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Outras Expressões – Português – 12.

º ano

Questão de aula de Português


12.º ano

Sequência 1 – Fernando Pessoa


Poesia de Alberto Caeiro

Apresenta as tuas respostas de forma bem estruturada.

Lê o poema.

1 O mistério das cousas, onde está ele?


Onde está ele que não aparece
Pelo menos a mostrar-nos que é mistério?
Que sabe o rio disso e que sabe a árvore?
5 E eu, que não sou mais do que eles, que sei disso?

Sempre que olho para as cousas e penso no que os homens pensam delas,
Rio como um regato que soa fresco numa pedra.
 
Porque o único sentido oculto das cousas
É elas não terem sentido oculto nenhum.
10 É mais estranho do que todas as estranhezas
E do que os sonhos de todos os poetas
E os pensamentos de todos os filósofos,
Que as coisas sejam realmente o que parecem ser
E não haja nada que compreender.
 
15 Sim, eis o que os meus sentidos aprenderam sozinhos: –
As cousas não têm significação: têm existência.
As cousas são o único sentido oculto das cousas.

PESSOA, Fernando, 2010. Poesia dos Outros Eus. 2.ª ed. Lisboa: Assírio & Alvim (pp. 66-67)

1. Explicita o valor expressivo das interrogações presentes na primeira


estrofe, tendo em conta o modo como o sujeito poético se relaciona com
a natureza.

Na primeira estrofe, o sujeito poético reflete sobre o «mistério das cousas» (v. 1),
exprimindo a ideia de que ele não é visível ao olhar («não aparece», v. 2). Deste
modo, as interrogações retóricas traduzem a estranheza ou a indiferença do «eu» face
às tentativas de análise e de interpretação metafísica da realidade, revelando o seu

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distanciamento em relação a essa atitude e ao absurdo da ideia de existir «mistério»


nas coisas.
A constatação de que não há «mistério» nas coisas (v. 2) assenta na identificação
que o sujeito poético estabelece com a natureza: se o «rio» e a «árvore» (v. 4) existem
sem conhecer uma sua hipotética dimensão oculta, assim o «eu», que é parte
integrante da mesma realidade («não sou mais do que eles», v. 5), também nega o
conhecimento de qualquer «mistério» e existe sem o conhecer.

2. Explica a importância das referências aos «poetas» (v. 11) e aos «filósofos»
(v. 12) no contexto da reflexão do sujeito poético.

Com a referência aos «poetas» e aos «filósofos», o sujeito poético realça a


estranheza relativamente à tendência de usar o pensamento face ao que é evidente e
não exige compreensão, salientando a inexistência de uma explicação ou de uma
interpretação das coisas que ultrapasse o que é visível e captado pelos sentidos.
Deste modo, intensifica a sua postura antimetafísica, enunciada nas estrofes
anteriores e que o distingue dos restantes «homens», e reforça a ideia de que as
coisas não têm «sentido oculto nenhum», ainda que tal possa ser considerado
«estranho» por quem, como os «poetas» e os «filósofos», entende que há mais a
compreender nas coisas do que o que elas são e efetivamente «parecem ser».

2. Interpreta o verso 16, considerando o conteúdo da última estrofe.

No verso 16, o sujeito poético sintetiza a razão que sustenta a sua recusa em
interpretar a realidade e a sua defesa do sensacionismo como forma privilegiada de
conhecer o mundo. Uma vez que as coisas não têm qualquer «significação» para além
da sua «existência», elas devem ser apreendidas por meio dos «sentidos».
Assim, na última estrofe, o «eu» reafirma as ideias desenvolvidas ao longo do
poema (conforme os advérbios «Sim» e «eis» destacam), valorizando a experiência
guiada pelos sentidos como única fonte do verdadeiro conhecimento e o primado das
sensações («o que os meus sentidos aprenderam sozinhos»). Nos dois versos finais,
reforça a certeza de que as coisas não têm «mistério» ou «sentido oculto», apenas
«existência», sublinhando a rejeição do significado que os homens acrescentam às
coisas e a defesa do objetivismo e dos sentidos/das sensações. .

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