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AS BENÇÃOS DE SE ESPERAR EM DEUS

1 Esperei confiantemente pelo SENHOR; ele se inclinou para mim e me ouviu


quando clamei por socorro.
2 Tirou-me de um poço de perdição, de um tremedal de lama; colocou-me os pés
sobre uma rocha e me firmou os passos.
3 E me pôs nos lábios um novo cântico, um hino de louvor ao nosso Deus; muitos
verão essas coisas, temerão e confiarão no SENHOR.
4 Bem-aventurado o homem que põe no SENHOR a sua confiança
Salmo 40.1-4a
Introdução
A. Hoje quero conversar um pouco com você sobre esperar em Deus. Nosso
texto é o Salmo 40. 1-3
B. Mas o que é Esperança. Dicionário: Fé no futuro, confiança, expectativa
otimista. Esperar é aguardar algo, até com confiança; agora esperançar é
confiar plenamente que algo vai acontecer, nos dá a sensação de movimento,
de atitude.
C. A ansiedade é o resultado natural de centralizarmos nossas esperanças em
qualquer coisa menor do que Deus e sua vontade para nós.Billy Graham
D. Quem na verdade contemplou a cruz de Cristo não pode jamais falar de casos
sem esperança. G. Campbell Morgan
E. Jeremias 17:7 Bendito o homem que confia no SENHOR e cuja esperança é o
SENHOR.
F. A esperança nunca vai mal quando a fé vai bem. John Bunyan
G. Muitos já perderam a esperança, no lugar entrou o desânimo, a desconfiança.
A esperança se tornou um elemento raro para muitos corações que vivem de
forma sub-humana. Alguns vivem imersos na violência externa e até dentro
do lar. Outros vivem em situações depressivas e não enxergam saída ou
esperança de melhora. Alguns trabalham tanto e recebem tão pouco que ao se
verem sem estudo e sem preparo profissional se sujeitam a uma quase
escravidão sem esperança. Pessoas há que estão dentro de presídios,
aguardando julgamento para provar sua inocência e não enxergam esperança
para seu caso. Outros estão com o casamento desmoronando e cada dia fica
ainda mais sem esperança. Qual a solução para milhões de casos assim? A
resposta é simples e direta: só Deus pode renovar nossa esperança.
H. Esperar não é fácil, somos muito imediatistas, queremos tudo para agora e do
nosso jeito. Muitos depositam sua esperança em coisas, em bens, em pessoas,
em instituições, mas nada pode nos garantir o futuro.
I. O Salmo 40 fala de esperança, de alguém (Davi) que aprendeu a esperar em
Deus, a esperar confiadamente, aprendeu a esperançar. Esperei
confiadamente “no Senhor”.
J. Vejamos no Salmo 40. 1-3 o que Deus faz quando você aprende a
esperar em Nele:
I. DEUS ATENDE SUA ORAÇÃO – v. 1 Esperei confiantemente pelo SENHOR;
ele se inclinou para mim e me ouviu quando clamei por socorro.
A. Quando esperamos com confiança em Deus, ele nos ouve. Deus não apenas
escuta nossas orações e pedidos, mas ele ouve atentamente. Muitas vezes
falamos com alguém e aquela pessoa está longe, divagando, ou às vezes nós
estamos conversando com alguém, mas apenas escutando. Há situações em
nossa vida que tudo o que queremos é ser ouvido por alguém, alguém para
pedirmos socorro, ajuda, ou simplesmente desabafar. Deus nos ouve com
toda a atenção, e o salmista usa uma figura linda para nos mostrar isto. Ele
diz que Deus se inclinou para ele (verso 1). Salmo 113.5-6: “Quem há
semelhante ao SENHOR, nosso Deus, cujo trono está nas alturas, que se
inclina para ver o que se passa no céu e sobre a terra?”
B. Que Deus tremendo, ele é toda atenção a mim e a você. Na hora que o
salmista mais precisou, quando ele clamou por socorro, na hora do aperto...
Deus ouviu, se inclinou. Você e eu podemos pedir, clamar, chorar, gritar por
socorro, porque Deus está se inclinando no trono, e ouvindo nosso pedido.
Deus não rejeita nossa oração (Salmo 66.20).
C. Isaías 59.1: “Eis que a mão do SENHOR não está encolhida, para que não
possa salvar; nem surdo o seu ouvido, para não poder ouvir”. Podemos ter
esperança em Deus (no Senhor) porque ele nos ouve.
D. CONFIANÇA EM DEUS
E. "Você sabia que uma águia sabe quando uma tempestade está se
aproximando muito antes dela começar? A águia voa a um local alto e espera
pelos ventos que virão. Quando a tempestade chega, a águia abre suas asas
de tal forma que o vento a pega e levanta acima da tempestade. Enquanto a
tempestade está rugindo abaixo, a águia está acima dela. A águia não escapa
da tempestade, ela simplesmente usa a tempestade para erguer-se mais alto.
Ela se eleva com os ventos que trazem a tempestade. Quando as tempestades
da vida vêm sobre nós, podemos superá-las ao manter as nossas mentes e
nossa crença em Deus. As tempestades não têm que nos vencer, podemos
permitir que o poder de Deus nos eleve acima delas. Deus nos permite andar
sobre os ventos da tempestade que trazem doença, tragédia, fracasso e
decepção em nossas vidas. Podemos voar acima da tempestade. Lembre-se de
que não são os fardos da vida que nos afundam, mas como lidamos com eles."
O que Deus faz quando você aprende a esperar em Nele:

II. DEUS O TIRA DE SITUAÇÕES DIFÍCEIS- v. 2 Tirou-me de um poço de


perdição, de um tremedal de lama; colocou-me os pés sobre uma rocha e me firmou
os passos.
A. Em primeiro lugar, Deus nos ouve. Mas quando esperamos com confiança em
Deus, ele nos tira das situações difíceis. Lembrem-se um pouco de onde é que
Deus nos tirou, onde estávamos quando Deus nos alcançou com sua graça,
uns em situações mais trágicas outros menos. Salmo 124: “Não fosse o
SENHOR, que esteve ao nosso lado, Israel que o diga...”.
B. Onde estaríamos hoje? Se é que nós estaríamos... Deus nos tirou de uma
situação difícil, das trevas nos levou para a luz (1 Pedro 2.9).
C. Mas qual a situação difícil que você está vivendo hoje? Saúde, perseguição,
dívida, solidão, depressão, desânimo...
D. Para o salmista era um poço de lama (braço de Deus alcança), era como uma
cova de leões (Daniel), como uma fornalha ardente (Sadraque, Mesaque e
Abedenego), como Golias (Davi), mar vermelho (Moisés) como os povos
inimigos (Josué e Calebe). Lamentações 3.21-26: “Quero trazer à memória...” –
literalmente “fazer voltar o coração”.
E. Precisamos fazer nosso coração se voltar para Deus, sua pessoa e seus feitos.
Deus nos ergue do monturo e nos faz assentar com os príncipes (Salmo 113.
7-8).
F. Quando esperamos confiadamente em Deus, ele nos tira das situações
difíceis, para Deus não há impossíveis ou difíceis demais, tire os olhos dos
problemas e coloque em Deus, nosso socorro, nosso refúgio, nossa esperança.
G. ILUSTRAÇÃO: Na Romênia, um homem sempre dizia ao seu filho:
- Haja o que houver, eu sempre estarei a seu lado. Certo dia, após um
terremoto de intensidade muito grande quase acabar com a cidade, este
homem correu para a escola do seu filho e só encontrou um montão de ruínas.
Imediatamente, ele e outros pais começaram a cavar. Depois vieram os
bombeiros e mais pessoas para ajudar. As horas passavam rapidamente e com
elas, a esperança de encontrar alguém com vida. Um a um, cansados e
desesperados, os pais foram deixando o trabalho de buscas para os bombeiros,
mas, esse homem, de forma obstinada, continuava. Pediram-lhe que
descansasse um pouco, mas, ele não parava. A sua promessa ao seu filho lhe
renovava as forças: "- Haja o que houver, nunca vou abandonar você. Ao
afastarem uma enorme pedra, com a ajuda de um guindaste, ele chamou mais
uma vez pelo filho. E uma doce voz infantil lhe respondeu: - Pai... estou aqui!
- Você está bem, meu amor?
- Sim, papai, mas, estamos com sede e fome.
- Tem mais alguém com você?
- Sim, todos os alunos da minha classe estão aqui.
Eles haviam ficado presos em um vão entre dois pilares de concreto.
Quando a televisão veio entrevistar o menino e perguntou se ele havia ficado
com medo, ele emocionou a todos:- Não, eu falei para os meus amigos: "Não
precisam ter medo, meu pai irá nos achar. Ele prometeu que sempre irá estar
ao meu lado. E meu pai nunca quebra uma promessa".
O que Deus faz quando você aprende a esperar em Nele:
III. DEUS O COLOCA EM UM LUGAR SEGURO – V.2 colocou-me os pés sobre
uma rocha e me firmou os passos.
A. Em primeiro lugar, Deus nos ouve. Em segundo, ele nos tira das situações
difíceis. Deus não apenas nos tira de situações difíceis, ele nos coloca em um
lugar seguro. Todos nós queremos segurança, é o grande apelo às
autoridades, segurança financeira, segurança na saúde, nossa família
(condomínios fechados).
B. O lugar mais seguro do mundo é debaixo das asas de Deus, Jesus se compara
com uma galinha e seus pintainhos. Que figura bonita! Lucas 13.34:
“Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te foram
enviados! Quantas vezes quis eu reunir teus filhos como a galinha ajunta os
do seu próprio ninho debaixo das asas, e vós não o quisestes!”
C. Ele coloca nossos pés sobre a rocha (Mateus 7. 24-27), os dois fundamentos,
rocha e areia. Como árvore plantada junto a ribeiros (Salmo 1). Provérbios
3.26: “Porque o SENHOR será a tua segurança e guardará os teus pés de
serem presos”. Não seremos mais abalados por qualquer vento ou
tempestades, também não seremos mais levados por qualquer vento de
doutrina ou falso ensinamento. Efésios 4.14: “para que não mais sejamos
como meninos, agitados de um lado para outro e levados ao redor por todo
vento de doutrina, pela artimanha dos homens, pela astúcia com que induzem
ao erro”.
D. O melhor lugar para estarmos, é no centro da vontade de Deus, é no
esconderijo do altíssimo (Salmo 91), ele guardará nosso pés (Salmo 121.3).
Quando esperamos em Deus, ele nos coloca em um lugar seguro.
E. Isaías 49:15 Acaso, pode uma mulher esquecer-se do filho que ainda mama,
de sorte que não se compadeça do filho do seu ventre? Mas ainda que esta
viesse a se esquecer dele, eu, todavia, não me esquecerei de ti.

CONCLUSÃO
A. Em primeiro lugar, Deus nos ouve. Em segundo, ele nos tira das situações
difíceis, em terceiro, ele nos coloca em um lugar seguro.
B. Quando esperamos confiadamente em Deus estas coisas vão acontecer. Ao
experimentarmos esta ação de Deus em nossa vida, Deus colocará em nossos
lábios um novo cântico (eu e você vamos rir à toa), um hino de louvor ao nosso
Deus. Que maravilha! É o fim das lamentações e o início da adoração (Salmo
30.5).
C. Esta alegria, fruto da esperança em Deus, servirá de testemunho para muitos
(verso 3) “que verão essas coisas, temerão e confiarão no Senhor”.
D. Miqueias 7: 7, diz: “Eu, porém, olharei para o Senhor e esperarei no Deus da
minha Salvação; o meu Deus me ouvirá”.
ILUSTRAÇÕES

Meu pai é o piloto


O menino estava sozinho na sala de espera do aeroporto, aguardando seu vôo.
Quando o embarque começou, ele foi colocado na frente da fila para entrar e
encontrar seu assento antes dos adultos.
O menino foi simpático quando puxaram conversa com ele, e em seguida começou a
passar o tempo colorindo um livro.
Não demonstrava ansiedade ou preocupação com o voo enquanto as preparações
para a decolagem estavam sendo feitas.
Durante o voo a aeronave entrou numa tempestade muito forte, o que fez com que
balançasse como uma pena ao vento.
A turbulência e as sacudidas bruscas assustaram alguns dos passageiros, mas o
menino parecia encarar tudo com a maior naturalidade.
Uma das passageiras sentada do outro lado do corredor, ficou preocupada com ele e
perguntou:
- Você não está com medo?

Não, senhora, respondeu ele, levantando os olhos rapidamente de seu livro de


colorir e piscando um dos olhos, meu pai é o piloto!

8. Esperança no Antigo Testamento.


a. O estudo do verbo esperar ou aguardar com expectativa não se limita a um
campo semântico central (→ ḥkh, yḥl, qwh, e śbr). Esperar é uma atitude, uma
disposição, ou um estado de espírito que pode ser expressado de diversas formas
(ver abaixo).
b. Deus é, ele mesmo, na maioria das vezes, a fonte definitiva de esperança.
Apesar de existirem coisas como a mera esperança, a esperança como abstração,
ou a esperança inútil (acima de tudo, em Jó), na maioria dos casos subentende-se
que elas se baseiam numa forte crença em Deus e na atuação ativa dele na
história, mesmo contra todos os percalços.
c. A esperança e o aguardar com ansiedade depositados em Deus expressam-
se, na maioria das vezes, quando os homens estão particularmente conscientes da
própria finitude diante da infinitude de Deus (Sl 39.4–7). Esse preocupação
permeia tantos textos que a distinção entre a esperança sagrada e a profana é
muito tênue.
d. A esperança e a expectativa ansiosa estão ligadas à necessidade que as
pessoas têm de apelar para os recursos de Deus, especialmente quando
confrontadas com a questão dos objetivos da vida.
e. A esperança está, em grande medida, relacionada com as diversas promessas
de Deus. Os crentes a aceitam como infalíveis. Há as promessas da aliança que
Deus fez a Noé, Abraão, Moisés e David, as quais foram renovadas aos profetas,
especialmente a Jeremias (Jr 31–33; por isso, “Esperança de Israel”, 14.8; 17.13).
Mesmo dividido, um dia Israel estará unido novamente, sob um único governo (Ez
37.15–23; cf. Is 11.13). Essas promessas são verdadeiras, e apesar de darem
esperança apenas a um remanescente p. ex. Is 7–8), não deixam de ser esperança.
“A esperança reside em Deus, e apesar de seu povo ter inabalável confiança nas
promessas que Deus lhe fizera, isso não significa que Deus não terá liberdade de
agir como quiser” (Zimmerli, 150).
f. Existem contrastes notáveis. Enquanto o livro de Jó apresenta uma crítica
duríssima a uma existência esperançosa, o livro dos Salmos é uma coleção de
impressionantes ditos acerca da esperança. Mesmo naqueles salmos em que a
esperança se mostra pouca (p. ex., Sl 39), ela é encontrada em Deus (39.7). Mas,
de modo geral, os salmistas têm como certa essa esperança, de forma até mesmo
audaciosa, e a certeza que têm parece consubstanciar-se em ninguém menos do
que Deus (27.1). Mesmo o livro das Lamentações, provavelmente a síntese do
desespero, reverbera uma nota profunda de esperança (Lm 3.18–29). O mesmo
ocorre com o Qohelet, aparentemente pagão e sarcástico, quando trata da
esperança (biṭṭāḥôn) (Ec 9.4).
g. Embora a esperança possa ser adiada, ou não determinada, a expectativa
permanece (cf. Is 8.17; Mq 7.7; Sl 42.5 [6]). Mesmo o material
escatológico/apocalíptico, com suas imagens, comunica, ainda que de maneira
imprecisa, a continuidade da história, com aquela mesma esperança e aquela
mesma expectativa (Is 25.6–8) antes mencionadas. O fim iminente, tão
caracteristicamente esperado, contém um tom de esperança, mesmo em uma
nação envolta em problemas (Jl 3.15–16; Ml 4.5–6). “A fé na soberania do Deus da
aliança, a obediência à lei restabelecida por Moisés, a paciência para aguardar
uma visão postergada, a confiança no cumprimento definitivo de seus propósitos
na história e a expectativa da expansão do reino de Deus, malgrado todos os
indícios contrários, eram a reação dos melhores filhos de Israel diante de
circunstâncias tão adversas que poderiam levá-los à ruptura” (Hubbard, 48).
P-B 1. Na LXX, enquanto qwh I é na maioria das vezes (umas 20×) traduzido pelo
vb. (hypo-) menō e apenas duas vezes (Is 25.9; 26.8) por elpizō, o subs. tiqwā é
traduzido umas 20× por elpis, 4× por hypomonē (Jó 14.19; Sl 9.19 Q; 62.5 [6]; 71.4
[5]) e duas vezes por hypostasis (Rt 1.12; Ez 19.5); o outro subs., miqweh, foi
sempre traduzido (4×) por hypomonē (em Jr 50.7 [LXX=27.7], nem sequer é
traduzido).
2. A LQ confirma o predomínio das raízes yḥl and qwh quando usadas para
expressar esperança e pertinácia. Igualmente raras, como no HB, são ḥkh e śbr. Há
apenas uma ocorrência de ḥkh até agora, em lQpHab 7.9, uma citação de Hc 2.3,
enquanto que śbr ainda não apareceu na literatura de Qumran.
As formas verbais de yḥl em 4Q 521 (“todo aquele que espera com paciência no
coração”), em 4Q 252pGa, que é uma citação de Gênesis 8.12, e em 4Q 266Da
(contexto incerto). O subs. tôḥelet é encontrado em 4Q 509 (de fato a única
passagem legível), em 11QPs 22.9 (não canônico), e em 1QH 9.14, que tem Deus
como destinatário: “pois sei que há esperança graças à tua bondade e fidelidade
mediante a plenitude do teu poder”.
Assim como ocorre no HB, qwh é a raiz usada com mais freqüência na LQ. As
formas verbais ocorrem em 4Q 384papApocJerB (contexto incerto), e em 4QHa,
em que a “esperança de sabedoria” (por meio do estudo das Escrituras) está
expressada. O subs. miqweh, que aparece em 1QH (3:20; 6:6; 9:14), aparece
também, num pequeno fragmento, em 4Q 382 (única palavra legível, além de
outra), ao passo que tiqwâ, também vista em 1QH (3:27; 6:32; 9:12) e em 1QM
11:9 (que se aproxima de Os 2.17), ocorre em 4Q 221, uma cópia do Jubileu, na
qual está expressada a “esperança na terra”. Por fim, sem que seja possível
determinar algum contexto, principalmente por causa da natureza fragmentária
do documento, ainda que sua leitura esteja clara, tiqwah é encontrada em 4Q
365RPC, em 4Q 378PsJa, em 4QHf 432 e em 4Q 434Barki Nafschia.
Apesar de 1QH 3:2 e 6:32 determinarem que a esperança possa ser perdida por
meio do juízo, de modo geral, as ocorrências do termo na literatura de Qumran
confirmam o fato de que esperança é, na maioria das vezes, orientada no sentido
de Deus e/ou de algo que se espera de Deus. Quando textos canônicos, contendo
uma raiz que expressa esperança e obstinação, são citados, eles o são, na maioria
das vezes, em aplicação direta à comunidade de Qumran (p. ex., 4QpPs37 2.4 e
4.10, citando o Sl 37.9, 34).
NT Para diversos escritores do NT o AT continha muitas promessas que eles
acreditavam estavam sendo cumpridas (cf. a forma hina plērōthē [= para que se
cumprisse] ocorre 10× e 4× respectivamente em Mt e em Jo). A maioria delas, é
claro, levava em consideração a esperança da chegada de um futuro rei davídico,
o Messias (→ mšḥ), cumprida em Jesus. A esperança messiânica, do período dos
profetas clássicos em diante, era uma das maiores, se não a principal, esperança
de Israel (Lc 1.67–79; 2.25–38).
Esperança, espera: → ḥkh (esperar, agüentar, aguardar, ter esperança, # 2675); →
yḥl (esperar, ter esperança, agüentar, almejar, # 3498); → qwh I (demorar,
esperar, ter esperança, esperar por, # 7747); → sbr (testar, investigar, ter
esperança, esperar, examinar, # 84321

1. Testemunho da Graça (vs. 1–10)


O salmista está relatando o que lhe aconteceu no passado quando clamara ao Senhor (v. 1). É provável
que a tradução “esperei pacientemente” seja passiva demais para uma tradução das palavras iniciais. O verbo
significa “esperar ansiosamente” ou “esperar no Senhor” (ver sobre o Sl 37.8,9), e a expressão aqui é de
caráter enfático. Talvez uma tradução como “De fato esperei ansiosamente pelo Senhor” capte algo do
significado. O clamor foi ouvido e o Senhor respondeu.
Davi descreve sua experiência como se ele estivesse dentro de um poço (v. 2), ou numa cisterna como
aquela em que Jeremias fora posto, a qual não tinha água, apenas lama (Jr 38.6). Deus o libertara de seu lugar
de angústia, com sua desolação e perigo. Ele foi resgatado e posto sobre um fundamento sólido.
Assim que a angústia se foi, seus lábios entoaram um novo cântico (v. 3). Em salmos posteriores, tais como
96 e 98, a frase “um novo cântico” é associada com eventos finais ou do fim dos tempos, como se dá em
Apocalipse 14.3. Aqui ela denota um cântico de salvação que Deus lhe dera, como parte da seqüência de
ações praticadas por ele (“ele se inclinou … ele me ouviu … ele ergueu … ele pôs … ele firmou”). Suas
experiências serão um testemunho a muitos outros que também virão e acharão refúgio neste Salvador.
Agora se traça o contraste entre os que passam a confiar no Senhor e os que põem sua confiança nos
ídolos (v. 4). São enaltecidos (para “bem-aventurado”, ver sobre o Sl 1.1), pois não seguiram após os
arrogantes que se desviam do verdadeiro Deus para porem sua confiança nos ídolos.
O que aconteceu ao salmista era outro “prodígio” realizado pelo Senhor (v. 5). Um “prodígio” era um ato
sobrenatural de livramento que somente Deus podia efetuar (Sl 72.18, “o único que realiza feitos
maravilhosos”). Justamente como o livramento de Israel do Egito foi um “prodígio”, assim também foi com o
recente livramento do salmista. Ninguém podia relatar todos os atos divinos de salvação, pois eram
numerosos demais.
A seção a seguir (vs. 6–10) às vezes tem sido tomada como messiânica por causa do uso em Hebreus 10.5–
7. Não obstante, no cenário aqui, no Salmo 40, o teor não é primariamente messiânico, pois entre outras
coisas Davi confessa sua própria pecaminosidade (v. 12). Ele é adaptado e aplicado por Jesus, que, como
maior que Davi, cumpre o espírito destas palavras. A citação neotestamentária é extraída da versão grega
chamada Septuaginta, cujas variações do texto hebraico tornaram seu uso mais fácil em Hebreus 10.
O versículo 6 não deve ser interpretado como se Davi estivesse negando a validade do sistema sacrificial
veterotestamentário. Antes, deve ser entendido, como se dá em 1 Samuel 15.22, como a enfatizar que a
obediência era mais essencial do que qualquer sacrifício. São designados quatro dos sacrifícios comuns. Os
1
Schibler, D. (2011). (1) ‫קוה‬. W. A. VanGemeren (Org.), Novo Dicionário Internacional de Teologia e Exegese do Antigo
Testamento (1a edição, Vol. 3, p. 1129). São Paulo, SP: Editora Cultura Cristã.
dois primeiros são em termos mais gerais, enquanto os dois últimos são em termos de oferecimento
completamente consumidos no altar e a oferta expiatória. A referência a furar suas orelhas provavelmente
seja à prontidão em ouvir-se a palavra do Senhor e a obedecê-la, como o versículo seguinte deixa claro.2

Visão geral: esse salmo traz uma confirmação clara da graça de Deus e de seu poder de livrar. Por isso,
para esses comentaristas, devemos interpretar o esterco e a lama dos quais Davi foi retirado como nossa
pecaminosidade. E a rocha sobre a qual Davi foi colocado pode ser entendida como uma referência à certeza
do livramento divino e à esperança que os crentes têm nas promessas de Deus ou como uma alusão a Cristo,
que é o fundamento da igreja. Dessa maneira, a música que Davi canta mostra não só sua própria gratidão,
como representa também a gratidão da humanidade pelo resgate poderoso de Deus. Nossos intérpretes
discutem se o hebraico complicado do versículo 6, que muitos traduzem como “furaste minhas orelhas”, é
uma referência a Êxodo 21. Todavia, concordam que a frase sugere a importância de se ouvir a Palavra ser
pregada e interpretada da maneira correta. Finalmente, à luz do que parece ser uma mudança repentina de
tom no versículo 11, alguns dos nossos comentaristas destacam que as promessas de Deus não eliminam a
realidade do sofrimento aqui e agora, mas os cristãos, que receberam a misericórdia de Deus, são capazes
agora de demonstrar misericórdia aos outros.
Realizamos sacrifícios imitando a Cristo. JOHANNES BUGENHAGEN: Hebreus 10 nos ensina que essas são
palavras de Cristo, mostrando que agora não existe mais sacrifício externo, a não ser que, pelo exemplo de
Cristo, você cumpra a vontade e a lei de Deus, não com ofertas externas, mas de coração. Esta é a lei do
espírito: a fé em seu coração que não age maliciosamente e também não o deixa ficar em silêncio sobre a
justiça, verdade, salvação e bondade de Deus na grande congregação ou entre as multidões. O começo do
salmo é um ato de gratidão pelo livramento maravilhoso do Senhor. INTERPRETAÇÃO DOS SALMOS.

40.1–5 A misericórdia abundante de Deus


A persistência exemplar de Davi. JOÃO CALVINO: o começo desse salmo é uma expressão de gratidão, na
qual Davi conta que foi liberto não só do perigo, mas também da morte. Alguns argumentam – mas sem
fundamento – que ele falava de uma doença. Em vez disso, devemos concluir que Davi se refere aqui a uma
grande quantidade de perigos dos quais conseguiu escapar. É claro que ele foi exposto mais de uma vez ao
maior perigo e até mesmo à morte, então teve motivos para afirmar que quase foi engolido pelo abismo da
morte e quase afundou no barro imundo. Contudo, parece que sua fé continuou firme, pois ele não parou de
confiar em Deus, ainda que a longa duração do sofrimento tenha esgotado sua paciência. Ele não relata que
meramente esperou, mas, ao repetir a mesma frase, mostra-nos que viveu por muito tempo em suspense e
ansiedade. Então, na medida em que sua provação foi prolongada, a prova de sua fé se tornou ainda mais
evidente, pois ele suportou a demora com calma e serenidade. Em poucas palavras, isso tudo significa que,
conquanto Deus tenha adiado sua ajuda, o coração de Davi não enfraqueceu e não se cansou, mas que,
depois de provar suficientemente sua paciência, ele foi finalmente ouvido. COMENTÁRIO DE SALMOS.
Símiles de pecado e salvação. NIKOLAUS SELNECKER: a sepultura terrível e a lama não representam nada além
dos nossos pecados, transgressões e maldades, a tirania do diabo, a morte e todas as desgraças humanas.
Quanto a isso, lemos em Zacarias: “Por causa do sangue da tua aliança, tirei os teus cativos da cova em que
não havia água”. Isso significa que o Filho de Deus se esvaziou de sua divindade e assumiu a forma de servo.
Tornou-se humano e, por meio de seu sofrimento e morte, tirou-nos do inferno, redimiu-nos da morte e
salvou-nos de toda a lama do pecado.

2
Harman, A. (2011). Salmos. (V. G. Martins, Trad.) (1a edição, p. 185–186). São Paulo, SP: Editora Cultura Cristã.
A palavra “rocha” significa a certeza do consolo, da fé, esperança, proteção e ajuda divina. Ela é usada em
oposição à sepultura e à lama, nas quais não conseguimos ficar em pé ou andar. No entanto, permanecemos
seguros sobre a rocha. Para Cristo, o Filho de Deus, essa rocha é Deus, o Pai. Nossa rocha é Cristo, Deus
verdadeiro e homem verdadeiro, o Filho do Deus vivo. Ele nos orienta por meio de seu Espírito Santo. Cremos
nele, então somos capazes de andar seguramente. Como lemos no salmo 32, o próprio Deus afirma: “Instruir-
te-ei e te ensinarei o caminho que deves seguir; e, sob as minhas vistas, te darei conselho”. TODO O SALTÉRIO.
Uma nova canção para o Senhor, do Senhor. CARDEAL CAJETAN: aqui a graça da nova aliança é descrita pelo
autor, pois um ser humano não dá a canção, quem o faz é Deus, por meio de revelação, porque os crentes não
só creem em seu coração, mas também confessam com suas bocas: “Em meus lábios”. Com doçura, pois é um
cântico, então é delicioso. Com admiração, pois é verdadeiramente novo por cantar que o Verbo se fez carne.
A restauração do ser humano é muito mais interna do que externa. Na realidade, ele canta sobre a
restauração de toda a criação: “Eis que faço novas todas as coisas”. Com culto de adoração entendemos o
“louvor ao nosso Deus”, para que se compreenda que essa canção sobre a nova aliança é louvor a Deus não
diferentemente do louvor do nosso povo, que o adorava na antiga aliança. COMENTÁRIO SOBRE O SALMO 40.
Não limite a ação de Deus aos meios externos. JOÃO CALVINO: enquanto alguns vivem em sofrimento
constante por causa de sua própria ansiedade e tristeza ou se abalam com o sopro da menor brisa, outros se
esforçam muito para fortalecer e preservar sua vida com recursos terrenos – tudo isso é resultado da
ignorância sobre a doutrina de que Deus domina todas as questões deste mundo segundo seu próprio prazer
e vontade. E assim como a grande maioria das pessoas, medindo a providência de Deus por seu próprio
entendimento, obscurece-a ou a limita maliciosamente, Davi, colocando-a de maneira correta, remove esse
obstáculo sabiamente. Então, o significado da frase é este: que, nas obras de Deus, o ser humano deve
respeitosamente admirar o que não é capaz de compreender com sua razão. E quando a carne o levar à
contradição ou à murmuração, ele precisa se elevar acima do mundo. Se Deus parar de operar, pode parecer
estar adormecido, pois, quando ele cruza os braços para o uso de meios externos, não consideramos que ele
aja por meios secretos. Desse modo, nessa passagem aprendemos que, embora a razão de suas obras possa
ser oculta ou desconhecida para nós, ele é maravilhoso em seus conselhos. COMENTÁRIO DE SALMOS.

Salmo 40: Salvo!


As conhecidas palavras “sacrifícios e ofertas não quiseste” (v. 6–8) revelam que esse é um salmo messiânico,
pois Hebreus 10:5 aplica as palavras a Jesus. Porém, encontramos certa dificuldade quando percebemos que a
primeira parte do salmo trata da ressurreição, enquanto a parte final parece voltar à agonia na cruz. Não é
fácil explicar essa inversão. Para alguns, o Salvador antevê sua ressurreição e fala dela como se já houvesse
acontecido. Outros aplicam a oração angustiada no final do salmo ao remanescente judeu no período da
grande tribulação. Em nosso estudo, aplicaremos o salmo todo ao Senhor Jesus, primeiro à sua ressurreição e,
em seguida, a seu sofrimento na cruz. Caso essa violação da ordem cronológica ofenda nossa mente
ocidental, podemos nos consolar com o fato de que os povos orientais nem sempre consideram a sequência
temporal tão importante.
40:1 Quem fala no salmo é Jesus, o Messias. Esperou com paciência pelo SENHOR até que ele ouviu sua
oração e o livrou da morte. Nem mesmo Jesus recebia sempre uma resposta imediata. Sabia, contudo, que a
demora não representava, necessariamente, uma recusa. Deus responde às orações no momento mais
apropriado para a realização de seus desígnios em nossa vida.
O socorro de Deus não vem cedo demais,
do contrário não teríamos
a ventura de confiar em meio às trevas.
Também não vem tarde demais,
do contrário experimentaríamos
a angústia de confiar em vão.
40:2 O Salvador compara seu livramento glorioso da morte a ser resgatado de um poço de perdição e de
um pântano lamacento. Quem pode imaginar o que significou para o Doador da vida sair do túmulo vivo para
sempre e vitorioso sobre o pecado, Satanás, a morte e a sepultura!
Conquanto o livramento de Cristo tenha sido singular, todos podemos experimentar, em menor grau, o
poder de Deus para nos salvar dos poços e lamaçais da vida. Como sabemos bem, a vida é repleta de covas
profundas. A pessoa não convertida a quem o Espírito Santo convence dos pecados se encontra em um poço
particularmente assustador. O apóstata também se vê num pântano traiçoeiro. Caímos, ainda, nos lamaçais
de enfermidade, sofrimento e tristeza. Muitas vezes, quando buscamos orientação, sentimos como se
estivéssemos numa masmorra escura. Há ocasiões, ainda, em que afundamos no tremedal de luto, solidão ou
desânimo. São experiências que ficam gravadas na memória, momentos nos quais choramos e gememos, mas
temos a impressão de que nada acontece. Precisamos seguir o exemplo do Salvador e aprender a esperar
confiantemente pelo SENHOR. No seu devido tempo, Deus virá ao nosso encontro, nos puxará para fora do
poço, colocará nossos pés sobre uma rocha e firmará nossos passos.
40:3 Observe que Deus é a fonte de nosso louvor, bem como seu alvo. Coloca um novo cântico nos lábios
e um hino de louvor ao nosso Deus.
O livramento redunda não só em louvor a Deus, como também em testemunho a outros. “Muitos verão
essas coisas, temerão e confiarão no SENHOR”. A ressurreição de Jesus é o exemplo supremo. Pense nos
incontáveis peregrinos da fé que se achegaram a Deus graças ao milagre do túmulo vazio!
40:4 Ao pensar naqueles que provaram e viram que o Senhor é bom, o Redentor ressurreto profere uma
das verdades mais fundamentais e magníficas da vida espiritual: “Bem-aventurado o homem que põe no
SENHOR a sua confiança”. A verdadeira felicidade e realização na vida se dão apenas por meio da fé em Deus.
Não poderia ser de outro modo. Fomos criados de tal maneira que só cumprimos nosso destino quando
reconhecemos Deus como Senhor e Mestre. Pascal disse bem: “Há um vazio com o formato de Deus no
coração humano!”. E Agostinho observou: “Fizestenos para ti, ó Senhor, e nosso coração não encontrará
descanso enquanto não descansar em ti”.
O homem bem-aventurado não apenas se achega a Deus, mas também se distancia dos arrogantes e dos
afeiçoados à mentira (ou “dos que se afastam para seguir deuses falsos”; NVI). Não é enganado por duas das
maiores ilusões da vida: a ideia de que a honra dos soberbos é importante e de que os falsos deuses do
materialismo e prazer, inclusive sexual, podem satisfazer o coração humano. O homem bem-aventurado se
preocupa mais com a aprovação de Deus do que com o louvor dos homens. Sabe que só encontrará alegria
plena na presença do Senhor, e não na companhia daqueles que adoram em santuários idólatras.
40:5 Isso leva o Messias a pensar em como as misericórdias de Deus são incontáveis. As maravilhas e os
desígnios de sua graça para com seu povo são incalculáveis. Quem pode descrever exaustivamente os
detalhes infinitos da natureza? Quem pode enumerar todas as intervenções extraordinárias da providência
divina? Quem pode compreender a magnitude de suas bênçãos espirituais: eleição, predestinação,
justificação, propiciação, absolvição, perdão, salvação, novo nascimento, a habitação do Espírito nos cristãos,
o selo do Espírito, o penhor do Espírito, a unção, a santificação, a filiação, a condição de herdeiros, a
glorificação. “Eu quisera anunciá-los e deles falar, mas são mais do que se pode contar”.
Quando minha alma se eleva e examina
todas as tuas misericórdia, ó meu Senhor,
Fico extasiado com a vista, eu me perco
Em admiração, amor e louvor!

Joseph Addison3
3
MacDonald, W. (2011). Comentário Bíblico Popular: Antigo Testamento (2a edição, p. 412–413). São Paulo: Mundo Cristão.
1. Esperando esperei. O início deste Salmo é uma expressão de gratidão na
qual Davi relata que fora libertado, não apenas do perigo, mas também da
presença da morte. Há quem defenda a opinião, mas sem boas razões, de que ela
deva ser entendida como resultado de enfermidade. Deve-se antes pressupor que
Davi, nesta passagem, compreende uma infinidade de perigos dos quais ele
escapara. Certamente estivera mais que exposto ao maior dos perigos, à morte;
de modo que, com boas razões, podia dizer que fora tragado pelo abismo da
morte afundado em lodo lamacento. Não obstante, o que transparece é que sua
fé ainda continuava firme, porquanto não cessou de confiar em Deus, embora a
longa permanência da calamidade havia deixado sua paciência bem perto da
exaustão. Ele não nos diz simplesmente que havia esperado, mas pela repetição
do mesmo verbo ele mostra que fora deixado por longo tempo em ansiosa
expectativa. À medida, pois, que sua provação se prolongava, a evidência e prova
de sua fé em suportar a delonga com calma e equanimidade mentais se faziam
ainda mais evidente. O significado em sua consiste em que, embora Deus
delongasse seu socorro, não obstante o coração de Davi não desfaleceu, nem se
cansou; senão que, depois de dar, por assim dizer, suficiente demonstração de sua
paciência, por fim foi ouvido. Em seu exemplo surge diante de nós uma doutrina
muito proveitosa, a saber: embora Deus não se apresse em vir em nosso socorro,
mas propositadamente nos mantém em suspenso e perplexidade, todavia não
devemos perder a coragem, visto a fé não ser totalmente provada senão pela
longa espera. O resultado também do qual ele fala em termos de louvor deve
inspirar-nos com crescente constância. Deus pode socorrer-nos mais lentamente
do que gostaríamos, mas quando parece não tomar conhecimento de nossa
condição, ou, se podemos usar tal expressão, quando parece inativo e a dormitar,
isso é totalmente distinto de nos enganar; pois se somos incapazes de suportar,
mediante a invencível força e poder da fé, o tempo oportuno de nosso livramento
por fim surgirá.
2. E me tirou da cova extraordinária. Há quem traduza: da cova da desolação,
visto que o verbo ‫שאה‬, shaäh, do qual o substantivo ‫שאום‬, shaon, se deriva,
significa destruir ou devastar, tanto quanto ressoar ou ecoar. Mas é mais
apropriado considerar que há aqui uma alusão aos abismos profundos, donde as
águas jorram com força violenta. Com esta similitude ele mostra que fora exposto
a um iminente perigo de morte como se houvera sido precipitado num profundo
poço, extraordinário pela impetuosa fúria das águas. Com o mesmo propósito é
também a similitude de o lodo lamacento, pelo qual ele notifica que ele estivera
tão perto de ser submerso pelo peso de suas calamidades, que não lhe fora fácil
desvencilhar-se delas. Em seguida surge uma súbita e incrível mudança, pela qual
manifesta a todos a grandeza da graça que lhe fora concedida. Declara que seus
pés foram postos sobre uma rocha, enquanto que anteriormente havia sido
submerso em água; e que seus passos foram bem firmados, enquanto que antes
não só eram vacilantes e escorregavam, mas também se atolara na lama.
3. E pôs em minha boca um novo cântico. Na primeira cláusula do versículo,
ele conclui a descrição do que Deus lhe havia feito. Com a expressão, Deus pôs um
novo cântico em minha boca, ele denota a consumação de seu livramento. Seja
qual for a maneira em que Deus se apraz em socorrer-nos, ele não exige nada
mais de nós senão que sejamos agradecidos pelo socorro e o guardemos na
memória. Portanto, à medida em que ele nos concede seus benefícios, tão logo
abramos nossa boca e louvemos seu nome. Visto que Deus, ao agir liberalmente
para conosco, nos encoraja a cantar seus louvores, Davi com razão reconhece que,
havendo sido tão portentosamente liberto, o tema de novo cântico lhe fora
fornecido. Ele usa o termo novo no sentido de raro e não ordinário, ainda quando
a maneira de seu livramento era singular e digno de eterna memória. É verdade
que não há benefício divino tão minúsculo que dispense nossos mais elevados
louvores; quanto mais ele estende sua mão, porém, visando a nos socorrer, mais
devemos incitar-nos um fervoroso zelo neste santo exercício, de modo que nossos
cânticos correspondam à grandeza do favor que porventura nos tenha sido
conferido.
Muitos o verão. Aqui o salmista estende ainda mais o fruto do auxílio [divino]
que experimentara, dizendo-nos que o mesmo proverá os meios de instrução
comum a todos. E certamente é a vontade de Deus que os benefícios que derrama
sobre cada um dos fiéis seriam provas da benevolência que ele constantemente
exerce para com todos eles, de modo que um, instruído pelo exemplo do outro,
não há dúvida que a mesma graça se manifestará em favor de cada um deles. Os
termos, temor e esperança, ou confiança, à primeira vista não parecem
harmonizar-se. Davi, porém, não os juntou impensadamente; pois ninguém jamais
nutrirá a esperança do favor divino senão aquele cuja mente é antes imbuída com
o temor de Deus. Entendo temor em geral significando o sentimento de piedade
que se produz em nós pelo conhecimento do poder, da eqüidade e da
misericórdia de Deus. O juízo que Deus exerceu contra os inimigos de Davi serviu,
é verdade, para inspirar em todos os homens o temor [divino]; em minha opinião,
porém, Davi antes pretende que, pelo livramento que obtivera, muitos seriam
induzidos a consagrar-se ao serviço de Deus e a submeter-se, com toda
reverência, à sua autoridade, porquanto o conheceriam como o Juiz do mundo.
Ora, todo aquele que cordialmente se submete à vontade de Deus
necessariamente associará a esperança com o temor; especialmente quando
surge diante de seus olhos a evidência da graça pela qual Deus comumente atrai a
si todos os homens. Pois eu já disse que Deus se manifesta ante nossos olhos
como misericordioso e bondoso para com outros, a fim de que nos asseguremos
de que ele será o mesmo em relação a nós. Quanto ao verbo, verão, do qual Davi
faz uso, devemos entendê-lo como uma referência não só aos olhos, mas
principalmente à percepção da mente. Todos, sem distinção, viram o que
aconteceu, para muitos deles, porém, nunca ocorreu reconhecerem o livramento
de Davi como obra de Deus. Visto, porém, que tantos são cegos relativamente às
obras de Deus, aprendamos que somente os que se consideram com a faculdade
de ver claramente, a quem foi dado o Espírito de discernimento, os quais não
ocupar sua mente em pousar sobre os meros eventos que sucedem, mas que
podem discernir em si, pela fé, a mão secreta de Deus.
[vv. 4–5]
Bem-aventurado é o homem tem posto Jehovah por sua confiança, e que não
atentam para os soberbos, nem para os que se desviam para a mentira. Muitas
são, ó Jehovah meu Deus, as obras portentosas que tens operado; e é impossível
calcular em ordem a ti5 teus conselhos para conosco. Declararei e falarei deles;
eles são mais do que se pode contar.

4. Bem-aventurado é o homem que tem posto Jehovah por sua confiança.


Neste ponto Davi narra que base para boa esperança seu livramento daria a todos
os fiéis; contanto que, pondo de lado todas as fascinações do mundo, com isso
seriam encorajados a entregar-se confiantes à proteção divina; persuadidos não
só de que são felizes os que confiam unicamente em Deus, mas que todas as
demais expectativas em divergência com isso são enganosas e malditas. Tal
certeza não nos é inerente, senão que se deriva em parte da Palavra de Deus e em
parte de suas obras; embora, como eu já disse antes, o só contemplar as obras de
Deus não acenderia esta luz nos recessos de nossa alma, a menos que Deus, nos
iluminando com sua Palavra, nos revele sua benevolência. Depois de ter
prometido nos ser gracioso, manifestando também sua bondade mediante provas
indubitáveis, ele confirma com sua mão o que previamente pronunciou com seus
lábios. Davi, pois, à luz do fato de ter sido restaurado à vida, saindo dos abismos
da morte, com razão declara que os fiéis são instruídos por esta prova – no que os
homens são naturalmente tão relutantes a crer – de que só são felizes os que
confiam unicamente em Deus.
Visto que a instabilidade de nossa natureza comumente tende a arrastar-nos
para baixo, e visto que todos nós, de nossa própria inclinação, nos nutrimos de
ilusões, somos tentados por infindáveis maus exemplos, Davi imediatamente
acrescenta que é bem-aventurado quem não pende para os soberbos. É verdade
que alguns traduzem ‫רהבים‬, rehabim, os ricos ou os grandes deste mundo, mas
indevidamente, em minha opinião. Porque soberba e desvio para mentiras são
duas coisas que Davi, nesta passagem, mantém juntas. Pender para os grandes da
terra, portanto, não significa, como se supõe, confiar em seu poder e riquezas,
como se o bem-estar humano dependesse disto, mas, antes, significa deixar-se
levar por seus exemplos, imitar sua conduta. Ao olharmos para todos os lados e
vemos os homens inflados de soberba, os quais desdenham de Deus, e atribuímos
sua mais elevada felicidade à ambição, à fraude, à extorsão, às maquinações
astutas, um perverso desejo de imitá-los se assenhoreia gradualmente de nós;
especialmente quando tudo surge ao sabor de seus desejos, uma fútil e ilusória
expectativa nos insinua que tentemos a mesma sorte. Davi, pois, sabiamente e
fundado em boas razões, nos adverte que, para termos nossa mente
constantemente voltada para uma sincera confiança em Deus somente, devemos
guardar-nos contra os maus exemplos que sempre buscam atrair-nos, de todos os
lados, a apostatar dele [Deus]. Além do mais, ao dizer que os soberbos se desviam
para a mentira, ou para a vacuidade, assim ele descreve sucintamente a tola
confiança carnal. Que outra coisa é a soberba dos que põem suas fantasias no
lugar de Deus senão uma fútil ilusão? Certamente, o homem que, inchado pelo
anelo de tolo conceito, arroga alguma coisa para si, no mesmo grau, se vangloria
de sua própria destruição. Em suma, a soberba e a vaidade são opostas à santa
confiança que se lança somente nos braços divinos; pois não há nada mais difícil
para a carne do que confiar só em Deus, e o mundo está sempre cheio de pessoas
orgulhosas e arrogantes que, confortando-se com as vãs fascinações,
prontamente corromperiam as mentes dos santos, caso este impedimento não
fosse posto sobre eles, para restringir, como com um freio, suas errôneas e
extravagantes opiniões.
5. Muitas são, ó Jehovah meu Deus, as obras portentosas que tens operado!
Os intérpretes não estão inteiramente concordes no tocante a estas palavras. Mas
geralmente se admite que Davi, nesta expressão, contempla com admiração a
providência divina no governo do gênero humano. Antes de tudo ele exclama: as
obras portentosas de Deus são grandes ou muitas; significando com isto que Deus,
em sua inescrutável sabedoria, governa as atividades humanas de tal forma que
suas obras, que ocupam muito pouco o pensamento humano em virtude de sua
constante familiaridade com elas, excedem muitíssimo a compreensão da mente
humana. E assim descobrimos que de uma espécie particular ele avança para toda
a classe; como se quisesse dizer: Deus demonstrou, com este ato particular, não
só o paternal cuidado que ele exerce em relação aos homens, mas para que, em
geral, sua portentosa providência resplandecesse nas diversas partes da criação.
Então acrescenta: os conselhos de Deus concernentes a nós são tão elevados e
secretos, que é impossível calculá-los numa ordem distinta e harmoniosa segundo
sua natureza. Há quem pense que a palavra ‫אלינו‬, elenu, para conosco, é
empregado à guisa de comparação, neste sentido: Os conselhos de Deus vão
muito além de nossa compreensão (Davi, porém, antes enaltece o cuidado que
Deus se digna empregar em nosso favor); e visto que, desta forma, a conexão das
palavras é quebrada, somos constrangidos a traduzir a palavra ‫ערוד‬, aroch, a qual
traduzi, pôr na ordem, de forma diferenciada, ou seja, ninguém é igual a Deus nem
se pode comparar a ele. Mas para que eu não entre em alguma refutação extensa
aqui, o leitor inteligente concordará comigo em considerar que o genuíno sentido
é este: Deus, por sua incompreensível sabedoria, governa o mundo de tal maneira
que não podemos calcular suas obras em sua própria ordem, visto nossas mentes
não poderem, em virtude de seu próprio embotamento, atingir tão imensa
altitude. Em seguida, a ti, porque, embora estejamos tão longe de ponderar quão
maravilhosamente o Senhor é capaz de fazer provisões para nossas necessidades,
contudo tal consideração é limitada pela imperfeição de nossa compreensão; daí
ser ela insuficiente demais para atingir a infinita glória de Deus. Os que
apresentam esta exposição, de que os conselhos de Deus não se referem a ele,
visto que a maioria dos homens imagina que tudo se acha sujeito ao acaso e à
fortuna, como se Davi tencionasse de passagem censurar a ingratidão dos que
defraudam a Deus de seu louvor, indubitavelmente estão equivocados quanto ao
significado. Ao declarar, como Davi o faz, imediatamente depois, dizendo que, por
mais que se pusesse a recitar as obras de Deus, no entanto fracassaria em não
poder recitar a metade delas. Ao declarar tal coisas, ele mostra com suficiente
clareza que a santa e devota meditação, em que os filhos de Deus freqüentemente
se vêem envolvidos, só lhes comunica, por assim dizer, um leve sabor delas e nada
mais. Chegamos então à intenção do salmista. Havendo falado antes do
livramento que a Deus aprouve conceder-lhe, ele aproveita a oportunidade para
anunciar a providência geral de Deus na nutrição e na preservação dos homens.
Faz parte de seu propósito também exortar os fiéis a uma consideração da
providência de Deus, para que não hesitassem em lançar sobre ela toda a sua
preocupação. Enquanto alguns se vêem em constante dor em virtude de sua
própria ansiedade e descontentamento, ou se estremecem ante a mais leve brisa
que vêem soprar, e outros labutam duramente para fortificar e preservar sua vida
fazendo uso dos recursos terrenos – tudo isso procede da ignorância da doutrina
que ensina que Deus governa os negócios deste mundo segundo próprio
beneplácito. E visto que a grande maioria dos homens, medindo a providência
divina por seu próprio entendimento, impiamente a obscurecem ou a degradam,
Davi, colocando-a em sua base própria, sabiamente remove este impedimento. O
sentido da expressão, pois, equivale a isto: nas obras de Deus, os homens devem
reverentemente admirar que não podem compreender por sua própria razão; e
sempre que a carne os move à contradição e à murmuração, devem elevar-se
acima do mundo. Se Deus cessa de agir, é como se ele dormitasse, porque,
restringindo suas mãos ao uso externo dos meios, não consideramos que ele age
por meios que são ocultos. Portanto, desta passagem podemos aprender que,
embora a razão de suas obras nos seja oculta ou desconhecida, ele, não obstante,
é prodigioso em seus conselhos.
Este versículo está estreitamente conectado ao precedente. Ninguém põe,
como deveria, inteira confiança em Deus, senão aquele que, fechando seus olhos
para as circunstâncias externas, se deixa governar por ele em consonância com
seu beneplácito. Além do mais, havendo falado até aqui na terceira pessoa, Davi
agora, repentinamente, dirige seu discurso a Deus – contudo não
inadvertidamente –, para ele nos leve o mais eficazmente possível a esta
sobriedade e discrição. Não obstante, ao afirmar que as obras de Deus não podem
ser distintamente conhecidas por nós, ele o faz não com o propósito de dissuadir-
nos de buscar o conhecimento delas ou do exame delas, mas unicamente para pôr
certa restrição em nossa temeridade, a qual de outra forma ultrapassaria as
devidas fronteiras neste aspecto. Com isto em vista, as palavras a ti, ou diante de
ti, são expressamente empregadas, pelas quais somos admoestados quanto ao
seguinte: por mais diligentemente uma pessoa se põe a meditar sobre as obras de
Deus, ela só pode alcançar as superfícies ou as bordas delas. Embora sendo assim
uma grande altitude, muito acima de nosso alcance, devemos, não obstante,
diligenciar-nos, o quanto nos for possível, por aproximar-nos dela mais e mais
mediante contínuo progresso; ao vermos também a mão divina estendida para
descortinar-nos, o quanto nos é oportuno, aquelas maravilhas que por nós
mesmos somos incapazes de descobrir. Não há nada mais absurdo do que simular,
propositadamente, uma grosseira ignorância da providência de Deus, uma vez que
não podemos compreendê-la perfeitamente, a não ser discerni-la só em parte.
Mesmo em nossos dias encontramos pessoas que empregam toda a sua diligência
em sepultá-la no esquecimento, com nenhuma outra pretensão senão porque ela
excede nosso entendimento, como se fosse irracional permitir a Deus algo mais
senão o que nos parece certo e próprio, segundo nossa razão carnal. Davi age de
forma muito diferente ao considerá-la. Sentindo todos os seus sentidos absorvidos
por uma inconcebível majestade e fulgor, para os quais ele sequer consegue olhar,
ele confessa francamente que tais coisas são maravilhosas demais, das quais ele
não podia compreender com a razão. Mas ainda não abstém totalmente e de por
toda parte fazer menção delas, mas, segundo sua capacidade, se põe com
devoção a meditar sobre elas. Disto aprendemos quão estulta e vã coisa é dizer, à
guisa de prudência, que ninguém deve falar dos conselhos ou propósitos de Deus,
visto que são por demais sublimes e incompreensíveis. Davi, ao contrário, ainda
que estivesse disposto a ponderar sobre sua importância, cessou, não de
contemplá-las, e se absteve, não de falar delas, porque sentiu ser uma tarefa
ímpar o repeti-las, mas ficou contente, depois de haver declarado sua fé neste
tema, em concluir seu discurso com sua admiração.4

4
Calvino, J. (2009–2012). Salmos. (F. Ferreira, T. J. Santos Filho, & F. W. Ferreira, Orgs., V. G. Martins, Trad.) (Primeira Edição,
Vol. 2, p. 206–215). São José dos Campos, SP: Editora Fiel.

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