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Lê o seguinte poema de Alberto Caeiro e responde às questões.

O guardador de rebanhos

XXXIV

Acho tão natural que não se pense


Que me ponho a rir às vezes, sozinho,
Não sei bem de quê, mas é de qualquer cousa
Que tem que ver com haver gente que pensa…

5 Que pensará o meu muro da minha sombra?


Pergunto-me às vezes isto até dar por mim
A perguntar-me cousas…
E então desagrado-me, e incomodo-me
Paul Sérusier, Anoitecer, c. 1884.
Como se desse por mim com um pé dormente…

10 Que pensará isto de aquilo?


Nada pensa nada.
Terá a terra consciência das pedras e plantas que tem?
Se ela a tiver, que tenha…
Que me importa isso a mim?
15 Se eu pensasse nestas cousas,
Deixava de ver as árvores e as plantas
E deixava de ver a Terra,
Para ver só os meus pensamentos…
Entristecia e ficava às escuras.
20 E assim, sem pensar, tenho a Terra e o Céu.
Alberto Caeiro, Poesia de Alberto Caeiro (ed. Fernando Cabral Martins e Richard Zenith),
3.ª ed., Lisboa, Assírio & Alvim, 2014, p. 70.
.
1. Caracteriza o sujeito poético, com base na primeira estrofe do poema.

2. Identifica os sentimentos expressos nos versos «E então desagrado-me, e incomodo-me» (v. 8).

3. Explica o significado do verso «Que me importa isso a mim?» (v. 14), tendo em conta o contexto
em que surge.

4. Refere as marcas de coloquialidade presentes no poema, salientando os efeitos que produzem.

5. Comenta o sentido do verso «E assim, sem pensar, tenho a Terra e o Céu» (v. 20) enquanto
conclusão do poema e de acordo com a temática tratada.

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