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Português – 10º E

Ano letivo 2015-2016


Escola Secundária
Ficha de Avaliação Sumativa – 21 de outubro de 2015

Teste de Leitura/Educação Literária (20 valores = 200 pontos)

Texto A
A viagem feminina

Historicamente, a viagem feminina tem sido de modo geral considerada de natureza mais
íntima e confessional do que a viagem masculina. Mas ignorar na mulher o ânimo de conquista
ou exploração, tradicionalmente associado ao universo masculino, significa obliterar 1, por
exemplo, os meses que Alexandra David Néel2 passou tentando tornar-se na primeira
ocidental a entrar em Lhasa3, na altura um território proibido a estrangeiros; ou ignorar o
mapeamento da região do nordeste do Irão feito por Freya Stark (1893-1993) enquanto
buscava os castelos da histórica seita dos Assassinos. Ou mesmo a infortunada holandesa
Alexandrine Tinne (1835-1869), que perdeu a vida no Saara, em busca da fonte do Nilo.
Estas mulheres foram aventureiras e procuraram ser as primeiras nas explorações que se
propunham fazer. Assim, não se pode negar que a vontade de mapear4 existiu em numerosos
casos. A diferença em relação ao homem surge na maneira como a história é contada e
recebida pelo público, bem como em todos os constrangimentos levantados pelo facto de ser
uma mulher, e não um homem, a narrar a aventura.
Até bem adiantado o século XX, uma mulher que viajasse só era objeto de espanto,
curiosidade ou escândalo, quando não o conjunto dos três sentimentos, traduzindo a
estupefação perante uma representante do sexo «fraco» a aventurar-se no mundo dos
homens.
Esta estranheza perante a mulher que se desloca é uma ideia dominante nos diversos
livros de conduta que ao longo dos séculos foram aparecendo sobre as mulheres. Num deles,
em que se dão conselhos a jovens solteiros – The art of governing a wife (1747) –, afirma-se
claramente: «É suposto os homens irem para fora e arranjarem a sua vida, lidar com outros
homens, tratar de todos os assuntos de portas abertas.» O mundo dos homens é o mundo do
exterior, do visível, enquanto das mulheres se espera que «assentem e poupem, tomem conta
da casa, falem com poucos, guardem tudo dentro delas». O mundo do interior, do invisível, da
ausência de descoberta. (…)
Mas sim, elas viajam, e fazem-no cedo como peregrinas, missionárias, monjas, mulheres
de exploradores ou missionários, até que no século XIX, apesar de ainda se julgar estranha a
mulher viajante, se assiste à grande explosão da mobilidade feminina. As saint-
simmoniennes5 em França e sobretudo as vitorianas5 inglesas dão o exemplo e partem em
viagens de conhecimento e exploração:

Nós, duas mulheres (…) descobrimos e afirmamos que as mulheres sozinhas viajam
muito melhor do que com homens: elas obtêm o que querem de uma forma calma e
sempre conseguem levar a sua avante, enquanto os homens vão ficar seguramente
nervosos e armar confusão se as coisas não estão imediatamente como eles querem.

Sónia Serrano, Mulheres viajantes, Lisboa, Tinta da China, 2014, pp. 27-29.
(Texto adaptado)

Vocabulário e notas
1 apagar, esquecer; 2 nascida em 1868; 3 principal centro religioso do Nepal; 4 elaborar os
primeiros mapas de certas regiões; 5 saint-simmoniennes
(…) vitorianas – mulheres viajantes do século XIX, respetivamente francesas e inglesas
1
1. Para responder a cada um dos itens de 1.1 a 1.5, seleciona a opção que permite obter uma
afirmação correta. (50 pontos – 10 pontos cada alínea)

1.1 A frase que melhor sintetiza o conteúdo deste texto é


(A) As mulheres só tardiamente começaram a viajar.
(B) As mulheres souberam ganhar o direito à viagem.
(C) As mulheres começaram a viajar muito depois dos homens.
(D) As mulheres são melhores viajantes do que os homens.

1.2 De acordo com o primeiro parágrafo, ao longo do tempo, considerava-se que as mulheres
viajavam
(A) somente para expressar sentimentos e emoções.
(B) principalmente para realizar explorações e elaborar mapas.
(C) também para realizar explorações e elaborar mapas.
(D) também para expressar sentimentos e emoções.

1.3 A «estranheza» referida no texto, na l. 16, derivava de condicionalismos e preconceitos de


ordem
(A) psicológica.
(B) social.
(C) económica.
(D) física.

1.4 A condição de viajante das mulheres, historicamente considerada, expressa-se no texto


através de uma
(A) antítese.
(B) metáfora.
(C) comparação.
(D) enumeração.

1.5 De acordo com as autoras das palavras com que o texto termina, em tipo de letra mais
pequeno, a diferença entre mulheres viajantes e homens viajantes é de natureza
(A) exclusivamente física.
(B) física e psicológica.
(C) exclusivamente psicológica.
(D) parcialmente psicológica.

2
Texto B

Lê a cantiga de amigo que se apresenta a seguir e responde de forma correta e completa às


questões.

Sedia-m'eu na ermida de San Simiom

Sedia-m'eu1 na ermida de San Simiom2


e cercarom-mi as ondas que grandes som:
eu atendend'o meu amigo,
eu atendend'o meu amigo.

Estando na ermida ant'o altar,


cercarom-mi as ondas grandes do mar;
eu atendend'o meu amigo,
eu atendend'o meu amigo.

E cercarom-mi as ondas que grandes som:


nem hei i barqueiro nem remador;
eu atendend'o meu amigo,
eu atendend'o meu amigo.

E cercarom-mi as ondas do alto mar;


nom hei i barqueiro nem sei remar;
eu atendend'o meu amigo,
eu atendend'o meu amigo.

Nom hei i barqueiro nem remador:


morrerei eu, fremosa, no mar maior:
eu atendend'o meu amigo,
eu atendend'o meu amigo.

Nem hei i barqueiro nem sei remar,


e morrerei eu, fremosa, no alto mar:
eu atendend'o meu amigo,
eu atendend'o meu amigo.

Meendinho (jogral galego, autor de uma única cantiga de amigo conhecida)

1. Identifica o sujeito poético da cantiga e a situação em que se encontra, caracterizando o


cenário envolvente da donzela. (30 pontos)
2. Traça a evolução psicológica da donzela no decurso ca composição poética. (30 pontos)
3. Explicita marcas da narratividade no poema. (30 pontos)
4. Os elementos naturais presentes no poema podem ter uma interpretação simbólica. Infere o
significado da simbologia da subida das águas e o seu efeito na donzela abandonada. (30
pontos)
5. Descreve a cantiga na sua forma, e verifica a presença das várias formas de paralelismo. (30
pontos)

1
Estava eu
2
Ermida situada na ilha do mesmo nome, em frente a Vigo.
3
Teste de Gramática (20 valores)

1. Divide e classifica as orações presentes nas frases seguintes (5 valores – 1 valor cada
alínea):

a) A donzela, que é bela e formosa, foi à fonte lavar os cabelos.

b) A donzela perguntou à mãe se podia namorar.

c) A donzela esperava o seu amigo, mas este não aparecia.

d) A mãe vigiava a donzela, visto que ela tardava.

e) Quando a donzela viu o amigo, sorriu.

2. Indica a função sintática do constituinte sublinhado em cada frase (5 valores – 0,5 valores
cada alínea):
a) A donzela, que é bela e formosa, foi à fonte lavar os cabelos. ___________________________
b) Oh meu amigo, quero-te comigo. _________________________________________________
c) A mãe vigiava a donzela. _______________________________________________________
d) Quando a donzela viu o amigo, sorriu. _____________________________________________
e) A donzela esperava o seu amigo. _________________________________________________
f) A donzela perguntou à mãe se podia namorar. _______________________________________
g) A donzela parece desesperada pela demora do seu amigo. ____________________________
h) A bela donzela foi à fonte. ______________________________________________________
i) Frequentemente, a donzela dançava para o seu amigo. ________________________________
j) A donzela foi à fonte. ___________________________________________________________

4
3. Identifica o processo fonológico que ocorreu em cada par de palavras (5 valores – 0,5 valores
cada alínea)

a) mater > madre _______________________________________________________________


b) mater > madre _______________________________________________________________
c) flore > flor ___________________________________________________________________
d) absente > ausente ____________________________________________________________
e) lee > lei _____________________________________________________________________
f) flama > chama ________________________________________________________________
g) luna > lua ___________________________________________________________________
h) mi > mim ____________________________________________________________________
i) i > aí ________________________________________________________________________
j) opra > obra __________________________________________________________________

4. Indica a classe e a subclasse de cada palavra da seguinte frase (5 valores – 0,5 valor cada
palavra):

Bailemos nós, irmãs, na fonte, e esperemos o nosso amigo.

5
Proposta de correção
Texto A
1. 1.1 (B); 1.2 (A); 1.3 (D); 1.4 (D); 1.5 (C)

Texto B
1. O sujeito poético é uma donzela solitária que espera o amigo, junto a uma ermida, situada
numa pequena península. O cenário é marítimo e religioso, pois trata-se de uma ermida junto às
águas.
2. Neste longo monólogo, a donzela evidencia, de forma crescente, a angústia e a solidão de uma
espera infrutífera, reiterada no refrão.
3. Nesta composição poética encontramos várias marcas da narratividade: conta-se a história de
uma personagem, localizando-se a ação no espaço e no tempo. A donzela encontra-se num
cenário marítimo e, à medida que o tempo passa, as águas sobem e o seu receio de morrer
afogada cresce.
4. A subida das águas simboliza a angústia crescente da donzela e o desespero causado pela
ausência do amigo, que confirma a não correspondência amorosa. A certeza da morte é
consequência do medo crescente que desfigura o cenário, ou a própria realidade, numa alusão às
ondas a crescerem e ao consequente afogamento da donzela.
5. Esta é uma cantiga paralelística perfeita. Podemos encontrar exemplos de paralelismo
semântico em “barqueiro”/”remador” e de paralelismo anafórico em “ermida”/”ermida”.

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