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1) Tomando por base as reflexões feitas pelo crítico literário Domício Proença Filho

sobre a natureza do texto literário, escolha dois textos a partir dos quais você possa
estabelecer, de maneira dissertativa, as diferenças e semelhanças existentes entre ambos.

TEXTO 1:
O Cão Sem Plumas
(João Cabral de Melo Neto)
I. Paisagem do Capibaribe

A cidade é passada pelo rio


como uma rua
é passada por um cachorro;
uma fruta
por uma espada.

O rio ora lembrava


a língua mansa de um cão
ora o ventre triste de uma cão
ora o outro rio
de aquoso pano sujo
dos olhos de um cão

Aquele rio
era como um cão sem plumas.
Nada sabia da chuva azul,
da fonte cor-de-rosa,
da água do copo de água,
da água do cântaro,
dos peixes de água,
da brisa na água

Sabia dos caranguejos


de lodo e ferrugem

Sabia da lama
como de uma mucosa.
Devia saber dos povos.
Sabia seguramente
da mulher febril que habita as ostras.

Aquele rio
jamais se abre aos peixes,
ao brilho,
à inquietação de faca
que há nos peixes.
Jamais se abre em peixes
[...]

(Disponível em: http://contobrasileiro.com.br/o-cao-sem-plumas-poema-de-joao-cabral-de-m


elo-neto/ Acesso em 13 de janeiro de 2017)

TEXTO 2:
Poluição dos Rios na Cidade do Recife
(Blog Educação Ambiental)

Grande parte do lixo do Recife é jogado nos Rios. Mais de 20 canais despejam
aproximadamente 80% dos efluentes de esgoto “in natura”, os níveis de Coliforme Fecal
evidenciam o lançamento de esgoto de origem doméstica e industrial sem tratamento prévio.
O cartão postal da cidade de Recife é um rio doente e fedido que quase não tem vida ao cruzar
a região metropolitana, mas mesmo com toda poluição, o Rio Capibaribe está vivo e ainda é
um dos principais Diplomatas Pernambucanos, proporciona diversas denominações ao Recife
como: Veneza Brasileira, Veneza dos Trópicos, Cidade dos Rios e Pontes. Há muito a ser
feito em prol da recuperação do Rio Capibaribe e Beribe, outro importante rio que corta as
avenidas da nossa cidade, através de um trabalho árduo de conscientização da população,
retirada constante do lixo é um programa sério de revitalização de suas margens.

(Disponível em: http://capibar2012.blogspot.com.br/2012/05/poluicao-dos-rios-na-cidade-do-


Recife.html?m=1 Acesso em 13 de janeiro de 2017)

A Obra de João Cabral de Melo Neto retrata, em sua grande maioria, a zona da mata e o
sertão nordestino. As cidades de Recife e Olinda são dois cenários bastante presentes nos
poemas do autor. Em “O Cão Sem Plumas” está retratado o Rio Capibaribe, que corta a
cidade de Recife. O Autor descreve no poema o estado de poluição, sujeira, do rio. O poema
apresenta-se dividido em quatro partes, nesse momento será abordada e analisada apenas um
trecho da primeira parte do poema: “Paisagem do Capibaribe”; João Cabral de Melo Neto
apresenta de maneira metafórica o estado de poluição do rio. Primeiramente, o autor chama
atenção para o fato do rio atravessar o Recife, “cortar” a cidade comparando ao ato de uma
espada cortar/atravessar uma fruta, ou um cachorro atravessar uma rua. O poeta compara o rio
à “língua mansa de um cão”, “o ventre triste de um cão”, um rio sem vida, sem força de
correnteza... Compara-o, ainda, a um “aquoso pano sujo” evidenciando a sujeira presente no
rio. Através da comparação do rio a um “cão sem plumas” (sem pelos) nos faz pensar na
condição de um rio sem beleza, “deteriorado”, desvitalizado; um rio que “nada sabia da chuva
azul [...] da água do copo d’agua”, isto é, um rio de água suja, escura... Um rio que “sabia dos
caramujos / do lodo e ferrugem / Sabia da lama / lama do mangue, pelo lodo do esgoto que é
despejado nele, pela ferrugem ouriunda do que descartado nele, do que ali é depositado. O rio,
segundo João Cabral de Melo Neto “jamais se abre aos peixes / ao brilho / à inquietação da
faca / que há nos peixes”: no rio, de tão poluído, não há possibilidade de existirem peixes,
desses peixes sobreviverem, não há nenhuma existência de vida dentro do rio.
Já no texto “poluição dos Rios na Cidade do Recife” retirado do blog “Educação
Ambiental” (criado por alunos da turma de Ecologia e Educação Ambiental da UNICAP),
está retratada a mesma situação de imundice descrita por João Cabral de Melo Neto em seu
poema. Porém é possível perceber as diferenças entre os textos descritas por Domício Proença
Filho (enquanto textos literário e não-literário). O texto disposto no blog (texto não-literário)
apresenta de forma informativa, objetiva e clara os aspectos do Rio Capibaribe, enquanto,
dentre outros traços, “O Cão Sem Plumas” (texto literário) aborda de maneira metafórica as
condições do rio, as intenções o autor são apresentadas de forma subjetiva nos versos do
poema, o rio é descrito a partir da visão de mundo do autor, a partir de elementos da emoção
usados ao compará-lo aos diversos elementos a que o autor o associa ao longo do poema, por
exemplo.

2) Elabore um relato no qual você apresente a sua experiência com a presente disciplina
“Teoria do Texto Poético”. Nele procure evidenciar o conhecimento possível de ser
vivenciado a partir do contato com o texto poético.

Antes de ter contato com a disciplina não tinha muito contato/interesse pela literatura de
meneira geral, tampouco com o texto poético, especificamente. Confesso que ainda não tenho
despertado esse interesse, porém após um contato mais direto com o texto poético está sendo
possível ter uma nova visão acerca dessa “forma” da literatura; passei a enxergar detalhes no
texto poético que antes passavam despercebidos. O contato com a disciplina proporciona uma
maior sensibilidade e percepção ao ler um texto poético: focar no autor e suas particularidades
para compreender melhor suas intenções inseridas no texto; observar detalhes ritmicos,
versos... Ou seja, este contato com a disciplina ajuda a encarar o texto poético de maneira
mais detalhada, minunciosa e não tão mais superficial como fazia anteriormente. Tal atenção
dedicada ao texto proporciona uma maior descoberta, tornando-o mais interessante e, assim,
despertando um maior envolvimento com o gênero.

3) Dentre os poemas analisados em sala de aula, ou outros de Manuel Bandeia, escolha


um e faça uma análise literária (títulos, versos, ritmo, temática, relação com outros
poemas e com o autor, etc.).

Consoada
(Manuel Bandeira)

Quando a indesejada das gentes chegar.


(Não sei ser dura ou caroável),
talvez eu tenha medo.
Talvez sorria, ou diga.
- Alô, iniludível!
O meu dia foi bom, pode a noite descer.
(A noite com os seu sortilégios.)
Encontrarás lavrado o campo, a casa limpa,
A mesa posta,
Com cada coisa em seu lugar.

No poema percebe-se a constante preocupação de Manuel Bandeira com a morte. Devido


a sua condição de saúde (ter sido diagnosticado, ainda jovem, portador de tuberculose),
Bandeira sempre temeu a “chegada da morte”. Ao longo dos versos, pode-se perceber que o
autor busca mostrar estar se preparando para a hora da morte.
No primeiro verso do poema, Bandeira deixa clara sua aversão, desconforto em relação à
possível proximidade de sua morte quando a caracteriza como “indesejável das gentes”; no
segundo verso ele revela sua dúvida, insegurança em relação a como será tal momento: se
doloroso, sofrido ou calmo, tranquilo. No terceiro, quarto e quinto versos, o poeta expõe sua
incerteza a cerca de como reagirá quando dado o momento de sua morte, não sabendo se
sentirá medo, se estará tranquilo... Ainda no quinto verso, Bandeira caracteriza a morte como
um ser “iniludível”, mostrando sua consciência de que não havia como adiar esse momento,
não havia como “ludibriar a morte”. No sexto verso, ele compara sua vida ao dia e a morte à
noite, revela que seu dia (sua vida) foi boa, está satisfeito como que viveu, aproveitou-a, e que
está pronto para quando a noite (morte) chegar. No sétimo verso, ele destaca os “sortilégios”
da noite (morte), isto é, caracteriza a morte como algo misterioso, sombrio, místico... Nos
oitavo, nono e décimo versos, Manuel Bandeira tenta desconstruir a inquietude apresentada
nos versos anteriores, mostrando estar preparado para aquele momento, tendo feito tudo o que
devia fazer e não tendo nada a ser deixado “pendente”.
Ao longo do poema, Bandeira descreve de maneira metafórica e eufemista a sua
preparação para a morte como a preparação, arrumação de uma mesa para uma refeição, a
preparação de uma casa para a chegada dos convidados para tal refeição. Daí se estabelece a
relação do poema com o título “Consoada” (ceia/refeição). O poema apresentado se
assemelha em sua temática com diversos outros poemas de Bandeira: a preocupação com a
morte e a inquietude com a possível chegada desse momento. Porém, não em tom tão
melancólico como apresentado em alguns de seus poemas, tais como “Desencanto” e “O
Último Poema”, por exemplo, em “Consoada”, Bandeira tenta passar a ideia de estar mais
conformado, preparado para a morte.

4) Escolha um, dentre os textos teóricos adotados na disciplina, e faça um comentário.

O texto de Davi Arrigucci Jr. “Enigma e Comentário: Ensaios sobre literatura e


experiência” apresenta de forma bastante clara e simples diversas particularidades acerca da
obra de Manuel Bandeira como um todo. O autor descreve, de maneira geral, a “forma de
fazer poesia” de Manuel Bandeira; apontando as características maduras do poeta, sua relação
com a pobreza, por exemplo. Além de detalhar os aspectos da poesia de Bandeira, Davi
Arrigucci também aponta detalhes acerca da vivência do poeta, aspectos estes que, segundo
Arrigucci, influenciaram de maneira direta nos temas abordados por Bandeira em seus
poemas, assim como, seu estilo simples de fazer poesia.
Davi Arricucci destaca a simplicidade de Manuel Bandeira em seus poemas, a
representação do cotidiano do poeta em sua obra, a “estrutura livre” de seus poemas, o que lhe
assegura uma possível característica modernista. Em outras palavras, o desprendimento de
Manuel Bandeira ao ver poesia em tudo, em situações corriqueiras, “sem encanto” para
muitos.
Após os comentários expostos por Arricucci, é possível atentar para mais detalhes ao
deparar-se com poemas da obra de Manuel Bandeira, é possível enxergar particularidades que
antes passariam despercebidas, é possível observar (e querer observar) o poeta e sua obra com
“outros olhos”. O contato com esse texto desperta o interesse pela obra de Bandeira e, mais
que isso, ajuda a compreende-la de maneira mais satisfatória.

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