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TESTES DE AVALIAÇÃO

TESTE DE AVALIAÇÃO 1 Fernando Pessoa: poesia lírica. Ortónimo

NOME N.º DATA / /

GRUPO I
Apresenta as tuas respostas de forma bem estruturada.

PARTE A

Lê o poema e as notas.

O MENINO DA SUA MÃE


No plaino1 abandonado
Que a morna brisa aquece,
De balas traspassado
– Duas, de lado a lado –,
5 Jaz morto, e arrefece.

Raia-lhe a farda o sangue.


De braços estendidos,
Alvo, louro, exangue2,
Fita com olhar langue
10 E cego os céus perdidos.

Tão jovem! Que jovem era!


Agora que idade tem?
Filho único, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera:
15 “O menino da sua mãe” …

Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve.
Dera-lha a mãe. Está inteira
E boa a cigarreira.
20 Ele é que já não serve.

De outra algibeira, alada


Ponta a roçar o solo,
A brancura embainhada
De um lenço…. Deu-lho a
25 criada
Velha, que o trouxe ao colo.

Lá longe, em casa, há a prece:


Que volte cedo, e bem!
(Malhas que o Império tece!)
30 Jaz morto, e apodrece,
O menino da sua mãe…

Fernando Pessoa, Ficções do Interlúdio, Lisboa: Assírio & Alvim, 2018.

NOTAS:

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TESTES DE AVALIAÇÃO
1
planície; 2 sem sangue.

1. Apresenta três características do “menino da sua mãe”


Ao longo do poema são apresentadas várias características do “menino da sua mãe”. Trata-se de um jovem
soldado morto “No plaino abandonado” com a farda ensanguentada (“Raia-lhe a farda o sangue”). É “louro” e
tem um olhar fixo e vazio (“Fita com olhar langue / E cego os céus perdidos.”). Este “menino” muito amado pela
sua mãe e pela ama que o criou perdeu, prematuramente, o futuro e os sonhos (“os céus perdidos”).
.

2. Interpreta, no seu contexto, o verso “A cigarreira breve” (v. 17).

A expressão “cigarreira breve” adquire no poema um significado simbólico. Por um lado, a “cigarreira”
presentifica o mundo distante da casa de família e a ineficácia das orações das figuras femininas. Por outro lado,
o facto de a cigarreira estar em bom estado contrasta dramaticamente com o cadáver do jovem. Por último, o
adjetivo “breve” associado a cigarreira realça a brevidade da vida do “menino da sua mãe”.

3. Explicita o efeito de sentidos dos versos “Jaz morto, e arrefece” (v. 5) e “Jaz morto, e apodrece” (v. 29).

Estes dois versos presentes, respetivamente, no início e no final do poema reforçam a ideia de uma morte
consumada. Na verdade, através da reiteração e transformação do quinto verso da primeira estrofe no quarto
verso da sexta, salienta-se a progressiva e inevitável degradação física do cadáver do jovem.

4. Completa as frases, selecionando a única opção correta.

A última estrofe contribui para a circularidade do poema, evidenciando a incomunicabilidade


provo- cada pela guerra e pela a) entre o “menino” e as figuras femininas. Expressa, ainda,
uma posição crítica de b) do horror da guerra, através do discurso parentético, realçando os
sentimentos de impotência e de perda perante a morte consumada.

a) b)
1. Distância X 1. informação
2. proximidade 2. denúncia X
3. dependência 3. negação

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TESTES DE AVALIAÇÃO

GRUPO II
Lê o texto.

As tertúlias no início do século XX


Para se perceber o meio literário de Lisboa,
nesta época, é fundamental conhecer o
ambiente dos cafés da capital e a importância
das suas tertúlias como elemento central do
5 modo de vida dos escritores deste período.
De certa maneira, o imaginário da cultura
portuguesa das primeiras décadas do século
XX é indissociável das redes de sociabilidade
estruturadas à volta das mesas dos cafés e
10 das livrarias, sobretudo as do Chiado e do
Rossio.
As tertúlias, embora se desenvolvessem
espontaneamente, sem organização, não
eram meras instâncias de convívio ou pontos de reunião ou encontro dos meios artísticos e
15 intelectuais de Lisboa. Serviam também para criar redes de relações (e de influências), através das
quais se forjavam reputações e se podia acrescentar prestígio a um nome, acumular capital
simbólico. Pertencer a uma tertúlia, e ser visto nela e não noutra, era ainda um sinal de identidade
literária, artística e/ou política.
Nos cafés com tertúlias surgiam novas ideias, solidificavam-se afinidades, concebiam-se projetos
20 coletivos e programas estéticos para novas escolas e novas rivalidades. Instituições informais da
vida literária, pontos de cristalização das redes intelectuais, nas tertúlias falava-se sobre tudo e
sobre nada; sobre os acontecimentos do dia anterior ou as novidades vindas do estrangeiro.
Postos de observação de tipos humanos, dos nómadas da cidade, das suas idas e vindas, os
cafés permitiam aos escritores – cuja atividade é essencialmente solitária ou antissocial –
25 socializarem com os pares e difundirem ou testarem as ideias uns dos outros. Embora ali se falasse
muitas vezes de mulheres, os cafés de início do século eram territórios estritamente masculinos,
onde as mulheres, remetidas para a esfera privada e doméstica, não desempenham qualquer papel
de relevo. (…)
Cafés como o Nicola, O Marrare, o Martinho da Arcada e o Café Martinho (ambos do mesmo
30 nome), o Central, a Brasileira ou o Gelo foram eixos da vida cultural da cidade, por eles tendo
passado variadíssimos nomes das artes e das letras de Portugal. Poder-se-ia mesmo dizer que
muita da literatura produzida entre os séculos XVIII e XX em Portugal foi imaginada, planeada e
concretizada nas mesas dos cafés de Lisboa. (…)
Totalmente remodelado em 1912, adotando uma decoração estilo arte-nova, o Martinho seria
35 também escolhido pelos fundadores da revista Orpheu – Luís de Montalvor, António Ferro,
Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro e José de Almada Negreiros – como local de reunião, ali
se encontrando para discutirem autores e livros, alguns deles acabados de sair, planearem obras e
criticarem este e aquele, reverem provas tipográficas, discutirem as suas colaborações na
imprensa, etc. Por exemplo, foi neste Martinho que Pessoa e Sá-Carneiro fizeram a revisão das
40 provas da revista Orpheu, e que Almada, de pé em cima de uma mesa, gritou o seu Manifesto Anti-
-Dantas. (…)
Progressivamente, Pessoa começou a frequentar com maior assiduidade o Martinho da Arcada,
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dando ali origem a uma tertúlia. Quem o queira encontrar, entregar-lhe alguma encomenda ou uma
carta e transmitir um recado podia confiar nos empregados do Martinho da Arcada.

1. No início do século XX, os cafés e as livrarias lisboetas desempenharam um papel

a) incipiente na cultura nacional.

b) definitivo no meio cultural do Norte.

c) preponderante na produção cultural do país. x

d) relevante na erradicação das tertúlias literárias.

2. As tertúlias lisboetas

a) eram momentos sociais de conversa.

b) contribuíam para a afirmação de uma identidade cultural. x

c) eram essencialmente reuniões familiares.

d) constituíam encontros informais para partilha de refeições ligeiras.

3. De acordo com o texto, o trabalho do escritor é


a) monótono e antissocial.
b) de observação e de confronto de ideias. x
c) essencialmente de socialização.
d) predominantemente de convívio.

4. A Geração do Orpheu fez de um café de Lisboa


a) o seu local de trabalho. X
b) o seu local de lazer.
c) o espaço familiar de convívio.
d) o espaço onde ler um bom livro.

5. As expressões “De certa maneira” (l. 6) e “Progressivamente” (l. 41) contribuem para a coesão
a) lexical.
b) gramatical interfrásica. X
c) gramatical frásica.
d) gramatical referencial.

6. Identifica a função sintática de


a) “das redes de sociabilidade” (ll. 8-9) - complemento do adjetivo
b) “novas ideias” (l. 19) - sujeito

7. Classifica a oração “cuja atividade é essencialmente solitária ou antissocial” (l. 24).

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Oração subordinada adjetiva relativa explicativa.

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