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PARTE B

A melhor dona que eu nunca vi,


per bõa fé1, nem que oí2 dizer,
e a que Deus fez melhor parecer,
mia senhor est, e senhor das que vi,
5 de mui bom preço3 e de mui bom sem4,
per bõa fé, e de tod'outro bem
de quant'eu nunca doutra dona oí.

E bem creede, de pram5, que é 'ssi,


e será já, enquant'ela viver,
10 e quen'a vir e a bem conhocer,
sei eu, de pram, que dirá que é 'ssi.
Ainda vos de seu bem mais direi:
é muit'amada, pero que nom sei
quen'a tam muito6 ame come mim.

15 E por tod'esto7 mal dia naci,


porque lhe sei tamanho bem querer,
como lh'eu quer'e vejo-me morrer,
e non'a vej', e mal dia naci!
Mais rog'a Deus, que lhe tanto bem fez,
20 que El me guise8 com'algũa vez
a veja ced'9, u10 m'eu dela parti,

com melhor coraçom escontra mim11....

Martim Codax, in Graça Videira Lopes, Manuel Pedro Ferreira et al. (2011), Cantigas Medievais
Galego Portuguesas [base de dados online], Lisboa, Instituto de Estudos Medievais, FCSH/NOVA
(consultado em outubro de 2018, disponível em: http://cantigas.fcsh.unl.pt).

1
per bõa fé: realmente, por Deus (fórmula de juramento). 2 oí: do verbo oir, ouvi. 3 preço: fama, reputação. 4 bom sem: bom senso, sensata. 5 de pram:
decerto. 6 tam muito: tanto. 7 tod’esto: tudo isto. 8 guise: destine, proporcione. 9 ced’: brevemente. 10 u: quando. 11 com melhor coraçom escontra mim: com
mais boa vontade em relação a mim.

1. Descreve a «senhor» através de três características, fundamentando a tua resposta com elementos
textuais pertinentes.

2. Identifica e interpreta a repetição dos articuladores do discurso que exprimem certeza na primeira
e segunda estrofes.

3. Explicita o pedido feito a Deus do verso 19 ao 22.

4.

1
PARTE C

7. A poesia trovadoresca espelha as vivências da época medieval.

Escreve uma breve exposição sobre semelhanças e diferenças entre as cantigas de amigo e as de
amor.

A tua exposição deve incluir:


• uma introdução ao tema;

• um desenvolvimento no qual compares as cantigas de amigo e de amor, apresentando um


aspeto que as aproxime e outro que as distinga, fundamentando as ideias apresentadas em,
pelo menos, um exemplo significativo para cada um dos géneros;
• uma conclusão adequada ao desenvolvimento do tema.

2
Grupo II

Nas respostas aos itens de escolha múltipla, seleciona a opção correta.


Escreve, na folha de respostas, o número do item e a letra que identifica a opção escolhida.

Lê o texto. Se necessário, consulta as notas.


 O site das Cantigas Medievais Galego-Portuguesas disponibiliza, aos investigadores e ao público em geral, a
totalidade das cantigas medievais presentes nos cancioneiros galego-portugueses, as imagens dos
manuscritos e a música (medieval e as versões ou co
mposições originais contemporâneas que tomam como ponto de partida os textos das cantigas).

O projeto Cantigas Medievais Galego-Portuguesas, sediado no Instituto de Estudos Medievais


(IEM) da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade NOVA de Lisboa (FCSH/NOVA), é
resultante do projeto Littera, edição, atualização e preservação do património literário medieval
português, financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT).
5 As cantigas trovadorescas galego-portuguesas são um dos patrimónios mais ricos da Idade
Média peninsular. Produzidas durante um período de cerca de 150 anos, genericamente entre o
final do século XII e meados do século XIV, historicamente situam-se no alvor das nacionalidades
ibéricas, sendo, em grande parte contemporâneas da Reconquista cristã, que nelas deixa numerosas
marcas. Tendo em conta a geografia política peninsular da época, muitas vezes com fronteiras
10 voláteis1 e frequentemente em luta entre si, a área cultural onde se desenvolve a arte trovadoresca
galego-portuguesa (ou seja, em língua galego-portuguesa) corresponde, latamente 2, aos reinos de
Leão e Galiza, ao reino de Portugal e ao reino de Castela (a partir de 1230 unificado com Leão).
Nas origens da arte trovadoresca galego-portuguesa está, indiscutivelmente, a arte dos
trovadores provençais, movimento artístico nascido no sul de França em inícios do século XII, que
15 rapidamente se estende pela Europa cristã. Compondo e cantando já em língua falada (no caso, o
Occitânico3) e não mais em Latim, os trovadores provençais, através da arte da canso, mas também
do fin’amor que lhe está associado, definiram os modelos e padrões artísticos e culturais que se
iriam tornar dominantes nas cortes e nas casas aristocráticas europeias durante os séculos
seguintes. Acompanhando, sem dúvida, um movimento europeu mais vasto de adoção dos modelos
20 occitânicos, a arte trovadoresca galego-portuguesa assume características muito próprias que a
distinguem de forma assinalável da sua congénere 4 provençal, desde logo pela criação de um género
próprio, a cantiga de amigo.
No total, e recolhidas em três grandes cancioneiros (o Cancioneiro da Ajuda, o Cancioneiro da
Biblioteca Nacional e o Cancioneiro da Biblioteca Vaticana), chegaram até nós cerca de 1680
25 cantigas profanas ou de corte, pertencentes a três géneros maiores (cantiga de amor, cantiga de
amigo e cantiga de escárnio e maldizer), de cerca de 187 trovadores e jograis. Da mesma época e
ainda em língua galego-portuguesa são também as Cantigas de Santa Maria, um vasto conjunto de
420 cantigas religiosas de louvor à Virgem e de narração dos seus milagres, atribuíveis a Afonso X.
Tendo em comum com as cantigas profanas a língua e eventualmente espaços semelhantes de
30 produção, as Cantigas de Santa Maria pertencem, no entanto, a uma tradição cultural bem distinta,
motivo pelo qual não integram a base de dados disponível no site do projeto. (…)

Cantigas Medievais Galego Portuguesas [base de dados online], Lisboa, Instituto de Estudos
Medievais, FCSH/NOVA (consultado em outubro de 2018, disponível em:
http://cantigas.fcsh.unl.pt).

3
1
voláteis: que mudam rapidamente. 2latamente: de modo grosseiro, não exato. 3 Occitânico: antigo conjunto de línguas faladas no Sul de
França. 4 congénere: semelhante.

4
1. A produção de poesia trovadoresca
(A) coincide com o nascimento das nações e com a Reconquista.
(B) situa-se numa fase precedente ao nascimento das nações europeias.
(C) é posterior ao fenómeno da reconquista, mas foi por ela influenciada.
(D) ocorre num contexto que antecede o nascimento das nações e da Reconquista.

2. Ao nível político e geográfico, o contexto de produção literária pode definir-se


(A) pelo clima de estabilidade em toda a europa cristã.
(B) pelas fronteiras bem definidas, embora houvesse conflitos permanentes.
(C) por linhas fronteiriças instáveis e em guerras frequentes.
(D) sobretudo pela convivência multicultural entre países.

3. A poesia galego-portuguesa
(A) acompanhou sempre o movimento europeu mais vasto, sem inovar.
(B) limitou-se a adotar os modelos occitânicos.
(C) não esteve alinhada com a sua congénere provençal, tendo padrões literários próprios.
(D) seguiu as tendências literárias, mas também criou modelos literários inovadores.

4. Nas linhas 23 e 24, os parênteses isolam


(A) um aparte.
(B) um comentário.
(C) uma explicação.
(D) uma enumeração.

5. Em «pelo qual não integram a base de dados disponível no site do projeto» (l. 31), temos uma
oração subordinada
(A) adverbial final.
(B) adverbial causal.
(C) adjetiva relativa restritiva.
(D) substantiva relativa.

6. Indica as funções sintáticas desempenhadas pelas expressões seguintes:


a) «pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT)» (l. 4);
b) «a arte dos trovadores provençais» (ll. 13-14).

7. Identifica os processos fonológicos que ocorreram na evolução da seguinte palavra:


• REGE > rei.

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