Você está na página 1de 3

Tema: A despedida dos amantes; Saudade causada pela separação.

O tema
deste conhecido soneto é a separação (despedida) dos amantes numa
madrugada simultaneamente “triste e leda”. Triste porque testemunha da
grande dor que os domina, portanto, subjetivamente triste; e alegre, porque se
trata do romper duma aurora “amena marchetada” de um dia radioso, portanto
objetivamente, alegre.
Assunto: A madrugada assiste, como simples espectadora, à despedida
dolorosa de duas almas que se amam. Ressalta a oposição entre os planos
objetivos e subjetivo – a madrugada, enquadrada na sua beleza multicolor,
assiste, impassível, à dor lancinante de duas almas apaixonada que se
despedem e que possivelmente nunca mais se verão.

1. 4. Divisão em partes lógicasAquela triste e leda madrugada, •1ª. parte: O


sujeito lírico anuncia o desejo decheia toda de mágoa e de piedade,
nunca mais ver esquecida a madrugada emenquanto houver no mundo
saudade, que se deu a separação.quero que seja sempre celebrada.Ela
só, quando amena e marchetada •2ª. parte: Justificação do desejo
expresso –saía, dando ao mundo claridade, recordar sempre essa
madrugada porque foiviu apartar-se d`ua outra vontade, ela a única
testemunha da separação.que nunca poderá ver-se apartada.Ela só viu
as lágrimas em fio, •3ª. parte: Há uma concretização dosque duns e
doutros olhos derivadas, fenómenos presenciados: a separação dos
2s`acrescentaram em grande e largo rio; amantes, as lágrimas em fio,
as palavras magoadas.Ela viu as palavras magoadas, Verifica-se, assim,
um estruturação lógica dasque puderam tornar o fogo frio, ideias – há
um percurso do mundo interiore dar descanso as almas condenadas.
para o mundo exterior, do mais geral para o mais particular.
2. 5. Aquela triste e leda madrugada, 1º. Momento: constitui uma
introdução, expõecheia toda de mágoa e de piedade, a ideia geral de um
eu: o poeta manifesta aenquanto houver no mundo saudade, vontade
(“quero”) de que “aquela triste e ledaquero que seja sempre celebrada.
madrugada (…) seja sempre celebrada”;Ela só, quando amena e
marchetada 2º. Momento: justifica-se a necessidade dasaía, dando ao
mundo claridade, celebração dessa madrugada, correspondendoviu
apartar-se d`ua outra vontade, cada uma dessas estrofes a um momento
daque nunca poderá ver-se apartada. justificação. Cada um desses
momentos é marcado, não só pela divisão estrófica, masEla só viu as
lágrimas em fio, também pela repetição do pronome pessoalque duns e
doutros olhos derivadas, “Ela”, referido à madrugada,
personagems`acrescentaram em grande e largo rio; principal e única
testemunha (“viu”) daquela separação.Ela viu as palavras
magoadas,que puderam tornar o fogo frio,e dar descanso as almas
condenadas. 1º. momento 2º. momento SUJEITO Poeta Poeta OBJETO
Madrugada Separação triste e leda, lágrimas em fio, DESCRIÇÃO DO
cheia de mágoa palavras OBJETO piedosa magoadas
3. 6. O sentimento predominante neste soneto é a tristeza provocada pela
separação (sofrimento amoroso). Esse sofrimento foi testemunhado
pelaAquela triste e leda madrugada, madrugada:cheia toda de mágoa e
de piedade, -utilização do termo anafórico “Ela”,enquanto houver no
mundo saudade, que substitui a palavra madrugada aoquero que seja
sempre celebrada. longo do poema - a madrugada é personificadaEla
só, quando amena e marchetadasaía, dando ao mundo claridade,viu
apartar-se d`ua outra vontade,que nunca poderá ver-se apartada.Ela só
viu as lágrimas em fio,que duns e doutros olhos
derivadas,s`acrescentaram em grande e largo rio;Ela viu as palavras
magoadas,que puderam tornar o fogo frio,e dar descanso as almas
condenadas.
4. 7. O soneto desenvolve o contraste entre a beleza da Natureza e a
tristeza da despedida.O tema das despedida dos apaixonados ao
amanhecer é uma característica herdada das composiçõesmedievais
(albas).A tristeza – devida à Aquela triste e leda madrugada,despedida;
cheia toda de mágoa e de piedade,A alegria – porque se enquanto
houver no mundo saudade,anuncia um novo dia, quero que seja sempre
celebrada.cheio de luz, cor e Os amantes, ainda quemovimento Ela só,
quando amena e marchetada separados fisicamente, saía, dando ao
mundo claridade, estariam sempre unidos viu apartar-se d`ua outra
vontade, pelo amor, porque que nunca poderá ver-se apartada.
constituem uma «únicaO sofrimento desumano, vontade».acima do que
é normal Ela só viu as lágrimas em fio,aguentar-se, maior do que duns e
doutros olhos derivadas,que o próprio sofrimento s`acrescentaram em
grande e largo rio;do inferno. Ela viu as palavras magoadas, que
puderam tornar o fogo frio, e dar descanso as almas condenadas.O
sofrimento veiculado por estas palavras era maior do que o dos
condenados ao Inferno; por isso, atéas almas desses condenados se
sentiriam aliviadas por verem outros sofrer ainda mais do que eles.
5. 8. Aquela triste e leda madrugada, Antítese Perífrasecheia toda de
mágoa e de piedade, Hipérboleenquanto houver no mundo saudade,
Metáfora Anáforaquero que seja sempre celebrada.Ela só, quando
amena e marchetada Sinédoque Personificaçãosaía, dando ao mundo
claridade,viu apartar-se d`ua outra vontade,que nunca poderá ver-se
apartada. Paradoxo - apartar-se dua outra vontade/ que nunca poderá
ver-se apartada;Ela só viu as lágrimas em fio,que duns e doutros olhos
derivadas, paradoxo, hipérbole, antítese – ass`acrescentaram em
grande e largo rio; palavras magoadas/ que puderam tornar o fogo frio e
dar descanso às almasEla viu as palavras magoadas, condenadasque
puderam tornar o fogo frio,e dar descanso as almas condenadas.
Adjectivação simples: "magoadas", Adjectivação dupla: "triste e leda",
"frio", "condenadas” "amena e marchetada".
6. 9. Aquela triste e leda madrugada, Este soneto é constituído por
duascheia toda de mágoa e de piedade,enquanto houver no mundo
saudade, quadras e dois tercetos em metroquero que seja sempre
celebrada. decassilábico, com esquema rimático,
ABBA/ABBA/CDC/CDC,Ela só, quando amena e marchetadasaía, dando
ao mundo claridade, verificando-se a existência de rimaviu apartar-se
d`ua outra vontade, interpolada em A, emparelhada emque nunca
poderá ver-se apartada. B e interpolada em CD.Ela só viu as lágrimas
em fio,que duns e doutros olhos derivadas,s`acrescentaram em grande
e largo rio;Ela viu as palavras magoadas,que puderam tornar o fogo
frio,e dar descanso as almas condenadas.
7. 10. Disciplina: PortuguêsProf.ª: Helena Maria Coutinho

Você também pode gostar