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LENDO FREUD #06 - A origem infantil do sentimento de culpa

O futuro de uma ilusão, o Mal-Estar na Civilização e outros trabalhos (1927 – 1931) Vol. XXI

Cap VII

É um apanhado que Freud faz das consequências sociológicas das descobertas que ele fez na
psicanalise. Nesse trabalho Freud basicamente defende a seguinte tese: A existência humana é
uma existência marcada pelo mal-estar, pelo desconforto. A palavra evidencia o que Freud
tenta mostrar nesse texto, que a existência humana é uma experiência desconfortável porque
a existência humana se dá necessariamente na civilização, na cultura. E a civilização para existir
ela demanda uma repressão de boa parte de nossos impulsos, não podemos fazer tudo o que
a gente quer, não podemos ficar com todas as pessoas que queremos, não podemos sair
agredindo as pessoas, se a gente não respeitasse essas regras, a civilização iria pro buraco, ela
não poderia existir. Então a condição de existência na civilização é uma frustração nos
impulsos de natureza sexual e agressiva, inclusive porque a própria construção da civilização
depende também de energia, precisamos investir energia na construção da ciência, das artes,
do conhecimento, da arquitetura etc, e essa energia que utilizamos para construir tudo isso é
justamente a energia dos nossos impulsos. Então para vivermos em sociedade precisamos
dispor de parte de nossa energia para o trabalho, para o estudo, e todas essas coisas que
fazem parte da vida civilizada, isso faz com que a energia que investimos nessas coisas
civilizadas da cultura não esteja a disposição para que nós a satisfaçamos do jeito mais direto,
do jeito preferido para nossos impulsos.

Então viver em sociedade, viver na civilização é viver de modo desconfortável, é viver


permanentemente frustrado e insatisfeito.

Último parágrafo da página 127 da editora imago.

Nesse paragrafo Freud vai explicar como ele entende a origem do sentimento de culpa.

“Quanto à origem do sentimento de culpa, as opiniões do analista diferem das dos outros
psicólogos, embora também ele não ache fácil descrevê-lo. Inicialmente, se perguntarmos
como uma pessoa vem a ter sentimento de culpa, chegaremos a uma resposta indiscutível:
uma pessoa sente-se culpada (os devotos diriam “pecadora”) quando fez algo que saber se
“mau”. Reparemos, porém, em quão pouco essa resposta nos diz. Talvez, após certa hesitação,
acrescentamos que, mesmo quando a pessoa não fez realmente uma coisa má, mas apenas
identificou em si uma intenção de fazê-la, ela pode encarar-se como culpada. Surge então a
questão de saber por que a intenção é considerada equivalente ao ato. Ambos os casos,
contudo, pressupõem que já se tenha reconhecido que o que é mau é repreensível, é algo que
não deve ser feito. Como se chega a esse julgamento? Podemos rejeitar a existência de uma
capacidade original, por assim dizer, natural de distinguir o bom do mau.
O que é mau, frequentemente, não é de modo algum o que é prejudicial ou perigoso ao ego;
pelo contrário, pode ser algo desejável pelo ego e prazeroso para ele. Aqui, portanto, está em
ação uma influência estranha, que decide o que deve ser chamado de bom ou mau. De uma
vez que os próprios sentimentos de uma pessoa não a conduziriam ao longo desse caminho,
ela deve ter um motivo para submeter-se a essa influência estranha. Esse motivo é facilmente
descoberto do desamparo e na dependência dela em relação à outras pessoas, e pode ser mais
bem designado como medo da perda de amor. Se ela perde o amor de outra pessoa de quem é
dependente, deixa também de ser protegida de uma série de perigos. Acima de tudo, fica
exposta ao perigo de que essa pessoa mais forte mostre sua superioridade sob forma de
punição. De início, portanto, mau é tudo aquilo que, com a perda do amor, nos faz sentir
ameaçados. Por medo dessa perda, deve-se evita-lo. Esta também é a razão por que faz tão
pouca diferença que já se tenha feito a coisa má ou apenas se pretensa fazê-la. Em qualquer
um dos casos, o perigo só se instaura se e quando a autoridade descobri-lo, e, em ambos, a
autoridade se comporta da mesma maneira.

No senso-comum imaginamos: a pessoa se sente culpada quando ela saber que fez uma coisa
“má”

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