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Conteúdos do programa:
Contextualização histórico-literária
REALISMO NATURALISMO
√ Movimento artístico que surge, em Portugal, em meados do √ Movimento estético-
séc. XIX, contestando o idealismo romântico. literário com origem na
√ Valoriza a observação e a análise de tipos humanos e de doutrina positivista,
costumes sociais, tentando representar objetivamente a estreitamente ligado ao
realidade. realismo e às
√ Adota uma atitude genericamente descritiva e crítica em transformações sociais,
relação à sociedade do seu tempo, tentando descrevê-la e aos científicas, filosóficas e
seus componentes de forma desapaixonada. éticas ocorridas no século
√ A narrativa (e em particular o romance) é o género que mais XIX, tendo-se manifestado
se adequa aos propósitos deste movimento, articulando nas artes e na literatura.
momentos de narração com momentos de descrição. √ No Naturalismo, a obra
√ Na representação da ação, quase sempre de implicações literária surge como a
sociais, é evidente a pormenorizada descrição dos espaços e a ilustração das teses
personagem é de capital importância pois permite uma reflexão científicas.
crítica sobre o ser humano e os seus problemas concretos,
sendo muitas vezes encarada como personagem-tipo.
O que queremos nós com o Realismo? Fazer o quadro do mundo moderno, nas feições em
que ele é mau, por persistir em se educar segundo o passado; queremos fazer a fotografia, ia
quase dizer a caricatura do velho mundo, sentimental, devoto, católico, explorador, aristocrático,
etc. E apontando-o ao escárnio, à gargalhada, ao desprezo do mundo moderno e democrático
– preparar a sua ruína.
No romance:
✓o número de personagens é ilimitado e a sua caracterização é elaborada – apresentando
componentes de ordem social, cultural e psicológica –, podendo evidenciar ou não evolução
psicológica;
✓os espaços são múltiplos, amplos e muitas vezes pormenorizados;
✓o tempo organiza-se de forma complexa, conjugando diferentes tratamentos temporais;
✓há recurso à narração e à descrição;
✓a presença do diálogo e mesmo do monólogo são recorrentes.
Os Maias narra a história de uma família aristocrática, ao longo de três gerações: Afonso,
Pedro e Carlos da Maia.
A obra é constituída por dezoito capítulos: as primeiras páginas funcionam como uma espécie
de introdução, situando o leitor no Ramalhete e centrando-se, essencialmente, na personagem
de Afonso da Maia. Através de uma analepse, o leitor recebe informações sobre a juventude de
Afonso e os seus confrontos com o pai, a infância, a educação e os amores infelizes de Pedro,
bem como sobre a educação e estudos de Carlos.
A ação central, que corresponde a pouco mais de um ano e que conta os amores incestuosos
de Carlos e Maria Eduarda, abrange as restantes páginas do livro, à exceção do último capítulo,
que funciona como epílogo, dedicado à grande viagem feita por Carlos e Ega e à visita de
Carlos a Portugal dez anos após a “trágica semana”.
O título da obra – Os Maias – remete o leitor para a história trágica de uma família da
aristocracia lisboeta, relato de largos anos, permitindo ao leitor percorrer o Portugal miguelista,
fanático e beato de 1820, o Portugal liberal, representado por Afonso da Maia, o ambiente
romântico português, com Pedro da Maia e a geração da Regeneração, desencantada com o
liberalismo e responsável por uma sociedade falhada e decadente.
O subtítulo – Episódios da Vida Romântica – encaminha o leitor para o ambiente social da
época relatado pelo olhar atento e crítico de Eça de Queirós, que faz o retrato satírico, mas
realista, da Lisboa do final do século XIX.
O sentimento e a paixão são, também, visíveis no relacionamento de João da Ega com Raquel
Cohen, que conhece socialmente na Foz, no Porto. Essa relação é vivida inicialmente com um
certo recato, mas João da Ega acaba por revelá-la ao seu amigo Carlos da Maia.
Ega homenageia Cohen com um jantar no Hotel Central, jantar que proporciona a Carlos o seu
primeiro contacto com a sociedade portuguesa.
Os encontros amorosos de Ega têm lugar na Vila Balzac. Quando a relação adúltera é
descoberta, Ega, humilhado, refugia-se em Celorico, enquanto o casal Cohen parte para o
estrangeiro.
Ega, mesmo com a passagem do tempo, não esquece Raquel. Ainda apaixonado, sente-se
humilhado quando percebe a nítida aproximação de Raquel a Dâmaso. A ligação terminará
apenas no final – epílogo – quando Ega reconhece que Raquel não merece a sua atenção.
A EDUCAÇÃO : contrastes
Educação
Eça procura encontrar razões para a crise social, política e cultural a partir da formação
do indivíduo. Factor de humanização, de socialização e de autonomia, a educação produz ou
reproduz modelos sociais que propõem um sistema de valores e princípios base de uma
sociedade.
Ação trágica
Uma das dimensões importantes do romance é a configuração trágica da ação. Esta dimensão
permite refletir sobre a incapacidade de o ser humano controlar a sua existência, marcada por
aspetos imprevisíveis e, muitas vezes, inexplicáveis.
Neste romance, a conjugação das características temáticas da intriga, ou seja, a relação
incestuosa de Carlos e Maria Eduarda, que ignoram ser irmãos, o papel do destino e da sua
força trágica implacável – corporizados por Guimarães e o cofre –, bem como a presença de
presságios que acompanham a vida das personagens – a escolha do nome de Carlos e o
fatalismo do Ramalhete anunciado por Vilaça, por exemplo – conferem a esta obra uma
dimensão trágica.
A tarde
Representa
Dirigido pelo deputado Neves o jornalismo tendencioso
e parcial
Linguagem e estilo
A linguagem queirosiana é, sem dúvida, de uma grande expressividade, valorizando a
impressão imediata daquilo que perceciona, característica esta própria do Impressionismo, que
é um movimento artístico do final do século XIX. Os impressionistas captam a cor e a luz e Eça
de Queirós conseguiu, com mestria, transpor para as suas obras esta capacidade de jogar com
a perceção, criando, frequentemente, relações inesperadas.
Os recursos expressivos mais marcantes da prosa queirosiana são a metáfora e a comparação,
a personificação, a sinestesia e a ironia.
Os diminutivos são, igualmente, uma característica importante: transmitem o afeto das relações
e, mais frequentemente, estão ao serviço do tom caricatural e depreciativo do narrador
aquando da sua crítica de costumes à sociedade do seu tempo.
O uso expressivo do adjetivo e do advérbio assumem uma grande importância não só pela
frequência com que ocorrem, mas também pela forma inesperada como surgem. Aparecem
associados de forma dupla e auxiliam na crítica irónica, tão característica de Eça de Queirós,
ajudando a captar e a realçar as sensações e as emoções daquilo que é descrito.
A presença de empréstimos (francesismos e anglicismos) surge para designar realidades que a
língua portuguesa não abarca, mas está também associada à intenção crítica que acentua o
jogo das aparências da sociedade lisboeta e a sua necessidade de imitar tudo aquilo que é
estrangeiro.
A reprodução do discurso no discurso é uma técnica característica do Realismo e propiciadora
da caracterização das personagens. A reprodução do discurso no discurso, sob a forma
particular do discurso indireto livre, evidencia, muitas vezes, o olhar crítico do narrador. Com
este modo de relato de discurso verifica-se uma maior riqueza expressiva e o texto apresenta-
se mais leve e fluido. Eça de Queirós usou com perícia o discurso indireto livre.
Passeio final:
O passeio final é o epílogo do romance, 10 anos depois, quando Carlos visita Lisboa, vindo de
Paris.
Este passeio é simbólico, por isso, os espaços percorridos são espaços históricos e ideológicos,
estes podem agrupar-se em três conjuntos.
No primeiro domina a estátua de Camões que, triste, representa o Portugal heroico, glorioso
mas perdido, e desperta um sentimento de nostalgia. A estátua está envolvida numa
atmosfera de estagnação, tal como o país.
O Ramalhete integra-se neste conjunto, também ele atingido pela destruição e pelo abandono.
Pode funcionar como sinédoque da cidade e do país.
O último capítulo constitui o epílogo (desenlace) da obra: dez anos depois, em 1887, Carlos
visita Lisboa e encontra-se inseparável de Ega, com quem viajara pelo mundo, antes de se
instalar em Paris.
Neste reencontro, e nas reflexões dos dois amigos ao deambularem pela capital, transparece
um pessimismo amargo que resulta não só do fracasso pessoal de ambos, mas também do
ambiente que os rodeia.
. O diagnóstico dos males de Portugal: não ter criado um figurino próprio e ter adotado,
exagerando em tudo, os figurinos estrangeiros;
. A confissão do fracasso profundo de uma geração personificada em Carlos e Ega: “Não sabe a
gente para onde se há-de voltar… E se nos voltarmos para nós, ainda pior.”
A mensagem que o autor pretende deixar com esta obra, tem uma intenção crítica.