Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Texto A
A viagem feminina
Historicamente, a viagem feminina tem sido de modo geral considerada de natureza mais
íntima e confessional do que a viagem masculina. Mas ignorar na mulher o ânimo de conquista
ou exploração, tradicionalmente associado ao universo masculino, significa obliterar 1, por
exemplo, os meses que Alexandra David Néel2 passou tentando tornar-se na primeira
ocidental a entrar em Lhasa3, na altura um território proibido a estrangeiros; ou ignorar o
mapeamento da região do nordeste do Irão feito por Freya Stark (1893-1993) enquanto
buscava os castelos da histórica seita dos Assassinos. Ou mesmo a infortunada holandesa
Alexandrine Tinne (1835-1869), que perdeu a vida no Saara, em busca da fonte do Nilo.
Estas mulheres foram aventureiras e procuraram ser as primeiras nas explorações que se
propunham fazer. Assim, não se pode negar que a vontade de mapear4 existiu em numerosos
casos. A diferença em relação ao homem surge na maneira como a história é contada e
recebida pelo público, bem como em todos os constrangimentos levantados pelo facto de ser
uma mulher, e não um homem, a narrar a aventura.
Até bem adiantado o século XX, uma mulher que viajasse só era objeto de espanto,
curiosidade ou escândalo, quando não o conjunto dos três sentimentos, traduzindo a
estupefação perante uma representante do sexo «fraco» a aventurar-se no mundo dos
homens.
Esta estranheza perante a mulher que se desloca é uma ideia dominante nos diversos
livros de conduta que ao longo dos séculos foram aparecendo sobre as mulheres. Num deles,
em que se dão conselhos a jovens solteiros – The art of governing a wife (1747) –, afirma-se
claramente: «É suposto os homens irem para fora e arranjarem a sua vida, lidar com outros
homens, tratar de todos os assuntos de portas abertas.» O mundo dos homens é o mundo do
exterior, do visível, enquanto das mulheres se espera que «assentem e poupem, tomem conta
da casa, falem com poucos, guardem tudo dentro delas». O mundo do interior, do invisível, da
ausência de descoberta. (…)
Mas sim, elas viajam, e fazem-no cedo como peregrinas, missionárias, monjas, mulheres
de exploradores ou missionários, até que no século XIX, apesar de ainda se julgar estranha a
mulher viajante, se assiste à grande explosão da mobilidade feminina. As saint-
simmoniennes5 em França e sobretudo as vitorianas5 inglesas dão o exemplo e partem em
viagens de conhecimento e exploração:
Nós, duas mulheres (…) descobrimos e afirmamos que as mulheres sozinhas viajam
muito melhor do que com homens: elas obtêm o que querem de uma forma calma e
sempre conseguem levar a sua avante, enquanto os homens vão ficar seguramente
nervosos e armar confusão se as coisas não estão imediatamente como eles querem.
Sónia Serrano, Mulheres viajantes, Lisboa, Tinta da China, 2014, pp. 27-29.
(Texto adaptado)
Vocabulário e notas
1 apagar, esquecer; 2 nascida em 1868; 3 principal centro religioso do Nepal; 4 elaborar os
primeiros mapas de certas regiões; 5 saint-simmoniennes
(…) vitorianas – mulheres viajantes do século XIX, respetivamente francesas e inglesas
1
1. Para responder a cada um dos itens de 1.1 a 1.5, seleciona a opção que permite obter uma
afirmação correta. (50 pontos – 10 pontos cada alínea)
1.2 De acordo com o primeiro parágrafo, ao longo do tempo, considerava-se que as mulheres
viajavam
(A) somente para expressar sentimentos e emoções.
(B) principalmente para realizar explorações e elaborar mapas.
(C) também para realizar explorações e elaborar mapas.
(D) também para expressar sentimentos e emoções.
1.5 De acordo com as autoras das palavras com que o texto termina, em tipo de letra mais
pequeno, a diferença entre mulheres viajantes e homens viajantes é de natureza
(A) exclusivamente física.
(B) física e psicológica.
(C) exclusivamente psicológica.
(D) parcialmente psicológica.
2
Texto B
1
Estava eu
2
Ermida situada na ilha do mesmo nome, em frente a Vigo.
3
Teste de Gramática (20 valores)
1. Divide e classifica as orações presentes nas frases seguintes (5 valores – 1 valor cada
alínea):
2. Indica a função sintática do constituinte sublinhado em cada frase (5 valores – 0,5 valores
cada alínea):
a) A donzela, que é bela e formosa, foi à fonte lavar os cabelos. ___________________________
b) Oh meu amigo, quero-te comigo. _________________________________________________
c) A mãe vigiava a donzela. _______________________________________________________
d) Quando a donzela viu o amigo, sorriu. _____________________________________________
e) A donzela esperava o seu amigo. _________________________________________________
f) A donzela perguntou à mãe se podia namorar. _______________________________________
g) A donzela parece desesperada pela demora do seu amigo. ____________________________
h) A bela donzela foi à fonte. ______________________________________________________
i) Frequentemente, a donzela dançava para o seu amigo. ________________________________
j) A donzela foi à fonte. ___________________________________________________________
4
3. Identifica o processo fonológico que ocorreu em cada par de palavras (5 valores – 0,5 valores
cada alínea)
4. Indica a classe e a subclasse de cada palavra da seguinte frase (5 valores – 0,5 valor cada
palavra):
5
Proposta de correção
Texto A
1. 1.1 (B); 1.2 (A); 1.3 (D); 1.4 (D); 1.5 (C)
Texto B
1. O sujeito poético é uma donzela solitária que espera o amigo, junto a uma ermida, situada
numa pequena península. O cenário é marítimo e religioso, pois trata-se de uma ermida junto às
águas.
2. Neste longo monólogo, a donzela evidencia, de forma crescente, a angústia e a solidão de uma
espera infrutífera, reiterada no refrão.
3. Nesta composição poética encontramos várias marcas da narratividade: conta-se a história de
uma personagem, localizando-se a ação no espaço e no tempo. A donzela encontra-se num
cenário marítimo e, à medida que o tempo passa, as águas sobem e o seu receio de morrer
afogada cresce.
4. A subida das águas simboliza a angústia crescente da donzela e o desespero causado pela
ausência do amigo, que confirma a não correspondência amorosa. A certeza da morte é
consequência do medo crescente que desfigura o cenário, ou a própria realidade, numa alusão às
ondas a crescerem e ao consequente afogamento da donzela.
5. Esta é uma cantiga paralelística perfeita. Podemos encontrar exemplos de paralelismo
semântico em “barqueiro”/”remador” e de paralelismo anafórico em “ermida”/”ermida”.