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LUTO E DEPRESSÃO

O senso comum está de luto quem viveu recentemente uma perda significativa. É exibido exteriormente
esse luto, predominantemente a roupa (preto e branco), mas tal deriva de cultura para cultura, como por
exemplo a música. Só se exibe outras cores quando a pessoa está determinada e resolvida. Este
comportamento evidencia tristeza e é característico dessa perda.

O luto refere-se ao trabalho psíquico que todos nós temos de resolver quando sofremos uma perda
significativa (animal, pessoa próxima, perda de emprego). No entanto é mais comum na morte, tendo de
haver uma elaboração de qualquer perda significativa.

Morte = trabalho psíquico da elaboração de uma perda. Quer dizer que alguém desapareceu fisicamente,
não está mais cá e temos de nos adequar a essa realidade mas há um tempo que dento de mim temos de
fazer um trabalho de elaboração dessa perda, havendo um investimento afectivo em alguém que já não esta
cá e temos de reaver esse investimento (volta para mim) e vamos voltar a investir noutras coisas e relações.
Ou seja, há uma transformação dentro de mim. Já não posso investir mais naquela pessoa por isso vou
investir noutras ou noutras coisas.

Há uma morte real e também tem de haver uma morte dentro de mim – reorganização do meu mundo
interno. Esta vai passar por guardar dentro de mim memórias de momentos e características dessa pessoa.
Vou rejeitar os processos com essa pessoa e vou transformar-me na medida da relação com a pessoa.

Eu posso perder se eu tive alguma coisa. Se não houver uma lação positiva com essa pessoa, que me
permita separar psiquicamente com essa pessoa, eu também não a posso perder e não se pode elaborar a
relação com essa pessoa. Quando a relação não é boa a relação é insatisfatória e a pessoa não tem, dentro
dela, recursos para elaborar a perda. Ex.: almas penadas, fantasmas

Só podemos perder aquilo que tivemos, se não tivemos não pudemos perder. No entanto este ter pode ter
vários gradientes, podemos encontrar a possibilidade de fazer luto, ou não. Em função destes gradientes
este trabalho de luto pode ter mais ou menos sofrimento. Só elaboramos a perda quando há uma relação
satisfatória e quando não o fazemos ficamos presos.

É saudável este trabalho de luto e neste período (pessoal) a pessoa deve estar virada para si e reorganizar o
seu mundo interno. O que não é saudável é haver uma perda e a pessoa continuar a viver como se nada
tivesse passado – não há a aceitação da realidade.

Nós continuamos a idealizar esse outro/situação/condições – “como aquela pessoa/naquele tempo é que
era bom!”. Havendo esta idealização significa que esta realidade não é vivida na integra. Por exemplo uma
pessoa tem uma relação amorosa e outro acabou. O que foi dito como abandonado continua com a ideia de
que ali é que era feliz. Está a negar os aspectos frustrantes da realidade e faz uma idealização. Há uma
dificuldade em integrar a experiência, não vendo os aspectos positivos e negativos. Tudo aquilo que possa
viver no presente ou futuro é comparado com essa situação idealizada e fica a perder, sendo insatisfatória o
que provoca tristeza e insatisfação à pessoa. Na idealização a pessoa fica agarrada aos aspectos positivos
não tendo noção dos aspectos negativos.

A relação é predominantemente positiva pela idealização dessa relação, mantendo-se preso no passado.
Tudo aquilo que possa viver no presente e no futuro é insatisfatório porque é comparado com o passado.
Por isso o sujeito vive em sofrimento e não desfruta do que pode desfrutar é um individuo em
subaproveitamento de si próprio e do mundo.

Por exemplo quando alguém nos trata mal é logico que respondamos com uma resposta agressiva, havendo
uma certa zanga. O individuo que está a idealizar e não está a ver os aspectos positivos também tem
respostas agressivas. Se alguém me trata mal e é significativo para mim é normal que me sinta triste e
zangado, mas não pode sentir dentro dele a sua zanga e agressividade, mas ela está lá. Esta agressividade é
dirigida para o próprio, justifica a atitude do outro em função a si próprio. Esta idealização só é possível
através de uma certa desvalorização de si próprio.

Se eu ponho o outro perfeito é à conta da minha desvalorização. Em vez de dirigir a agressividade para o
outro dirige para mim, ficando presa. Tudo isto tem uma bola de neve, e o individuo pensa “o outro era bom
e deixou-me porque eu não presto”.

Nós nascemos todos de uma situação de dependência do outro pois de esse outro não existe nos morremos.
É importante que a criança idealize os pais, sendo estes deuses e é razoável que assim seja. Por outro lado,
é provável que um certo aspeto dessa idealização tenha a ver com uma certa necessidade de defesa e
segurança dessa própria criança. Os pais têm fragilidade e quanto maiores mais necessidade as crianças têm
de idealizar os pais. Esta idealização é natural e inevitável mas também é defensiva. Se eu for uma criança
fraca e tiver pessoas fortes junto de mim sinto-me mais protegida.

Quando se é criança e se tem uma dor de barriga ou quando vamos na rua e vem um cão enorme ou quando
falta a uz à noite em casa, quem é que as pode salvar? É razoável que as crianças idealizem os seus pais pois
estas sabem e salvam-nos de tanta coisa. No entanto elas também se apercebem das suas fragilidades, por
exemplo um pai alcoólico que só faz em casa. Neste caso a criança sente-se desprotegida com o pai, o que é
um sentimento horrível, arranjando estratégias de idealização do seu pai vendo-o como um herói e grande
só para se sentir protegida.

A criança que não pode experimentar as suas competências é porque secalhar não tem competências. Ou
seja, podemos ver que os pais que as protegem excessivamente não deixam a criança descobrir as suas
competências.

Nós somos crianças e a criança dentro de nós vai-nos acompanhar ao longo da vida e é na adolescência há
um trabalho de luto relativo à idealização dos pais. É normal que nós adultos continuemos com uma criança
dentro de nós e continuemos a ver os nossos pais como seres ideais.

É possível que se transporte dentro de si que vê sempre os outros de forma idealizada e a si próprio de
forma desvalorizada, mesmo em adulto. A depressão secalhar pode ter raízes precoces. Um individuo
deprimido tem uma história de não conseguir ver os outros e a si mesmos na realidade. Num primeiro
encontro só vemos comportamentos e esses são interpretados tendo em conta a nossa história. Só na
relação ao longo do tempo é que o vamos conhecendo. É bom que quando conhecemos alguém não
estejamos com preconcepções negativas, não estando disponível para o captar no que ele é. Por exemplo,
aquilo que e provável quando a pessoa se apaixona, estado de loucura normal, ou seja, estamos fora da
realidade, há vários índices que nos tocam do mesmo mas também colocamos nele coisas nossas que
gostávamos e isso é idealização.

No individuo deprimido é normal que haja seres significativos que mantém uma relação depresigena –
mantém o outro numa depressão ou seja, que se relacionam com esse outro desvalorizando e acusando –
“Não vales nada, não fazes nada de jeito”. Mas afinal qual é a solução? Podemos dizer que a solução passa
por poder viver relações satisfatórias que lhe permitam viver uma relação com reciprocidade e retroceder
o ponto de vista negativo que tem acerca de si próprio - uma relação terapêutica com condições especiais.

Só numa relação terapêutica em que a relação é pensada e olhada é que esta pode ser revertida ajudando a
pessoa a ver que o que sente (raiva, agressividade, zanga) para que esta deva ser dirigida para quem lhe faz
mal e não para si e só aqui é que há a reversão da imagem de si própria. É comum as pessoas sentirem
tristeza mas não zanga e aqui tem de entrar o terapeuta como forma de os ajudar a encontrar a sua zanga e
que a pessoa crie uma nova imagem de si.

Uma pessoa que morre de repente ou que tem uma doença que se arrasta há um tempo que estamos
invadidos pelo morto – coisas que ele fazia, mantendo-se altamente vivo dento do próprio. A certa altura é
normal que esta invasão do morto comece a não ser tão invasiva, não estando tão presente. É como se o
vivo receasse dar uma segunda morte sentindo-se abandonado e desamparado. Anteriormente tinha uma
companhia externa e interna, após a morte fica apenas com a interna e ao fazer o luto é como se ficasse
sozinho.

Só pode fazer-se perda/luto de uma relação que o alimentou mas se não teve podemos pensar num estado
de depressão mais ou menos grave. Desta forma a depressão pode ser designada de:

O estado mais grave é a melancolia em que não houve diferenciação entre eu e o outro. E aqui eu não tive e
por não ter não posso perder.

Num outro grau é alguém que teve mas que não houve tempo para construir uma representação interna do
outro sendo apenas um objecto de apoio – satisfação físicas, de sobrevivência – que deixou de la estar,
havendo pouco suporte interno do sujeito – depressão por falta de objecto de apoio designada de
anaclitica – não houve tempo suficiente ou o outro não tinha qualidades para criar essa representação
interna. Esta é a depressão subjacente ao estado borderline.

Houve alguma qualidade na relação com o outro e uma representação interna de ser susceptível a ser
construída e o que é vivido não é a quebra da relação mas a perda do amor e do afeto. É uma depressão
mais perto do polo saudável, sendo mais neurótica.

Depressividade é uma qualidade do aparelho psíquico no sentido de ser uma qualidade do meu mundo
interno e me poder deprimir (elaborar a perda) quando perco algo significativo para mim e quando a
realidade da vida é aquilo que desejo. É saudável que de vez em quando estejamos tristes mas deve ser
passageiro e, para isso, deve ser acompanhado por um trabalho psíquico da nossa parte.

Após uma morte é saudável que a pessoa durante certo tempo (6 meses – 1 ano) esteja triste e diferente. E
nesse trabalho de luto que é pessoal existem varias formas de reagir. Quando existem um prolongamento
da fase de idealização surge a depressão.
Luto e depressão
Luto
- O senso comum, está de luto, quem viveu recentemente uma perda significativa. Antigamente, quem tinha
vivido recentemente uma perda, exibia exteriormente esse luto, através da roupa… não se podia ir a festas,
nem ouvir música… tinha de usar apenas preto e branco… inicialmente só preto, com o tempo podia usar
branco e cinzento e só passado muito tempo poderia usar outras cores. Quem por dentro vivenciava esta
tristeza, comunicava-a exteriormente…
- Na Psic Clínica, falamos de luto quando nos referimos ao trabalho psíquico que todos nós temos de
desenvolver quando existe uma perda significativa – que não tem de ser uma pessoa, poder ser a perda de
um animal, de um trabalho, de uma relação amorosa → Qualquer perda significativa. Contudo, fala-se mais
de luto, em relação à morte.

Luto em consequência de uma morte:


- Primeiramente vamos falar em torno da morte – trabalho psíquico de elaboração de uma perda, se
pensarmos em morte, significa que alguém desapareceu fisicamente, que não está mais cá. Se não está mais
cá, se a pessoa não está, eu necessito de me adequar a esta realidade… necessitamos de um tempo que
dentro de nós precisamos de fazer um trabalho de elaboração dessa perda – dor, investimento… - eu tenho
que reaver os investimentos que colocava na pessoa, e eventualmente, eu vou voltar a investir noutras
relações. De alguma maneira, haverá uma transformação dentro de mim. Já não posso investir
externamente na pessoa… estes investimentos retornam a mim… e eu vou fazer outras escolhas na minha
vida!
- Há uma morte real… e tem de haver uma morte dentro de mim! A morte “dentro de mim” consiste numa
reorganização do meu mundo interno, que vai passar por guardar dentro de mim aspetos da pessoa, da
relação com a pessoa, memórias… eu perco EXTERNAMENTE alguém, eu tenho de arranjar os meus
investimentos, e nestes processos eu vou arranjar os processos com essa pessoa, e vou transformar-me na
medida da relação com a pessoa.
- Eu preciso de ter tido uma relação com a pessoa, eu posso perder se eu tive uma relação com aquela
pessoa… se eu não tive, eu não posso perder! A pessoa tem de ser significativa para mim, se eu não tive
relação positiva com a pessoa, eu não posso elaborar a sua perda. Não se pode elaborar aquilo que não se
teve. Se eu não tive, eu não posso perder – se eu não tive uma relação boa que me permita separar-me
psiquicamente daquela pessoa, é óbvio que eu não a posso perder.
- Quando a relação NÃO é positiva – a relação foi insatisfatória, e a pessoa não tem dentro dela recursos
para ser capaz de elaborar a perda. Ex: Fantasmas/ almas penadas (as almas penadas não existem por um
lado, e existem por outro – o morto não existe… mas existe enquanto criação do vivo, alguém que está vivo
perdeu outra pessoa, a relação com a pessoa foi conflituosa e insatisfatória, o outro desapareceu… e não foi
possível transformar a relação insatisfatória em satisfatória, e a pessoa que vive, vai ficar preso à pessoa que
morreu que dentro dele não está em paz.) – O vivo não pode perder aquela pessoa.
- Conclusão: Só podemos perder, aquilo que tivemos! O que “tivemos” pode ter vários gradientes, e dentro
dos vários gradientes, podemos encontrar a possibilidade de fazer luto, e a possibilidade de não fazer um
luto adequado… Em função dos gradientes o trabalho de luto é mais arrastado, mais doloroso…

Depressão
- O ficar preso ao luto é a depressão! O trabalho de luto tem de ser vivido, pode ser desagradável para quem
está à volta, pois a pessoa está em sofrimento… mas é saudável a pessoa durante um período de tempo
virar-se para si! Ocupada com o trabalho de reorganizar o seu mundo interno. O “não saudável” é perder-se
alguém e viver como se nada tivesse passado.
- Quando há perdas, elas têm de ser vividas. Quando não se elabora a perda a pessoa fica presa na relação,
quando tal já não é possível que volte.
- Pressupõe por um lado que eu continue a idealizar o outro, a situação, as condições. “Naquele tempo é que
era bom…”; “Com aquela pessoa é que era bom…”. Uma pessoa que tem uma relação amorosa e que
termina, quem foi “abandonado” pode pensar: “com aquela pessoa é que eu era feliz” – esta pessoa está a
idealizar, pois a pessoa vê mais os aspetos positivos (a pessoa era boa) do que os negativos (a pessoa
abandonou-me). Se a pessoa mantém uma idealização, quer dizer que tudo aquilo que vai viver no presente
e no futuro, é comparado com a idealização e a pessoa fica a perder e é insatisfatória, e assim a pessoa está
infeliz e insatisfeita.
- A idealização consiste em a pessoa ficar agarrada à idealização que tem da pessoa – idealizando uma
relação positiva (sem ter em conta os aspetos positivos que se estão a passar) – NÃO HÁ a integração dos
aspetos positivos e negativos que se estão a passar.
- Na pessoa deprimida nós temos a manutenção de uma relação do passado, dominantemente positiva, se
há uma idealização dessa relação significa que o sujeito não consegue fazer uma integração dos aspetos
positivos e negativos. O sujeito continua a ver a relação como satisfatória. Vive algo idealizado que não
existe. O sujeito vive em sofrimento, e não disfruta daquilo que na verdade pode disfrutar – dos recursos
internos, que pode viver no presente e no futuro, e não viver.
- Se alguém nos trata mal, aquilo que é lógico é responder “na mesma moeda” ou de forma agressiva –
zanga e irritação! Quando o sujeito está deprimido, quando ele idealiza o outro ele fica triste, mas não pode
sentir dentro dele a sua zanga e agressividade, mas a agressividade existe e está lá. Então está agressividade
é dirigida para o próprio. O outro abandonou-me mas ele não é mau… eu é que não presto! Ele abandonou-
me por minha culpa… E portanto, a idealização só é possível à custa de uma certa desvalorização do próprio
– eu salvo o outro (mantenho-o idealizado) à custa da desvalorização de mim próprio (da manutenção da
desvalorização de mim próprio.)
- ATÉ AQUI: Falou-se da idealização em diferentes contextos: Na morte – onde a pessoa fica presa à
idealização com pensamentos como: “com aquela pessoa na minha vida é que eu era feliz”; e depois existe
no fim das relações: onde a pessoa se auto-culpabiliza pelo abandono, como se ela é que fosse a culpada!

- O outro suscita uma agressividade em mim, e eu em vez de dirigir para ele (e responde na mesma
“moeda”), eu dirijo para mim – “ele tem motivos para me abandonar… ele tinha todos os motivos para me
deixar, porque eu não presto”
- Toda a patologia é um ciclo vicioso!
- Nós nascemos todos numa situação de dependência do outro. Se não temos o outro para nos acolher,
morremos. É natural que as crianças idealizei os seus pais/ adultos significativos – são uma espécie de
deuses, e é razoável que assim seja. Por outro lado, é natural que um certo aspecto de idealização que fazem
dos pais, tem haver com uma necessidade defensiva das próprias crianças.
- Os pais têm fragilidades e as crianças captam estas fragilidades. Quanto mais as crianças captam estas
fragilidades, mas a criança tem necessidade de idealizar os pais – idealização inevitável. E uma idealização
defensiva – ou seja, a criança é pequenina, frágil, se eu tiver seres ao pé de mim seres poderosos, sinto-me
protegida! A idealização que as crianças fazem dos pais acarretam aspetos defensivos.
- Se eu me lembrar, quando tinha 80 cm de altura, o mundo era totalmente diferente! Quando se é criança e
se tem uma dor de barriga quem salva esta dor? Quando estamos na rua e aparece um cão grande, quem
nos pode salvar? Uma quebra de luz em casa, quem nos salva? Está tudo às escuros… fica aterrorizador para
a criança, quem salva? É razoável que as crianças idealizei os seus pais! Para além disto, eu enquanto criança
posso perceber as fragilidades dos meus pais, ex: pai alcoólico. Que de vez em quando entra em casa e só faz
disparates, e a criança sente-se perante este pai, desprotegida! Sentir-se desprotegida é horrível → A criança
pode arranjar estratégias para ver o seu pai poderoso e grande, para ela própria sentir-se protegida. Há uma
parte da idealização que pode ter aspecto defensivos.
- Nós somos crianças, e provavelmente, a criança dentro de nós, vai acompanhar-nos ao longo da vida, e é
na adolescência, onde existem vários trabalhos de luto a serem idealizados, um deles é em relação aos pais.
Mas pode não se conseguir fazer… é possível que nós adultos, transportemos dentro de nós uma criança,
que continua a ver os seus pais como seres ideais. → “Eles é que sabem, e eu não sei nada”.
- Estéticas raízes da idealização
- É possível que transportemos dentro de nós uma criança, que vê os outros de forma idealizada e que se vê
a si de forma desvalorizada!!!! A depressão tem raízes precoces, o adulto deprimido é um adulto que em
determinado percurso de vida, onde não lhe foi possível passar a ver os outros e a si própria em prol da
realidade: ver os outros como eles são e a mim próprio como sou!
- Nós nos outros só vemos comportamento! Só na relação com o outro é que o conhecemos a ele e a nós.
Quando conhecemos uma outra pessoa, temos que estar disponíveis para aquilo que pode ser aquela
pessoa…
- O que é provável quando a pessoa se apaixona – estado de loucura normal (estamos fora da realidade) –
quando me apaixono pelo outro, coloco no outro coisas que eu não sei se o outro tem, que tem relação com
o meu desejo. Que depois poderão ser desconstruídas na relação com o outro.

- É altamente provável que no sujeito deprimido, haja seres significativos que mantêm uma relação
depresigena – mantêm o outro numa depressão, ou seja, que se relacionam com esse outro – deprimido –
desvalorizando, acusando, etc. “Não vales nada, não fazes nada de jeito…”
- Qual é a solução?
- A solução por si só, não existe! A solução passa por poder viver reações satisfatórias que lhe permitam
viver com reciprocidade e que lhe permitam reverter o ponto negativo que tem sobre si próprio. O sujeito
deprimido tem de reverter o olhar que tem sobre si próprio.
- Não existem vacinas! Só pode passar por uma relação terapêutica com condições especiais. Relação onde
aquilo que se passa na relação é para ser visto olhado e pensado… onde se acredita que a situação pode ser
revertida.
A pessoa tem de sentir a sua zanga e irritação. A pessoa precisa de ser ajudada a sentir, para que ela possa
ser dirigida a quem lhe faz mal, e não dirigida para ela. É aqui que há a reversão da imagem para si própria.
- Na prática clínica, é muito frequente as pessoa viverem relações amorosas insatisfatórias, é comum as
pessoas sentirem-se tristes, mas não se sentem zangadas! E o terapeuta tem de ajudar a pessoa a encontrar
a sua zanga. E é aqui que nasce a nova imagem da pessoa em relação a si.
- A impossibilidade de fazer o luto tem haver com a relação vivida com a pessoa que morreu. É preciso ir
visitar esta relação, para que esta relação fique arrumada dentro de pessoa.
- Uma pessoa que morre de repente, ou tem uma doença que se arrasta… há um tempo onde a pessoa que
está invadida pelo outro – o morte invade, coisas que se fez com ele… que se devia ter feito! Naturalmente
isto começa a desvanecer-se. Quando isto se começa a desvanecer, é comum que o morto se mantenha
altamente vivo dentro do próprio. Com o tempo, esta invasão deixa de ser tão invasiva… Como se o vivo
receasse uma segunda morte do outro – “eu vou-me esquecer como era o rosto… a voz” – como se o vivo
receasse uma segunda morte (e ao recear é como se se sentisse culpabilizado).
- Há uma outra questão importante que é… Nós só podemos perder o que vivemos. Só se pode elaborar a
perda, quem realmente viveu uma relação satisfatória…. SE NÃO TEVE, há todo um gradiente que se pode
pensar num estado de depressão mais grave.

Melancolia
- O estado mais grave → É a MELANCOLIA – onde não houve diferenciação eu e outro – e “eu” não tive e por
não ter, também não posso perder.
A seguir: Não houve tempo suficiente para construir uma representação interna do outro com qualidades. O
outro ficou apenas como objeto de apoio, satisfação física e sobrevivência que deixou de lá estar – mas há
pouco suporte interno do sujeito desta relação – DEPRESSÃO ANACLÍTICA – Depressão por falta de objeto de
apoio, ou seja, não houve tempo suficiente para ser construída alguma representação interna com
estabilidade do outro. Esta depressão é subjacente aos estados Borderline.

- Depois: Houve alguma qualidade na relação com o outro, há alguma representação interna de ser
suscetível de ser construída, quando há a quebra da relação, o que é vivido não é a perda do apoio, mas a
perda do afeto do outro… perda do amor… DEPRESSÃO mais próxima do polo saudável. (Depressão +
neurótica)
- A depressão corre toda a patologia, a vivência depressiva pode é ser mais grave, ou menos grave.
- A depressividade é uma qualidade do aparelho psíquico, sendo uma qualidade do meu mundo interno, de
eu me poder deprimir – elaborar a perda… quando perco algo significativo para mim, quando a realidade da
vida é aquilo que eu desejo. É saudável que de vez em quando estejamos tristes… mas de forma passageira
(ainda que isso possa ser negativo para quem está à nossa volta).

Luto vs Depressão vs Melancolia


( http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-56652010000200010 )
“ O luto é evocado pelo sujeito no sentido de fazer com que a dor não se eternize, o que o define
efetivamente como um "trabalho psíquico". Ratifica-se na obra de Freud que o trabalho do luto tem a
função de elaboração e assimilação psíquica da perda, bem como de possibilitar a separação com relação ao
objeto perdido e o reinvestimento num substituto. “
“Na melancolia, a perda do objeto toma outro destino. O objeto perdido é o próprio motivo da condição
trágica do sujeito. o melancólico vê-se inteiramente absorvido pela perda e despe-se ao extremo no seu
discurso, referindo-se a si mesmo com a violência de quem odeia, rejeita ou deseja vingança. O melancólico
não faz o luto da perda objetal. Ele identifica-se ao objeto perdido. perda do Ego.
A depressão revela que o sujeito, desfalece num sofrimento, marcado pela dificuldade de elaborar sua
própria condição transitória. É uma forma peculiar de defesa perante a perda e o desejo, retira o sujeito da
sua capacidade de transformação e metaforização (não se imagina no futuro). Não há luto na depressão,
porque o sujeito Não se permite lançar-se a novas possibilidades de investimento objetal. O deprimido tece
uma narrativa sobre a perda, contudo não encontra sustentação para sua elaboração.

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