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PALAVRAS 10

Teste de avaliação – 10.º ano novembro 2020

Educação Literária

Grupo I (100 pontos)

A (80 pontos)

Lê atentamente o seguinte texto e consulta as notas apresentadas.

A dona que eu am’ e tenho por senhor


amostrade-me-a, Deus, se vos en prazer for,
se non dade-me a morte.

A que tenh’ eu por lume1 d’estes olhos meus


e por que choram sempre, amostrade-me-a, Deus,
se non dade-me a morte.

Essa que Vós fezestes melhor parecer2


de quantas sei, ai Deus, fazede-me-aveer,
se non dade-me a morte.

Ai Deus que me-a fezeste mais ca min amar3,


mostrade-me-a u possa com ela falar,
se non dade-me a morte.

Bernardo Bonaval, in Antologia da Poesia Trovadoresca Galego-Portuguesa, Alexandre Pinheiro Torres, Porto:
Lello & Irmão Editores, 1977, p. 96.

Apresenta, de forma clara e bem estruturada, as tuas respostas aos itens que se seguem.
1. Indica o tema e assunto desta composição poética.

Nesta cantiga de amor, o sujeito poético demonstra-se apaixonado pela dona “Senhor”
(«A dona que eu am’ e tenho por senhor»). Porém, a “senhor” mostra- se distante, sem
mostrar interesse pelo sujeito poético (não há nenhum verso que te permita justifcar esta
opinião, pelo que não deve estar inserida na resposat) . Assim, o “eu” pede a Deus para

1 Luz.
2 Rosto.
3 Ai Deus que fizeste com que eu a amasse mais do que a mim próprio.
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falar com ela, ou que lhe dei-a dê a morte para acabar com o seu sofrimento. Em suma,
o tema desta cantiga é o sofrimento amoroso, por parte do sujeito poético (coita de
amor).

Proposta de resposta

Esta composição poética apresenta os sentimentos de um sujeito poético


masculino, que revela a sua saudade e o desejo de ver a mulher amada (“a
dona que eu amo”), fazendo, por isso, uma súplica a Deus para que lhe permita
vê-la (“amostrade-me-a, Deus, se vos en prazer for”), pois, de outro modo,
prefere morrer. O seu amor é tal que a ama mais do que a ele próprio, como
refere no verso “Ai Deus que me-a fezeste mais ca min amar”. Concluindo,
nesta cantiga domina a «coita» de amor, que o “eu” incessantemente repete.

2. Apresenta duas características do sujeito poético a partir da leitura da primeira


estrofe.

O sujeito poético revela-se desesperado («mostrade-me-a, Deus, se non dade-me a


morte») e triste (« d’estes olhos meus e por que choram sempre»). Tens de explicar
como está e o que deseja o sujeito poético

Proposta de resposta

O sujeito poético suplica a Deus que lhe permita ver a sua “senhor”
(“amostrade-me-a, Deus, se vos en prazer for”) e que tal suceda num local
onde lhe seja possível dirigir-lhe a palavra. Deste modo, o sujeito deseja o
amor de uma “dona” inacessível e ausente por quem o “eu” sente saudades:
“amostrade-me-a, Deus”. Assim, o sujeito apresenta-se como um vassalo da
senhora que considera hierarquicamente superior e manifesta por ela um amor
profundo: “A dona que eu am’ e tenho por senhor”. Em suma, o sujeito
apresenta-se como triste, infeliz, saudoso e melancólico perante a ausência da
amada, que venera, mas que o faz sofrer.

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3) Identifica dois recursos expressivos e explica o seu valor.

Esta cantiga, recorre à interjeição (não é um recurso expressivo), para demonstrar a


aflição e o sofrimento do sujeito poético « Ai Deus ». Além disso, usa também a
anáfora, uma vez que o sujeito poético repete o verso « se non da me a morte » para
mostrar a sua aflição.

Proposta de resposta

Nesta cantiga, estão presentes vários recursos expressivos. Assim, a


apóstrofe a Deus é um dos recursos expressivos presentes na composição:
“Deus” e “ai Deus”. Através deste apelo, o sujeito evidencia o seu desespero
e a necessidade de recorrer a uma entidade superior para minorar o seu
sofrimento de amor. Na caracterização da “dona” é utilizada a hipérbole,
realçando a atitude de vassalagem do sujeito poético: “Essa que Vós fezestes
melhor parecer de quantas sei”.

4) A partir da leitura do poema, explicita a relação que se estabelece entre o


sujeito poético e a “dona”.

O sujeito poético tem uma relação de amor cortês com a dona, ou seja, revela-se
um desgosto amoroso por parte do “eu” lírico que se revela apaixonado pela dona.

Proposta de correçao

No poema, fica evidente que a relação que se estabelece entre a dona e o


sujeito poético é hierárquica, uma vez que o sujeito assume o papel de
vassalo perante a dama. Assim, o “eu” hiperboliza as qualidades da senhora
(“Essa que Vós fezestes melhor parecer / de quantas sei”) e manifesta o seu
sofrimento de amor. De facto, a senhora surge como uma figura idealizada
que provoca no “eu” a “coita de amor”. É uma mulher inacessível e superior e
só com a intervenção de Deus, o sujeito poderá aspirar ao seu amor (“ai
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Deus”). Concluindo, o “eu” assume a sua inferioridade perante a “senhor” e


procura a intervenção de uma entidade divina, que o poderá ajudar.

B (20 pontos)
Lê atentamente o comentário apresentado.

Poucos homens têm nascido historiadores como Fernão Lopes (…). Além do primor
com que trabalhou sempre por apurar os sucessos políticos, Lopes adivinhou os princípios da
moderna história: a vida dos tempos de que escreveu transmitiu-a à posteridade e não, como
outros fizeram, somente um esqueleto de sucessos políticos e de nomes célebres. Nas crónicas
de Fernão Lopes não há só história: há poesia e drama; há a Idade Média com sua fé, seu
entusiasmo, seu amor de glória.
Alexandre Herculano, Opúsculos, V, Lisboa: Bertrand, 1881, p. 9.

3. Recorda a Crónica de D. João I escrita por Fernão Lopes e descreve o contexto


histórico que serve de pano de fundo à narrativa.
4. Explicita de que modo as personagens em destaque na crónica contribuem para a
afirmação da consciência coletiva portuguesa num momento de crise.

Grupo II (50 pontos)


Leitura | Gramática

Nas respostas aos itens de escolha múltipla, seleciona a opção correta.


Escreve, na folha de respostas, o número do item e a letra que identifica a opção
escolhida.

Incentivo ao incentivo à leitura

Os textos que escrevo aqui na VISÃO são frequentemente incluídos em livros da


disciplina de português do ensino secundário. É uma maneira excelente de pôr os alunos em
contacto com escrita requintada e raciocínios sofisticados (1). Talvez um dia este mesmo texto
venha a figurar num desses livros. Seria curioso: pela primeira vez, um texto incluído numa
5 seleta escolar refletiria acerca da circunstância de ser um texto incluído numa seleta escolar.
É uma espécie de mise en abyme (2) capaz de aborrecer alunos durante uns bons dez
minutos de aula, ou até de lhes azucrinar a paciência num teste.
De vez em quando recebo chamadas telefónicas de jovens, filhos de amigos meus, que
10 se encontram nesse momento a proceder à “análise e interpretação” de qualquer coisa escrita
por mim. Costumam estar bastante indignados. Dizem que, se eu quero ser corretamente
interpretado, deveria deixar-me de brincadeiras e escrever logo o que pretendo dizer, em vez
de me pôr com figuras de estilo. Que começar frases com a palavra “que” excita nos
15 professores a vontade de pedir uma análise sintática, e depois quem se lixa são eles. E que
estão estafados de estudar estas estúpidas aliterações, por exemplo .(3)

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Ora, a culpa não é minha. Como calculam, eu nunca imaginei ser um TPC. Lamento
profundamente que a vida se tenha desenrolado desta forma. É deplorável que milhares de
estudantes tenham de me conhecer assim, entre uma estrofe d’Os Lusíadas e um excerto do
20 Auto da Barca do Inferno – e que os seus professores os obriguem a dar-me a mesma atenção
que eles dedicaram a Camões e Gil Vicente. Foi isso que me levou a escrever esta crónica
cheia de anotações explicativas, para facilitar o trabalho dos alunos (4). Há um aspeto da minha
obra que tanto alunos como professores devem manter presente: na maior parte das vezes eu
25 escrevo estes textos em pijama. Todas as respostas de um teste ou trabalho de casa sobre mim
devem incluir essa referência: “Nesta frase – que, muito provavelmente, o autor escreveu em
pijama –, encontramos uma epanadiplose. (5)” E sempre que um professor perguntar, a
propósito de um texto meu, o que pretende realmente o autor, o aluno fica desde já
credenciado para responder: “O autor pretende que este aluno tenha 5 a português. É a sua
única ambição na vida.” (6) A sério.
Ricardo Araújo Pereira, Visão,22.06.2017,
http://visao.sapo.pt (consultado em 24.08.2017).
________________________
(1) Atenção: isto é bem capaz de ser ironia.
(2) Eis uma interessante expressão em estrangeiro cujo significado está disponível na Wikipedia.
(3) Prometo parar prontamente com este tipo de proposição.
(4) Cá está mais uma anotação bastante explicativa.
(5) É difícil encontrar uma epanadiplose numa frase minha, porque eu não sei bem o que uma epanadiplose é.
(6) Não há aqui qualquer ironia.
(7) A sério.

1. O título do texto veicula


(A) a opinião dos professores.
(B) a ironia do autor.
(C) a opinião dos alunos.
(D) a humildade do autor.
A
2. A passagem “azucrinar a paciência num teste” (l. 7) constitui
(A) um juízo de valor.
(B) um argumento.
(C) uma descrição.
(D) um comentário irónico.
D

3. No terceiro parágrafo do texto, o autor recorre a um exemplo


(A) que comprova a tese apresentada.
(B) que introduz uma informação nova.
(C) que contraria a ideia apresentada D) que não é pertinente.
A
4. O vocábulo “Ora” (l.15) encerra um valor
(A) explicativo.
(B) conclusivo.
(C) temporal.
(D) adversativo.
B
5. O pronome destacado em “ou até de lhes azucrinar a paciência num teste” (l. 7) tem
como referente o segmento
(A) alunos.

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(B) uns bons dez minutos.


(C) uns bons dez minutos de aula.
(D) aborrecer alunos.
C
6. A palavra destacada na frase “Foi isso que me levou a escrever esta crónica” (l.20)
(A)
(B) é um pronome pessoal com função sintática de complemento indireto.
(C) é um pronome pessoal com função sintática de sujeito.
(D) é um pronome pessoal com função sintática de complemento direto.
(E) é um pronome pessoal com função sintática de complemento oblíquo.
C
7. O segmento “em pijama” (l.22) desempenha a função sintática de
(A) modificador de grupo verbal.
(B) modificador de nome restritivo.
(C) complemento direto.
(D) modificador de nome apositivo.
B

8. Divide e classifica as orações da seguinte frase: “Lamento profundamente que a vida se


tenha desenrolado desta forma.” (ll. 15-16).

Lamento profundamente- Oração subordinante


que a vida se tenha desenrolado desta forma- oração subordinada adjetiva completiva

SUBSTANTIVA
9. Indica a função sintática da oração “que milhares de estudantes tenham de me conhecer
assim” (ll.16-17).

modificador restritivo do nome. sujeito

10. A palavra “vida” (l.16) provém do étimo latino VITA─. De acordo com os teus
conhecimentos, dá dois exemplos de outras palavras relacionadas com o mesmo étimo.
Vital, vitalidade, vitalício.

Grupo III (50 pontos)


Escrita

Rocio Munoz, Peru, http://www.cartoonvirtualmuseum.org/f_portocartoon_i.htm (consultado a 17.10.


2019).
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Redige uma apreciação crítica (120 a 250 palavras) do cartoon apresentado. Não te
esqueças de planificar previamente o teu texto e de o rever. Deves ter também em conta
as marcas específicas deste género textual.

Bom trabalho!

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