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Capitulo I – A Solidão e Ansiedade do Homem Moderno

No inicio do século XX, teóricos se emprenharam em explicar os problemas e


conflitos interiores que adquirimos ao enfrentarmos situações perturbadoras do
nosso cotidiano.

O primeiro problema fundamental do homem moderno é o vazio.

A pessoa não tem ideia do que deseja, do que sente, de suas necessidades e
acaba buscando em coisas externas o preenchimento de seu vazio, ter um
emprego, concluir a faculdade, constituir uma família, essa pessoa acaba
realizando o desejo dos outros ao seu redor e não ao que realmente deseja.

A Classe Média desempenha o quadro mais nítido de uma vida vazia,


repetindo as mesmas tarefas e situações do mesmo modo, todos os dias.
Assim, quando um individuo vazio demonstra esse sentimento através de
explosões ocasionais, outras pessoas próximas ou não que também tem esse
sentimento se identificam com ele e suportam esse vazio pelo fato de assistir
essa explosão do outro ou por meras explosões ocasionais dela mesma.

Esse vazio está associado à sensação de inutilidade que sentimos em relação


ao que a sociedade espera que fazemos com nossa própria vida, e a
preocupação de não conseguirmos fazer algo eficaz a respeito dela e com o
próprio mundo. Tudo isso se acumula e deixa a pessoa em um estado de
desespero, onde não liga mais para seus sentimentos e acaba renunciando-os,
adquirindo defesas contra a ansiedade e evitando a sensação de perigo.

Eric Fromm observou que as pessoas pararam de seguir a autoridade da igreja


para seguir a Autoridades anônimas, que é a própria sociedade, analisando
tudo o que todos fazem e dizendo o que o outro deve fazer para adaptar-se.
Tudo isso é um vazio coletivo que está dominando a todos, que se não
controlada pode elevar-se a grau alarmante até o ponto onde não saberemos
mais o que estamos fazendo, estando cegos pela Autoridade anônima, uma
autoridade destrutiva, nos dizendo o que fazer, como fazer e quando fazer,
perdidos e desesperados.

Outro problema fundamental do homem moderno é a solidão.

O homem tem medo da solidão e por isso quer estar sempre em contato com
outras pessoas para que não se sinta sozinho.

A solidão anda junto com a sensação de vazio, quando a pessoa não sabe o
que quer e o que sente, procura algo externo, outra pessoa para não se sentir
sozinho nesse mundo.

Assim, precisamos ser aceitos socialmente, estar sempre presente em todas as


festas, reuniões, comemorações, etc., para não sentirmos sós, se não
estivermos presente ou não formos procurados por outras pessoas, temos uma
sensação de fracasso, por ter sido rejeita e começamos a pensar que não
fazemos falta para outras pessoas.

Todos esses sentimentos são fortalecidos pela nossa cultura que aceita
somente o fato de ficarmos temporariamente sozinhos, estão sempre
perguntando se já estamos namorando, se já casamos ou tivemos filhos, se já
fomos naquela festa. Se uma pessoa decide ficar sozinha por escolha própria,
os outros a acham diferente, não veem o lado positivo de ficar a sós, não tem a
mesma concepção e pensamento de que existe certa liberdade no ficar só e
que isso não vai levar uma pessoa a solidão, critica aquela pessoa que teve
coragem em não se preocupar com os outros e enfrentou suas questões
interiores, justamente porque tem medo de conhecer a si mesmo e medo de
fracassarem e se depararem com a solidão.

Pode-se dizer que o homem sempre está em busca de atividades, diversões e


amizades para manter-se ocupado, com medo da solidão. Esse medo também
pode ser manifestado a partir de pensamentos de recordações onde fomos
rejeitados socialmente, isso é tão constante no nosso dia-a-dia que não
paramos para pensar que se trata de um temor ao isolamento.

Quando o homem está em um grupo social, ele esquece a solidão


temporariamente, o que acaba prejudicando-o pois impossibilita que ele
desenvolva seus recursos interiores e individuais, que são os únicos capazes
de o ajudarem a vencer a solidão por longo prazo.

O vácuo e a solidão, porém, só nos preocupa quando estamos presos em algo


mais forte: a ansiedade, que é outra característica do homem moderno.

Podemos ver claramente essa “era da ansiedade” do século XX com o avanço


da tecnologia e da ciência, guerras e mudanças econômicas e politicas vem
devastando todo o mundo. A população está com medo e surgem grandes
duvidas sobre o futuro, aumentando assim os índices de suicídios.

A população então, com medo de novas catástrofes e de sua situação atual é


que acaba criando espaço para que novas tragédias aconteçam, com toda
essa preocupação e ansiedade, se encontram num estado de vazio onde o
totalitarismo aparece para preenchê-lo e as pessoas vendem sua liberdade
facilmente para se livrar da ansiedade que os prende.

Essa ansiedade que não surge apenas da ameaça de guerra, etc., ela também
surge quando não sabemos o que fazer com nossos objetivos. Vivemos num
mundo onde todos querem tudo e muitos querem nada, ficamos então
confusos e num impasse, ansiosos por não saber o que escolher, que papel
seguir na sociedade e em quem acreditar.
Freud e outros teóricos afirmam que as perturbações emocionais surgem da
ansiedade, pois nosso corpo fica vulnerável a doenças psicossomáticas e
acaba afetando nossa saúde e bem-estar.

Para encarar a ansiedade e então usá-la de maneira positiva e construtiva,


primeiramente devemos olhar para nós mesmos e encarar essa ansiedade nas
suas várias formas que nos afetam individualmente, psicologicamente,
espiritualmente e socialmente.

A definição de ansiedade pode se relacionar com a do medo, mas são coisas


diferentes.

Quando uma pessoa sente medo, ela sabe o que a ameaça e procura
maneiras de fugir daquele perigo indo para um lugar mais seguro, já na
ansiedade sentimos a ameaça, mas entramos em pânico por não saber o que
fazer para enfrentar o perigo. Um perigo que ameaça a nossa existência o
nosso self total, diferentemente do medo, que ameaça uma parte do self.

A ansiedade pode ocorrer em maior ou menor intensidade, por isso a sentimos


de maneiras diferentes em nosso corpo. Deparamos com duas formas: a
ansiedade normal, que vem de uma ameaça real e é inevitável, ou seja, todos
têm no decorrer da vida, nos apresenta quando enfrentamos crises de
existência, assim se enfrentarmos essas “crises normais” de maneira eficaz, o
risco de sentir ansiedade neurótica diminui; a ansiedade neurótica, porém é
desproporcional a realidade e convém de conflitos inconscientes, de uma
ameaça anterior onde à pessoa não conseguiu enfrentar, assim esse problema
foi recalcado, mas voltou como ansiedade neurótica, por isso a pessoa não
sabe combater e fugir dessa ameaça de perigo.

Essa ansiedade neurótica pode ser resolvida com um psicoterapeuta


profissional, trazendo à tona a experiência anterior, para supera-la e ter
somente uma ansiedade normal ou medo.

Nossa auto percepção é derrubada com a ansiedade, nos desorientando,


assim quando nos encontramos em uma situação de perigo, a percepção de
nós mesmos é afastada e só focamos na situação que nos rodeia.

A ansiedade é uma luta interior de problemas que precisamos resolver quanto


mais forte uma ameaça mais a nossa autoconsciência tenderá a diminuir,
portanto, é preciso reforçamos a consciência de nós mesmos para não sermos
dominados pela ameaça e assim lutar e vencer a ansiedade.

Capitulo V – Liberdade e Força Interior

Em uma parábola, contasse sobre um homem que foi colocado numa gaiola
pelo seu próprio rei que estava curioso com o que iria acontecer com ele lá.
Observando a ocasião juntamente com um psicólogo, perceberam que no inicio
o homem ficara confuso e com ódio do rei que não poderia ter feito aquilo, mas
seu ódio durante semanas foi se transformando, até aceitar o que tinha
acontecido com ele, não mais gritava, se zangava ou questionava, tinha um
olhar vago, tornara-se vazio e louco.

Nessa parábola, onde a liberdade é negada para o homem podemos ver como
ela é importante para o ser humano, o ódio e ressentimento são visto
rapidamente contra aquele que tirou nossa liberdade, isso porque precisamos
de alguma coisa para compensar a liberdade perdida, algo da liberdade
interior, e direcionamos esse ódio para aquele que nos dominou, o vencedor
para resistirmos a ele.

O ódio e ressentimento e outras emoções negativas não eram admitidas, pois


fazia com que o cidadão não se encaixasse nos padrões permitidos pela
sociedade do que era visto como bom, por consequência, esses sentimentos
são recalcados e a pessoa não consegue se livrar facilmente deles ou enfrentar
abertamente, assim canaliza essas emoções contra os outros ou contra a si
mesma, através da autocomiseração, onde a pessoa alimenta o ódio e sente
pena de si mesma, não conseguindo agir positivamente.

Em geral, o sentimento de ódio e ressentimento é destrutivo, quando


conseguimos transformá-los em emoções construtivas é sinal de maturidade, e
só conseguiremos fazer isso vencendo nosso ressentimento, sabendo o que e
quem odiamos para reconquistar nossa liberdade genuína.

Não podemos confundir a liberdade com revolta e falta de planejamento, a


liberdade não é isso.

A revolta é somente um caminho na conquista da liberdade, ela atrasa o


individuo e age como um substituto da própria autonomia.

A falta de planejamento é confundida com a liberdade, pois estamos num


sistema econômico onde somos mais livres intelectualmente e espiritualmente,
não precisamos estar pensando em como fazer tal coisa em todos os detalhes,
pois temos tecnologias que fazem isso por nós.

Mas devemos destacar que a liberdade não faz parte de nenhum sistema, ela é
em si uma abertura para que possamos evoluir.

O homem só é capaz de contribuir para a sua evolução e só é capaz de


alcançar total liberdade na medida em que adquire mais autoconsciência,
quando não a possui ele confronta-se com as realidades de sua vida, assim
menos livre ele é.

A liberdade se encontra na pessoa que aceita sua vida e seus acontecimentos,


pois ela é livre para escolher como agir e se relacionar com tais fatos, não
haverá forças inconscientes agindo nela, portanto ela não lutará com a sua
realidade.

Dessa forma, a liberdade não é somente ter livre escolha na vida, é termos
autoconsciência, lutar contra questões inconscientes, aceitarmos nós mesmos
e a realidade de que nos rodeia, para assim de fato termos liberdade.

Todo ser humano assume uma estrutura inconsciente a qual age, a maioria
segue as regras que a sociedade espera. Essa estrutura vai se estabelecer
muito importante na questão da liberdade, pois está não ocorre num vazio e
não devemos estar sozinhos, mesmo que temos que tomar nossas próprias
decisões, ao fazer isso isolado podemos sentir certa agonia e temor, dessa
maneira a liberdade significa enfrentar com responsabilidade as relações da
vida e do isolamento, tomando em conta a estrutura de relacionamentos que
nos rodeia.

Porém, a liberdade não nos vem facilmente, precisamos conquista-las e


reconquista-las todos os dias, e para isso devemos “optar por si mesmo”,
devemos reconhecer e aceitar nós mesmos e a nossa existência, reconhecer
também a nossa responsabilidade de estarmos onde estamos nesse mundo.

Em pessoas que tem pensamentos suicidas e desejam tirar sua vida,


geralmente é por situação que a rodeiam, e decidem morrer para livrar-se
disso, mas, contudo esse desejo de suicídio pode ser positivo ao fazer com que
a pessoa reflita sobre sua própria vida, trazendo a tona novas possibilidades e
o sentimento de poder ter algo novo, se livrando de questões perturbadoras.

A pessoa aceita sua responsabilidade, por decisão pessoal, por escolher por
ela mesma independente dos outros, ela agora tem a liberdade pessoal, a
responsabilidade e consequentemente a autodisciplina, que aprendeu na luta
pela maturidade.

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