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Aulas
Aula 19 - Exegese sêmio-discursiva de Marcos 3,13-19

Objetivos:

- Continuar a aplicação de análise sêmio-discursiva.


- Aplicar aos Sinóticos a análise da dimensão teológica da ação.

Introdução

Continuaremos nossa aplicação exegética aos Sinóticos. Não se esqueça: "não tenha
medo de errar"! Mais uma vez aconselho: "tente, não consulte bibliografia, apenas leia o
texto e deixe-se guiar pelo que o próprio texto oferece para você".

Marcos 3,13-19 – A dimensão espaço temporal da ação

1. Tradução do Texto Grego[1]


13
E sobe[2] à montanha e chama a si os que queria, e partiram até ele. 14 E designou
doze (a quem também chamou de apóstolos)[3], a fim de que ficassem com ele, e a fim
de que os enviasse a pregar 15 e a ter autoridade para expulsar os demônios. 16 E
designou os doze[4], e deu o nome[5], a Simão, Pedro[6]; 17 e a Tiago, o de Zebedeu, e a
João, o irmão de Tiago, e deu-lhes o nome Boanerges, que é 'filhos do trovão'[7]; 18 e
André, e Filipe, e Bartolomeu, e Mateus, e Tomé, e Tiago, o de Alfeu, e Tadeu, e Simão o
Zelota[8]; 19 e Judas Iscariotes[9], o que o entregou.

2. A ação no tempo e espaço

Agentes:

Jesus: sobe à montanha (novamente, não nomeado no início da perícope), chama para si
os que queria, a fim de que ficassem com ele, e a fim de que os enviasse a pregar e ter
autoridade para expulsar os demônios; fez os doze, colocou sobre Simão o nome
Pedro, colocou sobre eles o nome Boanerges; Judas Iscariotes, o que o entregou.

Os que queria: foram até ele; e fez doze, a fim de que ficassem com ele, e a fim de que
os enviasse a pregar e ter autoridade para expulsar os demônios; e fez os doze: e
colocou sobre Simão o nome Pedro; e a Tiago, o de Zebedeu, e a João, o irmão de
Tiago, e colocou sobre eles o nome Boanerges, que é 'filhos do trovão'; e André, e Filipe,
e Bartolomeu, e Mateus, e Tomé, e Tiago, o de Alfeu, e Tadeu, e Simão o Zelota; e Judas
Iscariotes, o que o entregou.

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Espaço:

(Jesus sobe a) a montanha; (os doze vão) até ele; (para que ficassem) com ele, e
os enviou ...

Tempo:

O uso do presente histórico nas duas orações iniciais (sobe e chama),junto


com o imperfeito do verbo querer (os que queria), destaca a dinamicidade do
acontecimento narrado – a ação é descrita como em acontecimento ainda. Os
presentes do subjuntivo e infinitivos do presente, aplicados aos doze (ficassem,
enviasse, ter autoridade, expulsar), descrevem a ação como incoativa (iniciada
mas ainda não realizada), já denotando a nova condição dos chamados – são
discípulos de Jesus, mas ainda não começaram a exercer a função. Estes
verbos contrastam com os demais, no aoristo (designou, deu o nome, deu-lhes o
nome, entregou), indicando ação completa, ou seja, descrita como já concluída.

Organização das ações no espaço-tempo:

(1) Do ponto de vista da espacialidade, temos o movimento da subida à


montanha, tanto de Jesus quanto dos doze chamados por ele, mas um subir não
para ficar, mas para sair novamente (compare com o relato da Transfiguração,
também no monte em 9,2ss). O termo montanha é precedido pelo artigo
definido, mas não sabemos a que monte em particular se refere. Podemos
destacar o contraste entre a montanha como local da presença de Deus, do
chamado para o serviço e da formação da identidade teológica do povo de
Deus[10]; e as não-montanhas como o espaço da atuação missionária, da
presença do anti-reino de Deus.

(2) Do ponto de vista da temporalidade, a passagem respira,


simultaneamente, dinamicidade, incoatividade e terminatividade – ou seja, a
ação de Jesus (chamar) cria um novo estado para os chamados (se tornam
discípulos), mas ainda não se vê a ação desses discípulos em seu novo estado
pessoal. Os chamados são imediatamente transformados em os doze (dentre os
quais três também recebem apelidos que indicam mudança de identidade), e
passam a ser definidos pela missão de seguidores de Jesus – como pregadores
e exorcistas.

Para aprofundar na análise sêmio-discursiva, assista à aula do linguista Dr. Fiorin

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sobre "enunciação".

[1] A tradução visa preservar as características sintáticas e semânticas


do texto grego, por isso não tem uma qualidade literária adequada.

[2] No grego o verbo está no presente. É claro que o verbo, no


presente, pode ser traduzido com um perfeito, para indicar o sentido de
“presente histórico”. Mantive o presente, na tradução, para manter o tom
mais próximo do original, na medida em que também existe na língua
portuguesa o “presente histórico”.

[3] A presença da frase é atestada em MSS antigos como a, B e C, mas


ausente em A, C2, D, L, etc., e está em lugar diferente em W. Pode ser
uma assimilação a Lc 6,13; mas o uso da palavra em 6,30 e Mt 10,2,
além da evidência forte de manuscritos, podem indicar a antiguidade da
expressão.

[4] A frase repetida está ausente em alguns MSS, como A, C, D, L;


pode ser uma ditografia, mas também é possível possivelmente que a
ausência se deva ao fato de que tal repetição é estilisticamente ruim.

[5] Expressão idiomática que ocorre, por exemplo, em Platão,


Symposium 205b; II Rs 24,17.

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[6] Mantive a ordem sintática do grego, também incomum.


Alguns MSS antigos, para harmonizar a forma com a dos
demais nomes da lista, iniciam a frase com “primeiro, Simão”.

[7] A explicação marcana é típico exemplo de etimologia


popular, tendo em vista que a palavra para trovão, em hebraico
ou aramaico, não se aproxima da forma sonora da terminação
de boan (bene)erges, que pode derivar de rgz ou rgsh,
excitação, raiva.

[8] A palavra grega Kananai/on pode significar “de Caná”, ou


ser uma transliteração do aramaico qan'an – zeloso, ou zelote.
Em Lucas, o termo grego para zelote é usado.

[9] Mais comumente se interpreta Iscariotes como referindo-se


aos sicários (vários MSS de Mc, Mt e Lc têm a palavra sem o i
inicial, que fortalece esta interpretação), o que combinaria com
a atitude de Judas em trair Jesus. Outras possibilidades são:
“homem de Qeriyyoth”, ou “mentiroso”, “falso” (aramaico sakar).

[10] Se há uma reminiscência a Moisés como tipo de Jesus, a


montanha é o lugar da outorga da torá divina, o que apontaria
para a constituição do novo Israel por Jesus.

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