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Ficha de Avaliação Sumativa Nome:

Educação literária, Leitura, Escrita, Professora: Eduarda Vieira


Gramática PORTUGUÊS Ano: 11.º Turma: LH N.º __ 01/03/2023
Tempo estimado: 100 minutos
Avaliação 2023/2024 E. Educação:

GRUPO I
A - Lê atentamente o excerto seguinte. Em caso de necessidade, consulta o glossário
apresentado a seguir ao texto.
Ato primeiro

Câmara antiga, ornada com todo o luxo e caprichosa elegância portuguesa dos princípios do
século dezassete: porcelanas, charões1, sedas, flores, etc. No fundo, duas grandes janelas rasgadas,
dando para um eirado2 que olha sobre o Tejo e donde se vê toda Lisboa; entre as janelas o retrato,
em corpo inteiro, de um cavaleiro moço, vestido de preto, com a cruz branca de noviço3 de S. João
5 de Jerusalém4. – Defronte e para a boca da cena um bufete5 pequeno coberto de rico pano de
veludo verde franjado de prata; sobre o bufete alguns livros, obras de tapeçarias meias feitas, e um
vaso da China de colo alto, com flores. Algumas cadeiras antigas, tamboretes 6 rasos, contadores7.
Da direita do espectador, porta de comunicação para o interior da casa, outra da esquerda para o
exterior. – É no fim da tarde.

Cena I

10 Madalena, só, sentada junto à banca, os pés sobre uma grande almofada, um livro aberto no
regaço, e as mãos cruzadas sobre ele, como quem descaiu da leitura na meditação.

Madalena (repetindo maquinalmente e devagar o que acaba de ler).

“Naquele engano d’alma ledo e cego


Que a fortuna não deixa durar muito...”8

15 Com paz e alegria de alma... um engano, um engano de poucos instantes que seja... deve de ser
a felicidade suprema neste mundo. E que importa que o não deixe durar muito a fortuna? Viveu-
-se, pode-se morrer. Mas eu!... (Pausa). Oh! que o não saiba ele ao menos, que não suspeite o
estado em que eu vivo... este medo, estes contínuos terrores que ainda me não deixaram gozar um
só momento de toda a imensa felicidade que me dava o seu amor. – Oh! que amor, que felicidade...
20 que desgraça a minha! (Torna a descair em profunda meditação; silêncio breve).

Almeida Garrett, Frei Luís de Sousa

Glossário
1
jarras envernizadas e lacadas; 2 espécie de terraço; 3 aquele que se prepara para ingressar na
vida conventual; 4 nome de uma ordem religiosa e militar; 5 papeleira ou secretária antiga; 6
cadeira sem espaldar, mas com braços; 7 móvel com gavetas; 8 episódio de Inês de Castro, canto
III, estrofe 120 de Os Lusíadas;

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1. Identifica a estrutura externa e interna caracterizadoras do texto dramático.
2. Fornece exemplos que permitam identificar:
a) o espaço, o tempo da ação
b) o estatuto nobre e de antiguidade da família e a sua riqueza
c)o bom nível cultural da família
d) a ideia de felicidade de quem habita aquele espaço
3. Delimita dois momentos na cena I e justifica essa delimitação.
4. No início da peça, D. Madalena reflete sobre dois versos do episódio de Inês de Castro
de Os Lusíadas. Explicita a comparação entre D. Madalena e D. Inês de Castro
salientando o valor da última frase: «Oh! que amor, que felicidade… que desgraça a
minha!”
5. “Oh! que o não saiba ele ao menos”. Identifica a personagem evocada por D.
Madalena de Vilhena através do pronome “ele”.
6. Completa as afirmações abaixo apresentadas, selecionando da tabela a opção
adequada a cada espaço. Na tua folha de respostas, regista, apenas, as letras – (a), (b) e
(c) – e, para cada uma delas, o número que corresponde à opção selecionada em cada
um dos casos.
A primeira cena da peça corresponde a um_(a)_, durante o qual Madalena, atra
vés de uma linguagem emotiva, marcada pelas _(b)_, expressa a sua _(c)_ .

(a) (b) (c)


1. monólogo 1. exclamações e repetições 1. alegria
2. diálogo 2. pausas, interjeições e hesitações 2. angústia
3. aparte 3. interjeições e apóstrofes 3. tranquilidade

7. O antecedente do pronome relativo “que” (linha 19) é


a) “este medo” (linha 18)
b) “estes contínuos terrores” (linha 18)
c) “toda a imensa felicidade” (linha 19)

B - Lê atentamente o excerto seguinte. Em caso de necessidade, consulta o glossário


apresentado a seguir ao texto.

O Padre António Vieira foi um «político total». Tendo a sua vida atravessado quase todo o
século XVII, a multiplicidade de papéis desempenhados ao serviço da Igreja e do Reino de Portugal,
nomeadamente como missionário, embaixador, pregador, conselheiro político, escritor, confessor
e professor, teve sempre no horizonte trabalhar pela construção de um homem novo e de uma
5 sociedade nova.

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Vieira gizou1, a partir de um diagnóstico lúcido dos problemas do presente político, social,
económico e religioso, aquilo que o especialista Aníbal Pinto de Castro denominou como sendo
uma «cidadania do futuro». Em tudo Vieira trabalhou para aperfeiçoar a vida do homem na
sociedade do seu tempo. Denunciou as estruturas de corrupção, que considerava uma espécie de
10 cancro que afetava gravemente a missão dos governos e o superior interesse do Reino e dos
súbditos do rei. Defendeu maior equidade social, exigindo o fim da discriminação entre cristãos-
novos e cristãos-velhos que criava uma situação de desigualdade de tratamento no acesso aos
cargos, a regalias e a direitos sociais. Não se conformou com esta divisão social que gerava a
existência do que hoje em dia poderíamos chamar de cidadãos de primeira e de segunda categoria.
15 Nesta linha, criticou fortemente a atuação da Inquisição e propôs uma reforma séria dos estilos,
isto é, de algumas práticas judiciais deste tribunal, nomeadamente o facto de manter sob
anonimato os denunciantes e realizar o confisco prévio dos bens dos arguidos.
Por outro lado, Vieira foi um precursor de uma reflexão crítica que favoreceria a emergência
de uma consciência moderna do que se veio a designar mais tarde por Direitos Humanos.
20 Neste sentido, criticou as condições opressivas do trabalho escravo em vigor no seu tempo
e praticado por todas as potências coloniais europeias. E, nessa esteira, defendeu a humanização
do trabalho de índios e de negros escravizados e a salvaguarda da dignidade de todos os escravos
como seres humanos plenos e iguais perante Deus.
As ideias de Vieira e as suas propostas reformistas, se bem que apreciadas por alguns,
25 encontraram muitos opositores poderosos no seu tempo, os quais, em grande medida, acabaram
por boicotar a sua aplicação plena. Só mais tarde os diagnósticos e as soluções deste jesuíta serão
justamente reconhecidos como válidos e até urgentes.
O magistério crítico de Vieira ainda faz sentido nos dias de hoje e pode inspirar-nos em cada
tempo para não desistirmos de construir uma sociedade mais justa e mais fraterna.

José Eduardo Franco, «Um político total», Jornal de Letras (adaptado)


Glossário
1
gizar – delinear, traçar.

1. Para responder a cada um dos itens de 1.1. a 1.7., selecione a opção correta. Escreve,
na folha de respostas, o número de cada item e a letra que identifica a opção escolhida.

1.1. A caracterização de Padre António Vieira como um «político total» (linha 1) exclui a
referência
(A) às várias funções que desempenhou ao longo da sua vida.
(B) às suas propostas relativamente à extinção da Inquisição.
(C) à capacidade de analisar o modo de vida do seu tempo.
(D) à sua preocupação com a transformação da sociedade.

1.2. A expressão «cidadania do futuro» (linha 8) sugere que Vieira


(A) resolveu muitos dos problemas com que se confrontou.
(B) defendeu ideais incompreendidos no tempo em que viveu.
(C) focou a sua atenção nos problemas das gerações seguintes.
(D) foi incapaz de compreender a sociedade da sua época.

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1.3. No contexto em que ocorre, a expressão «Por outro lado» (linha 18) é equivalente
a
(A) em contrapartida.
(B) por sua vez.
(C) assim.
(D) além disso.

1.4. Relativamente ao conteúdo do terceiro parágrafo, o quarto parágrafo apresenta


uma
(A) comparação.
(B) generalização.
(C) exemplificação.
(D) síntese.

1.5. No contexto em que ocorre, a palavra «emergência» (linha 18) significa


(A) aparecimento.
(B) aceitação.
(C) relevância.
(D) urgência.

1.6. Na frase “O Padre António Vieira foi um «político total»” a expressão sublinhada
tem a função sintática de
(A) complemento direto
(B) predicado
(C) predicativo do sujeito
(D) complemento oblíquo

1.7. Em “Denunciou as estruturas de corrupção, que considerava uma espécie de cancro


que afetava gravemente a missão dos governos” (linhas 9 e 10) a frase sublinhada
corresponde a uma
(A) oração subordinada adjetiva relativa restritiva
(B) oração subordinada adverbial condicional
(C) oração subordinada adjetiva relativa explicativa
(D) oração subordinada adverbial temporal

GRUPO II
Elabora uma reflexão sobre o significado da liberdade, partindo da perspetiva exposta no
excerto a seguir transcrito.

«A liberdade é, antes de mais nada, o respeito pelos outros e o respeito que os outros nos
devem em função dos nossos direitos. A liberdade é a combinação entre os direitos e os
deveres, sem que cada um invada o espaço que, por direito, pertence aos outros.»
José Jorge Letria, O 25 de Abril Contado às Crianças… e aos Outros, Lisboa, Terramar, 1999

Fundamenta o teu ponto de vista recorrendo, no mínimo, a dois argumentos e ilustra cada
um deles com, pelo menos, um exemplo significativo. Escreve um texto, devidamente
estruturado, com um mínimo de duzentas e um máximo de trezentas e cinquenta palavras.

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Ficha de avaliação sumativa realizada em 01/03/2024

Nas respostas devem ser abordados os tópicos seguintes, ou outros igualmente relevantes.

GRUPO I
Texto A (Educação Literária)
1. A estrutura externa apresenta, por exemplo, os seguintes elementos: divisão em atos (quando
muda o cenário) e cenas (quando entram ou saem personagens); na estrutura interna
observamos a didascália, que é o texto secundário e as falas das personagens, texto principal.
Neste excerto, observamos que se trata do Ato primeiro, onde encontramos a didascália com a
explicação dos elementos presentes em cena, do ambiente vivido e do tempo e a Cena I, iniciada
com o monólogo de D. Madalena.

2. Os exemplos são os seguintes:


a) espaço: "câmara antiga"; "sobre o Tejo e donde se vê toda a Lisboa".
tempo: " É no fim da tarde."

b) “Câmara antiga, ornada com todo o luxo e caprichosa elegância portuguesa”, “o


retrato, em corpo inteiro, de um cavaleiro moço”.

c) “sobre o bufete alguns livros”, “caprichosa elegância portuguesa dos princípios do


século dezassete”.

d) “No fundo, duas grandes janelas rasgadas, dando para um eirado2 que olha sobre o Tejo
e donde se vê toda Lisboa”, “flores”.

3. O primeiro momento, no excerto, vai da linha 13 até à linha 17, "pode-se morrer!" em que D.
Madalena medita sobre a felicidade que o amor, mesmo que seja uma ilusão e dure pouco, pode
proporcionar: "deve ser a felicidade suprema neste mundo."
O segundo momento, iniciado pela palavra "Mas" (linha 17), que indica oposição, revela a
ansiedade e o terror em que a personagem vive e que quer esconder do seu esposo: " Mas
eu!..." até "que desgraça a minha!" (linha 20)

4. D. Madalena faz uma analogia entre a sua situação amorosa vivida com o esposo e a situação
trágica de Inês de Castro, que foi feliz no seu relacionamento, mas acabou por morrer
tragicamente devido ao amor. D. Madalena receia pelo seu casamento e esta reflexão acaba por
ser um presságio negativo para tudo o que se vai passar a partir daqui.

5. O pronome "ele" refere-se a D. Manuel Coutinho, seu segundo e atual esposo.

6. a)1; b)2; c)2

7. c)

Texto B (Leitura e Gramática)

1.1 B; 1.2 B; 1.3 D; 1.4 C; 1.5 A; 1.6 C; 1.7 C

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Grupo II(Escrita)

A - Género/Formato Textual
Escreve um texto de acordo com o género/formato solicitado (texto de opinião):
• explicita o seu ponto de vista;
• fundamenta a perspetiva adotada em, pelo menos, dois argumentos distintos;
• ilustra cada um dos argumentos com, pelo menos, um exemplo;
• formula uma conclusão adequada à argumentação desenvolvida;
• produz um discurso valorativo (desenvolvendo um juízo de valor explícito ou implícito).

B - Tema e Pertinência da Informação


Trata o tema proposto sem desvios e escreve um texto com eficácia argumentativa,
assegurando:
• a mobilização de argumentos e de exemplos diversificados e pertinentes;
• a progressão da informação de forma coerente;
• o recurso a um repertório lexical e a um registo de língua globalmente adequados ao
desenvolvimento do tema, ainda que possam existir esporádicos afastamentos, justificados
pela intencionalidade comunicativa

C - Organização e Coesão Textuais


Escreve um texto bem organizado, evidenciando um bom domínio dos mecanismos de
coesão textual:
• apresenta um texto constituído por diferentes partes, devidamente proporcionadas e
articuladas entre si de modo consistente;
• marca, corretamente, os parágrafos;
• utiliza, adequadamente, mecanismos de articulação interfrásica;
• mantém, de forma sistemática, cadeias de referência através de substituições nominais e
pronominais adequadas;
• estabelece conexões adequadas entre coordenadas de enunciação (pessoa, tempo,
espaço) ao longo do texto. Página 6/6

D - Aspetos de correção linguística


Tipo A
• erro inequívoco de pontuação
• erro de ortografia (incluindo erro de acentuação, erro de translineação e uso
indevido de letra minúscula ou de letra maiúscula)
• erro de morfologia
• incumprimento das regras de citação de texto ou de referência a título de uma
obra
Tipo B
• erro de sintaxe
• impropriedade lexical

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QUESTÃO 1 2 3 4 5 6 7 ST 1.1 1.2 1.3 1.4 1.5 1.6 1.7 ST A B C CL ST TOTAL Class. 1.º 2.º
COTAÇÃO 7+3 10+3 10+3 10+3 3+2 3x2 5 65 13 13 13 13 13 13 13 91 10 10 10 14 44 D* 200 MB 200 200

D*− Limites de extensão


→ Sempre que não sejam respeitados os limites relativos ao número de palavras
indicados na instrução do item de resposta extensa, desconta-se um ponto por cada
palavra (a mais ou a menos), até ao máximo de cinco (1 × 5) pontos, depois de
aplicados todos os critérios definidos para o item.

→ Caso a resposta apresente uma extensão inferior a oitenta palavras, é classificada


com zero pontos.

→ Para efeitos de contagem, considera-se uma palavra qualquer sequência


delimitada por espaços em branco, mesmo quando esta integre elementos ligados
por hífen (ex.: /dir-se-ia/). Qualquer número conta como uma única palavra,
independentemente do número de algarismos que o constituam (ex.: /2023/).

→ Nos casos em que da aplicação deste fator de desvalorização resultar uma


classificação inferior a zero pontos, é atribuída à resposta a classificação de zero
pontos.

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