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Chove. Que fiz eu da vida?

Fiz o que ela fez de mim...


De pensada, mal vivida...
Triste de quem é assim!

Numa angústia sem remédio


Tenho febre na alma, e, ao ser,
Tenho saudade, entre o tédio,
Só do que nunca quis ter...

Quem eu pudera ter sido,


Que é dele? Entre ódios pequenos
De mim, estou de mim partido.
Se ao menos chovesse menos!

1. Regista três traços caracterizadores do eu.

O “eu” reflete sobre questões existenciais(“Que fiz eu da vida?”, “Que é dele?”).


Paralelamente, denuncia-se como ser triste (“Triste de quem é assim”),
consequência da permanente intelectualização, da inquietante consciência. A
“angústia sem remédio” assalta-o, despertando saudade de um passado
tranquilizador.

2. Explicita a relação de sentido entre o tempo meteorológico e o estado emocional


do sujeito poético.

Os sentimentos vivenciados pelo sujeito poético num dia chuvoso são tristes,
aspeto que se associa à angústia e perturbação do “eu”. Aliás, no último verso do
poema, o sujeito lírico manifesta o desejo de a chuva abrandar, ou seja, a vontade
de sofrer mentos (“Se ao menos chovesse menos”).

3. Identifica uma expressão que aponte para a fragmentação do “ei”, explicando o


seu sentido.

A fragmentação do “eu” verifica-se na expressão “De mim, ‘stou de mim partido”.


Aqui, o eu denuncia a desintegração que sente, revelando a inconsistência do seu
ser, a sua fragilidade, a sua frustração.

4. Comprova a natureza circular do poema.

A referência à chuva inicia e termina todo o poema, revelando o estado de


angústia do sujeito poético. Se inicialmente a chuva está em conformidade com o
estado de espírito, o desalento e a dor que sente, no final, o recurso ao modo
conjuntivo, sublinha a vontade que o eu tem de amenizar esse sofrimento.

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