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Teste de avaliação escrita 1

Crónica de D. João I e Poesia trovadoresca

Nome N.o 10.o Data / /

Avaliação E. Educação Professor

Grupo I
PARTE A

Lê o excerto do capítulo 11 da Crónica de D. João I de Fernão Lopes. Se necessário, consulta as


notas.

Do alvoroço que foi na cidade cuidando que matavom o Meestre, e como


aló foi Alvoro Paaez e muitas gentes com ele.
De cima nom minguava1 quem braadar que o Meestre era vivo e o Conde Joam Fernandez
morto; mas isto nom queria neuũ creer, dizendo:
– Pois se vivo é, mostrae-no-lo e vee-lo-emos.
Entom os do Meestre veendo tam grande alvoroço como este, e que cada vez se acendia
5 mais, disserom que fosse sua mercee2 de se mostrar aaquelas gentes; doutra guisa 3 poderiam
quebrar as portas, ou lhes poer o fogo, e entrando assi dentro per força, nom lhes poderiam depois
tolher4 de fazer o que quisessem.
Ali se mostrou o Meestre a ũa grande janela que viinha sobre a rua onde estava Alvoro Paeez
e a mais força de gente, e disse:
10 – Amigos, apacificae vos, ca eu vivo e são som a Deos graças.
E tanta era a torvaçam5 deles, e assi tiinham já em creença que o Meestre era morto, que taes
havia i que aperfiavom6 que nom era aquele; porem conhecendo-o todos claramente, houverom
gram prazer quando o virom, e deziam uũs contra os outros:
– Ó que mal fez! pois que matou o treedor do Conde, que 7 nom matou logo a aleivosa 8 com
15 ele! Creedes em Deos, ainda lhe há de viinr alguũ mal per ela. Oolhae e veede que maldade tam
grande, mandarom-no chamar onde ia já de seu caminho, pera o matarem aqui per traiçom. Ó
aleivosa! já nos matou uũ senhor, e agora nos queria matar outro; leixae-a, ca ainda há mal d’acabar
por estas cousas que faz!
E sem dúvida se eles entrarom dentro, nom se escusara a Rainha de morte, e fora maravilha
20 quantos eram da sua parte e do Conde poderem escapar. O Meestre estava aa janela, e todos
oolhavom contra ele, dizendo:
– Ó Senhor! como vos quiserom matar per treiçom, beento sejas Deos que vos guardou desse
treedor! Viinde-vos, dae ao demo esses Paaços, nom sejaes lá mais!
E em dizendo esto, muitos choravom com prazer de o veer vivo. Veendo el estonce 9 que
25 neũa duvida tiinha em sua segurança, deceo afundo 10 e cavalgou com o seus acompanhado de
todolos outros que era maravilha de veer. (…)
As donas da cidade, pela rua per u el ia, saíam todas aas janelas com prazer dizendo altas
vozes:
– Mantenha-vos Deos, Senhor. Beento seja Deos que vos guardou de tamanha traiçom, qual
30 vos tiinham bastecida11!
Ca neuũ por estonce podia outra cousa cuidar. (…)
Fernão Lopes, Crónica de D. João I, Teresa Amado (ed.), Lisboa, Comunicação, 1980, pp. 97-99 (texto com supressões).

1
minguava: faltava; 2 mercee: favor; 5
torvaçam: perturbação; 6 aperfiavom: 9
estonce: então; 10 afundo: abaixo;
3
guisa: maneira; 4 tolher: impedir; insistiam; 7 que: porque; 8 aleivosa: traidora; 11
bastecida: preparada.
1. Explicita as acusações que são dirigidas a D. Leonor Teles pela população.

2. Explica a relevância do discurso proferido pelos populares entre as linhas 22 e 30.

3. Completa as afirmações abaixo apresentadas, selecionando a opção adequada a cada espaço.


Na folha de respostas, regista apenas as letras – a), b) e c) – e, para cada uma delas, o
número que corresponde à opção selecionada em cada um dos casos.

Neste excerto da Crónica de D. João I, Fernão Lopes narra o levantamento popular de apoio ao
Mestre de Avis. De facto, através da a) __________, em «e que cada vez se acendia mais» (linha 4), o
cronista exprime a dimensão do alvoroço junto aos Paços da Rainha. Já o pleonasmo, em
b) __________, para além de conferir c) __________ ao relato, destaca o enorme poder do
povo.

a) b) c)
1. metáfora 1. «E tanta era a torvaçam deles» (linha 11) 1. visualismo

2. comparação 2. «que nom matou logo a aleivosa» (linha 14) 2. coloquialismo

3. personificação 3. «E sem dúvida se eles entrarom dentro» (linha 19) 3. sensorialismo

PARTE B

Lê a cantiga de Bernal de Bonaval. Se necessário, consulta a nota.

A dona que eu am'e tenho por senhor

A dona que eu am'e tenho por senhor


amostrade-mi-a, Deus, se vos en prazer for,
senom dade-mi a morte.

A que tenh'eu por lume destes olhos meus


5 e por que choram sempr', amostrade-mi-a, Deus,
senom dade-mi a morte.

Essa que vós fezestes melhor parecer


de quantas sei, ai, Deus!, fazede-mi-a veer,
senom dade-mi a morte.

1
ca: que.
10 Ai Deus! que mi a fezestes mais ca1 mim amar,
amostrade-mi-a, u possa com ela falar,
senom dade-mi a morte.
Bernal de Bonaval
https://cantigas.fcsh.unl.pt (consultado em 08.12.2020).

4. Explicita a razão que motiva a súplica do eu ao longo da cantiga.

5. Explica a relevância das referências ao olhar ao longo do poema.


6. Completa as afirmações abaixo apresentadas, selecionando a opção adequada a cada espaço.
Na folha de respostas, regista apenas as letras – a), b) e c) – e, para cada uma delas, o
número que corresponde à opção selecionada em cada um dos casos.

A expressividade desta cantiga é construída através de diferentes processos, nomeadamente


o uso de recursos expressivos. No poema, o sujeito poético exalta as qualidades da «dona»
através da a) __________ em b) __________. Para além disso, através do recurso
c) __________, nos versos 8 e 10, evidencia-se o estado de espírito do sujeito poético.

a) b) c)
1. A dona que eu am'e tenho por senhor /
1. hipérbole 1. à anástrofe e à comparação
amostrade-mi-a (versos 1-2)
2. «A que tenh'eu por lume destes olhos meus /
2. metáfora 2. à apóstrofe e à onomatopeia
e por que choram sempr'» (versos 4-5)
3. «Essa que vós fezestes melhor parecer /
3. antítese 3. à interjeição e à exclamação
de quantas sei» (versos 7-8)

PARTE C

7. Segundo Teresa Amado, na Crónica de D. João I, Fernão Lopes atribui ao Mestre de Avis
«o mérito indiscutível de oferecer a disposição do seu nome e do seu corpo, para ocupar o
lugar de senhor que, à partida, se apresenta no texto mais como um risco do que como um
privilégio».
Escreve uma breve exposição na qual comproves esta afirmação, baseando-te na tua
experiência de leitura do capítulo 115 ou do capítulo 148 da Crónica de D. João I.
A tua exposição deve respeitar as orientações seguintes:
• uma introdução ao tema;
• um desenvolvimento no qual explicites dois aspetos de um dos capítulos indicados – 115 ou 148
– que contribuem para o retrato de Mestre traçado por Fernão Lopes, referindo episódios
ilustrativos de cada um desses aspetos;
• uma conclusão adequada ao desenvolvimento do tema.
Grupo II
Lê o texto. Se necessário, consulta as notas.

D. Leonor Teles, «a Aleivosa» (1350-1387)


Os portugueses nunca simpatizaram com a rainha consorte 1 D. Leonor Teles (c. 1350-1386).
Referimo-nos, é claro, aos minimamente instruídos, àqueles que, na velha Escola Primária,
aprenderam que a sedutora mulher do rei D. Fernando, que viveu subjugado por ela desde que a
conheceu, lhe foi infiel na vida privada e traidora na vida pública. Uma imagem desgraçada.
5 O cronista Fernão Lopes foi o principal responsável por esta «má imprensa» da primeira rainha
de Portugal nascida em território português. Porque o fez? Porque, escrevendo décadas mais tarde,
defendeu e justificou a justeza do partido vencedor, contrário ao dela. A «Aleivosa», como lhe
chamou Lopes, assumiu a regência do reino depois da morte do marido, em 1383. Nessa altura, o
seu amante, o conde galego João Fernandes Andeiro, adquiriu importância política, o que
10 desagradou à burguesia, ao povo e a alguns setores da nobreza, que receavam que Portugal viesse a
ser governado por estrangeiros – tanto mais que a filha única de D. Fernando e de D. Leonor Teles
se casara com o rei de Castela, o que conferia a este soberano o direito de herdar a Coroa
portuguesa. Foi nesse contexto que D. João, mestre da Ordem de Avis, surgiu como líder do partido
dos descontentes e assassinou Andeiro com as próprias mãos, levando Leonor Teles a fugir.
15 O resto é história bem conhecida. Uma tropa improvisada, comandada pelo jovem Nuno Álvares
Pereira, conseguiu desbaratar, em Aljubarrota, o poderoso Exército castelhano que vinha fazer
valer a causa do rei de Castela. Se a sorte da batalha tivesse sido outra, Portugal não existiria hoje
como Estado independente e… talvez ninguém se lembrasse já de Leonor Teles. Escutemos a sua
defesa.
20 «Confesso o erro de ter assumido, demasiado cedo, a minha relação amorosa com o conde de
Andeiro. Já o meu marido, D. Fernando, que soubera de tudo, havia conspirado para matar o
Andeiro. Há quem diga que, dessa missão, tinha encarregado o seu meio-irmão, João, o
dissimulado Mestre de Avis e (nunca o adivinharíamos…) futuro rei de Portugal. Ou talvez este
rumor, citado por Fernão Lopes, apenas sirva para legitimar, a posteriori, o que o Mestre, de
25 facto, viria a fazer… Agora, faltava-lhes gizar 2 um plano para liquidar o conde de Andeiro,
eliminando o principal apoio interno da regente – eu própria – e tomar o poder. Mas a eliminação
de Andeiro, mais do que por razões de honra, impunha-se por razões políticas…
E eis que surge Álvaro Pais, ex-chanceler-mor (primeiro-ministro) de D. Pedro e, depois, do
próprio D. Fernando. Alto-funcionário da Coroa, homem rico, burguês, influente e popular na
30 cidade de Lisboa, ele nunca perdoara o ascendente da minha própria influência nos destinos do
Reino. Álvaro Pais organiza uma rábula 3 a que, no vosso século, chamariam «fake news». Sem
redes sociais à sua disposição, usaria arautos 4 a cavalo para espalharem o alarme na cidade,
proclamando a falsa informação de que «matavam o Mestre».
(Neste ponto, em minha defesa, devo sublinhar que a manipulação das massas pela mentira não
35 é má quando nos prejudica nem boa quando nos convém. Mas esse julgamento deixo-o à História,
consciente de que ela é uma entidade que nem sempre faz justiça.).
Luís Almeida Martins, «Cinco vilões que marcaram a nossa História», Visão
https://visao.sapo.pt/atualidade/sociedade/2019-12-24-cinco-viloes-que-marcaram-a-nossa-historia/
(texto consultado em 20.11.2020).

1 3
consorte: nome dado a quem tem vínculo matrimonial rábula: pequena cena cómica;
com o rei; 2 gizar: planear, arquitetar; 4
arautos: mensageiros.
1. A pergunta «Porque o fez» (linha 6) é pertinente no contexto em que ocorre, na medida em que
permite
A. conduzir o leitor às respostas que a história oficial se preocupou em ocultar.
B. introduzir uma explicação para a atitude do cronista em relação à rainha.
C. alimentar a polémica em torno da figura da rainha D. Leonor Teles.
D. valorizar a importância de Fernão Lopes na preservação da memória coletiva.

2. O motivo do descontentamento da população portuguesa após a morte de D. Fernando


prendeu-se com questões de ordem
A. política, relacionadas com a sucessão após a morte do rei.
B. pessoal, relacionadas com a conduta libertina da rainha.
C. económica, relacionadas com o tesouro da Coroa portuguesa.
D. social, relacionadas com determinados setores da nobreza.

3. No penúltim parágrafo do texto, a expressão «E eis que» (linha 27) e a referência às «fake news»
e às «redes sociais» (linha 30) denunciam que Leonor Teles assume, face à «rábula» (linha 30)
organizada por Álvaro Pais, uma atitude
A. crítica, mas complacente.
B. condescendente, mas irónica.
C. altiva e sarcástica.
D. irónica e crítica.

4. No último parágrafo, D. Leonor Teles

A. condena a «manipulação das massas» e acusa a História de parcialidade.


B. considera a «mentira» histórica conveniente e um mal necessário.
C. defende a História enquanto «entidade» capaz de julgar o passado com justiça.
D. sublinha a incapacidade das «massas» de perceberem as implicações da «mentira».

5. Na expressão «a manipulação das massas pela mentira não é má quando nos prejudica nem
boa quando nos convém» (linhas 33-34), os pronomes pessoais desempenham as funções
sintáticas de
A. complemento direto, em ambos os casos.
B. complemento indireto, em ambos os casos.
C. complemento direto e complemento indireto, respetivamente.
D. complemento indireto e complemento direto, respetivamente.

6. Identifica a função sintática desempenhada pelas expressões

a) «a sedutora mulher do rei D. Fernando» (linha 3);


b) «Álvaro Pais» (linha 27).
7. Completa as afirmações abaixo apresentadas, selecionando a opção adequada a cada espaço.
Na folha de respostas, regista apenas as letras – a), b) e c) – e, para cada uma delas, o
número que corresponde à opção selecionada em cada um dos casos.

Na evolução de FILIUM para «filha» (linha 11), ocorreu, entre outros processos fonológicos, a
a) __________, processo também presente na evolução de b) __________. Por seu lado, na
evolução de SEMPER para «sempre» (linha 35) ocorreu c) __________.

a) b) c)
1. palatalização 1. IPSU para isso 1. metátese
2. vocalização 2. REGNO para reino 2. síncope
3. assimilação 3. CLAMAR para chamar 3. redução vocálica

Grupo III
Num texto bem estruturado, com um mínimo de 200 e um máximo de 350 palavras, faz a
apreciação crítica da fotografia abaixo apresentada, da autoria de Alejandro Prieto.

(consultado em 10/01/2021).
Fonte: https://alejandroprietophotography.com/

O teu texto deve incluir:


• a descrição da imagem apresentada, destacando elementos significativos da sua composição;
• um comentário crítico, fundamentando a tua apreciação e utilizando um discurso valorativo;
• uma conclusão adequada aos pontos de vista desenvolvidos.

Observações:

1. Para efeitos de contagem, considera-se uma palavra qualquer sequência delimitada por espaços em branco, mesmo quando esta
integre elementos ligados por hífen (ex.: /dir-se-ia/). Qualquer número conta como uma única palavra, independentemente do
número de algarismos que o constituam (ex.: /2021/).
2. Relativamente ao desvio dos limites de extensão indicados – entre 200 e 350 palavras –, há que atender ao seguinte:
− um desvio dos limites de extensão indicados implica uma desvalorização parcial (até 5 pontos) do texto produzido;
− um texto com extensão inferior a 80 palavras é classificado com 0 pontos.

FIM

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