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TESTE DE AVALIAÇÃO PORTUGUÊS

ANO LETIVO

DATA: 100 MINUTOS 2015/2016


ANO/TURMA PROFESSOR CLASSIFICAÇÃO

10.º
NOME DO ALUNO Nº DO ALUNO CONHECIMENTO DO ENCARREGADO DE EDUCAÇÃO

Grupo I
Lê atentamente os textos que se seguem .

Senhor fremosa, pois me non queredes


creer a coita'n que me ten Amor,
por meu mal é que tan ben parecedes
e por meu mal vos filhei por senhor, v. 4 – filhei: tomei
e por meu mal tan muito ben oí v. 5 – oí: ouvi
dizer de vós, e por meu mal vos vi:
pois meu mal é quanto ben vós havedes.

E pois vos vós da coita non nembrades v. 8 – nembrades: lembrais


nen do afan que mi o Amor faz sofrer, v. 9 – afan: desgosto, angústia
por meu mal vivo mais ca vós cuidades,
e por meu mal me fezo Deus nacer v. 11 – fezo: fez
e por meu mal non morri u cuidei v. 12 – u: onde
como vos viss', e por meu mal fiquei
vivo, pois vós por meu mal ren non dades. v. 14 – ren non dades: não dais nada

Desta coita en que me vós tẽedes,


en que hoj'eu vivo tan sen sabor,
que farei eu, pois mi a vós non creedes?
Que farei eu, cativo pecador?
Que farei eu, vivendo sempre assi?
Que farei eu, que mal día naci?
Que farei eu, pois me vós non valedes?

E pois que Deus non quer que me valhades


nen me queirades mia coita creer,
que farei eu, por Deus, que mi o digades!
Que farei eu, se logo non morrer?
Que farei eu se mais a viver hei?
Que farei eu, que conselh'i non sei? v. 27- que conselh’i non sei: que não sei o que
Que farei eu, que vós desemparades? hei de fazer

Martim Soares

Apresenta, de forma clara e bem estruturada, as tuas respostas às questões que se seguem.

1. Atenta no retrato que o eu poético faz da “senhor”.


1.1. Caracteriza o objeto amado, justificando com expressões do texto.

O objeto amado pelo “eu” é uma senhora bela (“Senhor fremosa”, “tão bem parecedes”), que
possui possui boas qualidades morais: “muito bem oí / dizer de vós”. Além disso, está
hierarquicamente numa posição superior ao trovador (“vos filhei por senhor”); é altiva e indiferente
aos sentimentos do eu (“E pois vos vós da coita não nembrades”).

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2. Descreve os sentimentos que dominam o sujeito poético, apontando o motivo para tal estado
emocional.
O sujeito poético revela angústia, desalento, desconcerto (“nen do afan que mi o Amor faz
sofrer,/ por meu mal vivo mais ca vós cuidades”), confusão / falta de norte, pois sofre de coita de
amor (“creer a coita'n que me ten Amor”). Este sofrimento deve-se à indiferença da senhor)

3. Refere dois recursos expressivos utilizados nas duas últimas estrofes para salientar o estado de
espírito em que se encontra o sujeito poético e aponta o seu valor.

Nesta composição, nas duas últimas estrofes, usa-se anáfora («Que farei eu..») e interrogação
retórica, para reforçar o desespero do eu, que lamenta não ter morrido, não saber o que fazer
perante o desamparo da “senhor”. Além disso, estes recursos expressivos refletem o sentido de
inutilidade da vida do sujeito lírico.

4. Explica de que modo esta cantiga ilustra o amor cortês.

Esta cantiga ilustra o amor cortês, na medida em que o “eu” tomou a mulher por senhor: “vos filhei
por senhor” (vassalagem amorosa) e não divulga o seu nome. Mostra-se submisso e refere o
sofrimento amoroso - “coita de amor” - resultante da indiferença da dama aos seus sentimentos.
Esse amor impossível e inevitável faz com que o eu lírico sofra ao sentir-se prisioneiro desse
sentimento.

5. Descreve formalmente a cantiga.

A cantiga é constituída por quatro coblas de 7 versos cada (sétimas). O esquema rimático é
ababcca, portanto as rimas são cruzada, emparelhada e interpolada. Os versos são decassílabos,
uma vez que são constituídos por 10 sílabas métricas. Trata-se de uma cantiga de mestria, pois
não apresenta refrão.

Grupo II
Lê o texto seguinte. Em caso de necessidade, consulta as notas.

Quando se pensa na Idade Média, é quase inevitável imaginar castelos inexpugnáveis (1),
bruxas queimadas na fogueira ou infelizes camponeses à mercê de cruéis senhores
feudais. Associamos aquela época histórica a um mundo de trevas e barbárie, embora
também evoque histórias de cavaleiros andantes dispostos a sacrificar a vida pelo amor de
5 cândidas donzelas.
Segundo Giuseppe Sergi, professor da Universidade de Turim, em Itália, “atualmente, a
Idade Média é vista como se tivesse ocorrido noutro mundo, tanto pela positiva como pela
negativa”. Na visão desfavorável, só existe pobreza, fome, peste, caos e corrupção; a
favorável inclui apaixonantes torneios, a vida na corte e príncipes magnânimos(2).
10 O clérigo [bispo Giovani Andrea Bussi] definiu como media tempestas (“épocas
intermédias”, em latim) os quase mil anos que tinham decorrido desde a queda do Império
Romano até à sua época, e que os homens de letras começariam a descrever como uma
etapa sombria que se interpusera entre os gloriosos tempos clássicos e o resplandecente
mundo moderno.
15 A literatura também proporcionou uma visão romântica, com os seus mitos sobre o amor

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cortês e as gestas(3) épicas, estereótipos que seriam depois popularizados em romances e
filmes pouco fiéis ao verdadeiro contexto histórico.
Tudo isto conduziu à noção generalizada de que a época medieval consistiu em dez
séculos de ignorância e obscurantismo, durante os quais nada de importante foi inventado.
20 No entanto, a medievalista italiana Chiara Frugoni recorda que foi nessa altura que
surgiram vários dos pequenos avanços que melhoraram a nossa vida, como é o caso dos
botões, dos garfos, das calças e de aparelhos como a bússola, os óculos, a imprensa de
caracteres móveis e o relógio mecânico.
Foi nessa alegada época obscura que começaram igualmente a configurar-se
25 instituições como os bancos e as universidades, e que se divulgaram as notas musicais e a
numeração árabe, além do xadrez e dos jogos de cartas.
Na Baixa Idade Média, segundo o historiador francês Jean Gimpel, “a Europa ocidental
conheceu um período de intensa atividade tecnológica, fecundo em invenções, uma
verdadeira antecipação da revolução industrial inglesa do século XVIII”.

in Superinteressante, n.º 169, maio de 2012

(1) inexpugnáveis: que não podem ser conquistados.


(2) magnânimo: que tem grandeza; que mostra generosidade ou bondade.
(3) gestas: narração antiga de acontecimentos ou façanhas históricas.

Para responderes a cada um dos itens de 1.1. a 1.5., seleciona a opção correta. Escreve, na
folha de resposta, o número de cada item e a letra que identifica a opção escolhida.

1.1. A imagem da Idade Média


(A) está repleta de contrastes, com aspetos negativos e positivos.
(B) está repleta de contrastes, apesar de sobressaírem os aspetos negativos.
(C) está repleta de contrastes, apesar de sobressaírem os aspetos positivos.
(D) é consensual, apesar dos aspetos negativos e positivos.

1.2. A literatura proporcionou uma visão


(A) distorcida da realidade medieval.
(B) fatalista da realidade medieval.
(C) verídica da realidade medieval.
(D) romanceada da realidade medieval.

1.3. A Idade Média foi uma época


(A) de estagnação cultural e histórica.
(B) de avanços históricos e culturais.
(C) de germinação de grandes descobertas e acontecimentos.
(D) de retrocesso cultural e histórico.

1.4. O texto apresentado pode enquadrar-se no género


(A) narrativo.
(B) descritivo.
(C) argumentativo.
(D) expositivo.

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1.5. Na expressão “os quase mil anos que tinham decorrido desde a queda do império romano”, o
verbo encontra-se conjugado
(A) no pretérito-mais-que perfeito composto do indicativo.
(B) no pretérito perfeito composto do indicativo.
(C) no pretérito imperfeito do indicativo.
(D) no pretérito imperfeito do conjuntivo.

2. Indica o antecedente do vocábulo “sua” (linha 12). O clérigo [bispo Giovani Andrea Bussi]

3. Identifica a função sintática desempenhada pelos constituintes indicados:


a) “na Idade Média” (linha 1) – complemento oblíquo
b) “professor da Universidade de Turim” (linha 6) – modificador do nome apositivo
c) “Tudo isto” (linha 18) - sujeito
d) Os homens de letras consideravam a Idade Média um período de trevas. – predicativo do C.D.

4. Classifica as orações presentes nas expressões transcritas:


a) “embora também evoque histórias de cavaleiros andantes dispostos a sacrificar a vida pelo
amor de cândidas donzelas.” (ll. 3-5) – subordinada adverbial concessiva
b) “como se tivesse ocorrido noutro mundo” (linha 7) – subordinada adverbial comparativa
c) “Chiara Frugoni recorda… que surgiram pequenos avanços” (ll. 20-21) – sub. substantiva
completiva

Grupo III

Com base na tua experiência de leitura das cantigas de amigo, desenvolve um texto
expositivo (de 120 a 150 palavras) sobre o valor documental dessas composições poéticas,
enquanto testemunhos do contexto sociopolítico e cultural da época medieval.

As cantigas de amigo testemunham a época medieval, ilustrando determinados aspetos de


natureza cultural e sociopolítica.
Em primeiro lugar, lembram a cultura popular e a tradição oral, através do paralelismo e
refrão existentes em muitas das cantigas estudadas. Em segundo lugar, documentam o contexto
sociopolítico da Idade Média, em que eram frequentes as guerras e, no noroeste peninsular, se
travavam batalhas entre cristãos e muçulmanos, como é retratado na cantiga “Como vivo coitada,
madre, por meu amigo”, queixando-se a donzela de que o namorado foi para “o ferido”. A
religiosidade dos povos peninsulares é visível pelas constantes referências das jovens a Deus e a
santos a quem rezam para que os amigos regressem depressa. Por último, estas composições
relembram a importância das romarias enquanto lugares de divertimento e como os bailes eram
oportunidades para namorar.
Concluindo, as cantigas de amigo remetem para a importância que a mulher teve na Idade
Média, numa altura em que os homens partiam para a Reconquista, testemunham vivências
sentimentais e ambientes. (166 palavras)

Grupo I Grupo II Grupo II


1.1. 2. 3 4. 5. 1.1. 1.2. 1.3. 1.4. 1.5. 2. 3. 4.
20 pontos 20 pontos 20 pontos 20 pontos 20 pontos 5 5 5 5 5 4 12 9 50 pontos
(30+20)

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