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Na fonte está Leonor

Lavando a talha e chorando,


Às amigas perguntando:
Vistes lá o meu amor
 
Posto o pensamento nele,
Porque a tudo o Amor obriga,
Cantava, mas a cantiga
Eram suspiros por ele.
Nisto estava Leonor
O seu desejo enganado,
Às amigas perguntando:
Vistes lá o meu amor?
 
O rosto sobre uma mão,
Os olhos no chão pregados,
Que, do chorar já cansados,
Algum descanso lhe dão.
Desta sorte Leonor
Suspende de quando em quando
Sua dor, e, em si tornando,
Mais pesada sente a dor.
 
Não deita dos olhos água,
Que não quer que a dor se abrande
Amor, porque em mágoa grande
Seca as lágrimas a mágoa.
Despois que de seu amor
Soube novas perguntando,
D’ improviso a vi chorando.
Olhai que extremos de dor!
“Na fonte está Lianor” é uma composição poética que está inserida dentro do grupo da poesia
tradicional e apresenta mote – “Na fonte está Lianor/ lavando a talha e chorando/, às amigas
perguntando:/ “ vistes lá o meu amor?”
Neste poema os versos estão organizados em redondilha maior, uma vez que apresenta sete
sílabas métricas em cada verso. O poema está dividido em três oitavas, tendo rima
emparelhada no segundo e terceiro/sexto e sétimo versos de cada estrofe.
No poema a forma de a pastora representar o seu sofrimento perante as amigas é bastante
complexa, escondendo o sofrimento mas demonstrando a sua preocupação.
Para realçar a mágoa de Lianor o sujeito poético utiliza o recurso expressivo metáfora como se
observa no verso 14 – “os olhos no chão pregados”; usa também uma perífrase no verso 21
“Não deita dias olhos água” para dizer que Lianor tem uma mágoa tão grande que faz com que
a mesma não consiga sequer chorar e aliviar a sua dor.
Concluindo, este poema camoniano contém inúmeros elementos que se assemelham às
cantigas de amigo como a experiência amorosa da jovem, a presença da fonte e das amigas
como confidentes,  e a reflexão sobre o amor
Cantiga Alheia

Mote

Na fonte está Lianor


Lavando a talha e chorando,
Às amigas perguntando:
- Vistes lá o meu amor?

Voltas

Posto o pensamento nele,


Porque a tudo o amor obriga,
Cantava, mas a cantiga
Eram suspiros por ele.
Nisto estava Lianor
O seu desejo enganando,
Às amigas perguntando:
- Vistes lá o meu amor?

O rosto sobre ua mão,


Os olhos no chão pregados,
Que, do chorar já cansados,
Algum descanso lhe dão.
Desta sorte Lianor
Suspende de quando em quando
Sua dor; e, em si tornando,
Mais pesada sente a dor.

Não deita dos olhos água,


Que não quer que a dor se abrande
Amor, porque, em mágoa grande,
Seca as lágrimas a mágoa.
Despois que de seu amor
Soube novas perguntando,
De improviso a vi chorando.
Olhai que extremos de dor!

1- A temática presente neste poema é a coita de amor pelas saudades do amigo. O poeta
desenvolve esta temática colocando Lianor no centro de todo o sofrimento amoroso. Ao
longo do poema o poeta apresenta esta figura feminina sofredora, capaz de transformar
o canto em suspiros "Cantava, mas a cantiga. Eram suspiros por ele" e quanto mais
saudades mais mágoa e dor.

Na 1ª estrofe Lianor com o pensamento e o desejo enganados vai perguntando às amigas


se viram o seu amor por quem o seu coração suspira. Na 2ª estrofe Lianor com os olhos
pregados no chão, cansados de tanto chorar, suspende a sua dor mas quando consciente
sente essa dor ainda mais pesada. Na 3ª estrofe, Lianor em grande mágoa recusa
abrandar a dor. Esta mágoa só terá abrandamento quando souber novas do seu amor.
2- Este poema pode ser dividido em duas partes:

A 1ª parte correspondente à 1ª volta (ou estrofe), onde se apresenta Lianor a cantar de


dor pela ausência do seu amado. A 2ª parte corresponde à 2ª e à 3ª estrofe onde se
descreve o estado de espírito de Lianor.

3- Os sentimentos presentes no poema são: Tristeza “…a cantiga eram suspiros por
ele.”, engano “…o seu desejo enganado.”, saudade “Viste lá o meu amor?”; “Posto o
pensamento nele”, dor “… suspende de quando em quando a sua dor”, tormento “Mais
pesada sente a dor.”, mágoa “…em mágoa grande”. As sensações expressas são
essencialmente de sofrimento, saudade e mágoa.

4- A linguagem é simples com expressões tradicionais ao gosto popular, muito próximo


dos cantares de amigo. Há a salientar a hipérbole no último verso da 2ª estrofe (”Mais
pesada sente a dor.”), o uso do gerúndio," chorando, perguntando, enganando, lavando"
a marcar o prolongamento dos sentimentos expressos. 

5- Quanto à análise formal estamos em presença de uma cantiga formada por um mote
de 4 versos onde se apresenta o tema e 3 voltas de 8 versos cada onde se faz o seu
desenvolvimento. Quanto à rima ela é emparelhada e interpolada do tipo a/b/b/a em
todo o poema. Quanto à métrica estamos em presença de uma redondilha maior formada
por versos de 7 sílabas “Na /fon/te es/tá /Li/a/nor/”; “La/van/do a /ta/lha e /cho/ran/do”.

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