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Ficha de avaliação escrita

Ensino Profissional

Módulo 7 – Fernando Pessoa

Utiliza apenas caneta ou esferográfica de tinta azul ou preta.


Não é permitida a consulta de dicionário.
Não é permitido o uso de corretor. Risca aquilo que pretendes que não seja
classificado.
Para cada resposta, identifica o grupo e o item.
Apresenta as tuas respostas de forma legível.
Ao responder, diferencia corretamente as maiúsculas das minúsculas.
Apresenta apenas uma resposta para cada item.
As cotações dos itens encontram-se no final do enunciado da prova.
Grupo I

Apresenta as tuas respostas de forma bem estruturada.

PARTE A
Lê o poema.

1 A criança que fui chora na estrada.


Deixei-a ali quando vim ser quem sou;
Mas hoje, vendo que o que sou é nada,
Quero ir buscar quem fui onde ficou.

5 Ah, como hei de encontrá-lo? Quem errou


A vinda tem a regressão errada.
Já não sei de onde vim nem onde estou.
De o não saber, minha alma está parada.

Se ao menos atingir neste lugar


10 Um alto monte, de onde possa enfim
O que esqueci, olhando-o, relembrar,

Na ausência, ao menos, saberei de mim,


E, ao ver-me tal qual fui ao longe, achar
Em mim um pouco de quando era assim.
PESSOA, Fernando. Arquivo Pessoa. http://arquivopessoa.net/textos/2455 (consult. 2018-11-25)

1. Identifica uma das dicotomias exploradas na primeira estrofe e explicita-a.

2. Interpreta a interrogação presente no verso 5, relacionando-a com os


sentimentos manifestados pelo sujeito poético nas duas quadras.

3. Explica, considerando os tercetos, a importância atribuída pelo “eu” ao ato de


“relembrar” (v. 11).
4. Relativamente ao poema transcrito, apresenta:
a) o esquema rimático;
b) a classificação das rimas.

PARTE B

Lê o soneto. Se necessário, consulta as notas.

NOX1

(A Fernando Leal)

1 Noite, vão para ti meus pensamentos,


Quando olho e vejo, à luz cruel do dia,
Tanto estéril lutar, tanta agonia,
E inúteis tantos ásperos tormentos…

5 Tu, ao menos, abafas os lamentos,


Que se exalam da trágica enxovia2…
O eterno Mal, que ruge e desvaria,
Em ti descansa e esquece, alguns momentos…

Oh! antes tu também adormecesses


10 Por uma vez, e eterna, inalterável,
Caindo sobre o mundo, te esquecesses,

E ele, o mundo, sem mais lutar nem ver,


Dormisse no teu seio inviolável,
Noite sem termo, noite do Não ser!
QUENTAL, Antero de, 2016. Os Sonetos Completos. Porto: Porto Editora (p.120)

NOTAS:
1 Nox: Noite
2 enxovia: sujidade
5. Explicita o valor expressivo da apóstrofe, considerando o contraste que se
desenvolve nas quadras.

6. Esclarece o desejo manifestado pelo sujeito poético nos tercetos.


PARTE C

7. No universo pessoano, Alberto Caeiro é considerado o poeta “bucólico”.


Escreve uma breve exposição sobre a presença da Natureza na poesia deste
heterónimo.

A tua exposição deve respeitar as orientações seguintes:


• uma introdução ao tema;
• um desenvolvimento no qual refiras duas características temáticas que
permitam considerar este heterónimo como um poeta «bucólico»,
fundamentando as ideias apresentadas em, pelo menos, um exemplo
significativo de cada uma dessas características;
• uma conclusão adequada ao desenvolvimento do tema.
Grupo II
Nas respostas aos itens de escolha múltipla, seleciona a opção correta.
Escreve, na folha de respostas, o número do item e a letra que identifica a opção
escolhida.

Lê atentamente o texto.

Todo o mundo é um palco


E os homens e as mulheres só atores
WILLIAM SHAKESPEARE

1 Gostava de ter sido ator. Passei grande parte da infância a falar sozinho, numa
conversa a várias vozes. Ainda o faço, de vez em quando, mas já não em voz alta. O
palco em que as minhas várias personagens se confrontam é agora silencioso.
Aprendi, de tantas vezes mo terem repetido, que “os malucos é que falam sozinhos”;
5 e depois de ler a famosa primeira frase d' Os Passos em Volta, de Herberto Helder,
no final da adolescência, decidi – de forma consciente e solene, em diálogo comigo
próprio – que não queria enlouquecer.
Dois dos lemas que me têm acompanhado ao longo da vida escondem mal um
desejo permanente de transfiguração; ser outro, uma vez por outra – não é isso um
10 ator? Em ambos os casos, os responsáveis são poetas: Rimbaud1 e Whitman2. A
primeira dessas frases tutelares é um parêntesis do Canto de Mim Mesmo: “(I am
large, I contain multitudes.)3”. Fernando Pessoa entendeu-o de forma radical,
encenando a partir daqui o seu drama em gente, num espelho quebrado de que
ainda andamos a tentar apanhar os cacos. Em Saudação a Walt Whitman, a dívida
15 de Pessoa é saldada por Álvaro de Campos: “Tu sabes que eu sou Tu e estás
contente com isso”.
Foi a poesia, antes da psicanálise, que nos tornou conscientes desta
perturbante verdade existencial: somos múltiplos, habitados por heróis e vilões que
se digladiam em silêncio dentro de nós. O poeta latino Terêncio escreveu no século
20 II a.C. [...]: “Sou homem: nada do que é humano me é estranho”. Quase dois
milénios mais tarde, outro poeta, Teixeira de Pascoaes, alargaria ainda mais o
espetro de possibilidades humanas: “Eu sou todas as criaturas e todas as cousas.
Eu, na verdade, não sou eu”.
O que não temos dentro de nós, experimentamo-lo por empréstimo. Ouvimos os
25 outros, reais ou imaginários, para vivermos outras vidas, escapando
momentaneamente à nossa. Desdobramo-nos em incontáveis existências paralelas
na permanente vertigem de ficção que saciamos, melhor ou pior, com literatura,
cinema, telenovelas, noticiários, entrevistas, reportagens, conversas de café e
mexericos. Com maior ou menor consciência disso, eu é outro. Até a gramática se
30 opõe a uma afirmação tão escandalosa. [...]
Somos grandes, contemos multidões. Somos, cada qual à sua maneira,
depósitos de histórias verdadeiras e inventadas, mas também fabricantes de
realidades fantasmáticas: sonhos, fantasias e alucinações. Temos fantasmas tão
educados que adormecemos no seu ombro. É também assim que nos reinventamos:
plagiando. Absorvemos modas, modelos e tendências – o zeitgeist4; mas igualmente
máximas e ideias e versos que nos conduzem ao que não sabemos dizer.
MARQUES, Carlos Vaz, 2016. “Editorial”. Granta, n.º 7, maio de 2016 (pp. 7-8)

1. poeta francês do século XIX; 2. poeta norte-americano do século XIX, precursor do movimento do
Futurismo (início do século XX) e frequentemente considerado o introdutor do verso livre na poesia; 3. “Eu
sou grande, eu contenho multidões”; 4. termo alemão que significa “espírito da época”.

1. No primeiro parágrafo, o autor associa a metáfora do “palco silencioso” (ll. 2-


3)
(A) ao tempo da sua infância.
(B) às suas ambições profissionais.
(C) aos receios experimentados na adolescência.
(D) às suas vivências presentes.

2. O autor recorre às citações de Terêncio e Teixeira de Pascoaes (ll. 17-20) para


(A) reforçar o ponto de vista defendido.
(B) apresentar um novo ponto de vista.
(C) introduzir um contra-argumento.
(D) ilustrar a sua perspetiva com um caso concreto.

3. No contexto em que ocorrem, a palavra “lemas” (l. 7) e a expressão “frases


tutelares” (l. 10) exemplificam o processo da coesão
(A) referencial.
(B) lexical por reiteração.
(C) lexical por substituição (sinonímia).
(D) lexical por substituição (hiperonímia).

4. As orações introduzidas por “que” nas linhas 6 e 29 são


(A) subordinadas substantivas completivas, em ambos os casos.
(B) subordinada adjetiva relativa, no primeiro caso, e subordinada adverbial
causal, no segundo.
(C) subordinada substantiva relativa, no primeiro caso, e subordinada adjetiva
relativa, no segundo caso.
(D) subordinada substantiva completiva, no primeiro caso, e subordinada
adverbial consecutiva, no segundo caso.

5. As expressões “por Álvaro de Campos” (l. 13) e “com isso” (l. 14)
desempenham as funções sintáticas de
(A) complemento do adjetivo e complemento do nome, respetivamente.
(B) complemento agente da passiva e complemento do adjetivo,
respetivamente.
(C) complemento do adjetivo e modificador, respetivamente.
(D) complemento oblíquo e predicativo do complemento direto,
respetivamente.

6. Identifica o antecedente do pronome usado na frase “Ainda o faço, de vez em


quando, mas já não em voz alta.” (l. 2).

7. Refere o tipo de dêixis assegurado pelo determinante possessivo presente na


linha 3.

Grupo III

“[...] somos múltiplos, habitados por heróis e vilões que se digladiam em


silêncio dentro de nós.”
MARQUES, Carlos Vaz, 2016. “Editorial”. Granta, n.º 7, maio de 2016 (p. 7)

Num texto bem estruturado, com um mínimo de duzentas e um máximo de


trezentas palavras, defende uma perspetiva pessoal sobre a ideia apresentada
na citação.
Fundamenta o teu ponto de vista recorrendo, no mínimo, a dois argumentos
e ilustra cada um deles com, pelo menos, um exemplo significativo.

Observações:
1. Para efeitos de contagem, considera-se uma palavra qualquer sequência delimitada por espaços em branco, mesmo
quando esta integre elementos ligados por hífen (ex.: /dir-se-ia/). Qualquer número conta como uma única palavra,
independentemente dos algarismos que o constituam (ex.: /2019/).
2. Relativamente ao desvio dos limites de extensão indicados – entre duzentas e trezentas e cinquenta palavras –, há
que atender ao seguinte:
− um desvio dos limites de extensão indicados implica uma desvalorização parcial (até 5 pontos) do texto produzido;
− um texto com extensão inferior a oitenta palavras é classificado com zero pontos.
Cotações
Grupo Item
Cotação (em pontos)
1. 2. 3. 4. 5. 6. 7.
I 16 16 16 8 16 16 16 104
1. 2. 3. 4. 5. 6. 7.
II 8 8 8 8 8 8 8 56

III Item único


40
TOTAL 200

Correção da ficha de avaliação escrita de Português


Ensino Profissional

Módulo 7 – Fernando Pessoa

Cotações
Grupo Item
Cotação (em pontos)
1. 2. 3. 4. 5. 6. 7.
I 16 16 16 8 16 16 16 104
1. 2. 3. 4. 5. 6. 7.
II 8 8 8 8 8 8 8 56

III Item único


40
TOTAL 200

Grupo I
PARTE A

1. Na primeira estrofe, desenvolvem-se as dicotomias presente/passado,


criança/”eu” adulto. Ambas servem o confronto tecido pelo sujeito poético entre o
seu tempo de infância, que deseja conseguir recuperar (“Quero ir buscar quem
fui onde ficou”), e o seu presente, em que se reconhece, quando se autoanalisa,
“nada” (v. 3). A oposição entre os dois momentos da vida salienta a angústia
existencial em que se encontra o “eu”.

2. A interrogação retórica com que se inicia a segunda quadra reforça o desejo


manifestado anteriormente pelo sujeito poético de “ir buscar” quem tinha sido, no
seu tempo de criança, e sugere a sua incapacidade de o fazer. A interjeição “Ah”,
que expressa emotivamente o desalento do “eu” lírico, contribui para a
manifestação dos sentimentos de saudade (v. 4), tristeza e desânimo (vv. 5 e 8),
assim como de frustração face ao seu percurso existencial (vv. 3 e 5-7) e de
autodesconhecimento e indefinição (vv. 7-8)

3. O sujeito poético associa o ato de “relembrar” (v. 11) à possibilidade de se


autoanalisar à distância, conforme a metáfora do “alto monte” (v. 10) que permite
vislumbrar o que está mais afastado sugere. Assim, através da memória, pode
ver-se “tal qual” foi “ao longe” (v. 13), no tempo da infância, e conhecer-se (v.
12), para desse modo tentar encontrar vestígios do seu ser passado (vv. 13-14)
no presente disfórico.

4. a) A B A B / B A B A / C D C / D C D
b) A rima é cruzada.

PARTE B

4. Ao longo das quadras, o sujeito poético coloca em confronto a “Noite” (v. 1) e


o “dia” (v. 2), associando este último ao “eterno Mal, que ruge e desvaria” (v. 7),
que se evidencia em lutas vãs (“Tanto estéril lutar”, v. 3) e desperta sentimentos
negativos: “tanta agonia” (v. 3), “inúteis tantos ásperos tormentos” (v. 4). O dia é
o momento da “luz cruel” (v. 2) que patenteia a “trágica enxovia” (v. 6) em que se
tornou a existência humana, a qual apenas poderá ocultar-se, ainda que apenas
por “alguns momentos” (v. 8), durante a noite. A apóstrofe com que se inicia o
soneto salienta, assim, a dimensão reconfortante da “Noite”, entrevista pelo
sujeito poético como momento de repouso da agitação do dia (v. 8) e interpelada
como confidente e abrigo, face à turbulência do mundo (v. 1).

5. Nos tercetos, o sujeito poético manifesta o desejo de que a noite se pudesse


prolongar perpetuamente (vv. 9-11 e 14), quebrando o seu ciclo de alternância
com o dia. Desse modo, seria possível ocultar as realidades negativas do mundo
destacadas nas quadras e mesmo anular a sua existência (“sem mais lutar nem
ver”, v. 12; “noite do Não-ser”, v. 14).

PARTE C

7. Tópicos possíveis a considerar na exposição sobre Caeiro, o “poeta bucólico”:


- a integração do “eu” na Natureza e a identificação com os elementos naturais;
- a defesa da naturalidade e da simplicidade (associadas aos elementos e aos
ritmos da Natureza);
- o paganismo;
- a poesia deambulatória no espaço campestre;
- o primado das sensações, em contacto com o mundo natural;
- a importância atribuída à visão;
- a defesa do objetivismo;
- a atitude antimetafísica.

Grupo II
1. (D).

2. (A).

3. (C).

4. (D).

5. (B).

6. “falar sozinho, numa conversa a várias vozes.” (ll. 1-2).

7. Dêixis pessoal.

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