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RIO DE JANEIRO
2017
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Bruno Cuzzoni
Rio de Janeiro
2017
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AGRADECIMENTOS
RESUMO
O uso de drogas ilícitas no mundo é, de fato, um grande problema que atinge todos
os níveis: político, econômico e social. O principal uso de drogas ilícitas é o
“recreativo”, cujo contexto de uso está relacionado à diversão, à interação social, à
fuga dos problemas pessoais, etc. O potencial em causar efeitos adversos,
relacionados a distúrbios psiquiátricos, de drogas como cannabis, ecstasy (MDMA),
ácido lisérgico (LSD), cocaína (COC), e dimetiltriptamina (DMT) é,
inquestionavelmente, uma barreira para o uso em tratamentos medicamentosos. Por
outro lado, após um longo período de banimento dessas drogas, o interesse no uso
médico-farmacêutico vem ressurgindo. Portanto, o presente trabalho consistiu na
compilação dos efeitos farmacológico-terapêuticos destas drogas, assim como seus
respectivos potenciais terapêuticos por meio de uma revisão de literatura em bases
de dados científicas e agências regulatórias. Os resultados mostraram que todas as
drogas abordadas possuem potencial de tratamento de diferentes enfermidades e o
número de estudos clínicos registrados é mais expressivo para cannabis, menos
freqüente para MDMA e raros para, COC ou coca, DMT e LSD. Enquanto há uma
extensa literatura e medicamentos registrados à base de cannabis comprovando sua
eficácia e segurança para uso medicamentoso, há poucos estudos que sustentem a
eficácia e segurança das demais drogas abordadas.
ABSTRACT
The use of illicit drugs in the world is, in fact, a major problem that reaches all
levels: political, economical and social. The main use of illicit drugs is "recreational",
whose context of use is related to fun, social interaction, escape from personal prob-
lems, etc. The potential to cause adverse effects related to psychiatric disorders of
drugs such as marijuana, ecstasy (MDMA), lysergic acid (LSD), cocaine (COC), and
dimethyltryptamine (DMT) is unquestionably a barrier to its use in medical treat-
ments. On the other hand, after a long period of banning these drugs, the interest in
its medical-pharmaceutical use has resurfaced. Therefore, the present work consist-
ed in compiling the pharmacological-therapeutic effects of these drugs, as well as
their respective therapeutic potentials through a literature review in scientific data-
bases and regulatory agencies. The results showed that all the drugs studied have
potential for treatment of different diseases and the number of clinical studies regis-
tered is more expressive for cannabis, less frequent for MDMA and rare for COC or
coca, DMT and LSD. While there’s an extensive literature about cannabis-based
drugs, thus proving its efficacy and safety for medical use, there are fewer studies
that support the efficacy and safety of the other remaining drugs.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 8
2 OBJETIVOS ........................................................................................................................ 11
3 METODOLOGIA ................................................................................................................. 12
5 CONCLUSÃO ..................................................................................................................... 36
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1 INTRODUÇÃO
2 OBJETIVOS
3 METODOLOGIA
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
As drogas ilícitas são reguladas pela sistema penal com auxílio de instituições
sanitárias. No Brasil a repressão ao uso e abuso de drogas é regulamentada pela
Lei Nº 11.343 de 23 de agosto de 2006 que instituiu o Sistema Nacional de Políticas
Públicas sobre Drogas (SISNAD) que determina as medidas para prevenção do uso
indevido, atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas;
estabelece normas para repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de
drogas; define crimes e dá outras providências. De acordo com esta lei consideram-
se como drogas as substâncias ou os produtos capazes de causar dependência,
assim especificados em lei ou relacionados em listas atualizadas periodicamente
pelo Poder Executivo da União. No artigo segundo se determina a proibição em
território nacional do plantio, cultura, colheita e exploração de vegetais e substratos
dos quais possam ser extraídas ou produzidas drogas, ressalvada a hipótese de
autorização legal ou regulamentar, bem como o que estabelece a Convenção
Internacional de Drogas das Nações Unidas (1971), a respeito de plantas de uso
estritamente ritualístico-religioso, como é o caso da Ayahuasca. No parágrafo único
é descrito a excepcionalidade em que a União pode autorizar o plantio, a cultura e a
colheita dos vegetais exclusivamente para fins medicinais ou científicos, em local e
prazo predeterminados, mediante fiscalização, respeitadas as ressalvas
supramencionadas (BRASIL, 2006).
Considerando que a Lei Nº11343 de 23 de agosto de 2006 não especifica
quais seriam as drogas ilícitas e, portanto, sujeitas a controle legal faz-se necessário
complementar tal lei com uma ou mais portarias, sendo neste caso aplicada a
Portaria N.º 344, de 12 de maio de 1998 que determina o regulamento técnico das
substâncias e medicamentos sujeitos a controle especial. Dentre as drogas e
substâncias relacionadas pela Portaria Nº 344/98, as consideradas ilícitas são as
alocadas nas listas E, que corresponde às plantas que podem originar substâncias
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A B
( (
A) B)
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periférico. Alguns exemplos das aplicações terapêuticas dos canabinóides são efeito
analgésico, efeito antiemético, controle de espasmos em pacientes portadores de
esclerose múltipla, tratamento de glaucoma, efeito broncodilatador e
anticonvulsivante (MECHOULAM, 1970; ILAN et al., 2005; MECHOULAM, 2007;
SCHIER et al. 2012; PEDRAZZI et al., 2014; D'SOUZA, 2015; WHITING et al., 2015;
HUSSAIN, S.A et al., 2015).
O medicamento Sativex® (solução hidralcoólica contendo THC e CBD (1:1
aproximadamente) e o dronabinol registrado sob o nome comercial Marinol® que se
trata do Δ9-THC sintético são indicados para controle de náuseas resultantes de sua
quimioterapia, como estimulante do apetite em caso de anorexia associada à perda
de peso resultantes da síndrome de imunodeficiência adquirida e no controle da
espasticidade decorrente de esclerose múltipla (WHITING et al., 2015).
Os canabinóides apresentam potencial para atuar como agentes
antineoplásicos, os receptores de canabinóides foram encontrados em células
tumorais e os canabinóides mostraram evidências de efeitos antitumorais in vivo e in
vitro em estudos pré-clínicos em glioma, câncer hepático, prostático, pulmonar de
mama e melanoma (KRAMER, 2014).
Além do potencial terapêutico arrolado, o consumo por via inalatória da planta
maconha foi relacionado com a diminuição do consumo de crack em indivíduos
adictos mostrando um potencial terapêutico no manejo desta farmacodependência
que ainda precisa ser investigado (SOCIAS et al, 2017).
A Cannabis sativa L. foi incluída recentemente na Lista de Denominações
Comuns Brasileira (DCB) como planta medicinal sob o Nº DCB 11543 através da
RDC Nº 156, de 05 de maio de 2017 (ANVISA, 2017). Isso indica que esta planta
ainda classificada como proscrita pode ter sua regulação sanitária em breve.
No clinical trials 143 estudos clínicos visando à avaliação da eficácia e
segurança do uso medicamentoso de produtos de cannabis, foram registrados.
Resumidamente, os estudos estão focados, quase exclusivamente, nos
efeitos terapêuticos analgésicos e nos efeitos terapêuticos sobre espasmos.
Nos estudos dos efeitos analgésicos o objetivo era avaliar “N” pessoas
vivendo na comunidade que vivem com o HIV que sofrem de dor neuropática e
atualmente estão usando cannabis. Esses participantes serão matriculados em um
estudo que consiste em duas fases: um estudo cruzado envolvendo três doses
diferentes de cannabis vaporizado que contêm THC e concentrações variáveis de
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Figura 3
Nota: estrutura folha coca.
Fonte: BELMONTE, Eliana et al.,2001.
dos receptores de equilíbrio entre o tronco encefálico e o estômago (nas vias entre o
sistema gastrointestinal e SNC). É claro que outros mecanismos também podem
estar funcionando. A coca certamente estimula as secreções orais e, provavelmente,
altera a secreção em outras regiões do trato gastrointestinal. A utilização de
materiais alcalinos com coca produz uma melhora de certas condições, como
hiperacidez funcional e úlcera péptica. Os componentes não-alcaloidais da folha,
especialmente os óleos v.áteis responsáveis pelo odor e sabor agradáveis da coca,
podem ter efeitos anestésicos próprios. Assim como outros agentes adrenérgicos, os
alcalóides da coca produzem anorexia temporária, o que auxilia na perda de peso
assim como sua estimulação incentiva a prática de exercícios físicos. Os efeitos da
coca sobre a higiene bucal levam a interessantes especulações. Não há provas
concretas a respeito disso, mas, provavelmente, a estimulação mecânica das
gengivas é benéfica e o uso costumeiro de alcalóides tende a endurecer o esmalte
dental e retardar a formação de cáries. A coca protege contra o desenvolvimento de
hiperglicemia e hipoglicemia reativa seguidas de altas doses de glicose em índios
andinos. Os mecanismos para esses efeitos metabólicos são completamente
desconhecidos, mas podem envolver efeitos atropínicos dos alcalóides uma vez que
a atropina pode aumentar a glicemia (WEIL, 1981).
Não há estudos clínicos registrados sobre coca ou seus extratos. Há apenas
um estudo clínico focado no uso terapêutico da cocaína como fármaco isolado
registrado no Clinical Trials em 2015 e atualizado em 2017, estudo NCT02500836
de fase III que foca na aplicação do produto em cirurgia nasal e consta como
concluído. Esse estudo refere-se à aplicação tópica de solução de cloridrato de
cocaína a 4%, 10% ou placebo como anestésico local.
Cerca 620 pacientes foram submetidos a três diferentes tipos de tratamento
ao receberem cloridrato nas proporções 4%,10% e placebo antes da cirurgia de tal
forma que se possa avaliar o potencial anestésico da cocaína e comparar com o
placebo.
Considerando o uso da coca como planta medicinal de uso tradicional pela
população andina é curioso que praticamente nada se tenha produzido em relação
ao estudo científico de suas propriedade terapêuticas. A literatura científica em
relação à coca foca quase que inteiramente nos efeitos tóxicos da cocaína ou sua
propriedade anestésica como fármaco isolado.
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Fonte: http://www.emcdda.europa.eu/publications/drug-profiles/lsd
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Europa. Ele atua como um estimulante do sistema nervoso central (SNC) e tem uma
propriedade alucinógena fraca mais precisamente descrita como aumento da
consciência sensorial. O MDMA está sob controle internacional (EMCDDA, 2015).
MDMA é uma abreviatura de metilenodioxi- metilanfetamina (Figura 7). O nome
formal (IUPAC) é N-metil-1- (3,4-metilenodioxifenil) propan-2-amina, mas o MDMA
(CAS-42542-10-09) é vulgarmente conhecido como 3,4-metilenodioximetanfetamina
ou metilenodioximetilamfetamina. Outros nomes químicos incluem N, a-dimetil-3,4-
metilenodioxifenetilamina ou, menos habitualmente, N-metil-1- (1,3-benzodioxol-5-il)
-2-propanamina. O MDMA é um membro do grupo maior de fenetilaminas anel-
substituídas. Tal como com outras fenetilaminas, e tal como a sua metanfetamina
relativa próxima, a MDMA também existe em duas formas enantioméricas (R e S)
(EMCDDA, 2015).
É um derivado anel-substituído de anfetamina que também é relacionado ao
composto alucinogênico mescalina. Ele aumenta a sensibilidade emocional e a
empatia, com usuários relatando perda de inibições, redução da ansiedade e uma
maior sensação de proximidade a outras pessoas (MORTON, 2005).
mecanismo de ação no MDMA que pode ser aprimorada para obtenção de um anti-
parkinsoniano eficaz e seguro. Soma-se a isso a existência de indícios
experimentais de que o MDMA pode ser usado para o tratamento de catalepsia
(SCHMIDT, 2002).
A experiência MDMA, entre aqueles que usaram o ecstasy recentemente
apresentou várias consequências positivas relatadas. As mais comuns são um
aumento de energia ou estimulantes e habilidades sociais aprimoradas ou fazer
novos amigos e experimentar tudo tendo-se a sensação de ser mais divertido.
Menos comuns, mas ainda relatados, são perda de peso, euforia, experimentar tudo
como sendo mais intenso, melhorar os atuais relacionamentos, desinibição, relaxar
ou alivio de estresse (RAMO, 2013).
Os efeitos de curto prazo da MDMA geralmente incluem euforia, aumento da
extroversão e interação social empática. O MDMA reduz o sentimento de medo que
acompanha a lembrança de memórias traumáticas, fortalece a aliança terapêutica e
diminui a timidez, mantendo-se em um estado de consciência clara e de alerta
(SESSA, 2016).
O agonismo pelo receptor 5-HT pode contribuir para a reversão de catalepsia.
Além disso, o aumento da DA estriatal por MDMA in vivo é mediado por receptores
5-HT, uma vez que o pré-tratamento com antagonistas de 5-HT claramente atenuou
este efeito do MDMA (SCHMIDT, 2002).
A droga exerce seus principais efeitos através da liberação de 5-
hidroxitriptamina pré-sináptica nos receptores 5-HT1A e 5-HT1B, levando à depressão
e ansiedade reduzidas e aumento do humor positivo. Existe uma atividade
aumentada nos receptores 5-HT 2A, a qual causa alterações nas percepções de
significados que permitem que um indivíduo pense sobre experiências passadas de
novas maneiras e desenv.va novas idéias. A MDMA também estimula a liberação de
dopamina e noradrenalina, as quais aumentam os níveis de excitação, produzindo
um efeito estimulante que aumenta a motivação para se envolver em terapia e
efeitos no adrenoceptor alfa-2, proporcionando um sentimento paradoxal de
relaxamento, o que reduz a hipervigilância (SESSA, 2016).
No rato lesionado com 6-OH-DA, a MDMA racêmica alivia significativamente a
gravidade dos movimentos involuntários anormais induzidos por L-DOPA. A MDMA
diminui a gravidade da discinesia provocada por L-DOPA ou pramipexol e alivia
transitoriamente o parkinsonismo. No macaco lesionado por MPTP (1-metil-4-fenil-
36
5 CONCLUSÃO
6 REFERÊNCIAS: