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Ficha de Trabalho: Se Helena Apartar

1. Leia o vilancete «Se Helena apartar», de Luís de Camões. Em caso de necessidade, consulte
as notas. Depois, apresente, de forma clara e bem estruturada, as suas respostas aos itens que
se seguem.

a este mote seu:

Se Helena apartar (1) Faz serras floridas,


do campo seus olhos, faz claras as fontes:
nascerão abrolhos (2). se isto faz nos montes,
que fará nas vidas?
voltas Trá-las suspendidas
A verdura amena, como ervas em molhos,
gados, que pasceis (3), na luz de seus olhos.
sabei que a deveis
aos olhos d’Helena. Os corações prende
Os ventos serena, com graça inhumana;
faz flores d’abrolhos de cada pestana
o ar de seus olhos. ũ’ alma lhe pende.
Amor se lhe rende,
e, posto em giolhos,
pasma nos seus olhos.
NOTAS:
(1) apartar: afastar, desviar, retirar.
(2) abrolhos: espinhos ou rochedos.
(3) pasceis: pastais

1. Indique os versos que constituem uma separação clara na estrutura do poema. Justifique.

Proposta de solução
Os versos que constituem uma separação clara na estrutura do poema são os versos 13 e 14
(«Se isto faz nos montes, / Que fará nas vidas?»).
No primeiro momento do poema (vv. 1-12) verificamos os efeitos que os olhos de Helena têm
na natureza (“Faz serras floridas”) e o segundo momento do poema até ao verso 24 é relativo
aos efeitos que os olhos de Helena têm nos seres humanos e em todas as pessoas que a
olham, inclusivamente o próprio Amor.

2. Enumere os efeitos do olhar feminino.

Proposta de solução
Os efeitos do olhar de Helena refletem-se na Natureza, dado que, mantém a verdura dos
campos, pacifica as tempestades (“serena os ventos”), transforma espinhos em flores (“faz
flores d’abrolhos”), faz ainda florescer as serras e torna as fontes com água cristalina (“faz
claras as fontes”).
Por outro lado, nos seres humanos, o olhar de Helena tem um efeito de fascínio (“Trá-las
suspendidas”) dependentes da sua luz, os corações estão presos também, assim como almas,
ou seja, é um olhar que a todos encanta ou enfeitiça.

3.Identifique os recursos estilísticos presentes nos versos que se seguem e refira-se à sua
expressividade.

Proposta de solução:
a) «Faz serras floridas, / faz claras as fontes» (versos 11-12)
a) Anáfora - realça as capacidades do olhar feminino.
Hipérbole - enfatiza as consequências extraordinárias que se fazem nos elementos naturais
(serras, fontes) como consequência de serem olhados por Helena.

b) «Trá-las suspendidas, / como ervas em molhos» (versos 15-16)


b) Comparação — que destaca a quantidade de vidas humanas que foram presas e estão
fascinadas pelo olhar de Helena, da mesma forma que os molhos têm um grande número de
ervas.

c) «de cada pestana / ũ alma lhe pende.» (versos 20-21)


c) Hipérbole — reforça a quantidade de almas conquistadas pelo olhar de Helena, sugerindo
assim, que ess9a conquista é sobretudo espiritual.

4. Mostre que o modelo feminino descrito no poema corresponde à perspetiva petrarquista


da mulher. Justifique a sua resposta, transcrevendo os traços físicos e psicológicos que se
destacam.

Proposta de solução
A figura feminina do poema é retratada segundo os modelos petrarquistas pois dá-se relevo
ao seu poder transformador, à sua perfeição, tornando-a numa figura superior aos que a (o
próprio Amor presta-lhe vassalagem) devido à sua graciosidade (“com graça inhumana”), isto
em termos psicológicos.

O único traço físico concreto que lhe conhecemos é, de facto, a beleza dos seus olhos, assim
como das características que vai operar na natureza (“os ventos serena”).

Grupo II - Leitura | Gramática

Nas respostas aos itens de escolha múltipla, seleciona a opção correta.


Escreve, na folha de respostas, o número do item e a letra que identifica a opção escolhida.

O humor
Três grandes teorias procuraram, ao longo dos séculos, explicar o riso e o humor. A
primeira, que foi dominante durante cerca de dois mil anos (Platão até Thomas Hobbes), é a
chamada teoria da superioridade. Diz, em traços gerais (que são os únicos traços que o meu
entendimento costuma ser capaz de compreender), que o riso é a manifestação de um
sentimento de superioridade sobre os outros. No diálogo Filebo, Sócrates explica a Protarco
que nos rimos de quem procede como se interpretasse às avessas o conselho inscrito no
Templo de Apolo, em Delfos. Ou seja, rimo-nos daqueles que se desconhecem a si mesmos.
São ridículos todos os que julgam ser mais ricos, mais belos e mais virtuosos do que são. Ora,
uma vez que a ignorância é má, e tendo em conta que o riso proporciona prazer, quando rimos
da ignorância dos outros experimentamos um comprazimento com aquilo que é mau – o que
faz do ato de rir um comportamento eticamente problemático.
Aristóteles acredita, como Platão, que o riso é essencialmente motivado pelo escárnio
e resulta da constatação da nossa superioridade sobre os outros. Na Poética não há muito
mais sobre o tema do que aquela frase célebre segundo a qual a comédia é a imitação de
pessoas piores do que a média. Em Ética a Nicómaco, o filósofo acrescenta uma ideia que
reforça a associação do riso à agressividade. Diz ele: uma piada é um tipo de ofensa e, uma vez
que a lei proíbe certos insultos, talvez devesse proibir também certas piadas.
Muitos séculos mais tarde, Thomas Hobbes cunharia uma expressão famosa: “sudden
glory”. “Glória súbita é a paixão que produz as caretas chamadas riso.” Ambas as palavras são
importantes: “glória”, porque lembra a existência de um elemento essencial de surpresa. Toda
a gente que já ouviu duas vezes a mesma anedota sabe que a primeira experiência é
irrepetível. Fernando Pessoa dizia que a maior desgraça da sua vida era não poder voltar a ler
os Cadernos de Pickwick, de Dickens, pela primeira vez.

Ricardo Araújo Pereira, A doença, o sofrimento e a morte entram num bar, Lisboa: Tinta da China, 2016, pp. 16-17.

1. O texto tem como tema


(A) as várias teorias do riso ao longo dos tempos.
(B) as mais relevantes teorias que refletiram sobre o humor.
(C) as grandes reflexões sobre o riso nas últimas décadas.
(D) a teoria de Platão sobre o humor.

2. As expressões “A primeira” (l. 1) e “Ou seja” (l. 6) contribuem para


(A) embelezar o texto.
(B) marcar a discordância do jornalista face à posição tomada.
(C) assinalar a introdução de uma pequena narrativa.
(D) encadear as ideias dentro do texto.

3. O discurso parentético no segundo período do texto apresenta


(A) uma explicação.
(B) um comentário.
(C) um exemplo.
(D) uma crítica.

4. A expressão “Filebo” (l. 5) surge em itálico porque


(A) se pretende enfatizar a sua importância.
(B) é um diálogo.
(C) é o título de uma obra de Sócrates.
(D) é o título de uma obra de Protarco.

5. O narrador refere que o ato de rir pode ser um comportamento eticamente problemático
(A) porque muitas vezes nos rimos da insciência dos outros.
(B) uma vez que estamos sempre a rir-nos da falta de ignorância dos outros.
(C) visto que temos prazer no mal dos outros.
(D) porque brincamos com a felicidade alheia.

6. No texto, surgem várias referências a autores da Antiguidade clássica para


(A) marcar a diferença.
(B) comprovar a posição adotada.
(C) comprovar a importância dos deuses.
(D) assinalar a passagem do tempo.
7. A expressão “Muitos séculos mais tarde” (l.17) contribui para
(A) valorizar o presente.
(B) perspetivar uma visão sincrónica.
(C) assinalar as mudanças espaciais.
(D) marcar a passagem do tempo.

8. Identifica o campo lexical dominante no texto.


“Humor”.

9. Classifica a oração subordinada presente na segunda frase do texto.


Oração subordinada adjetiva relativa explicativa. (que foi dominante durante cerca de dois
mil anos)

10. Classifica sintaticamente a oração “que o riso é essencialmente motivado pelo escárnio” (l. 11).
Complemento direto.

Grupo III – Produção Escrita

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