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A SUPERAÇÃO DO
MAL-ESTAR DECADENTISTA
EM CIVILIZAÇÃO, DE EÇA DE QUEIROZ
Rio de Janeiro
2019
1
Introdução
A postura em análise, usualmente denominada como decadentista e associada aos
poetas do final do século XIX, expressa fortes sentimentos de pessimismo,
melancolia, desilusão e niilismo. Decadentismo envolve mais do que o sentimento
generalizado de decadência, recorrente na história da humanidade; a visão
decadentista revela que apesar de todo o progresso científico e social observável
com o passar do tempo, o homem não teria de fato “melhorado”, e nesse sentimento
de desilusão após a grande aposta no progresso estão enraizadas as dores e
frustrações do decadentista.
Análise
A postura em foco parece ser a mesma trazida por Eça de Queiroz em seu
contro Civilização. O conto nos apresenta uma personagem “saturada” de
civilização, adepta a uma postura de memória pautada na visão decadentista;
deixando a cidade para fazer um passeio no campo, descobre por acaso uma outra
vida, recuperando o “riso” e, em consequência, a própria vida (embora mantenha-se
alienado ao restante mundo).
Eça tece uma narrativa que habilmente explora sentimentos ligados a uma
exaltação do progresso, da civilização — mas, em verdade, questiona esse
comportamento, já que o vê como algo falho, decadente. Desta forma, o autor
assinala a decadência do mundo, mas não assume o manto de decadentista, porque
parece escrever seu conto tendo a esperança em uma potencial mudança.
personagem vão mudando de tom; na cidade, era comum ouvir Jacinto bradar “Que
maçada!”, por exemplo; em seu deslocamento para o campo, encontramos
exclamações elogiosas como “Ah! Que beleza!” (p.27).
Conclusão
Direcionamos nosso olhar então ao fim do conto:
E através das ruas mais frescas, eu ia pensando que este nosso magnífico
século XIX, se assemelharia um dia àquele Jasmineiro abandonado, e que
outros homens, com uma certeza mais pura do que é a Vida e a Felicidade,
dariam como eu, com o pé no lixo da supercivilização, e, como eu, ririam
alegremente da grande ilusão que findara, inútil e coberta de ferrugem.
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Referências
QUEIRÓS, Eça de. A decadência do riso. In: Notas contemporâneas. Lisboa: Edição
Livros do Brasil, sem data.
BAUDELAIRE, Charles. The dandy. In: The painter of modern life and other essays.
Londres: Phaidon Press, 1964. pp. 26-29.