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PREPARAÇÃO EXAME 2021

GRUPO I

Lê o poema seguinte. Em caso de necessidade, consulta o vocabulário e as notas apresentados.

Cantigas de amor

Quantos an1 gran coita d’amor


eno mundo, qual oj’ eu ei2,
querrian morrer, eu o sei,
e haverian en sabor. 3
Mais4 mentr’eu5 vos vir, mia senhor,
sempre m’eu querria viver,
e atender6 e atender!

Pero7 já non posso guarir8,


ca já cegam os olhos meus
por vós, e non me val’ i9 Deus
nem vós; mais por vos non mentir,
enquant’ eu vos, mia senhor, vir,
sempre m’eu querria viver,
e atender e atender!

E tenho que fazem mal sem10


quantos d’amor coitados son
de querer sa morte, se non
houveron nunca d’amor ben,
com’eu faço11. E, senhor, por en12
sempre m’eu querria viver,
e atender e atender!
Joan Garcia de Guilhade, in Poemas portugueses – Antologia da poesia portuguesa do século XIII
ao século XXI, Porto, Porto Editora, 2009, pp. 63-64.

Vocabulário e notas
1
têm; 2 tenho; 3 v. 4: teriam nisso prazer; 4 mas; 5 enquanto eu; 6 esperar; 7 mas; 8 curar-me; 9 nisso;
10
v. 15: entendo que ajuízam mal; 11 como me acontece a mim; 12 por isso

Apresenta, de forma clara e bem estruturada, as tuas respostas aos itens que se seguem.

1. Identifica, justificando, o sentimento que o sujeito poético expressa nos vv. 1-2.

2. Explicita a relação existente entre o sujeito poético e os outros na mesma situação.

3. Identifica, justificando, o recurso expressivo presente no v. 9.

4. Tem em atenção as repetições constantes do refrão. Refere, justificando, a sua expressividade


literária.

A coita amorosa é uma característica fundamental da expressão do amor nas cantigas de amor.
PREPARAÇÃO EXAME 2021

Escreve um texto no qual comproves esta afirmação com base na tua experiência de leitura.

O teu texto deve ter entre 120 e 150 palavras.


Os jograis

Os jograis são uma das mais importantes instituições da Idade Média, porque são eles
quem conserva e vulgariza1 a cultura da palavra num tempo em que o livro era um objeto tão
precioso como uma joia cara. Através dele se comunicam entre si os diversos grupos sociais
com os seus valores; as diferentes regiões culturais do mundo com as suas criações próprias.
Eles transmitem o repertório folclórico internacional, assim como as invenções que o vão
enriquecendo. Além disso, é por via deles que passam à cultura oral muitas criações registadas
em livros. São os intermediários culturais por excelência (…).
O camponês, o burguês, o senhor, ou nas feiras e romarias, ou nos festins e banquetes, ao
ar livre ou em salões, até mesmo nas naves das igrejas, entretinham-se a ver o jogral que
tocava, cantava e bailava, mostrava o macaco dançarino, executava malabarismos com facas
ou maçãs, fazia trejeitos2 e paródias3 e por vezes recitava poemas ou relatava notícias de
longínquas e extraordinárias terras. Se o sacerdote tinha o prestígio do saber e entendia os
mágicos sinais que enegreciam os livros, o jogral despertava a imaginação com as suas
estórias de países fantásticos ou de guerreiros invencíveis, com as suas canções, a
desenvoltura4 de viajante sabedor e de aventureiro. Enquanto no clérigo se via um ministro de
Deus, um guardião da porta do Céu, o jogral parecia um discípulo do Diabo, sem vergonha,
sem eira nem beira, errante 5. E a mulher que o acompanhava, dançarina ou cantadeira, não era
também uma mulher como as outras: livre e devassa 6, mostrava o corpo no bailado e nas
acrobacias, e os seus cantares eram uma provocação ao jogo erótico.
Do ponto de vista eclesiástico, o jogral, parente do Diabo, só como agente do mal podia
encontrar o seu lugar. Mas isso mesmo o tornava perigosamente sedutor. As suas estórias e
cantares levavam a imaginação para um mundo livre bem longe das naves da igreja: para o
luar, para as florestas na primavera, para as cidades de sonho, para as ilhas encantadas do mar
desconhecido. Por isso, durante muito tempo a Igreja e os moralistas condenaram os jograis.
Lembrava-se a frase de Santo Agostinho segundo a qual dar presentes aos jograis era o mesmo
que dá-los ao Diabo. São Gregório Magno, Papa, num texto traduzido em Alcobaça, narrava
complacentemente7 a morte desastrosa de um jogral em castigo de se ter intrometido numa
festa religiosa.
Numa iluminura8 francesa do século XII, num manuscrito do Breviário de Amor, de Matfré
de Armengaud, os jograis são representados como demónios à mesa de um festim, servindo os
manjares e tocando trompa e violino. Algum rei mais piedoso os expulsou da sua corte.
Afonso X, o Sábio, conta nas Cantigas de Santa Maria como um jogral que quis arremedar 9
uma imagem da Virgem com o Menino nos braços foi logo castigado, ficando torto na boca e
nos braços.

Mas não era fácil dispensá-los. Os moralistas distinguiram subtilmente entre os bons e os
maus jograis, e a
joglaria10 acabou por adquirir direitos de cidade na sociedade medieval.
António José Saraiva, A cultura em Portugal – teoria e história – Livro II – primeira época: a formação,
Lisboa, Livraria Bertrand, 1984, pp. 56-57.

Vocabulário
1
divulga; 2 gestos estranhos, cheios de comicidade; 3 brincadeiras imitativas de natureza cómica; 4 o à vontade; 5 viajante; 6
pecadora; 7 com
satisfação; 8 desenho, miniatura, grafismo que ornamenta livros, especialmente manuscritos medievais; 9 imitar de forma
caricatural, distorcida,
zombeteira; 10 os jograis enquanto instituição
PREPARAÇÃO EXAME 2021

1. Para responder a cada um dos itens de 1.1 a 1.5, seleciona a opção que permite obter uma
afirmação correta.

1.1 A frase que melhor sintetiza o conteúdo do primeiro parágrafo é


 (A) A função dos jograis na Idade Média consistia em substituir os livros.
 (B) Durante a Idade Média, os jograis foram o principal veículo das trocas culturais.
 (C) A função dos jograis na Idade Média consistia em transmitir informações que
constavam dos livros.
 (D) Durante a Idade Média, os jograis foram o principal veículo de divulgação dos livros.

1.2 O segundo parágrafo estrutura-se através de uma comparação entre


 (A) as várias classes sociais e os eclesiásticos.
 (B) as várias classes sociais e os jograis.
 (C) os jograis e os eclesiásticos.
 (D) Deus e o Diabo.

1.3 O conector «por isso», l. 21, refere-se a um facto


 (A) enunciado antes, concretamente à capacidade de os jograis serem capazes de libertar
as imagina-ções.
 (B) enunciado depois, concretamente à condenação que a igreja lançava sobre os jograis.
(C) enunciado depois, concretamente às condenações que Santo Agostinho e São
Gregório Magno lançaram sobre os jograis.
(D) enunciado antes, concretamente à capacidade de os jograis serem considerados
parentes do Diabo.

1.4 O quarto parágrafo apresenta dois exemplos cuja função no texto é


 (A) mostrar como a arte medieval representava os jograis.
(B) ilustrar informação anteriormente apresentada sobre os jograis.
(C) ilustrar informação posteriormente apresentada sobre os jograis.
(D) exemplificar uma visão negativa dos jograis na Idade Média.
Apesar de mal vistos, os jograis eram aceites na sociedade. Os «moralistas», l. 22,
encontraram um modo
de os integrar porque
 (A) admitiam a inexistência de maus jograis.
 (B) não admitiam a existência de bons jograis.
 (C) não admitiam a inexistência de maus jograis.
 (D) admitiam a existência de bons jograis.
2. Responde, de forma correta, aos itens apresentados.

2.1 Indica o processo fonológico que se verifica na evolução da palavra «eno», v. 2, para no
(texto do Grupo I).
2.2 Indica a função sintática desempenhada pelo pronome pessoal átono existente na frase «dar
presentes aos jograis era o mesmo que dá-los ao Diabo.», ll. 22-23, (texto do Grupo II).
2.3 Classifica a oração subordinada presente na frase «(…) entretinham-se a ver o jogral que
tocava», l. 8, (texto do Grupo II).

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