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[...] E naquele mesmo dia tiveram início os trabalhos da ponte. Nos bolsos da velha,
mais três rubis haviam ido se juntar ao tesouro já acumulado. Passado algum tempo, e
estando pronta a ponte, novamente o rei mandou chamar a jovem. lriam até o penhasco,
atravessar pela primeira vez para o outro reino.
— Pode ir — disse a mãe quando os mensageiros reais chegaram à sua casa —,
mas só se for atrás de mim.
E empavonada saiu rumo ao palácio, seguida pela filha.
Em festa reuniu-se a corte. Que rodeada pelo povo, entre cantos e danças, chegou
finalmente ao penhasco, e de lá, agitando braços e estandartes, saudou a corte vizinha do
outro lado.
Já o rei avançava para dar os "primeiros passos sobre a ponte, quando a velha se
adiantou roubando-lhe o caminho.
— Serei eu a primeira, mãe dessa filha tão preciosa!
E sem esperar, seguiu sobre o vazio.
Mas seus passos são duros para a ponte tão delgada que balança ao vento, e
pesam demais os rubis amontoados nos bolsos. Súbito, o pé resvala, pende o corpo, a mão
sem força não encarava apoio, e, perdida toda a altivez, a velha despenca em direção ao
rio, enquanto no escuro da roupa as pedras de sangue tilintam umas contra as outras.
Debruça-se acorde na beira do penhasco. Debruça-se a curte vizinha que espera do
outro lado. Lá embaixo nada aparece.
Então o rei oferece sua mão e apoiando-se nela de leve a moça avança pela ponte, unindo
os dois reinos, sobre aplausos das cortes.
Colasanti, Marina. Doze Reis e a moça no labirinto do vento. São Paulo, Global, 2006
p.66-72.