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Literatura
Questão 1
Atente ao texto que segue, um excerto de Morte e Vida Severina, de João Cabral de Melo Neto, para responder à questão.
Assinale a alternativa que, de acordo com a leitura do texto, não é correto interpretar.
A. ( )
O vocativo “irmãos das almas” cria uma ladainha, puxada pelos interlocutores.
(Pucpr 2003) Identifique as afirmações verdadeiras sobre o fragmento extraído do "Auto do frade", de João Cabral de Melo
Neto:
I - "Fuzilado na forca" é uma imagem poética surrealista, pois o protagonista do "Auto do frade", tendo sido considerado
criminoso comum, foi enforcado, conforme prescreviam as leis brasileiras no século XVIII.
II - A metáfora "fuzilado na forca" aproxima, na linguagem, dois suplícios: aquele ao qual frei Caneca foi condenado (forca) e
aquele ao qual efetivamente foi submetido no final do poema dramático (fuzilamento).
III - A morte, assunto constante da obra poética de João Cabral de Melo Neto, é também tema central em "Auto do frade".
A. ( ) apenas I
B. ( ) apenas II
C. ( ) apenas III
D. ( ) I e III
E. ( ) II e III
Questão 3
(Ufrs 2004) Assinale a alternativa INCORRETA em relação a João Cabral de Melo Neto.
A. ( ) É autor de poemas arquitetados segundo modos de composição que não privilegiam a expressão emotiva do eu-
lírico.
B. ( ) A sua poesia caracteriza-se por seguir as inovações formais do Modernismo e por resgatar um regionalismo já
presente na obra de Alencar.
C. ( ) Do conjunto da sua obra, em grande parte traduzida para diferentes idiomas, destacam-se "A Educação pela
Pedra", "O Cão sem Plumas" e "O Rio".
D. ( ) Escreveu "Morte e Vida Severina", texto que foi musicado por Chico Buarque de Holanda.
E. ( ) Por meio de uma linguagem objetiva e visual, os seus poemas apresentam paisagens, costumes e personagens do
contexto nordestino brasileiro.
Questão 4
o cão vê a flor
a flor é vermelha
a flor é vermelha
a flor é vermelha
Ferreira Gullar. "Melhores poemas".
A. ( ) Este poema explora os espaços em branco e sua estrutura visual tenta sugerir o objeto descrito,
permitindo ao leitor que faça sua leitura tanto na direção horizontal como na vertical, sem que haja
alteração do sentido expresso.
C. ( ) Este poema pode ser considerado neoconcreto porque, ao contrário do concretismo, não procura ser o
objeto descrito, mas falar sobre esse objeto, o que significa retomar a discursividade na poesia.
D. ( ) Este poema é neoconcreto porque afasta qualquer sugestão imagética em sua linguagem,
consumando uma das propostas do neoconcretismo, que é a de ruptura com as artes plásticas.
Questão 5
(Pucrs 2007) Para responder à questão, ler os textos a seguir, de Raul Bopp e João Cabral de Melo Neto,
respectivamente.
Texto A
A floresta se avoluma
Lá adiante
Texto B
A visão de mundo dos poetas expressa-se através da descrição da natureza. Raul Ropp acentua .......... de nosso
país, através de versos carregados de adjetivos. João Cabral descreve a aridez da terra e a exploração do homem,
através de um vocabulário que evoca .......... .
Questão 6
A. ( ) Escrito em versos, é um auto de Natal nordestino e tem como personagem principal, Severino, um
favelado recifense, que quer saltar "fora da ponte e da vida".
B. ( ) Os versos transcritos representam a voz de outro personagem (seu José, o mestre Carpina), que dá a
Severino alguma esperança.
C. ( ) "A vida a respondeu com sua presença viva" é alusão ao filho recém-nascido de seu José.
D. ( ) A expressão SEVERINA (formada por derivação imprópria) significa aqui, anônimo, igual aos demais,
e realça a linguagem despojada do texto.
E. ( ) A poesia de Cabral é engajada com o seu meio, embora contida, chegando a demonstrar desprezo
pela confissão sentimental.
Questão 7
(Pucpr 2001) Trecho do poema "Morte e vida severina", de João Cabral de Melo Neto:
ou melhor na lamparina:
Aponte a alternativa que contém os versos que expressam a síntese da ideia principal do poema "Morte e vida
severina":
Questão 8
(Ufu 2004) Em entrevista aos "Cadernos de Literatura Brasileira", João Cabral de Melo Neto afirmou:
"Eu acho que a queda do comunismo deixou feridas na alma de alguns indivíduos (...) Quando o Muro de Berlim
caiu, meu mundo ideológico veio abaixo."
Sobre "Morte e vida severina", marque a afirmativa que NÃO expressa, de modo estrito, as crenças ideológicas do
autor.
A. ( ) A linguagem poética de "Morte e vida severina" se enriquece na medida em que valoriza a oralidade;
vários elementos cruzam-se no texto: elementos das literaturas ibéricas, do folclore pernambucano, da
tradição judaico-cristã.
B. ( ) Cabral toma a poesia como instrumento de conhecimento da realidade brasileira. Em "Morte e vida
severina", o autor não só dá voz ao oprimido, mas faz dele o principal elemento do texto.
C. ( ) Na segunda cena do auto, surgem os irmãos das almas que carregam um defunto também chamado
Severino, o que aponta para o destino dos muitos severinos da realidade miserável nordestina.
D. ( ) Na quarta cena, os versos "Dize que levas somente/ coisas de não:/ fome, sede, privação" encerram
profundas implicações humanas e políticas, pois trata-se daquilo que poderia sergarantido com ações
capazes de diminuir a privação das populações rurais.
Questão 9
(Fuvest 1997) É correto afirmar que no poema dramático "Morte e Vida Severina", de João Cabral de Melo Neto,
A. ( ) a sucessão de frustrações vividas por Severino faz dele um exemplo típico de herói moderno, cuja
tragicidade se expressa na rejeição à cultura a que pertence.
B. ( ) a cena inicial e a final dialogam de modo a indicar que, no retorno à terra de origem, o retirante estará
munido das convicções religiosas que adquiriu com o mestre carpina.
C. ( ) o destino que as ciganas preveem para o recém-nascido é o mesmo que Severino já cumprira ao
longo de sua vida, marcada pela seca, pela falta de trabalho e pela retirada.
D. ( ) o poeta buscou exprimir um aspecto da vida nordestina no estilo dos autos medievais, valendo-se da
retórica e da moralidade religiosa que os caracterizavam.
E. ( ) o "auto de natal" acaba por definir-se não exatamente num sentido religioso, mas enquanto
reconhecimento da força afirmativa e renovadora que está na própria natureza.
Questão 10
Leia com atenção este fragmento de Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa.
Nonada. Tiros que o senhor ouviu foram de briga de homem não, Deus esteja. O senhor ri certas risadas... Olhe: quando é tiro de
verdade, primeiro a cachorrada pega a latir, instantaneamente – depois, então, se vai ver se deu mortos. O senhor tolere, isto é o
sertão. Uns querem que não seja: que situado sertão é por os campos-gerais a fora a dentro, eles dizem, fim de rumo, terras altas,
demais do Urucaia. Toleima. Para os de Corinto e do Curvelo, então, o aqui não é dito sertão? Ah, que tem maior! Lugar sertão
se divulga: é onde os pastos carecem de fechos; onde um pode torar dez, quinze léguas, sem topar com casa de morador; e onde
um criminoso vive seu cristo-jesus, arredado do arrocho de autoridade. O Urucuia vem dos montões oestes. O gerais corre em
volta. Esses gerais são sem tamanho. Enfim, cada um o que quer aprova, o senhor sabe: pão ou pães, é questão de opiniães... O
sertão está em toda parte.
O estilo literário de Guimarães Rosa fez (e faz) escola, e pode-se identificá-lo em:
A. ( )
O menino da vizinha dos fundos, trepado no muro como ele vive, deve ter investigado bem o meu quintal, porque hoje
me gritou: “do-o-na, do-o-na, a mãe falou se a senhora quer vender umas panelas pra ela”. Me desgostou muito a
forma de pedir, o pedido em si. Com tanto vizinho, por que Dona Alvina foi enxergar logo as minhas panelas? A
distância entre a casa dela e a minha é a mesma entre a casa dela e a do Osmar Rico. É claro que percebeu minha
fraqueza. Não posso esconder, está na minha cara a atração que exercem sobre mim.
PRADO, Adélia. Os componentes da banda.
B. ( )
Minha filha: duas ou três vezes por semana, embora esquecer talvez fosse a melhor coisa para mim, em uma tarde
igual a esta em que tenho os olhos distantes, e já sem vontade de levar adiante os meus bordados – que são a única
ocupação que ainda tenho, além de cuidar das plantas – ponho-me a recordar toda a trajetória de minha vida, após tão
obscuras viagens, até que pude romper o emaranhado destes círculos, me integrar de novo a esta fazenda e ao convívio
do que nela, com todas as sutilezas, possa existir.
LOPES, Carlos Herculano . A dança dos cabelos.
C. ( )
Eu somos tristes. Não me engano, digo bem. Ou talvez: nós sou triste? Porque dentro de mim, não sou sozinho. Sou
muitos. E esses todos disputam minha única vida. Vamos tendo nossas mortes. Mas parto foi só um. Aí, o problema.
Por isso, quando conto a minha história me misturo, mulato não das raças, mas de existências.
COUTO, Mia. Vozes anoitecidas.
D. ( )
Há um cemitério de bêbados na minha cidade. Nos fundos do mercado de peixe e à margem do rio ergue-se o velho
ingazeiro – ali os bêbados são felizes. A população considera-os animais sagrados, provê às suas necessidades de
cachaça e peixe com pirão de farinha.
TREVISAN, Dalton. Cemitério de elefantes.
Questão 11
Atente a esse fragmento do conto “Desenredo”, de Guimarães Rosa.
A. ( )
Livíria (ou Revília ou Irvília) é mulher de Jó Joaquim.
B. ( )
C. ( )
D. ( )
A expressão conotativa “Todo abismo é navegável a barquinhos de papel” foi usada incorretamente no texto.
Questão 12
Atente para este excerto da obra A paixão segundo G. H., de Clarice Lispector.
É difícil perder-se. É tão difícil que provavelmente arrumarei depressa um modo de me achar, mesmo que achar-me seja de
novo a mentira de que vivo. Se tiver coragem, eu me deixarei continuar perdida. Mas tenho medo do que é novo e tenho medo
de viver o que não entendo. Perder-se significa ir achando e nem saber o que fazer do que se for achando. Não sei o que fazer da
aterradora liberdade que pode me destruir. Mas estou tão pouco preparada para entender. Mas como faço agora? Por que não
tenho coragem de apenas achar um meio de entrada? Oh, sei que entrei, sim. Mas assustei-me porque não sei para onde dá essa
entrada. E nunca antes eu me havia deixado levar, a menos que soubesse para o quê.
[...]
Mas por que não me deixo guiar pelo que for acontecendo? Terei que correr o sagrado risco do acaso. E substituirei o destino
pela probabilidade.
LISPECTOR, Clarice. A paixão segundo G. H.
A. ( )
quer se achar, porque está com medo, e vê nisso sua única saída.
B. ( )
C. ( ) vive seu conflito por meio de contradições, nas quais “perder-se” e “achar-se” causam sofrimento e dor.
D. ( )
tem consciência de suas limitações, por isso não se quer deixar levar.
Questão 13
O fragmento a seguir é do famoso conto “A terceira margem do rio”, de Guimarães Rosa. Leia-o com atenção e responda ao que
se pede.
Sem fazer véspera. Sou doido? Não. Na nossa casa, a palavra doido não se falava, nunca mais se falou, os anos todos, não se
condenava ninguém de doido. Ninguém é doido. Ou, então, todos. Só fiz, que fui lá. Com um lenço, para o aceno ser mais. Eu
estava muito no meu sentido. Esperei. Ao por fim, ele apareceu, aí e lá, o vulto. Estava ali, sentado à popa. Estava ali, de grito.
Chamei, umas quantas vezes. E falei, o que me urgia, jurado e declarado, tive que reforçar a voz: — “Pai, o senhor está velho, já
fez o seu tanto... Agora, o senhor vem, não carece mais... O senhor vem, e eu, agora mesmo, quando que seja, a ambas vontades,
eu tomo o seu lugar, do senhor, na canoa!...” E, assim dizendo, meu coração bateu no compasso do mais certo.
Ele me escutou. Ficou em pé. Manejou remo n'água, proava para cá, concordado. E eu tremi, profundo, de repente: porque,
antes, ele tinha levantado o braço e feito um saudar de gesto — o primeiro, depois de tamanhos anos decorridos! E eu não
podia... Por pavor, arrepiados os cabelos, corri, fugi, me tirei de lá, num procedimento desatinado. Porquanto que ele me pareceu
vir: da parte de além. E estou pedindo, pedindo, pedindo um perdão.
Sofri o grave frio dos medos, adoeci. Sei que ninguém soube mais dele. Sou homem, depois desse falimento? Sou o que não foi,
o que vai ficar calado. Sei que agora é tarde, e temo abreviar com a vida, nos rasos do mundo. Mas, então, ao menos, que, no
artigo da morte, peguem em mim, e me depositem também numa canoinha de nada, nessa água que não para, de longas beiras:
e, eu, rio abaixo, rio a fora, rio a dentro — o rio.
Na “novilíngua(gem)” de Guimarães Rosa, inúmeros recursos são usados na sua construção, como a sintaxe. Exemplo disso
pode ser verificado na passagem:
Questão 14
(Ufc 2001) Clarice Lispector se dizia uma escritora "sentidora". O termo se justifica porque Clarice:
II. sondava a mente das personagens, privilegiando assim a sequência das ações e suas causas.
III. separava com rigor os mundos interno e externo das personagens, a imaginação e a realidade.
A. ( ) apenas I é verdadeira.
B. ( ) apenas II é verdadeira
D. ( ) I e II são verdadeiras.
Questão 15
(Ufv 2001) Leia o seguinte comentário sobre o conto "Feliz aniversário", da obra "Laços de Família", de Clarice Lispector:
Bastante legível, mesmo num primeiro contato com o texto "Feliz aniversário", é a desmontagem de cunho crítico-social das
diversas situações nele apresentadas através da "festa" - momento de "encontro" familiar, onde diversos sentimentos, regras e
condutas são expostos. "Feliz aniversário" bem esboça a lógica dos contos constantes do livro "Laços de Família". Os "laços",
de família, constituem-se ao mesmo tempo em proximidade, distância, dilaceramento e prisão. Na festa, as semelhanças e as
diferenças, em especial as de classes, ficam reunidas para o cumprimento do instituído. Assim, cercadas as personagens, mais
visíveis se tornam a artificialidade, a revolta, o despeito e o ódio: todos os sentimentos mascarados sob a aparência de um "feliz"
aniversário. Menos visível - porque mais ausente - estará também sendo tecida a linha de vida e do amor [...].
SANTOS, R. Corrêa dos. "Clarice Lispector". São Paulo: Atual, 1986. p. 58.
Reflita sobre o texto crítico anterior em sua relação com as afirmativas I, II e III:
I - A "desmontagem do cunho crítico-social das diversas situações" apresentadas no conto "Feliz aniversário" pode ser
observada na forma irônica com que a narradora vê a miséria humana através do olhar crítico da velha, a ponto de comparar os
membros de sua família a "ratos se acotovelando".
II - "Os 'laços', de família, constituem-se ao mesmo tempo em proximidade, distância, dilaceramento e prisão". Isso se pode
verificar na maneira sutil e minuciosa com que Clarice Lispector descreve o perfil psicológico da personagem Anita, que, no
conto, é denominada: "Mamãe", "Vovó" e "D. Anita".
III - A "artificialidade, a revolta, o despeito e o ódio: todos os sentimentos mascarados sob a aparência de um 'feliz' aniversário"
são experimentados apenas pela velha aniversariante.
Questão 16
(Fuvest 2004) Identifique a afirmação correta sobre "A hora da estrela", de Clarice Lispector:
A. ( ) A força da temática social, centrada na miséria brasileira, afasta do livro as preocupações com a linguagem,
frequentes em outros escritores da mesma geração.
B. ( ) Se o discurso do narrador critica principalmente a própria literatura, as falas de Macabéa exprimem sobretudo as
críticas da personagem às injustiças sociais.
C. ( ) O narrador retarda bastante o início da narração da história de Macabéa, vinculando esse adiamento a um auto
questionamento radical.
D. ( ) Os sofrimentos da migrante nordestina são realçados, no livro, pelo contraste entre suas desventuras na cidade
grande e suas lembranças de uma infância pobre, mas vivida no aconchego familiar.
E. ( ) O estilo do livro é caracterizado, principalmente, pela oposição de duas variedades linguísticas: linguagem culta,
literária, em contraste com um grande número de expressões regionais nordestinas.
Questão 17
(Ufrn 2004) A questão a seguir refere-se às obras "A hora e vez de Augusto Matraga", de Guimarães Rosa (1946), e "A hora da
estrela", de Clarice Lispector (1977).
As duas obras representam a narrativa brasileira posterior ao Modernismo, no sentido de que já não se relacionam
diretamente ao chamado "romance social" ou "romance do Nordeste".
Questão 18
(Ufrs 2004) Assinale com (V) verdadeiro ou (F) falso as afirmações abaixo, referentes ao romance "A Hora da Estrela", de
Clarice Lispector.
( ) Embora o título principal do romance seja "A Hora da Estrela", a autora propõe uma série de títulos alternativos.
( ) Clarice evidencia preocupações incomuns em sua obra, como a reflexão sobre a linguagem e a busca do sentido secreto
que se esconde por trás do aparentemente visível.
( ) Antes de iniciar o relato da história de Macabéa, o narrador faz comentários sobre as dificuldades inerentes ao ato de
escrever e sobre os seus receios quanto ao destino da personagem que está criando.
( ) A narração do romance é feita por três vozes distintas: a de Rodrigo A. M., a de Macabéa e a de Olímpico.
( ) Uma das distrações de Macabéa, durante a madrugada, é ligar o radinho emprestado por uma colega de quarto e sintonizar
a Rádio Relógio, que assinala com um tic-tac cada minuto.
A. ( ) V - F - V - F - V.
B. ( ) V - V - F - F - V.
C. ( ) F - V - F - V - F.
D. ( ) V - F - F - F - V.
E. ( ) F - F - V - V - F.
Questão 19
7
De repente voltou-me a ideia de construir o livro. (...)
1
Desde então procuro descascar fatos, aqui sentado à mesa da sala de jantar (...).
Às vezes, entro pela noite, passo tempo sem fim acordando lembranças. Outras vezes não me ajeito com esta
ocupação nova.
3
Anteontem e ontem, por exemplo, foram dias perdidos. Tentei debalde canalizar para termo razoável esta prosa
8
que se derrama como a chuva da serra, e o que me apareceu foi um grande desgosto. Desgosto e a vaga
compreensão de muitas coisas que sinto.
9
Sou um homem arrasado. Doença? Não. Gozo perfeita saúde. (...) Não tenho doença nenhuma.
10
O que estou é velho. Cinquenta anos pelo S. Pedro. Cinquenta anos perdidos, cinquenta anos gastos sem
objetivo, a maltratar-me e a maltratar os outros. O resultado é que endureci, calejei, e não é um arranhão que
penetra esta casca espessa e vem ferir cá dentro a sensibilidade embotada.
Cinquenta anos! Quantas horas inúteis! Consumir-se uma pessoa a vida inteira sem saber para quê!
2
Comer e dormir como um porco! Como um porco! Levantar-se cedo todas as manhãs e sair correndo, procurando
4
comida! E depois guardar comida para os filhos, para os netos, para muitas gerações. Que estupidez! (...)
5 6
Coloquei-me acima da minha classe, creio que me elevei bastante. Como lhes disse, fui guia de cego, vendedor
de doce e trabalhador alugado. Estou convencido de que nenhum desses ofícios me daria os recursos intelectuais
necessários para engendrar esta narrativa. Magra, de acordo, mas em momentos de otimismo suponho que há nela
pedaços melhores que a literatura do Gondim. Sou, pois, superior a mestre Caetano e a outros semelhantes.
Considerando, porém, que os enfeites do meu espírito se reduzem a farrapos de conhecimentos apanhados sem
escolha e mal cosidos, devo confessar que a superioridade que me envaidece é bem mesquinha.
(...)
Quanto às vantagens restantes – casas, terras, móveis, semoventes, consideração de políticos, etc. – é preciso
convir em que tudo está fora de mim.
11
Julgo que me desnorteei numa errada.
GRACILIANO RAMOS
A repetição das palavras, neste contexto, constitui recurso narrativo que revela um traço relativo ao personagem.
A. ( ) carência
B. ( ) desespero
C. ( ) inabilidade
D. ( ) intolerância
E. ( )
Questão 20
(Ufu 2007) Marque a alternativa a seguir que NÃO se relaciona com o conto "Conversa de bois", de Guimarães
Rosa.
A. ( ) "Esta ausência de evolução individual é mais uma das causas da desorganicidade do romance [...].
Coleção de figuras inexpressivas, todas elas passivas e acomodadas em face da inércia do meio em que
vivem". (Carlos Nelson Coutinho)
B. ( ) "A parte documental encontra-se nas descrições, no registro dos costumes, na fidelidade à linguagem
popular fixada através dos diálogos; a imaginação, na capacidade poética de animar artisticamente o real
[...]". (Álvaro Lins)
C. ( ) "[...] são gente simples - rústicos mas não folclóricos [...]. Situados mágica, mística e misteriosamente
entre o lógico e o alógico, em ambientes rústicos geográfica e historicamente localizados [...]".
(Nascimento & Covizzi)
D. ( ) "A língua parece finalmente ter atingido o ideal da expressão literária regionalista. Densa, vigorosa, foi
talhada no veio da linguagem popular e disciplinada dentro das tradições clássicas". (Antonio Candido)
Questão 21
A. ( ) O trecho de Guimarães Rosa: "Mas, aí, o carreiro, o Agenor Soronho, homenzão ruivo, de mãos
sardentas, muito mal-encarado, passou rente ao papa-mel, que estremeceu, ao ver-se ao alcance do
ferrão temperado da vara de carrear" exemplifica como o escritor explora a oralidade da linguagem não-
letrada.
B. ( ) O pré-modernismo, de Lima Barreto, caracteriza-se pela presença de um espírito crítico que vai além
do campo ideológico. O escritor se insurge contra o estilo clássico de linguagem, como se observa neste
trecho: "Toda a manhã, ele ia lá e já via o milharal crescido com o seu pendão branco e as suas espigas
de coma cor de vinho, oscilando ao vento".
C. ( ) A linguagem de Clarice Lispector, por se comprometer com a sondagem da condição humana, exerce,
primordialmente, uma função referencial, como neste trecho: "Mas de repente foi aquele voo de vísceras,
aquela parada de um coração que se surpreende no ar, aquele espanto, a fúria vitoriosa com que o banco
a precipitava no nada e imediatamente a soerguia como uma boneca de saia levantada".
D. ( ) As atitudes linguísticas de Drummond evidenciam o apreço que o poeta moderno tem pela linguagem,
o que o leva a converter tendências da linguagem prosaica em experiências poéticas, como é o caso da
repetição nestes versos: "É preciso casar João, // É preciso suportar Antônio, // É preciso odiar
Melquíades, // É preciso substituir nós todos."
Questão 22
(Pucsp 2008) João Guimarães Rosa escreveu "Sagarana" em 1946, obra composta de nove contos, entre os quais
se destaca "O Burrinho Pedrês". Leia o trecho que segue.
Galhudos, gaiolos, estrelos, espácios, combucos, cubetos, lobunos, lompardos, caldeiros, cambraias, chamurros,
churriados, corombos, cornetos, bocalvos, borralhos, chumbados, chitados, vareiros, silveiros... E os tocos da testa
do mocho macheado, e as armas antigas do boi cornalão...
Deste trecho é correto afirmar que é marcadamente ritmado e sonoro. Esses efeitos se alcançam por causa
A. ( ) de uma possível métrica presente no trecho, caracterizada como redondilha menor, e da presença de
aliterações.
B. ( ) da diversidade de tipos de bois e do jogo contrastivo de termos que designam essa diversidade.
C. ( ) das medidas dos diferentes segmentos frásicos e pela dominante presença da redondilha maior.
D. ( ) da enumeração caótica estabelecida no jogo adjetivo dos termos e pela rima interna na constituição
dos pares vocabulares.
E. ( ) do jogo sonoro provocado pela dominância de vogais fechadas e pela presença de cadência de sons
apenas longos e átonos.
Questão 23
(Ufpel 2008) Sobre o conto "A terceira margem do rio", analise as seguintes afirmações:
I. Uma coerente interpretação para o título é a de que ele alude metaforicamente ao isolamento do narrador
protagonista em virtude de um conflito com a sua família. A terceira margem do rio simboliza a possibilidade de ele
viver sem as pressões que as duas margens do rio conotam.
II. O narrador, filho do homem que singrava a terceira margem, era o mais próximo dele, depois que a definitiva
decisão foi tomada. É correto dizer que o menino seja o elo entre o pai e o mundo.
III. A possibilidade de o narrador seguir a trajetória do canoeiro (como se fosse um legado), hipótese esta
rechaçada pelo patriarca por medo, instaurou uma dúvida existencial no menino; dúvida esta, aliás, que perpassa
todo o conto.
IV. Guimarães Rosa, cuja excelência literária também se baseou pela capacidade de "brincar" com a linguagem -
uma de suas marcas são os neologismos -, vale-se desse recurso nesse conto.
A. ( ) I e III.
B. ( ) II e IV.
C. ( ) I e IV.
D. ( ) II e III.
E. ( ) I, II e III.
Questão 24
TEXTO
Vestindo água, só saído o cimo do pescoço, o burrinho tinha de se enqueixar para o alto, a salvar também
de fora o focinho. Uma peitada. Outro tacar de patas. Chu-áa! Chu-áa... - ruge o rio, como chuva deitada no chão.
Nenhuma pressa! Outra remada, vagarosa. No fim de tudo, tem o pátio, com os cochos, muito milho, na Fazenda; e
depois o pasto: sombra, capim e sossego... Nenhuma pressa. Aqui, por ora, este poço doido, que barulha como um
fogo, e faz medo, não é novo: tudo é ruim e uma só coisa, no caminho: como os homens e os seus modos,
costumeira confusão. É só fechar os olhos. Como sempre. Outra passada, na massa fria. E ir sem afã, à voga
surda, amigo da água, bem com o escuro, filho do fundo, poupando forças para o fim. Nada mais, nada de graça;
nem um arranco, fora de hora. Assim.
A. ( ) indignação, uma vez que cada um desses animais é morto por algozes humanos.
B. ( ) infantilização, uma vez que esses animais pensantes são exclusivos da literatura infantil.
C. ( ) maravilhamento, na medida em que os respectivos narradores servem-se de sortilégios e de magia
para penetrar na mente desses animais.
D. ( ) estranhamento, pois nos fazem enxergar de um ponto de vista inusitado o que antes parecia natural e
familiar.
E. ( ) inverossimilhança, pois não conseguem dar credibilidade a esses animais dotados de interioridade.
Questão 25
(Ufu 2006) Em "Conversa de bois", os nomes de personagens e lugares além de serem indícios significativos do
andamento do enredo, ampliam, também, as possibilidades de leitura do texto.
C. ( ) O Morro do Sabão apresenta-se como um lugar íngreme e escorregadio, onde o carreiro João Bala
sofre um acidente, perdendo seu carro-de-boi, mas é salvo por seus animais, o que não acontece com
Agenor Soronho, que acaba morrendo no local.
D. ( ) Os nomes dos bois revelam características importantes de suas personalidades, como o boi Brilhante,
que possui uma tendência à reflexão filosófica, e o boi Brabagato, que se mostra violento e raivoso,
sempre pronto para expor sua força bruta.
Questão 26
(Ufu 2006) Considere o fragmento a seguir e a leitura da narrativa "A imitação da rosa" de Clarice Lispector.
"Sim, se na hora desse jeito e ela tivesse coragem, era assim mesmo que diria. Como é mesmo que diria?
Precisava não esquecer: diria - Oh não! Etc. E Carlota se surpreenderia com a delicadeza de sentimentos de Laura,
ninguém imaginaria que Laura tivesse também suas ideiazinhas. Nesta cena imaginária e aprazível que a fazia
sorrir beata, ela chamava a si mesma de 'Laura', como a uma terceira pessoa. Uma terceira pessoa cheia daquela
fé suave e crepitante e grata e tranquila, Laura, a da golinha de renda verdadeira, vestida com discrição, esposa de
Armando que não precisava mais se forçar a prestar atenção em todas as suas conversas sobre empregada e
carne, que não precisava mais pensar na sua mulher, como um homem que é feliz, como um homem que não é
casado com uma bailarina."
A. ( ) Laura aparece envolvida entre duas pessoas: uma primeira pessoa, um eu que anseia por identidade
e, uma terceira pessoa, ela mesma, impessoal, mulher de Armando, presa em seu papel social estreito,
aprisionante e redutor.
B. ( ) "Laura, a da golinha de renda verdadeira, vestida com discrição, esposa de Armando" opõe-se à
personagem Carlota, sua rival e amante de seu marido, fato conhecido por toda a vizinhança.
C. ( ) Laura pode ser vista como imagem de uma sociedade patriarcal, pois todos os seus atos são um
reflexo da tentativa de não se opor a Armando, o marido, e de respeitar as convenções instituídas pelo
casamento.
D. ( ) Entre Laura e as rosas cria-se um elo de prazer. Quando ela se põe face a face com o buquê de rosas
perfeitas e múltiplas no mesmo talo, algo se agita em seu interior.
Questão 27
(Pucpr 2009) Observe o seguinte fragmento do conto "Felicidade Clandestina", do livro com o mesmo nome,
escrito por Clarice Lispector:
"Mas que talento tinha para a crueldade. Ela toda era pura vingança, chupando balas com barulho. E como essa
menina devia nos odiar, nós que éramos imperdoavelmente bonitinhas, esguias, altinhas, de cabelos livres. Comigo
exerceu com calma ferocidade o seu sadismo. Na minha ânsia de ler, eu nem notava as humilhações a que ela me
submetia: continuava a implorar-lhe emprestados os livros que ela não lia.
Até que veio para ela o magno dia de começar a exercer sobre mim uma tortura chinesa. Como
casualmente, informou-me que possuía As Reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato. Era um livro grande, meu
Deus, era um livro pra se ficar vivendo com ele, comendo-o, dormindo-o. E completamente acima de minhas
posses. Disse-me que eu passasse pela sua casa no dia seguinte e que ela o emprestaria".
Na relação entre as personagens se verificam as seguintes temáticas presentes no todo da obra de Clarice
Lispector:
A. ( ) A desigualdade social, presente no fato de não se dividir um bem material, o livro, e a competitividade
entre as mulheres.
B. ( ) A importância da leitura como fator de inclusão social, já que, entre as personagens, a mais rica
impede o acesso da mais pobre ao livro desejado.
D. ( ) A agressividade natural das crianças e a intertextualidade com a obra de Monteiro Lobato, principal
influência literária sofrida por Clarice Lispector.
E. ( ) A religiosidade - presente na expressão "era um livro grosso, meu Deus" - e a crença nos valores
cristãos como o perdão, que, ao final, a narradora dirigirá à sua antagonista.
Questão 28
(Ufu 2007) Leia o fragmento a seguir, extraído da narrativa "Amor", de Clarice Lispector.
Sua precaução reduzia-se a tomar cuidado na hora perigosa da tarde, quando a casa estava vazia sem
precisar mais dela, o sol alto, cada membro da família distribuído nas suas funções. Olhando os móveis limpos, seu
coração se apertava um pouco em espanto. Mas na sua vida não havia lugar para que sentisse ternura pelo seu
espanto - ela o abafava com a mesma habilidade que as lides em casa lhe haviam transmitido. Saía então para
fazer compras ou levar objetos para consertar, cuidando do lar e da família à revelia deles. Quando voltasse era o
fim da tarde e as crianças vindas do colégio exigiam-na. Assim chegaria a noite, com sua tranquila vibração. De
manhã acordaria aureolada pelos calmos deveres. Encontrava os móveis de novo empoeirados e sujos, como se
voltassem arrependidos. Quanto a ela mesma, fazia obscuramente parte das raízes negras e suaves do mundo. E
alimentava anonimamente a vida. Estava bom assim. Assim ela o quisera e escolhera.
B. ( ) Ana "alimentava anonimamente a vida" ao imprimir no seu dia uma percepção profunda e positiva de si
mesma.
C. ( ) Ana se agarrava aos objetos, às tarefas e aos deveres para afogar seu desejo de viver e de encontrar
um mundo que poderia lhe trazer prazer e, ao mesmo tempo, sofrimento.
D. ( ) A frase "Sua precaução reduzia-se a tomar cuidado na hora perigosa da tarde" configura-se como uma
tensão que é recorrente nos enredos clariceanos.
Questão 29
(Ufrs 2007) Leia, a seguir, a síntese de um conto do livro "Laços de Família", de Clarice Lispector.
Numa manhã bem cedo, a menina saiu de casa para ir à escola. As ruas estavam desertas, ainda era noite e "as
casas dormiam nas portas fechadas". Caminhando sozinha, ela avistou, ao longe, dois rapazes vindo em sua
direção. A menina se amedrontou e ficou indecisa sobre qual atitude tomar: dar a volta e sair correndo, ou enfrentá-
los. Vencendo o próprio medo, a menina decidiu continuar caminhando, na expectativa de que nada lhe
acontecesse. No momento em que cruzaram com ela, os rapazes lhe tocaram o corpo com as duas mãos e saíram
correndo, deixando-a paralisada.
A. ( ) "Feliz Aniversário".
B. ( ) "Preciosidade".
C. ( ) "Amor".
D. ( ) "A Imitação da Rosa".
E. ( ) "Os Laços de Família".
Questão 30
(Pucsp 2007) O conto "São Marcos", que integra a obra "Sagarana", de João Guimarães Rosa, apresenta
linguagem marcadamente sinestésica, isto é, que ativa os órgãos sensoriais como meios de conhecimento da
realidade, em suas diferentes situações narrativas. No ponto culminante da narrativa, o narrador é afetado em sua
capacidade sensorial, particularmente ligada
A. ( ) ao olfato, que lhe permite perceber o "cheiro de musgo. Cheiro de húmus. Cheiro de água podre", bem
como o "odor maciço, doce ardido, do pau d'alho".
B. ( ) à visão, que lhe permite contemplar as plantas, as aves, os insetos, as cores e os brilhos da natureza,
como em "debaixo do angelim verde, de vagens verdes, um boi branco, de cauda branca".
C. ( ) ao tato, que se ativa "com o vento soprando do sudoeste, mas que mudará daqui a um nadinha, sem
explicar a razão", além de lhe permitir sentir o "horror estranho que riçava-me a pele e os pelos".
D. ( ) ao paladar, ativado na mastigação "de uma folha cheirã da erva-cidreira, que sobe em tufos na beira
da estrada", e usada, segundo a personagem, para "desinfetar".
E. ( ) à audição, que lhe faculta "distinguir o guincho do paturi do coincho do ariri, e até dissociar as corridas
das preás dos pulos das cotias, todas brincando nas folhas secas".
Questão 31
- Sim, respondeu atabalhoadamente com pressa antes que ele mudasse de ideia.
- Macabéa.
Maca - o quê?
- Eu também acho esquisito mas minha mãe botou ele por promessa a Nossa Senhora da Boa Morte se eu
vingasse, até um ano de idade eu não era chamada porque não tinha nome, eu preferia continuar a nunca ser
chamada em vez de ter um nome que ninguém tem mas parece que deu certo - parou um instante retomando o
fôlego perdido e acrescentou desanimada e com pudor - pois como o senhor vê eu vinguei... pois é...
- Também no sertão da Paraíba promessa é questão de grande dívida de honra.
Eles não sabiam como se passeia. Andaram sob a chuva grossa e pararam diante da vitrine de uma loja de
ferragem onde estavam expostos atrás do vidro canos, latas, parafusos grandes e pregos. E Macabéa, com medo
de que o silêncio já significasse uma ruptura, disse ao lançado recém-lançado-namorado:
Da segunda vez em que se encontraram caía uma chuva fininha que ensopava os ossos. Sem nem ao menos se
darem as mãos caminhavam na chuva que na cara de Macabéa parecia lágrimas escorrendo.
A. ( ) aproximam-se do cômico, mas, no âmbito do livro, evidenciam a oposição cultural entre a mulher
nordestina e o homem do sul do País.
B. ( ) aproximam-se do cômico, mas, no âmbito do livro, evidenciam a oposição cultural entre a mulher
nordestina e o homem do sul do País.
C. ( ) beiram às vezes o absurdo, mas, no contexto da obra, adquirem um sentido de humor e sátira social.
D. ( ) registram, com sentimentalismo, o eterno conflito que opõe os princípios antagônicos do Bem e do
Mal.
E. ( ) suprimem, por seu caráter ridículo, a percepção do desamparo social e existencial das personagens.
Questão 32
(Pucpr 2005) Em " Grande Sertão: Veredas", o jagunço Riobaldo, que é o narrador da história, já no início da
narrativa, se auto-censura: "Ai, arre, que esta minha boca não tem ordem nenhuma. Estou contando fora, coisas
divagadas". (GSV, p.19).
Este modo de mostrar os bastidores da narração identifica uma das características da narrativa contemporânea.
Escolha a alternativa que identifica esta característica.
Questão 33
Questão 34
TEXTO 1
1 Inquieta, olhou em torno. Os ramos se balançavam, as sombras vacilavam no chão. Um pardal ciscava na
terra. E de repente, com mal-estar, pareceu-lhe ter caído numa emboscada. Fazia-se no Jardim um trabalho
secreto do qual ela começava a se aperceber.
2 Nas árvores as frutas eram pretas, doces como mel. Havia no chão caroços secos cheios de
circunvoluções, como pequenos cérebros apodrecidos. O banco estava manchado de sucos roxos. Com suavidade
intensa rumorejavam as águas. No tronco da árvore pregavam-se as luxuosas patas de uma aranha. A crueza do
mundo era tranquila. O assassinato era profundo. E a morte não era o que pensávamos.
3 Ao mesmo tempo que imaginário - era um mundo de se comer com os dentes, um mundo de volumosas
dálias e tulipas. Os troncos eram percorridos por parasitas folhudas, o abraço era macio, colado. Como a repulsa
que precedesse uma entrega - era fascinante, a mulher tinha nojo, e era fascinante.
4 As árvores estavam carregadas, o mundo era tão rico que apodrecia. Quando Ana pensou que havia
crianças e homens grandes com fome, a náusea subiu-lhe à garganta, como se ela estivesse grávida e
abandonada. A moral do Jardim era outra. Agora que o cego a guiara até ele, estremecia nos primeiros passos de
um mundo faiscante, sombrio, onde vitórias-régias boiavam monstruosas. As pequenas flores espalhadas na relva
não lhe pareciam amarelas ou rosadas, mas cor de mau ouro e escarlates. A decomposição era profunda,
perfumada... Mas todas as pesadas coisas, ela via com a cabeça rodeada por um enxame de insetos enviados pela
vida mais fina do mundo. A brisa se insinuava entre as flores. Ana mais adivinhava que sentia o seu cheiro
adocicado... O Jardim era tão bonito que ela teve medo do Inferno.
5 Era quase noite agora e tudo parecia cheio, pesado, um esquilo voou na sombra. Sob os pés a terra estava
fofa, Ana aspirava-a com delícia. Era fascinante, e ela sentia nojo.
TEXTO 2
MEIO-DIA (2)
O sol tomba,
vertical,
dos edifícios.
embriagados.
O vermelho dos sinais ri,
em chamas,
para os carros.
Na calçada,
a luz lambe
as coxas da garota,
penetra no blue-jeans
os manequins,
irriga de calor
Tudo se queima,
tudo se consome,
Ó súbita revelação:
o sol me aponta
o carvão íntimo
das coisas,
negro
coração
batendo na claridade.
Questão 35
(Uel 2001) No livro "Laços de família", de Clarice Lispector, o conto "Feliz aniversário" apresenta uma reunião
familiar para uma festa de aniversário. Identifique a única opção que contém a caracterização correspondente à
personagem da aniversariante:
A. ( ) "... arrumara a mesa cedo, enchera-a de guardanapos de papel colorido e copos de papelão alusivos à
data, espalhara balões sugados pelo teto..."
B. ( ) " ... como tendo sido tão forte pudera dar à luz aqueles seres opacos, com braços moles e rostos
ansiosos?"
C. ( ) "... na fila oposta das cadeiras fingindo ocupar-se com o bebê para não encarar a concunhada de
Olaria..."
D. ( ) "... não sabia o que fazer, olhou para todos em pedido cômico de socorro. Mas, como máscaras
isentas e inapeláveis, de súbito nenhum rosto se manifestava."
Questão 36
(Ufrs 2001) Leia o trecho abaixo de "Grande Sertão: Veredas", de Guimarães Rosa.
"-Nonada. Tiros que o senhor ouviu foram de briga de homem não, Deus esteja. Alvejei mira em árvores no quintal,
no baixo do córrego. Por meu acerto. Todo dia isso faço, gosto; desde mal em minha mocidade. Daí, vieram me
chamar. Causa dum bezerro: um bezerro branco, erroso, os olhos de nem ser - se viu -; e com máscara de
cachorro. Me disseram; eu não quis avistar. Mesmo que, por defeito como nasceu, arrebitado de beiços, esse
figurava rindo feito pessoa. Cara de gente, cara de cão: determinaram - era o demo. Povo prascóvio. Mataram.
Dono dele nem sei quem for. Vieram emprestar minhas armas, cedi. Não tenho abusões. O senhor ri certas
risadas... Olhe: quando é tiro de verdade, primeiro a cachorrada pega a latir, instantaneamente - depois, então, se
vai ver se deu mortos. O senhor tolere, isto é o sertão."
A. ( ) "Nonada" remete a uma situação anterior, pressuposta no início do romance, sobre a qual o narrador e
o ouvinte estariam conversando.
D. ( ) O aparecimento do bezerro com máscara de cachorro não causa estranhamento entre os sertanejos.
E. ( ) Para o narrador, os tiros sempre indicam que houve morte de homens.