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Cantigas de Amigo

Em geral, as cantigas de amigo têm como sujeito poético a voz feminina (donzela) que se refere ao
“amigo” (namorado).

As cantigas de amigo caracterizam-se pelos seguintes aspetos:

Representação de afetos e emoções:


 Variedade do sentimento amoroso: podemos encontrar vários sentimentos atribuídos á
donzela, desde a “alegria pela vinda próxima do seu amigo”, “tristeza ou saudade pela
partida” ou “ira pelos seus enganos”
 Confidência amorosa à natureza, à mãe ou às amigas: a jovem donzela abre o seu coração e
revela os seus sentimentos à mãe, às irmãs, às amigas ou até mesmo à natureza, sendo estas
as suas interlocutoras.
 Relação com a natureza: natureza humanizada/personificada, com o papel de confidente e
elementos naturais com valor simbólico: as confissões da donzela e a manifestação dos seus
sentimentos ocorrem, muitas vezes, num “espaço aberto e natural”, sendo a Natureza
testemunha dessas vivências, e por vezes até cúmplice, já que se identifica com a donzela,
parecendo partilhar do seu sofrimento ou da sua alegria.

Ambiente (espaços, protagonistas e circunstâncias)


 Espaços: ambiente doméstico e familiar marcado pela presença feminina. O sujeito
enunciador das cantigas de amigo encontra-se num “espaço aberto e natural”, popular e
quotidiano.
 Espaços naturais: a fonte, o rio, a praia.
 Espaços populares: a romaria, o baile, o santuário.
 Circunstâncias:
 Partida do amigo para a guerra causa tristeza e saudade (pois este é um tempo de
guerras para defender a fronteira)
 Ida a uma romaria ou a um santuário podia desencadear um encontro entre a
donzela e o amigo
 Atividades do quotidiano como ir buscar água a fonte ou ir lavar a roupa ao rio
podiam também originar um encontro com o amigo.
 Protagonistas: a figura principal destas cantigas é a “jovem enamorada”, por vezes
apresentada como “velida” (bonita), “bem-talhada” (bem-feita de corpo), e que canta
muitas vezes “o momento da iniciação erótica do amor”; esta jovem dirige-se ao seu amigo,
á Natureza ou a outras figuras femininas, suas confidentes.

Caracterização formal:
 Paralelismo: técnica arcaica de construção estrófica que consiste na apresentação da
mesma ideia em versos alternados, com pequenas variações verbais nos finais desses
mesmos versos.
 Refrão: repetição de um ou mais versos no final de cada estrofe.
Relativamente ao paralelismo, convém ainda distinguir o paralelismo perfeito ou puro e o
paralelismo imperfeito:

 Paralelismo perfeito ou puro: a repetição tem encadeamento (o 2º verso de uma estrofe é o


1º verso da estrofe alternada sequente).
 Paralelismo imperfeito: a repetição está isolada em cada par de estrofes.

Cantigas de Amor
Em geral, as cantigas de amor têm como sujeito poético a voz masculina (o trovador), que se dirige á
mulher amada (“senhor”), elogiando-a e/ou expressando a sua “coita de amor”.

As cantigas de amor podem ser caracterizadas, sobretudo, pelos seguintes aspetos:

Representação de afetos e emoções:


 Elogio cortês: o “poeta servidor” canta a sua senhor, “a beleza e as qualidades de uma
senhor inatingível e imaterial” que é colocada num pedestal, numa posição de clara
superioridade.
 “Coita de amor”: como a senhor se mostra “inatingível” e indiferente, o poeta revela muitas
vezes, nestas cantigas, o sofrimento amoroso provocado pela não correspondência amorosa
e que conduz á “morte de amor”.

Ambiente (espaços, protagonistas e circunstâncias)


 Cenário: espaço aristocrático/ palaciano (corte) sem referências claras porem atendendo a
que se trata de uma poesia culta e convencional que segue todo um código que passa pela
cortesia boa educação, civilidade), discrição e pela mesura (o autodomínio, a moderação).
 Circunstâncias: estas composições apresentam um contexto aristocrático: a vassalagem
entre o senhor e a senhor, a posição de superioridade da senhor.
 Protagonistas: o enunciador é masculino e assume-se como protagonista, revelando os seus
sentimentos para com uma dama que é caracterizada de forma superlativa, idealizada, e por
vezes negativa, por não ser sensível aos sentimentos do sujeito poético, mas cuja voz nunca
se ouve.

Caracterização formal:
A nível formal, algumas cantigas de amor incluem refrão. Outras, contudo, seguem a norma
provençal e não apresentam refrão- são as cantigas de mestria.
Cantigas de Escárnio e Maldizer
Em geral, as cantigas de escárnio e maldizer têm como sujeito poético a voz masculina (o trovador),
que faz uma crítica, de forma direta ou velada.

Embora se use a formulação genérica de cantigas de escárnio e maldizer, no grupo das cantigas
satíricas podemos distinguir as:

 De escárnio: a crítica é feita de modo mais subtil, recorrendo ao duplo sentido, ao equívoco.
 De maldizer: a crítica é direta e ostensiva, sendo os visados claramente identificados.

As cantigas de escárnio e maldizer podem ser caracterizadas, sobretudo, pelos seguintes aspetos:

Caracterização temática:
 Crítica de costumes: abrange desde os comportamentos quotidianos (sexuais, morais) aos
comportamentos políticos (guerras entre senhores ou senhores e monarcas)
 Paródia do amor cortês: o amor cortês com o seu carácter dramático, a morte por amor era
alvo de críticas e chacota

Ambiente (espaços, protagonistas e circunstâncias)


 Cenário: sendo uma poesia de cariz satírico, estava muito voltada para a sociedade, e por
isso espelhava cenários da vida quotidiana como casas senhoriais ou a corte.
 Circunstâncias: a vida quotidiana da nobreza, do clero, mas também de figuras do povo
gerava circunstâncias propícias á crítica, como por exemplo, a imoralidade de membros do
clero, a misérias em que viviam alguns elementos da nobreza.
 Protagonistas: podemos identificar personagens concretas, cujo nome é revelado nos
primeiros versos, ou, personagens não identificados, porém de alguma forma, ilustravam
hábitos e costumes da época (ex: jogral, fidalgo ou médico)

Caracterização formal: Não apresentam tanta regularidade estrófica pois a linguagem é mais
popular propositadamente para ser cómica, portanto, geralmente não apresentam refrão. A
linguagem é muitas vezes expressiva (uso de diminutivos e aumentativos), grosseira e pitoresca.

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