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1.2. Personagens
Tomás de Alencar: totalmente identificado com o valor do romantismo,
hipersensível e soturno. Tudo nele é caricato e exagerado – “langoroso”,
“plangente”, “turvo”, “fatal” – denuncia a feição sentimental e pessimista do
Romantismo, bem como a sua atitude poética declamatória e teatral. Alencar
vale mais como representante de uma mentalidade de certo modo
generalizada do que como personagem individualizada e isolada.
Conde Gouvarinho: também nele se contradiz o ser e o parecer.
Representante da alta política e do poder instituído e responsável pelos
destinos de um povo progressivamente decadente. Sintetiza as limitações
fundamentais dos políticos do constitucionalismo: a retórica oca, as
referências culturais de terceira categoria, a falta de visão histórica, a vaidade.
Craft: representa o temperamento e e a formação vital britânica. Manifesta
um certo distanciamento e superioridade relativamente ao meio social em que
se insere. Reage sempre fleumaticamente aos exageros das reacções das
outras personagens.
1.3. Intencionalidade
O narrador revela-nos que a oposição entre o Romantismo e o Realismo
assenta fundamentalmente entre uma vigorosa análise social de grande
receptividade junto do público e uma escola poética formal, solene e
pomposa.
Este episódio representa o esforço frustrado de uma camada social para
assumir um comportamento digno e requintado. Só que a realidade vem
rapidamente ao de cima: as limitações culturais e morais não se ocultam com
ementas afrancesadas e ambientes sofisticados, com divãs e camélias.
Denuncia-se o cinismo e calculismo na discussão financeira do país, a miopia
histórica de Alencar, a denúncia do adormecimento do país.
2. As corridas de Cavalos
Neste episódio, voltamos a encontrar muitas das personagens, em especial
Dâmaso Salcede, o obcecado com o “chique a valer”.
As corridas representam mais um esforço desesperado de cosmopolitismo,
mas imitando o estrangeiro, o que é, sintomaticamente, reprovado por Afonso
da Maia;
Mais um momento em que se lança uma visão panorâmica da sociedade
lisboeta, incluindo o próprio rei.
O ponto de vista é mais uma vez o de Carlos e o de Craft.
O cenário, em lugar de evidenciar a exuberância e o colorido normais nestes
acontecimentos mundanos, denota um provincianismo inegável, agudizado
pela falta de motivação e de vitalidade do público e pelo desinteresse geral.
Também neste episódio volta a haver uma desordem, mesmo junto da tribuna
real, devido a um resultado duvidoso.
4. A imprensa
É sintomático o facto de à degradação ética de jornais como A corneta do
diabo e A tarde corresponder um “cubículo, com uma janela gradeada por
onde resvalava uma luz suja de saguão” (p. 540) e uma entrada mal cheirosa:
“dentro do pátio desse jornal elegante fedia” (p. 571)
Aqui se patenteiam os vícios mais degradantes do jornalismo nacional: é a
parcialidade que leva o diretor (deputado e político) a recusar a carta de
Dâmaso, porque o confunde com um correlegionário, para depois a aceitar
como meio de vingança política; o esforço de um redator medíocre para
escrever um artigo sobre o Craveiro, por este ser um rapaz do partido; a
dependência política da imprensa
4.1. Personagens
a. Palma Cavalão: figura ligada ao meio jornalístico lisboeta e aos seus processos
de trabalho. Surge a acompanhar Eusebiozinho, em Sintra, gabando-se do seu
talento especial para lidar com espanholas. Aceita ser pago para apimentar o
artigo difamatório sobre Carlos, mas aceita igualmente ser pago para
suspender a sua publicação e para revelar quem lho encomendou. Em resumo,
a sua ação pauta-se pelas conveniências do momento.
5.1. Personagens
a. Cruges: amigo de Carlos, revela “uma pontinha de génio”, o que não podia ser
mais contrário ao ambiente de Lisboa. Assim, para além do seu temperamento
tímido e desinteressado dos hábitos mundanos, Cruges surge marcado pelos
condicionalismos do meio lisboeta: a música nunca composta, por não haver
quem a escute, o desinteresse do público neste episódio.
6. Passeio final
O passeio de Carlos e Ega representado nas últimas páginas do romance tem lugar
depois de dez anos de ausência, isto é, depois de um lapso de tempo suficiente
para acentuar a decadência anteriormente observada.
De novo confrontado com o espaço da capital – espaço físico e social – Carlos
começa por se aperceber da atmosfera de estagnação que parece envolver a
estátua de Camões, que representa um Portugal passado, um tempo histórico de
florescimento e epopeia. Os vadios, os políticos ociosos representam o Portugal do
presente, a época do liberalismo frustrado e da crise de identidade nacional.
Carlos verifica que, se houve evolução, foi no sentido negativo (Dâmaso está ainda
pior; Eusébiozinho está mais fúnebre)
Simbolismo do monumento dos Restauradores. Esse, pretendendo simbolizar um
esforço de renovação nacional, acaba por ser mais uma tentativa frustrada,
porque o cenário envolvente desmente esse fôlego.
Importação cultural estrangeira, mas sem sentido crítico.
Esvaziamento da identidade nacional, em grande parte provocado pela errónea
interpretação de modelos e esquemas culturais alheios
Vestígios inegáveis do sentimento de pessimismo que tomam Carlos e Ega.