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CURSO DE DIREITO

“DESCRIMINALIZAÇÃO E LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS NO BRASIL”

Matheus Verissimo Lopes dos Santos


Oliveira
RA: 678143/6
Turma: 3210A02
Telefone: (11) 94813-5003
Endereço eletrônico:
verissimozkm@gmail.com

São Paulo
2019
MATHEUS VERISSIMO L. DOS S. OLIVEIRA

“DESCRIMINALIZAÇÃO E LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS NO BRASIL”

Monografia apresentada à Banca


Examinadora do Centro Universitário das
Faculdades Metropolitanas Unidas, como
exigência parcial para obtenção do título
de Bacharel em Direito sob a orientação
do professor Acácio Miranda

São Paulo
2019
Matheus Verissimo Lopes dos Santos Oliveira

DESCRIMINALIZAÇÃO E LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS NO BRASIL

Trabalho de Curso submetido à


Faculdades Metropolitanas Unidas - FMU,
como parte dos requisitos necessários
para a obtenção do Grau de Graduado
em Direito.

___________________________
Nota

___________________________
Data da Aprovação

___________________________
Acácio Miranda
Mestre/Faculdades Metropolitanas Unidas - FMU

___________________________
Examinador

___________________________
Examinador

São Paulo
2019
Agradecimentos

Agradeço especialmente e em primeiro


lugar, minha mãe por ter me dado todo o
apoio, amor e por comparecer a
secretária diversas vezes para resolver os
“pepinos” que eu não poderia resolver
devido ao estágio, me evitou diversas
filas....
Em segundo, não menos importante,
meus votos de agradecimento se dirigem
ao meu pai, por ter me dado além do
amor paterno, o dinheiro para pagar a
faculdade, ajuda essa inestimável sem a
qual não estaria aqui hoje, formado e
aprovado na OAB.
No mais, agradeço todos os professores
da minha casa, FMU, que foram fonte
inspiradora e paradigma a ser alcançado.
Por fim, obrigado mundo!
RESUMO

Nos tempos atuais, o homem moderno tem fácil acesso a qualquer tipo de droga
seja nas escolas, na rua ou no trabalho. As drogas fazem parte do cotidiano de
todas as pessoas propondo desde uma melhora em seu estado clínico físico e
psicológico, até uma fuga da realidade como meio de diversão ou utilizada em rituais
místicos. A seguinte pesquisa tem por sua vez a finalidade de discutir sobre o
porquê certas drogas são proibidas, o que é droga, efeitos, conscientização e sua
relação com o poder público dentro do País. Para começarmos o tema, o mínimo é
entender desde logo a definição da palavra droga, sua origem e suas reações no
organismo. Por outro lado, não menos importante, devemos observar a distinção
entre usuário e dependente, para conseguirmos realizar uma análise do método
“combativo e omissivo” adotado pelo Estado.

Palavras-chave: Drogas; Usuários; Estado; Crime Organizado; Conscientização;


Prevenção.
ABSTRACT

In modern times, modern man has easy access to any kind of drug whether in
schools, on the street or at work. Drugs are part of the everyday life of all people,
ranging from an improvement in their physical and psychological clinical state, to an
escape from reality as a means of entertainment or used in mystical rituals. The next
research has the purpose of discussing what drugs are, addressing its historical
aspect, effects, awareness and its relationship with the public power within the
country. To begin with, the least is to understand the definition of the word drug, its
origin and its reactions in the organism. On the other hand, no less important, we
must observe the distinction between user and dependent, in order to carry out an
analysis of the "omissive preventive" environment adopted by the State.

Keywords: Drugs; Users; State; Organized Crime; Awareness; Prevention.


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 1
1. CONCEITUAÇÃO E CLASSIFICAÇÃO DAS DROGAS 2
1.1 A Origem Histórica e Progressiva do uso de Drogas 2
1.2 Conceito e classificação das Droga 4
1.3 Padrão do Uso de Drogas – Sujeitos e Contexto 7
1.3.a Do Usuário 7
Do Abuso a Dependência 11
2. BREVE HISTÓRIA PROBICIONISTA DAS DROGAS 16
2.1 Breve História da Proibição no Brasil 19
3. PROIBIÇÃO, DESPENALIZAÇÃO, DESCRIMINALIZAÇÃO E LEGALIZAÇÃO 22
3.1 Da Proibição 23
3.2 Da Despenalização 24
3.3 Da Descriminalização 25
3.4 Da Legalização 26
4. DOS MODELOS ESTRANGEIROS VIGENTES 28
4.1 DO MODELO HOLANDES 28
4.2 DO MODELO URUGUAIO 32
4.3 DO MODELO AMERICANO DO ESTADO DO COROLADO 34
5. DAS POSSIBILIDADES POLÍTICO-BRASILEIRAS 37
5.1 DOS VALORES DO TRÁFICO 37
5.2 OS NÚMEROS DO SISTEMA CARCERÁRIO 40
CONCLUSÃO 42
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 45
Página |1

INTRODUÇÃO

A atual política de combate as drogas se demonstra ineficaz por todo o


globo, conforme estudaremos, o uso de drogas percorre a espécie humana desde
os seus primórdios. Os governantes atuais de algumas regiões utilizam o tema
como palanque e objeto para reeleição. Devido à falta de informação grande parte
da população não sabe realmente o que as drogas são e porque são proibidas, o
senso comum impera, destrói e marginaliza alguns cidadãos.

Sendo assim, o texto a seguir buscará pontuar as verdadeiras causas dos


problemas decorrentes do uso drogas na sociedade brasileira, problemas esses que
advém, a grosso modo, da ausência de programas educacionais, políticas
legalistas-regulamentadoras, bem como o sistema penal-carcerário que pune e
restringe a liberdade do cidadão sob o pretexto de servir ao interesse público.

A espinha dorsal do presente trabalho será entender o que leva o indivíduo


a usar drogas, distinguir o usuário, do dependente e do traficante, diferenciar
também os termos: descriminalização, despenalização e legalização. Além de
comparar as políticas de drogas vigentes em diversos países, e por fim iremos
prospectar qual seria o benefício ou prejuízo caso o Estado Brasileiro adote alguma
política legalista sobre o tema.

Iremos a seguir acompanhar a trajetória das drogas desde o início dos


tempos até os dias atuais e tentar identificar alguma saída positiva para a sociedade
respeitando as liberdades individuais, bem como a dignidade da pessoa humana.
Página |2

1. CONCEITUAÇÃO E CLASSIFICAÇÃO DAS DROGAS

1.1 A Origem Histórica e Progressiva das Drogas

Primordialmente, faz-se mister que no presente trabalho seja realizada uma


retrospectiva história sobre o uso de drogas na sociedade humana pois, para
entendermos o presente e evoluir no futuro devemos compreender o passado.

O ser humano pré-histórico naturalmente para sobreviver ao mundo hostil


que vivia entrou em contato com todas as espécies de plantas e animais
conhecendo a fundo todas as suas funções, alimentícias, medicinais e venenosas.

“Todas as substâncias são venenos; não existe uma que não seja veneno.
A dose certa diferencia um veneno de um remédio. ” 1

A história comprova que o ser humano transformou a natureza em sua volta


por meio da seleção, tanto de animais como de alimentos, como exemplo mais
famoso, temos o cachorro doméstico que adveio do lobo, além das frutas e legumes
que passaram por severas modificações ao longo do tempo.

O neurocientista Sidarta Ribeiro relata que a maconha passou pelo mesmo


processo de seleção feito com outras plantas e animais. O ser humano está há
milênios fazendo esses cultivos e cultivando essas amizades com a natureza. Não é
logico proibir esse tipo de relação que é intrínseca ao Homem2, na fala do
neurocientista ”Não há outra planta medicinal ou droga recreativa que se compare a
maconha, tanto em termos de seu alcance étnico-cultura quanto em termos da
abrangência de sua ação biológica” (2007, apud RUSSO, 2011, p. 64).3

Desta forma, existem diversos registros históricos de inúmeros tipos em


todos os cantos do mundo a respeito do uso de drogas. Pode-se dizer que o uso de
álcool e cogumelos alucinógenos remonta desde a antiguidade, há registros em
Tassilin n’ Ajjer datados de 10.000 a.C, em pinturas rupestres sobre o uso de

1
Paracelsus, Dritte Defenso, 1538.
2
DIAS, Tatiana, Entrevista - Sem tédio não há profundidade [ONLINE], 2015, NEXO JORNAL, disponível em:
https://www.nexojornal.com.br/entrevista/2015/11/20/%E2%80%98Sem-t%C3%A9dio-n%C3%A3o-h%C3%A1-
profundidade%E2%80%99-diz-neurocientista
3
RUSSO, Denis, O Fim da Guerra – A Maconha e a Criação de um Novo Sistema para lidar com Drogas, 2011,
São Paulo.
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Cogumelos pelos homens que ali viviam, como forma ritualística, outras civilizações
como a romana e a grega utilizavam em festas e em rituais o uso de cogumelos
junto de suas bebidas vinhosas. 4

Já a maconha possui registros de seu uso principalmente na china e na


índia, referindo-se ao uso da maconha medicinal na data de 1.500 a.C na
Farmacopeia Chinesa Rh-Ya.5

Neste passo, conseguimos compreender um pouco mais sobre a


abrangência do uso das drogas por todas as civilizações no decorrer da história
humana, seja de forma medicinal, recreativa ou ritualística. O breve resumo
cronológico das drogas na sociedade humana conforme exposto em lista apartada,
retirado da revista Galileu (anexo A), ilustra o que é inerente ao homem, o seu lado
dionisíaco.

Neste passo, segundo consta na breve lista acima exposta a espécie


humana consome droga desde os tempos remotos e não há nenhum indicio de que
isso no futuro venha mudar. Também pode inferir que a proibição vai contra a
natureza do ser humano, já que este utiliza a natureza e tudo o que ela fornece a
seu favor seja para o gozo, alimento, vestuário ou cura, como expresso pelo
professor Francisco Alejandro Horne:

“Já se passaram quase 5.000 anos desde a primeira referência escrita


sobre o uso médico do cânhamo. Em 2737 a.C, o imperador chinês Shen
Nung, em seu compêndio de ervas medicinais já recomendava a Cannabis
para um grande número de disfunções e enfermidades[...]na Índia temos o
Athavarda Veda, que atesta o valor da planta sagrada usada em rituais
religiosos. Também o Zend Avesta pesa, o Susruta assírio, e diversos
papiros egípcios, citam a Cannabis como planta medicinal de grande valor.
Na Odisseia de Homero, Helena usa a Cannabis para aliviar suas dores[...]
No final do século IX Sir John Russell Reynolds, médico particular da rainha
Victória afirmava: “puro e administrado corretamente, é um dos fármacos
mais valiosos que possuímos”.6

4
MIGUEL, josé, Aplicação Psicológicas e Psiquiatras da Ayahuasca, 2016, disponível em:
https://docplayer.com.br/79751253-Aplicacoes-psicologicas-e-psiquiatricas-da-ayahuasca.html
5
National Institute on Drug Abuse (NIDA) Marijuana Research Findings: 1976, 1977, disponível em:
http://www.nyanp.org/wp-content/uploads/2015/10/Streisfeld_Cannabis-F-NYANP.pdf
6
ALEJANDRO, Francisco, Aspectos sociais e medicinais da "cannabis ativa" no mundo
Contemporâneo, disponível em: http://www.egov.ufsc.br/portal/sites/default/files/anexos/31553-35925-1-
PB.pdf.
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Ao mesmo tempo que alguns países proíbem e coíbem a conduta humana


outros progridem - como veremos no momento oportuno - e deixam de lado o
Estado paternalista para dar liberdade e independência aos seus cidadãos
conscientizando-os e criando ambientes, condições que ocupam a mente do homem
e o livra do vicio compulsivo.

1.2 Conceito Legal e classificação das Drogas

Faz-se primordial o conceito da palavra droga. Após extensa busca em sites


da rede mundial de computadores, nenhum dos significados localizados atingiram o
nível técnico, imparcial ou respaldado de credibilidade cientifica desejado.

Após contato via e-mail com a Organização Mundial da Saúde (OMS), para
localizar o real e atualizado conceito da palavra droga, recebi a seguinte resposta,
transcrita abaixo (anexo b):

"Drug - A term of varied usage. In medicine, it refers to any substance with


the potential to prevent or cure disease or enhance physical or mental
welfare, and in pharmacology to any chemical agent that alters the
biochemical physiological processes of tissues or organisms. Hence, a drug
is a substance that is, or could be, listed in a pharmacopoeia. In common
usage, the term often refers specifically to psychoactive drugs, and often,
even more specifically, to illicit drugs, of which there is non-medical use in
addition to any medical use. Professional formulations (e.g. "alcohol and
other drugs") often seek to make the point that caffeine, tobacco, alcohol,
and other substances in common non- medical use are also drugs in the
sense of being taken at least in part for their psychoactive effects." 7

Ou seja, pode concluir que o termo droga é vasto e amplo não cabendo
generalizações. Em cada área do saber o termo droga tem um significado, porém,
podemos inferir que droga é tudo aquilo que altera a percepção do ser humano.
Como veremos a seguir existe diversos tipos de alterações da percepção do
7
droga - termo de uso variado. Na medicina, refere-se a qualquer substância com potencial para prevenir ou
curar doenças ou melhorar o bem-estar físico ou mental e, em farmacologia, a qualquer agente químico que
altere os processos bioquímicos fisiológicos de tecidos ou organismos. Assim, um medicamento é uma
substância que é, ou poderia ser, listada em uma farmacopeia. Na utilização comum, o termo geralmente se
refere especificamente a drogas psicoativas e, muitas vezes, ainda mais especificamente, a drogas ilícitas, das
quais não existem medicamentos. O uso, além de qualquer uso médico, as formulações profissionais (por
exemplo, "álcool e outras drogas") frequentemente procuram mostrar que a cafeína, o tabaco, o álcool e outras
substâncias em uso comum não médico também são drogas no sentido de serem tomadas. Pelo menos em
parte por seus efeitos psicoativos. (Tradução própria), disponível em: The Lexicon of alcohol and drug terms
published by the World Health Organization (available at:
http://www.who.int/substance_abuse/terminology/who_lexicon/en/).
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homem, seja ela depressora, perturbadora ou estimulante.

As drogas aqui tratadas neste presente trabalho serão tanto as tratadas


como ilegais para a legislação vigente como aquelas legais segundo a coletividade
geral, por oportuno, transcrevo o artigo da alusiva lei 11.343/06, em seu artigo 1°,
parágrafo único, que diz:

Art.1° - Parágrafo único. Para fins desta Lei, consideram-se como drogas as
substâncias ou os produtos capazes de causar, dependência, assim
especificados em lei ou relacionados em listas atualizadas
periodicamente pelo Poder Executivo da União. (Grifo próprio) 8

Ou seja, para lei 11.343/06 não há uma definição especifica sobre quais são
as drogas ilegais, apenas uma positivação generalista, indicando onde estarão as
substâncias que causam dependência – em lei ou relacionados em listas - dessa
forma, estamos diante de um exemplo evidente das famosas normas penais em
branco, contudo, o que vem a ser as normas penais em branco?
Conforme expresso pelo professor Guilherme Nucci, a Lei de drogas não
traz em seu bojo as drogas ilegais, referidas em lei, o artigo primeiro apenas indica
onde estarão localizadas as substâncias classificada como drogas, logo, necessário
texto legal complementar para preencher esse “vazio”, vejamos as lições do
professor Guilherme Nucci:

“Observe-se a existência de várias condutas, cujo objeto é a droga ilícita


(em desacordo com determinação legal ou regulamentar). O preceito
primário (descreve a conduta por meio dos verbos e do objeto) possui um
branco, pois é necessário saber quais as drogas ilícitas, previstas em lei ou
regulamento, para que se configure o crime. Há uma relação de drogas
proscritas formulada pelo órgão competente do Ministério da Saúde. Por
outro lado, o preceito secundário é sempre fixo e não pode ser aberto, pois
contém a sanção. ”9

A lista referida no dispositivo supramencionado é fornecida pela Agência


Nacional de Vigilância Sanitária, a Anvisa, que produziu a lista por meio da
PORTARIA/SVS Nº 344, DE 12 DE MAIO DE 1998, que disciplina a questão sobre
as definições, autorizações, comercio, transporte, prescrição da receita entre outros
assuntos relacionados as substancias controladas.

8
BRASIL, http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11343.htm
9
NUCCI, Guilherme, Curso de Direito Penal Vol. 1, 2017, p.243, disponível em:
https://forumdeconcursos.com/wp-content/uploads/wpforo/attachments/2/1346-Curso-de-Direito-Penal-
Parte-Geral-Vol-1-2017-Guilherme-de-Souza-Nucci.pdf
Página |6

Há consenso sobre a classificação das drogas, subdividindo-se em diversas


espécies de acordo com a sua fabricação e efeitos no corpo humano, em questão a
fabricação elas podem ser divididas em três grupos, quais sejam:

Naturais, como o próprio nome já anuncia, são aquelas que não passam por
processos químicos ou físicos, a droga pode ser consumida in natura e os efeitos
serão percebidos.

Sintéticas, são as drogas produzidas pelo homem, o qual, através de


arranjos moleculares, sintetiza substâncias criando-as como exemplo, o Ácido
acetilsalicílico, aspirina, que é invento humano, MDMA, DMT entre outras.

Já as semissintéticas, embora produzidas em laboratório, são tidas como


rearranjos das moléculas já encontrada na natureza, criando então uma variação de
algo já preexistente, como a Cocaína e o THC sintético.10

Em relação aos efeitos que as drogas podem causar no ser humano, há


também um consenso geral, segundo o site do Denarc Paraná elas são subdivididas
em três espécies, quais sejam elas:

“As drogas depressoras do SNC – álcool, barbitúricos, benzodiazepínicos,


inalantes e opiáceos – essas drogas diminuem a atividade cerebral, fazendo
com que o organismo funcione lentamente, reduzindo a atividade
psicomotora, a atenção, concentração, a capacidade de memorização e
intelectual.
As drogas estimulantes do SNC – anfetaminas, cocaína e tabaco – essas
drogas aceleram a atividade cerebral, fazendo com que o usuário fique
“ligado”, trazendo como consequência um estado de alerta exagerado,
insônia, sentimento de perseguição e aceleração dos processos psíquicos.
As drogas perturbadoras do SNC – maconha, alucinógenos, LSD, ecstasy
e anticolinérgicos – essas drogas distorcem e modificam qualitativamente a
atividade cerebral, pois o usuário tem delírios, alucinações e alterações
sensopercepção (efeito sinestésico), por estes motivos também são
chamados de alucinógenos.
É importante ressaltar que os usuários dessas drogas podem ser
classificados de acordo com o padrão de consumo em: experimental,
ocasional, usuários de abuso e usuários crônicos. Em geral, as drogas
possuem elevada capacidade de causarem dependência química, física e
psicológica no indivíduo, podendo levar à morte. (Grifo próprio) ”11

10
RIELI, Fúlvio, PREVINA - Prevenção ao uso indevido de drogas, Universidade Aberta do Brasil / Universidade
Federal de São Paulo, 2015, p. 67
11
Governo do Estado do Paraná, Secretaria da Segurança Pública e Administração Penitenciária, DENARC -
Divisão Estadual e Narcóticos, disponível em:
http://www.denarc.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=40.
Página |7

Dessa forma, conseguimos discorrer sobre as principais características


sobre um dos objetos que compõe o presente estudo, analisando a história e a
classificação das drogas. Caminhando em direção a análise do sujeito e o meio em
que este é inserido, formando a tríade explicada abaixo.

1.3 Do Padrão do Uso de Drogas, Sujeitos e Contexto.

Após explanarmos sobre a progressão histórica das drogas na sociedade,


conceitua-la e classifica-la, vamos tratar do ponto principal do problema, a relação
sujeito-droga.

Como se relaciona o sujeito com a droga e como se classifica a sua


interação, de onde vem seus desejos, em usar droga, e porque alguns acabam
cedendo ao vício enquanto outros resistem?

Para iniciarmos essa conversa devemos ter em mente que existe uma tríade
que forma o comportamento do usuário, sujeito-contexto-droga.12

Segundo Estudo realizado pelo Senado Federal, por meio dos professores
Dartiu Xavier e Evely Borges, o sujeito possui suas características de personalidade
e singularidade biológica; a substância psicoativa detém suas propriedades
farmacológicas específicas e por fim o contexto sociocultural no qual se realiza o
encontro entre o sujeito de a droga, forma a complexa relação.13

1.3.a Do Usuário

Vamos começar pelo o mais complexo dos três fatores, o sujeito pode ou
não se tornar dependente, a regra é que ele não se torne, pois, os doentes são
minorias. A relação da droga com o sujeito poderá se sustentar em cima de um dos
três pilares basilares, quais sejam: social, biológicos e psicológicos.

Dentre os fatores biológicos incialmente podemos apontar para os fatores


genéticos. Diversos estudos envolvendo famílias com ocorrência de dependentes de

12
XAVIER E BORGES, Dartiu e Evelyn, Padrão de Uso de Drogas, Eixo Politicas e fundamentos, Senad, 2016
13
Idem
Página |8

drogas vem revelando a ligação entre os familiares e os indivíduos dependentes no


uso abusivo das drogas. Porém, os estudos expõem que a genética é parte do fato,
pois, existem outros fatores que determinam ou não a manifestação da
dependência. Em alguns casos, os dependentes de drogas possuem menor número
de receptores de dopamina, algo que parece ser geneticamente determinado.14

Dessa forma, conforme estudo desenvolvido pela parceria entre o Centro de


Pesquisa de Álcool e Drogas (CPAD), a Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(UFRGS), Porto Alegre, RS, e financiado pela Secretaria Nacional de Políticas sobre
Drogas (SENAD), o usuário deve ser observado em uma escala multidimensional:

“Avanços recentes têm contribuído para aumentar o conhecimento referente


à temática do consumo de substâncias psicoativas (SPA). Tornou-se
evidente que, antes de iniciar um tratamento, além de investigar um
possível diagnóstico de abuso e dependência, é primordial avaliar as
características do uso da droga, tais como frequência, quantidade e
duração, assim como os prejuízos que ela acarreta à vida dos usuários. O
conceito de avaliação nesse campo se expandiu, considerando sua
complexidade, e passou a incluir outros aspectos igualmente importantes da
vida do indivíduo. Problemas clínicos, como dores crônicas, por exemplo,
podem ser causados ou exacerbados pelo uso de drogas, assim como o
uso das mesmas pode ser fonte de alívio dessas dores. Achados como
esse geraram uma série de hipóteses etiológicas, como a denominada
“teoria da automedicação”, que propõe que o ambiente sociocultural e os
relacionamentos interpessoais influenciam claramente o uso drogas,
buscando, através dos seus efeitos, um melhor equilíbrio do “meio interno. ”
(Grifo nosso)15

Sendo assim, ao olharmos para nossa atual lei de drogas, que pune de
forma discricionária aquele que porta algum tipo de substancia listada como proibida
ao invés de - se for o caso - ter um tratamento digno é submetido a uma represália
moral que abarca a pecúnia ou a restrição da liberdade.

A atual lei de drogas progrediu em relação ao Usuário, visto que não há mais
pena restritiva de liberdade ao usuário que utilizar substâncias restritas, que se
encontram na lista da Portaria SVS/MS no 344, de 12 de maio de 1998.

Porém, o legislador penaliza aquele que possui o porte da substancia ilícita,


o que causa estranheza e confusão, como o usuário irá utilizar a droga sem possuir
o porte dela?

14
Idem
15
KESSLER; FALLER; SOUZA-FORMIGONI; CRUZ; BRASILIANO; STOLF; PECHANSKY; Felix; Sibele, Maria, Marcelo,
Sílvia, Anderson, Flavio, Avaliação multidimensional do usuário de drogas e a Escala de Gravidade de
Dependência, disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rprs/v32n2/v32n2a05.pdf
Página |9

“Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer


consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo
com determinação legal ou regulamentar será submetido às seguintes
penas: “
I - Advertência sobre os efeitos das drogas;
II - Prestação de serviços à comunidade;
III - Medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo.
§ 6o Para garantia do cumprimento das medidas educativas a que se refere
o caput, nos incisos I, II e III, a que injustificadamente se recuse o agente,
poderá o juiz submetê-lo, sucessivamente a:
I - Admoestação verbal;
II - Multa.16

A grosso modo, não há mais prisões pelo uso de entorpecentes no Brasil.


Porém, a mesma lei que avança, regride, quando observamos o parágrafo seguindo
do referido artigo onde a discricionariedade do Estado beira ao abuso de poder
quando deixa a cargo do magistrado distinguir no caso concreto se o Querelado é
um usuário ou traficante, devido ao lugar, a conduta e os antecedentes do agente,
ou seja, uma verdadeira discriminação e prejulgamento, decorrente da vida
pregressa do Réu:

Art.28 [...]
§ 2o Para determinar se a droga destinava-se a consumo pessoal, o juiz
atenderá à natureza e à quantidade da substância apreendida, ao local e
às condições em que se desenvolveu a ação, às circunstâncias sociais e
pessoais, bem como à conduta e aos antecedentes do agente. (Grifo
próprio)17

Destarte, o que ocorre muitas vezes é que, o usuário branco e


socioeconomicamente estável é tratado com um peso, já o usuário negro pode ser
facilmente detido e atuado automaticamente como traficante só por morar em uma
área de risco, assim classificada pelo poder público. Sabe-se que a polícia e o poder
público tratam toda a extensão das comunidades como área de risco e potencial
área de tráfico, ou seja, já é presumida a conduta delitiva daqueles que lá moram.

Em crítica Luciana Boiteux aduz:

Outrossim, persiste na lei a ausência de uma diferenciação clara entre


uso e tráfico. Pelos critérios legais, esta deve se dar levando-se em conta
a quantidade, natureza (ou qualidade) da droga, além de outros elementos,

16
BRASIL, Lei de Drogas nº Lei 11.343/06, disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-
2006/2006/lei/l11343.htm
17
Idem
P á g i n a | 10

como lugar, e outras circunstâncias objetivas, além de subjetivas, como


antecedentes, circunstâncias sociais e pessoais (segundo o art. 28, §2º).
(BOITEUX, 2014). (Grifo próprio) 18

Temos dois casos que exemplificam bem o dito acima, o caso do ex-catador
Rafael Braga cujo caso em recorto aqui retirado do site Justificando:

“Ele caminhava da casa de sua mãe para uma padaria na favela onde vive
sua família, no complexo da Penha, zona norte do Rio, quando policiais
militares da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) local abordaram-no
violentamente e o conduziram a um beco, onde o agrediram com socos no
estômago, apontaram-lhe um fuzil e o ameaçaram de diversas formas para
que ele delatasse traficantes da região, pois, do contrário, iam “jogar arma e
droga na conta” dele, conforme contou Rafael ao depor no dia dos fatos e
também em audiência no TJ-RJ posteriormente — versão também contada
por uma testemunha que assistiu a cena da janela de sua casa.
Conduzido à 22ª Delegacia de Polícia (Penha), ele se deparou com 0,6 g de
maconha, 9,3 g de cocaína e um rojão, cujo porte lhe foi atribuído
pelos policiais que o prenderam, levando-o a ser autuado por tráfico de
drogas, associação para o tráfico e colaboração com o tráfico.
O TJ-RJ o condenou, em abril de 2017, a 11 anos e três meses de prisão
por tráfico e pagamento de R$ 1.687 (mil seiscentos e oitenta e sete reais),
conforme decisão do juiz Ricardo Coronha Pinheiro. Movimentos populares
realizaram uma série de protestos contra a prisão do jovem, debatendo a
seletividade da Justiça contra negros, pobres e favelados. ” (Grifo próprio)19

Muitas vezes o que acontece é o Querelado ser atuado e preso apenas com
base nos depoimentos dos policiais sem nenhuma participação de terceiros,
conforme extraído do Estudo do Núcleo de Estudos da Violência Universidade de
São Paulo:

A palavra do policial também acaba sendo valorizada nos casos em que é


alegado que o acusado realizou uma “confissão informal” à autoridade
que efetuou o flagrante. De acordo com os dados, em cerca de 44% dos
casos, os policiais que realizaram a prisão em flagrante disseram que o
acusado teria confessado o crime no momento da prisão.20

E em contrapartida temos o envergonho caso de Breno Fernando, Ele foi


detido em abril com 130 quilos de maconha, centenas de munições de fuzil e uma

18
BOITEUX, Luciana. Tráfico e Constituição: um estudo sobre a atuação da justiça criminal do Rio de Janeiro e
de Brasília no crime de tráfico de drogas. Revista Jurídica. Rev. Jur., Brasília, v. 11, n. 94, p.1-29, jun./set. 2009
www.planalto gov.br/revistajuridica.
19
SANSÃO, Luiza, Rafael Braga: 5 anos de injustiça, 2018, artigo, disponível em:
http://www.justificando.com/2018/06/27/rafael-braga-5-anos-de-injustica/
20
JESUS; OI; ROCHA; LAGATTA, Maria; Amanda; Thiago; Pedro, Prisão Provisória e Lei de Drogas: um estudo
sobre os flagrantes de tráfico de drogas na cidade de São Paulo. [recurso eletrônico], FUSP
P á g i n a | 11

pistola nove milímetros. Breno é filho da desembargadora Tânia Garcia, presidente


do Tribunal Regional Eleitoral e integrante do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do
Sul. No caso de Breno, além deste possuir uma mãe instruída e vida abonada, foi
encaminhando para um hospital psiquiátrico sob a legação de possuir a síndrome de
bordeline além de sofrer processo de interdição pela própria mãe. Assim diferente de
Rafael Braga que não possui mãe para ajuda-lo nem capital para contratar
advogados, este perece na cadeia com dificuldade até de ter sua tuberculose
tratada, demonstrando a divergência no tratamento aos jovens de periferia
comparado com os jovens de classe média alta, distorção reforçada pela atual
legislação.

Resta claro, a dificuldade encontrada muitas vezes em diferenciar o usuário


do traficante, devido a subjetividade deixada a cargo do togado para determinar um
ou outro, contudo, em ambos os casos não deveria ser tratado no âmbito penal, o
usuário deveria ser regido pelo CDC e pelo CC, já o traficante deveria ser tratado
como um empresário, pagando os devidos impostos pelo seu serviço e se atentando
aos ditames sanitários, ou prestando serviço de caráter público dentro do modelo do
monopólio estatal.

1.3.c Do Abuso a Dependência

Pode-se dizer que usuário é aquele cidadão que consome algo com
frequência regular, usuário de ônibus, usuário de álcool, usuário de açúcar etc..... Já
o dependente por sua vez utiliza algo de forma obsessiva e compulsiva.

Sendo assim, a grande maioria das pessoas acreditam que a dependência


decorre da repetição e exposição frequente a substancia, porém não é isso que
realmente acontece como irei expor a seguir.

Caso você, por exemplo, quebrar seu quadril, será levado para um hospital e
receberá doses de Diamorfina por semanas ou até mesmo meses, Diamorfina é
Heroína, na verdade, uma heronina muito mais potente do que a vendida nas ruas
porque não está misturada com outras substancias que os traficantes diluem nela
para gerar mais lucro. A todos instantes há pessoas recebendo doses de heroína de
forma constante, porém após o tratamento elas não se tornam viciadas. Por que isso
P á g i n a | 12

acontece?21

Nossa atual teoria do vício vem de experimentos realizados com ratos do


início do século XX. Basicamente, um rato é colocado dentro de uma gaiola com
duas garrafas uma contém apenas água e a outra contém água misturada com
heroína e cocaína. Em quase todas as vezes que este experimento é realizado o
rato se tornar-se-á obcecado com a agua com droga e retornará para beber mais e
mais até que mate a si mesmo. 22

Porém, na década de 70, Bruce Alexandre, professor de psicologia, notou


algo estranho neste tipo de experimento, pois, o rato é isolado dentro de uma gaiola
pequena e com nada para se fazer além de se drogar. 23

Sendo assim, o professor pensou em tentar o mesmo experimento, só que


com algumas modificações, ele então construir o Parque dos Ratos, o Parque dos
Ratos consiste basicamente em um paraíso dos Ratos, um lugar fechado com
paredes pintadas com cenários de florestas e ambientes naturais, o chão era
coberto com serragem aromática, eles tinham bolas coloridas, tuneis, rodas e outros
ratos para poderem brincar.24Tudo o que um rato poderia querer, e junto a tudo isso
eles teriam a água com droga e a garrafa com água normal, mas o fascinante é que
no parque dos ratos, eles quase nunca tomavam a água com heroína e cocaína,
nenhum deles usou de compulsivamente, nenhum deles teve overdose, e para
verificar essa teoria foi feito um teste com humanos, a Guerra do Vietnã.25

20% (vinte por cento) das tropas americanas no Vietnã usavam muita
heroína. As pessoas nos EUA estavam preocupadas imaginando que quando
acabasse a guerra teriam em seus lares um exército de mortos vivos viciados em
heroína.26

21
Kurzgesagt – In a Nutshell, ADDICTION, 2015, disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=ao8L-
0nSYzg.
22
MCMILLEN, Stuart, RATOLÂNDIA, 2013, disponível em:
http://www.stuartmcmillen.com/pt/comic/ratolandia/#page-3
23
Kurzgesagt – In a Nutshell, ADDICTION, 2015, disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=ao8L-
0nSYzg.
24
Idem
25
Idem
26
Idem
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27

Nas palavras do então presidente Nixon, que tinha a guerra as drogas como
insumo político no palanque:

O problema no Vietnã é agravado pelo fato de que a heroína pode ser


comprada lá a um preço muito mais baixo do que nos Estados Unidos, e,
portanto, quando os homens estão expostos a ela, ou eles são capazes de
obtê-la, é que eles podem dar-se ao luxo de ter o hábito. O que vamos
fazer, portanto, é intensificar nosso programa nacional em quatro frentes:
primeiro, a frente de chegar as fontes. Isto significa trabalhar com governos
estrangeiros, de onde as drogas vieram, incluindo o Governo do Vietnã do
Sul, onde eles têm, é claro, uma responsabilidade especial.28

Porém, os soldados foram acompanhados em seu regresso aos seus lares e


o resultado foi algo chocante, eles não foram para reabilitação, não se afastaram de
seus parentes 95% (noventa e cinco por cento) deles simplesmente pararam de
consumir heroína após voltarem para suas casas.

Ou seja, a antiga teoria do vício cai por terra onde apenas a exposição e o
consumo da substância tornaria o indivíduo viciado, o episódio do Vietnã apenas
reafirma a teoria do professor Alexander. Pois se você é colocado na selva hostil de
um país estrangeiro onde você não queria estar e é forçado a matar e morrer a
qualquer tempo usar heroína é uma boa maneira de ocupar seu tempo, mas se você
volta para casa com os seus amigos e sua família é o equivalente a ser retirado da

27
ROBINS; DAVIS; NURCO, Lee; Darlene; David, How Permanent Was
Vietnam Drug Addiction?, 1974, disponível em:
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1775687/pdf/amjph00813-0048.pdf
28
NIXON, Conferência Presidencial em 01/06/1971, apud, CARVALHO, Jonatas, A AMÉRICA LATINA E A
CRIMINALIZAÇÃO DAS DROGAS ENTRE 1960-1970: PRENÚNCIOS DE OUTRA GUERRA POR OUTRA AMÉRICA,
2015, NEIP, disponível em: https://neip.info/novo/wp-
content/uploads/2015/04/carvalho_criminalizao_drogas_amrica_latina.pdf
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primeira sela dos ratos e ser transferido para o Parque dos Ratos Humanos,29 talvez
seja isso que os viciados na Cracolândia necessitam...

A seguir veremos o método mais aceito no ocidente para classificar um


dependente químico foi formulado pela Associação Psiquiátrica Americana (APA),
que considera dependente aquele indivíduo que apresenta os sintomas conforme
tabela abaixo:

TABELA 2 – Critérios do DSM-IV para abuso e dependência de substâncias psicotrópicas


ABUSO DE SUBSTÂNCIAS

A. Padrão desajustado de uso de substância que leva a uma deficiência ou um desconforto


clinicamente significativo manifestado por um (ou mais de um) dos seguintes elementos
ocorridos num período de 12 meses.

(1) Uso recorrente de uma substância que resulta numa falha no cumprimento de obrigações
importantes no trabalho, na escola ou lar (por exemplo, faltas repetidas ou mau desempenho no
trabalho em razão do uso de uma substância; faltas, suspensões ou expulsões da escola
relacionada a uma substância; negligência das crianças ou da casa).

(2) Uso recorrente em situações nas quais isso é arriscado (por exemplo, dirigir um carro ou operar
uma máquina perturbado pelo uso de uma substância).

(3) Problemas legais recorrentes relacionados ao uso de uma substância (por exemplo, prisão por
comportamento desordeiro relacionado ao uso de uma substância).

(4) Uso continuado de uma substância apesar da persistência ou recorrência de problemas sociais
ou interpessoais causados ou exacerbados pelos efeitos da substância (por exemplo,
discussões conjugais sobre as consequências da intoxicação, brigas).

B. Os sintomas nunca atingiram os critérios para Dependência de Substância desta classe de


substância.

30

Dependência de substância

Padrão desajustado de uso de substância que leva a uma deficiência ou a um desconforto


clinicamente significativo manifestado por três (ou mais) dos seguintes elementos ocorridos no
mesmo período de 12 meses:

1. Tolerância definida por um dos seguintes itens:

(a) Necessidade de quantidades cada vez maiores de substância para obter a intoxicação ou o
efeito desejado;

(b) Efeito claramente diminuído com o uso continuado da mesma quantidade da substância.

29
Kurzgesagt – In a Nutshell, ADDICTION, 2015, disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=ao8L-
0nSYzg.
30
Alcoolismo entre estudantes universitários: uma abordagem da redução de danos – BASICS / Linda A.
Dimeff... [ et al.]; tradução de J.M. Bertolote. – São Paulo: Editora UNESP, 2002, p. 20
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2. Abstinência manifestada por um dos seguintes itens:

(a) Uma síndrome de abstinência característica para essa substância (veja os critérios A e B
estabelecidos para Abstinência de Substâncias Especificas);

(b) A mesma substância (ou outra estreitamente relacionada) é utilizada para aliviar ou evitar os
sintomas da abstinência.

3. A substância é frequentemente utilizada em quantidades maiores ou por mais tempo do que


desejado.

4. Há um desejo persistente ou esforços infrutíferos para diminuir ou controlar o uso da substancia.

5. Grande parte do tempo é dedicada a atividade destinadas a obter a substancia (por exemplo,
dirigir longas distancias), a usar a substância (por exemplo, acender um cigarro no outro) ou
recuperar-se de seus efeitos.

6. Atividade sociais, ocupacionais ou recreativas importantes são abandonas ou reduzidas em


razão do uso da substância.

7. O uso da substancia se mantem apesar de saber da existência de problemas físicos ou


psicológicos, persistentes ou recorrentes, que provavelmente foram causados ou exacerbados
pela substancia (por exemplo, continuar a beber apesar de saber que uma ulcera piorou pelo
consumo de álcool).
31

Atualmente, com base na aplicação dos itens dessa tabela sobre o


comportamento do sujeito é que se analisa o nível de dependência do indivíduo e o
perigo para si ou para os outros.

Ou seja, existem medidas efetivas para detectar se um sujeito se transporta


da esfera do simples usuário para a esfera do dependente, criando problemas para
a sociedade produtiva, precisando ser reabilitado e tratado de maneira devida.

Após compreender que o vício não é produto direito do consumo repetitivo,


mas sim de uma série de fatores que influenciam no desajuste do ser - alguma
disfunção na tríade sujeito-contexto-droga, fazendo-o incapaz de exercer seu papel
na sociedade, a proibição não é a solução, já que não impossível obter acesso as
drogas, e como como veremos a seguir neste estudo, observando as atitudes
tomadas em outros países existem maneiras mais eficientes de se lidar com o
problema drogas.

31
Alcoolismo entre estudantes universitários: uma abordagem da redução de danos – BASICS / Linda A.
Dimeff... [ et al.]; tradução de J.M. Bertolote. – São Paulo: Editora UNESP, 2002, p. 21
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2. BREVE HISTÓRIA PROBICIONISTA DAS DROGAS

Podemos dizer que a proibição das drogas está atrelada ao aumento dos
centros urbanos, pois, quanto mais a metrópole se desenvolve mais os governantes
querem redigir sobre a conduta de seus cidadãos, para manter o controle e a
máquina estatal nos eixos.

Sendo assim, a proibição advém do pretexto da suposta preocupação dos


governantes sobre a saúde e o bem-estar de seus cidadãos coibindo seu modo de
agir para “preservar” a saúde da coletividade geral, porém, ao invés de conscientizar
e informar para manter o cidadão livre e ser quem ele realmente é o estado paternal
proíbe e decide o que é melhor para todos.

Neste diapasão, listo os principais marcos proibicionista:

1. CONVENÇÃO DE HAIA, DE 1912 Primeiro tratado internacional de controle


de drogas, proibiu o uso de ópio para fins não medicinais e regulou o
comércio de ópio, cocaína e derivados.

2. HARISSON NARCOTICS ACT, DE 1914 Primeira lei proibicionista


abrangente aprovada pelos Estados Unidos, restringiu o comércio
doméstico de ópio, cocaína e derivados.

3. LEI SECA, DE 1920 Proibiu a venda e o consumo de álcool nos Estados


Unidos. Vigorou até 1933, quando o governo do país reconheceu que o
objetivo da proibição não foi alcançado e que seus efeitos colaterais foram
negativos.

4. CONVENÇÃO INTERNACIONAL DO ÓPIO, DE 1925 Avançou nas


restrições sobre o ópio e a cocaína e colocou, pela primeira vez, a heroína e
a maconha sob controle internacional. Em 1937, os Estados Unidos
criminalizaram a produção e a posse de maconha.

5. CONVENÇÃO PARA A REPRESSÃO DO TRÁFICO ILÍCITO DE DROGAS


NOCIVAS, DE 1936 Estabeleceu, pela primeira vez, o tráfico de drogas
como um crime internacional. Foi o primeiro acordo internacional sobre
drogas a que o Brasil aderiu.32

6. GUERRA AS DROGAS DELCARADA POR NIXON, em 1971 o então


presidente dos Estados Unidos da América, declarou tolerância zero as
drogas e como consequência essa postura dos governantes se espalhou
por todo o Globo, surtindo efeitos negativos até os dias atuais. 33

32
BARBOSA, Renan, Jornal Nexo, Lei de Drogas: a distinção entre usuário e traficante, o impacto nas
prisões e o debate no país, 2017. Disponível em:
https://www.nexojornal.com.br/explicado/2017/01/14/Lei-de-Drogas-a-distin%C3%A7%C3%A3o-
entre-usu%C3%A1rio-e-traficante-o-impacto-nas-pris%C3%B5es-e-o-debate-no-pa%C3%ADs
33
No original: “America's public enemy number one in the United States is drug abuse. In order to
fight and defeat this enemy, it is necessary to wage a new, all-out offensive.” Nixon, Richard (1971).
P á g i n a | 17

Apesar dos marcos proibicionistas, não é possível afirmar categoricamente


um ponto inicial na histórica da proibição das drogas, visto que em diversos
momentos a proibição se deu por diferentes interesses, como no caso de Napoleão
Bonaparte ao conquistar o Egito e proibir o consumo do Haxixe uma variação da
cannabis sativa, vejamos:

Lewin (1970) enfatiza que em 8 de outubro de 1800, o general Napoleão


Bonaparte, promulgou no Egito as seguintes proibições quanto ao uso da
cannabis, quais sejam:
Art.I: Fica proibido em todo Egito fazer uso da bebida fabricada por certos
muçulmanos com a cannabis (haxixe), bem como fumar as sementes da
cannabis, os bebedores e fumantes habituais desta planta perdem a razão e
são acometidos de violentos delírios que lhes proporciona cometer abusos
de todos tipos;
Art.II: A preparação da bebida de haxixe fica proibida em todo Egito. As
portas de todos os bares ou albergues onde é servida serão fechadas com
um muro e seus proprietários colocados na cadeia por uma duração de três
meses;
Art.III: Todos os pacotes de haxixe que chegarão a alfândega serão
confiscados e queimados publicamente.34

Anteriormente na China no século XVII era proibido o fumo de tabaco, planta


trazida pelos portugueses, com pena de decapitação para os fumantes, ocorre que a
proibição do fumo do tabaco fez com que os chineses passassem a fumar o ópio
que antes era consumido apenas bebendo ou comendo, formas bem menos
prejudiciais à saúde.35

Talvez a primeira lição da proibição das drogas, seja esse efeito circular
agravador da situação. As proibições não resolvem nenhum problema, mas
transferem os prejuízos da questão das drogas para outros locais, outras pessoas,
com outras circunstâncias, adiando ou não um agravamento certo. 36

Neste passo, em 1729 ocorreu a primeira proibição do plantio e do consumo


do ópio na china, sob o argumento de que a importação do produto, derivada do

Remarks About an Intensified Program for Drug Abuse Prevention and Control, 17-de junho.
Disponível em: https://www.presidency.ucsb.edu/documents/remarks-about-intensified-program-for-
drug-abuse-prevention-and-control
34
GONTIÈS, Bernard, Maconha: uma perspectiva histórica, farmacológica e antropológica,
Publicação do Departamento de História e Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do
Norte, 2003, p.9
35
ARAÚJO, Tarso, Almanaque das drogas: um guia informal para o debate racional, 2012, p 51.
36
VALOIS, Luís, O Direito Penal da Guerra às Drogas, D’PLÁCIDO, Minas Gerais, 2017, p 36.
P á g i n a | 18

aumento do consumo, estava desequilibrando a sua balança comercial. A proibição


apenas agravou a situação econômica da China, iniciando o ciclo de corrupção entre
os funcionários chineses para permitir que o fluxo da droga continuasse ilegalmente,
os mais beneficiados por esse comercio ilegal eram os portugueses e os ingleses.

Em 1779 a Companhia das Índias Oriental inglesa passa a ter o monopólio


da produção e venda do ópio. O argumento para permanecer com a venda ilegal do
ópio ao povo chinês era dito pelo ministro de assuntos estrangeiros, Lord
Palmerston, “insistia que o princípio em questão era apenas o de livre comercio: os
ingleses tinham todo o direito de fornecer um produto que o povo chinês queria
comprar, e o imperador não tinha o direito de impedir”, “ a guerra do ópio era
equivalente à nossa moderna guerra às drogas, mas com os ingleses fazendo
o papel dos cartéis criminosos, sendo a China a inocente vítima, sem poder
para evitar o tráfico de substâncias ilícitas por suas fronteiras” 37

Neste passo, a partir de 1870, após a segunda guerra do ópio, o imperador


chinês mudou completamente sua postura em relação ao ópio, legalizando seu
cultivo, e colocando em prática políticas públicas de informação sobre a substancia,
criando hospitais para atender os dependentes mais debilitados e necessitados,
derrubando de vez os interesses britânicos que precisavam da proibição para
lucrar!38

Desta forma, os EUA sempre participaram desse sistema ilícito criado pelo
governo britânico que impunha o consumo de ópio ao povo chinês, não da forma
militar, mas realizado o transporte do ópio até a china sem o aval do governo norte
americano.

A proibição da maconha advém após a lei seca, que proibia os cidadãos a


consumir álcool impulsionando as pessoas a consumirem novas drogas para se
divertir além disso somasse o crash na bolsa de Nova York, em 1929, que deixou
muitas pessoas desempregadas. A proibição da maconha também tem relação
estreita com os imigrantes que ali estavam, os mexicanos, eles consumiam maconha
de forma cultural em seu país de origem e trouxeram consigo esse costume,
conforme expresso pelo professor de relações internacionais Thiago Rodrigues:

37
Idem, p 41.
38
Idem, p 45
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As medidas puritanas de governo das condutas dos indivíduos que


resultaram na chamada Lei Seca e em todo esse processo de discriminação
racial dos imigrantes ocorreram simultaneamente ao surgimento do
taylorismo e fordismo e serviram para estigmatizar nos Estados Unidos
da América os chineses como usuários de ópio e os mexicanos como
fumadores inveterados de maconha 39

Infelizmente o objeto do presente estudo não é a análise histórica da


proibição das drogas, contudo, podemos observar que a proibição sempre adveio de
uma forma de controle sob as classes subjugadas postas como mão de obra e
serventia as elites que sempre desfrutaram do uso de todas as substâncias.
A proibição sempre será algo prejudicial a sociedade, a regulamentação
positivada acompanhada de políticas educacionais e de sociedade civil trabalhando
em conjunto é o único meio para solucionar o problema das drogas e da guerra as
drogas em nosso pais.

2.1 Breve História da Proibição no Brasil

A proibição das drogas no Brasil é importada e americanizada, porém, o


Brasil já havia coibido os costumes e a liberdade dos que aqui viviam, a muito
tempo, desde a época colonial onde o país escravizava e oprimia a população negra
e periférica.

Sendo assim, pode-se dizer que a história da proibição no Brasil tem início
com a vinda da família real ao Rio de Janeiro, fugida de Napoleão. A família real ao
chegar aqui no Brasil se depara com um grande problema, a maciça população
escrava e negra, logo a família real começa por meio de leis proibir os hábitos dessa
população estabelecendo a ordem e a segurança da família real.

Para fazer manter a ordem e para fazer valer as proibições é criada em 1809
a Guarda Real de Polícia, a polícia dos costumes, para realizar repressão de festas
com cachaça, música afro brasileira e, claro, a maconha. Ações como essas são
claramente realizadas para manter o povo sob controle e inerte, e para este não
realizar nenhuma forma de contestação ao poder, apenas obedecer.

39
RODRIGUES, Thiago, narcotráfico uma guerra na guerra, Elementos, São Paulo, 2013, Apud, ROSA, Pablo,
outra história do consumo de drogas na modernidade, UFPR, Curitiba, 2014, p. 193
P á g i n a | 20

Insta salientar, até a partida de Dom João VI, código de leis criminais que
vigia era as Ordenações Filipinas do Livro V., Porém, as leis eram editadas pela
polícia sob um regime totalmente absolutista, destarte, a Guarda Real de Polícia
agia com completa arbitrariedade, no Brasil criminalizar o uso da maconha, foi
claramente uma movimentação racista do governo vigente contra sua grande
população negra (BARROS, PERES; André, Marta, Proibição da maconha no Brasil
e suas raízes históricas escravocratas, p.5), vejamos o artigo abaixo que
criminalizava o uso da maconha, conhecida como pito do pango à época, cito abaixo
a resolução nº 71 da Câmara Municipal de Campinas, data em 02 de abril de 1876,
que criminalizava o uso da maconha, vejamos:

Art. 237. - E' prohibida a venda e uso do pito de pango, bem como a
conservação delle em casas publicas. Os contraventores serão multados, a
saber: o vendedor em 10$000, e os escravos e mais pessoas que delle
usarem, em cinco dias de cadêa..40

Desta forma, reforça-se o argumento sobre criminalização dos costumes


africanos, as raízes da criminalização da maconha estão totalmente ligadas com o
controle da população advinda do continente africano, fato esse que evoluiu e se
estendeu a outras dimensões sociais, perpetuando o controle que hoje reprime o
cidadão das regiões periféricas, herdeiros do território e da violência que até hoje e
alimentada contra os moradores de localidades estigmatizadas pela venda e uso de
drogas, as políticas proibicionistas compartilham uma formação comum, estruturada
em cinco níveis interconectados, como leciona Beatriz Labet:

O marco proposto tem cinco níveis interconectados: o nível moral/social


das práticas, o nível de saúde pública, o nível de segurança pública, o
nível de segurança nacional e o nível de segurança internacional.
Nossa hipótese é que cada uma das nações americanas que
desenvolveram os regimes proibicionista internos enfrentaram um equilíbrio
singular entre estes cinco níveis de análise41

Dessa forma, o Brasil segue o mesmo parâmetro adotado por outros países

40
Câmara Municipal de Campinas, RESOLUÇÃO Nº 71, DE 02 DE ABRIL DE 1876, MANDA PUBLICAR E EXECUTAR
O CÓDIGO DE POSTURAS DA CÂMARA MUNICIPAL DA CIDADE DE CAMPINAS, disponível em:
http://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/resolucao/1876/resolucao-71-02.04.1876.html
41
LABETE, Beatriz, Política de Drogas no Brasil: Conflitos e Alternativas, Mercado de Letras, São Paulo, 2018, p.
9
P á g i n a | 21

do mundo, e como já ocorrido no passado, importa institutos sem observar as suas


próprias e complexas peculiaridades internas.

Como exemplo, uma importação ineficiente seria a de adotar a teoria das


Janelas Quebradas para o Brasil, em suma a teoria trata sobre:

“Caso uma janela de um prédio fosse quebrada e não fosse imediatamente


consertada, as pessoas que a avistasse pensaria que naquele local
ninguém se preocuparia com aquilo, o que levaria os vândalos a
depredarem mais janelas, e, eventualmente, poderiam invadir o local e lá
estabelecerem moradia ou depredá-lo ainda mais. E o que é pior, poderia
chegar ao ponto de vândalos, desocupados e pessoas com tendências
criminosas perceberem que naquela rua ninguém se preocupava com os
atos de criminalidade, levando-os a se estabelecerem naquele local e
afugentarem as pessoas de bem. Seria, assim, um processo gradativo, em
que o descaso a pequenos atos de vandalismo, levaria a conseqüências
mais graves. “42

Contudo, além do ordenamento jurídico pátrio conter o princípio da


insignificância que inviabiliza por si só a ideia da teoria das Janelas quebradas no
Brasil, o nosso país não possui sistema carcerário ou o assistentes sociais
necessários para atender a demanda que surgiria com a aplicação da política de
tolerância zero, como veremos a seguir e ao fim do presente trabalho o Brasil
necessita de uma legislação impar para atender os reais anseios da população a fim
de resolver o problema de drogas no país.

No capítulo a seguir iremos distinguir os institutos da Proibição,


Despenalização, Descriminalização e Legalização para então explorarmos os
modelos adotados por alguns países para ilustrar as alternativas possíveis as
políticas vigentes de combate as drogas.

42
NETO, José, A teoria da janela quebrada e a política da tolerância zero face aos princípios da insignificância e
da intervenção mínima no direito brasileiro, 2011, disponível em:
http://www.conteudojuridico.com.br/artigo,a-teoria-da-janela-quebrada-e-a-politica-da-tolerancia-zero-face-
aos-principios-da-insignificancia-e-da-interv,32244.html
P á g i n a | 22

3. PROIBIÇÃO, DESPENALIZAÇÃO, DESCRIMINALIZAÇÃO E LEGALIZAÇÃO

Conseguimos traçar um panorama histórico da trajetória proibicionista no


mundo e seus reflexos no território brasileiro, sendo aplicado muitas vezes sem
observar as peculiaridades e detalhes únicos da identidade cultural e
comportamental - aqui vigente - fruto incomparável da mistura étnica brasileira.

Sendo assim, vamos abordar os aspectos legais sobre a proibição e as


alternativas legais ao uso. Inicialmente devemos considerar que existem diferentes
níveis possíveis de ofensa, elas variam de não ofensivo, até a ofensa criminal, que
geralmente é punida.

Estes níveis de ofensa podem ser separados em comportamentos


geralmente proibidos e comportamentos que são geralmente permitidos. O primeiro
termo que analisaremos é a proibição.

Antes de abordamos o sentido jurídico-legal do termo proibição, quero


destacar um texto histórico escrito por Antoine Marie, poeta e ator, francês, que por
meio de uma carta enviada aos legisladores da época que estariam formulando leis
probicionistas, consegue fazer uma triste constatação que permanece atual.

Senhor Legislador:
“ Senhor legislador da lei 1936, aprovada por decreto em julho de 1917; sua
lei não serve para nada mais que fastidiar a farmácia mundial sem proveito
nenhum para o nível toxicômano da nação, porque:
1. O número de toxicômanos que se abastece na farmácia é ínfimo.
2. Os verdadeiros toxicômanos não se abastecem nas farmácias;
3. Os toxicômanos que se abastecem nas farmácias são todos doentes;
4. O número de toxicômanos doentes é ínfimo em relação ao de
toxicômanos voluptuosos;
5. As restrições farmacêuticas da droga não reprimirão jamais aos
toxicômanos voluptuosos e organizados;
6. Haverá sempre traficantes;
7. Haverá sempre toxicômanos por vício de forma, por paixão;
8. Os toxicômanos doentes têm sobre a sociedade um direito
imprescritível, que é o de que sejam deixados em paz. [...] ” (Grifo
próprio)43

Ou seja, resta evidente que a política de guerra as drogas nunca terão


sucesso, nas palavras do poeta supramencionado, “As restrições farmacêuticas da

43
SIQUEIRA, Domiciano, Mal(dito) Cidadão numa Sociedade com Drogas, King Graf, São Paulo, 2006, p. 17
P á g i n a | 23

droga não reprimirão jamais aos toxicômanos voluptuosos e organizados”, frase


essa que infelizmente nos persegue até os diais atuais, onde os governantes ainda
lutam a favor do proibicionismo, em nome do suposto bem comum, fechando os
olhos para grande parte da população que como dito acima são os toxicômanos
voluptuosos.

3.1 Da Proibição

A proibição com já explanado indiretamente nos capítulos acima se trata da


conduta classificada pela sociedade como imprópria, imoral e passível de punição,
nas palavras de Nucci:

“Em verdade, é a sociedade a criadora inaugural do crime, qualificativo


que reserva às condutas ilícitas mais gravosas e merecedoras de maior
rigor punitivo. Após, cabe ao legislador transformar esse intento em figura
típica, criando a lei que permitirá a aplicação do anseio social aos casos
concretos. “ (Grifo próprio)44

Portanto, o tipo penal pode se alterar de acordo com o tempo e a sociedade


que observamos, uma conduta pode ser tipificada virando tipo penal ou deixar de ser
por meio do Abolitio criminis ou alguma normal regulamentadora que altera a então
vigente seja in Mellius, seja in Pejus, tudo a depender do anseio popular e da
positivação do legislador, nas palavras de Nelson Hungria o conceito jurídico do
crime seria:

Crime é o ilícito penal. Mais precisamente: é O fato (humano) típico (isto é,


objetivamente correspondente ao descrito in abstracto pela lei), contrário ao
direito, imputável a título de dolo ou culpa e a que a lei contrapõe a pena
(em sentido estrito) como sanção específica.45

Nelson Hungria era adepto da corrente majoritária sobre a Teoria do Delito,


que influenciou inúmeras legislações ao redor do mundo, formulada por Liszt e
Beling, se traduz na máxima, o crime é uma ação ou omissão humana, típica,
antijurídica e culpável, como lecionado por Eugênio Zaffaroni e José Pierangeli:

44
NUCCI, Guilherme, Código Penal Comentado, FORENSE, Rio de Janeiro, 2017, P.76
45
HUNGRIA, Nelson, Comentários ao Código Penal, Forense, Rio de Janeiro, 1978, p.9
P á g i n a | 24

“[...] é uma conduta humana individualizada mediante dispositivo legal (tipo)


que revela sua proibição (típica), que por não estar permitida por
nenhum preceito jurídico (causa de justificação) é contrária à ordem
jurídica (antijurídica) e que, por ser exigível do autor que agisse de
maneira diversa diante das circunstâncias, é reprovável (culpável). ” 46

Dessa forma, aquele que, importar, exportar, remeter, preparar, produzir,


fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar,
trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo, fornecer ou
ainda, adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para
consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação
legal, cometerá ação humana, típica, antijurídica e culpável.

3.2 Da Despenalização

É aqui que algo que era uma ofensa criminal que normalmente era punida, é
alterada, continuando a ser um crime, mas agora há um mecanismo que decide que
não será mais punido. Podendo ser considerado suspenso, de menor potencial
lesivo ou pode ser decidido que não há interesse público em processar.

O uso de drogas no Brasil atingiu esse primeiro degrau, pois, o artigo 28 da


lei, objeto do presente estudo, é um exemplo evidente do instituto da
despenalização, visto que a lei 11.343/06 ao revogar a então vigente lei nº 6.368/76
brandiu a pena que vigorava no art. 16, qual seja:

Art. 16. Adquirir, guardar ou trazer consigo, para o uso próprio, substância
entorpecente ou que determine dependência física ou psíquica, sem
autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar:
Pena - Detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e pagamento de (vinte)
a 50 (cinqüenta) dias-multa.47

Hoje o texto legal que rege o assunto tem a seguinte redação:

46
ZAFFARONI, Eugênio Raúl; PIERANGELI, José Henrique. Manual de Direito Penal brasileiro: parte geral. 7. ed.
rev. e atual. São Paulo: RT, 2007, p.340-341, apud, TEIXEIRA, André, Direito Penal Geral [online], 2015, p. 47,
disponível em: https://direitorio.fgv.br/sites/direitorio.fgv.br/files/u100/direito_penal_geral_2015-2.pdf
47
BRASIL, Lei de Drogas nº 6.368, de 21 de outubro de 1976 [Revogada], disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L6368.htm
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Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer


consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo
com determinação legal ou regulamentar será submetido às seguintes
penas:
I - Advertência sobre os efeitos das drogas;
II - Prestação de serviços à comunidade;
III - Medida educativa de comparecimento à programa ou curso educativo.48

Ou seja, ocorreu uma despenalização da conduta, antes penalizada com


Detenção, hoje o usurário de drogas não sofre mais com a pena restritiva de
liberdade.

Temos também outras figuras que atenuam o uso, como o tráfico


privilegiado que não se enquadra perfeitamente na despenalização mas pode ser
um passo nesse caminho.

3.3 Da Descriminalização

A seguir, temos o termo descriminalização que geralmente é usado quando


o status de um crime é reclassificado de criminoso para não criminoso dentro de um
marco legal no pais. Ainda se trata de uma ofensa, um comportamento proibido, que
será atuado pela polícia e punido, mas não é mais considerado criminoso. Um
exemplo simples desse status são as infrações de transito, como estacionar de
forma erronia é uma ofensa, que é proibida e punida, mas não pode ser considerada
criminoso.

Além do exemplo Brasileiro retirado do sitio do Tribunal de Justiça do Distrito


Federal e dos Territórios sobre a pichação e o grafite vejamos o que leciona a
aludida matéria:

Por exemplo, a Lei n. 12.408/11 alterou a redação do artigo 65 da Lei n.


9.605/98 e acrescentou um novo parágrafo no dispositivo com a expressa
intenção de descriminalizar o ato de grafitar, que era uma conduta
considerada como crime. 49

48
BRASIL, Lei de Drogas nº 11.343, de 23 de agosto de 2006 [Vigente], disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11343.htm
49
ACS, TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS TERRITÓRIOS, DESCRIMINALIZAÇÃO X
LEGALIZAÇÃO, 2017, disponível em: https://www.tjdft.jus.br/institucional/imprensa/campanhas-e-
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Vejamos o referido dispositivo que descriminalizou a conduta de grafitar:

Art. 65. Pichar, grafitar ou por outro meio conspurcar edificação ou


monumento urbano:
§ 2o Não constitui crime a prática de grafite realizada com o objetivo de
valorizar o patrimônio público ou privado mediante manifestação artística,
desde que consentida pelo proprietário e, quando couber, pelo locatário ou
arrendatário do bem privado e, no caso de bem público, com a autorização
do órgão competente e a observância das posturas municipais e das
normas editadas pelos órgãos governamentais responsáveis pela
preservação e conservação do patrimônio histórico e artístico nacional.
(Incluído pela Lei nº 12.408, de 2011)50

Tanto a “despenalização” como a “descriminalização” referem-se a mudança


no status legal, e são frequentemente usadas para descrever possíveis opções para
mudar a resposta de um pais a ofensas relacionadas ao uso de drogas.

3.4 Da Legalização

O terceiro termo frequentemente usado para mudanças nas leis de drogas é


a legalização, aplicamos este termo ao fornecimento de medicamentos, e o usamos
para descrever um movimento de uma proibição comportamento (criminoso ou não)
para um comportamento permitido.

A proposta de legalização pode ser dita como uma ofensa em circunstâncias


definidas, de maneira regulada, No Brasil temos o exemplo do que ocorre com o
álcool e o tabaco, onde existem regras especificas para regular o fornecimento –
como o limite de idade para os compradores e uma licença vendedores, como
exemplo na legislação pátria temos a lei nº 9.294/96 que dispõe sobre as restrições
ao uso e a propaganda de produtos fumígeros e bebidas alcoólicas, vejamos:

Art. 3o-A Quanto aos produtos referidos no art. 2 o desta Lei, são proibidos:
VI – a propaganda fixa ou móvel em estádio, pista, palco ou local similar;

produtos/direito-facil/edicao-semanal/descriminalizacao-x-legalizacao
50
BRASIL, LEI Nº 12.408, DE 25 DE MAIO DE 2011, altera o art. 65 da Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998,
disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12408.htm
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IX – a venda a menores de dezoito anos.51

No mesmo sentido regulamentador a lei nº 13.106/15, insere no Estatuto da


Criança e do Adolescente a tipificação penal para quem vender, servir, ministrar ou
entregar bebida ao menor, ou seja, outra limitação ao consumo:

Art. 1ª O art. 243 da Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990 - Estatuto da


Criança e do Adolescente, passa a vigorar com a seguinte redação:
“Art. 243. Vender, fornecer, servir, ministrar ou entregar, ainda que
gratuitamente, de qualquer forma, a criança ou a adolescente, bebida
alcoólica ou, sem justa causa, outros produtos cujos componentes possam
causar dependência física ou psíquica:
Pena - detenção, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa, se o fato não
constitui crime mais grave.” (NR)52

Ou seja, o consumo e venda do álcool é legalizada, permitida, contudo, é


necessário observar os ditames legais e as regras que restringem o consumo, como
no caso dos menores de idade.

Dessa forma, resta evidente a possibilidade de transação da substancia de


um campo, dito como proibido, para a seara legalizadora-reguladora.

Por último, se não há regras específicas sobre os limites de fornecimento,


estamos falando de um mercado livre. Este é, por exemplo, o caso da venda de
produtos como o café, que embora haja regras gerais não existem regramentos
limitadores, aperas parâmetros sanitaristas para o consumo.

51
BRASIL, LEI Nº 9.294, DE 15 DE JULHO DE 1996, restrições ao uso e à propaganda de produtos fumígeros,
bebidas alcoólicas, disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9294.htm.
52
BRASIL, LEI Nº 13.106, DE 17 DE MARÇO DE 2015, altera a Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990 - Estatuto da
Criança e do Adolescente, disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-
2018/2015/lei/l13106.htm.
P á g i n a | 28

4. DOS MODELOS ESTRANGEIROS VIGENTES

O direito comparado é considerado por muitos juristas como ferramenta de


grande valia nos estudos da ciência jurídica não apenas por comparar institutos de
pátrias diferentes, mas também forma de evolução do conhecimento jurídico,
conforme leciona o professor Francisco Ovídio, vejamos:

“Importância do Direito Comparado tem sido destacada não só pelos


juscomparativistas como, também, pelos estudiosos do Direito em geral.
Constitui o seu estudo um dos planos mais significativos da Ciência Jurídica
na atualidade. A pesquisa jurídica comparativista contribui de forma
marcante para a evolução e o alargamento das fronteiras do conhecimento
jurídico. ”53

Dessa forma, a seguir irei expor os modelos vigentes em alguns lugares do


planeta, verificaremos as possibilidades jurídico-legislativas aplicadas em outras
sociedades, por fim prospectarei as possíveis mudanças que o Brasil poderá adotar,
para isso, começaremos a observar o modelo holandês que já possui 40 anos de
vigência54.

4.1 DO MODELO HOLANDES

Podemos dizer que a Holanda na era moderna foi o primeiro grande pais do
ocidente a mudar sua política contra as drogas, verificando que os esforços e efeitos
da até então política vigente não surtiam efeitos benéficos a sua sociedade bem
como seus cofres públicos, decidiram tentar outras alternativas para “combater”, lidar
com as drogas na sua sociedade, segundo o professor Alex Stevens a Holanda:

A Holanda tem sido considerada como pioneira global em política de


droga, muitas vezes relacionada às alterações em sua legislação de drogas
em 1076, quando foi criada uma divisão legal entre drogas leves e pesada.
Tecnicamente, a legislação de 1076 continuou a criminalizar a posse e a
oferta de drogas, mas as diretrizes para a incriminação, introduzias ao
mesmo tempo, são a base para a estrutura da descriminalização. Essas
diretrizes determinam que o fornecimento e porte de cannabis devam ser a

53
54
VAN, Marianne, The Dutch Coffee Shop System, Tension and Benefits, Ministry of Security and Justice, the
Netherlands, Apud; Jansen, supra note 8, at 98; KORF, supra note 8, at 70; MARCO MEESTERS, HET FAILLIET
VAN HET GEDOGEN: OP WEG NAAR DE CANNABISWET [BANKRUPTCY OF THE DECEASED: ON THE WAY TO THE
CANNABIS LAW]
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menor prioridade da polícia e promoters de justiça. (Grifo próprio)55

O principal documento holandês que disciplina sobre o uso de droga é o


Opium Act, documento redigido em 1928 sendo aplicado em todo território dos
países baixos.
A legislação, Opium Act, possui duas listas onde estão classificadas as
drogas ditas como leves e as drogas ditas como pesadas, as drogas de ambas as
listas são proibidas conforme extraído do artigo 2 e 3 da referida lei, contudo no
artigo 11 há a exceção, visto que a Holanda regulamentou o uso até determinada
quantidade, trinta gramas. Vejamos o referido dispositivo:

Article 11
1. A person acting contrary to a prohibition given in Article 3 shall be
punished with imprisonment of at most one month or a fine of the second
category.
2. A person wilfully acting contrary to a prohibition given in Article 3, under B,
C or D, shall be punished with imprisonment of at most two years or a fine of
the fourth category.
3. A person wilfully acting contrary to a prohibition given in Article 3, under B,
in connection with practising a profession or operating a business shall be
punished with imprisonment f at most four years or a fine of the fifth
category.
4. A person wilfully acting contrary to a prohibition given in Article 3, under A,
shall be punished with imprisonment of at most four years or a fine of the
fifth category.
5. The second paragraph shall not apply if the offence pertains to a
quantity of hemp or hashish of at most 30 grams.
6. The second and fourth paragraph shall not apply if the offence pertains to
a small quantity, intended for personal use, of the drugs stated in list referred
to in Article 3, first paragraph. (Grifo próprio)56

No mais, em 1996 ocorreu a redução da quantidade permitida, sendo


reduzida de trinta gramas para cinco gramas por uso pessoal por dia.

Toleration policy regarding soft drugs


The Netherlands has a policy of toleration regarding soft drugs. This means

55
STEVENS, A Drugs, Crime and Public Health: the political economy of drugs policy. Reino Unido: Routledge,
2010, pp.120-122, apud HUET, Marcos, Política de Drogas: O Modelo Brasileiro Está Sendo Eficaz? 2012, p. 61.
56
Tradução própria: Artigo 11 1. Quem agir contrariamente à proibição prevista no artigo 3.º é punido com
pena de prisão de um mês ou multa da segunda categoria. 2. Uma pessoa agindo deliberadamente contrária à
proibição prevista no artigo 3, em B, C ou D, é punido com pena de prisão de no máximo dois anos ou uma
multa da quarta categoria. 3. Uma pessoa agindo deliberadamente contrária à proibição prevista no artigo 3.º,
no ponto B, no exercício de uma profissão ou atividade comercial é punida com pena de prisão de quatro anos
ou multa da quinta categoria. 4. A pessoa que intencionalmente agir contrariamente à proibição prevista no
artigo 3.º, letra A, é punida com pena de prisão máxima de quatro anos ou multa da quinta categoria. 5. O
segundo parágrafo não é aplicável se a infracção disser respeito a uma quantidade de cânhamo ou haxixe de,
no máximo, 30 gramas. 6. O segundo e o quarto parágrafos não se aplicam se a infracção disser respeito a uma
pequena quantidade, destinada a uso pessoal, dos medicamentos indicados na lista referida no primeiro
parágrafo do artigo 3.º (Grifo próprio). HOLANDA, Opium Act, 1928, disponível em:
http://www.cannabismed.org/dutch/Regulations/Opium_Act.pdf
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that the sale of soft drugs in coffee shops is a criminal offence but the Public
Prosecution Service does not prosecute coffee shops for this offence.
Neither does the Public Prosecution Service prosecute members of the
public for possession of small quantities of soft drugs. These quantities are
defined as follows:
No more than 5 grams of cannabis (marijuana or hash);
No more than 5 cannabis plants.57

A Holanda desde então adota a política dos “coffeeshops”, restringindo o uso


e a quantidade das substancias controladas, a determinados espaços e a
determinadas pessoas, portanto, o Ministério público não realiza a persecução
penal, dispensando a denúncia. As regras para o consumo e venda em suma são as
listadas abaixo, retiradas diretamente do sitio do Governo Holandês, abaixo
expostas:

Dutch coffee shop criteria


Original 1994 ‘AHOJ-G’criteria (Staatscourant, 1994)

No Advertising: no more than (very) low profile signposting of the facility


No Hard drugs: these may not be sold or held on the premises
No Nuisance (Overlast in Dutch): including traffic and parking, loitering,
littering and noise
No sales to under-aged customers (Jeugdigen) and no admittance ofunder-
aged customers to coffee-shops. (Minimum age was set to 18 in 1996)
Transaction size is limited to ‘personal use,’ defined as 30 Grams per
personper coffee shop per day (Transaction size was lowered to 5 grams in
1996).Since 1996, this criterion also included to the limited trade stock of
coffeeshops (no more than 500 grams)
b. Criteria added in 2012 (Aanwijzing Opiumwet, 2012)
Coffee shops needed to be small and membership-only (Besloten)
(Abolished in January 2013)
ICoffee shops are only open to residents of the Netherlands
(Ingezetenen).Introduced nationally on January 1, 201358

Fica evidente a preocupação do governo Holandês com seus cidadãos, ao

57
Tradução Própria: Política de tolerância em relação às drogas leves A Holanda tem uma política de tolerância
em relação às drogas leves. Isso significa que a venda de drogas leves em cafeterias é crime, mas o Ministério
Público não processa cafeterias por esse delito. O Ministério Público também não processa membros do
público por posse de pequenas quantidades de drogas leves. Essas quantidades são definidas da seguinte
forma: Não mais que 5 gramas de cannabis (maconha ou haxixe); Não mais que 5 plantas de cannabis.
Government of the Netherlands, Toleration policy regarding soft drugs and coffee shops, disponível em:
https://www.government.nl/topics/drugs/toleration-policy-regarding-soft-drugs-and-coffee-shops
58
Tradução própria: Critérios da loja de café holandesa Original 1994 "AHOJ-G'criteria (Staatscourant, 1994)
Nenhuma propaganda: não mais que (muito) sinalização de baixo perfil da instalação. Sem drogas pesadas:
estas não podem ser vendidas ou mantidas nas instalações. Sem incômodo (Overlast em holandês): incluindo
tráfego e estacionamento, vadiagem, lixo e ruído. Nenhuma venda a clientes menores de idade (Jeugdigen) e a
não entrada de clientes menores em lojas de café. (Idade mínima foi fixada em 18 em 1996) O tamanho da
transação é limitado a 'uso pessoal', definido como 30 gramas por pessoa por dia (o tamanho da transação foi
reduzido para 5 gramas em 1996). Desde 1996, esse critério também incluiu o estoque limitado de co-eshops
(não mais que 500 gramas) b. Critérios adicionados em 2012 (Aanwijzing Opiumwet, 2012). As lojas de café
precisavam ser pequenas e serem apenas membros (Besloten) (Abolido em janeiro de 2013) Oficinas ICo are ee
só estão abertas a residentes dos Países Baixos (Ingezetenen). Introduzidas nacionalmente em 1 de janeiro de
2013.GRUND, BREEKSEMA; Jean, Joost, Drug policy in the Netherlands, p.133
P á g i n a | 31

contrário do que o senso comum imagina, a Holanda possui regras que para alguns
pode ser dita como rígidas, restringindo a atuação dos Coffeeshops.
Como é possível observar, os Coffeeshops não podem fazer propaganda,
“no Advertising”, não podem vender drogas pesadas, não podem perturbar a ordem
pública, não podem vender a menores de idade ou quantias maiores que 5 gramas
de Maconha por pessoa, além de não poderem possuir mais que 500 gramas em
estoque. A Holanda possui duas listas de drogas sendo subdividas entre pesadas e
leves, conforme explorado por Edward MacRae:

“A partir de 1976, foram estabelecidas duas classes de drogas:


a) Lista 1 (drogas pesadas) - Consideradas como apresentando riscos
inaceitáveis à sociedade. Inclui heroína, cocaína, anfetaminas, LSD e
ecstasy.
b) Lista 2 (drogas leves) - Produtos tradicionais da Cannabis como maconha
e haxixe. “59

Ato continuo, existem diversos fatores do porque a legislação Holandesa é


eficiente e foi positivada de forma pioneira - na contramão do mundo - conforme
explica o escritor Denis Russo um deles seria:

“Um dos motivos pelos quais a Holanda agiu diferente dos Estados
Unidos e de outros países europeus foi o fato de ser uma nação muito mais
homogênea, sem tantas misturas étnicas. Enquanto nos Estados Unidos
negros e mexicanos fumavam maconha, na Inglaterra eram indianos e em
boa parte da Europa eram árabes, na Holanda a flor da canábis ficou mais
difícil demonizar a droga. “Nos anos 1960, nossas penas eram muito duras,
e alguns garotos foram condenados a cinco, seis anos de cadeia. Acontece
que às vezes eram filhos de um amigo do juiz. Ficou claro que eles não
eram perigosos, que muitos eram ativos, estudiosos, trabalhadores, e que
as penas eram excessivas. (Grifo próprio) ”60

Em arremate, conforme informado no relatório elaborado pela Comissão


global de política sobre drogas a Holanda possui o menor índice de overdose, senão
vejamos:
A Holanda tem o menor percentual de dependentes de heroína dentre
15 países da União Européia e também o menor percentual de usuários
problemáticos. [...] O número de usuários problemáticos de heroína caiu
significativamente e a idade média dos usuários aumentou
consideravelmente. A oferta em larga escala de tratamentos de primeira
linha voltados para a redução de danos inclui trocas de seringas e a
prescrição de metadona e heroína sob condições estritamente controladas.
Constatou-se que, na Holanda, a prescrição médica da heroína como forma

59
MACRAE, Edward, A legislação e a Política de Drogas na Holanda, p. 3 disponível em:
http://www.twiki.ufba.br/twiki/pub/CetadObserva/Outros/A_Legislacao_e_a_Politica_de_Drogas_na_Holanda
.pdf
60
RUSSO, Denis, O Fim da Guerra – A Maconha e a Criação de um Novo Sistema para lidar com Drogas, 2011,
São Paulo.
P á g i n a | 32

de tratamento reduziu os pequenos delitos e perturbações da ordem


pública, e teve efeitos positivos na saúde das pessoas que lutam contra a
dependência. Em 2001, o número estimado de pessoas dependentes de
heroína na Holanda oscilava entre 28.000 e 30.000. Em 2008, o número
caiu para 18.000. A população holandesa de usuários de opiáceos está em
processo de envelhecimento – a proporção de usuários jovens (entre 15 e
29 anos) que recebem tratamento também diminuiu.61

Destarte, a Holanda mesmo legalizando o uso das drogas leves e cuidando


por meio dos planos de redução de danos, como oferecimento de seringa aos
dependentes, conseguiu reduzir os números de usuários, dependentes e mortes por
overdose em seus país, comparado com outros países integrantes do bloco da
União Europeia, os dados falam por si.
Abaixo analisaremos como os uruguaios conseguiram alterar sua lei de
drogas e regulamentar o uso, veremos quais os benefícios e/ou malefícios que
acompanharam essas medidas.

4.2 DO MODELO URUGUAIO

Os nossos vizinhos de continente foram pioneiros da América latina em


Estatizar o uso da maconha em seu território, como veremos abaixo em maiores
minucias.

Insta mencionar, que a mudança legislativa sobre as drogas no país se


iniciou com a entrada do presidente Mujica no poder do Estado Uruguaio, aprovando
a Lei que regula o uso de Maconha no território nacional, segundo síntese da Eline
Reis:

“Destaca-se que a regulamentação e o controle estatal do mercado da


maconha foram aprovados pelo Poder Legislativo do Uruguai, em dezembro
de 2013, e ratificado através da Lei 19.172 – uma iniciativa do Poder
Executivo pressionado pelos movimentos sociais e liderada pelo presidente
José Mujica. ” 62

Ao contrário do que ocorreu em alguns Estados dos Estados Unidos da


América, como no Colorado e Califórnia, que abriram o mercado e permitiram a

61
Comissão Global de Políticas Sobre Drogas, Guerra às Drogas, 2011, p.9
62
REIS, Eline, Trajetória Legal da Cannabis na Espanha, no Uruguai e nos Estados Unidos: Uma análise da
Regulamentação da Maconha à Luz da corrente ecossocialista, UFBA, Salvador, 2017, p.59, disponível em:
https://repositorio.ufba.br/ri/bitstream/ri/25413/1/A%20TRAJET%C3%93RIA%20LEGAL%20DA%20CANNABIS%
20NA%20ESPANHA%2C%20NO%20URUGUAI%20E%20NOS%20ESTADOS%20UNIDOS.%20UMA%20AN%C3%81
LISE%20DA%20REGULAMENTA%C3%87%C3%83O%20DA%20MACONHA%20%C3%80%20LUZ%20DA%20CORRE
NTE%20ECOSSOCIALISTA.pdf
P á g i n a | 33

ampla concorrência, o Uruguai Estatizou de ponta a ponta sua produção, como


lecionado por Pablo e Mayara em seu estudo comparativo:

Outro aspecto que chama a atenção e torna a iniciativa do Uruguai única é


que o controle de todo o sistema é estatal, ou seja, todo o ciclo da
cannabis passa pelo Estado, desde o seu cultivo, comércio e consumo, tudo
isso previsto no artigo 5º e 18º da lei que cria um órgão especialmente para
este fim, o Instituto de Regulación y Control de Cannabis (IRCCA), como
pessoa jurídica de direito público não estatal, que fica responsável por
regular e fiscalizar as ações da nova política. (Grifo nosso) 63

O Uruguai decidiu agir e pensar de maneira racional o problema drogas,


colocando fim a demagogia que sempre repousou sobre o tema. Demagogia essa
que conduziu diversas políticas populistas antidrogas, onde o problema nunca era
resolvido.

Conforme retirado da Lei nº 19.172 que regula o uso da maconha no


Uruguai o objetivo da legalização foi:

Artículo 4º.- La presente ley tiene por objeto proteger a los habitantes del
país de los riesgos que implica el vínculo con el comercio ilegal y el
narcotráfico buscando, mediante la intervención del Estado, atacar las
devastadoras consecuencias sanitarias, sociales y económicas del uso
problemático de sustancias psicoactivas, así como reducir la incidencia del
narcotráfico y el crimen organizado.

A tales efectos, se disponen las medidas tendientes al control y regulación


del cannabis psicoactivo y sus derivados, así como aquellas que buscan
educar, concientizar y prevenir a la sociedad de los riesgos para la
salud del uso del cannabis, particularmente en lo que tiene que ver con el
desarrollo de las adicciones. Se priorizarán la promoción de actitudes
vitales, los hábitos saludables y el bienestar de la comunidad, teniendo en
cuenta las pautas de la Organización Mundial de la Salud respecto al
consumo de los distintos tipos de sustancias psicoactivas. (Grifo próprio) 64

Ou seja, estamos diante de mais um exemplo que demonstra como a


positivação do uso traria benefícios, visto que, no Uruguai o objetivo da
63
ORNELAS, ROSA, Pablo, Mayara, POLÍTICAS SOBRE CANNABIS: UM ESTUDO COMPARATIVO
SOBRE OS MODELOS DA ESPANHA, URUGUAI E COLORADO/EUA, Geographia Opportuno Tempore
Universidade Estadual de Londrina, 2018, p. 51
64
Tradução própria: Artigo 4.- Esta lei visa proteger os habitantes do país dos riscos envolvidos em conexão
com o comércio ilegal e o tráfico de drogas pesquisar através de intervenção do Estado, atacando as
consequências devastadoras consequências sanitárias, sociais e econômicos do uso problemático substâncias
psicoativas e reduzir a incidência de drogas e o crime organizado.Para este fim, medidas para controlar e
regular cannabis psicoativas e seus derivados estão disponíveis e aqueles que procuram educar, sensibilizar e
prevenir a sociedade contra os riscos para a saúde do consumo de cannabis, particularmente no que se tem
que ver com o desenvolvimento de vícios. Será dada prioridade à promoção de atitudes vitais, hábitos
saudáveis e bem-estar da comunidade, levando em conta as diretrizes da Organização Mundial da Saúde em
relação ao consumo de diferentes tipos de substâncias psicoativas. URUGUAI, Ley º 19.172 Marihuana y sus
Derivados, disponível em: https://legislativo.parlamento.gub.uy/temporales/leytemp6625043.htm
P á g i n a | 34

regulamentação é “ proteger os habitantes do país dos riscos que implicam o vínculo


com o comercio ilegal e o narcotráfico, ” esse objetivo seria atingido por meio da
“educação, conscientização e prevenção da sociedade”, portanto, o Estado cumpri
seu papel encerrando com a demagogia e atacando frontalmente o problema.

Além do mais - segundo estudos – e seguida a tendência da Holanda e de


outros países que regulamentaram o uso, retirando o uso do âmbito proibicionista
para a esfera legalista, resultando na queda do número de mortes ligado ao tráfico,
senão vejamos:

“Já, no que diz respeito à diminuição da criminalidade, em meados de 2014,


após a implementação da lei, o governo do Uruguai afirmou, através de
Julio Calzada durante debate promovido pela Comissão de Direitos
Humanos, no Brasil, de que o número de mortes ligadas ao tráfico,
cultivo e consumo de cannabis tinha caído para zero. ” (Grifo próprio)65

No Uruguai existe três maneiras de conseguir utilizar a maconha, sendo


elas, o plantio individual, a compra em farmácias e os Clubes de Membresia, todos
os meios de compra são regulados e devem se dar de acordo com a lei, além do
mais há limite para compra nas farmácias e um processo burocrático de
cadastramento e demanda da maconha Estatal.

4.3 DO MODELO AMERICANO DO ESTADO DO COROLADO

Os Estados Unidos da América, diferente dos países aqui citados, possui a


organização do estado diferenciada, segundo Torquato Lorena Jardim, nos EUA os
Estados possuem forte influência na política Nacional e não o inverso como
acontece aqui onde a União exerce grande influência sobre os estados, vejamos:

“A decisão de reter os Estados na União determina o caráter básico das


relações intergovernamentais nos Estados Unido. Num certo sentido,
quase não há um governo nacional naquele país. O Congresso,
Presidente, os tribunais – toda a administração nacional – refletem fortes
interesses dos Estados. ” (Grifo próprio)66

65
O GLOBO, Uruguai não tem mortes ligadas ao tráfico desde que legalizou maconha, Reportagem, 2014,
disponível em: https://oglobo.globo.com/sociedade/uruguai-nao-tem-mortes-ligadas-ao-trafico-desde-que-
legalizou-maconha-diz-secretario-12705265
66
JARDIM, Torquato, Aspectos do federalismo norte-americano, R. Inf. Legisl. Brasília a. 21 n. 82 abr/jun, 1984,
p.63
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Nos EUA os interesses locais prevalecem, às vezes afrontando as leis


Nacionais – como no caso do uso maconha – fazendo com que os Estados divirjam
nos temas, pena de morte, aborto e porte de armas, conforme retirado do estudo de
Pedro Vilardo:

“É essa a maior singularidade do ordenamento jurídico presente na


constituição dos EUA: uma ênfase na autonomia de decisão que dá aos
Estados um grau de independência que, na prática, faz com que os EUA
não se constituam como uma única localidade no tocante à postura em
relação a temas centrais como a pena de morte, o porte de armas, o aborto
e o consumo e distribuição de drogas como a maconha. ” (Grifo próprio)67

Dessa forma, O Estado do Colorado nos Estados Unidos da América foi


outro lugar do globo que decidiu alterar o vigente status quo da política de drogas,
ao perceber a ineficiência e os gastos do serviço públicos, em combater o
incombatível. O Colorado aprovou a regulamentação da maconha por meio de
consulta pública, o plebiscito:

Em 7 de novembro de 2000 o estado do Colorado aprovou, com 54% de


votos a favor em plebiscito, a emenda 20, tornando-se o quinto estado
americano a legalizar o uso medicinal da maconha. Aprovada a emenda,
pacientes passaram a poder comprar, com prescrição médica, até 2 onças
(aproximadamente 56,7 gramas) de maconha e a cultivar até seis plantas,
sendo no máximo 3 em flor ao mesmo tempo. 68

Outro ponto positivo que ocorreu no Colorado foi o aumento significativo na


arrecada tributaria sobre a maconha, muito superior ao esperado, ocasionando até
um dia livre de impostos, vejamos:

O Colorado, primeiro estado americano a legalizar a maconha recreativa, se


espantou com a quantidade de impostos recolhidos com a venda da droga
no ano fiscal encerrado em junho. Foram US$ 70 milhões (R$ 272 milhões)
de receitas geradas, quase o dobro dos US$ 40 milhões (R$ 144,5 milhões)
previstos. E o que fazer com esse ótimo problema a ser resolvido? A
resposta foi um dia de venda de maconha legalizada livre de impostos. Ou
seja: todos os consumidores que passaram pelas lojas oficiais nesta quarta-
feira (16) economizaram cerca 25% do valor da compra. Além do dia de
descontos estatais, o Colorado também prevê a devolução de impostos aos
moradores em caso de arrecadação excessiva. Obedecendo uma emenda
estadual de 1992, os novos impostos no estado precisam ser referendados
pela população. Vem daí também a previsão para devolver aos
contribuintes os valores que superarem as estimativas.69

67
ALVES, Pedro, Impactos Econômicos da Legalização da Cannabis: A Experiência do Colorado, UFRJ, 2017, p.21
68
BARROS, Pedro, O efeito da legalização da maconha sobre a criminalidade no Colorado, Rio de Janeiro, 2016,
p.10, disponível em: http://www.econ.puc-
rio.br/uploads/adm/trabalhos/files/Pedro_Henrique_Magalhaes_Viana_de_Barros.pdf
69
REDAÇÃO REVISTA EXAME, Colorado recolhe R$ 272 mi com maconha e tem dia sem imposto [online], São
Paulo, 2018, reportagem disponível em: https://exame.abril.com.br/mundo/colorado-recolhe-r-272-mi-com-
maconha-e-tem-dia-sem-imposto/
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No mais, a regulamentação no Estado do Colorado se deu pela via do livre


mercado conforme consagrado na Constituição do Estado do Colorado, em seu
Artigo XVIII, Seção 16:

(1) Purpose and findings.

(a) In the interest of the efficient use of law enforcement resources,


enhancing revenue for public purposes, and individual freedom, the people
of the state of Colorado find and declare that the use of marijuana should be
legal for persons twenty-one years of age or older and taxed in a manner
similar to alcohol.

(b) In the interest of the health and public safety of our citizenry, the people
of the state of Colorado further find and declare that marijuana should be
regulated in a manner similar to alcohol so that:

(I) Individuals will have to show proof of age before purchasing marijuana;

(II) Selling, distributing, or transferring marijuana to minors and other


individuals under the age of twenty-one shall remain illegal;

(III) Driving under the influence of marijuana shall remain illegal;

(IV) Legitimate, taxpaying business people, and not criminal actors, will
conduct sales of marijuana; and

(V) Marijuana sold in this state will be labeled and subject to additional
regulations to ensure that consumers are informed and protected.70

O Estado do Colorado segue a tendência mundial, estabelecendo


parâmetros rígidos e adequados, para a venda e o consumo da maconha conforme
retirado do texto legal Estadual, não será possível a venda para menores de vinte e
um anos, bem como, a venda só poderá acontecer após o comprador se identificar
mostrando sua identificação que comprove a maioridade, como já acontece para
comprar álcool.
Não se pode dirigir sobre a influência de maconha também, tanto o cidadão

70
Tradução própria: (1) Propósito e conclusões.
(a) No interesse do uso eficiente dos recursos policiais, aumento da receita para fins públicos e liberdade
individual, as pessoas do estado do Colorado encontram e declaram que o uso da maconha deve ser legal para
pessoas de vinte e um anos de idade. idade ou mais e tributados de forma semelhante ao álcool.
(b) No interesse da saúde e da segurança pública de nossos cidadãos, o povo do estado do Colorado descobre e
declara que a maconha deve ser regulamentada de maneira similar ao álcool, de forma que:
(I) Indivíduos terão que mostrar prova de idade antes de comprar maconha;
(II) vender, distribuir ou transferir maconha a menores e a outras pessoas menores de vinte e um anos
permanecerá ilegal;
(III) Dirigir sob a influência de maconha permanecerá ilegal;
(IV) Empresários legítimos e pagadores de impostos, e não criminosos, conduzirão as vendas de maconha; e
(V) A maconha vendida neste estado será rotulada e sujeita a regulamentações adicionais para garantir que os
consumidores sejam informados e protegidos. COLORADO, Constituição Estadual, disponível em:
https://codes.findlaw.com/co/colorado-constitution-of-1876/co-const-art-xviii-sect-16.html
P á g i n a | 37

quanto o turista só podem comprar 28 gramas de maconha por transação. 71


´Por fim, vejamos o cenário nacional, os números e as possibilidades de
mudança com novas políticas públicas.

5. DAS POSSIBILIDADES POLÍTICO-BRASILEIRAS

Após todo o explanado, podemos chegar a algumas conclusões:


1- Não há necessariamente uma ligação entre a legalização e o aumento ou
diminuição no uso, a exemplo a Holanda que possui o menor índice de
morte por overdose da União Europeia.
2- Não há, também, estrita relação entre a legalização e o aumento da
violência.
3- Que a proibição inibe as pessoas a usarem as drogas.
Portanto, está evidente que a atual política de droga não resulta o efeito
esperado, que seria a redução da violência e a não existência de usuários ou
redução destes, contudo, o que acontece é o que vemos no nosso dia a dia, cadeias
superlotadas com os traficantes de drogas, aumento da violência decorrente do
encarceramento sub-humano, aumento dos usuários e a hipocrisia sobre os
moradores de comunidade subjugados diariamente.
Vejamos nas linhas a seguir um panorama nacional sobre a política de
drogas e seus resultados efetivos junto a possíveis alternativas, começaremos com
os custos da criminalização.

5.1 DOS VALORES DO TRÁFICO

A proibição das drogas além de direcionar recursos financeiros para uma


política que em suma “enxuga gelo” não trazendo resultado efetivos após décadas
de batalha contra as drogas, impede que o Estado arrecade os tributos decorrente
do plantio, produção, comercio, e suas relações jurídico tributarias que percorrem
suas etapas da linha de consumo, observemos a cadeia produtiva das drogas no
fluxograma abaixo:
TABELA 3 - Cadeia produtiva das drogas ilegais

71
POTGUILD, Marijuana Laws in Colorado, Denver, disponível em:
https://www.coloradopotguide.com/marijuana-laws-in-colorado/
P á g i n a | 38

72

Dessa forma, para quebrarmos essa complexa cadeia, ilustrada acima,


devemos adotar políticas efetivas de educação e regulamentação das drogas, para
pôr fim ao objeto que movimenta toda essa lucrativa roda.
Toda essa cadeia desagua no sistema judiciário e carcerário, ocupando
grande vulto dentro da administração pública, vejamos os gastos jurídicos
processuais no Brasil no ano de 2016:

TABELA 4 – Gatos jurídico processuais - Brasil

73

No estudo abaixo elaborado pelo senado por meio da consultoria legislativa


e demonstrada a estimativa da arrecadação caso as drogas fossem regulamentadas
e tributadas sob o mercado.

72
SOUZA; SILVA, Taciana; Ana, Guerra às drogas: a lógica econômica da proibição, REVISTA DO
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS – PUC MINAS, 2018, p.230
73
TEIXEIRA, Luciana, Impacto Econômico da Legalização das Drogas no Brasil, Câmara dos Deputados, 2016,
p.35
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TABELA 4 – Arrecadação tributária com a legalização das drogas por tributo - Brasil

74

A lista supramencionada, foi elaborada a partir da formula, usuário x


quantidade consumida por ano x o preço, totalizando o montante de R$ 12,8 bilhões
de reais.
A seguir em contraponto temos a tabela elaborada pela FUNAD, Fundo
Nacional Antidrogas, com os valores em reais dos valores arrecadados pela
alienação dos bens decorrente do crime tráfico de drogas e seus envolvidos.
TABELA 5 – Arrecadações do FUNAD

75

A referida alienação ocorre por meio do leilão como expresso no texto do


aludido relatório:

A alienação de bens, quando se tratar de venda, é realizada por


procedimento administrativo licitatório (leilão), que engendra levantamento,
desembaraço documental, avaliação, disponibilização do bem ao
conhecimento do público interessado e demais formalidades impostas pela
legislação em vigor. Esse procedimento é realizado diretamente pela
SENAD, ou por órgãos aos quais seja delegada competência para tal

74
TEIXEIRA, Luciana, Impacto Econômico da Legalização das Drogas no Brasil, Câmara dos Deputados, 2016,
p.27
75
DUARTE; STEMPLIUK; BARROSO, Paulina; Vladimir; Lúcia, Relatório Brasileiro Sobre Drogas, PRESIDÊNCIA DA
REPÚBLICA, gabinete de segurança institucional, secretaria nacional de políticas sobre drogas, 2009, p.308,
disponível em: http://www.in.gov.br/materia/-/asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/content/id/71137357
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mister, mediante convênios. O resultado financeiro obtido é depositado


em favor do FUNAD.76

Contudo, mesmo com a efetiva ação repressiva contra as drogas por parte
das instituições, resta evidente que os valores atualmente arrecadados pela FUNAD,
decorrente das ações policiais passam longe da possível arrecadação que surgiria
com a regulamentação e posterior tributação das drogas.

5.2 OS NÚMEROS DO SISTEMA CARCERÁRIO

Segundo Cesare Beccaria, as penas devem se alterar de acordo com a


mudança da sociedade e aquilo que ela anseia, hoje com o fenômeno da
globalização as mudanças ocorrem de forma muito mais acelerada e diversas
sociedades são postas como espelhos umas às outras.

Fato é que o ser humano evoluiu, tem uma perspectiva maior de vida, não
travar guerras por qualquer motivo e se mostra muito mais sensível ao mundo a sua
volta, hoje o homem moderno discute suas diferenças frente ao judiciário ou em
câmaras de conciliação e arbitragem provando que, cada vez mais a figura do
Estado paternal vem enfraquecendo. Para sedimentar essa ideia, faz-se útil a
transcrição do trecho do livro dos delitos e penas de Cesare Beccaria:

Termino por esta reflexão: que o rigor das penas deve ser relativo ao
estado atual da nação. São necessárias impressões fortes e
sensíveis para impressionar o espírito grosseiro de um povo que sai
do estado selvagem. Para abater o leão furioso é necessário o raio,
cujo ruído só faz irritá-lo. Entretanto, à medida que as almas se
abrandam no estado de sociedade, o homem se torna mais
sensível; e, caso se queira conservar as mesmas relações entre
o objeto e a sensação, as penas devem ser menos rigorosas.
(Grifo próprio)77

Portanto, o legislador e a sociedade precisam repensar de alguma forma a


atual legislação e como ele se reflete nas camadas mais pobres, e como as
péssimas condições do sistema carcerário influenciam diretamente a criminalidade,
todas as grandes facções do Brasil nasceram de dentro dos presídios como um
efeito colateral que o próprio sistema cria, a baixo um recorte a nível Nacional sobre
os presos pelos crimes de Associação para o tráfico e o tráfico internacional de

76
Idem
77
BECCARIA, Cesare, Dos Delitos e das Penas, Edipro, São Paulo, 2015, p. 55.
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drogas, vejamos:

Categoria: Quantidade de incidências por tipo penal Homens Mulheres Total


Quantidade de crimes tentados/ consumados 587.113 33.861 620.974
Grupo: Drogas (Lei 6.368/76 e Lei 11.343/06) 155.786 21.022 176.808
Grupo: Drogas (Lei 6.368/76 e Lei 11.343/06)
134.746 17.106 151.852
Associação para o tráfico (Art. 14 da Lei 6.368/76 e Art. 35 da
Lei 11.343/06) 16.765 3.409 20.174
Tráfico internacional de drogas (Art. 18 da Lei 6.368/76 e Art. 33
e 40, inciso I da Lei 11.343/06) 4.275 507 4.782
78

Sendo assim, podemos observar a influência negativa que a atual legislação


de drogas ocasiona sobre o sistema carcerário brasileiro, visto que a
discricionariedade é a regra conforme o já citado artigo 28, § 2º que contribui para o
encarceramento, para ilustrar coleciono um julgado do qual o magistrado não
observa a princípio constitucional da presunção de inocência ou o in dubio pro reo. 79

EMENTA: APELAÇÃO. TRÁFICO ILÍCITO DE ENTORPECENTES (ART.


33, CAPUT, DA LEI N.º 11.343/2006). PRELIMINAR DE NÃO
CONHECIMENTO DO APELO POR
INTEMPESTIVIDADE. REJEIÇÃO. ABSOLVIÇÃO.DESCLASSIFICAÇÃO.
USO DE DROGAS. IMPOSSIBILIDADE.
SUFICIÊNCIA DAS PROVAS. TESTEMUNHO DE POLICIAIS. VALIDADE.
DOSIMETRIA. REDUÇÃO. PENA-BASE. AUSÊNCIA DE
CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS DESFAVORÁVEIS. MÍNIMO LEGAL.
CAUSA DE DIMINUIÇÃO DA REPRIMENDA (ART. 33, § 4º, DA LEI N.º
11.343/06). DEDICAÇÃO À ATIVIDADE CRIMINOSA. IMPOSSIBILIDADE.
CONHECIMENTO E PROVIMENTO PARCIAL DO APELO. (…) – A
alegação de ser usuário de drogas, por si só, não importa na
desclassificação do crime que lhe foi imposto para a figura prevista no
art. 28 da Lei n.º 11.343/06, sendo de conhecimento geral que muitos
usuários se tornam traficantes como uma forma de arcar com o vício
em questão. (TJRN, Apelação Criminal n.º , C. Criminal, Rel. Des. Maria
Zeneide Bezerra, j. 16/12/2010).(ACR 37747 RN 2010.003774-7).”

Infelizmente, são esses tipos de condenações que geram a superlotação das


cadeias, o aumento da criminalidade e a disseminação da ignorância, reforçando o
tabu sobre as drogas.
Abaixo exponho o relatório de 2016 sobre a população carcerária,
complementando, reforçando e evidenciando a situação alarmante dos presídios, e
qual a população principal, aqueles que cometem o crime do tráfico...

78
BRASIL, Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias, Infopen, 2016.
79
MARTINS, Rodrigo, COMPREENDENDO A DISCRICIONARIEDADE NA APLICAÇÃO DA LEI Nº 11.343/2006 E A
RELAÇÃO DO AUMENTO DO CONTINGENTE CARCERÁRIO SOB A ÓTICA DA GUERRA ÀS DROGAS, International
Center for Criminal Studies, 2018, http://iccs.com.br/compreendendo-discricionariedade-na-aplicacao-da-lei-
no-11-3432006-e-relacao-aumento-contingente-carcerario-sob-otica-da-guerra-drogas/
P á g i n a | 42

80

Destarte, a sociedade Brasileira tem o dever, para evoluir, de debater a atual


política de drogas, reformulando o entendimento atual sobre a questão, matando
dois coelhos com uma cajadada só, resolvendo o problema carcerário, recebendo
valores decorrente da tributação e tratando seus cidadãos com o devido respeito e
liberdade que merecem.

CONCLUSÃO

A criminalidade no Brasil é um dos mais graves problemas que enfrentamos


atualmente e o uso de drogas é um dos fatores que exercem influência direta
alimentando e fomentando essa questão.

As drogas acompanham a humanidade há milhares de anos e sua


criminalização é recente se compararmos em termos históricos.

O Brasil sempre foi adepto do tradicional sistema norte-americano de


repressão e punição no que se refere às questões da droga. Porém, atualmente vem
mudando esta postura, uma vez que há algum tempo vem tentando implantar um
programa de redução de danos para os usuários. Mais recentemente, aprovou uma

80
DEPEN, Ministério da Justiça e Segurança Pública, Levantamento Nacional
DE INFORMAÇÕES PENITENCIÁRIAS, 2016, p. 43, disponível em: http://depen.gov.br/DEPEN/noticias-
1/noticias/infopen-levantamento-nacional-de-informacoes-penitenciarias-2016/relatorio_2016_22111.pdf
P á g i n a | 43

lei que ameniza a punição sobre quem faz uso de substâncias tóxicas, se
aproximando assim daqueles pensamentos que entendem que o problema das
drogas é uma questão de saúde pública e não criminal.

Ficou comprovado, através de referências autorais e pesquisas que a droga


exerce uma influência direta sobre a criminalidade, e que esta criminalidade gerada
pelas drogas se torna mais violenta e difícil de ser combatida, vitimizando toda a
sociedade, sem distinção.

É imprescindível que, concomitante à política de segurança pública


proposta, se promova a reestruturação de hospitais da rede pública e casas de
atendimento a drogados, a fim de se implantar um programa de recuperação de
dependentes químicos, atendendo desta forma aos dispositivos constantes na nova
legislação que contempla a matéria.

Tais medidas, mais do que amenizar a relação entre a violência e a


utilização das drogas, demonstrarão respeito do Poder Público em relação ao ser
humano, pois criminosos, usuários de drogas e vítimas, terão novas oportunidades
de exercer sua cidadania, cada um cumprindo seus deveres perante a sociedade, e
tornando-se efetivos sujeitos de direitos.

Desde os tempos mais remotos a droga está inserida em nosso meio.


Devido aos avanços da tecnologia e dos estudos no campo da farmacologia, houve
o desenvolvimento de novas substâncias capazes de alterar as percepções mentais
e físicas de quem as utilizavam. Em busca do mais alto nível de prazer e adrenalina,
os usuários podem, agora, transcender da realidade por mero deleite.

Atualmente é quase impossível controlar essas substâncias, visto que a todo


o momento novas drogas vão sendo inventadas e produzidas, dificultando a
proibição e até mesmo o conhecimento sobre as mesmas.

Em vista da fácil obtenção do produto e, até mesmo, do baixo custo


dependendo da droga, denota-se um número expressivo de usuários, principalmente
entre os jovens, mesmo com sua proibição.

A procura por essas substâncias se dá por diversos motivos, como por


exemplo a exclusão social, a ausência de afeto familiar, a curiosidade, a cultura, as
amizades, etc.
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O cenário vigente é preocupante, pois verifica-se que a política proibicionista


não alcançou êxito, o tráfico de drogas continua a acontecer sem parar, o número de
mortos em virtude da guerra as drogas continuam a aumentar.

Crimes em razão do uso de substâncias entorpecentes, como infrações


contra o patrimônio, homicídios e outros atos ilegais continuam sendo praticados

Averígua-se que o sistema carcerário não tem mostrado eficácia para lidar
com essa situação, pois na maioria das vezes, ao contrário de cumprir com seu
papel de sancionar, reabilitar e reeducar o indivíduo, acaba proporcionando o
retrocesso de caráter e comportamental, já que o cárcere é visto como a “escola do
crime”, não atingindo seu objetivo fundacional.

Muitas vezes o infrator cumprindo sua pena, na prisão continua utilizando


entorpecentes, verifica-se, portanto, que a política de prevenção pode ser uma
esperança ao combate das drogas, e consequentemente, minimize os crimes
cometidos em relação a cadeia da droga.

O Estado é garantidor dos direitos à saúde e à vida, devendo assim elaborar


uma nova política de drogas, individual e única, a fim de observar todas as
diferencias e peculiaridades que o Brasil possui, sem realizar uma simples cópia dos
modelos vigentes em outros lugares, quanto antes o país discutir de verdade o tema
e entender, sem pré-conceitos, os prós e os contras da regulamentação mais cedo
poderemos parar de financiar por meio de recursos públicos a morte e a ignorância.
P á g i n a | 45

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ALVES, Pedro, Impactos Econômicos da Legalização da Cannabis: A Experiência
do Colorado, UFRJ, 2017, p.21

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BECCARIA, Cesare, Dos Delitos e das Penas, 2017, p. 55.

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DEPEN, Ministério da Justiça e Segurança Pública, Levantamento Nacional DE


INFORMAÇÕES PENITENCIÁRIAS, 2016.

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