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ANTIDOPAGEM

2 G

1. DEVERES E DIREITOS NA ANTIDOPAGEM

2. MALEFÍCIOS ORGÂNICOS DAS SUBSTÂNCIAS


E MÉTODOS PROIBIDOS

Luís Horta IPDJ_2021_V1.0

INSTITUTO PORTUGUÊS DO DESPORTO E JUVENTUDE MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO


PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES GRAU II
ANTIDOPAGEM Índice
CAPÍTULO I.
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM 3
RESUMO 3
1. DEVERES E DIREITOS NA ANTIDOPAGEM 4
1.1. INTRODUÇÃO 4
1.2. DEVERES E DIREITOS DO TREINADOR 7
- O QUE DEVO SABER?
1.3. DEVERES E DIREITOS DO PRATICANTE DESPORTIVO 9
- COMO POSSO AJUDAR O PRATICANTE DESPORTIVO?
PONTOS-CHAVE DA SUBUNIDADE 13
SINOPSE DA UNIDADE CURRICULAR 25
AUTO VERIFICAÇÃO DOS CONHECIMENTOS 26
RECOMENDAÇÕES DE LEITURA 27
GLOSSÁRIO 28

Luís Horta 1. DEVERES E DIREITOS NA ANTIDOPAGEM


2. MALEFÍCIOS ORGÂNICOS DAS SUBSTÂNCIAS E MÉTODOS PROIBIDOS

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PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES GRAU II
ANTIDOPAGEM

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM RESUMO


Neste segundo nível de formação, os participantes vão Vão poder identificar os seus deveres e direitos na antido-
GERAIS
O PNFT contribui de forma decisiva para que a Autoridade ter uma segunda abordagem sobre esta temática, de forma pagem, bem como os dos praticantes desportivos, de forma
a conhecerem as principais fontes documentais a nível a reconhecerem as suas responsabilidades e a importância
Antidopagem de Portugal (ADoP), organização nacional
internacional elaboradas pela Agência Mundial Antidopagem, da sua proatividade nesta temática, e poderem colaborar nas
antidopagem com funções no controlo e na luta contra a
nomeadamente o Código Mundial Antidopagem e as normas estratégias de prevenção da ADoP.
dopagem no desporto, possa cumprir as suas obrigações internacionais, para que possam reconhecer os objetivos
em termos de educação antidopagem dos treinadores a de cada um destes documentos como contributo essencial O pessoal de apoio dos praticantes desportivos deve ter
nível nacional. para a harmonização da antidopagem a nível mundial. Vão presente a importância de alertar os que estão a seu cargo para
Neste grau, a formação do treinador, terá como objetivos igualmente conhecer quais são as principais fontes docu- os riscos para a saúde que decorrem do recurso a práticas de
gerais receber informação relativa às seguintes matérias: mentais a nível nacional elaboradas pelo Estado português e dopagem. Os participantes vão poder reconhecer os principais

deveres e direitos na antidopagem, malefícios orgânicos


das substâncias e métodos proibidos.
autoridades públicas, nomeadamente a legislação nacional
(Lei n.º 81/2021, de 30 de novembro) e os regulamentos
malefícios orgânicos das substâncias e métodos proibidos, a
curto, médio e longo prazo, de forma a colaborar nas estratégias 3
antidopagem das federações desportivas nacionais, visando de prevenção da ADoP junto dos seus atletas, em particular em
reconhecer os objetivos destes documentos como contributo defesa de uma prática desportiva sem recurso ao uso daquelas
ESPECÍFICOS essencial para a definição de uma política nacional antidopa- substâncias e métodos, e com total respeito pelos valores e prin-
O treinador, como pilar principal de toda a preparação gem e para a harmonização da antidopagem a nível nacional. cípios inerentes à preservação do espírito desportivo.
desportiva, será formado na unidade curricular de anti-

>
dopagem - Grau II relativamente a matérias que foram as
consideradas mais adequadas para um nível intermédio
de formação: autorizações de utilização terapêutica;
consequências da dopagem ao nível da ética e da saúde;
direitos e responsabilidades dos praticantes desportivos e
do pessoal de apoio, no âmbito da luta contra a dopagem;
violações de normas antidopagem e respetivas sanções.

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1.
DEVERES E DIREITOS 1.1. Introdução

NA ANTIDOPAGEM Para os diferentes intervenientes no movimento despor-


tivo, desde os praticantes desportivos aos dirigentes federa-
tivos e dos clubes e associações, dos treinadores ao pessoal
médico, resultam direitos e deveres específicos no âmbito da
antidopagem.

São diversas as fontes desses direitos e deveres, sendo


algumas internacionais e outras nacionais. Como fontes interna-
cionais temos o Código Mundial Antidopagem, as respetivas
Normas Internacionais e os regulamentos antidopagem das
federações internacionais e de outros organismos desportivos
internacionais; como fontes nacionais temos a legislação nacio- 4
nal antidopagem e os regulamentos federativos antidopagem.

Código Mundial Antidopagem - o Código é o docu- Lista de Substâncias e Métodos Proibidos - A lista,
mento nuclear onde consta o enquadramento que possibilita que é também uma norma internacional de aplicação obriga-
a harmonização das políticas de luta contra a dopagem, das tória, constitui um dos elementos fundamentais do Programa
suas normas e regulamentos, entre as organizações desporti- Mundial Antidopagem. Identifica as substâncias e métodos
vas e entre as autoridades públicas dos diferentes países. proibidos em competição, fora de competição e em alguns
desportos em particular. A lista é atualizada todos os anos, en-
trando em vigor uma nova versão em cada dia 1 de janeiro.

FIGURA 1 - FIGURA 2 - Lista


Código Mundial de Substâncias
Antidopagem e Métodos Proi-
2021. bidos.

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Norma Internacional para Controlo e Investigações - Norma Internacional para Laboratórios - esta Norma Internacional sobre Conformidade do
esta norma destina-se a assegurar um sistema de controlos norma destina-se a assegurar a validade dos processos Código pelos Signatários - esta norma garante
de dopagem eficaz, garantindo a salvaguarda da integridade analíticos no âmbito da luta contra a dopagem, bem como um conjunto de regras inerentes à monitorização da
e identificação das amostras, desde a notificação dos prati- estabelecer os critérios para a obtenção e manutenção da implementação do código pelos signatários e os pro-
cantes desportivos até ao transporte das amostras para o la- acreditação para a realização desses procedimentos pela cedimentos e sanções a aplicar caso se verifiquem não
boratório. Contém os princípios e os procedimentos inerentes Agência Mundial Antidopagem em todos os laboratórios conformidades.
ao sistema de localização dos praticantes desportivos e as acreditados.
regras pelas quais se devem reger as investigações desenca-
deadas pelas organizações antidopagem. Destina-se também
a estabelecer os direitos e deveres de todos os intervenientes FIGURA 7 - Nor-
ma Internacional
no processo de controlo de dopagem. sobre Conformi-
FIGURA 5 - Nor- dade do Código
ma Internacional pelos Signatários.
para Laboratórios.

FIGURA 3 - Nor-
Norma Internacional para a Educação - o primeiro 5
ma Internacional Norma Internacional para a Proteção da Priva- objetivo é estabelecer padrões obrigatórios que apoiem os
para Controlo e cidade e dos Dados Pessoais - tem como objeto signatários no planeamento, implementação, monitorização
Investigações.
garantir que todas as partes envolvidas na antidopagem e avaliação de programas educacionais eficazes, conforme
respeitam um conjunto de regras tendo em vista a pro- estipulado no código.
Norma Internacional para Autorização de Utilização teção da privacidade, quando recolhem e utilizam dados
Terapêutica - a finalidade desta norma é garantir que o pessoais dos praticantes desportivos, nomeadamente
processo para a concessão de Autorizações de Utilização informação relativa aos controlos de dopagem, às autoriza-
Terapêutica (AUT) é harmonizado entre todos os desportos e ções de utilização terapêutica e aos sistemas de localização
em todos os países. do praticante desportivo. FIGURA 8 - Nor-
ma Internacional
para a Educação.

FIGURA 4 - Nor- FIGURA 6 - Nor-


ma Internacional ma Internacional
para Autorização para a Proteção da
de Utilização Privacidade e dos
Terapêutica. Dados Pessoais.

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Norma Internacional para a Gestão dos Resul- estabelecidas na versão 2021 do Código Mundial Antidopa- praticantes desportivos a seu cargo relativamente aos seus
tados - o objetivo desta norma internacional é definir as gem. Nomeadamente, consagra a ADoP enquanto organização direitos e deveres no mesmo âmbito.
principais responsabilidades das organizações antidopagem nacional antidopagem, definindo as suas competências.
relativamente à gestão de resultados, cobrindo todas as fases Os treinadores, como pilares e líderes de equipas
do processo, desde a revisão inicial até aos recursos, passando Portaria n.º 11/2013, de 11 de janeiro, com as alterações que multidisciplinares de apoio aos praticantes desportivos,
por todas as fases dos procedimentos disciplinares inerentes a lhe foram introduzidas pela Portaria n.º 232/2014, de 13 de não podem de forma alguma adotar uma atitude de pas-
violações de normas antidopagem. novembro – estabelece as normas de execução regulamentar sividade perante qualquer situação que ponha em causa
do referido regime (atualmente em fase de revisão). princípios legais, regulamentares ou éticos pelos quais se
deve reger a prática desportiva. Deverão ter uma atuação
eticamente irrepreensível, pois representam uma especial
referência para todos os que atuam sob a sua autoridade,
FIGURA 9 - Nor-
ma Internacional desde a restante equipa técnica aos praticantes desporti-
para a Gestão dos vos. Nessa medida, um adequado conhecimento dos seus

6
Resultados.
Regulamentos federativos antidopagem - A legis- direitos e deveres, bem como dos direitos e deveres dos
lação em vigor impõe às federações desportivas a adoção de praticantes desportivos, muito em especial os relacionados
Regulamentos antidopagem das federações um regulamento antidopagem, elaborado em conformidade com a antidopagem, é fundamental.
internacionais - as federações desportivas internacionais com as regras estabelecidas na legislação nacional aplicável,
dispõem também de regulamentos antidopagem, de forma com as normas estabelecidas no quadro das convenções
a garantir a implementação dos princípios estabelecidos pelo internacionais sobre a dopagem no desporto de que Portugal
Programa Mundial Antidopagem nos eventos desportivos seja parte ou venha a ser parte, e com as regras e orientações
que organizam. Por outro lado, as federações internacionais estabelecidas pela AMA e pelas respetivas federações despor-
e outros organismos desportivos internacionais funcionam tivas internacionais.
muitas vezes como verdadeiras organizações antidopagem,
assim reconhecidas pelo código. Assim, são aplicados os res- Os regulamentos federativos antidopagem são regista-
petivos regulamentos antidopagem aos praticantes desporti- dos junto da ADoP, a quem compete nomeadamente aferir
vos que estão sob a jurisdição dessas federações. da sua legalidade.

LEGISLAÇÃO NACIONAL ANTIDOPAGEM: Compete aos treinadores não só conhecer e cumprir


Lei n.º 81/2021, de 30 de novembro – Esta lei da Assembleia da as obrigações que para eles decorrem no âmbito da luta
República estabelece o regime jurídico da luta contra a dopa- contra a dopagem no desporto, mas também colaborar
gem em Portugal, adotando na ordem jurídica interna as regras com as organizações antidopagem na sensibilização dos

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1.2. Deveres e direitos dos treinadores Não criar expectativas irrealistas a nível do desempenho “O planeamento do treino nada tem
desportivo, principalmente nos praticantes desportivos a ver com o recurso a substâncias e
No processo de antidopagem, são deveres fundamentais dos mais jovens, pois estes poderão ser tentados a tomar métodos proibidos!”
treinadores que acompanham a carreira desportiva dos pratican- algo que lhes permita atingir o objetivo almejado, ao O deficiente trabalho ao nível da capacidade aeróbia
tes, em qualquer dos momentos da sua atividade, os seguintes: percecionarem que o mesmo não pode ser alcançado poderá levar os praticantes desportivos a serem tentados
Conhecer e fazer cumprir todos os princípios previstos no por meios lícitos. a tomar substâncias que aumentem de uma forma ilícita
regulamento federativo antidopagem da sua modalidade. a capacidade de captação, transporte e utilização do
Usar a sua influência para que os valores e os comportamen- A gestão de expectativas é relevante oxigénio no seu organismo.
tos adotados pelos seus praticantes desportivos se possam para a luta contra a dopagem?
traduzir em atitudes éticas contra a dopagem no desporto. Sim. O treinador deve ter um discurso motivador Esclarecer os praticantes sobre todos os meios disponibi-
Velar para que os praticantes desportivos se abstenham junto dos seus praticantes desportivos, mas evitan- lizados pela ADoP para esclarecimento sobre a natureza
de qualquer forma de dopagem, através de um discurso do excessos, para não correr o risco de fomentar de quaisquer substâncias, produtos ou métodos que lhe
proativo no âmbito da luta contra a dopagem.
Não valorizar em demasia a capacidade competitiva como
expectativas irrealistas, que possam desencadear
estratégias de dopagem.
sejam ministrados, nomeadamente através da informação
disponível na página da internet da ADoP (www.ADoP.pt) 7
objetivo de realização, em detrimento do domínio da tarefa, através da ferramenta “Jogo Limpo”.
pois pode correr-se o risco de, mesmo que inconscientemente, Planear cuidadosamente o treino, evitando cargas de Garantir que os praticantes desportivos dispõem de um
estimular os praticantes desportivos a utilizarem substâncias treino excessivamente intensas e/ou volumosas e/ou adequado apoio médico especializado, mantendo-os
proibidas para melhorarem o seu rendimento desportivo. recuperação insuficiente, o que pode obrigar os pratican- informados das substâncias e métodos que sejam proibi-
tes desportivos a utilizar substâncias ou métodos proibi- dos, bem como das consequências da sua utilização;
A atitude mais correta de um treina- dos para acompanhar o treino da equipa ou satisfazer o
dor na antidopagem é uma atitude treinador. “Um adequado apoio médico não é
passiva, não dando a entender aos seus pra- Planear adequadamente o plano competitivo dos seus uma prioridade numa equipa!”
ticantes desportivos que o problema existe? praticantes desportivos, evitando uma densidade exage- Para além da sua importância na garantia de uma
Bem pelo contrário! O treinador deve ter uma inter- rada de competições em determinados períodos da épo- prática desportiva que proteja a saúde dos pratican-
venção ativa, que passa pela condenação veemente ca, dificultando desse modo a recuperação do praticante tes desportivos, a equipa médica tem um papel fun-
de quaisquer práticas de dopagem. É fundamental, por desportivo, o que o pode levar a utilizar estratégias de damental na prevenção da ocorrência de violações
exemplo, que um treinador de futebol ou de andebol dopagem, facilitadoras dessa recuperação. de normas antidopagem por atos negligentes ou
tenha, no início de cada época desportiva, um discurso intencionais.
forte e claro sobre esta temática com todos os elemen-
tos da equipa.

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Não recomendar ou administrar medicamentos que “A administração de substâncias ou Informar os praticantes desportivos sobre o sistema de
contenham substâncias proibidas ou utilizar métodos métodos proibidos por um treinador solicitação de Autorização de Utilização Terapêutica, de
proibidos. representa um crime?” forma a garantir um direito fundamental para a proteção
Comunicar à ADoP eventuais violações de normas anti- “Quem administrar ao praticante desportivo, com ou sem da saúde dos praticantes – o direito ao tratamento. Essa
dopagem de que tenham conhecimento. o seu consentimento, em competição, qualquer subs- solicitação deve ser feita à federação internacional para
Solicitar à ADoP que seja submetido a controlo de dopa- tância ou facultar o recurso a método proibido, ou quem os praticantes desportivos que estão inseridos no respe-
gem qualquer praticante desportivo em relação ao qual administrar ao praticante desportivo, com ou sem o seu tivo Grupo Alvo, e junto da ADoP para todos os restantes
suspeite que possa estar a utilizar produtos, substâncias consentimento, fora da competição, qualquer substância praticantes nacionais.
ou métodos proibidos. ou facultar o recurso a método que seja proibido fora de
Preservar a confidencialidade de toda a informação competição, ou quem assistir, encorajar, auxiliar, permitir Não será desleal um treinador
relativa à antidopagem a que tenha acesso e que esteja o encobrimento, ou qualquer outro tipo de cumplicidade informar a ADoP sobre eventuais
sujeita a dever de sigilo, nomeadamente a relativa a envolvendo uma violação de norma antidopagem é pu- práticas de dopagem?
uma eventual violação de norma antidopagem por caso
adverso, que ainda não tenha sido confirmada através de
nido com prisão de 6 meses a 3 anos, salvo quando exista
uma autorização de utilização terapêutica.“
Um praticante desportivo que se dopa, e que por isso
tem uma melhoria do seu rendimento desportivo sendo 8
uma contra-análise solicitada pelo praticante desportivo. Artigo 58.º da Lei n.º 81/2021, de 30 de novembro. este facto conhecido no âmbito do grupo de trabalho
e sem que ninguém denuncie essa situação, representa
um risco de contágio que pode envolver todo o grupo,
podendo originar um fenómeno de “bola de neve”.

Conhecer em profundidade e aplicar as regras e princípios


do controlo de dopagem que se apliquem a si próprios e
aos praticantes desportivos com os quais trabalham:
l O treinador deve prestar toda a colaboração aos responsá-
veis pelo controlo de dopagem (RCD) da ADoP, para que os
controlos de dopagem, tanto em competição como fora de
competição, se desenrolem de uma forma adequada.
l Devem receber cordialmente os RCD, colaborando na
localização e notificação dos praticantes desportivos
e na disponibilização de instalações adequadas para a
realização do controlo de dopagem. Nas modalidades

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coletivas, e na ausência de qualquer dirigente despor- 1.3. Deveres e direitos dos praticantes São deveres fundamentais
tivo, deverão testemunhar o sorteio dos praticantes
desportivos a submeter a controlo realizado pelo RCD.
desportivos do praticante desportivo:
l Devem disponibilizar-se para acompanhar os praticantes No processo de luta contra a dopagem no desporto, os ↘ Conhecer e fazer cumprir todos os princípios previs-
desportivos ao controlo de dopagem, sendo obrigatório praticantes desportivos filiados em qualquer federação nacio- tos no regulamento federativo antidopagem da sua
esse acompanhamento sempre que se trate de um controlo nal possuem um quadro de princípios que devem entender e modalidade.
realizado a um menor ou a um praticante portador de uma cumprir como deveres fundamentais, bem como um conjunto ↘ Não permitir a administração nem fazer uso de subs-
deficiência que necessite de auxílio de terceiros, caso não de direitos que deverão ser salvaguardados, nomeadamente tâncias ou métodos constantes na Lista de Substân-
haja outra pessoa disponível para os acompanhar. durante as ações de controlo de dopagem. cias e Métodos Proibidos em vigor.
↘ Não permitir a administração, nem fazer uso de
“O treinador não tem qualquer substâncias ou métodos que impeçam ou dificultem
responsabilidade na realização do a deteção de substâncias proibidas.
controlo de dopagem!”
Embora não assuma um papel principal nesse processo,
↘ Submeter-se ao controlo de dopagem, em compe-
tição ou fora de competição, sempre que notificado 9
pode tornar-se o ator principal, se não assumir as suas para esse efeito por uma organização antidopagem,
responsabilidades. colaborando ativamente com os responsáveis pelo
controlo de dopagem (RCD).
Colaborar com os praticantes desportivos que se encon- ↘ Informar-se junto do representante da entidade or-
trem inseridos no grupo-alvo de uma federação internacio- ganizadora do evento ou competição desportiva em
nal ou da ADoP, para o cumprimento das suas obrigações que participa, ou junto do responsável pela equipa
relativas ao envio dos formulários do sistema de locali- de controlo de dopagem, se foi, ou pode ser, indicado
zação, principalmente se são treinadores de praticantes ou sorteado para se submeter ao controlo de dopa-
desportivos portadores de deficiência que, por questões gem, não devendo abandonar os espaços desporti-
de autonomia, têm dificuldade em assumir pessoalmente vos nos quais se realizou esse evento ou competição
essas responsabilidades. sem se assegurar que não é alvo do controlo.
Colaborar na distribuição e divulgação de material de
informação e educação disponibilizado com regularida-
de pela ADoP junto dos diversos grupos-alvo das suas
campanhas de informação e educação, nomeadamente
através das federações desportivas.

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Os regulamentos antidopagem das Sendo praticante com idade inferior a 18 anos, apresen- Se notificado da inclusão no grupo-alvo de praticantes
federações desportivas são todos tar no ato de inscrição ou de revalidação desta junto da desportivos da ADoP ou de uma federação internacional,
iguais? respetiva federação, autorização por quem detém o po- cumprir as obrigações que daí decorrem no âmbito do
“1 - As federações desportivas estão obrigadas a adaptar der paternal para se sujeitar aos controlos de dopagem. Sistema de Localização do praticante desportivo.
o seu regulamento de controlo de dopagem às:
a) Regras estabelecidas na presente lei e demais regula- O praticante desportivo pode negar
mentação aplicável. submeter-se a um controlo de O que prevê o Sistema de Localização?
b) Normas estabelecidas no quadro das convenções dopagem porque tem um voo programado “Os praticantes desportivos que tenham sido identi-
internacionais sobre a dopagem no desporto de que para a mesma altura? ficados pela ADoP ou por uma federação desportiva
Portugal seja parte ou venha a ser parte. Não. Após ser notificado, o praticante desportivo não internacional para inclusão num grupo-alvo para
c) Regras e orientações estabelecidas pela AMA e pelas pode recusar-se a submeter-se a um controlo em efeitos de serem submetidos a controlos fora de com-
respetivas federações desportivas internacionais. “ nenhuma circunstância. No entanto, o RCD fará tudo petição são obrigados, após a respetiva notificação, a

Artigo 14.º, n.º 1, da Lei n.º 81/2021, de 30 de novembro.


para que o controlo seja realizado com o mínimo de
interferências nas atividades dos praticantes desporti-
fornecer trimestralmente, e sempre que se verifique
qualquer alteração nas vinte e quatro horas preceden- 10
vos, sempre que possível. tes à mesma, informação precisa e atualizada sobre
a sua localização, nomeadamente a que se refere às
datas e locais em que efetuem treinos ou provas não
integradas em competições.”

Artigo 9º, n.º 1, da Lei n.º 81/2021, de 30 de novembro.

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São direitos fundamentais


do praticante desportivo:
↘ Receber da ADoP material de informação e educação ↘ Ver garantido que os laboratórios acreditados pela Quais são as sanções aplicáveis aos
relativo à luta contra a dopagem no desporto. Agência Mundial Antidopagem analisem as suas amos- praticantes desportivos para uma
↘ Solicitar à ADoP autorização de utilização terapêutica tras sem o conhecimento da sua identidade. primeira infração na maioria das violações
(AUT) de substâncias e métodos proibidos, de acordo ↘ Estar presente, fazer-se representar, ou fazer-se assistir de normas antidopagem?
com os procedimentos em vigor, exercendo desse por um perito da sua confiança, na realização da análi- “1 - No caso de violação das normas antidopagem
modo o seu direito fundamental ao tratamento. se da amostra B (quando for o caso). previstas nas alíneas a) a c) e h) do n.º 2 do artigo
5.º, o praticante desportivo é punido, tratando-se de
O médico tem a obrigação de O praticante desportivo tem o di- primeira infração:
perguntar aos seus utentes se são reito a divulgar publicamente uma a) Com pena de suspensão por um período de 4 anos, se
praticantes desportivos?
Não. O praticante desportivo tem o dever de infor-
eventual violação de norma antidopagem
antes da realização da contra-análise?
a conduta for praticada a título doloso;
b) Com pena de suspensão por um período de 2 anos, se 11
mar todos os médicos que o assistem da sua condi- Não. O dever de confidencialidade relativo a uma a conduta for praticada a título de negligência.”
ção de atleta, para que estes obviem a prescrição de violação de norma antidopagem por um “caso adverso”
substâncias ou métodos proibidos. abrange todos os intervenientes, incluindo o próprio Artigo 77.º, n.º 1, da Lei n.º 81/2021, de 30 de novembro.
praticante, até para precaver a improvável possibilidade
↘ Ver respeitada a confidencialidade de toda a informa- de a contra-análise se revelar negativa.
ção relativa à antidopagem que esteja sujeita a dever
de sigilo, nomeadamente a relativa a uma eventual ↘ Ser ouvido antes de lhe ser aplicada qualquer sanção
violação de norma antidopagem por “caso adverso” desportiva por violação de norma antidopagem, cons-
que ainda não tenha sido confirmada através de uma tituir representante legal para a sua defesa e dispor
contra-análise, e a toda a informação inerente aos de instância de recurso no âmbito do procedimento
sistemas de autorização de utilização terapêutica e de disciplinar.
localização do praticante desportivo.
↘ Solicitar à ADoP a consulta e/ou retificação dos seus
dados pessoais em poder daquela autoridade, relativos
a informação que tenha disponibilizado.

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DIREITOS E DEVERES DO PRATICANTE DESPORTIVO NO concluir o treino, mas não pode abandonar o local de Durante a recolha de amostras de sangue, tem o direito
CONTROLO DE DOPAGEM treino sem ser acompanhado pelo RCD ou ACD. de permanecer sentado em relaxamento nos dez minu-
Notificação: Deve fazer-se acompanhar de um documento de identi- tos que antecedem esse procedimento.
Pode solicitar ao RCD a apresentação das suas credenciais. ficação pessoal (cartão de cidadão ou cartão da Federa- Deve cumprir as indicações do RCD durante a recolha
Deve manter-se sob observação do RCD ou do auxiliar ção, por exemplo). das amostras, nomeadamente quanto à forma como
do controlo de dopagem (ACD) desde o momento da no- Pode alimentar-se e hidratar-se, mas deve ter presente que deve ser recolhida a amostra, e na realização de todos
tificação até ao final da sessão de colheita das amostras. o faz por sua conta e risco, e que deve evitar uma excessiva os procedimentos de divisão e acondicionamento das
Não deve abandonar o recinto desportivo e o local do hidratação, atendendo à necessidade de disponibilizar uma amostras pelos frascos A e B.
controlo sem que para tal tenha obtido autorização do RCD. amostra com a densidade urinária adequada para análise. Deve declarar ao RCD todos os medicamentos (qualquer
Se for notificado, deve apresentar-se na Estação de Con- Deve assinar o impresso da notificação. que tenha sido a via de administração) e os suplementos
trolo de Dopagem imediatamente após ter terminado a nutricionais administrados nos últimos sete dias.
sua participação no evento. //////////////////////////////////////////////////////////////////////////////// Deve declarar no formulário do controlo antidopagem,
Poder solicitar a autorização do RCD para atrasar a sua
chegada à Estação de Controlo de Dopagem, ou para Durante o controlo:
antes de o assinar, qualquer não concordância relativa
ao processo de recolha das amostras, ou qualquer outra 12
ausentar-se da mesma, se for garantida a sua permanên- Pode fazer-se acompanhar por uma pessoa da sua confiança observação que pretenda fazer relativamente ao mesmo.
cia sob observação permanente do RCD ou do ACD, nas (devidamente identificada). Este acompanhamento é obrigató- Deve guardar cópia do formulário do controlo antidopa-
seguintes circunstâncias: rio para os praticantes desportivos menores e para os pratican- gem fornecida pelo RCD no final do controlo.
l participação numa cerimónia de atribuição de prémios; tes desportivos portadores de deficiência visual ou mental.
l participação numa conferência de imprensa; Tem o direito de ser submetido a controlo em instalações
l participação noutras competições; adequadas e de fácil acesso, que garantam condições
l realização de um período de arrefecimento/descontração; mínimas de higiene, segurança, privacidade e conforto, Cenário para arrumar ideias
l necessidade de localizar um representante e/ou intérprete; não tendo no entanto o direito de se recusar a realizar o Treina uma equipa de formação composta por jovens com
l necessidade de receber assistência médica; controlo de dopagem se o RCD considerar que as condi- idades compreendidas entre os 15 e os 17 anos, que poderão
l necessidade de obter uma identificação com fotografia; ções mínimas estão garantidas. vir a ser submetidos a controlos de dopagem num futuro
l qualquer outra circunstância excecional que possa justifi- Tem o direito a ser informado pelo RCD relativamente: próximo. Que preocupações e responsabilidades devem ser
car essa autorização, devidamente fundamentada. l procedimentos da colheita; equacionadas, de forma a preparar esses jovens para um
Deve informar de imediato o RCD no caso de necessitar l ao direito à escolha do material a ser utilizado no seu eventual controlo de dopagem durante uma competição?
de assistência médica, por motivo de lesão. caso (recipientes e contentores). Como deveria agir, e que tarefas deveria realizar, se o controlo
Nos períodos fora de competição, deve apresentar-se Deve obter cópia do documento de notificação para o de dopagem tivesse lugar numa competição organizada pelo
para controlo assim que notificado para o efeito. Pode controlo, se esta foi feita apenas oralmente. clube onde exerce as suas funções como treinador?

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PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES GRAU II
ANTIDOPAGEM 1. DEVERES E DIREITOS
NA ANTIDOPAGEM

Pontos-chave
! da subunidade
1. Os treinadores devem adotar uma atitude pró-ativa 5. O treinador desempenha um papel fundamental na
no âmbito da luta contra a dopagem, evitando uma prevenção da dopagem ao assegurar que os prati-
atitude de passividade, assumindo o seu papel de cantes desportivos têm acesso a um adequado apoio
líderes de equipas multidisciplinares de apoio aos médico.
praticantes desportivos.

2. Os treinadores devem refletir constantemente sobre


o contributo negativo que algumas atitudes da
sua parte podem ter para o incremento do risco de 13
utilização de práticas de dopagem pelos praticantes
desportivos.

3. Um planeamento de treino inadequado, tanto em


termos de volume como de intensidade, e da inerente
recuperação, assim como uma densidade exagerada
de competições em determinados períodos da época
desportiva, podem representar um fator de risco em
termos de dopagem.

4. O treinador tem um papel fundamental na informa-


ção e educação dos praticantes desportivos relati-
vamente aos direitos e deveres que resultam da luta
contra a dopagem.

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PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES GRAU II
ANTIDOPAGEM Índice
CAPÍTULO II.
2. MALEFÍCIOS ORGÂNICOS DAS SUBSTÂNCIAS E MÉTODOS 15
PROIBIDOS
2.1. AGENTES ANABOLISANTES 16
– OS EFEITOS A LONGO PRAZO SÃO OS MAIS GRAVES!
2.2. HORMONAS E FATORES DE CRESCIMENTO 19
2.3. DIURÉTICOS 20
– DÉFICE DE HIDRATAÇÃO NAQUELES QUE MAIS PRECISAM!
2.4. ESTIMULANTES 21
– EXERCÍCIO INTENSO, CALOR, HUMIDADE E ESTIMULANTES:
A MISTURA EXPLOSIVA!
2.5. CANABINOIDES – A NICOTINA MATA MAIS? 22
2.6. MÉTODOS DE INCREMENTO DO TRANSPORTE DE OXIGÉNIO 23
– AS TRANSFUSÕES SANGUÍNEAS NO VÃO DA ESCADA!
2.7. MANIPULAÇÃO QUÍMICA E FÍSICA 24
– AS ALGALIAÇÕES POR PESSOAS NÃO HABILITADAS!
PONTOS-CHAVE DA SUBUNIDADE 24
SINOPSE DA UNIDADE CURRICULAR 25
AUTO VERIFICAÇÃO DOS CONHECIMENTOS 26
RECOMENDAÇÕES DE LEITURA 27
GLOSSÁRIO 28

Luís Horta 1. DEVERES E DIREITOS NA ANTIDOPAGEM


2. MALEFÍCIOS ORGÂNICOS DAS SUBSTÂNCIAS E MÉTODOS PROIBIDOS

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ANTIDOPAGEM 2. MALEFÍCIOS ORGÂNICOS DAS
SUBSTÂNCIAS E MÉTODOS PROIBIDOS

2.
MALEFÍCIOS ORGÂNICOS Proteger a saúde dos praticantes desportivos é um dos princi-
pais fundamentos da luta contra a dopagem no desporto. Da uti-
doses terapêuticas já têm efeitos secundários, é grande o risco
que resulta das doses utilizadas em estratégias de dopagem.

DAS SUBSTÂNCIAS E lização de substâncias e métodos proibidos podem resultar sérios


malefícios para a saúde, que podem inclusivamente pôr em risco O recurso à utilização dos métodos proibidos no desporto

MÉTODOS PROIBIDOS a vida dos praticantes desportivos que recorrem a essas práticas. também levanta sérios problemas. Esses comportamentos não
seguem geralmente as boas práticas médicas, o que se traduz
Muitas das substâncias e métodos proibidos são utilizados também num sério risco para a saúde. Todos percebemos que o
terapeuticamente para o tratamento de diferentes problemas local adequado para realizar uma transfusão sanguínea, por exem-
de saúde. Todos os medicamentos têm efeitos secundários plo, é um hospital e não um domicílio ou um quarto de hotel.
indesejáveis, pelo que a sua utilização por pessoas saudá-
veis não pode ser justificada. Por outro lado, as doses utili- Por outro lado, algumas das substâncias utilizadas para
zadas em práticas de dopagem são geralmente muito mais dopagem foram concebidas única e exclusivamente com essa
elevadas que as utilizadas terapeuticamente. As doses de
agentes anabolisantes que são utilizadas nas estratégias de
finalidade, não estando disponíveis para uma utilização terapêu-
tica. Desse modo, não está garantida a segurança e a vigilância 15
dopagem, por exemplo, podem ser cinquenta vezes supe- farmacológica dessas substâncias por entidades oficiais.
riores às doses utilizadas para tratamento de doenças com
essas substâncias. Se as substâncias proibidas utilizadas em Trata-se de uma área científica onde existem grandes
constrangimentos de ordem ética para elaboração de estudos
prospetivos e duplamente cegos em seres humanos. Dificil-
mente uma comissão de ética permitirá a realização de estudos
que envolvam a administração de substâncias ou o uso de mé-
todos a seres humanos quando se sabe à partida que resultam
dessa estratégia efeitos colaterais eventualmente graves.

O pessoal de apoio dos praticantes desportivos deve ter


presente a importância de alertar os que estão a seu cargo para
os riscos para a saúde que decorrem do recurso a práticas de
dopagem. Para que o possam fazer, é necessário que conheçam
as substâncias e métodos proibidos mais utilizados e os perigos
para a saúde que lhes estão mais comummente associados:

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ANTIDOPAGEM 2. MALEFÍCIOS ORGÂNICOS DAS
SUBSTÂNCIAS E MÉTODOS PROIBIDOS

2.1. Agentes anabolizantes acompanhado de um encerramento precoce das cartilagens


de crescimento que pode conduzir ao não atingimento da
A secção S.1 Agentes Anabolisantes da Lista de Substân- estatura que estava determinada geneticamente em jovens
cias e Métodos Proibidos da Agência Mundial Antidopagem praticantes. Este encerramento precoce das cartilagens de
inclui esteroides anabolisantes exógenos e endógenos e crescimento está dependente das doses e da duração da
outros agentes anabolisantes que não pertencem à família administração e deve-se por um lado a uma ação direta dos
dos esteroides. esteroides anabolisantes nessas cartilagens e, por outro, a
uma inibição da produção da hormona de crescimento ao
Qualquer esteroide anabolisante tem sempre efeitos ana- nível da hipófise.
bólicos e androgénicos. Na sua utilização como substâncias
proibidas no desporto o seu efeito androgénico é indesejável, Os agentes anabolisantes podem também ser utiliza-
pois desenvolve os carateres sexuais secundários: tem efeitos dos para melhorar a capacidade de recuperação muscular.
virilizadores, levando ao aumento e desenvolvimento dos
genitais e dos órgãos sexuais acessórios, ao crescimento dos
Durante atividades caracterizadas por utilização da atividade
excêntrica a nível muscular, ou em atividades prolongadas, 16
pelos da face e do corpo e ao desenvolvimento das caracterís- verificam-se fenómenos de destruição de células musculares
ticas masculinas da voz. no decurso da fase catabólica, que necessitam ser devida-
mente reparados no período de recuperação, através de uma
NORMAL GINECOMASTIA
Pode também originar efeitos de feminização no homem, adequada síntese proteica a nível muscular. Dessa forma, os
como o aparecimento de ginecomastia (aparecimento de agentes anabolisantes podem ser utilizados visando incre-
seios no homem), pois o excesso de androgénios na circula- mentar essa síntese.
ção sanguínea origina uma aromatização dos mesmos em
estrogénios (hormonas sexuais femininas). O ganho de peso após utilização dos esteroides anaboli-
santes deve-se não só a uma hipertrofia das fibras musculares,
Os seus efeitos anabólicos (os procurados com a sua mas também a uma retenção de líquidos pelo nosso organis-
utilização com objetivos dopantes) originam um aumento do mo. Alguns autores afirmam mesmo que o aumento do peso
anabolismo e uma diminuição do catabolismo proteico, um é causado mais por ganho de água muscular do que por
aumento do número de glóbulos vermelhos por aumento da hipertrofia das fibras musculares.
sua produção na medula óssea por estimulação da produção
Aumento anormal da
de eritropoietina, um aumento da deposição do cálcio nos zona dos peitos nos Os agentes anabolisantes causam igualmente aumen-
ossos e um aumento da velocidade da curva de crescimento, homens. to da agressividade, o que pode ser utilizado em alguns

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desportos de contacto, podendo no entanto pôr em causa Os esteroides anabolisantes podem também originar ciclo menstrual na mulher. Se as doses administradas forem
a integridade física dos praticantes desportivos. Cenas de diversos efeitos secundários no sistema reprodutivo, tanto elevadas e a administração for prolongada no tempo, os efei-
agressividade inusitada que acontecem muitas vezes à porta no homem como na mulher, motivados por uma diminuição tos sobre o sistema reprodutivo tornam-se irreversíveis, com
das discotecas e bares podem eventualmente ser devidas da produção das hormonas hipofisárias LH e FSH. A produção o aparecimento de amenorreia (ausência de ciclo menstrual)
ao facto de alguns dos seguranças que aí trabalham serem destas hormonas é inibida por um sistema de retro controlo no sexo feminino e de atrofia testicular no sexo masculino,
consumidores de esteroides anabolisantes, daí resultando negativo a nível do hipotálamo e da hipófise, motivado por conduzindo, em ambos os casos, à esterilidade.
uma maior agressividade. A relação da agressividade com a elevadas concentrações sanguíneas de esteroides anabolisan-
ingestão de esteroides anabolisantes tem sido investigada tes com uma estrutura química semelhante à da testosterona. “A utilização de agentes anabolisantes
essencialmente no âmbito de estudos realizados a nível Quando as doses administradas são diminutas e a duração da contribui para o aumento da virilidade?”
da incidência de agressividade familiar entre utilizadores e administração é curta, estes efeitos são reversíveis, traduzin- Não. Na realidade, um corpo muito musculado, fruto da utili-
não utilizadores. O seu uso dá origem a uma dependência do-se numa diminuição da quantidade de espermatozoides zação de esteroides anabolisantes, pode esconder a existên-
psíquica, que leva a que os utilizadores não consigam parar e em alterações da morfologia dos mesmos, causando uma cia de uma atrofia testicular e da consequente esterilidade.
a toma destas substâncias. diminuição da sua mobilidade no homem e alterações do
17
A nível do fígado, verificam-se igualmente alguns efeitos
secundários, principalmente após a administração de derivados
sintéticos. Estes efeitos são reversíveis quando a administração é
pouco prolongada, mas podem ser irreversíveis e muito graves
em administrações prolongadas, mesmo que descontínuas.
Numa fase inicial, existem apenas algumas alterações ao nível
de algumas enzimas, como por exemplo transaminases, desi-
drogenase láctica e creatinofosfoquinase, alterações que são em
geral reversíveis após a interrupção da administração. A elevação
destas enzimas sem outra causa aparente num indivíduo saudá-
vel deverá alertar o médico assistente para a eventual utilização
de esteroides anabolisantes. A administração prolongada pode
conduzir ao aparecimento de tumores hepáticos (carcinomas
hepatocelulares, hepatomas, adenomas, etc.) que geralmente
aparecem entre 10 a 20 anos após a administração, dificultando
desse modo o estabelecimento de uma relação causa-efeito.

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O aparecimento de carcinomas hepáticos, décadas depois Existe um maior risco dos utilizadores de esteroides ana-
da utilização de esteroides anabolisantes e quando os prati- bolisantes poderem desencadear arritmias potencialmente
cantes desportivos já não são capa dos jornais, passa desse graves, por lesão direta das células do miocárdio, principal-
modo muitas vezes desapercebido. mente das do sistema de condução.

No homem, podem aparecer igualmente efeitos secun- Verificam-se também efeitos músculo-tendinosos, com
dários a nível da próstata, que inicialmente se manifestam uma maior predisposição para o aparecimento de tendinites
através de uma hipertrofia benigna da próstata, podendo e de roturas musculares e tendinosas. As causas parecem ser
mais tarde conduzir ao aparecimento de tumores malignos da diversas. Por um lado, os esteroides anabolisantes favorecem
próstata, por efeito da administração prolongada de este- um crescimento desproporcionado da massa muscular em
roides anabolisantes e manifestando-se apenas muitos anos relação aos tendões, favorecendo a primeira. Resultam daí
após a administração dessas substâncias. maiores trações sobre os tendões, que sofrem desse modo

Ao nível do rim, foram descritas formas inabituais de lesão


microtraumatismos que podem levar a lesões degenerativas
e/ou calcificantes, conduzindo à tendinite ou à rotura do 18
renal em utilizadores de esteroides anabolisantes com o apa- tendão. Por outro lado, a menor resistência dos tendões e dos
recimento de glomeruloesclerose segmentar e focal. e a um aumento dos níveis de LDL (low density lipoproteins), músculos ao estiramento e a atenuação da dor motivada pelo
conduzindo a uma diminuição da relação HDL/LDL, aumen- efeito anti-inflamatório potente dos esteroides anabolisantes
A utilização de esteroides anabolisantes está também rela- tando desse modo o risco cardiovascular. podem conduzir a uma maior incidência de lesões musculares
cionada com diversas alterações, não só a nível do metabolis- e/ou tendinosas.
mo glucídico, mas também a nível do metabolismo lipídico. Os utilizadores de esteroides anabolisantes têm também
uma maior predisposição para o aparecimento de doenças
O uso prolongado de esteroides anabolisantes em pra- cardiovasculares (AVC, enfartes do miocárdio, arteriopatias Os efeitos secundários dos agentes
ticantes desportivos origina uma diminuição da tolerância à dos membros inferiores que podem conduzir à amputação anabolisantes cessam após deixarmos
glucose e níveis superiores de insulinemia, após ingestão da dos mesmos, etc.). Estas doenças aparecem geralmente de os tomar?
mesma, por aumento da resistência periférica à insulina. Verifi- apenas 10 a 20 anos após a administração, dificultando desse Não. Infelizmente os efeitos mais nefastos destas substân-
ca-se uma suscetibilidade aumentada para a diabetes mellitus modo o estabelecimento de uma relação causa-efeito. Este cias aparecem décadas depois da sua utilização, levando a
em pessoas predispostas. maior risco cardiovascular deve-se não só aos efeitos no perfil que muitas vezes seja difícil de entender a relação entre a
lipídico que já referimos, mas também a uma maior incidência sua utilização e o aparecimento de tumores malignos ou
A nível do metabolismo lipídico, assistimos a uma diminui- de hipertensão arterial, por elevação dos níveis plasmáticos doenças cardiovasculares que surgem muito mais tarde.
ção dos níveis plasmáticos de HDL (high density lipoproteins) de aldosterona.

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o mundo, origina problemas gravíssimos de saúde quando


2.2. Hormonas e fatores de crescimento “A utilização da hormona de crescimen- utilizada por indivíduos saudáveis, como é o caso dos prati-
to em doses terapêuticas é isenta de cantes desportivos, dado que já têm habitualmente - devido
Este tipo de substâncias atua no organismo como men- efeitos secundários graves.” ao condicionamento pelo treino - um nível mais elevado de
sageiros que levam à produção de outras hormonas endó- Não. Infelizmente, mesmo em doses terapêuticas, estas glóbulos vermelhos.
genas, como a testosterona, ou estimulando o crescimento substâncias podem aumentar a predisposição para leuce-
de determinados órgãos e tecidos. Pertencem a este grupo mias em jovens que a estão a utilizar para tratamento de
substâncias como a hormona do crescimento, a eritropoietina, atrasos de crescimento. Se a EPO mantém vivos milhões de
a insulina e diversos fatores de crescimento, entre outras. insuficientes renais em todo o mundo,
porque tememos a sua utilização no desporto?
2.2.1. HORMONA DE CRESCIMENTO (HGH) A hormona de crescimento, quando tomada continua- A diferença é simples: nos insuficientes renais, a sua utili-
Esta hormona aumenta linearmente a sua concentração mente, origina gigantismo nas crianças e acromegália nos zação vai repor os níveis normais de glóbulos vermelhos e
plasmática até ao final da puberdade (quando se verifica uma adultos (situação clínica que se manifesta por crescimento hemoglobina no sangue; nos praticantes desportivos vai
estabilização do crescimento ósseo). O uso de hGH serve para
aumentar a massa muscular e por isso tem um efeito seme-
exagerado das extremidades – mãos, pés, lábios e nariz – e de
alguns órgãos, e por alterações ósseas e da pele). Predispõe
aumentar esses valores em indivíduos que já os têm mui-
to elevados por praticarem desporto, tornando o sangue 19
lhante ao dos esteroides anabolisantes. igualmente à retenção de líquidos e de sódio, originando demasiadamente “espesso”.
uma sobrecarga cardíaca, o aparecimento de diabetes e uma
No passado, a hormona de crescimento utilizada pelos maior incidência de tumores malignos (por ex. leucemias).
praticantes desportivos para efeitos de dopagem tinha origem Este último efeito secundário está documentado em estudos
cadavérica, sendo geralmente adquirida no mercado negro. realizados em crianças que têm de administrar hormona de
Originava reações alérgicas que podiam ser graves, visto a sua crescimento por atrasos de crescimento, onde a incidência de
extração nos cadáveres originar a sua contaminação com outras leucemia é superior à verificada em jovens da mesma idade
proteínas. O aparecimento da hormona de crescimento recombi- que não fazem esse tratamento.
nante sintética levou a que os praticantes desportivos passassem
a utilizar preferencialmente este tipo de hormona de crescimen- 2.2.2. ERITROPOIETINA (EPO)
to, o que conduziu a uma diminuição dessas reações alérgicas. Os Esta hormona aumenta o número de glóbulos verme-
laboratórios antidopagem possuem atualmente dois métodos lhos (eritrócitos) no sangue, por estimulação da formação
para a deteção de hormona de crescimento recombinante no destas células a nível da medula óssea, aumentando desse
soro, pelo que existem suspeitas de que os praticantes desporti- modo a capacidade de transporte do oxigénio. É usada
vos estejam a recorrer de novo à hormona de crescimento com principalmente em desportos de endurance. Esta substância,
origem cadavérica, correndo os riscos já referidos. que mantém vivos milhões de insuficientes renais em todo

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A eritropoietina, ao provocar um aumento da vis- A administração de uma única dose de A utilização destas substâncias visando estratégias de
cosidade sanguínea, origina uma predisposição para insulina pode provocar a morte? dopagem pode ser motivada habitualmente por duas razões:
acidentes vasculares cerebrais, enfartes do miocárdio, Sim. Da sua administração pode resultar um défice de Reduzir rapidamente o peso corporal em desportos em
insuficiência cardíaca e edema pulmonar agudo, todas açúcar no sangue (hipoglicémia), que pode causar a que há categorias de peso. O boxe, o judo, o halterofilis-
situações muito graves que podem conduzir à morte. morte num curtíssimo espaço de tempo por falta de mo e o remo são exemplos destes desportos.
Pode predispor igualmente o praticante desportivo glicose, único carburante utilizado pelo sistema nervo- No culturismo, os diuréticos são usados como forma de “se-
para a hipertensão arterial e para flebotromboses nos so central. car” os músculos, que assim terão melhor aspeto e definição.
membros inferiores. Estudos realizados em insuficientes Aumentar a excreção urinária e assim eliminar mais rapida-
renais crónicos, que administram eritropoietina de uma mente eventuais substâncias proibidas que tenham sido
forma continuada, para evitar a anemia associada aquela utilizadas, obtendo deste modo um efeito mascarante.
condição patológica, demonstraram que alguns destes ////////////////////////////////////////////////////////////////////////////
pacientes desenvolvem uma aplasia medular para série
rubra (diminuição ou ausência da produção de glóbulos
vermelhos pela medula óssea) devido à produção de
Estas substâncias podem ocasionar sérios efeitos se-
cundários, como a ocorrência de graves perturbações do 20
anticorpos antieritropoietina, resultando daí a instalação ritmo cardíaco por alterações do metabolismo do potássio,
de anemia. Estes anticorpos antieritropoietina inativam que podem conduzir à morte, perturbações do equilíbrio
a eritropoietina e por isso deixa de se verificar o estímulo a sua massa muscular ou que querem repor rapidamente os hídrico por perda exagerada de líquidos, que pode ser grave
produzido habitualmente por esta hormona a nível da seus níveis de glicogénio muscular após atividades desporti- em condições adversas de arrefecimento orgânico, dando
medula óssea, para a produção de glóbulos vermelhos. vas intensas e prolongadas. Quando administrada sem super- origem a desidratação. Podem também causar alterações
visão médica, pode desencadear hipoglicémias que podem no metabolismo glucídico, com tendência para a hipergli-
2.2.3. INSULINAS levar à morte em poucos segundos. cemia, conduzir a níveis elevados de ácido úrico no sangue
A insulina é uma hormona produzida no pâncreas e tem e provocar alterações no metabolismo do cálcio e sódio
um papel muito importante no metabolismo dos glúcidos. A que podem predispor os praticantes desportivos a lesões
diabetes é originada por um défice de produção de insulina 2.3. Diuréticos desportivas.
pelo pâncreas, ou por uma resistência periférica à mesma. Por
isso, os diabéticos tipo II insulino-dependentes têm de adminis- Os diuréticos são substâncias que aumentam a formação
trar esta hormona diariamente. de urina pelos rins. Em medicina, são usados para controlar a
hipertensão arterial, para diminuir edemas ou para combater
Esta hormona tem um efeito anabolisante e por isso é a insuficiência cardíaca congestiva (doença originada pela
utilizada por praticantes desportivos que querem aumentar falência do coração), entre outras.

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“Os praticantes desportivos estão 2.4. Estimulantes


geralmente bem hidratados e por isso a
produção de um maior volume de urina não é Os estimulantes são substâncias que têm um efeito direto
problemática!” sobre o sistema nervoso central, aumentando a estimulação
Os diuréticos aumentam a produção de urina pelos do sistema cardíaco e metabólico. Como exemplos de esti-
rins. Os praticantes desportivos, para arrefecerem o seu mulantes utilizados para aumentar o rendimento desportivo
organismo durante a prática, têm que suar mais, pois o temos as anfetaminas, a cocaína e as efedrinas. Os estimulan-
principal mecanismo de arrefecimento é a evaporação tes são usados para conseguir os mesmos efeitos da adrenali-
do suor na superfície da pele. Desse modo, após a prática na, substância que é segregada naturalmente pelo organismo,
desportiva, o praticante necessita absolutamente de produzindo excitação, melhorando os reflexos, aumentando
ingerir e poupar líquidos e não de os perder. a capacidade de tolerância ao esforço físico e diminuindo o
limiar da dor.

Os estimulantes psicomotores, como é o caso das


ou competir, assistindo-se deste modo a uma alternância
entre a administração de estimulantes e sedativos, substân- 21
anfetaminas e substâncias similares, provocam uma perda cias que em ambos os casos produzem dependência. Podem
de discernimento, o que pode favorecer em certas moda- ainda apresentar sintomas mais graves, como confusão
lidades a ocorrência de acidentes envolvendo terceiros. mental, aumento da agressividade, convulsões, alucina-
Têm sido responsáveis por graves acidentes e mesmo por ções e delírio. Ao aumentarem a tensão arterial e a frequên-
mortes durante a atividade desportiva, pois ao provocarem cia cardíaca, os estimulantes podem predispor os praticantes
a supressão da sensação de fadiga retiram ao organismo o desportivos a crises hipertensivas e hemorragias cerebrais,
seu “termóstato”, fazendo com que o praticante desportivo que podem conduzir à morte. A sua utilização frequente e
prossiga o esforço ultrapassando os limites superiores das continuada pode conduzir a dependência física e psíquica,
suas capacidades fisiológicas. Logo após a ingestão de anfe- originando sintomatologia quando o praticante desportivo
taminas, o praticante desportivo pode apresentar agitação, interrompe a sua toma (síndroma de abstinência). Verifica-
irritabilidade, euforia, insónias, tonturas, tremores, dores -se assim a viciação nestas substâncias e a necessidade de
de cabeça e náuseas. Os utilizadores deste tipo de substân- recorrer a doses cada vez mais elevadas para a obtenção
cias têm que recorrer muitas vezes à utilização de sedativos, dos mesmos resultados (escalada). Da sua toma prolongada
para combater as insónias durante a noite. Como no dia podem também resultar emagrecimento, psicoses e doenças
seguinte muitas vezes ainda estão sobre o efeito desses neurológicas.
sedativos, têm que tomar estimulantes para poderem treinar

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aumento do seu rendimento desportivo, o que se verifica so-


Um estimulante associado a muito calor bretudo nas modalidades que exigem esforços explosivos mo-
e humidade - uma mistura explosiva! mentâneos ou num período muito específico da competição,
O calor, e principalmente a humidade, são os grandes inimi- ou se iniciou a administração por motivos de ordem social,
gos da capacidade de arrefecimento do nosso organismo, adquiriu a dependência, e por isso não consegue realizar a sua
predispondo à desidratação. Os estimulantes retiram os atividade desportiva sem recorrer a essa substância.
sinais anunciadores da desidratação.

2.5. Canabinoides

As anfetaminas, assim como outros estimulantes, inibem As aminas simpaticomiméticas, como é o caso das Os canabinoides encontram-se descritos na lista de Subs-
não só a capacidade de perceção da fadiga, mas também efedrinas, fazem parte da constituição de diversos medica- tâncias e Métodos Proibidos da Agência Mundial Antidopa-
a capacidade de perceção da dor e do golpe de calor, o mentos utilizados para tratamento de resfriados, constipações gem porque preenchem dois dos três critérios definidos pelo
que pode causar graves malefícios ao praticante desportivo,
chegando mesmo a causar a morte. A administração de uma
e gripes e outras doenças do foro respiratório. Para estas
substâncias, a Agência Mundial Antidopagem definiu limites
Código Mundial Antidopagem para que uma substância pos-
sa ser proibida no desporto: lesam ou têm potencial para lesar 22
anfetamina associada a práticas desportivas prolongadas, de positividade em termos de concentrações urinárias que a saúde e violam o espírito desportivo. Na grande maioria das
desenvolvidas em condições atmosféricas caracterizadas por estão descritos na Lista de Substâncias e Métodos Proibidos, modalidades desportivas, a utilização dos canabinoides não
temperaturas elevadas e principalmente por uma humidade para que a sua utilização em doses terapêuticas não origine preenche o terceiro critério: aumentar, ou ter o potencial para
relativa elevada, pode ser fatal. Ao inibir os sinais anunciado- uma violação de uma norma antidopagem. aumentar, o rendimento desportivo. No entanto, em algu-
res de golpe de calor e da desidratação, e simultaneamente mas modalidades muito específicas, onde é importante um
a capacidade de perceção da fadiga, estas substâncias levam A cocaína é outra das substâncias estimulantes que controlo da ansiedade ou onde é fundamental o aumento da
a que o organismo ultrapasse os seus limites fisiológicos e pode causar a morte em competição, por provocar espasmo prontidão desportiva, estas substâncias podem na realidade
agrave a desidratação, sem que o praticante desportivo se das artérias coronárias com o surgimento de enfarte do aumentar o rendimento desportivo.
dê conta desse facto. Muitas das mortes súbitas em com- miocárdio. De resto, os seus efeitos adversos são muito
petição por utilização de substâncias proibidas devem-se à semelhantes aos das anfetaminas, com o surgimento do A prontidão desportiva consiste num conjunto de fatores
ingestão deste tipo de substâncias. Por vezes, os praticantes perigo de viciação, de alterações psíquicas graves, da inibição necessários para que uma determinada atividade desportiva
desportivos iniciam a toma deste tipo de substâncias para da perceção de dor e fadiga, de agressividade, entre outros. possa ser realizada. Por exemplo, numa atividade que implica
aumentar o seu rendimento desportivo em competição, mas Quando se verifica num praticante desportivo uma violação um risco, e que por isso conduz a um certo receio por parte
ao ficarem dependentes das mesmas passam a tomá-las de uma norma antidopagem pela utilização de cocaína, veri- do praticante desportivo, o uso de canabinoides - ao desinibir
regularmente, de modo a poderem treinar e a desempenhar fica-se sempre a dúvida sobre qual foi a origem do problema: o praticante - pode aumentar o rendimento desportivo e,
as suas atividades sociais diárias. se o praticante desportivo iniciou a utilização de cocaína para simultaneamente, aumentar o risco de acidentes.

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SUBSTÂNCIAS E MÉTODOS PROIBIDOS

“O haxixe faz menos mal à saúde que o 2.6. Métodos de incremento do


tabaco!” transporte de oxigénio
Esta afirmação não faz sentido, pois ambas as práticas têm Cenário para arrumar ideias
efeitos secundários específicos e distintos, que podem ter Estes métodos podem integrar não só a dopagem
consequências muito nefastas para a saúde, tanto a nível “Um atleta meu foi abordado por um indivíduo no ginásio sanguínea, onde se incluem as transfusões sanguíneas e os
físico como psíquico. onde faz musculação. Fez-lhe uma proposta tentadora! Um produtos eritrocitários de qualquer origem, mas também
novo esteroide anabolizante, muito potente, de excreção todos os métodos que provoquem um incremento artificial
muito rápida, de deteção muito difícil e sem praticamente da captação, transporte ou libertação de oxigénio, excluindo
Estas substâncias interferem com a maior parte das efeitos colaterais. Aliás, também podia fornecer outras a administração de oxigénio por via inalatória.
funções psicomotoras, tais como a coordenação de movi- substâncias para combater os efeitos colaterais. O atleta
mentos, tempo de reação, perceção e acuidade visual, que confessou-me que estava muito tentado a experimentar”. Estes métodos de dopagem podem provocar efeitos adver-
podem prejudicar o desempenho desportivo e predispor sos nos praticantes desportivos, quer se trate da transfusão do
para a lesão desportiva. Nos desportos motorizados, nas
atividades subaquáticas, na escalada ou em outras ativida-
Perante este cenário, defina uma estratégia bem estru-
turada e convincente para dissuadir o seu atleta.
seu próprio sangue (autotransfusões), ou do sangue de outro
indivíduo (transfusões homologas). No caso da autotransfu- 23
des desportivas de risco, estes efeitos secundários podem são, o praticante desportivo pode estar predisposto a infeções
representar um risco de acidentes graves ou mesmo mor- sanguíneas, embolia gasosa, acidentes vasculares cerebrais,
tais. Em alguns desportos motorizados, por exemplo, esse hipertensão arterial e choque. Nas transfusões homologas,
risco estende-se a outros competidores, pessoas envolvidas para além das situações referidas anteriormente, o praticante
na organização do evento desportivo, e ao próprio público. desportivo arrisca-se à transmissão da Hepatite B e C e do HIV,
Os canabinoides podem originar igualmente dependência assim como à possibilidade de hemólise (destruição brusca dos
física e psíquica, conduzindo também à possibilidade de glóbulos vermelhos por reações de incompatibilidade A, B, O e
utilização futura de drogas sociais mais graves. Rh). Qualquer uma destas situações pode provocar a morte do
praticante desportivo. Estes riscos, embora possam existir em
qualquer transfusão sanguínea realizada em ambiente hospitalar,
têm um risco acrescido na sua utilização como métodos de do-
pagem. Esse risco acrescido deve-se ao facto de estas transfusões
não serem realizadas em ambiente hospitalar e por pessoal com
formação adequada, sendo muitas vezes realizadas em quartos
de unidades hoteleiras por pessoas não credenciadas e recorren-
do a unidades de sangue que não obedecem aos procedimentos
de identificação, conservação e transporte adequados.

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PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES GRAU II
ANTIDOPAGEM 2. MALEFÍCIOS ORGÂNICOS DAS
SUBSTÂNCIAS E MÉTODOS PROIBIDOS

2.7. Manipulação química e física


Pontos-chave
Estes métodos de dopagem podem representar uma grande
diversidade de técnicas que levam à adulteração ou tentativa
! da subunidade
de adulteração da integridade das amostras recolhidas no
âmbito de um controlo de dopagem. Alguns exemplos são a 1. Os malefícios orgânicos mais graves dos agentes ana-
utilização de algaliação para substituição da urina, a alteração bolisantes aparecem entre 10 a 20 anos após a sua
da urina através da introdução de proteases ou as infusões administração, nomeadamente as doenças cardiovas-
intravenosas. As algaliações e as infusões intravenosas realizadas culares e os tumores malignos.
em praticantes desportivos como método de dopagem são
utilizadas geralmente em condições que não respeitam as boas 2. A eritropoietina (EPO) é uma das substâncias proibi-
práticas em cuidados de saúde. Por exemplo, muitas vezes são das com maiores riscos para a saúde, nomeadamente:
realizadas por pessoal não qualificado, sem condições ideais de
assepsia e em locais inapropriados, com todas as consequências
aumento da predisposição para doenças cardiovas-
culares; aumento da predisposição para insuficiência 24
nocivas que daí podem advir. cardíaca; edema pulmonar agudo e aumento da
predisposição para anemia por aplasia medular.

3. A administração de hormona de crescimento (hGH),


muito subestimada em relação à sua perigosidade, tem
graves riscos para a saúde, nomeadamente: reações
alérgicas graves; gigantismo e acromegalia e aumento
da predisposição para leucemia e outros tumores.

4. A toma de um único comprimido de estimulante


associada a práticas desportivas realizadas em climas
quentes e húmidos pode causar a morte.

5. As transfusões sanguíneas realizadas em meio não


hospitalar, e por pessoas não habilitadas para o efeito,
representam um elevado risco de vida.

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SINOPSE DA No final desta unidade curricular devem:


↘ Saber quais são as principais fontes documentais a

UNIDADE CURRICULAR nível internacional elaboradas pela Agência Mundial


Antidopagem, nomeadamente o Código Mundial
↘ Identificar os deveres e direitos dos treinadores na antido-
pagem, de forma a reconhecerem as suas responsabilida-
Antidopagem e as normas internacionais, reconhecen- des e a importância da sua proatividade nesta temática e
do os seus objetivos como contributo essencial para a colaborarem nas estratégias de prevenção da ADoP.
harmonização da antidopagem a nível mundial. ↘ Identificar os deveres e direitos dos praticantes des-
↘ Conhecer quais são as principais fontes documentais portivos na antidopagem, de forma a colaborarem nas
a nível nacional elaboradas pelo Estado português e estratégias de prevenção da ADoP, em particular através
autoridades públicas, nomeadamente a legislação na- da sensibilização e educação para a antidopagem dos
cional antidopagem e os regulamentos antidopagem
das federações desportivas nacionais, reconhecendo
seus atletas, exercendo a sua condição de formadores.
↘ Reconhecer e transmitir os principais malefícios 25
os seus objetivos como contributo essencial para a orgânicos das substâncias e métodos proibidos, a
definição de um política nacional antidopagem e para curto, médio e longo prazo, de forma a colaborar nas
a harmonização da antidopagem a nível nacional. estratégias de prevenção da ADoP.

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AUTOVERIFICAÇÃO A. Aferição do conhecimento B. Aplicação do conhecimento


DOS CONHECIMENTOS 1. Quais são as principais fontes nacionais e internacionais 1. Como pode um planeamento de treino inadequado po-
de que resultam direitos e deveres no âmbito da luta tenciar a utilização de substâncias e métodos proibidos?
contra a dopagem?
2. Quais os principais temas que o treinador deve estar
2. Quais são os principais direitos e deveres dos pratican- apto a abordar no âmbito da informação e educação
tes desportivos durante a realização de um controlo de dos praticantes desportivos relativamente aos direitos e
dopagem? deveres que resultam da luta contra a dopagem?

3. 3.
Em termos gerais, porque é que a utilização de substân-
cias proibidas representa um risco para a preservação da
Os malefícios orgânicos mais graves dos agentes
anabolisantes aparecem imediatamente após a sua 26
saúde dos praticantes desportivos? administração?

4. Como se explica que a eritropoietina, tão importante


para tratamento de algumas doenças, seja tão perigosa
quando utilizada com finalidades dopantes?

5. Por que razão a toma de um simples estimulante asso-


ciada a condições adversas de arrefecimento orgânico
pode levar à morte?

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RECOMENDAÇÕES Código Mundial Antidopagem – Word Anti-Doping Code


(versão em vigor) disponível em www.wada-ama.org

DE LEITURA Guia Prático sobre a Luta contra a Dopagem no Desporto


(versão atualizada) disponível em www.ADoP.pt

Lei nº 81/2021, de 30 de novembro disponível em www.


ADoP.pt

Lista de Substâncias e Métodos Proibidos (versão em


vigor) disponível em www.ADoP.pt

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GLOSSÁRIO DE Agentes estimulantes da


eritropoiese
Assepsia
Técnica que permite a criação de am-
Catabolismo
Parte do metabolismo que se refere

CONCEITOS-CHAVE Grupo de substâncias proibidas, como por


exemplo a eritropoietina e a CERA, que
bientes esterilizados, com o objetivo de
evitar o risco de infeções.
à assimilação ou processamento da
matéria orgânica adquirida pelos seres
ao estimularem a produção dos glóbulos vivos para fins de obtenção de energia.
vermelhos pela medula óssea, aumentam Cadeia de custódia
substancialmente a capacidade de trans- A sequência de pessoas ou organiza- Células estaminais
porte de oxigénio e dessa forma promo- ções que têm a responsabilidade pela Células indiferenciadas que possuem
vem o aumento do rendimento desportivo. amostra desde a sua colheita até à sua potencial para se poderem diferenciar
receção para análise. em células específicas de determina-
Aldosterona
Hormona produzida nas glândulas Capacidade competitiva
dos tecidos orgânicos.
28
suprarrenais com um papel importante Objetivo de realização inerente à práti- Competição
no metabolismo do sódio e na regula- ca desportiva que tem como principal Uma corrida única, um encontro, um
ção da tensão arterial. finalidade a obtenção da vitória, inde- jogo ou uma competição desportiva
pendentemente da marca obtida ou da específica, considerando-se, em provas
Algaliação qualidade da sua performance. por etapas e noutras competições
Introdução de um dispositivo na uretra desportivas em que são atribuídos
com o objetivo de facilitar a drenagem Carcinoma prémios diariamente ou de forma inter-
da urina a partir da bexiga. Tumor maligno. calar, que a distinção entre competição
e evento desportivo é a indicada nas
Anabolismo Cartilagem de crescimento regras da federação desportiva interna-
Síntese metabólica das proteínas, gordu- Cartilagens existentes nas extremida- cional em causa.
ras e outros constituintes dos organismos des dos ossos longos até ao final do
vivos para formar moléculas. período de desenvolvimento, através Controlo de dopagem
das quais se processa o crescimento O procedimento que inclui todos os
Androgénios ósseo. atos e formalidades, desde a planifi-
Hormonas sexuais masculinas. cação e distribuição dos controlos até

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GLOSSÁRIO DE à decisão final e à correspondente


aplicação das sanções, nomeadamen-
Densidade urinária adequada
para análise
Edema pulmonar agudo
Situação patológica grave motivada por

CONCEITOS-CHAVE te a informação sobre a localização


dos praticantes desportivos, a recolha
Densidade urinária de valor igual ou
superior a 1.005 se o volume de urina
insuficiência cardíaca que conduz a uma
acumulação de líquidos no pulmão e à
e o manuseamento das amostras, as recolhido for inferior a 150 ml ou de inerente dificuldade respiratória.
análises laboratoriais, as autorizações valor ou igual ou superior a 1.003 se o
de utilização terapêuticas, as investi- volume de urina recolhido for igual ou Efeito anabolisante
gações e a gestão dos resultados. superior a 150 ml. Que provoca anabolismo (vide anabo-
lismo).
Controlo direcionado Desporto coletivo
A seleção não aleatória para controlo
de praticantes desportivos ou grupos
A modalidade desportiva em que é
permitida a substituição de jogadores
Efeito androgénico
Que provoca o desenvolvimento dos 29
de praticantes desportivos, conforme no decorrer da competição. carateres sexuais secundários.
os critérios estabelecidos na Norma
Internacional de Controlo e Investiga- Domínio da tarefa Em competição
ções da Agência Mundial Antidopagem Objetivo de realização inerente à práti- O período que se inicia às 23:59 horas
(AMA). ca desportiva que tem como principal do dia que antecede uma competição
finalidade a obtenção de uma boa em que o praticante desportivo vai
Cortisol performance, independentemente de participar, e que termina com o final da
Hormona produzida pelas glândulas se conseguir ou não a vitória. mesma e do processo de colheita de
suprarrenais. amostras, sendo que qualquer período
Edema que não seja em competição é entendi-
Diabetes mellitus Estado patológico de “inchaço” dos do como «fora de competição».
Doença endócrina originada por um tecidos pelo aumento incomum do
défice de produção de insulina ou por líquido intersticial que normalmente Eritropoietina
uma resistência periférica à mesma. preenche os espaços intersticiais do Hormona produzida pelo rim e que
tecido ou estrutura íntima intercelular. estimula a produção de glóbulos ver-
melhos a nível da medula óssea.

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GLOSSÁRIO DE Escolta
Uma pessoa que é treinada e autori-
para remover substâncias indesejadas
pela urina. Caso não seja tratada, pode
HDL (High Density Lipoprotein)
Proteína transportadora de gorduras

CONCEITOS-CHAVE zada pela organização antidopagem


para executar uma função específica,
evoluir para insuficiência renal. no sangue que representa um fator de
proteção cardiovascular.
incluindo uma ou mais das seguintes: Glucídico
notificação do praticante desportivo Relacionado com o metabolismo dos Hipertrofia benigna da próstata
selecionado para o controlo de dopa- hidratos de carbono. Situação patológica não maligna que
gem; acompanhamento e observação leva a um aumento do tamanho da
do praticante desportivo até à chegada Grupo alvo de praticantes próstata, acompanhado de alterações
à estação de controlo de dopagem; e/ desportivos do jato urinário.
ou testemunhar e verificar a emissão
da amostra, quando o seu treino o(a)
Grupo de praticantes desportivos de
alto nível competitivo estabelecido Hipófise 30
qualifique para o fazer. separadamente por cada federação Glândula existente no cérebro que pro-
internacional e pela organização na- duz uma série de hormonas responsáveis
Estrogénios cional antidopagem respetiva, que são pelo controlo do sistema endocrinoló-
Hormonas sexuais femininas. submetidos a controlos de dopagem gico.
quer em competição quer fora de com-
Fora de competição petição como parte do planeamento Hipotálamo
Qualquer controlo de dopagem que prévio de controlos, quer da federação Região anatómica do sistema nervoso
não seja realizado em competição. internacional, quer da organização central responsável pela produção de
nacional antidopagem. Cada federação fatores de regulação da atividade da
Glomeruloesclerose segmentar internacional deverá publicar uma lista hipófise.
e focal que identifique quais os praticantes
É uma doença renal caracterizada por desportivos que pertencem ao grupo Infusão intravenosa
cicatrização (esclerose) e endureci- alvo de praticantes desportivos, seja Administração na veia de um fluido
mento de um segmento de alguns glo- pelo respetivo nome, seja recorrendo com objetivo terapêutico.
mérulos renais. Os glomérulos são a outros critérios específicos e bem
responsáveis pela filtração do sangue definidos.

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GLOSSÁRIO DE Insuficiência cardíaca


Define-se como uma falência grave
Organização Antidopagem
A AMA ou um outorgante do Código
Praticante desportivo
Aquele que compete numa modalida-

CONCEITOS-CHAVE da capacidade do coração bombear


a quantidade de sangue suficiente,
Mundial Antidopagem responsável
pela adoção de regras com vista a
de desportiva a nível internacional, nos
termos definidos pela respetiva federa-
colocando em risco o retorno venoso desencadear, implementar ou aplicar ção desportiva internacional, ou o que
e as necessidades metabólicas do qualquer fase do processo de con- compete numa modalidade desportiva
organismo. trolo de dopagem, compreendendo, a nível nacional.
designadamente, o Comité Olímpico
Insulina Internacional, o Comité Paralímpico Praticante desportivo de nível
Hormona produzida no pâncreas e Internacional, outras organizações internacional
com um papel muito importante no
metabolismo dos hidratos de carbono.
responsáveis por grandes eventos
desportivos, nos casos em que efetuem
O praticante desportivo que compete
numa modalidade desportiva a nível 31
controlos, as federações desportivas internacional, nos termos definidos
LDL (Low Density Lipoprotein) internacionais e as organizações nacio- pela respetiva federação desportiva
Proteína transportadora de gorduras nais antidopagem. internacional, conforme previsto na
no sangue que representa um fator de Norma Internacional de Controlo e
risco cardiovascular. Outra pessoa Investigações da AMA.
O pessoal de apoio do praticante
Lipídico desportivo, como o treinador, dirigen- Resultado analítico adverso
Relacionado com o metabolismo dos te, empresário desportivo, membro Um relatório proveniente de um labo-
lípidos ou gorduras. da equipa, profissional de saúde, ratório ou entidade acreditada pela
paramédico, pai, mãe, ou qualquer AMA, no âmbito do qual, de acordo
Medula óssea outra pessoa que trabalhe com ou com a Norma Internacional de Labora-
Tecido gelatinoso que preenche a assista um praticante desportivo que tórios e documentos técnicos relacio-
cavidade interna de vários ossos e participe ou se encontre em prepara- nados, é identificada a presença de
fabrica as células sanguíneas: glóbulos ção para participar numa competição uma substância proibida ou dos seus
vermelhos e brancos e plaquetas. desportiva. metabolitos ou marcadores, ou prova
do uso de um método proibido.

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GLOSSÁRIO DE Resultado analítico atípico


Um relatório proveniente de um labora-
Sem aviso prévio
Um controlo de dopagem que ocorre

CONCEITOS-CHAVE tório ou outra entidade acreditada pela


AMA, no âmbito do qual, numa fase
sem aviso prévio ao praticante despor-
tivo e em que o praticante desportivo
prévia à determinação de um resultado é acompanhado em permanência
analítico adverso, se demonstra a neces- desde o momento da notificação até à
sidade de investigação complementar, recolha da amostra.
nos termos da Norma Internacional de
Laboratórios ou documentos técnicos
relacionados.

Seleção aleatória 32
Seleção de praticantes desportivos
para controlo quando não se trate de
controlos dirigidos. A seleção aleatória
pode ser: completamente aleatória
(quando não se recorre a qualquer cri-
tério pré-determinado, e os praticantes
desportivos são escolhidos arbitraria-
mente de uma lista ou de um grupo
de nomes de praticantes desportivos);
ou ponderada (quando os praticantes
desportivos são classificados segundo
um critério pré-determinado de forma
a aumentar ou diminuir as suas hipóte-
ses de ser selecionado).

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PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES GRAU II
FICHA TÉCNICA
PLANO NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES ISABEL MESQUITA, CLÁUDIO FARIAS, PATRÍCIA COUTINHO,
MANUAIS DE FORMAÇÃO - GRAU II PAULA QUEIRÓS E PAULA SILVA
PEDAGOGIA E DIDÁTICA DO DESPORTO
EDIÇÃO
INSTITUTO PORTUGUÊS DO DESPORTO E JUVENTUDE, I.P. CLÁUDIA DIAS, SARA MESQUITA, NUNO CORTE-REAL,
Rua Rodrigo da Fonseca nº55 ANTÓNIO MANUEL FONSECA
1250-190 Lisboa PSICOLOGIA DO DESPORTO
E-mail: geral@ipdj.pt
PAULO CUNHA, JOSÉ AFONSO, FILIPE MANUEL CLEMENTE
AUTORES TEORIA E METODOLOGIA DO TREINO DESPORTIVO
LUÍS HORTA
ANTIDOPAGEM MARTA MASSADA
TRAUMATOLOGIA DO DESPORTO
LEONOR MONIZ PEREIRA
DESPORTO ADAPTADO COORDENAÇÃO DA PRODUÇÃO DE CONTEÚDOS
Isabel Mesquita
JOSÉ CARLOS LIMA, ANDRÉ XAVIER DE CARVALHO
E BRUNO AVELAR ROSA COORDENAÇÃO DA EDIÇÃO
ÉTICA NO DESPORTO DFQ - Departamento de Formação e Qualificação

JOSÉ GOMES PEREIRA DESIGN E PAGINAÇÃO


FISIOLOGIA DO DESPORTO BrunoBate-DesignStudio

CLÁUDIA SOFIA MINDERICO


NUTRIÇÃO © IPDJ - 2021

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