o desempenho desportivo. vo nos Centros de Medicina Desportiva de Lisboa ou Porto.

2. 20
PRINCIPAIS LESÕES
NA ATIVIDADE
DESPORTIVA

benefícios podendo surgir determinados malefícios, princi-


palmente quando não são respeitadas algumas regras fun-
damentais. Um dos maiores riscos que pode advir da prática
desportiva é a lesão desportiva. A incidência e a prevalência
A prática desportiva é apontada nos nossos dias como das lesões desportivas têm vindo a aumentar nos últimos
um fator muito importante para a preservação e promoção anos, ao que não é estranho, certamente, o aumento do nú-
do bem-estar físico, psíquico e social dos praticantes. No mero de praticantes, o volume e a intensidade das cargas de
entanto, da prática desportiva não se obtêm unicamente treino e o aparecimento de desportos radicais, entre outros.

INSTITUTO PORTUGUÊS DO DESPORTO E JUVENTUDE MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO


PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES GRAU I
FUNCIONAMENTO DO CORPO HUMANO, 2. PREVENÇÃO DE LESÕES DESPORTIVAS
PRIMEIROS SOCORROS E ANTIDOPAGEM E PRIMEIROS SOCORROS

2.1. Lesões macrotraumáticas 2.2. Lesões microtraumáticas Na génese das lesões microtraumáticas aplica-se na íntegra
a mensagem de um velho ditado popular:
As lesões macro traumáticas são originadas por um agente As lesões microtraumáticas, ou também chamadas
agressor de alta energia que provoca lesão das estruturas orgâ- de sobrecarga, são originadas por um agente agressor de
nicas, porque a sua energia é superior à capacidade de resistên- baixa energia, que não provoca lesão de imediato, porque
cia do tecido lesado. São lesões em geral de fácil diagnóstico, a sua energia é inferior à capacidade de resistência dos
pois instalam-se de forma aguda e perceciona-se facilmente tecidos orgânicos. O seu estabelecimento é assim insidioso,
uma relação entre o agente agressor e o aparecimento da lesão. motivado por microtraumatismos de repetição inerentes a
gestos desportivos estereotipados e frequentes. Os tecidos “ÁGUA MOLE
orgânicos vão assim sendo progressivamente “alvejados” por EM PEDRA
microvibrações que os vão deteriorando. Estes respondem
com uma reação inflamatória rebelde ao tratamento, que
DURA TANTO
BATE ATÉ
provoca limitação da capacidade funcional fazendo com que
o praticante não consiga treinar e competir, ou o consiga QUE FURA“ 21
com grandes limitações.
A génese deste tipo de lesões não é facilmente percetível
pois é difícil de entender que a dor que aparece num tendão As lesões microtraumáticas são típicas das modalidades
num determinado momento do tempo resultou de agentes ditas de alto impacto que pressupõem um gesto desportivo
agressores que atuaram durante meses ou mesmo anos estereotipado e repetido, envolvendo o contacto com agentes
antes de a lesão começar a dar os primeiros sintomas. Por agressores geradores de microvibrações (solo duro, contacto
As lesões macrotraumáticas
outro lado, os diversos técnicos ligados ao fenómeno des- da bola de ténis com a raquete, entre outros). A corrida, a dança
são típicas das atividades envolvendo portivo têm dificuldade em reconhecer a importância dos aeróbia de alto impacto e o ténis são exemplos de modalidades
contacto físico, como nas modalidades múltiplos fatores que podem contribuir para a sua génese. que predispõem os seus praticantes a este tipo de lesões.
coletivas ou desportos de combate, e/ou Estas lesões exigem para o seu tratamento e prevenção uma As fraturas de fadiga (ou também intituladas de stress) e
caraterizadas por gestos explosivos e que multiplicidade de cuidados, desde os nutricionais até ao as lesões inflamatórias de sobrecarga (tendinites, periostites,
requerem atividade gestual complexa. próprio equipamento desportivo, passando pelas condições bursites, sinovites, ligamentites, etc.) representam exemplos de
atmosféricas, morfotipo, entre outros. lesões microtraumáticas.

As fraturas ósseas, as entorses e as luxações


articulares, as roturas musculares e tendinosas
são exemplos deste tipo de lesões.

INSTITUTO PORTUGUÊS DO DESPORTO E JUVENTUDE MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO


PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES GRAU I
FUNCIONAMENTO DO CORPO HUMANO, 2. PREVENÇÃO DE LESÕES DESPORTIVAS
PRIMEIROS SOCORROS E ANTIDOPAGEM E PRIMEIROS SOCORROS

3.
OS PRIMEIROS O insucesso do apoio médico à população desportiva
deve-se, muitas vezes, à falta de conhecimentos elementares

SOCORROS de traumatologia desportiva dos treinadores e atletas.


A prevenção secundária de lesão desportiva é definida
como o conjunto de cuidados necessários a um diagnóstico
precoce e a um tratamento correto, a instituir o mais cedo
possível, visando desta forma curar ou minimizar a lesão,
evitando eventuais complicações e sequelas e encurtando o
período de incapacidade.

1. 2. 3.
Porque é que os cui- O atleta ou o treinador, por deficien- A deficiente cobertura do nosso país, O atleta consulta o médico especiali- 22
tes conhecimentos de traumatologia em termos de traumatologia desportiva, zado, mas não executa os tratamentos
dados relacionados com a
desportiva, subvalorizam a lesão leva a que o atleta tenha dificuldade em prescritos ou as modificações reco-
prevenção secundária de continuando a sua atividade despor- encontrar um médico especializado para mendadas a nível do plano de treino.
lesão desportiva não são tiva, realizando tratamentos “caseiros” lhe resolver o seu problema, recorrendo
realizados ou são realiza- inadequados e consultando tardia- aos cuidados de pessoal não preparado
dos tardiamente? mente o médico. para fornecer um apoio especializado.

Torna-se por isso fundamental que o atleta e o treinador se os cuidados realizados forem inadequados. Como o atleta na
tenham conhecimentos elementares de traumatologia despor- maior parte das vezes não tem acesso ao médico nas primeiras
tiva, de forma a não só saberem reconhecer os diversos tipos de 24 horas deverá estar habilitado a realizar os primeiros cuidados
lesão e a sua gravidade, mas também a atuarem precocemente, elementares de tratamento.

>>
instituindo alguns cuidados elementares de tratamento. Por
exemplo, numa rotura muscular é fundamental o tratamento
instituído nas primeiras 24 horas, o qual, se adequado, pode
minimizar os danos lesionais; acontece precisamente o inverso,

INSTITUTO PORTUGUÊS DO DESPORTO E JUVENTUDE MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO


PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES GRAU I
FUNCIONAMENTO DO CORPO HUMANO, 2. PREVENÇÃO DE LESÕES DESPORTIVAS
PRIMEIROS SOCORROS E ANTIDOPAGEM E PRIMEIROS SOCORROS

3.1. Nas feridas cutâneas


Recordemos que em relação à sua configuração, as feridas 1.º periférica de modo a evitarmos contaminar o centro da ferida
cutâneas podem ainda ser classificadas: Lavagem abundante com água corrente, ou idealmente com soro com os microrganismos vindos dos bordos da ferida, que repre-
fisiológico, procurando retirar corpos estranhos (terra, pedaços sentam a zona eventualmente mais contaminada da mesma.
de madeira, vidros, entre outros), transportando microrganismos Se tivermos de voltar à região central da ferida devemos utilizar
fonte de infeção, e coágulos de sangue que dificultam a observa- uma nova compressa embebida em antisséptico.
ção do local preciso de origem da hemorragia. Mesmo que exista
hemorragia abundante, a lavagem deve realizar-se para obtenção 4.º
dos objetivos atrás referenciados. De seguida iremos executar o penso que tem características
diferentes segundo o tipo de ferida:
2.º l Nas feridas incisas, contusas e inciso-contusas devemos apli-

Se existir hemorragia devemos realizar uma compressão prolon-


gada com compressa esterilizada, no local de origem da he-
car uma compressa esterilizada sobre a ferida, fixando a mesma
com uma ligadura elástica ou com adesivo. A ligadura deve 23
Esta classificação é muito útil, pois estes diversos tipos de morragia, através de compressão manual ou por ligadura elástica ser compressiva se ainda persistir alguma hemorragia. O atleta
feridas têm formas de atuação diferentes em relação às medi- colocada em torno da compressa. A utilização de um garrote só deve ser enviado a um centro médico para ser observado.
das a tomar em termos de primeiros socorros. muito raramente está indicada. l Nas feridas erosivas, que geralmente libertam um “soro” nas

Qualquer que seja o tipo de ferida, os primeiros passos no primeiras horas, não podemos utilizar um penso com com-
tratamento são geralmente idênticos: 3.º pressa seca, pois o referido soro ao secar faz a ferida aderir à
Após debelada a hemorragia, devemos desinfetar a ferida com compressa, surgindo a recidiva da mesma ao levantar o pen-
um antisséptico, sendo a povidona iodada (Betadine – solução so. As feridas erosivas, se não têm hemorragia e estão locali-
dérmica®) a mais utilizada. O antisséptico deve ser aplicado zadas em regiões que não sofram a ação erosiva do vestuário,
abundantemente com o auxílio de uma compressa esterilizada. devem ser deixadas sem penso, pois o soro ao secar forma
Idealmente a compressa deve ser manipulada com uma pinça uma superfície protetora das mesmas. Caso contrário deve
esterilizada, mas na ausência desta deve ser manipulada com ser realizado um penso com compressa gorda (comprada
o auxílio dos dedos que, segurando na compressa através das na farmácia ou executada através de embebimento de uma
pontas, executam um cogumelo com a mesma. A desinfeção compressa seca com vaselina esterilizada), e posteriormente
deve iniciar-se na região central da ferida seguindo-se a região proceder como se tratasse de uma ferida incisa.

INSTITUTO PORTUGUÊS DO DESPORTO E JUVENTUDE MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO


PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES GRAU I
FUNCIONAMENTO DO CORPO HUMANO, 2. PREVENÇÃO DE LESÕES DESPORTIVAS
PRIMEIROS SOCORROS E ANTIDOPAGEM E PRIMEIROS SOCORROS

3.2. Nas lesões osteomusculares-


-articulares
Nas feridas erosivas não deve ser utilizada a “pele
plástica” para proteção da mesma, pois provoca um iso- A grande maioria das lesões osteomusculares-articulares
lamento da ferida com acumulação de soro por baixo manifesta-se por fenómenos hemorrágicos (hemorragia, he-
dela, favorecendo a infeção. A pele plástica só deve ser matoma, entre outros) e por sinais inflamatórios. A inflamação
utilizada a nível hospitalar ou na fase final do processo consiste num conjunto de manifestações (edema, dor, rubor e
cicatricial de uma ferida cutânea quando queremos calor) que representam uma resposta dos tecidos orgânicos a
proteger a mesma durante a prática de modalidades uma agressão.
desportivas que envolvam contacto com a água. O atle- As medidas de RICE (Rest, Ice, Compression, Elevation)
ta e o treinador também não devem utilizar sulfamidas (Descanso, Gelo, Compressão, Elevação) são muito importan-
em pó ou agentes cicatrizadores em pó ou pomada,
nos diversos tipos de feridas.
tes para que as manifestações hemorrágicas e inflamatórias
possam ser devidamente controladas. Tanto os fenómenos 24
O socorrista deve utilizar luvas protetoras durante a hemorrágicos como os inflamatórios representam uma
realização das medidas supracitadas. resposta benéfica do nosso organismo a uma agressão. É a
Devemos relembrar a necessidade de os atletas se partir de células (fibroblastos) que se encontram no sangue
encontrarem devidamente vacinados contra o tétano, existente a nível da lesão que se produzem fibras de colagénio
pois esta infeção tem origem muitas vezes em feridas dando início ao processo cicatricial conducente à formação da
contaminadas com o agente do tétano. fibrose, por exemplo. Dessa forma o objetivo da aplicação das
medidas de RICE não é eliminar os fenómenos hemorrágicos
e inflamatórios, mas apenas controlá-los, pois se ultrapassam
determinados limites passam a ser contraproducentes.
Nas lesões inflamatórias de sobrecarga após o início da
sintomatologia, o atleta deverá realizar crioterapia e repouso e
consultar rapidamente o seu médico assistente, colaborando
com o mesmo no tratamento. Estas lesões têm uma causa
multifatorial, com um contributo muito importante do atleta e
do treinador na sua resolução.

INSTITUTO PORTUGUÊS DO DESPORTO E JUVENTUDE MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO


PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES GRAU I
FUNCIONAMENTO DO CORPO HUMANO, 2. PREVENÇÃO DE LESÕES DESPORTIVAS
PRIMEIROS SOCORROS E ANTIDOPAGEM E PRIMEIROS SOCORROS

Após a ocorrência de uma lesão osteomuscular-articular, Após a realização das medidas RICE, o
como por exemplo uma rotura muscular, o atleta deve: atleta deve ser enviado, o mais brevemente
possível, a um médico ou a uma urgência
hospitalar conforme a gravidade da lesão pois
1. Aplicar imediatamente gelo, através da
aplicação de um saco de gelo (criote-
rapia) sobre o hematoma, durante 10
2. Realizar uma ligadura compressiva atra-
vés da utilização de uma ligadura elás-
tica, que deve ser colocada, em espinha,
podem ter de ser tomadas medidas urgentes.

a 15 minutos e repetir esta aplicação em torno do membro no local do hema- Nas fraturas ósseas e nas luxações articulares, de forma a evitar
de 2 em 2 horas durante as primeiras toma. Esta ligadura deve permanecer a lesão secundária das partes moles, o atleta deve ser imobilizado o
24 horas. Esta manobra visa criar uma nas primeiras 48 horas e visa evitar o mais precocemente possível. A imobilização deve abranger o seg-
constrição dos vasos locais evitando o agravamento do hematoma. Pode ser mento fraturado e as articulações acima e abaixo deste. Na ausência
agravamento do hematoma. retirada para a realização da criotera- de pessoal qualificado, o socorrista pode utilizar diversos tipos de
pia. No entanto a crioterapia pode ser
realizada sobre a ligadura compressiva,
imobilizações consoante a localização da fratura para que o pratican-
te desportivo se possa dirigir de imediato a uma urgência hospitalar: 25
aumentando, como é óbvio, o tempo de
aplicação da mesma. Talas – São fabricadas geralmente em madeira
e recobertas com algodão e ligadura de
gaze ou elástica. São colocadas no membro

3. Realizar repouso local, através do uso


de canadianas no caso de uma lesão de
qualquer segmento do membro inferior,
4. Elevar o membro lesado para facilitação
do retorno venoso evitando o edema.
a imobilizar e fixadas com ligadura elástica,
de modo a que não garrotem o membro se
o edema aumentar. Utilizam-se em fraturas
ou do uso de um cabresto (dispositivo dos membros (região tibiotársica, perna, coxa,
para colocação do braço ao peito) no caso punho, antebraço e braço). Podem igualmente
de se tratar de um membro superior. ser metálicas (talas de Zimmer) para imobili-
No caso de se tratar de uma lesão que zação dos dedos da mão, pois são facilmente
não possa ser imobilizada por um dos moldáveis e fixadas com ligadura elástica.
dois mecanismos citados anteriormente,
teremos que recorrer à imobilização no Cabresto – É uma imobilização por suspen-
leito. Este repouso visa igualmente o não são do membro superior para imobilização
agravamento do hematoma. provisória de fraturas da cintura escapular.

INSTITUTO PORTUGUÊS DO DESPORTO E JUVENTUDE MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO


PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES GRAU I
FUNCIONAMENTO DO CORPO HUMANO, 2. PREVENÇÃO DE LESÕES DESPORTIVAS
PRIMEIROS SOCORROS E ANTIDOPAGEM E PRIMEIROS SOCORROS

Não se deve tentar Perante uma luxação, o atleta ou o treinador não devem diferentes formas de aplicação. A utilização da crioterapia
alinhar a fratura. Essa tentar realizar a redução da luxação (recolocação das superfí- na fase aguda de múltiplas lesões traumáticas deve-se aos
cies articulares no seu local anatómico) pois esta manobra só seguintes efeitos orgânicos:
tarefa é exclusiva do pessoal
deve ser realizada por pessoal médico.
médico e paramédico, pois De forma a podermos entender a utilidade da aplicação 1. Vasoconstrição com diminuição do edema e das
manobras intempestivas do gelo na fase aguda das lesões desportivas, recordemos os hemorragias locais.
poderão originar lesões efeitos orgânicos da terapia pelo frio (crioterapia) e das suas 2. Ação analgésica com combate à dor.
graves das partes moles.

O GRAU DE ARREFECIMENTO MUSCULAR PROVOCADO PELA CRIOTERAPIA

n da camada adiposa n
DEPENDE DE DIVERSOS FATORES:
da resposta vasocons- do perímetro do mem-
n da duração da criote-
n n do tipo de aplicação da
26
subcutânea – quanto tritora ao arrefeci- bro – quanto maior o rapia – quanto maior crioterapia – o arrefeci-
maior esta for, menor mento cutâneo - que perímetro, menor é o a duração, maior é o mento conseguido por
o arrefecimento; varia de indivíduo para arrefecimento; arrefecimento; um banho de imersão em
indivíduo; água fria é maior que o
conseguido com a aplica-
ção do gelo diretamente
sobre a pele, por exemplo.

Temos que levar em atenção a profundidade da lesão e/ Saco de gelo


ou meios de contenção utilizados. A aplicação de crioterapia Representa talvez o método mais utilizado a nível domiciliar.
deve ser mais prolongada quando a lesão muscular, por exem- Consiste num recipiente contendo gelo idealmente tritu-
plo, for profunda ou quando exista uma ligadura a imobilizar rado ou partido, para aumentar a adaptabilidade do saco à
a zona lesada. zona a tratar. O recipiente pode ser um saco de plástico, uma
toalha ou um recipiente especial para gelo. Deve evitar-se o
O treinador ou o atleta podem utilizar as seguintes formas contacto direto do saco com a superfície cutânea, pelo risco
de aplicação de crioterapia: de queimadura. Se o saco estiver imóvel devemos utilizar uma

INSTITUTO PORTUGUÊS DO DESPORTO E JUVENTUDE MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO


PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES GRAU I
FUNCIONAMENTO DO CORPO HUMANO, 2. PREVENÇÃO DE LESÕES DESPORTIVAS
PRIMEIROS SOCORROS E ANTIDOPAGEM E PRIMEIROS SOCORROS

toalha para proteção da pele. Podemos executar pequenos o saco produzem uma reação química geradora de frio. São
movimentos com o saco fazendo variar a zona arrefecida, se práticos para o uso em ambulatório pois obviam a existência
desejarmos realizar aplicações rápidas sem a utilização de de uma fonte geradora de frio, mas são caros, o arrefecimen-
uma toalha para proteção da pele. A duração da aplicação to obtido é muito limitado no tempo, não são reutilizáveis
varia entre 10 e 20 minutos, segundo a gravidade e a profun- e podem provocar queimaduras químicas se o saco estiver
didade da lesão, a espessura do tecido adiposo subcutâneo e danificado. A técnica de utilização é semelhante à utilizada
o tipo de contenção utilizado. com o saco de gelo.

Sacos de gel frio Imersão em água fria ou água com gelo


Que contêm uma substância gelatinosa com propriedades É de fácil execução a nível domiciliar e muito utilizada princi-
anticongelantes de modo a que o saco se possa moldar adap- palmente no tratamento das extremidades. No entanto, é por
tando-se facilmente à zona anatómica a tratar, o que representa vezes difícil de tolerar pelos doentes, principalmente se a água
uma vantagem em relação à aplicação do saco de gelo. Em con-
trapartida apresentam um efeito menos duradouro que o do
estiver muito fria. Com este método o arrefecimento dos teci-
dos profundos é mais rápido e mais duradouro. O tratamento
Os sprays “milagrosos” podem ser
utilizados?
27
saco de gelo. Necessita de um congelador para ser armazenada deverá durar entre 10 e 15 minutos e a água deve estar entre 4
entre as utilizações pois é reutilizável. Representa um método °C e 10 °C. Se o arrefecimento estiver a ser intolerável, fazem-se Os sprays frios, tão utilizados em situações de lesão duran-
de aplicação de crioterapia muito prático e acessível. A técnica breves interrupções entre as imersões. te a atividade desportiva, não devem ser utilizados para a
de utilização é semelhante à utilizada com o saco de gelo. realização de crioterapia quando integrada nas medidas de
Massagem com gelo RICE, pois produzem apenas um efeito analgésico muito
Toalhas geladas É de fácil execução e extremamente eficaz, mas é preciso avi- rápido e potente não originando a desejada vasoconstri-
As toalhas são imersas em água com sal (500 gramas de sal sar o doente que pode haver um aumento momentâneo da ção. Podem ser utilizados para combate rápido da dor sur-
para 5 litros de água) e posteriormente congeladas. São apli- dor na fase inicial do tratamento, que é normal e não provoca gida durante a atividade desportiva se tivermos a certeza
cadas durante 5 minutos. qualquer tipo de problema. Deve ter uma duração de 5 a 10 de que esta não resulta de uma lesão grave impeditiva da
minutos e aplica-se em lesões superficiais dos tendões, bolsas realização dessa atividade. Cuidado, pois podem provo-
Sacos de frio químico sinoviais e ligamentos, através de pequenos movimentos cir- car queimaduras, devendo o jato do spray ser aplicado a
São pequenos sacos constituídos por uma porção sólida e ou- culares sobre a pele. Nas lesões musculares a aplicação deverá cerca de 30 centímetros de distância da zona da superfície
tra líquida ou gasosa, que quando se misturam ao apertarmos ser mais prolongada, cerca de 15 minutos. corporal a atingir.

INSTITUTO PORTUGUÊS DO DESPORTO E JUVENTUDE MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO


PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES GRAU I
FUNCIONAMENTO DO CORPO HUMANO, 2. PREVENÇÃO DE LESÕES DESPORTIVAS
PRIMEIROS SOCORROS E ANTIDOPAGEM E PRIMEIROS SOCORROS

A crioterapia está contraindicada nas lesões isquémicas 3.3. Nos traumatismos cranianos e
periféricas, na intolerância ou alergia ao frio, nas vasculites, em
situações de défice da sensibilidade cutânea à dor e em feridas
vertebrais
cutâneas abertas. De modo a evitarmos queimaduras através
da aplicação de crioterapia devemos parar a aplicação quando Se o traumatizado craniano estiver inconsciente deve-
surgirem parestesias (sensação de formigueiro ou dormência mos colocá-lo em posição lateral de segurança (Fig.8) para
na pele). O risco de queimadura pode ser minimizado evitando evitar uma aspiração de um eventual vómito. O traumatizado
o contacto direto da forma de aplicação de crioterapia com a vertebro-medular não pode ser colocado em posição lateral
superfície cutânea e limitando a duração da mesma. de segurança pois isso poderia levar à lesão medular. Em alter-
Em resumo, quanto mais intensas forem a dor e o edema, nativa, os traumatizados vertebro-medulares a nível lombar e
mais frequente deve ser a aplicação da crioterapia. Devemos dorsal deverão ser colocados em decúbito dorsal com a rota-
respeitar o tempo máximo de aplicação para cada tipo de crio- ção da cabeça e do pescoço para um dos lados minorando os
terapia, mas podemos repetir o tratamento várias vezes ao dia.
A crioterapia executada com um tempo de aplicação superior
efeitos de um eventual vómito. Nos traumatizados vertebro-
-medulares a nível cervical nem isso podemos fazer devendo 28
ao aconselhado pode ser prejudicial, pois a partir de uma certa mantê-los em decúbito dorsal.
altura deixa-se de produzir a vasoconstrição desejada, surgindo Se o sinistrado estiver consciente deve permanecer
uma vasodilatação reativa. Todas estas formas de frio podem imobilizado em decúbito dorsal, quer tenha um traumatismo
ser usadas nas fases agudas da grande maioria das lesões des- craniano quer um traumatismo vertebro-medular e esperar
portivas, ou na fase tardia das mesmas no combate à dor. nessa posição pela emergência médica.

As medidas do RICE devem aplicar-se durante as primeiras 24 horas da


fase aguda das lesões desportivas. No entanto, se os fenómenos hemorrágicos
e/ou a inflamação não estiverem controlados, devemos prolongar a aplicação
dessas medidas até às 48 horas ou mesmo, por vezes, até às 72 horas.
FIGURA 9 - Posição lateral de segurança.

INSTITUTO PORTUGUÊS DO DESPORTO E JUVENTUDE MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO


PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES GRAU I
FUNCIONAMENTO DO CORPO HUMANO, 2. PREVENÇÃO DE LESÕES DESPORTIVAS
PRIMEIROS SOCORROS E ANTIDOPAGEM E PRIMEIROS SOCORROS

Medidas a tomar numa perda de consciência


As perdas de consciência podem ser devidas a múltiplas
causas e podem acontecer durante a atividade desportiva.
Dentro das causas que podem motivar uma perda de consciên-
cia citamos:

PERDA DE CONSCIÊNCIA

LIPOTIMIA SIMPLES perda de consciência curta, causada na maior parte das


vezes por uma descarga do sistema parassimpático,
motivada por uma emoção forte, pela observação de
situações desagradáveis, ou de sangue, entre outras.

TRAUMATISMO CRANIANO quando um traumatismo craniano se associa a


uma perda de consciência, mesmo que pouco
duradoura, tem geralmente gravidade, e deve

PROBLEMAS RESPIRATÓRIOS
inspirar cuidados.

por afogamento ou crise asmática, por exemplo. 29


Um armário ou uma mala de UMA EMBALAGEM DE SORO FISIOLÓGICO; UMA TESOURA;
por enfarte do miocárdio ou arritmia cardíaca, por UMA EMBALAGEM DE BETADINE® SOLUÇÃO DIVERSAS PINÇAS ESTERILIZADAS DESCAR-
PROBLEMAS CARDÍACOS
exemplo. primeiros socorros devem ter no
DÉRMICA; TÁVEIS;
PROBLEMAS METABÓLICOS por hipoglicémia ou hiperglicemias em diabéticos ou
mínimo os seguintes materiais: UMA EMBALAGEM DE ÁLCOOL; ALFINETES DE AMA;
por excesso de ingestão de álcool, por exemplo.
VÁRIAS EMBALAGENS DE COMPRESSAS TALAS PARA IMOBILIZAÇÃO DE FRATURAS DE
COMA HIPOVOLÉMICO por hemorragias graves com grande perda de ESTERILIZADAS DE DIVERSAS DIMENSÕES; DIVERSAS DIMENSÕES;
sangue e anemia aguda. UMA EMBALAGEM DE COMPRESSAS GORDAS; DUAS TALAS DE ZIMMER® PARA IMOBILIZAÇÃO
UMA EMBALAGEM DE ALGODÃO; DE FRATURAS DOS DEDOS DA MÃO;
DESIDRATAÇÃO E GOLPE DE CALOR
UMA EMBALAGEM DE PENSOS RÁPIDOS DE UM DISPOSITIVO PARA SUSPENSÃO DE BRAÇO
EM CASO DE DÚVIDA DIVERSAS DIMENSÕES; AO PEITO;
ACIONAR SEMPRE O 112 LIGADURAS DE GAZE DE DIVERSAS DIMENSÕES; LUVAS DESCARTÁVEIS;
LIGADURAS ELÁSTICAS DE DIVERSAS DIMENSÕES; PROTETOR FACIAL DESDOBRÁVEL PARA
Como vimos, algumas destas perdas de consciência podem ROLOS DE GAZE TUBULAR DE DIVERSAS REALIZAÇÃO DE REANIMAÇÃO CARDIOR-
DIMENSÕES; RESPIRATÓRIA;
ocorrer durante a atividade desportiva e, assim, o atleta e o
LIGADURA FUNCIONAL ELÁSTICA E NÃO SACOS DE PLÁSTICO;
treinador devem estar preparados para as socorrer. Perante um
ELÁSTICA; UMA EMBALAGEM DE ESPÁTULAS;
atleta inconsciente o socorrista deve fazer a avaliação dos sinais UMA EMBALAGEM DE FITA ADESIVA; PACOTES DE AÇÚCAR.
vitais e iniciar as manobras de suporte básico de vida, caso
necessárias e se estiver habilitado a realizá-las.

INSTITUTO PORTUGUÊS DO DESPORTO E JUVENTUDE MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO


PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES GRAU I
FUNCIONAMENTO DO CORPO HUMANO, 2. PREVENÇÃO DE LESÕES DESPORTIVAS
PRIMEIROS SOCORROS E ANTIDOPAGEM E PRIMEIROS SOCORROS

Para finalizar, gostaríamos de salientar que perante uma


situação onde haja necessidade da intervenção do treinador
em termos de primeiros socorros e se o mesmo tiver dúvidas
do que deve fazer, mais vale uma atitude passiva, utilizando
sempre o bom senso e acionando os meios adequados para
socorrer o praticante desportivo.
Quando surge uma lesão desportiva ou uma doença é
fundamental que o atleta recorra a uma consulta médica onde
possa ser realizado um diagnóstico correto e prescrito um
tratamento adequado, que pode passar pela prescrição de me-
dicamentos ou de meios e métodos terapêuticos executados
por outros profissionais de saúde (fisioterapeutas, enfermeiros,
entre outros). A realidade é no entanto bem diferente pois há
uma tendência para o atleta subestimar a doença ou a lesão 30
desportiva, não recorrendo a uma consulta médica.
A falta de cuidados terapêuticos adequados faz com que perda de consciência, cefaleias violentas, náuseas, vó- presença de sangue na urina;
uma lesão aguda de fácil tratamento (rotura muscular ou entor- mitos, vertigens, perdas de memória, «formigueiros» fraturas ou suspeita de fraturas;
se articular, por exemplo) evolua para uma lesão crónica com ou perda de força nos membros após um traumatis- lesões articulares, ligamentares, musculares e tendi-
todos os malefícios que daí podem advir. O recurso a pseudo- mo craniano; nosas graves;
profissionais de saúde é também frequente e gera geralmente problemas respiratórios após uma pancada na cabe- lesões oculares;
situações de difícil resolução. ça, pescoço ou caixa torácica; feridas profundas com hemorragias;
As seguintes situações necessitam de observação imediata traumatismos da coluna vertebral com ponto doloroso sobre hemorragia grave;
e urgente de um médico e por isso o recurso a uma urgência a mesma, «formigueiros» ou perda de força nos membros; qualquer tipo de lesão cuja gravidade ou atitude a
hospitalar ou ao Instituto Nacional de Emergência Médica. Em dores abdominais intensas; tomar se duvide.
caso de dúvida acionar sempre o 112:

De qualquer forma, um praticante desportivo deve ser


sempre observado por um médico nas 24 horas após qualquer
outro tipo de lesão cujos sintomas persistam, ou se existirem
dúvidas na atitude a tomar.

INSTITUTO PORTUGUÊS DO DESPORTO E JUVENTUDE MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO


PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES GRAU I
FUNCIONAMENTO DO CORPO HUMANO, 2. PREVENÇÃO DE LESÕES DESPORTIVAS
PRIMEIROS SOCORROS E ANTIDOPAGEM E PRIMEIROS SOCORROS

Pontos-chave
! da subunidade
1. O treinador deve ter uma intervenção pedagógica 5. Nas lesões inflamatórias de sobrecarga, o atleta e o
junto dos jovens atletas transmitindo-lhe uma série treinador têm um papel fulcral na sua evolução para a
de regras de higiene, que por um lado promovam cronicidade. A palavra de ordem é: “Tratemos bem as
a saúde e por outro façam com que a relação do agudas de forma a evitarmos as crónicas”.
atleta com a atividade desportiva seja salutar e sem
problemas. 6. As medidas de RICE (Rest, Ice, Compression, Ele-
vation) são muito importantes para que as mani-
2. Deve abordar os cuidados nutricionais, a importância
do sono, da higiene corporal e oral, os perigos do
festações hemorrágicas e inflamatórias possam ser
devidamente controladas. Devem aplicar-se durante 31
álcool, do tabaco, das drogas sociais e das substâncias as primeiras 24 horas da fase aguda das lesões des-
dopantes e os cuidados a ter na prevenção das doen- portivas.
ças transmitidas por contacto sexual, entre outros.

3. O exame médico desportivo é obrigatório para


atletas federados e tem uma validade anual. É fun-
damental para garantir uma prática desportiva em
segurança.

4. As feridas cutâneas, as hemorragias, os hematomas, as


roturas musculares e dos tendões, as fraturas ósseas,
as luxações e as entorses articulares e os traumatis-
mos cranianos e vertebro-medulares são exemplos de
lesões macrotraumáticas.

INSTITUTO PORTUGUÊS DO DESPORTO E JUVENTUDE MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO


PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES GRAU I
FUNCIONAMENTO DO CORPO HUMANO,
PRIMEIROS SOCORROS E ANTIDOPAGEM

SINOPSE DA No final desta unidade curricular, os treinadores devem: ↘ identificar as principais lesões desportivas e os meca-
nismos inerentes à sua génese, quer de lesões macro-

UNIDADE CURRICULAR ↘ ter conhecimentos básicos sobre anatomia humana e


funcionamento do corpo humano relacionados com o
traumáticas normalmente provenientes de situações
agudas, quer de lesões microtraumáticas, habitualmente
[FUNCIONAMENTO DO CORPO HUMANO E PRIMEIROS SOCORROS]
movimento, os esforços físicos e a recuperação funcio- originadas pela sobrecarga de esforço repetitivo e mais
nal, de modo a contribuir para a prevenção de lesões difíceis de reconhecer. Deve assim saber identificar os
desportivas; sinais e sintomas indicadores da sua gravidade;
↘ conhecer os estilos de vida saudáveis nomeadamente no ↘ executar primeiros socorros básicos e ter noções básicas
que respeita as regras de higiene na atividade despor- de referenciação. É muito importante que o treinador e o
tiva, informando e promovendo junto dos seus atletas atleta reconheçam os diversos tipos de lesão, para assim
as áreas dos cuidados alimentares, o sono correto, a im-
portância do banho, a higiene oral, o consumo de álcool,
atuarem precocemente, instituindo alguns cuidados
elementares de tratamento, muitas vezes fundamentais 32
tabaco, drogas socias e substâncias dopantes, bem como nas primeiras 24 horas para minimizar os danos antes da
informação sobre doenças sexualmente transmissíveis; observação médica posterior. Perante uma situação em
↘ promover a realização anual do exame médico despor- que haja necessidade de intervenção do treinador em
tivo, como meio de triagem de determinadas patologias termos de primeiros socorros e se o mesmo tiver dúvidas
ou situações clínicas, sendo imprescindível para aferir do que fazer, mais vale uma atitude passiva, utilizando o
a existência ou não de contraindicações absolutas ou bom senso e acionando os adequados meios para socor-
relativas para a prática desportiva em segurança; rer o praticante desportivo.

INSTITUTO PORTUGUÊS DO DESPORTO E JUVENTUDE MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO


PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES GRAU I
FUNCIONAMENTO DO CORPO HUMANO,
PRIMEIROS SOCORROS E ANTIDOPAGEM

AUTOVERIFICAÇÃO A. Aferição do conhecimento B. Aplicação do conhecimento


DOS CONHECIMENTOS 1. O que é uma articulação? Dê um exemplo. 1. Como reage o organismo em situações de treino intenso
e temperaturas ambientais muito elevadas? Que medi-
[FUNCIONAMENTO DO CORPO HUMANO E PRIMEIROS SOCORROS]
2. Quais os componentes anatómicos dos músculos das adotar?
estriados?
2. Como proceder perante uma entorse do tornozelo?
3. Quais os principais músculos envolvidos nos movimen-
tos respiratórios? 3. Quer organizar a sua mala de primeiros socorros. Que
materiais vai incluir?
4. Como é constituído o sistema neuro-hormonal? Quais
as suas funções? 4. Como aplicar os sprays frios? Quais os cuidados a 33
adotar?
5. Qual a importância do exame médico-desportivo?
5. Perante uma ferida cutânea pouco profunda, quias as
6. O que são lesões de sobrecarga? medidas a tomar em termos de primeiros socorros?

INSTITUTO PORTUGUÊS DO DESPORTO E JUVENTUDE MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO


PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES GRAU I
FUNCIONAMENTO DO CORPO HUMANO,
PRIMEIROS SOCORROS E ANTIDOPAGEM

RECOMENDAÇÕES
DE LEITURA
[FUNCIONAMENTO DO CORPO HUMANO E PRIMEIROS SOCORROS] Enciclopédia e Dicionários Porto Editora,
disponível em www.infopedia.pt

34

REFERÊNCIAS
[FUNCIONAMENTO DO CORPO HUMANO E PRIMEIROS SOCORROS] Bandarra, R. (2016). Boas Práticas na Saúde
do Desportista, (1.ª edição). Porto: Edições
Afrontamento.

Frank, Netter. (2015). Atlas de Anatomia


Humana, (4.ª edição), São Paulo: Editora
Elsevier Brasil.

Horta, L. (2011). Prevenção de Lesões


no Desporto, (2.ª edição). Lisboa: Texto
Editores.

Steve-Parker, (2007). Anatomia e Fisiologia


do Corpo Humano, (2.ª edição) Porto:
Civilização Editora.

INSTITUTO PORTUGUÊS DO DESPORTO E JUVENTUDE MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO


PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES GRAU I
FUNCIONAMENTO DO CORPO HUMANO,
PRIMEIROS SOCORROS E ANTIDOPAGEM

GLOSSÁRIO DE Cadeias musculares


Grupos de músculos que contribuem
Eferente
Que vai da região central para a periferia.
o colagénio desempenha várias funções,
como, por exemplo, unindo e fortalecen-

CONCEITOS-CHAVE para a execução de um determinado


movimento. Exame de sobreclassificação
do os tecidos.

[FUNCIONAMENTO DO CORPO HUMANO E PRIMEIROS SOCORROS]


Exame médico realizado a um atleta, Fibrilhação ventricular
Catabolismo candidato à prática desportiva para além A fibrilhação ventricular é uma série
Processo pelo qual os compostos do escalão imediatamente superior ao descoordenada e potencialmente fatal
orgânicos complexos são fracionados correspondente da sua idade. Exige uma de contrações ventriculares muito rápidas
em compostos químicos mais simples, avaliação rigorosa da maturidade física e ineficazes, produzidas por múltiplos
produtos residuais e, em geral, liber- (estudo biométrico, idade óssea, matura- impulsos elétricos caóticos. Na fibrilhação
tam energia. ção sexual, avaliação cardíaca) e maturi-
dade psicológica, de forma a assegurar
ventricular, os ventrículos tremem, mas
não contraem de forma coordenada. 35
Cefaleias que o praticante tem capacidade para ser
Dor de cabeça. submetido a cargas de treinos e compe- Fibrose muscular
tições superiores às previstas para a sua Zona cicatricial formada por tecido con-
Cifose idade cronológica. juntivo formado por entrançado de fibras
Aumento anormal da convexidade ante- de colagénio que ocorre após uma lesão
rior da coluna vertebral. Exame ectoscópico muscular.
Faz parte do exame objetivo na avaliação
Edema clínica e dá-nos uma ideia global da mor- Foco de fratura
Acumulação anormal de líquido no fologia do atleta. Conjunto de tecidos lesados pelo trau-
compartimento extracelular intersticial matismo comum que conduziu à fratura,
ou nas cavidades corporais devido ao Fibras de colagénio podendo envolver lesões vasculares,
aumento da pressão hidrostática, dimi- Colagénio é uma proteína de importância nervosas, ligamentares, musculares, tendi-
nuição da pressão osmótica, aumento fundamental na constituição da matriz nosas junto ao local da lesão óssea.
da permeabilidade vascular (infla- extracelular do tecido conjuntivo, sendo
mações) e diminuição da drenagem responsável por grande parte de suas Impotência funcional
linfática. propriedades físicas. No corpo humano, Incapacidade de realizar uma função.

INSTITUTO PORTUGUÊS DO DESPORTO E JUVENTUDE MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO


PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES GRAU I
FUNCIONAMENTO DO CORPO HUMANO,
PRIMEIROS SOCORROS E ANTIDOPAGEM

GLOSSÁRIO DE Joelho valgo


Projeção dos joelhos para dentro da linha
Pé plano
Designação usada na área da saúde para
Sistema propriocetivo
É a estrutura orgânica que entre outras,

CONCEITOS-CHAVE média do corpo. designar a deformidade do pé onde há


um diminuição da curvatura da arcada
informa o cérebro sobre o estado de cada
segmento do corpo humano, sobre a
[FUNCIONAMENTO DO CORPO HUMANO E PRIMEIROS SOCORROS]
Joelho varo longitudinal do pé. relação entre cada segmento e o todo
Projeção dos joelhos para fora da linha corporal. Informa também sobre a relação
média do corpo. Perda de substância do corpo com o espaço que o rodeia.
Perda de tecidos orgânicos (pele, tecido
Medula óssea celular subcutâneo, musculo, entre outros)
Tecido esponjoso que ocupa o interior numa ferida.
dos ossos, onde são produzidos os
componentes do sangue: glóbulos ver- Periósteo 36
melhos, glóbulos brancos e plaquetas. Membrana muito vascularizada, fibrosa e
Os glóbulos vermelhos transportam o resistente, que envolve por completo os
oxigénio dos pulmões até às células de ossos, exceto nas articulações.
todo o organismo e o dióxido de carbo-
no das células até aos pulmões para ser Sinapse
expirado. Os glóbulos brancos são os Ponto de união entre duas células. As
agentes mais importantes na defesa do sinapses, servem como meio de comu-
organismo e as plaquetas fazem parte nicação entre células e é através delas
do sistema de coagulação do sangue. que o impulso que leva a informação
é transmitido. Podem ser de dois tipos:
Pé cavo sinapse química (neurotransmissores),
Designação usada na área da saúde para utilizadas no sistema nervoso, e as
designar a deformidade do pé onde há sinapses elétricas, utilizadas pelos mús-
um aumento da curvatura da arcada culos e coração.
longitudinal do pé.

INSTITUTO PORTUGUÊS DO DESPORTO E JUVENTUDE MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO


PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES GRAU I
FUNCIONAMENTO DO CORPO HUMANO,
PRIMEIROS SOCORROS E ANTIDOPAGEM

ANTIDOPAGEM Índice
CAPÍTULO III.
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM 38
RESUMO 38
1. PRINCÍPIOS GERAIS E CONTROLOS DE DOPAGEM 39
1.1. PRINCÍPIOS GERAIS 39
1.2. OBJETIVOS DA ANTIDOPAGEM 42
1.3. CONTROLOS DE DOPAGEM: EM COMPETIÇÃO E FORA DE COMPETIÇÃO 43
PONTOS-CHAVE 49
2. SENSIBILIZAÇÃO E EDUCAÇÃO EM ANTIDOPAGEM 50
2.1. LISTA DE SUBSTÂNCIAS E MÉTODOS PROÍBIDOS 52
- Como proteger os praticantes desportivos
2.2. SISTEMA DE AUTORIZAÇÃO DE UTILIZAÇÃO TERAPÊUTICA 53
- O direito ao tratamento
2.3. SUPLEMENTOS NUTRICIONAIS 54
- Quais os riscos inerentes ao seu uso
PONTOS-CHAVE 57
SINOPSE DA UNIDADE CURRICULAR 58
AUTO VERIFICAÇÃO DOS CONHECIMENTOS 59
RECOMENDAÇÕES DE LEITURA 60
GLOSSÁRIO 61

1. FUNCIONAMENTO DO CORPO HUMANO


Luís Horta 2. PREVENÇÃO DE LESÕES DESPORTIVAS E PRIMEIROS SOCORROS
3. ANTIDOPAGEM

INSTITUTO PORTUGUÊS DO DESPORTO E JUVENTUDE MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO


PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES GRAU I
FUNCIONAMENTO DO CORPO HUMANO, 3. ANTIDOPAGEM
PRIMEIROS SOCORROS E ANTIDOPAGEM

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM RESUMO


Neste primeiro nível de formação, os participantes vão petição. Serão elucidados sobre os procedimentos inerentes
GERAIS
l O PNFT contribui de forma decisiva para que a Autori- ter uma primeira abordagem sobre a temática, de forma a aos controlos de dopagem, desde o planeamento dos testes
entenderem como está organizada, tanto a nível nacional, até aos procedimentos disciplinares em caso de violações
dade Antidopagem de Portugal (ADoP), possa cumprir
como a nível internacional, assim como quais são os princi- de normas antidopagem, passando pela forma como são
as suas obrigações em termos de educação antidopa-
pais objetivos da antidopagem. realizados os procedimentos de recolha e de análise das
gem dos treinadores a nível nacional. Vão perceber as atribuições da Autoridade Antidopagem amostras.
l Neste grau, a formação do treinador terá como obje- de Portugal (ADoP) e das outras duas entidades com responsa- O treinador, como pilar fundamental da formação
tivos gerais receber informação relativa às seguintes bilidades pela antidopagem no nosso país: Laboratório de Aná- desportiva, deve reconhecer a importância das estratégias
matérias: princípios gerais e controlos de dopagem; lises de Dopagem (LAD) e Colégio Disciplinar Antidopagem. de sensibilização e educação em antidopagem. Todos os
sensibilização e educação em antidopagem. Vão reconhecer a necessidade da criação da Agência treinadores devem conhecer as ferramentas que permitem

ESPECÍFICOS
Mundial Antidopagem (AMA) como entidade reguladora da
antidopagem a nível mundial.
saber se um medicamento contém substâncias proibidas,
saber como os praticantes desportivos podem exercer o seu 38
O treinador, como pilar principal de toda a preparação
l Os participantes vão perceber o papel fulcral dos contro- direito ao tratamento e reconhecer os riscos inerentes ao uso
desportiva, será formado na unidade curricular do los de dopagem, tanto em competição, como fora de com- de suplementos nutricionais.

Grau I “Funcionamento do Corpo Humano/Prevenção


de Lesões/Primeiros Socorros/Antidopagem”, relativa-
mente a matérias que foram as consideradas mais ade-

>
quadas para um nível inicial de formação: identificar as
Autorizações de Utilização Terapêutica (AUT); identificar
as consequências da dopagem ao nível da ética e da
saúde, os procedimentos de controlo de dopagem, as
substâncias e métodos que integram a Lista de Subs-
tâncias e Métodos Proibidos e os riscos inerentes ao uso
de suplementos nutricionais.

INSTITUTO PORTUGUÊS DO DESPORTO E JUVENTUDE MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO


PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES GRAU I
FUNCIONAMENTO DO CORPO HUMANO, 3. ANTIDOPAGEM
PRIMEIROS SOCORROS E ANTIDOPAGEM

3.
PRINCÍPIOS GERAIS 1.1. Princípios gerais

E CONTROLOS DE 1.1.1 INTRODUÇÃO


A luta contra a dopagem é, para além de uma forma de Compete também à ADoP colaborar com os organismos

DOPAGEM preservação da saúde dos praticantes desportivos, uma for-


ma de preservação da verdade desportiva e de um desporto
nacionais e internacionais com responsabilidade na luta
contra a dopagem no desporto.
limpo, onde os princípios de ética desportiva sejam rigorosa- A ADoP foi criada no final de 2009 e tem a sua ativida-
mente respeitados. de regulada pela Lei n.º 81/2021, de 30 de novembro, que
estabelece o regime jurídico da luta contra a dopagem em
Em Portugal, a Autoridade Antidopagem de Portugal Portugal, e pela Portaria n.º 11/2013, de 11 de janeiro, que
(ADoP) é a organização nacional antidopagem com funções estabelece as normas de execução regulamentar do referido
no controlo e na luta contra a dopagem no desporto, no- regime (atualmente em processo de revisão).
meadamente enquanto entidade responsável pela adoção
de regras com vista a desencadear, implementar ou aplicar 39
qualquer fase do procedimento de controlo de dopagem.

FIGURA 1 - Logótipo da ADoP.

A ADoP, no exercício da sua missão, rege-se pelos princí-


pios da independência científica e operacional, da precaução,
da credibilidade, da transparência e da confidencialidade.

O apoio logístico e administrativo necessário ao funciona-


mento da ADoP é prestado pela secretaria-geral do ministério
responsável pela área do desporto.

A ADoP integra dois serviços distintos: a Estrutura de


Suporte ao Programa Antidopagem (ESPAD) e a Divisão
Jurídica. No âmbito da ESPAD funciona ainda a Comissão de
Autorização de Utilização Terapêutica (CAUT).

INSTITUTO PORTUGUÊS DO DESPORTO E JUVENTUDE MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO


PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES GRAU I
FUNCIONAMENTO DO CORPO HUMANO, 3. ANTIDOPAGEM
PRIMEIROS SOCORROS E ANTIDOPAGEM

O Conselho Consultivo é o órgão de natureza consultiva


da ADoP, competindo-lhe emitir pareceres não vinculativos,
sempre que para tal for solicitado pela ADoP. Este Conselho,
presidido pelo Presidente da ADoP, é composto por um total
de 17 conselheiros, representantes de diversas entidades
públicas, do movimento desportivo, de algumas ordens pro-
fissionais, das comissões de atletas olímpicos e paralímpicos e
das duas regiões autónomas.

Compete à ESPAD assegurar os serviços administrativos e conhecimento médico relevantes para o processo de decisão
logísticos necessários à implementação do Programa Nacional inerente às autorizações de utilização terapêutica.
Antidopagem, nomeadamente o planeamento e realização dos
controlos de dopagem, a gestão administrativa dos resultados, A ADoP forma e certifica um conjunto de mais de 50
sanções e apelos, do sistema de localização de praticantes des-
portivos e do sistema de autorizações de utilização terapêutica.
responsáveis pelo controlo de dopagem (RCD). Os RCD são
médicos, enfermeiros e técnicos de análises, que realizam os 40
Cabe também à ESPAD executar os programas informativos e procedimentos de recolha de urina e sangue relativos aos
educativos relativos à luta contra a dopagem no desporto. A controlos de dopagem. Estes profissionais são selecionados por
ESPAD possui um Sistema de Gestão da Qualidade que é certifi- concurso público, respeitando-se todos os requisitos definidos pela
cado pela Norma ISO 9001. Agência Mundial Antidopagem para o exercício desta função. No
âmbito da sua atividade, os RCD são submetidos a processos muito
À Divisão Jurídica compete nomeadamente prestar assesso- exigentes de formação contínua e de monitorização.
ria jurídica aos órgãos da ADoP, colaborar e participar na elabora-
ção de diplomas legais, nacionais e internacionais, relativos à luta Para além da ADoP, existem outras duas entidades nacio-
contra a dopagem no desporto e verificar a conformidade dos nais antidopagem: o Laboratório de Análises Antidopagem
FIGURA 2 - Organograma da ADoP. regulamentos federativos antidopagem. Assegura a instrução dos (LAD) e o Colégio Disciplinar Antidopagem (CDA). A existência
processos de contraordenação e dos procedimentos disciplinares, destas três entidades na estrutura orgânica da antidopagem
analisa impugnações e assegura a representação judicial da ADoP. em Portugal é o garante da independência do sistema anti-
dopagem português. O Código Mundial Antidopagem exige
A CAUT é o órgão responsável pela análise e aprovação que, em cada país, o laboratório antidopagem e a entidade
das autorizações de utilização terapêutica. É formada por responsável pela aplicação das sanções sejam independentes
cinco médicos com formação em áreas diversificadas do da organização nacional antidopagem.

INSTITUTO PORTUGUÊS DO DESPORTO E JUVENTUDE MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO


PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES GRAU I
FUNCIONAMENTO DO CORPO HUMANO, 3. ANTIDOPAGEM
PRIMEIROS SOCORROS E ANTIDOPAGEM

O LAD é um dos cerca de três dezenas de laboratórios a 1.1.2 O PROGRAMA MUNDIAL ANTIDOPAGEM O Programa Mundial Antidopagem está alicerçado no
nível mundial com plena acreditação pela Agência Mundial Atualmente, a luta contra a dopagem traduz-se num Código Mundial Antidopagem e nas oito Normas Internacio-
Antidopagem para a realização de análises de dopagem, tanto esforço concertado de todos os países do mundo e de vários nais (lista de substâncias e métodos proibidos, laboratórios,
em análises de urina como de sangue. Este laboratório é uma intervenientes do movimento desportivo, como os Comités controlo e investigações, autorização de utilização terapêuti-
unidade com autonomia técnica e científica, funciona junto Olímpico e Paralímpico Internacionais e as federações des- ca, proteção da privacidade e dos dados pessoais, gestão de
do Instituto Português do Desporto e Juventude, I.P. (IPDJ, I.P.). portivas internacionais e nacionais. Deste esforço concertado resultados, educação e conformidade dos signatários), que
O LAD está igualmente acreditado pelo Instituto Português de nasceu, em 1999, a Agência Mundial Antidopagem (AMA), são as pedras basilares da luta contra a dopagem, nas quais
Acreditação com as Normas ISO 17025. Para além disso, o LAD com o objetivo de promover, coordenar e monitorizar a luta se devem inspirar todos os regulamentos antidopagem das
colabora em ações de formação e investigação no âmbito da contra a dopagem em todas as suas formas, a nível global. federações internacionais e nacionais e das organizações de
luta contra a dopagem no desporto. Essa atividade, complexa e multidisciplinar, denomina-se de grandes eventos desportivos, bem como as legislações anti-
Programa Mundial Antidopagem. dopagem dos diferentes países. O primeiro Código Mundial
Antidopagem entrou em vigor em 1 de janeiro de 2004 e tem
A AMA representa uma parceria entre diversas entidades sido revisto periodicamente.
representativas do movimento desportivo e os países de todo o
mundo. O seu financiamento é paritário, sendo metade garanti- O código e as normas internacionais são documentos 41
FIGURA 3 - Logótipo do Laboratório de Análises de Dopagem. do pelo Comité Olímpico Internacional, em nome do movi- fundamentais para a harmonização da luta contra a dopagem
mento desportivo, e a outra metade pelos países a nível global, e para a preservação dos princípios éticos inerentes a esta te-
com os países mais ricos a assumir a parte mais substancial. A mática, pelo que todos os praticantes desportivos e respetivo
O CDA é uma comissão técnico-jurídica independente governança da AMA é igualmente paritária, sendo metade dos pessoal de apoio os devem respeitar.
com competência para decidir sobre os ilícitos disciplinares representantes do movimento desportivo e a outra metade das
decorrentes de violações de normas antidopagem, gozando autoridades públicas.
de jurisdição plena em matéria disciplinar. O CDA é compos-
to por sete membros, que devem possuir conhecimentos
comprovados em matéria de dopagem, sendo cinco dos
seus membros, um dos quais o presidente, titulares do grau
de licenciatura em Direito, e os outros dois titulares de grau
de licenciatura em outras áreas relevantes para a matéria da
dopagem. FIGURA 4 - Logótipo da Agência Mundial Antidopagem (AMA).

FIGURA 5 - Código Mundial Antidopagem.

INSTITUTO PORTUGUÊS DO DESPORTO E JUVENTUDE MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO


PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES GRAU I
FUNCIONAMENTO DO CORPO HUMANO, 3. ANTIDOPAGEM
PRIMEIROS SOCORROS E ANTIDOPAGEM

A Convenção Internacional contra a Dopagem no Despor- Em Portugal, o Programa Nacional Antidopagem (PNA)
As regras sobre a antidopagem são iguais to da UNESCO, criada em 2005, ratificada pela quase totalida- consiste numa planificação de periodicidade anual, estabelecida
em todos os países e federações internacionais? de dos países do mundo, representa o mecanismo legal que e aplicada pela ADoP segundo o seu quadro de competências
Sim. O Programa Mundial Antidopagem dá essa permite que as autoridades públicas reconheçam os princí- legais, onde são englobadas as ações de controlo de dopagem
garantia. Por isso, qualquer praticante desportivo que seja pios definidos pelo Código Mundial Antidopagem, transpon- a realizar em competição e fora de competição para todas as
controlado em qualquer ponto do globo será submetido do-os para as suas legislações antidopagem a nível nacional, e modalidades desportivas incluídas no PNA nesse ano, bem como
ao mesmo tipo de procedimento e, em caso de violação de que se comprometam a financiar a AMA. uma série de outras iniciativas no âmbito da antidopagem.
norma antidopagem, incorre em sanções semelhantes.

1.2. Objetivos da luta contra a dopagem

Cenário para arrumar ideias 1.2.1 PRESERVAÇÃO DA VERDADE DESPORTIVA


O desporto, e muito especialmente o desporto de compe- 42
Sou Diretor Desportivo de um clube que não possui qual- tição, pressupõe a igualdade de oportunidades. Todos devem
quer tipo de apoio médico e decidimos dedicar uma sema- competir nas mesmas condições e os resultados não podem
na à Antidopagem com a realização de diversas iniciativas, estar dependentes da utilização de substâncias e/ou métodos
em particular debates convidando diversos especialistas. proibidos. O recurso a essas substâncias e métodos proibi-
Fui indicado para fazer “as honras da casa” introduzindo o dos corrompe a verdade desportiva e é uma forma desleal e
tema através da realização de uma apresentação sobre o desonesta de atingir o êxito. Em menos palavras: recorrer à
papel do treinador no Programa Mundial Antidopagem. dopagem é fazer batota!
Reflita sobre a forma como organizaria a apresentação,
esquematizando as linhas mestras da sua comunicação. Por outro lado, ao desporto de competição está muitas
vezes associada uma forte componente económica: dos resulta-
dos dos praticantes desportivos, e das equipas ou clubes, estão
frequentemente dependentes elevados retornos financeiros. Os
1.1.3 Programa Nacional Antidopagem processos de treino exigem muito trabalho e grande inves-
FIGURA 6 -
Normas A implementação do Programa Mundial Antidopagem timento: esse esforço tem de ser salvaguardado, garantindo
internacionais a nível global passa pela implementação, em cada um dos a todos um desporto livre de práticas de dopagem – um
da AMA.
países, de um Programa Nacional Antidopagem. desporto limpo.

INSTITUTO PORTUGUÊS DO DESPORTO E JUVENTUDE MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO


PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES GRAU I
FUNCIONAMENTO DO CORPO HUMANO, 3. ANTIDOPAGEM
PRIMEIROS SOCORROS E ANTIDOPAGEM

1.2.2 PRESERVAÇÃO DA SAÚDE DO PRATICANTE DESPORTIVO 1.2.3 PRESERVAÇÃO DO ESPÍRITO DESPORTIVO


Da utilização de substâncias e métodos proibidos no A sociedade investe uma porção significativa dos seus re-
Porque é que os canabinoides
desporto podem resultar sérios malefícios para a saúde, que cursos financeiros no apoio à prática desportiva. Isto justifica-se
podem inclusivamente pôr em risco a vida dos praticantes não só pelo que o desporto tem de positivo em termos de saú- estão na lista de substâncias
desportivos que recorrem a essas práticas. de e de ocupação dos tempos livres, mas também porque se e métodos proibidos
considera que o desporto é uma verdadeira escola de virtudes. Se na maioria dos desportos se considera que os cana-
Embora muitas das substâncias e métodos proibidos sejam binoides não aumentam o rendimento desportivo, a
utilizados medicamente para o tratamento de diferentes pro- Valores éticos como a lealdade, a honestidade e o trabalho, decisão de proibir estas substâncias no desporto resulta
blemas de saúde, essas substâncias e métodos não devem ser por exemplo, são indissociáveis da boa prática desportiva. Espe- do facto de se considerar que os canabinoides, para além
utilizadas por pessoas saudáveis, pois todos os medicamentos ra-se que o praticante desportivo seja um espelho destas carac- de serem prejudiciais para a saúde, violam o espírito
têm efeitos secundários indesejáveis. Por outro lado, as doses terísticas e do verdadeiro espírito desportivo. Espera-se que seja desportivo.
utilizadas em práticas de dopagem são geralmente muito um exemplo para todos e em especial para os mais jovens.
mais elevadas que as utilizadas terapeuticamente. As doses
de agentes anabolisantes que são utilizadas nas estratégias de
dopagem podem ser cinquenta vezes superiores às doses utili-
O recurso à batota e a práticas que colocam em risco
a saúde são comportamentos que corrompem o espírito
1.3. Controlos de dopagem:
em competição e fora de competição.
43
zadas para tratamento de doenças com essas substâncias. Se as desportivo, e isto é tanto mais grave quando os que incorrem
substâncias proibidas utilizadas em doses terapêuticas já têm nessas faltas são muitas vezes aqueles que mais beneficiam
efeitos secundários, imagine-se o que pode resultar das doses do esforço suportado por todos para garantir as melhores 1.3.1 INTRODUÇÃO E OBJETIVOS
utilizadas em estratégias de dopagem. condições para a prática desportiva. Um dos objetivos do PNA é planear e implementar uma
distribuição isenta e racional de controlos de dopagem, como
Sucede também que os procedimentos usados na utili- Quando os pais colocam os seus filhos a praticarem uma já foi referido. As ações de controlo de dopagem têm por
zação dos métodos proibidos no desporto não seguem ge- modalidade desportiva, muito provavelmente têm como ob- objeto as modalidades desportivas organizadas no âmbito das
ralmente as boas práticas médicas, o que se traduz num sério jetivo a promoção da saúde, o respeito pelas regras e uma boa federações nacionais titulares do estatuto de Utilidade Pública
risco para a saúde. Todos percebemos que o local adequado integração social. Por outro lado, a prática desportiva não deve Desportiva (UPD) ou de outras entidades, estas mediante proto-
para realizar uma transfusão sanguínea é um hospital e não servir para que os jovens contactem com ambientes onde, por colo estabelecido com a ADoP.
um domicílio ou um quarto de hotel. exemplo, se utilizam drogas sociais.
O PNA é elaborado de acordo com as propostas enviadas
Por outro lado, algumas das substâncias utilizadas para à ADoP por cada uma das federações desportivas, propostas
dopagem foram concebidas única e exclusivamente com essa essas que são posteriormente analisadas tendo em vista definir
finalidade, não estando disponíveis para uma utilização tera- o número ideal de amostras a recolher em cada uma das moda-
pêutica. Desse modo, não está garantida a segurança e a vigi- lidades.
lância farmacológica dessas substâncias por entidades oficiais.

INSTITUTO PORTUGUÊS DO DESPORTO E JUVENTUDE MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO


PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES GRAU I
FUNCIONAMENTO DO CORPO HUMANO, 3. ANTIDOPAGEM
PRIMEIROS SOCORROS E ANTIDOPAGEM

Os controlos de dopagem em competição visam a deteção


de substâncias e métodos proibidos em competição previstos na
Lista de Substâncias e Métodos Proibidos.

Os critérios de seleção dos praticantes desportivos a subme-


ter a controlo de dopagem em competição variam de federação
para federação, mas podem ser o sorteio, a classificação na
competição, ou por um sistema misto.

No entanto, os responsáveis pelo controlo de dopagem (RCD)


da ADoP têm autoridade para selecionar para o controlo quaisquer
Para esse efeito, as modalidades são distribuídas anual- O controlo de dopagem é o procedimento que inclui todos praticantes desportivos que, durante a competição, evidenciem
mente por quatro grupos de risco, utilizando uma série de os atos e formalidades, desde a planificação e distribuição dos sinais que indiciem práticas de dopagem.
critérios, nomeadamente atendendo ao respetivo historial em
termos de violações de normas antidopagem. O número ideal
controlos até à decisão final. Inclui nomeadamente a informa-
ção sobre a localização dos praticantes desportivos, a recolha Os controlos de dopagem fora de competição são justifica- 44
de amostras a recolher em cada modalidade leva também em e o manuseamento das amostras, as análises laboratoriais, as dos pelo uso de substâncias e métodos proibidos que, pela sua
consideração o número de praticantes juniores e seniores filia- autorizações de utilização terapêuticas, a gestão dos resultados, natureza, já não são possíveis de detetar quando a competição
dos em cada federação no ano transato, bem como um fator de as audições e os recursos. se verifica.
ponderação específico para cada um dos grupos de risco. Para
este cálculo não são contabilizados os restantes escalões etários Os controlos de dopagem representam a vertente de carác- O uso de determinadas hormonas peptídicas, ou de fatores
mais jovens, onde a estratégia de prevenção passa essencial- ter mais dissuasor da luta contra a dopagem. Os controlos de do- de crescimento, por exemplo, corresponde a casos em que as
mente pela informação e educação. pagem implicam a recolha de amostras de urina e/ou de sangue janelas de deteção para essas substâncias, ou seja, o período
aos praticantes desportivos, amostras essas que são submetidas durante o qual podem ser detetadas, se encerram muitas vezes
A ADoP realiza com regularidade uma seleção aleatória a análises laboratoriais específicas, realizadas por laboratórios antes do período da competição. Isso criou a necessidade de
dos jogos referentes a modalidades coletivas a submeter a acreditados para o efeito pela AMA, visando a deteção de subs- alargar o âmbito do controlo de dopagem para além da compe-
controlo de dopagem, assim como dos praticantes desportivos tâncias e métodos proibidos identificados na Lista de Substâncias tição propriamente dita. Atualmente, os praticantes desportivos
a submeter a controlos fora de competição. Para essa seleção e Métodos Proibidos em vigor. podem ser controlados em qualquer altura e em qualquer lugar,
aleatória, a ADoP utiliza desde o ano 2000 um sistema informá- seja nos seus locais habituais de treino, seja nas suas residências
tico inovador denominado de PISCO® (Programa Informático de Os controlos de dopagem podem ocorrer em competição e ou em período de férias, respeitando no entanto os elementares
Sorteio de Controlos de Dopagem), que garante a confidenciali- fora de competição. princípios relacionados com a sua privacidade e necessidade de
dade dos controlos a realizar. descanso.

INSTITUTO PORTUGUÊS DO DESPORTO E JUVENTUDE MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO


PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES GRAU I
FUNCIONAMENTO DO CORPO HUMANO, 3. ANTIDOPAGEM
PRIMEIROS SOCORROS E ANTIDOPAGEM

A inexistência de controlos fora de competição levaria a 1.3.1 PROCEDIMENTOS


que um praticante desportivo pudesse utilizar agentes anaboli- Os procedimentos a seguir na realização dos controlos de
santes para aumentar a sua massa muscular fora do período de dopagem por todas as organizações antidopagem, bem como os
competições sem ser detetado, usufruindo durante toda a sua direitos e deveres dos diferentes intervenientes, são definidos na
carreira desportiva da melhoria do seu rendimento desportivo Norma Internacional para Controlo e Investigações da AMA.
daí resultante. Por outro lado, um praticante que utilizasse eritro-
poietina (EPO) no período fora de competições iria aumentar a No âmbito da ADoP, compete à ESPAD assegurar os serviços
produção de glóbulos vermelhos, o que resultaria num aumento administrativos e logísticos necessários à implementação do Pro-
do rendimento desportivo durante um período de 120 dias, que grama Nacional Antidopagem, nomeadamente o planeamento e
representa o tempo médio de vida dos glóbulos vermelhos. realização dos controlos de dopagem.

Parte essencial do Sistema de Gestão de Qualidade da ESPAD,


os procedimentos e instruções técnicas relativos à colheita de
amostras de urina e/ou de sangue para controlos de dopagem
garantem o estrito cumprimento da referida norma internacional, 45
O aumento dos controlos fora de assegurando a defesa dos direitos dos praticantes desportivos,
a sua saúde, e especialmente o direito a uma competição leal e
competição levará no futuro a uma limpa, livre de práticas de dopagem.
diminuição substancial dos controlos Posso acompanhar o praticante
A AMA produziu um vídeo que descreve de uma forma sucinta
de dopagem em competição? desportivo durante a realização do
as diversas etapas de um controlo de dopagem. A ADoP legendou
Não. Os controlos em competição terão sempre que esse vídeo em português e disponibiliza-o em www.ADoP.pt. controlo?
existir, pois embora se verifique uma baixa percentagem de Sim. De acordo com a Norma Internacional para Controlo
resultados adversos nesses controlos, o que em princípio e Investigações da AMA, o praticante desportivo pode ter um
justificaria a sua diminuição, se os mesmos não existissem, acompanhante durante o procedimento de controlo de dopa-
muitos praticantes desportivos seriam tentados a utilizar gem. Esse acompanhamento é inclusivamente obrigatório se
substâncias proibidas em competição, como se verificava o praticante desportivo for menor de idade. O acompanhante
nos primórdios da luta contra a dopagem. não poderá, no entanto, estar presente no ato de micção, ex-
É por isso errado avaliar a eficácia dos controlos de ceto se se tratar de um praticante desportivo com deficiência
dopagem pelo número de casos adversos, menosprezando que necessite de auxílio para cumprir esse procedimento, ou
o seu efeito dissuasivo! de um menor e este o solicitar.

INSTITUTO PORTUGUÊS DO DESPORTO E JUVENTUDE MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO


PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES GRAU I
FUNCIONAMENTO DO CORPO HUMANO, 3. ANTIDOPAGEM
PRIMEIROS SOCORROS E ANTIDOPAGEM

/////////////////////////////////////////////////////////////////////////// Após ser verificado que as amostras e os documentos


Os controlos de dopagem podem ser
COLHEITA DE AMOSTRAS DE SANGUE associados estão conformes, as mesmas recebem um código
Nos controlos de dopagem podem igualmente ser reco- realizados com recolha apenas de laboratorial interno, sendo devidamente etiquetadas. De
lhidas amostras de sangue. A recolha de amostras de sangue urina ou de sangue, ou de ambos. seguida, os códigos das amostras, os códigos internos de
pode ter dois objetivos distintos: laboratório e toda a informação relevante associada às amos-
a) Para a deteção de determinadas substâncias ou métodos PROCEDIMENTOS ANALÍTICOS - Ao chegarem ao laborató- tras são introduzidos num sistema informático de gestão de
proibidos, nomeadamente a hormona do crescimento, rio, as amostras são colocadas numa sala de receção que, de amostras. O responsável pela receção das amostras de urina
as hemoglobinas sintéticas, transfusões sanguíneas ho- acordo com a Norma Internacional de Laboratórios da AMA, procede à abertura das amostras “A”, que seguem para a área
mólogas e agentes estimuladores da eritropoiese. Neste está situada fora da área laboratorial. Nessa sala, o responsável laboratorial, e armazena os contentores contendo as amostras
caso, são recolhidas amostras A e B, como nos controlos pela receção das amostras verifica se as amostras e a docu- “B” em congeladores com uma temperatura de cerca de -20º
com recolha de urina, recorrendo-se a contentores muito mentação associada estão conformes. No caso de existência centígrados.
semelhantes aos utilizados na urina, para garantir a de uma qualquer não conformidade que possa pôr em causa
inviolabilidade das amostras. Pode ser recolhido sangue a validade das amostras, isso conduzirá à abertura de um Após a chegada da amostra “A” à área laboratorial, é
para dois ou quatro tubos, consoante o tipo de análise a
realizar: sangue total, soro ou ambos.
procedimento de não conformidade e à comunicação dessa
informação à organização antidopagem relevante.
retirada uma pequena porção da mesma, para a realização de
procedimentos pré-analíticos de verificação de pH, da densi- 46
b) Para o Passaporte Biológico é recolhida geralmente uma dade urinária, da cor e estimação do volume da amostra. De
única amostra de sangue, que é encerrada num contentor seguida, são retiradas diversas pequenas porções da amostra
com características específicas. (alíquotas) que vão seguir para uma área onde vão ser realiza-
/////////////////////////////////////////////////////////////////////////// dos diversos procedimentos de preparação das amostras, pro-
cedimentos de extração, de modo a que o produto resultante
A grande maioria dos restantes procedimentos inerentes possa ser utilizado para os procedimentos analíticos.
aos controlos de dopagem com recolha de urina aplicam-se à
recolha de amostras de sangue, nomeadamente os que dizem Após esta primeira fase de preparação, as alíquotas resul-
respeito à seleção dos praticantes desportivos, à notificação, à tantes vão de seguida ser analisadas em diversos screenings.
apresentação na estação de controlo de dopagem, à sele- No caso de se verificar em qualquer um dos screenings um
ção dos kits de colheita de amostras, ao encerramento das caso suspeito, são preparadas novas alíquotas da amostra, que
amostras e ao preenchimento do formulário do controlo de irão ser submetidas a um procedimento analítico de confirma-
dopagem. No entanto, o transporte das amostras para o la- ção. Se o resultado for confirmado, procede-se à emissão do
boratório, quando se trata de amostras de sangue, é realizado relatório analítico, que será enviado pelo laboratório, de forma
através de uma mala refrigerada e com registo permanente da confidencial e em simultâneo, ao cliente, à respetiva Federa-
sua temperatura. FIGURA 7 - Laboratório de Análises de Dopagem (LAD). ção Internacional e à AMA, via ADAMS.

INSTITUTO PORTUGUÊS DO DESPORTO E JUVENTUDE MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO


PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES GRAU I
FUNCIONAMENTO DO CORPO HUMANO, 3. ANTIDOPAGEM
PRIMEIROS SOCORROS E ANTIDOPAGEM

O praticante desportivo tem sempre o direito de solicitar GESTÃO DE RESULTADOS - A ADoP, ao rececionar do LAD, ou O praticante desportivo, após ter recebido a notificação
a realização da análise da amostra “B” e de estar presente de um outro laboratório acreditado pela AMA, um resultado analíti- do dia e da hora propostos para a eventual realização da aná-
na abertura da amostra e de indicar peritos técnicos para co adverso ou um resultado analítico atípico, realiza uma instrução lise da amostra “B”, informa a ADoP, por qualquer meio escrito
testemunhar a realização dos procedimentos analíticos. inicial, de forma a verificar se foi concedida ao praticante despor- e nunca depois de decorridas vinte e quatro horas após a
O praticante desportivo e/ou a entidade responsável pela tivo em causa uma Autorização de Utilização Terapêutica (AUT), receção da mesma, sobre se deseja exercer os direitos conferi-
gestão dos resultados tem igualmente o direito de solicitar ao se ocorreu alguma violação da Norma Internacional para Controlo dos pelas alíneas b), c), d) e e) do n.º 2 do artigo 45.º da Lei n.º
laboratório um processo analítico completo, de modo a que e Investigações ou da Norma Internacional para Laboratórios da 81/2021, de 30 de novembro, ou seja, se requer a realização da
os seus peritos possam verificar a conformidade de todos os AMA que ponha em causa a validade do relatório analítico adverso análise da amostra B, se pretende pronunciar-se quanto ao dia
procedimentos realizados. ou do resultado analítico atípico, ou ainda se há a necessidade de e à hora para a eventual realização da análise da amostra B, e
se proceder à realização de exames complementares. se pretende exercer o direito de ele ou o seu representante se
encontrarem presentes no ato da análise da amostra B, bem
A urina é, e continuará a ser nos Os exames complementares são realizados quando é neces- como o de nomearem peritos para acompanhar a realização
próximos anos, o principal líquido sário determinar se os indícios de positividade detetados numa dessa diligência. Caso o praticante desportivo requeira a
orgânico a ser utilizado para a
realização de controlos de dopagem.
amostra podem ser atribuídos a causas fisiológicas ou patológicas. análise da amostra “B”, os encargos da análise serão da sua
responsabilidade, se esta vier a revelar um resultado adverso. 47
A ADoP, após confirmar pela instrução inicial que não foi
concedida uma AUT que cubra o caso em apreço, e que não
se verificou nenhuma violação das normas internacionais para
controlo e investigações ou de laboratórios, procede à noti-
ficação referida no n.º 1 e 2 do artigo 45.º da Lei n.º 81/2021,
Posso representar ou acompanhar o de 30 de novembro, endereçada ao praticante desportivo,
ao seu clube ou sociedade anónima desportiva e à respetiva
praticante desportivo no momento federação desportiva, notificando de igual modo a AMA e a
em que se realiza uma análise da respetiva federação internacional.

amostra “B”? Nessa notificação, a ADoP informa sobre a data e a hora


Sim. O praticante desportivo tem o direito de estar propostas pelo LAD, ou por outro laboratório antidopagem
presente, ou de se fazer representar, no ato da análise da acreditado pela AMA, para a eventual realização da análise
amostra “B”, bem como o de nomear peritos para acompa- da amostra “B”, a qual deve ser efetuada o mais rapidamente
nhar a realização dessa diligência. possível e nunca depois de decorridos sete dias úteis após a
notificação do relatório analítico adverso pelo laboratório.

INSTITUTO PORTUGUÊS DO DESPORTO E JUVENTUDE MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO


PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES GRAU I
FUNCIONAMENTO DO CORPO HUMANO, 3. ANTIDOPAGEM
PRIMEIROS SOCORROS E ANTIDOPAGEM

Compete então à ADoP informar o LAD, ou o laboratório método em causa, os riscos inerentes à modalidade desporti-
antidopagem acreditado pela AMA responsável pela reali- va em questão, a colaboração na descoberta da forma como
zação da primeira análise, do teor dessa informação. Caso o foi violada a norma antidopagem, o grau de culpa ou negli-
praticante desportivo informe de que prescinde da realização Cenário para arrumar ideias gência e o facto de se tratar de uma 1.ª, 2.ª ou 3.ª infração.
da análise da amostra B, a ADoP notifica o praticante desporti- Um praticante desportivo que treina comigo é notificado pela
vo, o seu clube ou sociedade anónima desportiva e a respetiva ADoP que teve um resultado analítico adverso num controlo As decisões do Colégio Disciplinar Antidopagem são pas-
federação desportiva relativamente à suspensão preventiva realizado fora de competição e ficou arrasado! Aliás, todo o síveis de recurso para o Tribunal Arbitral do Desporto (TAD).
do praticante desportivo e à abertura do respetivo procedi- grupo ficou arrasado!
mento disciplinar pela ADoP. Reflita como analisaria esta situação e que conselhos da- Todas as violações de normas antidopagem verificadas
ria ao seu atleta para ultrapassar este difícil momento, de em Portugal devem ser reportadas à Agência Mundial Antido-
Caso o praticante desportivo não responda à notificação forma a exercer os seus deveres, garantir os direitos que pagem e à respetiva federação internacional.
da ADoP no prazo estipulado, o LAD ou o laboratório antido- lhe assistem e minimizar os efeitos negativos da situação.
pagem acreditado pela AMA responsável pela realização da
primeira análise, procede à realização da análise da amostra
“B” na data previamente definida, na presença de uma teste- PROCEDIMENTOS DISCIPLINARES 48
munha independente. A ADoP envia todo o processo para a sua Divisão Jurídica,
responsável pela elaboração da instrução do procedimento
Na realização da análise da amostra “B” pode também disciplinar, designando um instrutor. O instrutor emite a nota
estar presente, para além das pessoas e entidades já referidas, de culpa para que o praticante desportivo possa exercer os
um representante da respetiva federação desportiva. seus direitos de defesa, dando resposta escrita à nota de culpa As sanções relativas a violações
pessoalmente ou designando um representante legal e, se o de normas antidopagem aplicadas
O LAD, ou o laboratório antidopagem acreditado pela desejar, exercer o seu direito de ser ouvido presencialmente e
AMA, emite um relatório com o resultado da análise da amos- de indicar testemunhas.
por organizações antidopagem
tra “B”, que é remetido à ADoP. estrangeiras são válidas em
Terminada a instrução, o instrutor elabora o relatório final
Caso o resultado da análise da amostra “B” confirme o da e a ADoP remete todo o processo disciplinar para o Presidente
Portugal?
primeira análise, a ADoP deve notificar o praticante desporti- do Colégio Disciplinar Antidopagem (CDA). O Código Mundial Antidopagem prevê o reconheci-
vo, o seu clube ou sociedade anónima desportiva e a respetiva mento mútuo de sanções, desde que as mesmas sigam
federação desportiva relativamente à suspensão preventiva As sanções podem ir da mera advertência à suspensão os princípios nele descritos, pelo que qualquer sanção
do praticante desportivo e à abertura do respetivo procedi- por 25 anos da prática desportiva. A decisão atende aos factos aplicada por uma organização antidopagem tem eficácia
mento disciplinar pela ADoP. inerentes a cada caso, nomeadamente o tipo de substância ou a nível mundial.

INSTITUTO PORTUGUÊS DO DESPORTO E JUVENTUDE MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO


PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES GRAU I
FUNCIONAMENTO DO CORPO HUMANO, 3. ANTIDOPAGEM
PRIMEIROS SOCORROS E ANTIDOPAGEM

Pontos-chave
! da subunidade
1. A Autoridade Antidopagem de Portugal (ADoP) é a 5. São três os principais objetivos da luta contra a
organização nacional antidopagem com funções no dopagem: a preservação da verdade desportiva, a
controlo e na luta contra a dopagem no desporto. preservação da saúde do praticante desportivo e a
preservação do espírito desportivo.
2. A ADoP tem a sua atividade regulada pela Lei n.º 81/2021,
de 30 de novembro, que estabelece o regime jurídico da 6. O controlo de dopagem é o procedimento que inclui
luta contra a dopagem em Portugal, e pela Portaria n.º todos os atos e formalidades, desde a planificação e
11/2013, de 11 de janeiro, que estabelece as normas de
execução regulamentar do referido regime e que atual-
distribuição dos controlos até à decisão final e à cor-
respondente aplicação das sanções, nomeadamente 49
mente se encontra em fase de revisão. a informação sobre a localização dos praticantes des-
portivos, a recolha e o manuseamento das amostras,
3. A Agência Mundial Antidopagem (AMA) é a entida- as análises laboratoriais, as autorizações de utilização
de que tem como objetivo promover coordenar e terapêuticas, as investigações e a gestão dos resulta-
monitorizar a luta contra a dopagem em todas as suas dos. Os controlos de dopagem fora de competição
formas a nível global. são justificados pelo uso de substâncias e métodos
proibidos que, pela sua natureza, já não são possíveis
4. O Programa Nacional Antidopagem consiste numa de detetar quando a competição se verifica.
planificação anual para uma mais eficiente distribui-
ção dos recursos da ADoP pelas diferentes federações
desportivas nacionais com estatuto de Utilidade
Pública Desportiva. O PNA inclui nomeadamente
planificação das ações de controlo de dopagem a
realizar, em competição e fora de competição, para
todas as modalidades desportivas incluídas no PNA
nesse ano.

INSTITUTO PORTUGUÊS DO DESPORTO E JUVENTUDE MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO


PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES GRAU I
FUNCIONAMENTO DO CORPO HUMANO, 3. ANTIDOPAGEM
PRIMEIROS SOCORROS E ANTIDOPAGEM

2.
SENSIBILIZAÇÃO E É comum afirmar-se que a luta contra a dopagem no des-
porto se desenvolve em três vertentes distintas: os controlos
///////////////////////////////////////////////////////////////////////////
Os programas pedagógicos, de acordo com o artigo 35.º

EDUCAÇÃO EM de dopagem, a investigação e a informação e a educação. da Lei Antidopagem, devem fornecer informação atualizada,
nomeadamente sobre as seguintes matérias:

ANTIDOPAGEM Todas as organizações antidopagem têm de obrigato-


riamente implementar programas educativos seguindo os
a) Autorizações de Utilização Terapêutica (AUT).
b) Consequências da dopagem ao nível da ética e da saúde.
requisitos definidos na Norma Internacional para a Educação c) Direitos e responsabilidades dos praticantes desportivos e
da AMA. do pessoal de apoio, no âmbito da luta contra a dopagem.
d) Procedimentos do controlo de dopagem.
A divulgação da problemática relacionada com a luta e) Sistema de localização do praticante desportivo.
contra a dopagem constitui uma tarefa à qual a ADoP atribui f) Substâncias e métodos que integram a lista de substân-
grande importância, desenvolvendo anualmente um progra- cias e métodos proibidos.
ma informativo e educacional para esse efeito. g) Suplementos nutricionais.
h) Violações de normas antidopagem e respetivas sanções. 50
Na prossecução deste objetivo, a ADoP conta com a cola-
boração de várias entidades, quer do movimento desportivo, Nesse sentido, a ADoP estabelece anualmente quais os
quer do setor privado, das quais se referem, a título exemplifi- grupos-alvo no âmbito dos seus programas informativos e
cativo, o Comité Olímpico de Portugal, o Comité Paralímpico educacionais, estabelecendo diferentes estratégias e ma-
de Portugal, a Confederação do Desporto de Portugal e as teriais, em conformidade com as características dos grupos
Federações Desportivas. É também de realçar a colaboração definidos. Como exemplos de grupos-alvo temos:
com a Agência Mundial Antidopagem. l Praticantes abrangidos pelo regime de alto rendimento.
l Praticantes desportivos federados em geral.
Os programas informativos e educacionais da ADoP têm l Dirigentes, treinadores e médicos de federações, associa-
como objetivo a divulgação da informação relacionada com a ções e clubes desportivos.
luta contra a dopagem no desporto, visando a prevenção de l Médicos com a especialidade de medicina desportiva.
utilização de substâncias proibidas, contribuindo desse modo l Médicos de medicina familiar nos centros de saúde
para a preservação da saúde dos praticantes desportivos e pertencentes ao Sistema Nacional de Saúde.
para a defesa da verdade desportiva. l Jovens com idades compreendidas entre os 10 e os 18 anos.
l Utentes dos ginásios de musculação.
////////////////////////////////////////////////////////////////////////////

INSTITUTO PORTUGUÊS DO DESPORTO E JUVENTUDE MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO


PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES GRAU I
FUNCIONAMENTO DO CORPO HUMANO, 3. ANTIDOPAGEM
PRIMEIROS SOCORROS E ANTIDOPAGEM

A ADoP disponibiliza através do seu sítio na Internet A AMA disponibiliza no seu sítio na Internet (www.wada-
(www.ADoP.pt) um conjunto alargado de informações rela- -ama.org) um leque muito diversificado de ferramentas que
tivas a esta temática, nomeadamente os dados estatísticos podem ser utilizadas em estratégias de sensibilização e de
relacionados com a sua atividade. educação em antidopagem. De salientar o Programa ADeL®, Cenário para arrumar ideias
que consiste numa série de cursos online dedicados não só à Treina uma equipa de formação composta por jovens com
educação de praticantes desportivos, mas também de mem- idades compreendidas entre os 15 e os 18 anos. Toma a ini-
bros do seu pessoal de apoio, como por exemplo médicos e ciativa de realizar uma ação de sensibilização sobre direitos e
treinadores. Esses cursos podem ser realizados por módulos, deveres dos atletas no âmbito da antidopagem.
incluem uma avaliação dos participantes e a emissão de um Descreva com detalhe que objetivos procuraria atingir e
certificado de participação no final. que matérias iria incluir na apresentação, dando exem-
plos práticos de deveres e direitos. Reflita que ferramen-
tas informativas/educativas, disponíveis em www.ADoP.pt,
iria associar à sua ação de sensibilização.

51
FIGURA 8 - Área com materiais informativos e educativos no site da ADoP.

Os responsáveis pelo controlo de dopagem disponibilizam


também, no âmbito da realização dos referidos controlos, ma-
teriais informativos e educativos da ADoP aos praticantes des-
portivos submetidos a controlo, e estão disponíveis para prestar
FIGURA 9 - Programa ADeL® da AMA.
quaisquer esclarecimentos relativamente a esse procedimento.
De entre as matérias relativamente às quais as organiza-
Por outro lado, e permitindo aos praticantes desporti- ções antidopagem, e a ADoP em particular, consideram mais
vos em geral, aos seus médicos e pessoal de apoio obter importantes na elaboração dos seus programas de educação
uma resposta personalizada para questões que pretendam e informação destacam-se a Lista de Substâncias e Métodos
colocar relativamente à temática da luta contra a dopagem no Proibidos, o sistema de autorização de utilização terapêutica
desporto, a ADoP mantém em funcionamento o endereço de de substâncias e métodos proibidos (AUT), e a problemática
correio eletrónico: antidopagem@adop.pt. dos suplementos nutricionais.

INSTITUTO PORTUGUÊS DO DESPORTO E JUVENTUDE MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO


PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES GRAU I
FUNCIONAMENTO DO CORPO HUMANO, 3. ANTIDOPAGEM
PRIMEIROS SOCORROS E ANTIDOPAGEM

2.1. Lista de substâncias e métodos


A lista distingue ainda as substâncias proibidas em “substân-
cias específicas” e “substâncias não específicas”. As substâncias
proibidos específicas são aquelas que são suscetíveis de dar origem a infra-
ções não intencionais das normas antidopagem, devido ao facto Em que circunstâncias é que uma
Determinar com precisão quais as substâncias e métodos de frequentemente se encontrarem presentes em medicamen-
substância específica pode dar lugar
que são proibidos no desporto é um elemento fundamental na tos ou de serem menos suscetíveis de utilização com sucesso
luta contra a dopagem no desporto. enquanto agentes dopantes. a uma sanção mais leve?
É necessária a verificação dos pressupostos previstos na lei,
A partir de 1 de janeiro de 2004, a responsabilidade de ela- ou seja, o praticante desportivo terá de demonstrar como
boração da Lista de Substâncias e Métodos Proibidos passou a a substância proibida entrou no seu organismo e que o seu
ser da AMA, data em que entrou igualmente em vigor o Código uso não visou aumentar o seu rendimento desportivo ou ter
Mundial Antidopagem. A ADoP disponibiliza aos praticantes efeito de mascarar.
desportivos material informativo
A lista é revista anualmente, entrando a nova versão em
vigor no dia 1 de janeiro de cada ano. A integração de uma e educativo sobre a Lista de A lista de substâncias e métodos proibidos em vigor é apro- 52
substância ou de um método na lista necessita que pelo menos Substâncias e Métodos Proibidos? vada por portaria do membro do Governo responsável pela área
dois dos seguintes critérios estejam presentes: do desporto, publicada no Diário da República.
↘ potencial para melhorar ou melhorar efetivamente o rendi- Afirmativo. A ADoP disponibiliza toda a informação sobre a
mento desportivo; lista no seu sítio internet (www.ADoP.pt). Por outro lado, no
↘ risco atual ou potencial da sua utilização para a saúde do Guia Prático sobre a Luta contra a Dopagem, que também
praticante desportivo; está disponível na internet, a ADoP faculta a identificação
↘ utilização viola o espírito desportivo. dos medicamentos que contêm substâncias proibidas,
referidos por nome comercial e por princípio ativo.
A Lista de Substâncias e Métodos Proibidos está dividida
em três setores:
1. Substâncias e métodos proibidos em competição e fora A lista classifica como substâncias específicas algumas subs-
de competição. tâncias que são muito comuns na composição de medicamentos
2. Substâncias e métodos proibidos em competição. de acesso generalizado e também as chamadas “drogas sociais”,
3. Substâncias proibidas em alguns desportos em particular. como a canábis e a marijuana. As substâncias específicas têm,
quando comparadas com as substâncias não específicas, um
regime sancionatório mais leve. FIGURA 10 - Lista de Substâncias e Métodos proibidos.

INSTITUTO PORTUGUÊS DO DESPORTO E JUVENTUDE MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO


PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES GRAU I
FUNCIONAMENTO DO CORPO HUMANO, 3. ANTIDOPAGEM
PRIMEIROS SOCORROS E ANTIDOPAGEM

A lista está também disponível no Guia Prático Sobre a Healthcare, foi possível criar o motor de busca “JOGO LIMPO” No entanto, os praticantes desportivos têm o direito, em
Luta contra a Dopagem. Este guia prático reúne um conjunto Medicamentos e Desporto, que permite identificar esses medi- certas circunstâncias, de utilizar substâncias e métodos proi-
de informação relevante sobre a luta contra a dopagem que é camentos ou os seus princípios ativos. bidos quando tal se justifique terapeuticamente. Por isso,
atualizada anualmente, designadamente a identificação das es- uma das normas internacionais criadas pela AMA diz respei-
pecialidades farmacêuticas que contêm substâncias proibidas, re- to às regras para solicitação de Autorização para Utilização
feridas por nome comercial e por princípio ativo, a descrição dos Terapêutica (AUT) de substâncias e métodos proibidos. A
procedimentos para a solicitação de autorizações de utilização aplicação dessas normas em Portugal é da responsabilidade
terapêutica (AUT), um resumo da legislação aplicável, informação da ADoP que, através da sua Comissão de Autorização de
sobre os suplementos nutricionais e um módulo relativo aos Utilização Terapêutica (CAUT), procede ao registo e análise
malefícios das substâncias proibidas. O guia prático está também das solicitações de utilização terapêutica.
disponível no sítio na Internet da Autoridade Antidopagem de
Portugal (www.ADoP.pt).

Os médicos têm a obrigação de 53


perguntar aos seus utentes se são
FIGURA 12 - Motor de Pesquisa “Jogo Limpo” - http://jogolimpo.simposium.pt/ praticantes desportivos federados?
Não. A responsabilidade de informar o médico sobre a
condição de praticante desportivo e sobre a necessidade
2.2. Sistema de autorização de de ser eventualmente necessário solicitar uma AUT para
utilização terapêutica a utilização de determinados medicamentos cabe ao
praticante desportivo.
Muitos medicamentos contêm substâncias que são proibidas
FIGURA 11 - Guia Prático Sobre a Luta contra a Dopagem. no desporto, pelo que os praticantes desportivos devem sempre
informar os seus médicos da sua condição de praticantes despor- A ADoP definiu uma série de regras relativas à solicitação
A leitura e interpretação da Lista de Substâncias e Métodos tivos para que não lhes sejam administradas inadvertidamente de AUT de substâncias e/ou métodos proibidos, regras essas
Proibidas representa uma tarefa muito difícil. Por forma a identi- essas substâncias. Por outro lado, os praticantes desportivos que podem ser consultadas numa brochura que a ADoP
ficar quais são os medicamentos comercializados em Portugal devem ser aconselhados a não se automedicarem e a evitarem produz anualmente e no sítio na Internet da Autoridade
que contêm substâncias proibidas, e no âmbito de uma parceria adquirir medicamentos através da internet, pois a qualidade Antidopagem de Portugal (www.ADoP.pt).
que de longa data a ADoP mantem com a Simposium Digital desses medicamentos não está de forma nenhuma garantida.

INSTITUTO PORTUGUÊS DO DESPORTO E JUVENTUDE MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO


PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES GRAU I
FUNCIONAMENTO DO CORPO HUMANO, 3. ANTIDOPAGEM
PRIMEIROS SOCORROS E ANTIDOPAGEM

Sempre que um médico necessite de administrar uma subs-


2.3. Suplementos nutricionais Mesmo nos países onde a indústria de suplementos está
tância e/ou um método proibido a um praticante desportivo corretamente regulada e a lei é devidamente aplicada, a con-
para o tratamento de um problema de saúde, deverá previa- taminação – quer acidental, quer deliberada – pode mesmo
mente enviar à ADoP uma solicitação de AUT da substância ou A utilização de suplementos nutricionais pelos praticantes assim acontecer.
método em causa, utilizando o modelo disponibilizado para o desportivos representa muitas vezes um sério problema.
efeito no sítio na Internet da ADoP (www.ADoP.pt). A AMA defende que uma adequada nutrição é muito impor-
Na grande maioria dos países, a produção de suplementos tante para os praticantes desportivos que competem a nível
A solicitação deve ser enviada à ADoP com a maior antece- nutricionais não está adequadamente regulada pelo governo. internacional. A AMA está igualmente muito preocupada com o
dência possível, e nunca menos de trinta dias em relação à data Isto significa que os ingredientes que compõem o produto po- número de praticantes desportivos que estão interessados em uti-
em que se prevê vir a ser necessária. derão não corresponder aos que são mencionados na informa- lizar suplementos, tendo um conhecimento diminuto sobre quais
ção contida na embalagem. Em alguns casos, nas substâncias os benefícios que na realidade podem resultar da sua ingestão e
A comissão de AUT da ADoP, composta por médicos de di- não declaradas que entram na composição do suplemento, do facto de poderem ou não conter substâncias proibidas.
versas especialidades e com experiência no âmbito da medicina encontram-se substâncias proibidas segundo os regulamentos
desportiva, avaliará a solicitação e poderá autorizar a administra-
ção da substância e/ou método proibido se os quatro critérios
antidopagem. Estudos demonstraram que pelo menos 20 %
dos suplementos destinados a praticantes desportivos à venda
O facto de um praticante desportivo ter ingerido um su-
plemento nutricional cuja informação contida no rótulo não 54
definidos na norma internacional estiverem presentes. no mercado podem conter substâncias que não estão men- era correta pode servir de atenuante, em casos específicos,
cionadas nos rótulos, mas que podem dar origem a um caso mas não iliba o praticante desportivo das suas responsabili-
Toda a informação fornecida pelos médicos e pelos pratican- adverso. Um número considerável de casos adversos tem sido dades no decurso de um procedimento disciplinar relativo a
tes desportivos nas solicitações de utilização terapêutica é tratada atribuído ao uso de suplementos. um caso adverso.
apenas por profissionais de saúde, com o cumprimento total das
regras de segredo profissional.

Após a aprovação de uma solicitação de autorização terapêuti-


ca, é enviado por carta registada com aviso de receção ao praticante
Os praticantes desportivos
desportivo e ao seu médico o respetivo certificado de aprovação. deverão estar alertados
para os perigos da
No caso de um laboratório acreditado reportar um resultado
analítico adverso para uma substância para a qual foi concedida potencial contaminação
uma AUT, a organização antidopagem verificará a validade da- dos suplementos.
quela autorização e arquivará o processo, informando desse facto
a respetiva federação internacional e a AMA.

INSTITUTO PORTUGUÊS DO DESPORTO E JUVENTUDE MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO


PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES GRAU I
FUNCIONAMENTO DO CORPO HUMANO, 3. ANTIDOPAGEM
PRIMEIROS SOCORROS E ANTIDOPAGEM

Os praticantes desportivos que acreditam que têm ne-


cessidade de utilizar um suplemento nutricional devem, an-
tes de mais, consultar um profissional competente, tal como
um nutricionista do desporto ou um médico especialista em
medicina desportiva, de forma a assegurarem-se que a pres-
crição desses suplementos é, na realidade, necessária e que
não pode ser substituída pela ingestão normal de alimentos.
Se os profissionais supracitados aconselharem a utilização
de suplementos nutricionais, eles deverão ser adequados às
necessidades do praticante desportivo e seguros para a sua
saúde, e os praticantes desportivos deverão ingeri-los com
FIGURA 13 - Folheto “Suplementos Nutricionais”.
conhecimento pleno e aceitação da regra da responsabilida-
de objetiva.

A maioria dos produtores de suplementos publicitam ///////////////////////////////////////////////////////////////// 55


efeitos benéficos dos seus produtos, que não estão valida- DEVERÃO SERVIR DE ALERTAS EM GERAL:
dos por resultados de investigação científica, e raramente l Suplementos que publicitam propriedades de “aumen-
alertam os consumidores para os potenciais efeitos secun- tar a massa muscular” ou de “queimar gordura” têm
dários dos mesmos. A indústria dos suplementos tem, como maior risco de conterem substâncias proibidas, tais como
qualquer indústria, objetivos comerciais. Desse modo, os agentes anabolisantes ou estimulantes.
Devo preocupar-me com os suple-
praticantes desportivos deverão receber o apoio necessário l As designações “produto herbanário” e “natural” não
de forma a poderem distinguir as estratégias comerciais da mentos nutricionais que os meus significam necessariamente que o produto é seguro.
realidade dos factos. Se os praticantes desportivos decidi- praticantes desportivos tomam? l As seguintes substâncias são exemplos de substâncias
rem utilizar um suplemento, são aconselhados a adquirirem proibidas que podem estar em suplementos nutricionais:
produtos de empresas que tenham uma boa reputação no Sim. Aconselhar os praticantes desportivos relativamente - Dehidroepiandrosterona (“DEHA”).
mercado e utilizem boas práticas de produção. aos perigos dos suplementos nutricionais é uma tarefa - Androstenediona/Androstenediol (e variações incluin-
fundamental para o seu pessoal de apoio. É importante do “19” e “nor”).
salientar os potenciais riscos para a saúde que decorrem - Efedrina.
da utilização de suplementos contaminados e também a - Anfetamina(s) (também existentes em drogas sociais
possibilidade de incorrer em violações de normas antido- como o “ecstasy”).
pagem. - Ligandrol. >>

INSTITUTO PORTUGUÊS DO DESPORTO E JUVENTUDE MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO


PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES GRAU I
FUNCIONAMENTO DO CORPO HUMANO, 3. ANTIDOPAGEM
PRIMEIROS SOCORROS E ANTIDOPAGEM
>>
l As vitaminas e os minerais não são proibidos, mas os
praticantes desportivos são aconselhados a utilizarem Cenário para arrumar ideias
produtos de empresas reputadas e a evitarem produtos “Estou a sentir muita dificuldade em recuperar dos treinos e
que associem vitaminas e minerais a outras substâncias. competições desde há algumas semanas. Estou a fazer tra-
l O mercado negro e os produtos não rotulados deverão balho específico com o preparador físico. Não estou melhor
representar um cuidado particular; os praticantes des- e sinto que o meu lugar na equipa pode estar em causa.
portivos não deverão usar nada que tenha uma origem Partilhei a minha angústia com um atleta amigo de outra
desconhecida mesmo que venha de um treinador ou de modalidade. O meu amigo disse-me que tem conhecimen-
um praticante desportivo amigo. to que muitos atletas de alta competição usam um produto
l Ao comprar suplementos em grandes superfícies co- natural e estão muito contentes. Disse-lhe que tinha medo
merciais, há que ter presente que não é disponibilizado de tomar por causa do antidoping. Retorquiu que muitos
geralmente um atendimento por pessoas com conheci- do que tomam já foram ao antidoping e ninguém teve
mentos técnicos adequados ou suficientes sobre esses problemas. Por curiosidade fui à loja e o funcionário disse-
produtos.
l Ao comprar suplementos através da Internet, os pra-
-me que o produto é o ideal para o meu caso e que não me
preocupasse com o antidoping, pois é produzido de acordo 56
ticantes desportivos deverão evitar empresas que não com elevados padrões de qualidade, e muitos jogadores
fornecem o seu endereço comercial, mas apenas uma de futebol já o adquiriram na sua loja. Decidi comprar e
caixa postal, ou que só forneçam contactos que previ- tomá-lo seguindo as indicações dadas na loja de produtos
nam a sua localização, tal como um endereço eletrónico. dietéticos. Tomei no período entre o Natal e o Ano Novo
///////////////////////////////////////////////////////////////////////// aproveitando a pausa nas competições.”
Ao tomar conhecimento desta situação reportada por
um dos seus atletas que medidas tomaria?

Há que ter em conta que mesmo


se um praticante desportivo seguir
estes alertas, não há garantia que a
toma de um suplemento não possa
resultar num caso adverso.

INSTITUTO PORTUGUÊS DO DESPORTO E JUVENTUDE MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO


PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES GRAU I
FUNCIONAMENTO DO CORPO HUMANO, 3. ANTIDOPAGEM
PRIMEIROS SOCORROS E ANTIDOPAGEM

Pontos-chave
! da subunidade
1. A Lista de Substâncias e Métodos Proibidos é uma 4. A Comissão de AUT da ADoP poderá conceder uma AUT
norma internacional que identifica as substâncias e para autorizar a administração da substância e/ou méto-
métodos proibidos em competição, fora de competição e do proibido se os quatro critérios definidos na respetiva
em alguns desportos em particular. A integração de uma norma internacional estiverem presentes.
substância ou de um método na lista necessita que pelo
menos dois dos seguintes critérios estejam presentes: 5. A utilização de suplementos nutricionais pelos prati-
potencial para melhorar ou melhorar efetivamente o cantes desportivos pode representar sério problema
rendimento desportivo; risco atual ou potencial da sua
utilização para a saúde do praticante desportivo; a sua
para a sua saúde e pode originar a violação de normas
antidopagem. 57
utilização viola o espírito desportivo. A lista é atualizada
anualmente e publicada no Diário da República.

2. A lista distingue as substâncias proibidas em “substâncias


específicas” e “substâncias não específicas”. As substân-
cias específicas são aquelas que são suscetíveis de dar
origem a infrações não intencionais das normas antido-
pagem. As substâncias específicas podem dar lugar a um
regime sancionatório mais leve.

3. Os praticantes desportivos têm o direito, em certas cir-


cunstâncias, de utilizar substâncias e métodos proibidos
quando tal se justifique terapeuticamente, através da
solicitação de uma AUT.

INSTITUTO PORTUGUÊS DO DESPORTO E JUVENTUDE MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO


PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES GRAU I
FUNCIONAMENTO DO CORPO HUMANO,
PRIMEIROS SOCORROS E ANTIDOPAGEM

SINOPSE DA ↘ Entender como está organizada a antidopagem, tanto a


nível nacional como a nível internacional, em particular
↘ Reconhecer a importância das estratégias de sensibili-
zação e educação em antidopagem, em particular após

UNIDADE CURRICULAR quais são as atribuições e a estrutura orgânica das três


entidades nacionais antidopagem (ADoP, LAD e CDA), e
a AMA ter estabelecido requisitos de implementação
obrigatória pelas organizações antidopagem, e conhecer
[ANTIDOPAGEM]
qual o papel da AMA na definição das regras inerentes as ferramentas disponibilizadas pela ADoP e pela AMA
à harmonização da antidopagem a nível global (Código para a implementação de iniciativas neste âmbito.
Mundial Antidopagem e normas internacionais). ↘ Saber como está organizada a Lista de Substâncias e
↘ Saber e descrever os três objetivos principais da luta con- Métodos Proibidos, e identificar que meios podem ser
tra a dopagem: preservação da verdade desportiva, da utilizados para saber se um medicamento contém subs-
saúde do praticante desportivo e do espírito desportivo. tâncias proibidas.
↘ Perceber o papel fulcral que os controlos de dopagem,
tanto em competição como fora de competição, repre-
↘ Identificar o direito dos praticantes desportivos ao trata-
mento e o inerente sistema de autorizações de utilização 58
sentam nas estratégias antidopagem. terapêutica.
↘ Conhecer os procedimentos do controlo de dopagem, ↘ Reconhecer e ponderar os riscos associados à toma de
de forma a poderem ajudar os praticantes desportivos a suplementos nutricionais pelo praticante desportivo.
reconhecer os seus direitos e deveres.

INSTITUTO PORTUGUÊS DO DESPORTO E JUVENTUDE MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO


PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES GRAU I
FUNCIONAMENTO DO CORPO HUMANO,
PRIMEIROS SOCORROS E ANTIDOPAGEM

AUTOVERIFICAÇÃO A. Aferição do conhecimento B. Aplicação do conhecimento


DOS CONHECIMENTOS 1. O que é a Autoridade Antidopagem de Portugal (ADoP)? 1. Como posso saber se um medicamento contém subs-
tâncias proibidas?
[ANTIDOPAGEM]
2. O que é a Agência Mundial Antidopagem (AMA)?
2. Em caso de doença, os praticantes desportivos podem
3. Quais são os objetivos principais da luta contra a dopagem? recorrer a substâncias e métodos proibidos? Em caso de
resposta afirmativa – como?
4. Por que são necessários os controlos fora de competição?
3. É seguro consumir suplementos nutricionais?

59

INSTITUTO PORTUGUÊS DO DESPORTO E JUVENTUDE MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO


PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES GRAU I
FUNCIONAMENTO DO CORPO HUMANO,
PRIMEIROS SOCORROS E ANTIDOPAGEM

RECOMENDAÇÕES
DE LEITURA
[ANTIDOPAGEM] Código Mundial Antidopagem – World
Anti-Doping Code (versão em vigor)
disponível em www.wada-ama.org

Guia Prático sobre a Luta contra


a Dopagem no Desporto (versão

60
atualizada) disponível em www.ADoP.pt

Lei n.º 81/2021, de 30 de novembro,


disponível em www.ADoP.pt

Lista de Substâncias e Métodos Proibidos


(versão em vigor) disponível em www.
ADoP.pt

Manual de procedimento para a


solicitação de Autorização para a
Utilização Terapêutica (versão em vigor)
disponível em www.ADoP.pt

INSTITUTO PORTUGUÊS DO DESPORTO E JUVENTUDE MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO


PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES GRAU I
FUNCIONAMENTO DO CORPO HUMANO,
PRIMEIROS SOCORROS E ANTIDOPAGEM

GLOSSÁRIO DE Agentes estimulantes da eri-


tropoiese
calar, que a distinção entre competição
e evento desportivo é a indicada nas
valor igual ou superior a 1.003 se o
volume de urina recolhido for igual ou

CONCEITOS-CHAVE Grupo de substâncias proibidas, como


por exemplo e eritropoietina e a CERA,
regras da federação desportiva interna-
cional em causa. Por exemplo, um jogo
superior a 150 ml.

[ANTIDOPAGEM]
que ao estimularem a produção dos de basquetebol ou a final olímpica dos Desporto coletivo
glóbulos vermelhos pela medula 100 metros no atletismo. Para corridas A modalidade desportiva em que é
óssea, aumentam substancialmente a por etapas e para outras competições permitida a substituição de jogadores
capacidade de transporte de oxigénio atléticas em que os prémios sejam no decorrer da competição.
e dessa forma promovem o aumento atribuídos numa base diária ou de
do rendimento desportivo. uma outra forma específica, a distinção Em competição

Amostra ou espécimen
entre “competição” e “evento” será a
resultante da regulamentação da fede-
O período que se inicia às 23:59 horas
do dia que antecede uma competição 61
Qualquer material biológico recolhido ração internacional respetiva. em que o praticante desportivo vai
para efeitos de controlo de dopagem. participar, e que termina com o final da
Controlo direcionado mesma e do processo de colheita de
Cadeia de custódia A seleção não aleatória para controlo amostras, sendo que qualquer período
A sequência de pessoas ou organiza- de praticantes desportivos ou grupos que não seja em competição é entendi-
ções que têm a responsabilidade pela de praticantes desportivos, conforme do como «fora de competição».
amostra desde a sua colheita até à sua os critérios estabelecidos na Norma
receção para análise. Internacional de Controlo e Investiga- Escolta
ções da Agência Mundial Antidopagem Uma pessoa que é treinada e autori-
Competição (AMA). zada pela organização antidopagem
Uma corrida única, um encontro, um para executar uma função específica,
jogo ou uma competição desportiva Densidade urinária adequada incluindo uma ou mais das seguintes:
específica, considerando-se, em provas para análise notificação do praticante desportivo
por etapas e noutras competições Densidade urinária de valor igual ou selecionado para o controlo de dopa-
desportivas em que são atribuídos superior a 1.005 se o volume de urina gem; acompanhamento e observação
prémios diariamente ou de forma inter- recolhido for inferior a 150 ml ou de do praticante desportivo até à chegada

INSTITUTO PORTUGUÊS DO DESPORTO E JUVENTUDE MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO


PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES GRAU I
FUNCIONAMENTO DO CORPO HUMANO,
PRIMEIROS SOCORROS E ANTIDOPAGEM

GLOSSÁRIO DE à estação de controlo de dopagem; e/


ou testemunhar e verificar a emissão
Organização antidopagem
A AMA ou um outorgante do Código
Praticante desportivo
Aquele que compete numa modalida-

CONCEITOS-CHAVE da amostra, quando o seu treino o(a)


qualifique para o fazer.
Mundial Antidopagem responsável
pela adoção de regras com vista a
de desportiva a nível internacional, nos
termos definidos pela respetiva federa-
[ANTIDOPAGEM]
desencadear, implementar ou aplicar ção desportiva internacional, ou o que
Fora de competição qualquer fase do processo de con- compete numa modalidade desportiva
Qualquer controlo de dopagem que trolo de dopagem, compreendendo, a nível nacional.
não seja realizado em competição. designadamente, o Comité Olímpico
Internacional, o Comité Paralímpico Praticante desportivo de nível
Grupo alvo de praticantes Internacional, outras organizações internacional
desportivos
Grupo de praticantes desportivos de alto
responsáveis por grandes eventos
desportivos, nos casos em que efetuem
O praticante desportivo que compete
numa modalidade desportiva a nível 62
nível competitivo estabelecido separada- controlos, as federações desportivas internacional, nos termos definidos
mente por cada federação internacional internacionais e as organizações nacio- pela respetiva federação desportiva
e pela organização nacional antidopa- nais antidopagem. internacional, conforme previsto na
gem respetiva, que são submetidos a Norma Internacional de Controlo e
controlos de dopagem quer em compe- Outra pessoa Investigações da AMA.
tição quer fora de competição como par- O pessoal de apoio do praticante
te do planeamento prévio de controlos, desportivo, como o treinador, dirigen- Resultado analítico adverso
quer da federação internacional, quer te, empresário desportivo, membro da Um relatório proveniente de um labo-
da organização nacional antidopagem. equipa, profissional de saúde, para- ratório ou entidade acreditada pela
Cada federação internacional deverá pu- médico, pai, mãe, ou qualquer outra AMA, no âmbito do qual, de acordo
blicar uma lista que identifique quais os pessoa que trabalhe com ou assista um com a Norma Internacional de Labora-
praticantes desportivos que pertencem praticante desportivo que participe ou tórios e documentos técnicos relacio-
ao grupo alvo de praticantes desportivos, se encontre em preparação para parti- nados, é identificada a presença de
seja pelo respetivo nome, seja recorren- cipar numa competição desportiva. uma substância proibida ou dos seus
do a outros critérios específicos e bem metabolitos ou marcadores, ou prova
definidos. do uso de um método proibido.

INSTITUTO PORTUGUÊS DO DESPORTO E JUVENTUDE MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO


PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES GRAU I
FUNCIONAMENTO DO CORPO HUMANO,
PRIMEIROS SOCORROS E ANTIDOPAGEM

GLOSSÁRIO DE Resultado analítico atípico


Um relatório proveniente de um labo-
Sem aviso prévio
Um controlo de dopagem que ocorre

CONCEITOS-CHAVE ratório ou outra entidade acreditada


pela AMA, no âmbito do qual, numa
sem aviso prévio ao praticante despor-
tivo e em que o praticante desportivo
[ANTIDOPAGEM]
fase prévia à determinação de um é acompanhado em permanência
resultado analítico adverso, se de- desde o momento da notificação até à
monstra a necessidade de investigação recolha da amostra.
complementar, nos termos da Norma
Internacional de Laboratórios ou docu-
mentos técnicos relacionados.

Seleção aleatória 63
Seleção de praticantes desportivos
para controlo quando não se trate de
controlos dirigidos. A seleção aleatória
pode ser: completamente aleatória
(quando não se recorre a qualquer cri-
tério pré-determinado, e os praticantes
desportivos são escolhidos arbitraria-
mente de uma lista ou de um grupo
de nomes de praticantes desportivos):
ou ponderada (quando os praticantes
desportivos são classificados segundo
um critério pré-determinado de forma
a aumentar ou diminuir as suas hipóte-
ses de ser selecionado).

INSTITUTO PORTUGUÊS DO DESPORTO E JUVENTUDE MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO


PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES GRAU I
FICHA TÉCNICA
PLANO NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES COORDENAÇÃO DA PRODUÇÃO DE CONTEÚDOS
MANUAIS DE FORMAÇÃO - GRAU I Isabel Mesquita

EDIÇÃO COORDENAÇÃO DA EDIÇÃO


INSTITUTO PORTUGUÊS DO DESPORTO E JUVENTUDE, I.P. DFQ - Departamento de Formação e Qualificação
Rua Rodrigo da Fonseca nº55
1250-190 Lisboa DESIGN E PAGINAÇÃO
E-mail: geral@ipdj.pt BrunoBate-DesignStudio

AUTORES
RAÚL ANTÓNIO BANDARRA PACHECO E LUÍS HORTA
FUNCIONAMENTO DO CORPO HUMANO,
PRIMEIROS SOCORROS E ANTIDOPAGEM

PAULO CUNHA, JOSÉ AFONSO E FILIPE MANUEL CLEMENTE


TEORIA E METODOLOGIA DO TREINO DESPORTIVO

ISABEL MESQUITA, CLÁUDIO FARIAS, PATRÍCIA COUTINHO,


PAULA QUEIRÓS E PAULA SILVA
PEDAGOGIA E DIDÁTICA DO DESPORTO

LEONOR MONIZ PEREIRA


DESPORTO ADAPTADO

JOSÉ CARLOS LIMA, ANDRÉ XAVIER DE CARVALHO


E BRUNO AVELAR ROSA
ÉTICA NO DESPORTO © IPDJ - 2021

INSTITUTO PORTUGUÊS DO DESPORTO E JUVENTUDE MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO


PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES GRAU I

Você também pode gostar