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º ano
Lê o poema.
Sempre que olho para as cousas e penso no que os homens pensam delas,
Rio como um regato que soa fresco numa pedra.
Porque o único sentido oculto das cousas
É elas não terem sentido oculto nenhum.
10 É mais estranho do que todas as estranhezas
E do que os sonhos de todos os poetas
E os pensamentos de todos os filósofos,
Que as coisas sejam realmente o que parecem ser
E não haja nada que compreender.
15 Sim, eis o que os meus sentidos aprenderam sozinhos: –
As cousas não têm significação: têm existência.
As cousas são o único sentido oculto das cousas.
PESSOA, Fernando, 2010. Poesia dos Outros Eus. 2.ª ed. Lisboa: Assírio & Alvim (pp. 66-67)
Na primeira estrofe, o sujeito poético reflete sobre o «mistério das cousas» (v. 1),
exprimindo a ideia de que ele não é visível ao olhar («não aparece», v. 2). Deste
modo, as interrogações retóricas traduzem a estranheza ou a indiferença do «eu» face
às tentativas de análise e de interpretação metafísica da realidade, revelando o seu
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Outras Expressões – Português – 12.º ano
2. Explica a importância das referências aos «poetas» (v. 11) e aos «filósofos»
(v. 12) no contexto da reflexão do sujeito poético.
No verso 16, o sujeito poético sintetiza a razão que sustenta a sua recusa em
interpretar a realidade e a sua defesa do sensacionismo como forma privilegiada de
conhecer o mundo. Uma vez que as coisas não têm qualquer «significação» para além
da sua «existência», elas devem ser apreendidas por meio dos «sentidos».
Assim, na última estrofe, o «eu» reafirma as ideias desenvolvidas ao longo do
poema (conforme os advérbios «Sim» e «eis» destacam), valorizando a experiência
guiada pelos sentidos como única fonte do verdadeiro conhecimento e o primado das
sensações («o que os meus sentidos aprenderam sozinhos»). Nos dois versos finais,
reforça a certeza de que as coisas não têm «mistério» ou «sentido oculto», apenas
«existência», sublinhando a rejeição do significado que os homens acrescentam às
coisas e a defesa do objetivismo e dos sentidos/das sensações. .
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