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Eça, juntamente com outros, surgiam com novas ideias e esta geração rebelou-se
contra a ordem conservadora e retrógrada, pondo em questão toda a cultura
portuguesa.
A década de 70, do século XIX, foi uma das mais polémicas da história da
literatura nacional, marcada por profundas revoluções, nomeadamente, o
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Uma vez que Os Maias demoraram cerca de oito anos a serem escritos,
permitiram estar visíveis duas correntes literárias: Realismo e o Naturalismo. No
final parece distanciar-se já delas, quando elege o destino como responsável pelo
desenlace trágico da família.
Temas do Realismo:
Temas do Naturalismo:
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2. Título
A ação baseia-se na história de três gerações da família Maia: Afonso, Pedro
e Carlos.
Tem como tela de fundo a sociedade Lisboeta, de grande parte do século XIX.
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4. Os espaços
a. Espaço físico
Os espaços físicos levam-nos a concluir que são muito importantes, uma vez que
nos permitem concluir o modo de vida e as características das personagens. Eis
os espaços físicos:
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b. Espaço social
O espaço social é apresentado mediante os espaços onde as personagens se
movimentam:
—Très chic.
Em cima, no gabinete que o criado lhes indicou, Ega esperava, sentado no divã
de marroquim, e conversando com um rapaz baixote, gordo, frisado como um
noivo de província, de camélia ao peito e plastrão azul celeste. O Craft conhecia
o; Ega apresentou a Carlos o sr. Dâmaso Salcede, e mandou servir vermute, por
ser tarde, segundo lhe parecia, para esse requinte literário e satânico do absinto...
Fora um dia de Inverno suave e luminoso, as duas janelas estavam ainda abertas.
Sobre o rio, no céu largo, a tarde morria, sem uma aragem, numa paz elísia, com
nuvenzinhas muito altas, paradas, tocadas de cor de rosa; as terras, os longes da
outra banda já se iam afogando num vapor aveludado, do tom de violeta; a água
jazia lisa e luzidia como uma bela chapa de aço novo; e aqui e além, pelo vasto
ancoradouro, grossos navios de carga, longos paquetes estrangeiros, dois
couraçados ingleses, dormiam, com as mastreações imóveis, como tomados de
preguiça, cedendo ao afago do clima doce...
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—Bem sei! Os Castro Gomes... Conheço os muito... Vim com eles de Bordéus...
Uma gente muito chique que vive em Paris.
Carlos voltou-se, reparou mais nele, perguntou lhe, afável e interessando se:
—Sim, uma gotinha para o apetite. Vossa Excelência não toma, sr. Maia? Pois eu,
assim que posso, é direitinho para Paris! Aquilo é que é terra! Isto aqui é um
chiqueiro... Eu, em não indo lá todos os anos, acredite Vossa Excelência, até
começo a andar doente. Aquele boulevarzinho, hem!... Ai, eu gozo aquilo!... E sei
gozar, sei gozar, que eu conheço aquilo a palmo... Tenho até um tio em Paris.
—Ah, lá isso influência tem. Íntimo do Gambetta, tratam se por tu. Até vivem
quase juntos... E não é só com o Gambetta; é com o Mac Mahon, com o Rochefort,
com o outro que me esquece agora o nome, com todos os republicanos, enfim!...
É tudo quanto ele queira. Vossa Excelência não o conhece? É um homem de
barbas brancas... Era irmão de minha mãe, chama se Guimarães. Mas em Paris
chamam lhe Mr. de Guimaran...
Eça de Queirós, Os Maias
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Nota: O Hotel Central é o local onde se realiza um jantar oferecido por Ega, com o objetivo de
homenagear Cohan, marido de Raquel sua amante. Em termos “funcionais” este jantar serve
para permitir um primeiro contacto de Carlos com o meio social lisboeta, isto é, com o próprio
Cohen, com Tomás de Alencar, Dâmaso Salcede, e outros.
É também neste momento que Carlos vê Maria Eduarda pela primeira vez, embora ele não
lhe presta a devida atenção, ficando apenas com uma ideia um pouco pormenorizada da
figura dela.
É neste episódio que estão representados os temas mais proeminentes da vida político –
cultural lisboeta, pois é neste episódio que se falam de temas como a Literatura, Finanças e a
Política.
Com este episódio da crónica de costumes, o autor demonstra a incoerência cultural do povo
português e a decadência do país.
A crónica de costumes retrata uma Lisboa que se esforça para ser civilizada, mas que não
resiste e acaba por mostrar a sua falta de cultura.
O “verniz” das aparências estala, quando Ega e Alencar, depois de terminarem a sua “lista”
de argumentos possíveis, e partem para a agressão pessoal e física mostrando o tipo de
educação das classes altas da sociedade portuguesa, que mesmo tentando parecer digna e
requintada não deixa de ser uma sociedade grosseira e inculta.
Neste jantar, discute-se a Literatura e a crítica literária, em que Tomás de Alencar, opositor do
realismo/naturalismo, revela incoerência condenando no presente, o que cantara no passado.
Refugia-se na moral por não ter mais argumentos. Acha o realismo/naturalismo imoral. É um
desfasado do seu tempo, defende a crítica literária de natureza académica. Este opõe-se a João
da Ega, defensor da escola realista/naturalista. Ega exagera e defende o cientificismo na
literatura. Não distingue ciência e literatura.
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Este assunto espelha a crise financeira que o país passava nesta época (século XII). Eça
descreve-o de forma irónica através de Cohen, o representante das Finanças ao afirmar que os
“empréstimos em Portugal constituíam uma das fontes de receita, tão regular, tão
indispensável, tão sabida como o imposto”, aliás era «cobrar o imposto» e «fazer o
empréstimo» a única ocupação dos ministérios.
Desta forma concordavam que assim o país iria “alegremente e lindamente para a
bancarrota”. No entanto, Ega não aceitara baixar os braços e logo dera a solução
revolucionária para o problema de finanças que o país atravessava – a invasão espanhola.
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Defronte a pista estava deserta, com a relva pisada, guardada por soldados: e
junto à corda, do outro lado, apinhava-se o magote de gente, com as
carruagens pelo meio, sem um rumor, numa pasmaceira tristonha, sob o peso
do sol de Junho. Um rapazote com uma voz dolente, apregoava água fresca.
Lá ao fundo o largo Tejo faiscava, todo azul, tão azul como o céu, numa
pulverização fina de luz. (…)
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livre de um divertimento que não estava nos hábitos do País. Corridas era para
se apostar. Tinha-se apostado? Não? Então histórias!... Em Inglaterra e em
França, sim! Aí eram um jogo como a roleta, ou como o monte… Até havia
banqueiros, que eram bookmakers… Então já viram!”
Nota: A corrida de cavalos espelha-se no desejo de imitar o que se faz no estrangeiro e era
considerado sinal de progresso. Reflete o provincianismo do acontecimento. Apreciamos de
forma irónica e caricatural uma sociedade burguesa que vive de aparências. O
comportamento da assistência feminina, “que nada faz de útil”. O traje escolhido pela maioria
da assistência não se adequava à ocasião, daí alguns cavalheiros se sentirem embaraçados com
o seu chique, e muitas senhoras trazerem “vestidos sérios de missa”, acompanhados por
grandes chapéus emplumados da última moda, mas que não se adequavam nem ao evento,
nem à restante toillete.
O ambiente deveria ser requintado, mas também ligeiro como compete a um acontecimento
desportivo.
Critica-se ainda a falta de à-vontade das senhoras da tribuna que não falavam umas com as
outras e que para não desobedecerem às regras de etiqueta. A assistência não revela qualquer
entusiasmo pelo acontecimento e comparecem somente por desejar aparecer no High Life dos
jornais ou para mostrar a extravagância do vestuário. O recinto parece uma quintarola, as
bancadas são improvisadas, besuntadas de tinta com palanques de arraial. O bufete fica
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debaixo da tribuna “sem sobrado”, sem um ornato”, onde os empregados sujos achatavam
sanduíches com as mãos húmidas de cerveja. A própria tribuna real está enfeitada com um
pano reles de mesa de repartição.
Críticas diretas:
Os objetivos deste episódio são os seguintes: o contacto de Carlos com a alta sociedade
lisboeta, incluindo o rei; uma visão panorâmica desta sociedade sobre o olhar crítico de
Carlos; tentativa frustrada de igualar Lisboa às demais capitais europeias.
Mas nessa noite teve o regozijo de encontrar aliados. Craft não admitia também
o naturalismo, a realidade feia das coisas e da sociedade estatelada nua num
livro. A arte era uma idealização! Bem; então que mostrasse os tipos superiores
duma humanidade aperfeiçoada, as formas mais belas do viver e do sentir... Ega,
horrorizado apertava as mãos na cabeça - quando do outro lado Carlos declarou
que o mais intolerável no realismo eram os seus grandes ares científicos, a sua
pretensiosa estética deduzida duma filosofia alheia, e a invocação de Claude
Bernard, do experimentalismo, do positivismo, de Stuart Mil e de Darwin, a
propósito duma lavadeira que dorme com um carpinteiro!
Assim atacado, entre dois fogos, Ega trovejou: justamente o fraco do realismo
estava em ser ainda pouco científico, inventar enredos, criar dramas, abandonar-
se à fantasia literária! a forma pura da arte naturalista devia ser a monografia, o
estudo seco dum tipo, dum vício, duma paixão, tal qual como se se tratasse dum
caso patológico, sem pitoresco e sem estilo!...
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- Vocês estão gastando cera com ruins defuntos, filhos. O realismo critica-se deste
modo: mão no nariz! Eu quando vejo um desses livros, enfrasco-me logo em
água-de-colónia. Não discutamos o excremento.
Ega ia fulminá-lo. Mas, vendo que o Cohen dava um sorriso enfastiado e superior
a estas controvérsias de literaturas, calou-se; ocupou-se só dele, quis saber que
tal ele achava aquele Si. Emilion; e, quando o viu confortavelmente servido de sole
normande, lançou com grande alarde de interesse esta pergunta:
- Então, Cohen, diga-nos você, conte-nos cá... O empréstimo faz-se ou não se faz?
Carlos não entendia de finanças: mas parecia-lhe que, desse modo, o país ia
alegremente para a "bancarrota".
- Num galopezinho muito seguro e muito a direito - disse o Cohen, sorrindo. Ah,
sobre isso, ninguém tem ilusões, meu caro senhor. Nem os próprios ministros da
Fazenda!... A "bancarrota" é inevitável: é como quem faz uma soma...
- A "bancarrota" é tão certa, as coisas estão tão dispostas para ela - continuava o
Cohen - que seria mesmo fácil a qualquer, em dois ou três anos, fazer falir o país...
Ega gritou sofregamente pela "receita". Simplesmente isto: manter uma agitação
revolucionária constante; nas vésperas de se lançarem os empréstimos haver
duzentos maganões decididos que caíssem à pancada na municipal e quebrassem
os candeeiros com vivas à República; telegrafar isto em letras bem gordas para
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Neste jantar destacam-se O Conde Gouvarinho e Sousa Neto, bem como o adultério praticado
pela Condessa de Gouvarinho, tendo estado envolvida com Carlos da Maia.
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- Merci...
Na sala o silêncio impressionava. Rufino, com gestos de quem traça numa tela
linhas lentas e nobres, descrevia a doçura de uma aldeia, a aldeia em que ele nascera, ao
pôr do sol. E o seu vozeirão velava-se, enternecido, morrendo num rumor de crepúsculo.
Então Steinbroken, subtilmente, tocou no ombro do Ega. Queria saber se era esse o
grande orador de que lhe tinham falado...
Ega afirmou com patriotismo que era um dos maiores oradores da Europa!
- Em qual género?...
Pois fora nesse estado, devorado pela dúvida, que Rufino ouvira um grito de horror
ressoar por sobre o nosso Portugal... Que sucedera? Era a Natureza que atacava seus
filhos! - E lançando os braços, como quem se debate numa catástrofe, Rufino pintou a
inundação.... Aqui aluía um casal, ninho florido de amores; além, na quebrada, passava
o balar choroso dos gados; mais longe as negras águas iam juntamente arrastando um
botão de rosa e um berço!...
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1. Contextualiza este excerto na obra, evidenciando como este permite desencadear o desfecho
trágico.
2. Nesta passagem podemos ver as diferentes atitudes das personagens. Tendo em atenção
cada uma delas, proceda à sua caracterização, bem como a crítica que está subjacente a este
momento.
A falta de educação, respeito e apreciação por parte dos espectadores da alta sociedade só
demonstra o mísero desenvolvimento de Portugal na época.
Oratória
1. Oradores
1.1. Rufino:
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outras notas:
o surge no momento em que Carlos e Maria Eduarda vivem o amor na sua plenitude,
fazendo planos para o futuro
o Carlos e Ega foram ao Teatro da Trindade por obrigação social, uma vez que se
destinava a ajudar as vítimas das cheias;
o As revelações do Sr. Guimarães, no final do sarau, quando Ega e Cruges passam à
porta do Hotel Aliança; o Sr. Guimarães (tio de Dâmaso, o demagogo que vivia em
Paris) interpela Ega, entregando-lhe o fatídico cofre de Maria Monforte que contém
as revelações relativas ao parentesco entre Carlos e Maria Eduarda.
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respeito de crentes. Num vão de janela, com dois homens de idade, um rapaz
esgalgado, de jaquetão de cheviote claro e uma cabeleira crespa que parecia
erguida numa rajada de vento, bracejava como um moinho na crista de um
monte. E, abancando, outro sujeito já calvo rascunhava laboriosamente uma tira
de papel.
Ao ver o Ega (um íntimo do Gouvarinho) ali na redação, naquela noite de
intriga, Neves cravou nele os olhos tão curiosos, tão inquietos, que o Ega
apressou-se a dizer:
– Nada de política, negócio particular… Não te interrompas. Depois
falaremos.
O outro findou a injúria que estava lançando ao José Bento, «essa grande
besta que fora meter no bico da amiga do Sousa e Sá, o par do Reino» – e na sua
impaciência saltou da mesa, travou do braço do Ega, arrastando-o para um canto:
– Então que é?
– É isto, em quatro palavras. O Carlos da Maia foi ofendido aí por um
sujeito muito conhecido. Nada de interessante. Um parágrafo imundo na
«Corneta do Diabo», por uma questão de cavalos… O Maia pediu-lhe
explicações. O outro deu-as, chatas, medonhas, numa carta que quero que vocês
publiquem.
A curiosidade do Neves flamejou:
– Quem é?
– O Dâmaso.
O Neves recuou de assombro:
– O Dâmaso!? Ora essa! Isso é extraordinário! Ainda esta tarde jantei com
ele! Que diz a carta?
– Tudo. Pede perdão, declara que estava bêbado, que é de profissão um
bêbado…
O Neves agitou as mãos com indignação:
– E tu querias que eu publicasse isso, homem? O Dâmaso, nosso amigo
político!... E que não fosse, não é questão de partido, é de decência! Eu faço lá
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isso!... Se fosse uma ata de duelo, uma coisa honrosa, explicações dignas… Mas
uma carta em que um homem se declara bêbado! Tu estás a mangar!
Ega, já furioso, franzia a testa. Mas o Neves, com todo o sangue na face,
teve ainda uma revolta àquela ideia de o Dâmaso se declarar bêbado!
– Isso não pode ser! É absurdo! Aí há história… Deixa ver a carta.
E, mal relanceara os olhos ao papel, à larga assinatura floreada, rompeu
num alarido:
– Isto não é o Dâmaso nem é letra do Dâmaso!... Salcede! Quem diabo é
Salcede? Nunca foi o meu Dâmaso!
– É o meu Dâmaso – disse o Ega. – O Dâmaso Salcede, um gordo…
O outro atirou os braços ao ar:
– O meu é o Guedes, homem, o Dâmaso Guedes! Não há outro! Que diabo,
quando se diz o Dâmaso é o Guedes!...
Respirou com alívio:
– Irra, que me assustaste! Olha agora neste momento, com estas coisas de
Ministério, uma carta dessas escrita pelo Guedes… Se é o Salcede, bem, acabou-
se! Espera lá… Não é um gordalhufo, um janota que tem uma propriedade em
Sintra? Isso! Um maganão que nos entalou na eleição passada, fez gastar ao
Silvério mais de trezentos mil réis… Perfeitamente, às ordens… Ó Parreirinha,
olhe aqui o sr. Ega. Tem aí uma carta para sair amanhã, na primeira página, tipo
largo…
O sr. Parreirinha lembrou o artigo do sr. Vieira da Costa sobre a reforma
das pautas.
– Vai depois! – gritou o Neves. – As questões de honra antes de tudo!
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4. Qual é a figura de estilo presente nesta passagem? Qual é a sua função no que
se prende com a representação social? « […] discursando a alguns cavalheiros de
província que o escutavam de pé, num respeito de crentes.»
- E aqui tens tu uma existência d'e omem! Em dez anos não me tem sucedido
nada, a não ser quando se me quebrou o fáeton na estrada de Saint-Cloud..: Vim
no Fígaro.
- Creio que sim... Mas todo o mundo mais ou menos a falha. Isto é falha-se
sempre na realidade aquela vida que se planeou com a imaginação. Diz-se: «vou
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ser assim, porque a beleza está em ser assim». E nunca se é assim, é-se
invariavelmente assado, como dizia o pobre marquês. Às vezes melhor, mas
sempre diferente.
- É curioso! Só vivi dois anos nesta casa, e é nela que me parece estar metida
a minha vida inteira!
Ega não se admirava. Só ali no Ramalhete ele vivera realmente daquilo que
dá sabor e relevo à vida - a paixão.
- Muitas outras coisas dão valor à vida... Isso é uma velha ideia de
romântico, meu Ega!
- E que somos nós? exclamou Ega. Que temos nós sido desde o colégio,
desde o exame de latim?
[…]
Já avistavam o Aterro, a sua longa fila de luzes. De repente Carlos teve um largo
gesto de contrariedade:
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- Que ferro! E eu que vinha desde Paris com este apetite! Esqueci-me de
mandar fazer hoje para o jantar um grande prato de paio com ervilhas.
- Ainda o apanhamos!
- Nem para o amor, nem para a glória, nem para o dinheiro, nem para o
poder...
- Ainda o apanhamos!
- Ainda o apanhamos!
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Este último episódio ocorre dez anos após a partida de Carlos para a
viagem à volta do mundo e a sua consequente instalação em Paris.
Espaços visitados:
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a. Espaço psicológico
5. A ação
A ação é fechada. Baseia-se na história de três gerações da família Maia, tendo
como pano de fundo a sociedade lisboeta de grande parte do século XIX.
Intriga principal:
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Intriga secundária:
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6. O Narrador
O narrador é omnisciente, pois sabe tudo o que se passa dentro e fora das
personagens, e heterodiegético, pois não participa na ação. A sua voz é crítica e
irónica.
Ele opta por observar tudo o que acontece e destaca uma focalização interna,
colocando na voz de Carlos e Maria Eduarda, algumas situações, para emitir
juízos de valor. Na voz de João da Ega e de Carlos, ele faz uma análise e uma
avaliação da sociedade lisboeta.
Assim:
Focalização omnisciente
Perspetiva do narrador A reconstrução do Ramalhete;
A figura de Afonso da Maia;
Os estudos de Carlos em Coimbra;
O retrato de Ega;
O retrato de Eusebiozinho;
O retrato de Dâmaso.
Focalização interna
Perspetiva de Vilaça Educação de Carlos.
Perspetiva de Carlos Maria Eduarda, à entrada do Hote
Central e na rua;
Os episódios da crónica de costumes,
à exceção do jornal A Tarde e do Sarau
do Teatro da Trindade;
A cidade de Lisboa e a sua sociedade,
dez anos após o desenlace.
Perspetiva de Ega O episódio dos jornais;
O Ramalhete fechado;
A sua própria consciência, em
momentos já indicados no espaço
psicológico.
7. A linguagem queirosiana
personificação; adjetivação;
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comparação; diminutivo;
metáfora; empréstimos;
hipálage; neologismos;
ironia; discurso indireto livre;
sinestesia; gerúndio.
advérbio;
8. Simbologia do romance
9. Os vencidos da vida
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Carlos e Ega parecem pertencer também a este grupo. Um grupo que não
reconheceu a vida, mas falhou redondamente perante ela.
10.As personagens
Assim, as personagens modeladas, são Carlos, Ega e Afonso, pois possuem uma
densidade psicológica e um conflito interior complexos. Embora seja um romance de
família, não é esta enquanto unidade coletiva que ocupa o papel central. A obra está
construída em função de Carlos. A partir do capítulo III, o narrador volta a sua atenção
sistematicamente para Carlos, o que nos leva a concluir que as referências às gerações de
Afonso e de Pedro foram feitas para explicar a existência de Carlos em Lisboa.
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11. A educação
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Pedro da Maia:
o é a cópia da sua mãe: é melancólico, abúlico e fraco;
o educação portuguesa: que agrava os fatores psicossomáticos; tem
base religiosa; é punitiva; assenta na aprendizagem do latim; não
tem contato com a natureza, o que o leva a ser débil e incapaz de
resistir às dificuldades vindas do exterior;
o é rapidamente atraído por Maria Monforte devido ao seu excesso
de sentimentalismo;
o casa contra a vontade do seu pai e quando ela o abandona, ele
suicida-se;
o o seu destino foi condicionado por fatores naturalistas:
hereditariedade, meio e educação.
Carlos:
o Educação inglesa: privilégio do contato com a natureza, exercício
físico intenso, aprendizagem de línguas vivas, desprezo pela
cartilha, adquirindo valores de trabalho e um conhecimento
experimental que o levam a abraçar um curso de medicina e
projetos de investigação;
o Desprezo dos aspetos religiosos;
o Boa saúde e inteligência;
o Ligava-se emocionalmente com Maria Eduarda devido ao destino;
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o Carlos fracassou, não pela sua educação, mas apesar dela (pai era
covarde, fraco, egoísta, fútil; a mãe era boémia). Foi a sociedade
(parasitária, ociosa, fútil, sem estímulos) que o conduziu ao
fracasso, pela ausência de motivações e pela paixão romântica que
o seduziu. Porém, em Os Maias, a razão principal para este fracasso
foi mesmo o Destino.
Maria Eduarda:
o Educação diferente de Carlos.
Eusebiozinho:
o Tem a mesma educação que Pedro;
o É “um molengão e tristonho”, arrastado para uma vida de
corrupção para um casamento infeliz e para uma decadência física
e moral.
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