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BANCO DE QUESTÕES – PORTUGUÊS 10.

O ANO

Domínio: Educação Literária


Conteúdo: Obras de leitura obrigatória – questionários

Poesia trovadoresca
A. Lê o texto que se segue.

Vaiamos1, irmãa, vaiamos dormir


en nas ribas2 do lago, u3 eu andar vi
a las aves meu amigo.

Vaiamos, irmãa, vaiamos folgar4


en as ribas do lago, u eu vi andar
a las aves meu amigo.

En nas ribas do lago, u eu andar vi,


seu arco na mãao as aves ferir,
a las aves meu amigo.

En nas ribas do lago, u eu vi andar,


seu arco na mãao a las aves tirar5,
a las aves meu amigo.

Seu arco na mãao as aves ferir,


a las que cantavan leixá-las guarir6,
a las aves meu amigo.

Seu arco na mãao as aves tirar,


a las que cantavan non nas quer matar,
a las aves meu amigo
Fernando Esquio
1. vamos; 2. margens; 3. onde; 4. descansar; 5. atirar; 6. deixá-las sem ferida.

Após uma leitura atenta do poema, responde ao questionário, de uma forma clara e cuidada.

1. Classifica, justificando, a cantiga de amigo transcrita, no que diz respeito à estrutura formal utilizada.
1.1 Mostra como essa estrutura se adequa ao propósito da cantiga.
2. Com base nos elementos que o texto te fornece e sugere, identifica e caracteriza psicologicamente o sujeito poético.
3. A ação do amigo é associada à do caçador.
3.1 Transcreve as expressões que referem a sua ação.
3.2 Mostra que essa ação é apresentada em gradação.
3.3 Interpreta a simbologia dessa ação e do espaço onde se realiza.
4. Explica de que forma poderemos associar o sujeito poético às «aves».



B. Lê, atentamente, o texto apresentado a seguir.

Amigo, pois vos nom vi


Amigo, pois vos nom vi,
nunca folguei nem dormi,
mais ora já des aqui
que vos vejo, folgarei
e verei prazer de mi,
pois vejo quanto bem hei.

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Pois vos nom pudi veer,
jamais nom houvi lezer
e, u vos Deus quis trager,
que vos vejo, folgarei
e verei de mim prazer,
pois vejo quanto bem hei.

Des que vos nom vi, de rem


nom vi prazer e o sem
perdi, mais, pois que mi avém
que vos vejo, folgarei
e verei todo meu bem,
pois vejo quanto bem hei.

De vos veer a mim praz


tanto que muito é assaz,
mais, u m'este bem Deus faz
que vos vejo, folgarei
e haverei gram solaz,
pois vejo quanto bem hei.

Dom Dinis, in: CV 202; CBN 599

Após uma leitura atenta do poema, responde ao questionário, de uma forma clara e cuidada.

1. Estabelece a correspondência correta, de modo a obteres afirmações verdadeiras.


I II
1. Esta cantiga revela o contraste... A. um dístico com um verso intercalado.
2. O refrão é constituído por... B. o paralelismo anafórico e semântico.
3. O verso que intercala o refrão garante... C. entre a tristeza do passado do sujeito poético e a
alegria que sente no presente.

2. Transcreve do texto a palavra que identifica o interlocutor do sujeito poético.


3. Seleciona a opção correta.
Nesta cantiga, estão presentes várias formas de repetição, como
A. o refrão em verso único e o paralelismo semântico.
B. o refrão em dístico intercalado e o paralelismo anafórico nos versos que intercalam o refrão.
C. o leixa-pren.
D. o refrão em dístico e o leixa-pren em todas as estrofes .
4. Seleciona a opção correta.
Na primeira estrofe, o recurso expressivo que identifica o interlocutor é
A. a apóstrofe.
B. a metáfora.
C. a personificação.
D. o hipérbato.

C. Lê, atentamente, o seguinte texto.

Cantigas de escárnio e maldizer


A par das cantigas de amigo e das cantigas de amor, as cantigas de escárnio e maldizer constituem um dos três grandes
géneros em que se divide a lírica galego-portuguesa. De acordo com a «Arte de Trovar» incluída no Cancioneiro da Biblioteca
Nacional, Cantigas de Maldizer son aquelas que fazê os trobadores mais descubertamente; en elas entrã palavras que queren
dizer mal e nõ aueran outro entendimento senõ aquel que queren dizer chaãmente e cantigas descarneo son aquelas que os
trobadores fazê querendo dizer mal dalguen en elas e dizem-lho per palavras cubertas que aiam dous entendymentos para lhe lo
non entenderen... ligeyramente (CBN, Arte de Trovar, Tit. III, C.VI).
A alusão mais ou menos direta ao destinatário do ataque constitui, pois, o elemento que diferencia os dois tipos de cantiga,
embora os próprios trovadores e compiladores dos cancioneiros tenham renunciado a efetuar rigorosamente a distinção entre
cantiga de escárnio e cantiga de maldizer, vazando-as num grupo comum que acolhe qualquer composição satírica. A intenção
destas cantigas é satirizar certos aspetos da vida da corte, visando com frequência certas personagens como jograis, soldadeiras,

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clérigos, fidalgos, plebeus nobilitados. Ao mesmo tempo, as cantigas de escárnio e maldizer recriam situações anedóticas e
picarescas e apresentam uma ridicularização do amor cortês. O repertório linguístico da sátira pessoal, social, moral, religiosa e
política, surpreende pela sua amplitude e recorrente obscenidade, transmitindo involuntariamente informações ímpares sobre a
mentalidade e cultura laica medievais.
Cantiga de escárnio e maldizer in Artigos de apoio Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2019.
[consult. 2019-04-23]

Após uma leitura atenta do texto, responde ao questionário, de uma forma clara e cuidada.

1. Estabelece a correspondência correta, de modo a obteres afirmações verdadeiras.

I II
1. Apesar das diferenças entre ambas, a A. constrói a sátira de forma direta, com palavras «que
distinção entre cantigas de escárnio e cantigas queren dizer mal».
de maldizer...
2. A cantiga de escárnio... B. nunca foi verdadeiramente feita pelos trovadores e
compiladores.
3. A cantiga de maldizer... C. constrói indiretamente a sátira, por meio da ironia e
sarcasmo.

2. Seleciona a opção correta.


A linguagem usada nas cantigas de escárnio e maldizer
A. documenta os meios populares do tempo, a sua linguagem e os seus costumes de modo indireto.
B. revela a falta de cultura laica da época medieval.
C. retrata diretamente os aspetos da vida social, moral, religiosa e política da época clássica.
D. não nos permite fazer inferências acerca dos aspetos sociais, religiosos ou políticos da época em que estão inseridas.
3. Como se designam as cantigas que não apresentam refrão?


D. Lê o texto, com atenção.

Ai flores, ai flores do verde pino

– Ai flores, ai flores do verde pino,


se sabedes novas do meu amigo?
Ai Deus, e u é?
Ai flores, ai flores do verde ramo,
se sabedes novas do meu amado?
Ai Deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amigo,
aquel que mentiu do que pôs conmigo?
Ai Deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amado,
aquel que mentiu do que mi há jurado?
Ai Deus, e u é?
– Vós me preguntades polo voss'amigo
e eu bem vos digo que é san'e vivo.
Ai Deus, e u é?
Vós me preguntades polo voss'amado
e eu bem vos digo que é viv'e sano.
Ai Deus, e u é?
E eu bem vos digo que é san'e vivo
e será vosco ant'o prazo saído.
Ai Deus, e u é?
E eu bem vos digo que é viv'e sano
e será vosc[o] ant'o prazo passado.
Ai Deus, e u é?

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Dom Dinis, in: CV 171; CBN 568

Após uma leitura atenta do poema, responde ao questionário, de uma forma clara e cuidada.

1. Refere o papel desempenhado pelas «flores do verde pino».


2. Como se designa a repetição do verso «Ai Deus, e u é?»?
3. Seleciona a opção correta.
No poema, o eu poético
A. é um sujeito feminino que aguarda a chegada do seu amado.
B. é um sujeito masculino que aguarda a chegada da sua amada.
C. é um sujeito feminino que recusa esperar o seu amado.
D. é um sujeito masculino que lamenta a indiferença da mulher amada

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Crónica de D. João I, Fernão Lopes
A. Lê o texto apresentado a seguir.
Soaram as vozes do arroido pela cidade, ouvindo todos bradar que matavam o Mestre; e assi como viúva que rei nom
tinha, e como se lhe este ficara em logo 1 de marido, se moveram todos com mão armada, correndo à pressa pera onde diziam
que se isto fazia, por lhe darem vida e escusar2 morte.
Álvaro Pais nom quedava3 de ir pera alá, bradando a todos:
– Acorramos ao Mestre, amigos! Acorramos ao Mestre que matam sem porquê!
A gente começou de se juntar a ele e era tanta, que era estranha cousa de ver. Nom cabiam pelas ruas principais e
atravessavam lugares escusos4, desejando cada um de ser o primeiro; e, perguntando uns aos outros quem matava o Mestre,
nom minguava5 quem responder que o matava o conde João Fernandez, per mandado da rainha.
E, per vontade de Deus, todos feitos de um coraçom, com talente 6 de o vingar, como7 foram às portas do paço, que eram
já cerradas, ante que chegassem, com espantosas palavras, começaram de dizer:
– U8 matam o Mestre? Que é do Mestre? Quem cerrou estas portas?
Ali eram ouvidos braados de desvairadas 9 maneiras. Tais i10 havia que certificavam que o Mestre era morto, pois as
portas estavam cerradas, dizendo que as britassem11 pera entrar dentro, e veriam que era do Mestre ou que cousa era aquela.
Deles bradavam por lenha e que viesse lume, pera poerem fogo aos paços e queimar o tredor 12 e a aleivosa13. Outros se
aficavam14 pedindo escadas pera subir acima, pera verem que era do Mestre; e em tudo isto era o arroido atão grande, que se
nom entendiam uns com os outros, nem determinavam nenhuma cousa. E nom somente era isto à porta dos Paços, mas ainda
arredor deles per u homens e mulheres podiam estar. Umas vinham com feixes de lenha, outras tragiam carqueija pera
acender o fogo, cuidando queimar o muro dos paços com ela, dizendo muitos doestos15 contra a rainha.
De cima, nom minguava quem. bradar que o Mestre era vivo e o conde João Fernandes morto; mas isto nom queria
nenhum crer, dizendo:
– Pois se vivo é, mostrai-no-lo e vê-lo-emos.
Entom os do Mestre, vendo tão grande alvoroço como este, e que cada vez se acendia mais, disseram que fosse sua
mercê16 de se mostrar àquelas gentes; de outra guisa 17 poderiam quebrar as portas, ou lhes poer fogo; e, entrando assi dentro
per força, nom lhes poderiam depois tolher 18 de fazer o que quisessem. Ali se mostrou o Mestre a uma grande janela que
vinha sobre a rua, onde estava Álvaro Pais e a mais força de gente, e disse:
– Amigos, apacificai-vos, ca eu vivo e são sou, a Deus graças.
E tanta era a turvação deles e assi tinham já em crença que o Mestre era morto, que tais havia aí que aperfiavam 19 que
nom era aquele; porém, conhecendo-o todos claramente, houveram grande prazer quando o viram.
Fernão Lopes, Crónica de D. João I (ed. Teresa Amado), Comunicação, 1992
(Texto com algumas alterações ortográficas)

1. no lugar; 2. livrar da; 3. deixava; 4. escondidos; 5. faltava; 6. (do francês talan) vontade; 7. quando; 8. onde; 9.diversas; 10. aí; 11. arrombassem; 12. traidor
(conde Andeiro); 13. mulher adúltera (Leonor Teles); 14. teimavam; 15. insultos; 16. fizesse o favor; 17. maneira; 18. impedir; 19. insistiam.

Depois de teres lido atentamente o excerto da Crónica de D. João I, responde ao questionário, de forma clara e cuidada.

1. No fragmento, delimita três momentos de evolução da ação, resumindo brevemente cada um deles.
2. O texto combina narração e descrição. Dá exemplos que o confirmem.
3. Salienta, na descrição: a visão de conjunto e o pormenor, o tempo verbal dominante, a expressão de sensações.
4. As frases em discurso direto sintetizam expressivamente as fases da ação em que surgem. Fundamenta a afirmação.
5. O excerto evidencia o protagonismo da personagem coletiva.
5.1 Explica o sentido da comparação estabelecida no primeiro parágrafo.



B. Lê o seguinte capítulo com atenção.


Capítulo XI

Do alvoroço que foi na cidade cuidando que matavom o Mestre, e como aló1 foi Alvoro Paez e muitas gentes com ele.

O Page do Mestre que estava aa porta, como lhe disserom que fosse pela vila segundo já era percebido 2, começou d'ir
rijamente3 a galope em cima do cavalo em que estava, dizendo altas vozes, bradando pela rua:

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– Matom o Mestre! matom o Mestre nos Paços da Rainha! Acorree ao Mestre que matam!
E assi chegou a casa d’Alvoro Paez que era dali grande espaço4.
As gentes que esto ouviam, saiam aa rua veer que cousa era; e começando de falar uus com os outros, alvoraçavom-se nas
vontades5, e começavom de tomar armas cada uu como melhor e mais asinha 6 podia. Alvoro Paez que estava prestes 7 e armado
com ua coifa8 na cabeça segundo usança daquel tempo, cavalgou logo a pressa em cima duu cavalo que anos havia que nom
cavalgara; e todos seus aliados com ele, bradando a quaesquer que achava dizendo:
— Acorramos ao Mestre, amigos, acorramos ao Mestre, ca9 filho é del-Rei dom Pedro.
E assi braadavom el e o Page indo pela rua.
Soarom as vozes do arroido10 pela cidade ouvindo todos bradar que matavom o Mestre; e assi como viuva que rei nom
tiinha, e como se lhe este ficara em logo11 de marido, se moverom todos com mão armada12, correndo a pressa pera u13 deziam
que se esto fazia, por lhe darem vida e escusar14 morte. Alvoro Paez nom quedava15 d’ir pera alá16, bradando a todos:
– Acorramos ao Mestre, amigos, acorramos ao Mestre que matam sem por quê!
A gente começou de se juntar a ele, e era tanta que era estranha cousa de veer. Nom cabiam pelas ruas principaes, e
atrevessavom logares escusos17, desejando cada uu de seer o primeiro; e preguntando uus aos outros quem matava o Mestre, nom
minguava18 quem responder que o matava o Conde Joam Fernandez, per mandado da Rainha. (…)
– Ó Senhor! Como vos quiserom matar per treiçom, beento seja Deos que vos guardou desse treedor! Viinde-vos, dae ao
demo esses Paaços, nom sejaes lá mais.
E em dizendo esto, muitos choravom com prazer de o veer vivo. Veendo el estonce que neuã duvida tiinha em sua
segurança, desceo afundo19 e cavalgou com os seus acompanhado de todolos outros que era maravilha de veer. Os quaes mui
ledos arredor dele, braadavom dizendo:
– Que nos mandaes fazer, Senhor? Que querees que façamos?
E el lhe respondia, aadur20 podendo seer ouvido, que lho gradecia muito, mas que por estonce nom havia deles mais
mester21.
Fernão Lopes, Crónica de D. João I, (ed. Teresa Amado), Comunicação, 1992
(Texto com algumas alterações ortográficas)

1. então; 2. combinado, preparado; 3. depressa; 4. longe; 5. excitavam-se os ânimos; 6. depressa; 7. pronto, preparado; 8. parte da armadura que protege a
cabeça; 9. porque; 10. ruído; 11. em lugar (de); 12. com armas na mão faltava; 13. onde; 14. evitar; 15. parava; 16. lá; 17. escondidos; 18. faltava; 19. abaixo; 20.
dificilmente; 21. necessidade.

Após a leitura do texto, responde ao questionário de uma forma clara e cuidada.

1. Transcreve marcas que atestem o crescendo de dramaticidade ao longo do texto (até ao clímax).
2. Classifica as seguintes afirmações como verdadeiras (V) ou falsas (F).
 A. Neste excerto, o narrador apela às sensações visuais e auditivas do leitor.
 B. O narrador é homodiegético.
 C. Álvaro de Pais e o pajem assumem um papel secundário no desenrolar da ação.
 D. O povo é retratado como uma personagem coletiva.
3. Transcreve o excerto em que Fernão Lopes alude a Deus e ao diabo.
4. Seleciona as opções corretas.
Quais são as ações do pajem e de Álvaro Pais que indiciam que havia um plano já traçado?
A. «O Page do Mestre que estava aa porta, como lhe disserom que fosse pela vila segundo já era percebido (…)»
B. «Acorree ao Mestre que matam!»
C. «As gentes que esto ouviam, saíam aa rua veer que cousa era»
D. «Alvoro Paez que estava prestes e armado com ua coifa na cabeça segundo usança daquel tempo (…)»
5. Estabelece uma relação entre o excerto e o título deste capítulo.
6. Explica, por palavras tuas, por que razão se diz que Fernão Lopes escreve quase ao estilo de um repórter.
7. Seleciona a opção correta.
Como é que Álvaro Pais se refere às pessoas que aborda nas ruas?
A. Povo
B. Amigos
C. Camaradas
D. Senhores


C. Lê o seguinte texto, com atenção.
Capítulo CXV

Per que guisa estava a cidade corregida pera se defender, quando el-Rei de Castela pôs cerco sobre ela.

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Nenhum falamento1 deve mais vizinho ser deste capítulo que haveis ouvido, que poermos logo aqui brevemente de que
guisa estava a cidade, jazendo el-rei de Castela sobre ela; e per que modo punha em si guarda o Mestre e as gentes que dentro
eram por não receber dano de seus inimigos; e o esforço e fouteza2 que contra eles mostravam enquanto assim esteve cercada.
Onde sabei que, como3 o Mestre e os da cidade souberam a vinda del-rei de Castela e esperaram seu grande e poderoso
cerco, logo foi ordenado de recolherem pera a cidade os mais mantimentos que haver pudessem, assim de pão e carnes como
quaisquer outras causas. E iam-se muitos às liziras 4 em barcas e batéis, depois que Santarém esteve por Castela, e dali traziam
muitos gados mortos que salgavam em tinas e outras cousas de que fizeram grande acalmamento 5. E colheram-se dentro à cidade
muitos lavradores com as mulheres e filhos e causas que tinham, e doutras pessoas da comarca de arredor, aqueles a que
prougue6 de o fazer; e deles7 passaram o Tejo com seus gados e bestas e o que levar puderam, e se foram contra 8 Setúbal e pera
Palmela. E outros ficaram na cidade e não quiseram dali partir; e tais hi houve, que puseram todo o seu, e ficaram nas vilas que
por Casteia tomaram voz.
Os muros todos da cidade não haviam míngua de bom repairamento; e em setenta e sete torres que ela tem a redor de si,
foram feitos fortes caramanchões de madeira, os quais eram bem fornecidos de escudos e lanças e dardos, e bestas de tomo, e
doutras maneiras, com grande avondança de muitos virotões. (…)
Oh, que formosa cousa era de ver! Um tão alto e poderoso senhor como é el-rei de Castela com tanta multidão de gentes,
assim per mar como per terra, postas em tão grande e tão boa ordenança, ter cercado tão nobre cidade. E ela, assim guarnecida
contra ele de gentes e de armas, com tais avisamentos 9 por sua guarda e defensão; em tanto que diziam os que viram que tão
formoso cerco de cidade não era em memória de homens que fosse visto de mui longos anos até aquele tempo.
Fernão Lopes, Crónica de D. João I, (ed. Teresa Amado), Comunicação, 1992
(Texto com algumas alterações ortográficas)

1. palavras; 2. coragem; 3. logo que; 4. terreno alagado nas margens de um rio; 5. abastecimento; 6. agra-dou; 7. e alguns; 8. em
direção a; 9. preparativos.

Responde ao questionário de uma forma clara e cuidada.

1. Indica a ideia veiculada pelo cronista no primeiro parágrafo deste capítulo.


2. Classifica as seguintes afirmações como verdadeiras (V) ou falsas (F).
 A. Neste excerto é retratado o cerco de Lisboa.
 B. Nestas linhas, o cronista fala-nos da extrema fome que a população vivia.
 C. A defesa da cidade apenas se fazia nas portas.
 D. Toda a população estava empenhada na defesa da sua cidade.
3. Transcreve marcas que evidenciem que o cronista narra como quem fala.
4. Seleciona a(s) opção/opções correta(s).
Refere o(s) modo(s) de representação do discurso utilizado(s) ao longo deste excerto.
A. Narração
B. Diálogo
C. Descrição
D. Argumentação
5. Transcreve marcas que atestem os planos de visão existentes neste texto: visão de conjunto e visão de pormenor.
6. Refere as qualidades que caracterizam o povo ao longo deste excerto.
7. Transcreve a frase que mostra que um cerco como este jamais tinha sido visto.

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Auto da Feira, Gil Vicente
A. Lê, atentamente, o texto que se segue.
Entra Roma, cantando:
ROMA Sobre mi armavam guerra
ver quero eu quem a mi leva.
Três amigos que eu havia,
sobre mi armam prefia1
ver quero eu quem a mi leva.

Fala:
Vejamos se nesta feira
que Mercúrio aqui faz,
acharei a vender paz,
que me livre da canseira
em que a fortuna me traz.
Se os meus me desbaratam,
o meu socorro onde está?
Se os cristãos mesmos me matam,
a vida quem ma dará
que todos me desacatam?
Pois s’eu aqui nam achar
a paz firme e de verdade
na santa feira a comprar,
quant’a mi dá-me a vontade
que mourisco hei de falar.
DIABO Senhora, se vos prouver,
eu vos darei bom recado.
ROMA Nam pareces tu azado
pera trazer a vender
o que eu trago no cuidado.

DIABO Nam julgueis vós pola cor,


porque em al vai o engano
cá dizem que sob mau pano
está o bom bebedor
nem vós digais mal do ano.

ROMA Eu venho à feira dereita


comprar paz, verdade e fé.
DIABO A verdade pera quê?
Cousa que nam aproveita,
e avorrece, pera que é?
Não trazeis bôs fundamentos
pera o que haveis mister
e a segundo são os tempos,
assi hão de ser os tentos,
pera saberdes viver.

E pois agora à verdade


chamam Maria peçonha,
e parvoíce à vergonha,
e aviso à roindade,
peitai a quem vo-la ponha.
A roindade, digo eu
e aconselho-vos mui bem

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porque quem bondade tem
nunca o mundo será seu,
e mil canseiras lhe vem.

Vender-vos-ei nesta feira


mentiras vinta três mil,
todas de nova maneira
cada ũa tam sotil,
que nam vivais em canseira.
Mentiras pera senhores,
mentiras pera senhoras,
mentiras pera os amores,
mentiras que a todas horas
vos naçam delas favores.

E como formos avindos


nos preços disto que digo,
vender-vos-ei como amigo
muitos enganos enfindos,
que aqui trago comigo.

ROMA Tudo isso tu vendias,


e tudo isso feirei,
tanto que inda venderei,
e outras sujas mercancias,
que por meu mal te comprei.

(...)

E pois já sei o teu jeito,


quero ir ver que vai cá.

DIABO As cousas que vendem lá


são de bem pouco proveito
a quem quer que as comprará.
Gil Vicente, Auto da Feira, Porto Editora, 2014
1
referência às guerras entre a Cristandade, aqui representada por Francisco I de França, Carlos V da Alemanha e Espanha e Clemente VII, o Papa de então.

Apresenta, de forma bem estruturada, as tuas respostas às questões que se seguem.


1. Roma é uma personagem alegórica. Explica a sua representatividade.
2. Refere o contexto espaciotemporal em que se desenrola este excerto.
3. Especifica a relação que existe entre as duas personagens atuantes.
4. Roma apresenta um objetivo preciso para a sua deslocação a este espaço. Identifica-o.
5. Expõe os argumentos apresentados pelo Diabo para demover Roma dos seus propósitos.
6. Focando-te apenas neste excerto, clarifica a crítica que é feita à personagem Roma.


B. Lê o seguinte texto com atenção.

SERAFIM À feira da Virgem, donas e donzelas,


porque este mercador sabei que aqui traz
as cousas mais belas.

Entra um Diabo com uma tendinha diante de si,


como bufarinheiro1, e diz:

DIABO Eu bem me posso gabar,

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e cada vez que quiser,
que na feira onde eu entrar
sempre tenho que vender,
e acho quem me comprar2.
E mais, vendo muito bem,
porque sei bem o que entendo3;
e de tudo quanto vendo
não pago sisa4 a ninguém
por tratos que ande fazendo.
Quero-me fazer à vela5
nesta santa feira nova.
Verei os que vêm a ela,
e mais verei quem m’estorva
de ser eu o maior dela.
Gil Vicente, Auto da Feira, Porto Editora, 2014

1. vendedor ambulante de bugigangas; 2. quem me comprar: quem queira comprar as minhas mercadorias; 3. quero, pretendo; 4. imposto; 5. Quero-me
fazer à vela: Quero começar a trabalhar.

Após a leitura do texto, responde ao questionário de uma forma clara e cuidada.

1. Explica por que razão é que esta peça se intitula Auto da Feira.
2. Seleciona a opção correta.
Neste auto, a principal visada nas críticas de Gil Vicente é a
A. nobreza.
B. gente do povo, em particular os lavradores.
C. burguesia.
D. Igreja Católica Apostólica Romana.
3. No Auto da Feira estão em jogo valores antitéticos. Explicita-os.
4. Refere a personagem que oscila entre estes valores. Justifica a resposta.
5. Seleciona a opção correta.
O Diabo regozija-se por
A. ter sempre quem queira comprar a sua mercadoria.
B. ser o primeiro a chegar à feira.
C. ter a melhor mercadoria, mesmo sem a conhecer.
D. poder estar na feira.
6. Seleciona a opção correta.
O Diabo atribui o sucesso das suas vendas ao facto de
A. saber perfeitamente o que pretende.
B. a sua mercadoria ser barata.
C. não pagar imposto.
D. ser bom vendedor.
7. Seleciona a opção correta.
A feira que se irá realizar é em honra
A. de Mercúrio.
B. de Jesus Cristo.
C. da Virgem Maria.
D. da Igreja Católica.
8. Seleciona a opção correta.
No Auto da Feira faz-se alusão
A. à perda de liberdade.
B. à falta de discussão doutrinária.
C. ao desrespeito pelos papas.
D. à perda das virtudes e do amor a Deus.

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Farsa de Inês Pereira, Gil Vicente
A. Lê, atentamente, os textos que se seguem.
TEXTO 1 TEXTO 2
Vem a Mãe e diz
Mãe – Pero Marques foi-se já? Inês – Que pecado foi o meu?
Inês – E pera que er’ele aqui? Porque me dais tal prisã o?
Mãe – E nam t’agrada ele a ti? Escudeiro – Vó s buscastes discriçã o,
Inês – Vá-se muit’ieramá que culpa vos tenho eu?
que sempre disse e direi: Pode ser maior aviso,
mãe, eu me nam casarei
maior discriçã o e siso
senam com homem discreto.
E assi vo-lo prometo
que guardar eu meu tisoiro?
ou antes o leixarei. Nam sois vó s, molher, meu ouro?
Que mal faço em guardar isso?
Que seja homem mal feito,
feo, pobre, sem feição Vó s nam haveis de mandar
como tiver descrição, em casa somente um pêlo
nam lhe quero mais proveito. se eu disser isto é novelo
E saiba tanger viola, havei-lo de confirmar.
e coma eu pão e cebola
E mais quando eu vier
siquer ua canteguinha
discreto, feito em farinha,
de fora, haveis de tremer
porque isto me degola. e cousa que vó s digais
Mãe – Sempre tu hás de bailar, nam vos há de valer mais
e sempre ele há de tanger? d’aquilo que eu quiser.
Se nam tiveres que comer Moço à s partes dalém
o tanger te há de fartar. vou fazer-me cavaleiro.
Inês – Cada louco com sua teima
com ua borda de boleima
e ua vez d’água fria
nam quero mais cada dia.
Mãe – Como às vezes isso queima.
E qu’é desses escudeiros?
Inês – Eu falei ontem ali
que passaram por aqui
os judeus casamenteiros
e hão de vir agora aqui.
Gil Vicente, Farsa de Inês Pereira, Porto Editora, 2014

Apresenta, de forma bem estruturada, as tuas respostas às questões que se seguem.

TEXTO 1
1. Enuncia o tema de conversa entre mãe e filha.
2. Apresenta o principal ponto de discórdia entre as duas mulheres.
3. «mãe, eu me nam casarei
senam com homem discreto. » (ll. 7-8)
«Mãe –E qu’é desses escudeiros?» (l. 29)
Explica como sabe a mãe que o «homem», a que a filha se refere, é um escudeiro.
4. «Se não tiveres que comer,
o tanger te há de fartar?» (ll. 22-23)
Expõe que crítica é feita a Inês através desta observação da mãe.
5. Indica como se enuncia, neste excerto da Farsa de Inês Pereira, a saída recente de uma personagem e a entrada próxima de outras.

TEXTO 2

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1. Indica a relação que existe entre as duas personagens que protagonizam este excerto.

2. Especifica o indício que nos é dado, neste excerto, sobre o tempo histórico.

TEXTOS 1 e 2
1. Inês (TEXTO 1) não entende a «discrição» na mesma perspetiva que o Escudeiro (TEXTO 2). Explica em que diferem os dois pontos
de vista.


B. Lê o seguinte texto com atenção.

Entra logo Inês Pereira, e finge que está lavrando só, em casa, e canta esta cantiga:

Canta Inês:
Quien con veros pena y muere
Que hará quando no os viere1?

(Falando)
INÊS Renego deste lavrar
E do primeiro que o usou;
Ó diabo que o eu dou,
Que tão mau é d'aturar.
Oh Jesu! que enfadamento,
E que raiva, e que tormento,
Que cegueira, e que canseira!
Eu hei-de buscar maneira
D'algum outro aviamento2.

Coitada, assi hei-de estar


Encerrada nesta casa

Como panela sem asa,


Que sempre está num lugar?
E assi hão-de ser logrados3
Dous dias amargurados,
Que eu possa durar viva?
E assim hei-de estar cativa
Em poder de desfiados4?

Antes o darei ao Diabo


Que lavrar mais nem pontada.
Já tenho a vida cansada
De fazer sempre dum cabo5.
Todas folgam, e eu não,
Todas vem e todas vão
Onde querem, senão eu.
Hui! e que pecado é o meu,
Ou que dor de coração?

Esta vida he mais que morta.


Sam eu coruja ou corujo,
Ou sam algum caramujo
Que não sai senão à porta?
E quando me dão algum dia
Licença, como a bugia6,
Que possa estar à janela,
É já mais que a Madanela

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Quando achou a alelluia.

Vem a Mãe, e diz:


MÃE Logo eu adivinhei
Lá́ na missa onde eu estava,
Como a minha Inês lavrava
A tarefa que lhe eu dei...
Acaba esse travesseiro!
Hui! Nasceu-te algum unheiro?
Ou cuidas que é dia sancto?

INÊS Praza a Deos que algum quebranto7?


Me tire do cativeiro.

MÃE Toda tu estás aquella!


Chórão-te os filhos por pão?

INÊS Prouvesse a Deus! Que já é razão


De eu não estar tão singela.
MÃE Olhade ali o mau pesar8...
Como queres tu casar
Com fama de preguiçosa?
INÊS Mas eu, mãe, sam aguçosa9
E vós dais-vos de vagar.
MÃE Ora espera assi, vejamos.
INÊS Quem já visse esse prazer!
MÃE Cal’-te, que poderá ser
Qu’ante a Páscoa vem os Ramos.
Não te apresses tu, Inês.
Maior é o anno co mes:
Quando te não precatares,
Virão maridos a pares,
E filhos de tres em tres.
INÊS Quero-m'ora alevantar.
Folgo mais de falar nisso,
Assi me de Deos o paraíso,
Mil vezes que não lavrar
Isto não sei que me faz.
MÃE Aqui vem Lianor Vaz.
INÊS E ela vem-se benzendo...

(…)
MÃE Lianor Vaz, que foi isso?
LIANOR Venho eu, mana, amarela10.
MÃE Mais ruiva11 que uma panela!
LIANOR Não sei como tenho siso12.
Jesu! Jesu! Que farei?
Não sei se me vá a el-rei13,
se me vá ao Cardeal.
MÃE Como? E tamanho é o mal?
LIANOR Tamanho? Eu to direi.
Vinha agora pereli14
ao redor da minha vinha,
e um clérigo, mana minha,
pardeus15, lançou mão de mi16!
Não me podia valer,
diz que havia de saber
se era eu fêmea, se macho.

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MÃE Hui! Seria algum muchacho17

(…)
LIANOR Eu vos trago um bom marido,
rico, honrado, conhecido;
diz que em camisa18 vos quer.

INÊS Primeiro, eu hei de saber


se é parvo, se sabido.

(…)
INÊS Si,
venha e veja-me a mi,
quero ver, quando me vir,
se perderá o presumir19
logo em chegando aqui,
pera me fartar de rir.
Gil Vicente, Farsa de Inês Pereira, Porto Editora, 2014

1. quem com ver-vos pena e morre, que fará quando vos não vir. 2. ocupação. 3. aproveitados. 4. travesseiros de franjas. 5. de estar sempre no mesmo sítio. 6.
macaca. 7. feitiço. 8. que desgraça! 9. ativa. 10. pálida. 11. corada. 12. discernimento; juízo. 13. D. João III. 14. por ali. 15. por Deus, na verdade. 16. Lançou
mão de mi: quis-me agarrar. 17. rapaz. 18. pobre e sem dote. 19. presunção.

Após a leitura do texto, responde ao questionário de uma forma clara e cuidada.

1. Seleciona a opção correta.


Na sua primeira fala, Inês queixa-se de
A. não ter trabalho e de não se divertir como o fazem as raparigas da sua idade.
B. não ser amada e de estar constantemente confinada ao espaço da sua casa.
C. estar aborrecida e cansada devido ao trabalho que está a fazer e de estar constantemente confinada ao espaço da sua casa.
D. ter de estar todos os dias com a sua mãe e de estar aborrecida e enfadada com o trabalho que está a realizar.
2. Explicita o conflito no primeiro diálogo de Inês Pereira com a mãe.
3. Refere o que, segundo a mãe, poderá ser um impedimento ao casamento de Inês.
4. Refere o conselho que a mãe de Inês lhe dá relativamente ao casamento.
5. Indica o papel desempenhado por Lianor Vaz na peça.
6. Com base no excerto apresentado, caracteriza Inês Pereira.
7. Classifica como verdadeiras (V) ou falsas (F) as seguintes afirmações.
 A. Lianor Vaz conta a Inês e à mãe desta que foi atacada por um clérigo e que conseguiu escapar.
 B. Lianor Vaz lê uma carta de Pero Marques, pretendente de Inês.
 C. Lianor Vaz sugere a Inês que se case com Pero Marques.
 D. Inês concorda em receber Pero Marques para se rir dele.

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A lírica de Luís de Camões
A. Lê, atentamente, o soneto que se segue.
Dizei, Senhora, da Beleza ideia1:
Para fazerdes esse áureo crino2,
Onde fostes buscar esse ouro fino?
De que escondida mina ou de que veia?

Dos vossos olhos essa luz Febeia3,


Esse respeito, de um império dino4?
Se o alcançastes com saber divino
Se com encantamentos de Medeia5?
De que escondidas conchas escolhestes
As perlas6 preciosas orientais
Que, falando, mostrais no doce riso?

Pois vos formastes tal como quisestes,


Vigiai-vos de vós, não vos vejais;
Fugi das fontes: Lembre-vos Narciso7.

Lírica de Luís de Camões, Maria Vitalina Leal de Matos, Editorial Caminho, 2012

1. paradigma, ideal, 2. cabeleira loura, 3. solar (de Febo, deus romano do Sol), 4. digno, 5. feiticeira da mitologia grega, 6.
pérolas, 7. figura mitológica, símbolo da beleza, apaixonou-se por si próprio, ao olhar o reflexo do seu rosto nas águas.

Após a leitura atenta do poema, responde às perguntas com clareza e correção linguística.

1. Faz a análise da estrutura formal do poema.


2. Identifica os elementos físicos que compõem o retrato e explica de que forma cada um deles é valorizado,
nomeadamente através da utilização de recursos expressivos.
3. Transcreve as palavras/expressões sugestivas de características psicológicas, explicitando o seu sentido.
4. Transcreve e interpreta a expressão que, na primeira estrofe, sintetiza o retrato «pintado».
5. Explicita e interpreta a advertência que, no último terceto, o poeta faz à mulher retratada.


B. Lê o seguinte poema, com atenção.

Descalça vai para a fonte


Lianor pela verdura;
Vai fermosa, e não segura.

Leva na cabeça o pote,


O testo nas mãos de prata,
Cinta de fina escarlata,
Sainho de chamelote;
Traz a vasquinha de cote,
Mais branca que a neve pura.
Vai fermosa e não segura.

Descobre a touca a garganta,


Cabelos de ouro entrançado
Fita de cor de encarnado,
Tão linda que o mundo espanta.
Chove nela graça tanta,

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Que dá graça à fermosura.
Vai fermosa e não segura.
Lírica de Luís de Camões, Maria Vitalina Leal de Matos, Editorial Caminho, 2012

Após a leitura do poema, responde ao questionário de uma forma clara e cuidada.

1. Identifica o tema do poema.


2. O poema é constituído pelo mote e por duas voltas. Refere o conteúdo das voltas.
3. Seleciona a opção correta.
Esta composição poética é
A. um soneto decassilábico.
B. uma esparsa hexassilábica.
C. um vilancete em redondilha maior.
D. uma endecha em redondilha menor.
4. Identifica o esquema rimático deste poema.
5. Estabelece a correspondência correta entre os elementos do retrato de Lianor e as suas características
I II
1. Sainho A. de prata.
2. Cinta B. de fina escarlata.
3. Cabelos C. de chamalote.
4. Vasquinha D. de ouro entrançado.
5. Mãos E. mais branca que a neve pura.

6. Transcreve o(s) adjetivo(s) que resume(m) o retrato físico e psicológico de Lianor no refrão.
7. Seleciona a opção correta.
A palavra «vasquinha» significa
A. fita de atar os cabelos.
B. espécie de camisa ou de colete.
C. tecido de lã de camelo ou de lã e seda.
D. saia com muitas pregas.

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Os Lusíadas, de Luís de Camões
A. Lê, atentamente, o excerto apresentado de seguida.
78
Um ramo na mão tinha… Mas, ó cego,
Eu, que cometo1, insano e temerário,
Sem vós, Ninfas do Tejo2 e do Mondego,
Por caminho tão árduo, longo e vário!
Vosso favor invoco, que navego
Por alto mar, com vento tão contrário,
Que, se não me ajudais, hei grande medo
Que o meu fraco batel se alague cedo3.
79
Olhai que há tanto tempo que, cantando
O vosso Tejo e os vossos Lusitanos,
A Fortuna me traz peregrinando,
Novos trabalhos vendo e novos danos:
Agora o mar, agora exprimentando
Os perigos Mavórcios4 inumanos,
Qual Cánace5, que à morte se condena,
Nũa mão sempre a espada e noutra a pena;
80
Agora, com pobreza avorrecida,
Por hospícios6 alheios degradado;
Agora, da esperança já adquirida,
De novo, mais que nunca, derribado;
Agora, às costas7 escapando a vida,
Que dum fio pendia tão delgado,
Que não menos milagre foi salvar-se
Que pera o Rei judaico8 acrecentar-se.
81
E ainda, Ninfas minhas, não bastava
Que tamanhas misérias me cercassem,
Senão que aqueles que eu cantando andava
Tal prémio de meus versos me tornassem9:
A troco dos descansos que esperava,
Das capelas10 de louro que me honrassem,
Trabalhos nunca usados me inventaram,
Com que em tão duro estado me deitaram!
82
Vede, Ninfas, que engenhos de senhores11
O vosso Tejo cria valerosos,
Que assi sabem prezar, com tais favores,
A quem os faz, cantando, gloriosos!
Que exemplos a futuros escritores,
Pera espertar engenhos curiosos,
Pera porem as cousas em memória,
Que merecerem ter eterna glória!

Luís de Camões, Os Lusíadas, Porto Editora, 2017

1. me atrevo; 2. Tágides; 3. metaforicamente, a obra e a vida do poeta; 4. de Marte, da guerra; 5. Cânace escreveu ao irmão uma carta de despedida segurando
com a outra mão a espada com que iria suicidar-se; 6. regiões; 7. nas costas (junto das quais o poeta naufragara); 8. Ezequias, a quem Jeová concedeu quinze
dias de vida, após o dia em que deveria morrer; 9. dessem; 10. coroas (destinadas a glorificar os poetas); 11. grandes senhores de Portugal.

Responde às perguntas com clareza e correção, utilizando um discurso coerente e coeso.


1. Situa o excerto na estrutura externa e interna de Os Lusíadas.

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2. Explica o sentido do apelo feito pelo sujeito poético, na estrofe 78, explicitando as razões por ele apresentadas.
3. Expõe sucintamente o conteúdo das estrofes 79 e 80, referindo o seu caráter autobiográfico.
4. Explica o sentido dos vv. 5-8 da estrofe 82, relacionando-os com o conteúdo da estrofe anterior.
5. Fazendo apelo à tua experiência de leitura de Os Lusíadas, elabora um texto expositivo de 80 a 130 palavras, no qual
apontes três críticas e consequentes conselhos que Camões dirige aos Portugueses em finais de cantos de Os
Lusíadas.



B. Lê o excerto que se segue, com atenção.

105
(...)
Ó grandes e gravíssimos perigos,
Ó caminho de vida nunca certo,
Que aonde a gente põe sua esperança
Tenha a vida tão pouca segurança!
106
No mar tanta tormenta e tanto dano,
Tantas vezes a morte apercebida!
Na terra tanta guerra, tanto engano,
Tanta necessidade avorrecida!
Onde pode acolher-se um fraco humano,
Onde terá segura a curta vida,
Que não se arme e se indigne o Céu sereno
Contra um bicho da terra tão pequeno?

Luís de Camões, Os Lusíadas, Porto Editora, 2017

Responde às perguntas com clareza e correção, utilizando um discurso coerente e coeso.

1. Assinala a opção correta.


Estas estâncias constituem
 A. uma crítica à ganância dos Portugueses.
 B. uma reflexão acerca da fragilidade do ser humano.
 C. um elogio ao espírito de cruzada dos portugueses.
 D. um apelo ao rei.
2. Estabelece a correspondência entre os elementos apresentados na coluna I e as expressões que os caracterizam.
I II
1. Mar A. «tanta necessidade avorrecida»
B. «tanta guerra»
C. «tanta tormenta»
2. Terra D. «a morte apercebida»
E. «tanto engano»
F. «tanto dano»
3. Identifica o recurso expressivo presente nos versos seguintes.
«Ó grandes e gravíssimos perigos,
Ó caminho de vida nunca certo,»
4. Explica o sentido da expressão «bicho da terra tão pequeno« (estância 106).

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SOLUÇÕES
Poesia trovadoresca

A.
1. A cantiga, constituída por 6 dísticos hendecassílabos e refrão de 1 verso, com 7 sílabas métricas, é paralelística perfeita: o 2.º verso da 1.ª estrofe repete-se
como 1.º verso da 3.ª, o 2.º verso da 2.ª como 1.º verso da 4.ª, repetindo-se o mesmo esquema até ao final. Alterna a rima em -a e em -i.
1.1 Sendo paralelística perfeita, tem um número reduzido de versos novos, o que facilita a memorização. Como a transmissão era oral e o poema se destinava ao
canto, esta estrutura era a mais adequada.
2. O sujeito poético é uma jovem apaixonada, desejosa de encontrar o seu amigo, ou melhor, de se deixar encontrar por ele. Ao pedir à amiga para a acompanhar,
apela confiadamente à cumplicidade desta para fingir um encontro ocasional – «vaiamos dormir», «vaiamos folgar» – no espaço onde ele anda a caçar.
3.1 As expressões «andar (…) a las aves», «seu arco na mão as aves ferir», «seu arco na mão a las aves tirar», «leixá-las guarir», «non nas querer matar» referem
a ação do amigo caçador.
3.2 O poema refere inicialmente apenas a perseguição, «andar a las aves», depois o ato de ferir e, finalmente, a possibilidade de deixar sobreviver ou de matar.
3.3 A caça representa claramente a conquista, a sedução, em território feminino, as margens do lago, cuja simbologia, a par das águas das fontes ou dos rios, se
prende com a vida e a fertilidade.
4. Se a relação caçador-ave subentende a relação sedutor-seduzido, então a jovem exprime sem disfarce o desejo de se colocar no lugar da ave, indo para o
espaço onde tal ação acontece. A razão que acrescenta para justificar o seu pedido, o amigo é gentil para com as aves que cantam, realça essa associação: ela é
uma dessas aves que cantam, para conquistar, que adivinha o efeito que o seu canto terá sobre o amigo.

B.
1. 1. C.; 2. A.; 3. B.
2. A palavra que identifica o interlocutor do sujeito poético é «amigo».
3. B.
4. A.

C.
1. 1. B.; 2. C.; 3. A.
2. A.
3. As cantigas que não apresentam refrão são antigas de mestria.

D.
1. As «flores do verde pino» desempenham o papel de confidente do sujeito poético, ouvindo os seus lamentos e dando-lhe esperança e tranquilidade quando lhe
assegura que o seu amado há de chegar antes do fim do prazo estabelecido.
2. Refrão.
3. A.

Crónica de D. João I, Fernão Lopes


A.
1. No excerto transcrito, podemos distinguir três momentos na evolução da ação. No 1.º, até «per mandado da rainha», narra-se como se espalhou pela cidade a
notícia de que o mestre de Avis corria perigo de vida e como a população reagiu rapidamente, encaminhando-se para o paço da rainha. O 2.º, até «mostrai-no-lo
e vê-lo-emos» mostra a multidão concentrada à volta do paço e os comportamentos de diferentes grupos para atingirem o objetivo comum de salvar o mestre, de
cuja vida exigiam provas. O 3.º e último momento conta como o mestre apareceu à janela do paço e as reações que o seu aparecimento provocou.
2. O avanço da ação, próprio da narrativa, verifica-se em exemplos como: «se moveram todos com mão armada, correndo à pressa pera onde diziam que se isto
fazia», «como foram às portas do paço, que eram já cerradas, ante que chegassem, com espantosas palavras, começaram de dizer». Já o 7.º e 8.º parágrafos são
predominantemente descritivos: «Ali se ouviam brados de desvairadas maneiras.»
3. Exemplos de pormenor: «Nom cabiam pelas ruas principais e atravessavam lugares escusos»; «Tais i havia que certificavam (…). Deles bradavam por lenha
(…). Umas vinham com feixes de lenha, outras tragiam carqueija»; «E nom somente era isto à porta dos Paços, mas ainda arredor deles per u homens e mulheres
podiam estar».
Exemplos de utilização do pretérito imperfeito do indicativo: «cabiam», «atravessavam», «havia», «bradavam».
Exemplos de expressão de sensações: «e era tanta, que era estranha cousa de ver» (visual); «Ali eram ouvidos braados», «era o arroido atão grande» (auditiva);
«Umas vinham, outras tragiam» (sensação de movimento).
4. A primeira voz que se ouve no excerto é a de Álvaro Pais, ilustrativa da fase de mobilização das «gentes da cidade». Seguidamente, as frases em discurso
direto dão conta, respetivamente, da chegada ao paço e aumento do alarme, perante as portas cerradas, e, mais adiante, da resposta ao anúncio de que o mestre
estava são e salvo.
Finalmente, são as palavras do mestre que ouvimos, a iniciar uma fase que vai ser de dispersão da população.
5.1 A comparação evidencia, por um lado, a união, a partilha do mesmo sentimento e, por outro, o amor pelo mestre, o substituto do Rei.

B.
1. O apelo emotivo feito pelo pajem e por Álvaro de Pais ao povo, com recurso ao discurso direto: «— Matom o Mestre! matom o Mestre nos Paços da Rainha!
Acorree ao Mestre que matam!»; «(…) bradando a quaesquer que achava dizendo: — Acorramos ao Mestre, amigos, acorramos ao Mestre, ca filho é del-Rei
dom Pedro. E assi braadavom el e o Page indo pela rua.»
O alvoroço que se gerou na cidade e que despertou união no povo: «alvoraçavom-se nas vontades e começavom de tomar armas cada uu como melhor e mais
asinha podia»; «Soarom as vozes do arroido pela cidade ouvindo todos bradar que matavom o Mestre».
A movimentação do povo pelas ruas da cidade: «se moverom todos com mão armada, correndo a pressa pera u deziam que se esto fazia, por lhe darem vida e
escusar morte.»
A concentração do povo nos paços da rainha: «A gente começou de se juntar a ele, e era tanta que era estranha cousa de veer. Nom cabiam pelas ruas principaes,
e atrevessavom logares escusos, desejando cada uu de seer o primeiro.»
A aclamação enternecedora feita ao mestre quando o encontram vivo, com recurso ao discurso direto: «— Ó Senhor! Como vos quiserom matar per treiçom,
beento seja Deos que vos guardou desse treedor! Viinde-vos, dae ao demo esses Paaços, nom sejaes lá mais. E em dizendo esto, muitos choravom com prazer de
o veer vivo.»; «— Que nos mandaes fazer, Senhor? Que querees que façamos?»
2. A. V; B. F; C. F; D. V.
3. «Como vos quiserom matar per treiçom, beento seja Deos que vos guardou desse treedor! Viinde-vos, dae ao demo esses Paaços, nom sejaes lá mais.»
4. A.; D.
5. O título resume os vários momentos do excerto – o alvoroço que se gerou na cidade quando o povo se deu conta do perigo de vida que o Mestre corria e a
movimentação conjunta de Álvaro de Pais e do povo, como personagem coletiva, em socorro do seu Mestre.
6. Do leque de características de repórter existentes na escrita de Fernão Lopes destacam-se a alternância de planos (plano de conjunto – plano de pormenor –
grande plano); a boa estruturação dos seus textos; a narração jornalística; as deslocações espaciais; a recriação de diálogos; o sensorialismo, com recurso à

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visualidade e à presença auditiva; o estilo oratório e a linguagem corrente que Fernão Lopes usa (parecendo que narra como quem fala) e os artifícios a que o
cronista recorre para colocar o leitor no centro da ação.
7. B.

C.
1. Neste parágrafo o cronista estabelece uma ligação com o capítulo anterior e faz uma síntese do que nos vai narrar – o modo como estava a cidade de Lisboa
aquando do cerco, a forma como o povo se preparou para a defesa e a coragem e determinação demonstradas pelos portugueses.
2. A. V; B. F; C. F; D. V.
3. Estilo de escrita coloquial («em tanto que diziam os que viram que tão formoso cerco de cidade não era em memória de homens que fosse visto de mui longos
anos até aquele tempo»); interpelação do leitor com recurso à segunda pessoa do plural («haveis ouvido», «Onde sabei»); inclusão do leitor na narração com
recurso à segunda pessoa do plural («poermos logo aqui brevemente»); tom enternecedor com que o cronista capta a atenção do leitor («Oh, que formosa cousa
era de ver!»).
4. A.; C.
5. Marcas de visão de conjunto – «Um tão alto e poderoso senhor como é el-rei de Castela com tanta multidão de gentes, assim per mar como per terra, postas
em tão grande e tão boa ordenança, ter cercado tão nobre cidade.»
Marcas de visão de pormenor – «E iam-se muitos às liziras em barcas e batéis, depois que Santarém esteve por Castela, e dali traziam muitos gados mortos que
salgavam em tinas e outras cousas de que fizeram grande acalmamento.»; «(...) e em setenta e sete torres que ela tem a redor de si, foram feitos fortes
caramanchões de madeira, os quais eram bem fornecidos de escudos e lanças e dardos, e bestas de tomo, e doutras maneiras, com grande avondança de muitos
virotões.»
6. Ao longo deste excerto, o povo evidenciou empenho, coragem, solidariedade e capacidade de organização.
7. «em tanto que diziam os que viram que tão formoso cerco de cidade não era em memória de homens que fosse visto de mui longos anos até aquele tempo.»

Auto da Feira, Gil Vicente


A.
1. Roma representa o topo da hierarquia cristã, o papado.
2. Este excerto desenrola-se numa feira, também ela alegórica. Uma feira preparada por Mercúrio, que tem como mercadores o Tempo e o anjo Serafim. Contra a
vontade destes apresenta-se outro mercador – o Diabo. Esta feira situa-se, historicamente, numa época de contestação ao poder, luxo e corrupção da Igreja
católica e de guerras entre países cristãos.
3. Roma apresenta-se na feira como compradora e o Diabo é um dos vendedores, que Roma, aliás, conhece bem por já ter sido sua cliente.
4. Roma vem à feira com o propósito de comprar paz, verdade e fé.
5. O Diabo argumenta que não vale a pena procurar o que não tem utilidade nenhuma. Além disso, «segundo são os tempos / assi hão de ser os tentos» e os
tempos que corriam não eram favoráveis aos valores desejados por Roma. Sendo assim, para quê perder tempo, inutilmente? Insiste ainda na defesa do seu ponto
de vista, dizendo que a verdade, a vergonha e a bondade são, agora, motivo de troça, de humilhação, de desprezo. A bondade, por exemplo, é incompatível com
o poder.
6. Roma vem à feira comprar paz, verdade e fé porque tudo isto lhe falta. É a crítica mais dura e óbvia. Por que razão o representante de Deus na terra está
envolvido em guerras da Cristandade, quando devia ser o garante da paz entre os povos cristãos? Como se explica que viva uma vida de mentira e com falta de
fé, quebrando todos os votos que fez perante Deus?

B.
1. A peça chama-se Auto da Feira, uma vez que o seu argumento se desenrola em torno da ideia de comércio. Nesta peça vicentina é retratada uma feira
organizada por Mercúrio na qual serão vendidos vícios e virtudes, alegoricamente representados.
2. D.
3. No Auto da Feira estão em jogo os valores do bem e do mal, da virtude e do vício.
4. Roma é a personagem que oscila entre o bem e o mal. Ela representa a Igreja Católica, que, segundo Gil Vicente, se tem entregado aos prazeres mundanos.
Esta personagem denuncia a sua carência de bens espirituais, dos quais se supõe ser a representante máxima, e o apego aos bens materiais.
5. A.
6. A.
7. C.
8. D.

Farsa de Inês Pereira, Gil Vicente


A.
TEXTO 1
1. O noivo que satisfaz os sonhos de Inês.
2. As características do noivo ideal de Inês não correspondem ao que a mãe acha adequado para marido da filha.
3. As características que Inês enuncia – homem «discreto», que saiba tocar viola – correspondem à ideia que o povo tinha do escudeiro típico. Eram do agrado
das jovens porque, apesar de pelintras e parasitas, tinham, aparentemente, cortesia, distinção e postura próprias da nobreza.
4. Critica-lhe a falta de juízo, falta de bom senso. Inês parece esquecer-se que o sustento do dia a dia tem de vir de algum lado.
5. No início do diálogo Mãe/Inês sabemos que Pero Marques saíra há pouco, pois a Mãe esperava encontrá-lo ainda em sua casa. No final do excerto, ficamos a
saber que Inês aguarda a chegada de uns judeus casamenteiros.

TEXTO 2
1. São marido e mulher.
2. «Moço às partes dalém / vou fazer-me cavaleiro.» Estes últimos versos remetem-nos para uma época em que se combatia, no Norte de África, pelo domínio do
território que pertencia aos muçulmanos. Muitos nobres portugueses, particularmente escudeiros, tinham nestes combates a única possibilidade de se tornarem
cavaleiros, de se promoverem ou mesmo de sobreviver (eventualmente enriquecer com os despojos de guerra).

TEXTOS 1 E 2
1. Para Inês «discrição» era uma súmula de várias características como sensatez, educação, maneira de falar correta, atitudes de cortesia em relação às mulheres.
Para o Escudeiro, «discrição» era sinónimo de cautela. Não correr o risco de perder a sua fonte de rendimentos, a mulher, e para tal fazer dela sua prisioneira e
mantê-la fiel pelo medo.

B.
1. C.
2. Inês queixa-se de trabalhar muito e de estar cansada de o fazer, de estar sempre em casa e de não se divertir. Perante as queixas de Inês, a mãe reage de forma
irónica e até um pouco agressiva, dizendo que Inês é preguiçosa.

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3. Segundo a mãe, o facto de Inês ter fama de preguiçosa poderá ser um impedimento ao casamento de Inês.
4. A mãe aconselha Inês a não ter pressa em se casar, como se pode constatar através dos versos «Não te apresses tu, Inês. Maior é o anno co mês».
5. Lianor Vaz desempenha o papel de alcoviteira ou casamenteira.
6. Inês é uma moça simples e fútil, mas muito ambiciosa e caprichosa. Ela não gosta de trabalhar e quer arranjar rapidamente um marido que a liberte das tarefas
domésticas.
7. A. V; B. F; C. V; D. V.

A lírica de Luís de Camões


A.
1. O poema é um soneto: é constituído por duas quadras e dois tercetos, decassilábicos, como exemplifica o primeiro verso – Di-zei-se-nho-ra-da-be-le-za i-dei.
O esquema rimático é característico deste género literário – abbba, abba, cde, cde.
2. O primeiro elemento referido é o cabelo loiro, valorizado, em primeiro lugar, pelo uso de um vocabulário erudito, elevado, «áureo crino», de acordo com a
«Senhora» retratada. A sucessão de metáforas – «ouro fino», «escondida mina ou de que veia» – contida na interrogação retórica realça o seu caráter precioso e
raro. O brilho e a expressão do olhar são enaltecidos de novo pela interrogação retórica, na qual se incluem alusões mitológicas (Febo, Medeia), bem como a
antítese entre a origem divina (cristã) ou pagã do seu olhar único, ainda destacado pela hipérbole, «de um império dino». Os dentes são pérolas preciosas, numa
metáfora reforçada pela adjetivação – «escondidas», «preciosas orientais».
3. «Esse respeito» e o «doce riso» aludem, respetivamente, à perfeição moral, que infunde respeito em quem a olha, e a suavidade, a gentileza do seu sorriso.
4. «da Beleza ideia» é a expressão que sintetiza o retrato, ao designar o ideal de beleza, a perfeição, que a senhora materializa.
5. O sujeito poético adverte a Senhora de que ela, pois «se fez» tão perfeita, corre o perigo de ter o destino de Narciso, que, ao ver nas águas o reflexo da sua
beleza, se apaixonou pela própria imagem e assim morreu.

B.
1. O tema deste poema é a exaltação da beleza de Lianor.
2. O conteúdo centra-se na descrição pormenorizada da graciosidade e beleza de Lianor a vários níveis, tais como os traços físicos, a indumentária e os gestos.
3. C.
4. O esquema rimático é ABB / CDDCCBB / EFFEEBB.
5. 1. C.; 2. B.; 3. D.; 4. E.; 5. A.
6. O adjetivo que resume o retrato físico de Lianor é «fermosa» e o que traça o seu retrato psicológico é «não segura».
7. D.

Os Lusíadas, de Luís de Camões

A.
1. O excerto situa-se no final do canto VII e faz parte do plano das intervenções do poeta, mais precisamente, da Invocação que o poeta faz às Ninfas do Tejo e
do Mondego (antes de Paulo da Gama explicar ao Catual o significado histórico das bandeiras) seguida da crítica aos seus contemporâneos.
2. O sujeito poético pede ajuda às Ninfas do Tejo e do Mondego para prosseguir a sua difícil caminhada poética, justificando esse pedido com o receio de não
conseguir levar até ao fim tão árdua e contrariada tarefa.
3. Continuando a dirigir-se às Ninfas do Tejo e do Mondego, o poeta lembra-lhes que há muito que canta Portugal e os Portugueses, sempre enfrentando grandes
perigos, quer no mar, quer na guerra, e sempre exercendo o seu ofício de poeta. Refere ainda outros aspetos biográficos, como a miséria passada longe da pátria,
a desesperança, o naufrágio que quase lhe tirou a vida.
4. Nos últimos quatro versos da estrofe 82, o poeta afirma, com ironia triste, que a ingratidão de que ele tem sido vítima por parte dos senhores sobre os quais
tem escrito é um exemplo para os futuros escritores interessados em contar e eternizar os feitos pátrios.
5. De entre as diversas críticas aos seus contemporâneos, poderão referir-se as seguintes: falta de apreço pela cultura e a poesia; excesso de ambição e apego aos
bens materiais, ao dinheiro, ao ócio; abuso de poder e exploração do povo; apagamento do heroísmo, adormecimento da energia patriótica. Quanto aos
conselhos, poderemos referir, precisamente, a luta contra estes vícios: os Portugueses devem pôr de lado a cobiça e a tirania, devem ser justos e devem lutar, com
dignidade, coragem e desapego, pela pátria e pelo rei, retomando o espírito de cruzada dos seus antepassados, de quem devem seguir o exemplo. Devem, enfim,
pisar o verdadeiro e árduo caminho da fama e da glória conseguida através do esforço, da abnegação, do heroísmo desinteressado.

B.
1. C.
2. 1. C., F., D.; 2. B., E., A.
3. Apóstrofe.
4. A expressão «bicho da terra tão pequeno» significa que o ser é frágil e indefeso perante as vicissitudes da vida.

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