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1ªfase: 

Jardim com aspeto abandonado: aparência que reflete o sofrimento de Afonso com o
suicídio de Pedro;
Cascata representa o relógio de água que marca a passagem implacável do tempo;
nesta fase encontra-se seca pois o tempo de açãp dos maias ainda não começou
A Estátua de Vénus simboliza o amor e sedução, o que representa as mulheres fatais
da obra, sugerindo a fuga de Maria Monforte/ neste momento a estátua degradada
Cipreste e cedro, árvores que vivem muitos anos (Tempo), remetem para as gerações
da família Maia, testemunham as varias gerações desta família
SEM VIDA

Ambiente taciturno
Na primeira perspetiva o Ramalhete é descrito como um inútil pardieiro (palavras de
Vilaça) e simples depósito das mobílias vindas dos palacetes de Benfica e Tojeira,
vendidos recentemente (1870). Vilaça não concordava com a compra deste palacete,
pois tinha sido em Benfica que Pedro da Maia se suicidara, para além de que aquela
casa ser a ilustre morada da família.
Era um edifício de paredes severas. Tinha um terraço de tijolo e um
pobre quintal inculto, onde envelheciam um cipreste e um cedro, permanecia uma
cascatazinha seca e jazia a um canto uma estátua de Vénus Citereia. A descrição de
cada um desses elementos, dá-nos a ideia de que este é um local votado ao
abandono.
Na primeira fase, antes de os Maias o habitarem, o Ramalhete é caracterizado como
um “sombrio casarão de paredes severas”, isto é, como uma casa austera e
abandonada, a cobrir- se de “tons de ruína”, que, à semelhança das “teias de aranha”,
reiteram o seu aspeto abandonado e degradado. Neste momento, tem um “aspeto
tristonho”, o que se deve ao luto que o rodeia e ao sofrimento de Afonso pela morte do
seu filho Pedro, que se suicidara por não resistir à depressão e ao abandono por parte
da sua mulher Maria Monforte, que o traiu e fugiu com a filha de ambos, Maria
Eduarda.

Tudo no Ramalhete estava como que adormecido, sem vida. No interior, as “rosas das
grinaldas” estavam “desmaiadas”, sem cor, pálidas. No quintal, caracteriza do nesta
fase como “pobre”, “inculto, abandonado às ervas bravas”, isto é, abandonado,
descuidado, não tratado, a cascatazinha estava “seca”, também sem vida, pois o
tempo de ação dos Maias ainda não tinha começado. Vilaça, o procurador da família,
tinha também um ponto de vista muito pessoal e simbólico acerca do Ramalhete,
caracterizando-o, nesta fase, como um “inútil pardieiro, remetendo para a ruína do
edifício, e alude, também, a uma “lenda, segundo a qual eram sempre fatais aos Maias
as paredes do Ramalhete”, o que constitui um indício trágico, de fatalidade para a
família, uma vez que foi em Benfica que Pedro se suicidou e é, efetivamente, no
Ramalhete que Afonso vai morrer, após descobrir o incesto dos netos.
Vénus Citereia

"... enegrecendo a um canto na lenta humidade das ramagens silvestres."


Enegrecendo - O uso do gerúndio confere uma ideia de continuidade que já vem do
passado.
Canto - Esta expressão reforça a ideia de abandono do local. Geralmente um canto é
um local solitário e esquecido, ao passo que a estátua de Vénus acompanha o estado
de abandono do edifício.
Lenta humidade - Esta expressão é uma marca do estilo pessoal do autor. O objetivo,
ao trocar muito por lento, é realçar o passar dos anos, e não a quantidade
de humidade.

“A um canto”, “enegrecendo”, está a estátua de Vénus Citereia, símbolo de amor e


sedução, que representa as mulheres fatais da obra. Nesta fase, a sua degradação
está associada à fuga de Maria Monforte, que desolou Pedro e o levou ao suicídio.

Cascatazinha
"... uma cascatazinha seca"
Cascatazinha seca - Este adjetivo simboliza a ausência de vida. O uso do diminutivo
inclui na obra queirosiana, geralmente, uma caracterização depreciativa e irónica. No
entanto, aqui o objetivo de Eça é dar a impressão de que é algo simples, singelo.

Cipreste e cedro

Simbolizam a morte, por associação do cipreste aos cemitérios, em Portugal.


Sem nenhuma descrição adicional.
No exterior existia, ainda, um cipreste e um cedro, que são arvores que devido à sua
grande longevidade, simbolizam a vida e a morte, também porque o cipreste é a
árvore que, normalmente, se encontra nos cemitérios. Foram testemunhas das várias
gerações da família, tendo assistido a todas as tragédias, e simbolizam, ainda, a
amizade inseparável de Carlos e João da Ega.
2ª Fase
Juventude de Carlos - a descrição do jardim sugere renovação e vitalidade 
Cascata cheia de água - representa o choro e as tristezas que assolará à família
Maia / cheia de água: renovação e vitalidade
Estátua de Vênus deslumbrante anuncia a felicidade de Carlos com Maria Eduarda.
Por outro lado, a recuperação deste símbolo de feminilidade perversa, mas pressagia
uma desgraça
Renovação do jardim representa a vitalidade 
luxo e a decoração cosmopolita

Depois de decorado por um inglês o edifício tem agora um aspeto rejubilante, novo e
limpo. Esta perspetiva simboliza o apogeu do Ramalhete. Entretanto, permanece
ainda o estilo romântico, bucólico e um certo melancolismo dramático. Enquanto dois
elementos nos levam para um ambiente próspero, outros dois, nomeadamente o cedro
e o cipreste, continuam a ser um espectro da tragédia, pois são aqui descritos como
dois amigos tristes.

Após estes anos em que permaneceu desabitado, o Ramalhete sofreu obras de


restauro, tendo sido decorado por um inglês, sugerido e supervisionado por Carlos,
com o objetivo de dar ao edifício um “interior confortável, de luxo inteligente e sóbrio”,
contrastante com todas as características a ele associadas na primeira fase.
É neste momento que o Ramalhete é habitado, o que marca o seu renascimento,
dando-se início à sua segunda fase, símbolo de esperança e vida, em que se verifica o
apogeu do Ramalhete, visto que este é remodelado, e também da família, visto que é
nesta altura que Carlos se licencia em Medicina. O seu pátio, “outrora tão lôbrego e
nu”, ou seja, triste e escuro (1ª fase) tornou-se “resplandecente”, cheio de requinte e
cor, como é visível através dos “mármores brancos e vermelhos”.

Nesta fase, está, também, fortemente ornamentado, com “mármores”, “plantas”,


“vasos”, quadros vindos de várias partes do mundo, veludos, tapeçarias, que
demonstram o culto das aparências, o luxo e a riqueza da família Maia, e também
alguma exuberância e exagero, que em tudo contrastam com a ausência de vida que
se verificava no Ramalhete na fase anterior.
O próprio quintal, inicialmente abandonado, ganhou vida, adquirindo um “ar simpático”,
muito mais acolhedor que na primeira fase. É neste momento que surgem os
“girassóis”, que dão nome ao Ramalhete, visto que neste existia um quadro de
azulejos com um grande ramo, isto é, um ramalhete de girassóis representado. Estes
aparecem, agora, com a vinda da família, como se este acontecimento fosse o sol, a
alegria, que os faz desabrochar.
Apesar de estes elementos contrastarem com os restantes, no geral, a segunda fase
do Ramalhete é marcada pelo facto de este adquirir um aspeto novo, requintado e
limpo, representando o seu ponto mais alto e o da família, voltando a existir esperança
em ambos. Outro marco importante na evolução do Ramalhete é a morte de Afonso,
“esmagado” pela tragédia e pelo desgosto de ter descoberto o incesto dos netos,
Carlos e Maria Eduarda.
Vénus Citereia

"... parecia ter chegado de Versalhes."


Chegado de Versalhes - Esta metáfora simboliza o apogeu da estátua e,
consequentemente das duas protagonistas das intrigas principal e secundária, Maria
Eduarda e Maria Monforte, respetivamente. Só esta expressão bastaria para descrever
o ambiente do Ramalhete durante a segunda perspectiva, pois dá conta da sua
resplandecência.
A estátua de Vénus Citereia também evolui, tendo adquirido um “tom claro de estátua
de parque”, parecendo “ter chegado de Versalhes”, o que vai ao encontro da
resplandecência do Ramalhete nesta fase.

Cascatazinha

"... uma delícia"
Delícia - O que antes era uma cascatazinha seca, é descrita agora como uma delícia.
Esta expressão simboliza a vida e alegria, assim como algo ternurento.
A cascatazinha, anteriormente “seca”, é, agora, “deliciosa”, dando um toque agradável,
ternurento e alegre ao jardim. No entanto, este elemento apresenta um segundo
significado, pois, em simultâneo, a abundância de água está associada à melancolia,
ao “pranto”, como se fizesse antever a tristeza e a tragédia que ocorrerá no final da
obra, com a morte de Afonso, constituindo, também, um indício trágico

Cipreste e cedro

"... envelhecendo juntos como dois amigos tristes"


Envelhecendo - Novamente o uso do gerúndio: acção contínua.
Amigos tristes - Esta comparação confere uma sensação de ambiguidade, dentro
desta perspectiva, pois remete-nos para uma carga melancólica, ao passo que todos
os outros elementos acompanham o aspecto novo e pleno de vida do edifício.

O cipreste e o cedro também conferem um certo caráter negativo ao quintal, visto que
são associados a “dois amigos tristes”, que “envelhecem juntos”, testemunhando o
passar do tempo e o que se vai passando na família Maia.
3ª Fase
Estátua de Vénus apresenta-se coberta de ferrugem que simboliza o desaparecimento
de Maria Eduarda. (fim do amor)
Jardim solitário, sombrio e degradado- representa o “fim” da Família Maia
Cipreste e cedro, árvores conotadas com a morte, envelhecem juntos e representam a
amizade de Carlos e João da Ega- remetem para o carácter romântico das
personagens que se dizem realistas
Corre na cascata pouca água (dor da morte de Afonso, choro) e indicia a aproximação
do final da história dos maias

a simbologia do girassol: representa a atitude do amante ou da amante, que se vira continuamente


para ver o ser amado, isto é, representa a perfeição platónica na presença contemplativa e
unificante; girando sempre numa atitude de submissão e fidelidade para com o ser amado, o
girassol associa-se à incapacidade de ultrapassar a paixão e a falta de recetividade do ser amado.
Daí metaforicamente aparecer ligado à terceira e quarta geração da família.

A terceira fase do Ramalhete, que assume um caráter lúgubre, de destruição, tristeza,


morte, simbolizando o fim do sonho e da esperança, o que se verifica através da morte
do “resto de sol”, do desvanecimento da luz.

A tristeza associada ao Ramalhete nesta fase não se deve, exclusivamente, à morte


de Afonso, mas à morte/ruína da família Maia, que esta simboliza. Pelo conhecimento
geral da obra, sabe-se que Carlos, devido, particularmente, ao contacto com o meio
que o rodeava, se tornou um homem ocioso, diletante e fútil, incapaz de concretizar os
seus projetos, o que justifica o facto de a morte de Afonso, o “pilar” da família Maia,
simbolizar a destruição da sua família.

No último capítulo, após Carlos e Ega regressarem da sua viagem de dez anos pelo
mundo, o Ramalhete tem, de novo, um aspeto abandonado e tristonho, visível através
da sua “fachada severa”, ainda como marca de fatalidade, da tragédia que lá ocorrera,
a morte de Afonso. No interior, tudo passar a de um “luxo inteligente e sóbrio” à
desorganização e descuido, como se tudo estivesse a morrer, como se verifica através
das “tapeçarias orientais, que pendem como numa tenda”. A escuridão, escassez de
luz, transmite a ideia de fatalidade e melancolia, assim como o caráter triste da
“antecâmara”, que “entristecia, toda despida”, o que vai ao encontro da ausência de
decoração e do desaparecimento do brilho e resplandecência que caracterizavam o
Ramalhete na segunda fase. Também o vocabulário utilizado na caracterização do
Ramalhete, na terceira fase, remete para o seu caráter lúgubre e melancólico, o que
se entende, por exemplo, através dos termos “caveira”, “múmia”, “amortalhados” e
“caixões”. O jardim também evoluíra. Agora, tem um aspeto “bem areado, limpo e frio”,
melancólico, sem vida, abandonado e “esquecido”.

A paisagem adquire um “tom mais pensativo e triste”, assim como o Ramalhete, o que
vai, novamente, ao encontro da tristeza e melancolia do edifício e da família.
Na terceira perspectiva, a casa e o ambiente que a envolve que a caracteriza, torna a
ser descrito de forma melodramática. Esta perspectiva é dada dez anos depois de
Maria Eduarda e Carlos da Maia cometerem o incesto, período no qual ele torna
a Lisboa, antes de partir para o Japão em viagem. Este último capítulo é aproveitado
novamente para descrever Portugal, depois de dez anos, onde poucas mudanças se
notavam. Com João da Ega, Carlos da Maia percorre os locais que havia frequentado,
até chegar ao velho casarão de novo votado ao abandono, tal como o conheceram.
Todos os elementos que habitualmente caracterizam o palacete nas outras duas
perspectivas, vão voltar a transmitir o abandono e a melancolia daquele espaço.

Vénus Citereia
"... uma ferrugem verde, de humidade, cobria os  grossos membros  da Vénus Citereia."
Grossos membros - Enquanto na primeira perspectiva, a que está mais próxima desta
terceira, a estátua ainda parece conservar alguma da sua beleza, nesta descrição os seus
membros são tratados como "grossos", sinal da hedionndez a que o abandono a votou.
A estátua de Vénus Citereia adquire, neste momento, “grossos membros” e está
coberta de “ferrugem”. A sua degradação, nesta fase, não vai ao encontro da fuga de
Maria Monforte, mas da fuga de outra mulher fatal da obra, Maria Eduarda, após a
descoberta do incesto. Os “grossos membros”, que conferem um aspeto monstruoso à
estátua, remetem para a monstruosidade do incesto.

Cascatazinha
"... e mais lento corria o  prantozinho da cascata."
Prantozinho da cascata - Esta expressão significa que da cascata, que na segunda
perspectiva, parecia uma delícia, escorriam agora lentas lágrimas.
Afonso morreu no quintal do Ramalhete, junto à cascatazinha, cujo “fio de água punha
o seu choro lento”, transmitindo a ideia de que ela própria chora a sua morte.
Na cascatazinha, corria agora um “prantozinho”, mais “lento”, como se a própria
passagem do tempo se tornasse ainda mais melancólica e triste. O choro simboliza,
mais uma vez, a tristeza pela morte de Afonso e a saudade dos tempos gloriosos dos
Maias, em que existia sonho, esperança e vida.

Cipreste e Cedro
"... envelheciam juntos,  como dois amigos num ermo."
Como dois amigos num ermo - O uso da expressão ermo, invoca, mais que abandono,
inexistência de vida, visto que, pelo significado, ermo é um campo deserto.

O cedro testemunhou, novamente, esta desgraça, pois Afonso morreu “sob os seus
ramos”.

O cipreste e o cedro, à semelhança das outras fases, “envelhecem juntos”, marcando,


novamente, a passagem implacável do tempo e o testemunho das várias gerações da
família.

Em suma, ao longo da obra, o Ramalhete evoluiu de acordo com a progressão das


personagens. Na primeira fase, em que se encontra desabitado, tem um aspeto
abandonado, degradado e arruinado.
Na segunda fase, em que é habitado por Afonso e Carlos da Maia, o Ramalhete
renasce, passando a simbolizar esperança, alegria, vida, resplandecência e requinte,
verificando-se, nesta altura, o seu apogeu e o da família.
Por fim, na terceira fase, a tragédia abate-se sobre a família, com a descoberta do
incesto de Carlos e Maria Eduarda e a morte de Afonso, avô de ambos, o que se
reflete na caracterização do edifício, em que tudo passa a ter um caráter lúgubre,
melancólico e triste, remetendo para a morte, ruína, degradação e destruição da
família Maia.
Em Os Maias, o Ramalhete é visto em três perspectivas diferentes:
 1ª - Posto ao abandono
 2ª - Habitada por Carlos da Maia e o avô, depois de decorada por um inglês
(Jones Bule).
 3ª - Dez anos depois, posta novamente ao abandono, depois de ser habitada
dois anos (2ª perspectiva)

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