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Os Maias

Obra
Os Maias - Episódios da vida romântica

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Título: integra a intriga principal e secundária Subtítulo: crónica de costumes da segunda metade do século XIX,
(analepse)- referência direta à família fidalga, onde se analisam os comportamentos, hábitos e práticas de um
onde Carlos da Maia é o protagonista e os povo, a fim de denunciar e criticar os seus vícios, incongruências e
acontecimentos que acontecem ao seu redor falhas. Tem como objetivo compreender as “causas da decadência”
dominam o enredo (intriga principal), onde o do povo português.
relato remonta, cronologicamente, décadas antes
Sociedade romântica: membros da sociedade burguesa retratada,
do seu nascimento.
que 1) extravasam paixão, emoção e espontaneidade; 2) mas
É um “romance de família”, em que os 2 capítulos revelam-se parcas em seriedade, organização, equilíbrio, trabalho,
iniciais resumem a vida de 3 gerações de Maias, disciplina, empenho e razão → faltam as qualidades necessárias
no século XIX. para colocar o país na rota do desenvolvimento. É uma sociedade
liberal, dominada pela burguesia e pelos seus valores decadentes.
A relação incestuosa é uma consequência dos
infortúnios e desencontros dos membros da
família.

É um romance: trata-se de uma narrativa longa, em que existe mais do que uma linha
de ação e um número considerável de personagens. Por esse motivo, multiplicam-se os
espaços em que o enredo se desenvolve e a organização temporal torna-se mais complexa.

A representação de espaços sociais e a


crítica de costumes
 Episódio do Jantar no Hotel Central:
TEMA: a literatura, a situação financeira.
INTENÇÃO CRÍTICA: a mentalidade retrógrada
portuguesa.
No Hotel Central, onde jantam Carlos e Ega, e
outras personagens, podemos assistir a uma
discussão literária e às reflexões trocistas sobre a
situação política e económica de Portugal. Nesta
confraternização entre personagens com
formação e relevo na vida nacional (Cohen é
banqueiro e um homem influente; Alencar poeta
ultrarromântico), não só observamos a
indiferença e a insensibilidade perante a
decadência do país, como a incapacidade de
alguns membros da elite lisboeta se
comportarem com civismo e dignidade.
A discussão literária rapidamente cai nos ataques pessoais, sublinhando-se pouca
credibilidade e seriedade da crítica literária.

 Episódio das Corridas no hipódromo (cap. X):


TEMA: a imitação do estrangeiro.
INTENÇÃO CRÍTICA: o provincianismo português, o artificialismo e incapacidade de
organização. É denunciado o culto da aparência da sociedade burguesa e a sua
aspiração de se mostrar requintada e cosmopolita, imitando a realidade das corridas
inglesas. No entanto, o evento revela-se entediante, e os comportamentos artificiais. O
ambiente apenas anima quando o provincianismo lusitano vem à superfície numa cena de
discussão e pugilato que põe a nu a genuína falta de civismo português. Eça constrói este
episódio para chamar à atenção acerca da mentalidade e comportamento da alta
burguesia, onde se percebe um contraste entre o ser e o parecer.
Adicionalmente, este episódio faz uma crítica a Carlos e à sociedade uma vez que o evento
é marcado pela sensaboria motivada pelo facto de as pessoas não revelarem qualquer
interesse pelo evento, pela carência de motivação e vitalidade. Carlos desloca-se às
corridas na esperança de encontrar Maria Eduarda.

 Episódio do Jantar do conde de Gouvarinho:


TEMA: a política e a educação.
INTENÇÃO CRÍTICA: o adultério.
Revela-se a falta de cultura e a mediocridade das suas ideias e das propostas que têm para
o país (conde Gouvarinho). Observa-se a degradação de valores sociais, o atraso intelectual
do país, a mediocridade mental de certas figuras da burguesia.
Assuntos da conversa:
- A “estreiteza” de pontos de vista do conde de Gouvarinho
- A ignorância e falta de inteligência de Sousa Neto
- A incompetência dos políticos
Há 2 conceções opostas sobre a educação das mulheres e observamos a superficialidade
das opiniões de Sousa Neto, que nada sabe do socialismo utópico e nem é capaz de um
diálogo consequente.
 Episódio da corneta do Diabo e A tarde:
TEMA: o jornalismo corrupto e sensacionalista.
INTENÇÃO CRÍTICA: a parcialidade e a dependência política.
Os vícios do jornalismo e a aspiração da burguesia são tratados neste episódio, que
decorrem nas redações dos jornais.

 Episódio do Sarau no Teatro da Trindade:


TEMA: o atraso cultural e a hipocrisia.
INTENÇÃO CRÍTICA: critica ao discurso vazio e retoricamente exuberante, a superficialidade
dos temas de conversa, à futilidade da sociedade burguesa, e à falta de sensibilidade
estética para apreciar o verdadeiro talento, representado por Cruges. A cultura das classes
privilegiadas é pobre e falta-lhes o gosto e a sensibilidade pela arte mais exigente. Em
confronto estão o ultrarromantismo (Rufino) e o realismo (Ega).
Carlos apenas assiste ao sarau para cumprir uma obrigação social (o sarau apoiava as
vítimas das cheias do ribatejo)

 Episódio do passeio final por Lisboa:


TEMA: último diagnóstico do país- o epílogo
INTENÇÃO CRÍTICA: a degradação do país.
Há indícios do diletantismo: quando chegaram a Lisboa notaram que nada mudou, quando
chegaram à conclusão que tinham falhado na vida.
- Sensação total de imobilismo de Lisboa
- O provincianismo da sociedade lisboeta face a Carlos
- aceitação do fracasso e do desencanto por parte dos 2 amigos (o vencidismo)
- Imitação acrítica do estrangeiro
- A decadência dos valores genuínos
Os espaços e o seu valor simbólico e emotivo
São caracterizados pela descrição do real e do papel das sensações, com recurso à
sinestesia
− Espaços físicos:
 Jardim do Ramalhete (Lisboa)
Casa que alberga a família ao longo de várias gerações e que assiste aos seus reveses e
aos momentos trágicos. Corresponde à noção de lar da família na capital.
Antes deste espaço ser habitado, era constituído apenas por um pobre quintal inculto
e abandonado. Depois de ser habitado, o jardim é descrito: tinha um ar simpático,
cheio de flores e estátuas (como a de Vénus Citereia), e fontes. 10 anos depois,
quando Ega e Carlos visitam o espaço: era “limpo e frio na sua nudez de inverno,
tinha a melancolia de um retiro esquecido (…), uma ferrugem verde, de humidade.”
Dado que Maria Monforte surge aos olhos de Pedro como uma deusa, é
possível associá-la à estátua de Vénus Citereia na sua primeira fase. É como se a
presença desta figura feminina fosse sugerida obscuramente no quintal do Ramalhete
simbolizando a possibilidade de uma nova tragédia. Com a vinda de Afonso e de
Carlos para Lisboa, a estátua renova-se passando a simbolizar uma nova deusa que
surge em Lisboa: Maria Eduarda. Apesar de a alegria proporcionada pela nova estátua,
a verdade é que o ambiente de melancolia se mantém parcialmente, sendo sugerido
pela comparação do cipreste e do cedro a dois “amigos tristes” e pela alusão ao
“pranto de náiade doméstica”. É possível pois, considerar que se aponta desta
forma para a presença de um destino funesto, cuja ameaça, mesmo em
momentos felizes, parece estar latente. Quando pratica o incesto, Carlos começa a
sentir alterações na forma como via o corpo de Maria Eduarda: adorado desde
sempre, de repente parecia-lhe como era na realidade, forte de mais, musculoso, de
grossos membros de amazona bárbara, com todas as suas belezas copiosas do animal
de prazer.
 A Toca (Olivais)
Com um nome simbólico e serve de ninho ao amor incestuoso de Carlos e Maria
Eduarda. É um lugar afastado e resguardado do epicentro da vida social de Lisboa, dos
rumores e da maledicência. Espaço de proteção, imune às perturbações do exterior.
Local de transgressão, repleto de elementos que sugerem a sensualidade e a paixão.
Maria Eduarda e Carlos entregam-se à sensualidade, indiferentes a valores
fundamentais representados pelo heroísmo, religião e trabalho.
 Vila Balzac
Acolhe os amores adúlteros de Ega e Raquel Cohen.
 O consultório e o laboratório
Simbolizam o diletantismo de Carlos e da sua geração.

− Espaços sociais:
Ambientes gerados pela interação de personagens e que se propiciam à análise e crítica
de costumes e vícios.
 Santa Olávia
Representa as origens rurais da família, o que lhe confere uma ligação ao campo,
natureza. É onde Afonso cresce e o avô Afonso se refugia.
Simboliza o refúgio e a capacidade de regeneração.
 Coimbra
Onde Carlos estuda, é a cidade que forma a futura classe dirigente do reino. Local da
juventude, formação académica e da vida boémia.
 Lisboa:
Representa o país com todos os seus defeitos sociais.
 Sintra
Vila pitoresca aonde Carlos se desloca no capítulo VIII, na esperança de encontrar
Maria Eduarda.
Simboliza o paraíso romântico e a imoralidade dos costumes.

Adicionalmente, o hotel central, o hipódromo, a casa dos condes de Gouvarinho, as


redações dos jornais A corneta do diabo e A tarde e o Teatro da Trindade.

− Espaços psicológicos:
Forma de representar na narrativa momentos em que o leitor acede, pelo discurso do
narrador, aos pensamentos e aos estados de alma de certas personagens. É um
processo literário privilegiado para dar conta das suas inquietações e tensões interiores.
 Interior do Ramalhete no epílogo
No epílogo, Carlos e Ega visitam o Ramalhete. O primeiro afirma que tinha vivido
pouco tempo naquela casa mas parecia que tinha passado lá uma vida inteira. O seu
amigo refere que se fica a dever ao facto de ter sido naquele espaço que Carlos viveu
a sua paixão. Sendo assim, o protagonista tem uma intensa relação emotiva com este
espaço não só pelo facto de estar associado à sua relação com Maria Eduarda, mas
também pelas recordações que o seu avô (Afonso da Maia) lhe proporcionara. Nesta
medida, a redução do Ramalhete à condição de um depósito de recordações do
passado torna-se muito doloroso, sendo possível interpretar a destruição que neste
espaço se operou como um símbolo da efemeridade da vida. A morte é também
simbolicamente representada neste espaço, devido aos panos brancos que
cobrem os móveis no escritório de Afonso de Maia.
 Exemplos:
Quando Carlos imagina um encontro com Maria Eduarda em Sintra ou quando, após a
morte do avô, fluem na sua mente recordações de Afonso da Maia; Quando, após
Carlos ser informado por Castro Gomes acerca do passado de M. Eduarda, o narrador
representa pelo seu discurso os pensamentos de revolta e angústia do protagonista e
testemunha o sofrimento amoroso; Quando João da Ega descobre sobre o incesto e
reflete sobre o horror da situação, debatendo com a ansiedade por ter de revelar o
que sabe sobre Carlos.
Os temas e a ideologia da obra

− Amor:
Trata-se da força motriz que desencadeia e faz avançar a intriga principal — a relação
sentimental entre Carlos e Maria Eduarda —, mas também do ingrediente que precipita
as personagens para um desfecho desditoso, infeliz: o fim de um amor verdadeiro e de
um projeto de vida a dois, mas também a morte de Afonso. Tema profundamente
realista, o adultério assume uma expressividade considerável neste romance. Estuda-se
literariamente este fenómeno social, revelando como ele se associa à futilidade e à
esterilidade do modo de vida e da mentalidade das classes burguesa e aristocrática bem
como à educação que os seus membros receberam.
Em primeiro lugar, é o amor o responsável pelos sobressaltos da vida de Pedro da Maia:
a saída, em rutura, do lar paterno, a paixão inflamada por Maria Monforte e o seu
suicídio. Aqui emerge outro tópico relevante da narrativa: o adultério, que é praticado
por figuras femininas como a condessa de Gouvarinho, Raquel Cohen e, como vimos,
Maria Monforte.
− Educação:
Condiciona o trajeto de vida de várias personagens do romance, como Carlos, Pedro da
Maia e Eusebiozinho, mas também Maria Monforte e Dâmaso, entre outras. Ao longo
da narrativa, equaciona-se o problema de apurar qual o melhor modelo a seguir para
educar um jovem português do século XIX. (A educação era um tópico de reflexão dos
pensadores da Geração de 70, que acreditavam que ela podia ser a pedra filosofal que
resgataria o povo português do seu atraso e da sua decadência.) Dois modelos de
educação são colocados em confronto: o modelo tradicional português, orientado pelos
valores da fé católica, baseado no estudo teórico e livresco e na aprendizagem do latim;
e o modelo britânico, apologista do exercício físico, do contacto com a natureza, de uma
formação moral sólida e humanista e do estudo das línguas vivas. O modelo de
educação português produz indivíduos de carácter fraco, de condição débil e sem uma
orientação prática para a vida; exemplos disso são Pedro da Maia e Eusebiozinho. Carlos
é educado segundo o modelo britânico, mas falha na vida, ainda que não por causa
deste tipo de educação: são as circunstâncias da sua existência e os condicionalismos
do Portugal em que vive que o tornarão um «vencido da vida». (Desta forma, o
diletantismo — de Carlos, de Ega e da classe dirigente — acaba por constituir outra
questão relevante da obra.) Do que foi dito se depreende que a decadência é outro
tema d’Os Maias. Isto porque o romance procede a uma análise dos aspetos e das
causas da decadência nacional. A análise social empreendida identifica o problema em
vários domínios da sociedade, como a degradação dos costumes e da moral (por
exemplo, a falta de carácter dos portugueses), a incompetência e a indiferença da classe
dirigente (com políticos como Gouvarinho, banqueiros como Cohen), a falta de civismo
da sociedade burguesa (recorde-se o episódio das corridas de cavalos), o
provincianismo, a futilidade, a falta de cultura (lembre-se o Sarau no Teatro da
Trindade), etc. A decadência é política, social, económica, cultural e moral. E as
personagens do romance traduzem a descrença numa regeneração da pátria e das
mentalidades, facto que é ilustrado na conversa galhofeira do jantar no Hotel Central.
− Família:
A própria literatura e as ideias artísticas realistas/naturalistas (mas também as
românticas) constituem questões temáticas que são abordadas por personagens do
romance e problematizadas por Eça de Queirós na composição d’Os Maias, pela forma
como mostra a falência do Romantismo (sobretudo na personagem de Alencar) ou
como questiona a ideologia do Naturalismo (demonstrando que a hereditariedade e a
educação não são fatores que garantam a realização pessoal, o carácter forte e a
prosperidade de um indivíduo). Podemos incluir neste elenco outros temas (ou
subtemas) da obra, que ocuparão uma posição secundária ou subordinada em relação
aos temas principais: o progresso, o jornalismo, o donjuanismo ou o tédio.
− Naturalismo:
Vertente do realismo que se relaciona com o determinismo: apresenta o
caráter/personalidade humana como resultado de 3 condições.

Segundo Eça, o caráter/personalidade de uma pessoa é formado pela: 1)
hereditariedade, 2) educação, 3) meio social.
Radicalismo do realismo, baseando-se na observação fiel da realidade e na experiência,
mostrando que o indivíduo é determinado pelo ambiente.
Caso de Carlos:
→ Geneticamente, Carlos recebeu dos seus antepassados a tendência para o
diletantismo e para o sentimentalismo, desviando-se dos seus ideais e projetos
iniciais. Levou-o para uma dispersão de atividades de caráter lúdico e boémio que
em nada o aproximava da sua vida profissional.
→ A sua educação valorizou apenas a vertente física. Consequentemente, a vertente
espiritual foi descurada, sendo que não lhe foram transmitidos princípios e
valores que lhe permitissem a estruturação de uma “consciência”. Assim, Carlos
evoluiu de idealista para parasita social sem nunca ter tomado uma atitude
impeditiva de tal percurso pessoal. E tal deve-se ao facto de Carlos
conscientemente não ter tido a perceção que evoluía num sentido negativo,
capaz de o destruir ou de o reduzir a uma verdadeira nulidade social.
→ O meio em que se enquadrou Carlos foi uma Lisboa da segunda metade do
século XIX. A capital representava todo o país e pode-se concluir que se
caracterizava pela ociosidade, ignorância e decadência generalizada. Logo, se
Carlos pretendia alterar este meio pela qualidade dos seus projetos e prática
social, acabou por se conformar e deixar influenciar pela apatia que o cercava,
entregando-se à inutilidade e ociosidade que caracterizavam a vida social,
económica e cultural.
− Realismo:
Estética literária que consiste na captação de aspetos/detalhes da realidade e na sua
expressão literária. Como tal, socorre-se do impressionismo (impressões captadas da
realidade), do sensacionismo (diferentes sensações), do detalhe, do pormenor
(enumeração, adjetivação,…). Temas relacionados: jogo, alcoolismo, adultério…
Surgiu em Portugal com a chamada Questão que durou 1865-67. Os seguidores
abandonaram a artificialidade do neocatolicismo e do romantismo, porque sentiam a
necessidade de refletir acerca da vida, problemas e costumes das classes média e baixa.
É caracterizada pela veracidade (demonstra o que ocorre na sociedade sem encobrir ou
deturpar factos), relato fiel das personagens, gosto pelos detalhes, materialismo do
amor, denúncia das injustiças sociais e linguagem simples e clara.
Na obra, Eça não oculta nada acerca dos ditos “podres da sociedade” em que vive →
crónica de costumes.
Nas descrições, realismo  romantismo.
Geração de 70: influenciados pelos modelos europeus, agitaram a consciências e o
poder e legaram às gerações seguintes uma obra inestimável nos diversos domínios da
sua intervenção. Porém, tinham muitos e objetivos e ideias mas não as realizaram → os
vencidos da vida (Carlos e Ega ?)
Questão Coimbrã: É o confronto entre duas conceções de romantismo: confronto entre
os ultrarromânticos que praticavam uma cultura puramente decorativa, e a Geração de
70, que considerava que a literatura devia focar os problemas sociais. Luta pelo
fortalecimento da consciência crítica; a literatura deve ser um fenómeno de intervenção
crítica na vida da coletividade.
Conferências democráticas no casino: realizaram-se na primavera de 1871 numa sala
alugada do casino no Largo da Abegoaria, em Lisboa. Foram incentivadas por Antero de
Quental com o intuito de introduzir Portugal nos assuntos políticos e sociais da Europa.
Na altura, eram constituídas por um grupo de jovens escritores e ex-estudantes de
Coimbra chamados de "grupo do Cenáculo". Objetivos: - Discutir ideias que revelam
preocupação com a transformação social, moral e política dos povos. - Ligar Portugal
com o movimento cultural moderno. - Procurar adquirir consciência dos factos que nos
rodeiam na Europa. - Agitar na opinião pública as grandes questões da Filosofia e da
Ciência Moderna - Estudar as condições de transformação política, económica e
religiosa da sociedade portuguesa.
− Diletantismo:
Ter imensas ideias mas nunca chegar a realizá-las. Confronto entre projetos e realidade,
onde são afetas pelo meio diletante e ocioso que os rodeia.
Exemplo- João da Ega: diletante, contraditório, excêntrico, exagerado. → vencido da
vida; devido ao meio decadente e diletante pelo qual a personagem acaba por ser
infetada, levando uma vida boémia, perdendo-se na indolência e no prazer da vida.
Logo, Ega é a projeção literária de Eça.
Exemplo- Carlos da Maia: uma pessoa cheia de projetos e objetivos profissionais,
interessando-se por inúmeras coisas, o que levará à ausência de realização.
(consultório, laboratório, a revista e o livro “Medicina antiga e moderna”).
Fatores que levaram Carlos a tornar-se diletante:
→ Hereditariedade: a fraqueza do pai fez com que Carlos optasse pelas decisões
mais fácies
→ Meio social: sociedade parasita, ociosa, fútil e sem estímulos.

Simboliza a incapacidade de regeneração da geração de 70.

− Dandismo:
Gosto pela arte e literatura, obsessão pela classe, irresponsabilidade.
Surgiu durante o romantismo como reação aos sentimentos de frustração e ceticismo,
traduziu-se numa atitude existencial de distanciamento e refúgio num mundo
esteticamente confortável e elegante.
Exemplo- Dâmaso Salcede.
− Anticlericalismo
Representado por Afonso, que se opõe à educação tradicional portuguesa baseada na fé
cristã

Narrador

− Presença: heterodiegético- o narrador não é personagem do romance e relata os


acontecimentos na 3ªpessoa
− Focalização/ciência:
 Omnisciente, nos 2 primeiros capítulos (analepse): tem um conhecimento total dos
factos; permite alguma distância do narrador em relação aos acontecimentos.
 Focalização interna, a partir do capítulo IV: os acontecimentos são representados
através do ponto de vista de uma personagem, com os seus valor e a sua visão crítica
(a maior parte é através da perspetiva interna de Carlos, ou então de Ega, nos jornais
e no sarau)
− Posição: subjetivo
(ver pg 14 e 15 da ficha informativa)

Linguagem e estilo
A prosa revela-se admiravelmente versátil e maleável. Por outro lado, atinge rasgos de
grande beleza com construção frásica elegante e cuidada. Ainda por outro lado, sobretudo na
reprodução das falas das personagens, recorre-se aos registos de uma fala familiar e corrente,
ocasionalmente ao calão.

Na “reprodução do discurso no discurso”, o discurso direto e o discurso indireto livre


revelam-se estratégias do gosto da literatura realista na medida em que se colocam as
personagens em interação de forma a exporem-se através do que dizem e a denunciarem o
seu caráter.

NOTA: Discurso indireto livre: o narrador conta a história e apropria-se das palavras das
personagens, normalmente com frases exclamativas. Ver pg 242.

Recursos expressivos/linguagem

→ Ironia: serve de crítica social, pois este recurso confere leveza, encanto e humor à
narrativa; revela-se adequada para denunciar contradições, incongruências e as falhas
das personagens e dos comportamentos socias;
→ Comparação e metáfora: formas de caracterização insultuosa ou traduzem, de forma
admirável, os estados de alma humana.
→ Hipálage: recurso expressivo que consiste na transferência/transposição de
aspetos/características de uma personagem para algo com ela diretamente relacionado.
Exemplo: “Fumando um pensativo cigarro”- é Carlos que está pensativo, não se trata de
uma personificação do cigarro.
→ Uso expressivo do adjetivo e do advérbio: O adjetivo pode ser usado de forma
surpreendente associando-se a elementos a que não se ligava semanticamente.
Nesses casos projeta na frase a subjetividade e o juízo do enunciador (narrador ou
personagem). Os casos de adjetivação dupla revestem-se de particular significado,
sobretudo quando os adjetivos contrastam entre si o concreto e o abstrato, o físico e o
psicológico, etc. O advérbio tem uma presença inesperada pois tal como o adjetivo
corresponde a um comentário ou constatação do enunciador; noutras situações
desencadeia um efeito humorístico.
→ Sinestesia: exprime uma mistura de sensações visuais, táteis e auditivas.
→ Verbo: Marca de texto queirosiana → verbo + gerúndio/ advérbio de modo

 verbos de evocação zoomórfica, para ridicularizar

→ Estrangeirismos/ empréstimos: traduzem a pretensão das personagens em exibir um


requinte, modernidade e um cosmopolitismo que acabam por ser artificiais- jogo das
aparências da burguesia.
→ Diminutivo: expressão de afeto ou utilização irónica para depreciar ou ridicularizar
alguém. Participa na atitude trocista do narrador e de personagens na critica de costumes.
→ Discurso indireto livre: o narrador conta a história e apropria-se das palavras das
personagens, normalmente com frases exclamativas. Ver pg 242.

O tempo

− Tempo da história/cronológico
Sucessão cronológica dos acontecimentos narrados. A narrativa inicia-se em 1820 e
termina em 1887, mas a intriga principal vai de 1857 a 1877.

− Tempo do discurso
Forma como o tempo da história é trabalhado ao nível da narrativa:
- Analepse: juventude e casamento de Afonso, vida de Pedro e infância e estudos
universitários de Carlos. Permite conhecer os antepassados do protagonista e contextualiza
a época que precede os acontecimentos da intriga principal e crónica de costumes.
- Isocronia: tempo da narração=tempo da ação. Usada em episódios da crónica de
costumes para simular que se mostram “em tempo real”

- Anisocronia: tempo do discurso<tempo da história; onde os eventos narrados são


comprimidos. Analepse, prolepse, elipse, sumário. Narração de factos de menor relevo.
Nota: a elipse é usada para transmitir a ideia de passagem do tempo.

− Tempo psicológico
Representa a forma como o tempo é percecionado e vivido pelas personagens.
Nos episódios de crónica de costumes, o recurso à isocronia transmite-nos a ideia do
prolongamento psicológico do tempo, o que evidencia uma existência monótona que
sugere a inércia e a decadência da sociedade portuguesa.

A ação

a)
b)
c)
d)
e)
f)

Inicia-se em 1875
a)
b) dez

Setas ascendentes: indicam a cronologia do narrado.

Curvas a tracejado: indicam, de modo preciso, as analepses completivas ou repetitivas. Nestas


últimas, evocam-se em atitude nostálgica, reflexiva, figuras ou situações já conhecidas.

(adicionar coisas da página 13 da ficha informativa)

Níveis da ação:

Intriga (associada ao título) Crónica de costumes (associada ao


subtítulo)
Intriga principal- Intriga secundária- - jantar no Hotel Central
relação relação Pedro/Maria - as corridas de cavalos no hipódromo de
Carlos/Maria Monforte Belém
Eduarda  - o jantar dos condes de Gouvarinho
Analepse - a visita aos jornais da Corneta do Diabo e A
Tarde
- o sarau no teatro da Trindade
- o passeio final de Carlos e Ega
− Paralelo entre intriga principal e secundária

Intriga secundária Intriga principal


Quando Pedro vê Maria Monforte, esta Quando Carlos vê Maria Eduarda, esta
afigura-se-lhe como “alguma coisa de parece-lhe também divina
imortal e superior à Terra”
Pedro casa-se com Maria Monforte contra a Carlos passa longos períodos na “Toca”,
vontade de Afonso, dado que ela era filha de pensa em casar com ela e em fugir, mas não
um negreiro concretiza estes planos por temer o desgosto
do avô
Maria Monforte foge com Tancredo Carlos descobre que ela é sua irmã
Pedro suicida-se Carlos pensa em suicidar-se, mas parte para
Paris entregando-se a uma vida vazia
Segundo Vilaça, o desgosto de Afonso não O desgosto causa a morte de Afonso.
lhe permitirá viver muito, mas o amor pelo
neto fá-lo renascer

− Intriga trágica

Peripécia/anagnórise Revelação da relação de parentesco entre


Carlos e Maria Eduarda feita por Vilaça e Ega
Hybris/clímax Carlos é incapaz de resistir à paixão que
sente por Maria Eduarda e comete incesto
voluntariamente: infringe as leis divinas e
humanas
Catástrofe Afonso morre e Carlos e Maria Eduarda
separam-se para sempre
incesto Conhecem-se → amam-se → reconhecem-
se → separam-se
Papel do destino, fatalidade Inevitabilidade do destino
Indícios/presságios Sinais disfarçados da força do destino

Personagens (modeladas)
→ Afonso da maia
Psicológico: duro, clássico, paciente, altruísta, risonho, individualista.
Mostra alguns traços de diletantismo (inércia): assume uma atitude crítica em relação a
Portugal, no entanto, nada faz para alterar a sociedade.
Casa com Maria Eduarda Runa, cujo filho (Pedro) foi educado de acordo com o método
tradicional português, contra a vontade de Afonso
A sua GERAÇÃO representa o liberalismo e o romantismo, era um admirador de D.
Miguel; associado a um passado heroico, incapacidade de regeneração do país, modelo
de autodomínio.
Morre de apoplexia no jardim do Ramalhete, na sequência do incesto dos netos.
É o mais simpático e valorizado para Eça.
→ Pedro da maia
Protótipo do herói romântico.
Psicológico: nervoso, crises de melancolia, sentimentos exagerados, instável
emocionalmente: herda as características da mãe
Educação tradicionalmente portuguesa- romântica (a sua natureza também foi
desequilibrada pelo meio em que viveu, romantismo)- pela vontade da mãe. Torna-o
num ser apático, passivo e nervoso. Sente um amor quase doentio por ela, pelo que
quando a mãe morre entra em loucura.
→ Maria Monforte
Protótipo da cortesã, leviana (foge com Tancredo), sem preocupações culturais ou
sociais.
Psicológico: personalidade fútil mas fria, caprichosa, cruel, interesseira e manipuladora.
Influenciada pelo meio romântico.
Conhecida em Lisboa por “a negreira”, porque o seu pai enriqueceu transportando
escravos.
Nota: Tancredo é morto num duelo, leva uma vida desgraçada em Paris, acabando por
precipitar a filha na desgraça.
→ Carlos da Maia
Educado à inglesa pelo precetor inglês Sr. Brown.
Sai de Santa Olávia para estudar medicina em Coimbra, viajando depois pela Europa.
Quando volta para Lisboa traz planos grandiosos de pesquisa e curas médicas, que
abandona ao cair na inatividade porque, em Portugal, um aristocrata não é suposto ser
médico. Acaba por ser absorvido por uma vida social e amorosa (condessa de
Gouvarinho e depois Maria Eduarda) que levará ao fracasso das suas capacidades e à
perda das suas motivações.
Naturalismo: transforma-se numa vítima da hereditariedade (beleza e gosto exagerado
pelo luxo, herdados pela mãe, e pela tendência para o sentimentalismo, herdada do
pai) e do meio em que se insere, mesmo apesar da sua educação inglesa e da sua
cultura, inteligência e requinte. (apoiado pelo avô).
Ao longo da crónica de costumes, assume uma atitude crítica e irónica em relação à
sociedade, mostrando a sua superioridade.
Acaba por assumir que falhou na vida, tal como Ega, pois a ociosidade dos portugueses
acabaria por contagiá-lo, levando-o a viver para a satisfação do prazer e dos sentidos e a
renunciar ao trabalho e às ideias pragmáticas que o dominavam quando chegou a
Lisboa.
Simboliza a incapacidade de regeneração do país a que se propusera a Geração de 70.
Não teme o esforço físico, é corajoso e frontal.
Características trágicas: atitude de herói trágico (comete uma transgressão, ao cometer
incesto voluntariamente); caráter excecional e superior, em termos de educação e
beleza.
→ Maria Eduarda
Inteligente, culta, forte, sensata e caridosa. De acordo com o modelo de beleza
petrarquista.
Apesar de a leviandade da mãe a ter levado a viver com Mac Gren sem se ter casado e
ter sido obrigada, para sustentar a filha, a tornar-se amante de Castro Gomes, nunca
perde a sua dignidade. Herda de Afonso a capacidade de se compadecer dos mais
fracos.
Aquando da revelação do incesto, reage mais uma vez com dignidade, partindo para
paris.
→ João da Ega
Projeção de Eça pela ideologia literária, usando também um monólogo.
Excêntrico, denunciador de vícios, romântico e sentimental.
Amigo inseparável e confidente de Carlos, assumindo uma atitude crítica em relação à
sociedade portuguesa. Porém, ao contrário de Carlos, Ega não assume uma pose de
distanciamento altivo ao observar a decadência de Portugal, mas uma atitude sarcástica
e provocadora, fazendo troça das instituições e das figuras mais respeitadas.
Instalou-se no Ramalhete e mantém uma relação com Raquel Cohen, mulher de Cohen,
mas é profundamente humilhado quando o banqueiro descobre o adultério.
Tal como Carlos, tem grandes projetos (a revista, livro, peça) mas nunca chega a realizar.
É também um falhado, influenciado pela sociedade lisboeta decadente e corrupta.
É a Ega que Guimarães dá o conhecimento sobre o parentesco entre Carlos e Maria
Eduarda, caindo numa difícil decisão ao que fazer com essas revelações. Faz a revelação
trágica a Vilaça (que contará a Afonso) e a Maria Eduarda.
Nos últimos 4 capítulos ganha uma certa densidade psicológica e passa a desempenhar
um papel muito importante na intriga- sabe das revelações dos irmãos.
A sua vida psicológica manifesta-se pelos monólogos interiores.
No fim assume que fracassou na vida.

− Personagens-tipo
Personagens que representam qualidades ou defeitos de uma classe social.
→ Eusebiozinho
Educado de acordo com o modelo da educação tradicional portuguesa, tornando-se
numa criança passiva e pouco saudável. Na idade adulta, é um homem fraco, dissoluto,
cobarde e hipócrita.
Representa a educação retrógrada portuguesa.
Estuda direito em Coimbra.
→ Tomás de Alencar
Símbolo do ultrarromantismo. Representa a incapacidade de adaptação à “ideia nova”
(realismo), ou seja, insurge-se contra o realismo e o naturalismo, entrando em conflito
com Ega no jantar do Hotel Central.
Figura alta, magra e pálida, invariavelmente vestido de preto. Era amigo de Pedro.
Ironicamente, quando Carlos volta a Lisboa, verifica que ele e Ega tornam-se amigos, na
medida em que o poeta era dos poucos que se mantiveram honestos e genuínos no
contexto de uma sociedade cada vez mais decadente.
→ Dâmaso Salcede
Anti-herói, que faz ressaltar, por contraste, as qualidades de Carlos: é adulador,
cobarde, ignorante, pouco inteligente, materialista, hipócrita, com falta de caráter,
exibicionista, presunçoso. Sobrinho de Guimarães.
Representa o novo-riquismo, provincianismo português, o “podridão” das sociedades.
A admiração excessiva que nutre por Carlos, e que o leva a imitá-lo em tudo o que faz,
oscila com a inveja que sente dele, e que o leva, quando rejeitado por Maria Eduarda, a
encomendar a publicação de um artigo difamatório n’A Corneta do Diabo.
→ Conde de Gouvarinho
Representa os políticos ignorantes, pouco inteligentes e incompetentes.
A sua ridicularização é acentuada pela admiração que tem por Carlos, ignorando que
este mantém uma relação amorosa com a sua mulher.
→ Condessa de Gouvarinho
Representa as figuras femininas pertencentes à burguesia que casaram para adquirir um
título nobiliárquico.
Traí o marido com Carlos, que acaba por perceber que ela é uma mulher sem qualquer
interesse e fútil.
→ Sousa neto
Representa os altos funcionários públicos.
É inculto, pouco inteligente e de horizontes limitados. Defende a imitação do
estrangeiro.
→ Palma Cavalão
Representante do jornalismo sensacionalista, é diretor d’A Corneta do Diabo.
Corrupto, hipócrita, adulador e ganancioso.
→ Neves
Representa a promiscuidade entre a política e o jornalismo, na medida em que é
simultaneamente deputado e diretor do jornal A Tarde.
É calculista e tendencioso, publicando artigos de acordo com os seus interesses
políticos.
→ Steinbroken
Representa uma diplomacia marcada por uma atenção excessiva ao protocolo e pelo
receio de se comprometer ao exprimir opiniões. Político neutro, que nunca se
compromete.
Diplomata da embaixada (ministro da Finlândia) com um cargo elevado.
→ Cruges
Representa a exceção na mediocridade da sociedade portuguesa e a incompreensão a
que a sociedade votada, pela sua ignorância, alguns artistas. É idealista e excêntrico.
Apesar do fiasco no sarau do Teatro da Trindade, o seu valor acaba por ser reconhecido.
Um dos poucos que é moralmente correto.
Maestro talentoso
→ Craft
Representa a formação e mentalidade britânicas.
O facto de ser inglês leva-o a assumir uma atitude semelhante à de Carlos em relação à
sociedade: ostenta uma altivez crítica, refinamento estético, colecionador de obras de
arte.
→ (Jacob)Cohen
Judeu, diretor do Banco Nacional.
É hipócrita, na medida em que critica o país por estar a caminho da bancarrota mas,
apesar do cargo que ocupa, não parece empenhado em alterar a situação.
→ Raquel Cohen
Mulher sensual e leviana, amante de Ega. Quando o adultério foi descoberto pelo
marido, este espancou-a.
→ Rufino
Representa a retórica vazia e a mentalidade conservadora que agrada à sociedade
portuguesa.
Bacharel transmontano.
→ Guimarães
Personificação do destino.
→ Reverendo Bonifácio
Representa a intimidade, privacidade e atmosfera pacífica do lar.
Marca a condição social elevada das personagens.
Salienta o ponto de vista irónico do narrador perante o estranho quadro do gato a
comer à mesa.

Intriga amorosa

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