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H eterónimos Fernando Pessoa

Alberto Caeiro
➔ É um poeta bucólico de espécie complicada.
➔ Considera-se um antimetafísico, uma vez que recusa
qualquer tipo de intelectualização.
➔ Cria a sua própria filosofia, criando assim uma contradição.
◆ A sua filosofia está ligada à natureza, ou seja, quer ser
parte integrante da natureza. Vê a natureza em
constante mudança.
◆ É um poeta bucólico, que vive no campo, em constante
contacto com a natureza.
➔ Dá primazia à visão, considerando o “olhar” e o “ver” coisas
distintas. Para ele, a visão é o seu sentido da vida, logo os seus
desejos podem ser realizados.
➔ É o poeta da objetividade, do concreto.
➔ Recusa o pensamento, para que as imagens não sejam
deturpadas. É assim visto como o poeta do olhar, Caeiro procura
ver as coisas como elas são, sem ter que lhes atribuir significado
ou sentimentos humanos.

A comunhão com a natureza:


➔ É a integração na natureza;
➔ A identificação com os elementos naturais;
➔ O paganismo (presença da divindade no mundo natural,
mãe natureza);
➔ A poesia deambulatória pelos campos.

Caeiro surge como o mestre de Pessoa, que ensina a não pensar,


pois “pensar é não compreender”. Assim, há uma total recusa do
pensar, o que conduz à valorização do sentir. Ele alcança isto
através de cincos principais características:
➔ Bucolismo - contacto com a natureza a fim de com ela
estabelecer uma relação harmoniosa, perfeitamente integrado
nos seus ritmos e aceitando-os (comunhão com a natureza).
➔ Deambulismo - relação direta com os elementos naturais,
ciclo de vida.
➔ Sensacionismo - privilégio dado às sensações, a visão como
sentido primordial, capaz de aprender o real com maior
objetividade.
➔ Objetividade - Esforçar-se por ter um olhar ingénuo, como o
de uma criança.
➔ Atitude antimetafísica - evita conhecer ou adivinhar o
sentido oculto das coisas. Atitude voltada para o exterior, longe
das especulações metafísicas (análise e interpretação).

O poeta vive do presente, sem pensar no passado nem


perspetivar o futuro. Desta forma, evita sentimentos
perturbadores como a nostalgia ou a angústia. Apesar de
defender essa filosofia, o Mestre entra numa contradição porque
pensa. Ele recusa qualquer tipo de pensamento, mas para
contrariar a filosofia e o ato de pensar, o poeta filosofa, já que ao
afirmar que não pensa, ele acaba por pensar.

Linguagem e estilo
➔ Tom simplista, familiar, objetivo e coloquial.
➔ Utiliza versos longos e a irregularidade estrófica e métrica
são facilmente perceptíveis.
➔ Está muito presente a utilização de vocabulário do campo
lexical da natureza.
➔ A forma como ele escreve é reflexo da defesa da
espontaneidade e da simplicidade, deixando transparecer uma
aparente despreocupação.

Ricardo Reis
➔ É, dos três principais heterónimos, o mais clássico.
➔ Tem uma grande inspiração nos filósofos e poetas
greco-latinos.
➔ Latinista por educação alheia, e um semi-helenista por
educação própria, Reis, assume-se um epicurista e estoicista.
➔ Escreve principalmente odes e faz uma exortação, ou seja,
enaltece um determinado estilo de vida.
➔ Na sua poesia, tanto os homens como os deus se submetem
ao fado (destino).
➔ A sua vida está assente em duas filosofias:
◆ Estoicismo - defende que para viver a vida com
serenidade, devemos aceitar o destino. viver em
conformidade com as leis do destino.
- Indiferença perante as emoções;
- Apatia - aceitação do poder do destino;
- Atitude de abdicação;
- Segue o carpe diem horaciano, ou seja, é a
satisfação de aproveitar o dia e os prazeres do
momento presente.
◆ Epicurismo - preconiza a vivência do momento tendo
em conta a efemeridade da vida e a inevitabilidade da
morte. Consiste na busca de tranquilidade e ausência
de perturbação.
- Procura da felicidade relativa;
- Busca do estado de ataraxia (tranquilidade de
alma ou ausência de perturbação. Equilíbrio
emocional);
- Moderação e simplicidade nos prazeres;
- Fuga às sensações extremas e recusa das
emoções fortes (e, por extensão, à dor);
- Aceitação da efemeridade da vida;
- Indiferença face à morte;
- Atitude contemplativa.
◆ A consciência e encenação face à morte:
● Consciência da efemeridade da vida;
● Aceitação da transitoriedade da existência
(vivemos pouco tempo);
● Contemplação dos elementos naturais, como o rio
ou das flores, e analogia com a vida.

Reis vive o tormento e a angústia devido à consciência da


brevidade da vida, da fugacidade do tempo e da ameaça do
Fatum, a passagem do tempo altera as coisas e conduz o homem
ao seu destino fatal. Assim, como clássico que é, acredita no
poder e na superioridade do Destino, implacável e ameaçador
face aos Deuses e ao Homem.
Então, para minimizar a dor e a angústia, procura e encontra
nos clássicos uma forma sábia de viver a vida, em busca da
tranquilidade, através do epicurismo (evitar a dor e a
perturbação), e consequentemente, o carpe diem (aproveita o
dia/momento). Para além disso, destaca-se o gosto pela fruição
da natureza, numa atitude serena e contemplativa. Mas, para Reis,
esta forma de ver e viver a vida não é suficiente, pois sabe que ela
é efémera/passageira. Por isso, de acordo com o estoicismo, Reis
vive a vida como uma simples encenação da morte (Lema -
Sustine et abstine (Aguenta e abstém-te). Assim, Reis segue
“normas” de vida para atingir a ataraxia (momento de relativa
felicidade e de tranquilidade interior).
Para se defender do medo da morte, Reis procede a uma
verdadeira encenação da morte, que se baseia na aceitação e
submissão voluntária a um destino involuntário, sem um
queixume.
➔ Aceitação e resignação face ao Destino, que é impossível
mudar e nem é desejável querer mudá-lo;
➔ Autodisciplina, o pensamento deve ser o princípio
orientador e controlador dos impulsos e emoções;
➔ Abdicação e indiferença a tudo o que possa provocar
perturbação, como amores, ódios, paixões ou invejas;
➔ Renúncia ao prazer e à vida social, aos bens efémeros que
prendem a alma e são causa de desequilíbrio.
O paganismo de Reis não é instintivo como o de Caeiro. O do
primeiro assenta-se numa ideologia classicista que lhe permite
elevar-se acima do cristianismo e assumir, perante este, uma
atitude de desprezo. Como tal, é designado de neopaganismo.
Neste sentido, este heterónimo afirma-se crente nos deuses, que
estão acima dos homens, mas acima dos dois está ainda o
destino.
Tenta assumir a postura dos deuses, adquirindo, através de um
exercício de autodisciplina, a calma e a indiferença, face a um
destino já traçado e inexorável.

Linguagem e estilo
➔ É característica, destacando-se os demais heterónimos pelo
seu estilo trabalhado e rigoroso para assuntos elevados,
regularidade estrófica e métrica - ode (predomínio de versos
hexassilábricos e decassilábicos).
➔ Devido à sua grande influência do latim, utiliza uma
linguagem culta e alatinada (arcaísmos e vocabulário
erudito;
➔ Predomina as anáforas;
➔ Tom moralista.
Álvaro de Campos
➔ É o heterónimo que mais se identifica com Fernando Pessoa
ortónimo, muitas vezes coincidindo com temas como a dor
de pensar e a nostalgia da infância.
➔ É o poeta da modernidade, é um ser cosmopolita,
vanguardista e citadino, que, na sua primeira fase, celebra o
mundo e a sociedade moderna como um todo e a sua
evolução.
➔ Apresenta duas fases fundamentais, a primeira sendo a fase
futurista/sensacionista e, posteriormente, uma fase
decadente, intimista, de grande reflexão e nostalgia.
◆ Futurismo - a primeira destas fases é uma apologia à
civilização tecnológica e industrial, um elogio à força,
energia, movimento e velocidade, e, principalmente,
uma exaltação do presente, e como diz o próprio, o
presente engloba tudo, engloba o que se passou no
passado relacionando-se com o que se vai passar no
futuro (fusão do passado e do futuro num só tempo, o
momento), afastando-se assim dos demais futuristas.
Para além disso, há uma experiência exagerada e
excessiva das sensações, muitas vezes sádica e
masoquista, o que é reflexo da sua euforia emocional e
do seu tom exaltado e entusiástico, O “eu” quer sentir
tudo de todas as formas possíveis.
◆ Intimismo - após toda e euforia e exaltação, o “eu” fica
num tom introspetivo, pessimista e depressivo, num
tédio existencial e numa consciência profunda de si
mesmo, de desajusta face aos outros e da passagem
do tempo. De forma a combater esta reflexão interior,
ele recua ao passado, ao tempo da infância que é
símbolo de conforto, inconsciência e felicidade, mas,
em contrapartida, ganha consciência da perda
irrecuperável do tempo da meninice.

Num primeiro momento, o “eu” canta a modernidade em todas as


suas vertentes, constituindo assim o imaginário épico. É através
do arrebatamento do seu canto (forma de ode e linguagem e
estilo eufóricos e a admiração do real. Estilo grandiloquente, tom
febril e abundância de recursos expressivos) que a matéria épica
surge: a civilização industrial, da técnica, da violência e do
excesso da vida urbana e moderna.
O estado emocional manifesta-se no canto exaltado, eufórico,
febril, reflexo da agitação e do dinamismo, da força e do rodar da
máquina, símbolo do progresso. Grita a vontade de “sentir tudo de
todas as maneiras”, o desejo de identificação com o mundo
exterior e exalta o presente projetado no futuro, mas, ao
experienciar, febrilmente, a sensação de sentir a vida moderna
com tanta intensidade e excesso, Campos “esgota-se”, cai na
apatia e rende-se ao cansaço, formando assim o segundo
momento de devaneio e consciência.
Campos é incapaz de se integrar na vida moderna e de se deixar
fascinar por ela, onde entra no devaneio, numa aguda
consciência de si mesmo e da passagem do tempo, o que conduz
a uma contínua reflexão existencial. É o momento do cansaço, da
angústia, da dor de pensar e do tédio existencial. Por isso, tal
como Pessoa ortónimo, o passado da infância surge como uma
forma de minimizar a aguda dor de existir, uma forma de evasão à
vivência disfórica e solitária. Contudo, essa tentativa falhada de
ser outra vez menino só lhe desperta mais sentimentos
perturbadores, como a saudade e a nostalgia da infância
irremediavelmente perdida.

Linguagem e estilo
➔ Apresenta um estilo completamente diferente dos outros
dois heterónimos, sendo que os seus poemas podem ser
caracterizados como intensos repetitivos, de ritmo rápido e
linguagem exuberante e, crucialmente, pontuação emotiva.
➔ Para exprimir isto tudo, há uma grande irregularidade
métrica e estrófica.

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