AQUELA TRISTE E LEDA MADRUGADA Aquela triste e leda madrugada, Cheia toda de mgoa e de piedade, Enquanto houver no mundo

saudade Quero que seja sempre celebrada. Ela s quando, amena e marchetada, Saa, dando ao mundo claridade, Viu apartar-se de ua outra vontade, Que nunca poder ver-se apartada. Ela s viu as lgrimas em fio, Que duns e doutros olhos derivadas, Se acrescentaram em grande e largo rio. Ela viu as palavras magoadas, Que puderam tornar o fogo frio, E dar descanso s almas condenadas.

TEMA O tema deste conhecido soneto a separao (despedida) dos amantes numa madrugada simultaneamente triste e leda. Triste porque testemunha da grande dor que os domina, portanto, subjectivamente triste; e alegre, porque se trata do romper duma aurora amena marchetada de um dia radioso, portanto objectivamente, alegre. ESTRUTURA INTERNA O soneto divide-se em duas partes lgicas: 1 parte 1 quadra funciona como uma introduo, em que o poeta manifesta a vontade (quero) de que aquela triste e leda madrugada () seja sempre celebrada; 2 parte 2 quadra e os dois tercetos justifica-se a necessidade da celebrao dessa madrugada, correspondendo cada uma dessas estrofes a um momento da justificao. Cada um desses momentos marcado, no s pela diviso estrfica, mas tambm pela repetio do pronome pessoal Ela, referido madrugada, personagem principal e nica testemunha (viu) daquela separao. A 1 parte mais descritiva, passa-se no presente (quero) e o sujeito projecta os seus desejos no futuro. A 2 parte mais narrativa, evoca um acontecimento, e da a utilizao dos pretritos perfeito (viu (trs vezes); acrescentaram) e imperfeito do indicativo (saa).

UNIDADE FORMA / CONTEDO O elemento madrugada assegura a unidade do poema e funciona como personagem principal. Assim, so-lhe atribudas caractersticas e aces animizadoras: triste, leda, cheia de mgoa e de piedade, amena O carcter desta separao pode ver-se atravs de: a) Hiprbole - as lgrimas que sacrescentaram em grande e largo rio b) Anttese - as palavras magoadas que puderam tornar o fogo frio