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Exemplo: Elizabeth Von R. que assim como Anna O. também padecia de sintomas físicos,
Elizabeth padecia de dores nas pernas e o que estava na origem dessas dores Freud descobre
que era na verdade uma paixão que nutria pelo cunhado e que era incompatível com o amor
que ela tinha pela sua irmã. No momento em que a irmã falece aparece esse desejo na mente
de Elizabeth de ficar com o cunhado (o desejo já existia, mas aparecia na mente dela quando a
irmã morre) “agora sim posso ficar com ele já que minha irmã faleceu”. Essa ideia que
poderíamos julgar como forma ideal como egoísta, essa ideia Elizabeth reprime porque essa
ideia tem a ver com uma paixão incompatível com as aspirações morais e estéticas que essa
paciente tinha com relação a si mesma, ela não considerava aceitável pensar isso mas ela
pensou. E o que a gente faz quando temos um desejo que é inaceitável para nossos próprios
parâmetros? A gente reprime (essa é a possibilidade doentia). Ela reprimiu essa memória e
quando Freud tentou trazer essa memória a tona, Freud notou que havia uma resistência a
trazer de volta essa memória e aí ele começa a pensar na histeria tendo origem em um conflito
psíquico (as aspirações morais e estéticas e os desejos violentos, apaixonados que o sujeito
tem involuntariamente).
Freud termina sua segunda lição dizendo que a psicanalise propõe uma tentativa de
estabelecer uma relação diplomática entre essas duas instâncias. A psicanalise de acordo com
Freud vai apresentar 3 possibilidade pro sujeito:
Sublimar os desejos: não realiza-los mas satisfaze-los de uma maneira que seja aceitável
para as aspirações morais e estéticas, que seja culturalmente valiosa como por exemplo: A
Elizabeth poderia escrever um romance sobre uma moça que desejava o marido da irmã.
Sujeito integrar o desejo violento em sua vida, entender que suas aspirações morais e
estéticas precisam ser revistas e esse desejo pode ser colocado em prática. Ou seja, Elizabeth
poderia constatar que não haveria problema algum ficar com o cunhado depois que sua irmã
falece.
3: possibilidade não mais reprimir o desejo, reconhecer esse desejo, aceita-lo, afirma-lo,
reconhecer que ele faz parte de si mas decidir conscientemente, de forma madura não
atende-lo o que é diferente da repressão onde finjo para mim mesmo que esse desejo não
existe, fujo dele, e como não tem como fugir de mim mesmo é esconde-lo de baixo do
tapete, manda-lo para o inconsciente.
A percepção de Freud de que seus pacientes ao contrário do que a plateia para qual ele estava
falando poderia imaginar, os pacientes não traziam de imediato as lembranças, as memória
que estavam na origem de seus sintomas, dava trabalho a traze-las e quando Freud se
colocava para atender os pacientes o pacientes traziam como material pensamentos
despropositados (conversa fiada), o paciente falava um monte de coisas que não tinham
necessariamente ou diretamente a ver com o problema do qual ele padecia.
Freud se incomoda com isso mas depois começa a entender que na verdade esse pensamentos
despropositados não é que eles não tem nada a ver com reprimido, ele tinha a ver com
aquelas lembranças que estavam reprimidas mas essa não é uma relação direta mas indireta.
Como ele pensa essa relação? Aquilo que está reprimido busca acesso à consciência, o desejo
de ficar com o cunhado de Elizabeth não fica quietinho no inconsciente, ele quer ser
reconhecido, essa é a principal intencionalidade do desejo, ele quer ser reconhecido.
O que sai do inconsciente tenta passar pela barreira da resistência egóica (o ego não quer se
ver manchado e ser adequado as aspirações morais e estéticas, ele quer se olhar no espelho e
sempre se ver bem e para isso precisa negar a verdade sobre si). Esse movimento do
inconsciente vai esbarrar nessa barreira, e ao se depara com essa barreira o inconsciente não
vai simplesmente aceitar essa barreira, a verdade sempre vence. E então essa verdade que o
ego não suporta vai ser dita/expressa/manifesta de uma maneira disfarçada. Essa verdade não
aparece da forma como é, ela vai ter que aparecer uma maneira disfarçada porque não
suportamos a verdade tal como ela é, por isso que fazer análise é difícil por isso que muitas
vezes pacientes faltam/se atrasam. Por isso o conteúdo só pode se manifestar de maneira
disfarçada e então aparecem esses pensamentos despropositados.
Um observador externo que assista uma sessão de analise vai se pergunta: o que está
acontecendo aqui? Isso é um tratamento? Porque pra mim é uma conversa fiada. Mas o
analista que parte do pressuposto para ser analista tem que partir desse pressuposto. Engana-
se quem pensa que o psicanalista vai para consultório ouvir seu paciente sem nada na cabeça.
O que vai possibilitar que o analista possa escutar de forma analítica aquilo que o paciente é
justamente o saber do psicanalista, é o pressuposto de que aquilo que o paciente fala por mais
aparentemente insignificante/irrelevante/conversa que seja possui o grão da verdade, é a
própria verdade sem medida, é a própria verdade dita de modo disfarçado, dito em
fragmentos. É preciso ter ouvidos para ouvir, é preciso saber ouvir nas entrelinhas. Quem está
de fora só vê uma conversa fiada, mas quem é analista percebe o que está nas entrelinhas
desse discurso. É assim que Freud mapeia o que está acontecendo no processo analítico.
A boca fala daquilo que está cheio o coração. Se substituímos coração por inconsciente é que a
boca fala do que está cheio o inconsciente. Se é difícil entender é porque o ego faz um
trabalho de resistência gigantesco e o reprimido é obrigado a assumir muitos disfarces que
quando ele chega na boca já não nos damos conta, já não percebe qual era a
intencionalidade/conteúdo original.
A fala do paciente e os sintomas são igualmente simbólicos, assim como enquanto analista vou
ajudar o paciente a decifrar seus sintomas e que desejos estão por trás deles, ajudo a perceber
que desejos estão presentes em sua fala.
Lição importante de Freud: Quando você como psicanalista estiver escutando seu paciente, o
modo, a atitude, a forma com a qual você deverá escuta-lo deve ser semelhante a de uma
plateia assistindo a um show de stand-up comedy. Mas porquê? Para explicar a relação entre
os pensamentos despropositados que o paciente fala conscientemente em análise e aquilo
que está no inconsciente se utiliza uma analogia (que Freud explorou de forma abundante em
um de seus menos prestigiados livros “os chistes e sua relação com o inconsciente) que na
prática é uma quantidade de piadas analisadas por Freud. O que é um chiste? É um tipo
especifico de piada, esse termo não faz parte de nosso vocabulário comum mas poderíamos
utilizar como sinônimos “tirada” “sacada”, é o tipo de piada que os humorista de stand-up
comedy fazem. É um tipo de piada com humor muito sútil, o chiste você não dá uma risada
absurda, você acha inteligente justamente porque o chiste joga como a falta de uma
apresentação explicita do conteúdo da piada.
Exemplo: Tem um chiste do início da carreira de Danilo Gentile e ele conta ele se formou em
publicidade e ele diz “Os professores de lá eram muito atualizados, por exemplo, teve um dia
que perguntei “professor quanto custa para vincular um comercial na tv” e o professor
responde “depende, na tv tupi” e aí encerra a piada. Quando ouve essa piada você
imediatamente saca o sentido e acha engraçado, sente um prazer com aquela piada, você saca
o sentido porque percebe que ele conseguiu veicular a mensagem sem necessariamente dar
todos os elementos dessa mensagem. Ele estava fazendo uma crítica a universidade, ele está
dizendo “essa universidade é uma universidade ruim, os seus professores são muito
desatualizados” mas para expressar essa verdade ele não falou isso diretamente. Ele utilizou
um recurso retórico, uma figura de linguagem chamada ironia para expressar uma verdade
que não pode ser dita explicitamente.
Freud faz essa analogia com o chiste para nos ajudar a entender, por isso que o analista escuta
o seu paciente como alguém que está na plateia assistindo um show de stand up comedy,
porque só consegue rir em um show assim se você está atento para o que não é dito.
A pessoa que ficasse presa apenas ao que Danilo Gentil disse não entenderia nada. Para gozar
com a piada precisa prestar atenção naquilo que ele não está dizendo.
Se quiser captar o que o paciente diz em analise precisa prestar atenção ao que ele diz e ao
que ele não diz, aí você vai captar e formular uma interpretação.
O conceito de complexo e a associação livre
Freud trás o conceito de complexo que não foi inventado por Freud. Quando se fala de
complexo de édipo, castração, inferioridade... esses termos que aparecem no campo da
psicanalise, o termo complexo foi inventado por Jung. Jung entendia que se passamos do
pressuposto de que todo acontecimento psíquico é determinado, ou seja, cada palavra que o
paciente diz em analise não é por acaso que ele diz, ele diz porque aquelas palavras estão
conectadas ao restante da vida psíquica. Ele vai dizer “todas as palavras estão conectadas, os
pensamentos estão todos conectados mas que nessa imensidão de conexões os pensamentos
formam certos grupos”. Esses grupos de pensamentos que estão organizados e relacionados
entre si em função de um tema comum, esse grupo de pensamentos vai ser o que Jung
chamará de complexos. É um grupo de ideias e pensamentos organizados, articulados em
torno de um tema comum.
Freud vai retornar lá onde havia parado na descrição da evolução da técnica, ele come-la
utilizando a hipnose, depois ele passa pra técnica da insistência e ele percebe que essa técnica
é cansativa e então ele resolve inventar uma outra técnica: Associação livre.
Freud vai dizer: partindo do pressuposto de que existem complexos na mente do paciente, se a
gente permitir ou disser para o paciente “fale aqui comigo tudo o que vier à sua cabeça, não
censure nada, não tenha pudores, não fique se perguntando se o que está passando por sua
cabeça deve ser dito ou não, simplesmente descreva pra mim o que se passa na sua cabeça, vá
simplesmente debulhando as palavras diante de mim” se o paciente obedecer essa regra, o
que acontece? Esses complexos vão se mostrar naturalmente na fala do paciente.
Novelo de lã= complexos reprimidos e ao move-lo sai a linha que é a associação livre. Puxar o
novelo e ir desemaranhando, como vou pouco a pouco desfazendo esse novelo e tendo acesso
a esses fios que estão ali embolados? Através da associação livre.
Quando falamos associação livre para que o paciente que tem que fazer o trabalho de
associação, ele tem que pegar uma palavra e associar com outra conscientemente, mas não se
trata disso. Talvez uma tradução mais precisa embora pouco intuitiva seria “queda livre”
porque na verdade o que Freud está pretendendo designar com essa expressão é: os
pensamentos aparecem na minha cabeça e eu simplesmente descrevo esses pensamentos
para o meu analista, eu simplesmente vou registrando isso que vai passando pela minha
cabeça para o analista. O paciente que consegue fazer isso (que é um desafio enorme), ele
desenvolve sua análise com muito mais rapidez.
Se o paciente controlando o que diz em analise, ainda assim consigo encontrar o reprimido ali.
A tendência dos analistas mais inexperientes é de ficar angustiado diante daquela situação e
começar a pautar o discurso, quando se faz isso é como se você que é um expectador do show
de stand up, você se levantasse fosse ao palco e pegar o microfone do comediante. O lugar do
analista é na plateia.
“Mas o paciente não fala nada” incite a falar, estimule o falar, mas não paute o discurso dele.
O silêncio é a expressão da resistência. Claro que há casos e casos, mas está sendo falado aqui
de pacientes neuróticos e não pacientes muito regredidos, pacientes que possuem uma
fragilidade egóica muito significativa. O ato do analista é trabalhar com a interpretação,
psicanalista interpreta e para interpretar ele precisa escutar bastante, precisa reunir material,
nem sempre toda sessão vai ser possível interpretar porque se uma piada de um comediante
stand up é fácil de ser interpretada, a fala de um paciente não é tão fácil. O discurso fornece o
minério e por meio da interpretação fosse o processo de extração dessa verdade reprimida, o
analista escuta, lê nas entrelinhas, traz a interpretação e a interpretação vai ser uma expressão
da verdade reprimida que o paciente não deu conta de suportar.
O analista interpreta e traz para o paciente. O ideal é que o próprio paciente vá aprendendo
com o analista a fazer isso e ele próprio aos poucos não vai precisando da interpretação do
analista, ele próprio vai conseguindo interpretar a própria fala porque ele aprender a se
escutar, por isso que o psicanalista precisa estar em análise. Porque não aprendo a ser
psicanalista estudando teoria, a teoria dá sustentação, fundamento, saber mas aprendo a
prática da psicanalise no divã, sendo paciente. É vendo como meu analista trabalha e
aprendendo com ele a olhar para o meu próprio discurso, e aprendendo a escutar meu próprio
discurso me torno capaz de escutar o discurso do outro e depois de alguns anos de análise,
estudando a teoria posso chegar ao ponto de dizer “eu acho que agora dou conta de escutar
outra pessoa”.
Duas outras fontes de sondagem do inconsciente: análise dos atos falhos e interpretação dos
sonhos.
Os atos falhos são erros, por exemplo quando vou falar uma palavra e ao invés de falar a
palavra falo outra que não queria ter dito, isso é um ato falho. Eu queria falar cadeira e falei
mesa. Ou quando vou pegar um copo d’água e o copo cai da mão, é um equivoco, eu não
queria deixar o copo cair mas ele caiu. Ou quando vou mandar uma mensagem para uma
pessoa no whatsapp e ao invés de escrever x e escrevo y e eu não me apercebo rapidamente
daquele erro e mando a mensagem mesmo assim. Antes de Freud os atos falhos eram
considerados simplesmente bobagens, erros que cometemos. Curiosamente os escritores não
considerava os atos falhos assim, muitos deles utilizavam os atos falhos como indicativos de
intenções de seus personagens. O analista não deve ficar só atento no que o paciente diz ou
não diz, mas os equívocos que ele comete, os esquecimento da sessão, os atrasos ou
esquecimento de um objeto no consultório, para outras vertentes isso não faz diferença mas
para psicanalista sim. Na psicanalise trabalhos com o principio chaviano, “foi sem querer
querendo” nada acontece sem querer, nada acontece por acaso na conduta humana.
No caso dos sonhos é inegável que a gente não controle os sonhos e não dê para planejar o
sonho de um determinado jeito, não dá para descrever o sonho e ele vir da forma que você
quer, os sonhos são produções autônomas da nossa mente. Os sonhos tem a ver com o
inconsciente e ele tem dificuldade de refutar essa ideia porque não se controla sonhos, o
sonho constitui o fenômeno mais facilmente se verifica a presença do inconsciente, é a
formação do inconsciente mais explicita. Os sonhos são a expressão disfarçada de desejos
reprimidos.
Os sonhos se parecem com os fenômenos típicos de uma psicose. Se parecem com os delírios
do psicóticos onde se pensa coisas absurdas, o sujeito de repente imagina que o coringa está
atrás dele, ele supõe que o coringa existe e que ele o está perseguindo, isso porque ele possui
uma semelhança gigantesca com o batman. A diferença do sonho pro delírio é que os delírios
acontecem na mente das pessoas que tem uma constituição psicológica deficitária que são os
psicóticos e os sonhos acontece em todo mundo, mesmo em pessoas psicologicamente
saudáveis que podem sonhar que se tornou presidente da república, que está no big brother.
Freud mostra que não é assim, que na verdade sonhos são construções extremamente
sofisticadas e que guardam em si a verdade reprimida pelo sujeito.