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Eugénio de Andrade

Poema
«Metamorfoses da casa»
2

Claude Monet, Casas perto da velha ponte de Vernon (1883).


3

Ergue-se aérea pedra a pedra


a casa que só tenho no poema.

A casa dorme, sonha no vento


a delícia súbita de ser mastro.

Como estremece um torso delicado,


assim a casa, assim um barco.

Uma gaivota passa e outra e outra,


a casa não resiste: também voa.

Ah, um dia a casa será bosque,


à sua sombra encontrarei a fonte
onde um rumor de água é só silêncio.
Winslow Homer, pormenor de Regresso
dos barcos de pesca (1881).
4

Poema = casa Metáfora

 O poema resulta de uma construção


 O poema é um refúgio

O poema não
é um produto
da inspiração

Poeta = artífice
Palavras = pedras

Ernst Ludwig Kirchner, Casas em Dresden (1910).


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Poema

• Ergue-se, «aére[o]»
Leveza O poema-casa • Sonha ser «mastro» levado pelo vento
• Imita a gaivota e «também voa»

Leveza no poema =
delicadeza O poema-casa transforma-se
 
Escrita aperfeiçoada — Metamorfose
depurada

Última metamorfose
Perfeição 
«bosque»

Algo que é Objetivo do poeta:


«já silêncio» alcançar a fonte da poesia

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