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DO CORPO HUMANO,
PRIMEIROS
1 G
SOCORROS E
ANTIDOPAGEM
1. FUNCIONAMENTO DO CORPO HUMANO
3. ANTIDOPAGEM
FUNCIONAMENTO Índice
DO CORPO HUMANO CAPÍTULO I.
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
RESUMO
3
3
1. APARELHO LOCOMOTOR 4
1.1. INTRODUÇÃO 4
1.2. OS MODELOS CLÍNICO E SOCIAL 6
2. APARELHO CARDIORESPIRATÓRIO 9
2.1. SISTEMA CIRCULATÓRIO 9
2.2. SISTEMA RESPIRATÓRIO 11
3. SISTEMA DE REGULAÇÃO 12
3.1. SISTEMA NEURO-HORMONAL 12
3.2. REGULAÇÃO DA TEMPERATURA E SISTEMA DE ARREFECIMENTO 13
PONTOS-CHAVE 14
SINOPSE DA UNIDADE CURRICULAR 32
AUTO VERIFICAÇÃO DOS CONHECIMENTOS 33
RECOMENDAÇÕES DE LEITURA 34
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 34
GLOSSÁRIO 35
3
Adquirir conhecimentos básicos sobre anatomia
l
traumatismos diretos (agudos) ou de sobrecarga (hipersoli- Salienta-se também o papel do treinador como agente
humana e fisiologia relacionados com o movimento, os citação). promotor dos primeiros socorros básicos. Para o efeito deve-
esforços e a recuperação funcional. Descrevem-se também os sistemas cardiorrespiratório rá saber administrar os primeiros cuidados em situação de
Conhecer o funcionamento do corpo humano para
l
e neuro-hormonal que ajudam a interpretar o esforço físico, doença aguda, bem como identificar os sinais que exigem
sinais de fadiga do organismo e a sua recuperação funcional. encaminhamento e intervenção dos cuidados de saúde
melhor contribuir para a prevenção de lesões.
Reforça-se a importância das regras de higiene de vida diferenciados.
Reconhecer as regras de higiene na prática desportiva.
l
>
l
desportiva.
Executar primeiros socorros básicos e ter noções bási-
l
cas de referenciação.
1.
APARELHO 1.1. As estruturas osteoarticulares
RÓTULA VÉRTEBRAS
LOMBARES
TÍBIA
L1-L5
FIBULA
SACRO
OSSOS
DO PÉ
COXIS
As costelas são ossos longos em forma de arco que delimi- ARTICULAÇÕES Pelo seu grande envolvimento na prática desportiva e
tam a caixa torácica, protegendo os pulmões e o coração. São As articulações correspondem a “junções” dos ossos ser sede frequente de lesões, destacamos a articulação do
12 pares dispostos simetricamente, 10 articulam-se pela extre- permitindo que as várias regiões realizem um número com- joelho e articulação tibiotársica.
midade anterior com o esterno, enquanto os restantes dois pa- plexo de movimentos, que são a base fundamental da vida Assim, na articulação do joelho (Fig.2), salientamos a
res têm as extremidades anteriores livres (costelas flutuantes). corrente e, em particular, da vida desportiva. importância dos ligamentos laterais (interno e externo),
Os membros superiores (Fig.1) incluem o braço, forma- Uma articulação é formada por topos ósseos, cartilagem ligamentos cruzados (anterior e posterior) e meniscos, para a
do pelo úmero; antebraço, com dois ossos longos (cúbito e e ligamentos. estabilidade desta articulação.
rádio); e mão, constituída pelo carpo (oito ossos curtos que Para que os ossos se possam mover nas articulações, Na articulação tibiotársica (Fig.2), os ligamentos laterais
estruturam o pulso), metacarpo (cinco ossos) e dedos (falan- as suas superfícies articulares são cobertas de cartilagem contribuem para uma correta estabilidade desta articulação.
ges). A união dos membros superiores com o troco denomi- (cartilagem articular) e lubrificados por um líquido sinovial. O conhecimento destas estruturas contribui para uma
na-se cintura escapular, contendo ainda as duas clavículas e Estas estruturas são mantidas em posição pelos ligamentos e melhor interpretação do gesto desportivo e prevenção das
duas omoplatas. pelas cápsulas articulares (estruturas fibrosas). lesões desportivas.
Os membros inferiores (Fig.1) articulam-se com o tronco
pela cintura pélvica, que é constituída pelos ossos da púbis, 5
ísquio e ílio. Também se dividem em três partes: coxa com o
fémur; perna com a tíbia e o perónio; e o pé constituído por
tarso, metatarso e dedos (falanges). Na articulação do joelho Fémur
existe ainda um pequeno osso que é a rótula. Tendões fibulares
Patela
Retináculo superior
Retináculo superior
Retináculo inferior Tendão dos extensores Ligamento
longos dos dedos lateral Cartilagem
Extensores articular
Ligamento
longos cruzado Menisco
Retináculo anterior
Tendão fibular curto inferior
Perónio
O conhecimento destas Tendão fibular longo
Tibia
Tendão de Aquiles Tendão fibular
estruturas contribui para uma melhor
interpretação do gesto desportivo e
FIGURA2 - Articulação do pé (tibiotársica) e articulação do joelho.
prevenção das lesões desportivas.
1.2. As estruturas
músculo-tendinosas
Os músculos são constituídos pelas fibras musculares, Componentes anatómicos dos músculos estriados (Fig.3)
células alongadas compostas de miofibrilhas. Estas contêm CORPO MUSCULAR (A) – parte contráctil do músculo consti-
duas proteínas, a miosina e a actina, responsáveis pela con- tuída por fibras musculares. Úmero
tração muscular. TENDÃO (B) – constituído por tecido conjuntivo,
Pronador
rico em colágeno e que fixa o corpo redondo
No tronco e na região dorsal, os principais músculos são posterior destacamos os isquiotibiais (bicípite femural, semi-
o trapézio, na parte superior do tórax, e que eleva os ombros tendinoso, semimembranoso), que são músculos extensores
O corpo humano e mantém a cabeça em posição vertical; e os grandes dor- da articulação coxo-femural e flexores do joelho. Destaque
sais, que cobrem toda a parte inferior do dorso. Na região ainda para os músculos adutores da articulação coxo-femu-
tem cerca de anterior, destacam-se os peitorais e os intercostais que parti- ral. Nos músculos da perna, salientamos os anteriores (tibial
500
cipam ativamente nos movimentos respiratórios. anterior) responsáveis pela dorsiflexão do pé e extensão dos
Nos membros superiores, destacam-se os deltoides, os dedos, os peroniais laterais que fazem a eversão do pé e o ti-
bicípites e os tricípites que executam a flexão e extensão do bial posteriores e os flexores dos dedos que fazem a inversão
antebraço sobre o braço. do pé e a flexão plantar.
Nos membros inferiores (Fig.4), destacam-se os glúteos A necessidade do conhecimento mais exaustivo da
músculos na região nadegueira; os músculos da região anterior da musculatura do membro inferior, advêm do facto de aí se
esqueléticos. coxa psoas, reto femoral, vasto interno (vasto médio), vasto localizarem muitas das lesões desportivas provenientes
externo (vasto lateral) e sartório que são músculos flexores
da articulação coxo-femural e extensores do joelho. Na face
de traumatismos diretos (agudos) ou de sobrecarga (hiper
solicitação). 7
SISTEMA MUSCULAR
Esternocleidomastóideo
Trapézio
Músculo ilíaco Músculo psoas maior MÚSCULOS ÍSQUIOTIBIAIS
Deltoide
Músculo
Peitoral Maior glúteo médio
Reto Abdominal Músculo iliopsoas
Oblíquo Externo
Dorsal Músculo tensor
da fáscia lata Músculo pectíneo
Tríceps Braquial
Músculo adutor longo
Bíceps Braquial
Flexores Dedos Músculo grácil
Extensores Dedos Músculo
sartório Músculo reto da coxa
2.
APARELHO 2.1. Sistema circulatório
9
Aorta
Tipos de circulação
Veias pulmonares esquerdas
Veias pulmonares direitas (do pulmão esquerdo) B A GRANDE CIRCULAÇÃO OU SISTÉMICA
(do pulmão direito para
a auricula esquerda) A - Ventrículo esquerdo // Todo o corpo //
Aurícula direita
Válvula semilunar aórtica B PEQUENA CIRCULAÇÃO OU PULMONAR
- Ventrículo direito // Pulmão //
Válvula tricúspide Válvula bicúspide (Mitral) Aurícula esquerda
Septo
Vénula
Fluxo sanguíneo FIGURA 7 - Vasos sanguineos.
Cavidade nasal
Nariz
Boca
Lingua
Cavidade nasal
Faringe
CONTROLO DA RESPIRAÇÃO
11
Em repouso,
Laringe
Traqueia
Nos alvéolos pulmonares o O2 passa para o sangue (glóbu- A respiração é controlada automaticamente por um
los vermelhos), enquanto o CO2 o abandona. Este intercâmbio centro nervoso localizado no bolbo raquidiano. Desse centro
de gases obedece às leis da física de difusão de uma zona de partem os nervos responsáveis pela contração dos músculos
maior concentração para outra de menor concentração. respiratórios (diafragma e músculos intercostais).
A respiração compõe-se de inspiração (entrada ativa de ar A respiração é ainda o principal mecanismo de controlo
nos pulmões) e expiração (saída passiva de ar dos pulmões). do pH do sangue. Se o pH for baixo, logo com maior quantida-
Para respirar é indispensável efetuar movimentos ao nível da de de CO2, aumenta a frequência e a amplitude dos movimen-
caixa torácica que possibilitam a inspiração e expiração. Os tos respiratórios, portanto aumenta a ventilação pulmonar.
músculos intercostais, escalenos, abdominais e o diafragma Quanto maior for o trabalho muscular, maior será a produção
entre outros, asseguram os movimentos necessários. de CO2 e maior será o ritmo respiratório.
3.
SISTEMA DE 3.1. Sistema neuro-hormonal
12
Neurónio
Pontos de Sinapse e lançam hormonas diretamente no sangue. As hormonas são
Sinapses
mensagens químicas que regulam a atividade de diferentes
Sinal elétrico
órgãos. Como o sangue percorre todo o organismo, as hor-
monas atuam à distância, sobre os tecidos, órgãos ou outras
Bainha de Mielina
glândulas (ex.: adrenalina que é produzida pela glândula su-
prarrenal e que prepara o organismo para os esforços físicos).
Axónio
Dendritos
A comunicação hormonal realiza-se por via química, atra-
vés das hormonas. Somente determinadas células, chamadas
Neurónio células alvo, estão equipadas para receber o sinal que uma
dada hormona transmite através de recetores que possuem.
Núcleo
Axónio do
neurónio anterior >>
FIGURA 8 - Neurónios.
EXEMPLO
O ciclista, perante um obstáculo, trava de imediato sem pensar para evitar a
queda. Assim, perante uma situação ameaçadora, o corpo reage sempre de
forma a proteger-se. As respostas motoras e hormonais são conjuntas.
A temperatura de equilíbrio
Existem hormonas que atuam essencialmente na fase ronda os 37ºC
catabólica que caracteriza a realização de esforço físico ! (limites normais: 36,1ºC - 37,2ºC)
(adrenalina, glucagina, entre outras), enquanto que outras
atuam preferencialmente na fase anabólica que caracteriza os
períodos de recuperação (testosterona, insulina, entre outras).
Pontos-chave
! da subunidade
1. O aparelho locomotor tem como principal função a 5. O sistema nervoso central e o sistema hormonal
execução dos movimentos, sendo os ossos as estru- comandam e coordenam toda a atividade corporal.
turas de suporte e de proteção e os músculos os seus
elementos ativos. As articulações constituem a forma 6. O exercício físico produz, como reação imediata
de permitir a realização dos movimentos envolvendo do organismo, o aumento de todas as suas funções
as estruturas ósseas das várias regiões. nomeadamente a frequência cardíaca, a frequência
respiratória e o metabolismo celular.
2. As articulações do joelho e tibiotársica, pelo seu
grande envolvimento na prática desportiva em geral, 14
são frequentemente atingidas por lesões. O conhe-
cimento das suas estruturas anatómicas contribui
para uma melhor interpretação do gesto desportivo e
prevenção de lesões.
PREVENÇÃO DE Índice
LESÕES DESPORTIVAS E CAPÍTULO II.
1. ESTILOS DE VIDA SAUDÁVEIS
1.1. REGRAS DE HIGIENE NA ATIVIDADE DESPORTIVA
16
16
PRIMEIROS SOCORROS 2.
1.2. O EXAME MÉDICO DESPORTIVO
PRINCIPAIS LESÕES NA ATIVIDADE DESPORTIVA
2.1. LESÕES MACRO TRAUMÁTICAS
19
20
21
2.2. LESÕES MICRO TRAUMÁTICAS 21
3. PRIMEIROS SOCORROS 22
3.1. NAS FERIDAS CUTÂNEAS 23
3.2. NAS LESÕES OSTEO-MÚSCULO-ARTICULARES 24
3.3. NOS TRAUMATISMOS CRANIANOS E VERTEBRAIS 28
PONTOS-CHAVE 31
SINOPSE DA UNIDADE CURRICULAR 32
AUTO VERIFICAÇÃO DOS CONHECIMENTOS 33
RECOMENDAÇÕES DE LEITURA 34
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 34
GLOSSÁRIO 35
1.
ESTILOS DE VIDA 1.1. Regras de higiene na atividade O que faz o treinador?
16
!
igualmente informado de que a utilização de drogas sociais mas essencialmente por motivos estéticos e na procura de
fornece a ilusão de uma felicidade transitória, mas que na uma melhoria da imagem corporal.
maioria das vezes acaba na desinserção social do utilizador e
com o possível caminho de recurso ao roubo e à prostituição. O treinador deve informar e/ou recomendar o jovem
O atleta deverá ser igualmente informado que no atleta sobre algumas medidas relacionadas com a utilização
desporto a utilização de drogas consideradas leves, como os de substâncias dopantes:
→ O TABACO canabinoides (marijuana, haxixe, etc.) é proibida, não porque l A sua utilização, para além de representar uma batota,
O treinador, ao trabalhar nos grupos etários em que provoquem um aumento do rendimento desportivo na é ilegal e pode pôr em causa a preservação da saúde,
normalmente se dá a iniciação dos hábitos tabágicos, deve grande maioria das modalidades desportivas mas porque o devido aos efeitos secundários da generalidade destas
informar os jovens atletas sobre os riscos do uso do tabaco. desporto deve ser encarado como uma escola de virtudes, substâncias.
Deverá esclarecer o atleta que a utilização do tabaco, onde não cabe um atleta que utiliza este tipo de substâncias. l O jovem deve ser ensinado a saber lidar com a sua
para além de aumentar a incidência de doenças cardiovas- A utilização de algumas drogas ditas mais pesadas (heroína e imagem corporal. O treinador deve ajudar o jovem com
culares, respiratórias e cancerosas, tem efeitos nefastos na
prestação desportiva devido principalmente a uma diminui-
cocaína) é igualmente proibida no desporto.
O treinador, se detetar que um dos seus jovens atletas
problemas de imagem corporal (excessivamente magro
ou gordo, por exemplo) a inserir-se no grupo, minorando 18
ção da difusão alvéolo-capilar a nível pulmonar. utiliza drogas sociais não deve ter uma atitude de rejeição do desse modo os efeitos psíquicos que podem advir daque-
atleta, mas sim utilizar a prática desportiva como método para la imagem. O jovem magro e longilíneo não se integra
!
promover a sua recuperação e a reinserção social. facilmente nos desportos que envolvam força e contacto
físico, enquanto que o gordo e brevilíneo não se sente à
!
vontade nos desportos que envolvam resistência aeróbia.
l O treinador deverá instruir o jovem atleta em relação
à inexistência de produtos milagrosos que lhe possam
ser sugeridos por terceiros como forma de melhorar o
→ AS DROGAS SOCIAIS rendimento desportivo ou a imagem corporal. Alguns
Tal como para o tabaco, o treinador que trabalha nos suplementos nutricionais muitas vezes encobrem na sua
grupos etários em que normalmente se dá a iniciação da → SUBSTÂNCIAS DOPANTES composição substâncias dopantes.
utilização das drogas sociais deve informar os atletas dos A utilização de substâncias dopantes há muito que
perigos da utilização das drogas sociais, explicando-lhes que deixou de ser um problema restrito ao desporto de alto
mesmo as ditas mais leves provocam dependência física rendimento. Sabemos hoje que a utilização de substâncias
e psíquica e uma tendência para o aparecimento de uma
escalada para drogas mais pesadas. O jovem atleta deve ser
dopantes pode começar durante a adolescência, não só com
o intuito de se obterem melhores resultados desportivos,
>>
INSTITUTO PORTUGUÊS DO DESPORTO E JUVENTUDE MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO
PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES GRAU I
FUNCIONAMENTO DO CORPO HUMANO, 2. PREVENÇÃO DE LESÕES DESPORTIVAS
PRIMEIROS SOCORROS E ANTIDOPAGEM E PRIMEIROS SOCORROS
O exame médico desportivo é Pode ser realizado por qualquer médico, mediante o preen-
assim um meio de triagem de de- chimento do impresso próprio para a realização do exame. Se
necessário ou se existirem contraindicações, deverá referenciar
terminadas patologias ou situações para um médico com formação específica em medicina des-
clínicas, principalmente na população portiva ou para os Centros de Medicina Desportiva do Instituto
jovem, imprescindível para aferir a Português do Desporto e Juventude, IP (Lisboa, Porto).
No caso dos praticantes inscritos no regime de Alto Rendi-
aptidão ou inaptidão dos praticantes mento, é obrigatória a realização do exame médico desporti-
para o desempenho desportivo. vo nos Centros de Medicina Desportiva de Lisboa ou Porto.
2. 20
PRINCIPAIS LESÕES
NA ATIVIDADE
DESPORTIVA
2.1. Lesões macrotraumáticas 2.2. Lesões microtraumáticas Na génese das lesões microtraumáticas aplica-se na íntegra
a mensagem de um velho ditado popular:
As lesões macro traumáticas são originadas por um agente As lesões microtraumáticas, ou também chamadas
agressor de alta energia que provoca lesão das estruturas orgâ- de sobrecarga, são originadas por um agente agressor de
nicas, porque a sua energia é superior à capacidade de resistên- baixa energia, que não provoca lesão de imediato, porque
cia do tecido lesado. São lesões em geral de fácil diagnóstico, a sua energia é inferior à capacidade de resistência dos
pois instalam-se de forma aguda e perceciona-se facilmente tecidos orgânicos. O seu estabelecimento é assim insidioso,
uma relação entre o agente agressor e o aparecimento da lesão. motivado por microtraumatismos de repetição inerentes a
gestos desportivos estereotipados e frequentes. Os tecidos “ÁGUA MOLE
orgânicos vão assim sendo progressivamente “alvejados” por EM PEDRA
microvibrações que os vão deteriorando. Estes respondem
com uma reação inflamatória rebelde ao tratamento, que
DURA TANTO
BATE ATÉ
provoca limitação da capacidade funcional fazendo com que
o praticante não consiga treinar e competir, ou o consiga QUE FURA“ 21
com grandes limitações.
A génese deste tipo de lesões não é facilmente percetível
pois é difícil de entender que a dor que aparece num tendão As lesões microtraumáticas são típicas das modalidades
num determinado momento do tempo resultou de agentes ditas de alto impacto que pressupõem um gesto desportivo
agressores que atuaram durante meses ou mesmo anos estereotipado e repetido, envolvendo o contacto com agentes
antes de a lesão começar a dar os primeiros sintomas. Por agressores geradores de microvibrações (solo duro, contacto
As lesões macrotraumáticas
outro lado, os diversos técnicos ligados ao fenómeno des- da bola de ténis com a raquete, entre outros). A corrida, a dança
são típicas das atividades envolvendo portivo têm dificuldade em reconhecer a importância dos aeróbia de alto impacto e o ténis são exemplos de modalidades
contacto físico, como nas modalidades múltiplos fatores que podem contribuir para a sua génese. que predispõem os seus praticantes a este tipo de lesões.
coletivas ou desportos de combate, e/ou Estas lesões exigem para o seu tratamento e prevenção uma As fraturas de fadiga (ou também intituladas de stress) e
caraterizadas por gestos explosivos e que multiplicidade de cuidados, desde os nutricionais até ao as lesões inflamatórias de sobrecarga (tendinites, periostites,
requerem atividade gestual complexa. próprio equipamento desportivo, passando pelas condições bursites, sinovites, ligamentites, etc.) representam exemplos de
atmosféricas, morfotipo, entre outros. lesões microtraumáticas.
3.
OS PRIMEIROS O insucesso do apoio médico à população desportiva
deve-se, muitas vezes, à falta de conhecimentos elementares
1. 2. 3.
Porque é que os cui- O atleta ou o treinador, por deficien- A deficiente cobertura do nosso país, O atleta consulta o médico especiali- 22
tes conhecimentos de traumatologia em termos de traumatologia desportiva, zado, mas não executa os tratamentos
dados relacionados com a
desportiva, subvalorizam a lesão leva a que o atleta tenha dificuldade em prescritos ou as modificações reco-
prevenção secundária de continuando a sua atividade despor- encontrar um médico especializado para mendadas a nível do plano de treino.
lesão desportiva não são tiva, realizando tratamentos “caseiros” lhe resolver o seu problema, recorrendo
realizados ou são realiza- inadequados e consultando tardia- aos cuidados de pessoal não preparado
dos tardiamente? mente o médico. para fornecer um apoio especializado.
Torna-se por isso fundamental que o atleta e o treinador se os cuidados realizados forem inadequados. Como o atleta na
tenham conhecimentos elementares de traumatologia despor- maior parte das vezes não tem acesso ao médico nas primeiras
tiva, de forma a não só saberem reconhecer os diversos tipos de 24 horas deverá estar habilitado a realizar os primeiros cuidados
lesão e a sua gravidade, mas também a atuarem precocemente, elementares de tratamento.
>>
instituindo alguns cuidados elementares de tratamento. Por
exemplo, numa rotura muscular é fundamental o tratamento
instituído nas primeiras 24 horas, o qual, se adequado, pode
minimizar os danos lesionais; acontece precisamente o inverso,
Qualquer que seja o tipo de ferida, os primeiros passos no primeiras horas, não podemos utilizar um penso com com-
tratamento são geralmente idênticos: 3.º pressa seca, pois o referido soro ao secar faz a ferida aderir à
Após debelada a hemorragia, devemos desinfetar a ferida com compressa, surgindo a recidiva da mesma ao levantar o pen-
um antisséptico, sendo a povidona iodada (Betadine – solução so. As feridas erosivas, se não têm hemorragia e estão locali-
dérmica®) a mais utilizada. O antisséptico deve ser aplicado zadas em regiões que não sofram a ação erosiva do vestuário,
abundantemente com o auxílio de uma compressa esterilizada. devem ser deixadas sem penso, pois o soro ao secar forma
Idealmente a compressa deve ser manipulada com uma pinça uma superfície protetora das mesmas. Caso contrário deve
esterilizada, mas na ausência desta deve ser manipulada com ser realizado um penso com compressa gorda (comprada
o auxílio dos dedos que, segurando na compressa através das na farmácia ou executada através de embebimento de uma
pontas, executam um cogumelo com a mesma. A desinfeção compressa seca com vaselina esterilizada), e posteriormente
deve iniciar-se na região central da ferida seguindo-se a região proceder como se tratasse de uma ferida incisa.
Após a ocorrência de uma lesão osteomuscular-articular, Após a realização das medidas RICE, o
como por exemplo uma rotura muscular, o atleta deve: atleta deve ser enviado, o mais brevemente
possível, a um médico ou a uma urgência
hospitalar conforme a gravidade da lesão pois
1. Aplicar imediatamente gelo, através da
aplicação de um saco de gelo (criote-
rapia) sobre o hematoma, durante 10
2. Realizar uma ligadura compressiva atra-
vés da utilização de uma ligadura elás-
tica, que deve ser colocada, em espinha,
podem ter de ser tomadas medidas urgentes.
a 15 minutos e repetir esta aplicação em torno do membro no local do hema- Nas fraturas ósseas e nas luxações articulares, de forma a evitar
de 2 em 2 horas durante as primeiras toma. Esta ligadura deve permanecer a lesão secundária das partes moles, o atleta deve ser imobilizado o
24 horas. Esta manobra visa criar uma nas primeiras 48 horas e visa evitar o mais precocemente possível. A imobilização deve abranger o seg-
constrição dos vasos locais evitando o agravamento do hematoma. Pode ser mento fraturado e as articulações acima e abaixo deste. Na ausência
agravamento do hematoma. retirada para a realização da criotera- de pessoal qualificado, o socorrista pode utilizar diversos tipos de
pia. No entanto a crioterapia pode ser
realizada sobre a ligadura compressiva,
imobilizações consoante a localização da fratura para que o pratican-
te desportivo se possa dirigir de imediato a uma urgência hospitalar: 25
aumentando, como é óbvio, o tempo de
aplicação da mesma. Talas – São fabricadas geralmente em madeira
e recobertas com algodão e ligadura de
gaze ou elástica. São colocadas no membro
Não se deve tentar Perante uma luxação, o atleta ou o treinador não devem diferentes formas de aplicação. A utilização da crioterapia
alinhar a fratura. Essa tentar realizar a redução da luxação (recolocação das superfí- na fase aguda de múltiplas lesões traumáticas deve-se aos
cies articulares no seu local anatómico) pois esta manobra só seguintes efeitos orgânicos:
tarefa é exclusiva do pessoal
deve ser realizada por pessoal médico.
médico e paramédico, pois De forma a podermos entender a utilidade da aplicação 1. Vasoconstrição com diminuição do edema e das
manobras intempestivas do gelo na fase aguda das lesões desportivas, recordemos os hemorragias locais.
poderão originar lesões efeitos orgânicos da terapia pelo frio (crioterapia) e das suas 2. Ação analgésica com combate à dor.
graves das partes moles.
n da camada adiposa n
DEPENDE DE DIVERSOS FATORES:
da resposta vasocons- do perímetro do mem-
n da duração da criote-
n n do tipo de aplicação da
26
subcutânea – quanto tritora ao arrefeci- bro – quanto maior o rapia – quanto maior crioterapia – o arrefeci-
maior esta for, menor mento cutâneo - que perímetro, menor é o a duração, maior é o mento conseguido por
o arrefecimento; varia de indivíduo para arrefecimento; arrefecimento; um banho de imersão em
indivíduo; água fria é maior que o
conseguido com a aplica-
ção do gelo diretamente
sobre a pele, por exemplo.
toalha para proteção da pele. Podemos executar pequenos o saco produzem uma reação química geradora de frio. São
movimentos com o saco fazendo variar a zona arrefecida, se práticos para o uso em ambulatório pois obviam a existência
desejarmos realizar aplicações rápidas sem a utilização de de uma fonte geradora de frio, mas são caros, o arrefecimen-
uma toalha para proteção da pele. A duração da aplicação to obtido é muito limitado no tempo, não são reutilizáveis
varia entre 10 e 20 minutos, segundo a gravidade e a profun- e podem provocar queimaduras químicas se o saco estiver
didade da lesão, a espessura do tecido adiposo subcutâneo e danificado. A técnica de utilização é semelhante à utilizada
o tipo de contenção utilizado. com o saco de gelo.
A crioterapia está contraindicada nas lesões isquémicas 3.3. Nos traumatismos cranianos e
periféricas, na intolerância ou alergia ao frio, nas vasculites, em
situações de défice da sensibilidade cutânea à dor e em feridas
vertebrais
cutâneas abertas. De modo a evitarmos queimaduras através
da aplicação de crioterapia devemos parar a aplicação quando Se o traumatizado craniano estiver inconsciente deve-
surgirem parestesias (sensação de formigueiro ou dormência mos colocá-lo em posição lateral de segurança (Fig.8) para
na pele). O risco de queimadura pode ser minimizado evitando evitar uma aspiração de um eventual vómito. O traumatizado
o contacto direto da forma de aplicação de crioterapia com a vertebro-medular não pode ser colocado em posição lateral
superfície cutânea e limitando a duração da mesma. de segurança pois isso poderia levar à lesão medular. Em alter-
Em resumo, quanto mais intensas forem a dor e o edema, nativa, os traumatizados vertebro-medulares a nível lombar e
mais frequente deve ser a aplicação da crioterapia. Devemos dorsal deverão ser colocados em decúbito dorsal com a rota-
respeitar o tempo máximo de aplicação para cada tipo de crio- ção da cabeça e do pescoço para um dos lados minorando os
terapia, mas podemos repetir o tratamento várias vezes ao dia.
A crioterapia executada com um tempo de aplicação superior
efeitos de um eventual vómito. Nos traumatizados vertebro-
-medulares a nível cervical nem isso podemos fazer devendo 28
ao aconselhado pode ser prejudicial, pois a partir de uma certa mantê-los em decúbito dorsal.
altura deixa-se de produzir a vasoconstrição desejada, surgindo Se o sinistrado estiver consciente deve permanecer
uma vasodilatação reativa. Todas estas formas de frio podem imobilizado em decúbito dorsal, quer tenha um traumatismo
ser usadas nas fases agudas da grande maioria das lesões des- craniano quer um traumatismo vertebro-medular e esperar
portivas, ou na fase tardia das mesmas no combate à dor. nessa posição pela emergência médica.
PERDA DE CONSCIÊNCIA
PROBLEMAS RESPIRATÓRIOS
inspirar cuidados.
Pontos-chave
! da subunidade
1. O treinador deve ter uma intervenção pedagógica 5. Nas lesões inflamatórias de sobrecarga, o atleta e o
junto dos jovens atletas transmitindo-lhe uma série treinador têm um papel fulcral na sua evolução para a
de regras de higiene, que por um lado promovam cronicidade. A palavra de ordem é: “Tratemos bem as
a saúde e por outro façam com que a relação do agudas de forma a evitarmos as crónicas”.
atleta com a atividade desportiva seja salutar e sem
problemas. 6. As medidas de RICE (Rest, Ice, Compression, Ele-
vation) são muito importantes para que as mani-
2. Deve abordar os cuidados nutricionais, a importância
do sono, da higiene corporal e oral, os perigos do
festações hemorrágicas e inflamatórias possam ser
devidamente controladas. Devem aplicar-se durante 31
álcool, do tabaco, das drogas sociais e das substâncias as primeiras 24 horas da fase aguda das lesões des-
dopantes e os cuidados a ter na prevenção das doen- portivas.
ças transmitidas por contacto sexual, entre outros.
SINOPSE DA No final desta unidade curricular, os treinadores devem: ↘ identificar as principais lesões desportivas e os meca-
nismos inerentes à sua génese, quer de lesões macro-
RECOMENDAÇÕES
DE LEITURA
[FUNCIONAMENTO DO CORPO HUMANO E PRIMEIROS SOCORROS] Enciclopédia e Dicionários Porto Editora,
disponível em www.infopedia.pt
34
REFERÊNCIAS
[FUNCIONAMENTO DO CORPO HUMANO E PRIMEIROS SOCORROS] Bandarra, R. (2016). Boas Práticas na Saúde
do Desportista, (1.ª edição). Porto: Edições
Afrontamento.
ANTIDOPAGEM Índice
CAPÍTULO III.
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM 38
RESUMO 38
1. PRINCÍPIOS GERAIS E CONTROLOS DE DOPAGEM 39
1.1. PRINCÍPIOS GERAIS 39
1.2. OBJETIVOS DA ANTIDOPAGEM 42
1.3. CONTROLOS DE DOPAGEM: EM COMPETIÇÃO E FORA DE COMPETIÇÃO 43
PONTOS-CHAVE 49
2. SENSIBILIZAÇÃO E EDUCAÇÃO EM ANTIDOPAGEM 50
2.1. LISTA DE SUBSTÂNCIAS E MÉTODOS PROÍBIDOS 52
- Como proteger os praticantes desportivos
2.2. SISTEMA DE AUTORIZAÇÃO DE UTILIZAÇÃO TERAPÊUTICA 53
- O direito ao tratamento
2.3. SUPLEMENTOS NUTRICIONAIS 54
- Quais os riscos inerentes ao seu uso
PONTOS-CHAVE 57
SINOPSE DA UNIDADE CURRICULAR 58
AUTO VERIFICAÇÃO DOS CONHECIMENTOS 59
RECOMENDAÇÕES DE LEITURA 60
GLOSSÁRIO 61
ESPECÍFICOS
Mundial Antidopagem (AMA) como entidade reguladora da
antidopagem a nível mundial.
saber se um medicamento contém substâncias proibidas,
saber como os praticantes desportivos podem exercer o seu 38
O treinador, como pilar principal de toda a preparação
l Os participantes vão perceber o papel fulcral dos contro- direito ao tratamento e reconhecer os riscos inerentes ao uso
desportiva, será formado na unidade curricular do los de dopagem, tanto em competição, como fora de com- de suplementos nutricionais.
>
quadas para um nível inicial de formação: identificar as
Autorizações de Utilização Terapêutica (AUT); identificar
as consequências da dopagem ao nível da ética e da
saúde, os procedimentos de controlo de dopagem, as
substâncias e métodos que integram a Lista de Subs-
tâncias e Métodos Proibidos e os riscos inerentes ao uso
de suplementos nutricionais.
3.
PRINCÍPIOS GERAIS 1.1. Princípios gerais
Compete à ESPAD assegurar os serviços administrativos e conhecimento médico relevantes para o processo de decisão
logísticos necessários à implementação do Programa Nacional inerente às autorizações de utilização terapêutica.
Antidopagem, nomeadamente o planeamento e realização dos
controlos de dopagem, a gestão administrativa dos resultados, A ADoP forma e certifica um conjunto de mais de 50
sanções e apelos, do sistema de localização de praticantes des-
portivos e do sistema de autorizações de utilização terapêutica.
responsáveis pelo controlo de dopagem (RCD). Os RCD são
médicos, enfermeiros e técnicos de análises, que realizam os 40
Cabe também à ESPAD executar os programas informativos e procedimentos de recolha de urina e sangue relativos aos
educativos relativos à luta contra a dopagem no desporto. A controlos de dopagem. Estes profissionais são selecionados por
ESPAD possui um Sistema de Gestão da Qualidade que é certifi- concurso público, respeitando-se todos os requisitos definidos pela
cado pela Norma ISO 9001. Agência Mundial Antidopagem para o exercício desta função. No
âmbito da sua atividade, os RCD são submetidos a processos muito
À Divisão Jurídica compete nomeadamente prestar assesso- exigentes de formação contínua e de monitorização.
ria jurídica aos órgãos da ADoP, colaborar e participar na elabora-
ção de diplomas legais, nacionais e internacionais, relativos à luta Para além da ADoP, existem outras duas entidades nacio-
contra a dopagem no desporto e verificar a conformidade dos nais antidopagem: o Laboratório de Análises Antidopagem
FIGURA 2 - Organograma da ADoP. regulamentos federativos antidopagem. Assegura a instrução dos (LAD) e o Colégio Disciplinar Antidopagem (CDA). A existência
processos de contraordenação e dos procedimentos disciplinares, destas três entidades na estrutura orgânica da antidopagem
analisa impugnações e assegura a representação judicial da ADoP. em Portugal é o garante da independência do sistema anti-
dopagem português. O Código Mundial Antidopagem exige
A CAUT é o órgão responsável pela análise e aprovação que, em cada país, o laboratório antidopagem e a entidade
das autorizações de utilização terapêutica. É formada por responsável pela aplicação das sanções sejam independentes
cinco médicos com formação em áreas diversificadas do da organização nacional antidopagem.
O LAD é um dos cerca de três dezenas de laboratórios a 1.1.2 O PROGRAMA MUNDIAL ANTIDOPAGEM O Programa Mundial Antidopagem está alicerçado no
nível mundial com plena acreditação pela Agência Mundial Atualmente, a luta contra a dopagem traduz-se num Código Mundial Antidopagem e nas oito Normas Internacio-
Antidopagem para a realização de análises de dopagem, tanto esforço concertado de todos os países do mundo e de vários nais (lista de substâncias e métodos proibidos, laboratórios,
em análises de urina como de sangue. Este laboratório é uma intervenientes do movimento desportivo, como os Comités controlo e investigações, autorização de utilização terapêuti-
unidade com autonomia técnica e científica, funciona junto Olímpico e Paralímpico Internacionais e as federações des- ca, proteção da privacidade e dos dados pessoais, gestão de
do Instituto Português do Desporto e Juventude, I.P. (IPDJ, I.P.). portivas internacionais e nacionais. Deste esforço concertado resultados, educação e conformidade dos signatários), que
O LAD está igualmente acreditado pelo Instituto Português de nasceu, em 1999, a Agência Mundial Antidopagem (AMA), são as pedras basilares da luta contra a dopagem, nas quais
Acreditação com as Normas ISO 17025. Para além disso, o LAD com o objetivo de promover, coordenar e monitorizar a luta se devem inspirar todos os regulamentos antidopagem das
colabora em ações de formação e investigação no âmbito da contra a dopagem em todas as suas formas, a nível global. federações internacionais e nacionais e das organizações de
luta contra a dopagem no desporto. Essa atividade, complexa e multidisciplinar, denomina-se de grandes eventos desportivos, bem como as legislações anti-
Programa Mundial Antidopagem. dopagem dos diferentes países. O primeiro Código Mundial
Antidopagem entrou em vigor em 1 de janeiro de 2004 e tem
A AMA representa uma parceria entre diversas entidades sido revisto periodicamente.
representativas do movimento desportivo e os países de todo o
mundo. O seu financiamento é paritário, sendo metade garanti- O código e as normas internacionais são documentos 41
FIGURA 3 - Logótipo do Laboratório de Análises de Dopagem. do pelo Comité Olímpico Internacional, em nome do movi- fundamentais para a harmonização da luta contra a dopagem
mento desportivo, e a outra metade pelos países a nível global, e para a preservação dos princípios éticos inerentes a esta te-
com os países mais ricos a assumir a parte mais substancial. A mática, pelo que todos os praticantes desportivos e respetivo
O CDA é uma comissão técnico-jurídica independente governança da AMA é igualmente paritária, sendo metade dos pessoal de apoio os devem respeitar.
com competência para decidir sobre os ilícitos disciplinares representantes do movimento desportivo e a outra metade das
decorrentes de violações de normas antidopagem, gozando autoridades públicas.
de jurisdição plena em matéria disciplinar. O CDA é compos-
to por sete membros, que devem possuir conhecimentos
comprovados em matéria de dopagem, sendo cinco dos
seus membros, um dos quais o presidente, titulares do grau
de licenciatura em Direito, e os outros dois titulares de grau
de licenciatura em outras áreas relevantes para a matéria da
dopagem. FIGURA 4 - Logótipo da Agência Mundial Antidopagem (AMA).
A Convenção Internacional contra a Dopagem no Despor- Em Portugal, o Programa Nacional Antidopagem (PNA)
As regras sobre a antidopagem são iguais to da UNESCO, criada em 2005, ratificada pela quase totalida- consiste numa planificação de periodicidade anual, estabelecida
em todos os países e federações internacionais? de dos países do mundo, representa o mecanismo legal que e aplicada pela ADoP segundo o seu quadro de competências
Sim. O Programa Mundial Antidopagem dá essa permite que as autoridades públicas reconheçam os princí- legais, onde são englobadas as ações de controlo de dopagem
garantia. Por isso, qualquer praticante desportivo que seja pios definidos pelo Código Mundial Antidopagem, transpon- a realizar em competição e fora de competição para todas as
controlado em qualquer ponto do globo será submetido do-os para as suas legislações antidopagem a nível nacional, e modalidades desportivas incluídas no PNA nesse ano, bem como
ao mesmo tipo de procedimento e, em caso de violação de que se comprometam a financiar a AMA. uma série de outras iniciativas no âmbito da antidopagem.
norma antidopagem, incorre em sanções semelhantes.
O praticante desportivo tem sempre o direito de solicitar GESTÃO DE RESULTADOS - A ADoP, ao rececionar do LAD, ou O praticante desportivo, após ter recebido a notificação
a realização da análise da amostra “B” e de estar presente de um outro laboratório acreditado pela AMA, um resultado analíti- do dia e da hora propostos para a eventual realização da aná-
na abertura da amostra e de indicar peritos técnicos para co adverso ou um resultado analítico atípico, realiza uma instrução lise da amostra “B”, informa a ADoP, por qualquer meio escrito
testemunhar a realização dos procedimentos analíticos. inicial, de forma a verificar se foi concedida ao praticante despor- e nunca depois de decorridas vinte e quatro horas após a
O praticante desportivo e/ou a entidade responsável pela tivo em causa uma Autorização de Utilização Terapêutica (AUT), receção da mesma, sobre se deseja exercer os direitos conferi-
gestão dos resultados tem igualmente o direito de solicitar ao se ocorreu alguma violação da Norma Internacional para Controlo dos pelas alíneas b), c), d) e e) do n.º 2 do artigo 45.º da Lei n.º
laboratório um processo analítico completo, de modo a que e Investigações ou da Norma Internacional para Laboratórios da 81/2021, de 30 de novembro, ou seja, se requer a realização da
os seus peritos possam verificar a conformidade de todos os AMA que ponha em causa a validade do relatório analítico adverso análise da amostra B, se pretende pronunciar-se quanto ao dia
procedimentos realizados. ou do resultado analítico atípico, ou ainda se há a necessidade de e à hora para a eventual realização da análise da amostra B, e
se proceder à realização de exames complementares. se pretende exercer o direito de ele ou o seu representante se
encontrarem presentes no ato da análise da amostra B, bem
A urina é, e continuará a ser nos Os exames complementares são realizados quando é neces- como o de nomearem peritos para acompanhar a realização
próximos anos, o principal líquido sário determinar se os indícios de positividade detetados numa dessa diligência. Caso o praticante desportivo requeira a
orgânico a ser utilizado para a
realização de controlos de dopagem.
amostra podem ser atribuídos a causas fisiológicas ou patológicas. análise da amostra “B”, os encargos da análise serão da sua
responsabilidade, se esta vier a revelar um resultado adverso. 47
A ADoP, após confirmar pela instrução inicial que não foi
concedida uma AUT que cubra o caso em apreço, e que não
se verificou nenhuma violação das normas internacionais para
controlo e investigações ou de laboratórios, procede à noti-
ficação referida no n.º 1 e 2 do artigo 45.º da Lei n.º 81/2021,
Posso representar ou acompanhar o de 30 de novembro, endereçada ao praticante desportivo,
ao seu clube ou sociedade anónima desportiva e à respetiva
praticante desportivo no momento federação desportiva, notificando de igual modo a AMA e a
em que se realiza uma análise da respetiva federação internacional.
Compete então à ADoP informar o LAD, ou o laboratório método em causa, os riscos inerentes à modalidade desporti-
antidopagem acreditado pela AMA responsável pela reali- va em questão, a colaboração na descoberta da forma como
zação da primeira análise, do teor dessa informação. Caso o foi violada a norma antidopagem, o grau de culpa ou negli-
praticante desportivo informe de que prescinde da realização Cenário para arrumar ideias gência e o facto de se tratar de uma 1.ª, 2.ª ou 3.ª infração.
da análise da amostra B, a ADoP notifica o praticante desporti- Um praticante desportivo que treina comigo é notificado pela
vo, o seu clube ou sociedade anónima desportiva e a respetiva ADoP que teve um resultado analítico adverso num controlo As decisões do Colégio Disciplinar Antidopagem são pas-
federação desportiva relativamente à suspensão preventiva realizado fora de competição e ficou arrasado! Aliás, todo o síveis de recurso para o Tribunal Arbitral do Desporto (TAD).
do praticante desportivo e à abertura do respetivo procedi- grupo ficou arrasado!
mento disciplinar pela ADoP. Reflita como analisaria esta situação e que conselhos da- Todas as violações de normas antidopagem verificadas
ria ao seu atleta para ultrapassar este difícil momento, de em Portugal devem ser reportadas à Agência Mundial Antido-
Caso o praticante desportivo não responda à notificação forma a exercer os seus deveres, garantir os direitos que pagem e à respetiva federação internacional.
da ADoP no prazo estipulado, o LAD ou o laboratório antido- lhe assistem e minimizar os efeitos negativos da situação.
pagem acreditado pela AMA responsável pela realização da
primeira análise, procede à realização da análise da amostra
“B” na data previamente definida, na presença de uma teste- PROCEDIMENTOS DISCIPLINARES 48
munha independente. A ADoP envia todo o processo para a sua Divisão Jurídica,
responsável pela elaboração da instrução do procedimento
Na realização da análise da amostra “B” pode também disciplinar, designando um instrutor. O instrutor emite a nota
estar presente, para além das pessoas e entidades já referidas, de culpa para que o praticante desportivo possa exercer os
um representante da respetiva federação desportiva. seus direitos de defesa, dando resposta escrita à nota de culpa As sanções relativas a violações
pessoalmente ou designando um representante legal e, se o de normas antidopagem aplicadas
O LAD, ou o laboratório antidopagem acreditado pela desejar, exercer o seu direito de ser ouvido presencialmente e
AMA, emite um relatório com o resultado da análise da amos- de indicar testemunhas.
por organizações antidopagem
tra “B”, que é remetido à ADoP. estrangeiras são válidas em
Terminada a instrução, o instrutor elabora o relatório final
Caso o resultado da análise da amostra “B” confirme o da e a ADoP remete todo o processo disciplinar para o Presidente
Portugal?
primeira análise, a ADoP deve notificar o praticante desporti- do Colégio Disciplinar Antidopagem (CDA). O Código Mundial Antidopagem prevê o reconheci-
vo, o seu clube ou sociedade anónima desportiva e a respetiva mento mútuo de sanções, desde que as mesmas sigam
federação desportiva relativamente à suspensão preventiva As sanções podem ir da mera advertência à suspensão os princípios nele descritos, pelo que qualquer sanção
do praticante desportivo e à abertura do respetivo procedi- por 25 anos da prática desportiva. A decisão atende aos factos aplicada por uma organização antidopagem tem eficácia
mento disciplinar pela ADoP. inerentes a cada caso, nomeadamente o tipo de substância ou a nível mundial.
Pontos-chave
! da subunidade
1. A Autoridade Antidopagem de Portugal (ADoP) é a 5. São três os principais objetivos da luta contra a
organização nacional antidopagem com funções no dopagem: a preservação da verdade desportiva, a
controlo e na luta contra a dopagem no desporto. preservação da saúde do praticante desportivo e a
preservação do espírito desportivo.
2. A ADoP tem a sua atividade regulada pela Lei n.º 81/2021,
de 30 de novembro, que estabelece o regime jurídico da 6. O controlo de dopagem é o procedimento que inclui
luta contra a dopagem em Portugal, e pela Portaria n.º todos os atos e formalidades, desde a planificação e
11/2013, de 11 de janeiro, que estabelece as normas de
execução regulamentar do referido regime e que atual-
distribuição dos controlos até à decisão final e à cor-
respondente aplicação das sanções, nomeadamente 49
mente se encontra em fase de revisão. a informação sobre a localização dos praticantes des-
portivos, a recolha e o manuseamento das amostras,
3. A Agência Mundial Antidopagem (AMA) é a entida- as análises laboratoriais, as autorizações de utilização
de que tem como objetivo promover coordenar e terapêuticas, as investigações e a gestão dos resulta-
monitorizar a luta contra a dopagem em todas as suas dos. Os controlos de dopagem fora de competição
formas a nível global. são justificados pelo uso de substâncias e métodos
proibidos que, pela sua natureza, já não são possíveis
4. O Programa Nacional Antidopagem consiste numa de detetar quando a competição se verifica.
planificação anual para uma mais eficiente distribui-
ção dos recursos da ADoP pelas diferentes federações
desportivas nacionais com estatuto de Utilidade
Pública Desportiva. O PNA inclui nomeadamente
planificação das ações de controlo de dopagem a
realizar, em competição e fora de competição, para
todas as modalidades desportivas incluídas no PNA
nesse ano.
2.
SENSIBILIZAÇÃO E É comum afirmar-se que a luta contra a dopagem no des-
porto se desenvolve em três vertentes distintas: os controlos
///////////////////////////////////////////////////////////////////////////
Os programas pedagógicos, de acordo com o artigo 35.º
EDUCAÇÃO EM de dopagem, a investigação e a informação e a educação. da Lei Antidopagem, devem fornecer informação atualizada,
nomeadamente sobre as seguintes matérias:
A ADoP disponibiliza através do seu sítio na Internet A AMA disponibiliza no seu sítio na Internet (www.wada-
(www.ADoP.pt) um conjunto alargado de informações rela- -ama.org) um leque muito diversificado de ferramentas que
tivas a esta temática, nomeadamente os dados estatísticos podem ser utilizadas em estratégias de sensibilização e de
relacionados com a sua atividade. educação em antidopagem. De salientar o Programa ADeL®, Cenário para arrumar ideias
que consiste numa série de cursos online dedicados não só à Treina uma equipa de formação composta por jovens com
educação de praticantes desportivos, mas também de mem- idades compreendidas entre os 15 e os 18 anos. Toma a ini-
bros do seu pessoal de apoio, como por exemplo médicos e ciativa de realizar uma ação de sensibilização sobre direitos e
treinadores. Esses cursos podem ser realizados por módulos, deveres dos atletas no âmbito da antidopagem.
incluem uma avaliação dos participantes e a emissão de um Descreva com detalhe que objetivos procuraria atingir e
certificado de participação no final. que matérias iria incluir na apresentação, dando exem-
plos práticos de deveres e direitos. Reflita que ferramen-
tas informativas/educativas, disponíveis em www.ADoP.pt,
iria associar à sua ação de sensibilização.
51
FIGURA 8 - Área com materiais informativos e educativos no site da ADoP.
A lista está também disponível no Guia Prático Sobre a Healthcare, foi possível criar o motor de busca “JOGO LIMPO” No entanto, os praticantes desportivos têm o direito, em
Luta contra a Dopagem. Este guia prático reúne um conjunto Medicamentos e Desporto, que permite identificar esses medi- certas circunstâncias, de utilizar substâncias e métodos proi-
de informação relevante sobre a luta contra a dopagem que é camentos ou os seus princípios ativos. bidos quando tal se justifique terapeuticamente. Por isso,
atualizada anualmente, designadamente a identificação das es- uma das normas internacionais criadas pela AMA diz respei-
pecialidades farmacêuticas que contêm substâncias proibidas, re- to às regras para solicitação de Autorização para Utilização
feridas por nome comercial e por princípio ativo, a descrição dos Terapêutica (AUT) de substâncias e métodos proibidos. A
procedimentos para a solicitação de autorizações de utilização aplicação dessas normas em Portugal é da responsabilidade
terapêutica (AUT), um resumo da legislação aplicável, informação da ADoP que, através da sua Comissão de Autorização de
sobre os suplementos nutricionais e um módulo relativo aos Utilização Terapêutica (CAUT), procede ao registo e análise
malefícios das substâncias proibidas. O guia prático está também das solicitações de utilização terapêutica.
disponível no sítio na Internet da Autoridade Antidopagem de
Portugal (www.ADoP.pt).
Pontos-chave
! da subunidade
1. A Lista de Substâncias e Métodos Proibidos é uma 4. A Comissão de AUT da ADoP poderá conceder uma AUT
norma internacional que identifica as substâncias e para autorizar a administração da substância e/ou méto-
métodos proibidos em competição, fora de competição e do proibido se os quatro critérios definidos na respetiva
em alguns desportos em particular. A integração de uma norma internacional estiverem presentes.
substância ou de um método na lista necessita que pelo
menos dois dos seguintes critérios estejam presentes: 5. A utilização de suplementos nutricionais pelos prati-
potencial para melhorar ou melhorar efetivamente o cantes desportivos pode representar sério problema
rendimento desportivo; risco atual ou potencial da sua
utilização para a saúde do praticante desportivo; a sua
para a sua saúde e pode originar a violação de normas
antidopagem. 57
utilização viola o espírito desportivo. A lista é atualizada
anualmente e publicada no Diário da República.
59
RECOMENDAÇÕES
DE LEITURA
[ANTIDOPAGEM] Código Mundial Antidopagem – World
Anti-Doping Code (versão em vigor)
disponível em www.wada-ama.org
60
atualizada) disponível em www.ADoP.pt
[ANTIDOPAGEM]
que ao estimularem a produção dos de basquetebol ou a final olímpica dos Desporto coletivo
glóbulos vermelhos pela medula 100 metros no atletismo. Para corridas A modalidade desportiva em que é
óssea, aumentam substancialmente a por etapas e para outras competições permitida a substituição de jogadores
capacidade de transporte de oxigénio atléticas em que os prémios sejam no decorrer da competição.
e dessa forma promovem o aumento atribuídos numa base diária ou de
do rendimento desportivo. uma outra forma específica, a distinção Em competição
Amostra ou espécimen
entre “competição” e “evento” será a
resultante da regulamentação da fede-
O período que se inicia às 23:59 horas
do dia que antecede uma competição 61
Qualquer material biológico recolhido ração internacional respetiva. em que o praticante desportivo vai
para efeitos de controlo de dopagem. participar, e que termina com o final da
Controlo direcionado mesma e do processo de colheita de
Cadeia de custódia A seleção não aleatória para controlo amostras, sendo que qualquer período
A sequência de pessoas ou organiza- de praticantes desportivos ou grupos que não seja em competição é entendi-
ções que têm a responsabilidade pela de praticantes desportivos, conforme do como «fora de competição».
amostra desde a sua colheita até à sua os critérios estabelecidos na Norma
receção para análise. Internacional de Controlo e Investiga- Escolta
ções da Agência Mundial Antidopagem Uma pessoa que é treinada e autori-
Competição (AMA). zada pela organização antidopagem
Uma corrida única, um encontro, um para executar uma função específica,
jogo ou uma competição desportiva Densidade urinária adequada incluindo uma ou mais das seguintes:
específica, considerando-se, em provas para análise notificação do praticante desportivo
por etapas e noutras competições Densidade urinária de valor igual ou selecionado para o controlo de dopa-
desportivas em que são atribuídos superior a 1.005 se o volume de urina gem; acompanhamento e observação
prémios diariamente ou de forma inter- recolhido for inferior a 150 ml ou de do praticante desportivo até à chegada
Seleção aleatória 63
Seleção de praticantes desportivos
para controlo quando não se trate de
controlos dirigidos. A seleção aleatória
pode ser: completamente aleatória
(quando não se recorre a qualquer cri-
tério pré-determinado, e os praticantes
desportivos são escolhidos arbitraria-
mente de uma lista ou de um grupo
de nomes de praticantes desportivos):
ou ponderada (quando os praticantes
desportivos são classificados segundo
um critério pré-determinado de forma
a aumentar ou diminuir as suas hipóte-
ses de ser selecionado).
AUTORES
RAÚL ANTÓNIO BANDARRA PACHECO E LUÍS HORTA
FUNCIONAMENTO DO CORPO HUMANO,
PRIMEIROS SOCORROS E ANTIDOPAGEM