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A ação do romance baseia-se na história de três gerações da família Maia (Afonso – o avô, Pedro – o
filho e Carlos – o neto), e tem como pano de fundo a sociedade lisboeta do século XIX.
A estrutura de Os Maias é desde logo definida pelo próprio autor ao sublinhar a importância o
subtítulo – Episódios da vida romântica. Assim, o romance apresenta dois níveis narrativos/diegéticos
relacionados diretamente com:
Título Remete para a história de uma família ao longo de três gerações, incluindo a
Os Maias intriga/ação central, que se constrói como uma ação fechada.
Aponta para uma descrição/pintura de um certo estilo de vida, o romântico, a
Subtítulo partir da crítica de costumes da sociedade lisboeta, particularmente da
Episódios da aristocracia e da alta burguesia da década de 70 do século XIX. Esta crítica
vida romântica concretiza-se através da construção de ambientes, e da atuação de
personagens-tipo, revelando-se como uma ação aberta.
Estes dois níveis narrativos articulam-se de forma alternada, funcionado os ambientes como pano de
fundo para a atuação de algumas das personagens da intriga central que, pelo seu carácter e
comportamento, se destacam da mediocridade geral.
A intriga central, organizada em torno dos amores incestuosos de Carlos e Maria Eduarda, apresenta
uma estrutura tripartida – antecedentes da ação, ação principal (os amores e o desfecho trágico) e epílogo:
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Ana Rita Azevedo
Português – 11º ano
Eça de Queirós, Os Maias
Esta segunda parte estende-se ao longo de 14 meses, cujos marcos temporais são os seguintes:
Outono de 1875 até aos fins de 1876 – a morte de Afonso ocorre no inverno – “sol fino de
inverno”;
Princípios de 1877 – “Semanas depois, nos primeiros dias do ano novo [...]” – partida de Carlos e
Ega para a sua viagem de volta ao mundo.
O ritmo desta segunda parte, ao contrário do que acontece com a primeira, é lento e espaçado,
característico de romances complexo como Os Maias.
Viagem de Carlos e Ega – janeiro de 1887 a março de 1888 – “Mas, passado ano e meio, num
lindo dia de março [...]”;
Reencontro de Carlos e Ega – “E, numa luminosa e macia manhã d janeiro de 1887, os dois
amigos, enfim juntos [...]”.
O epílogo retoma o ritmo rápido inicial: 10 anos são contados em cerca de duas páginas. Esta
concentração temporal é conseguida através de:
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Ana Rita Azevedo
Português – 11º ano
Eça de Queirós, Os Maias
O famoso passeio final, momento simbólico e de reflexão protagonizado por Carlos e Ega, ocupa o
resto do capítulo XVIII, desacelerando o ritmo narrativo e aproximando-se do ritmo da segunda parte.
1. A COMPLEXIDADE DO ESPAÇO
O espaço é uma componente essencial no romance, visto que ajuda a definir o pano de fundo que
serve de cenário à ação e permite assinalar aspetos simbólicos relevantes para a construção da
diegese.
Por m lado, é uma forma de ancoragem da ação, criando também, tal como as referências
históricas, o efeito do real;
Por outro lado, assume igualmente uma dimensão simbólica, facto que subverte os cânones
naturalistas.
A intriga desenrola-se em Lisboa, mas os antecedentes decorrem em lugares como Santa Olávia –
infância de Carlos – e Coimbra – formação universitária do protagonista.
Importantes são também os espaços das grandes capitais da cultura europeia, sobretudo Paris. Carlos
da Maia viaja frequentemente e é no estrangeiro que passa os dez anos posteriores à tragédia familiar.
O subtítulo do romance – Episódios da vida romântica – aponta para a pintura detalhada de uma
sociedade com os seus vícios e aspetos menos edificantes, pintura que se integra perfeitamente num
dos objetivos do romance naturalista, que se concretiza através da abordagem de certos temas e
episódios de carácter social.
De crianças nervosas e frágeis a adultos fracos, apáticos e fracassados, assim será o percurso de Pedro
(que, obcecado pela paixão pela mãe e depois por Maria Monforte, optaria pelo suicídio face a uma situação de carência
afetiva)e Eusebiozinho (protagonista de aventuras com espanholas de porte duvidoso, mas submisso à violência da
mulher).
Carlos forma-se em medicina, ainda inicia uma carreira de médico que logo abandona, contaminado
pela dolência do meio lisboeta e, mais tarde, pela vivência absoluta da sua paixão por aria Eduarda.
Carlos também falhou, apesar da educação? Ou Carlos superou a tragédia final devido à sua educação?
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Eça de Queirós, Os Maias
Com efeito, embora Carlos não realize nenhum dos seus projetos iniciais, consegue sobreviver de uma
forma digna à descoberta do seu parentesco com Maria Eduarda e à morte do avô. Parece, pois,
evidente que, em matéria de educação, a defesa da perspetiva britânica sai reforçada com o percurso
de Carlos.
Os episódios representativos
O jantar no Hotel Central (capítulo VI) é uma espécie de festa de homenagem de Ega ao banqueiro
Cohen (símbolo da alta finança), marido da divina Raquel, amante de Ega.
O episódio das corridas (capítulo X), a que Carlos assiste com o único objetivo de rever Maria Eduarda
(o que não acontece), constitui mais uma visão caricatural da sociedade lisboeta que, num desesperado
esforço de cosmopolitização, resolve promover um espetáculo que nada tem a ver com a tradição
cultural do país (uma tourada, por exemplo, segundo Afonso).
Os resultados das corridas são, por isso, desastrosos e verificam-se a vários níveis:
No meio de toda esta mediocridade, destacam-se Carlos e Craft pelo seu à-vontade e pela sua
familiaridade com este tipo de acontecimentos sociais.
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Eça de Queirós, Os Maias
Também Dâmaso, o novo-rico endinheirado, ávido de copiar Carlos, se destaca, mas pela negativa,
“pelo seu podre de chique”, bem representado pela indumentária escolhida: sobrecasaca branca e
véu azul no chapéu.
Uma vez mais, a sociedade lisboeta não consegue manter por muito tempo a linha postiça, com que
julga poder “maquilhar-se” de país civilizado.
O jantar dos Gouvarinho (capítulo XII), oferecido a Carlos pelo conde (marido da amante de Carlos), surge
num momento em que Carlos, já desinteressado da condessa, passa grande parte das manhãs na Rua
de S. Francisco, em casa de Maria Eduarda.
A conversa, durante o jantar, foca múltiplos assuntos, mas devem sublinhar-se os seguintes aspetos:
O jornalismo português do século XIX surge representado pelos episódios da Corneta do Diabo e do
jornal A Tarde (capítulo XV). Relativamente a este aspeto, podem ser evidenciados:
O sarau literário, no Teatro da Trindade (capítulo XVI), surge num momento do romance em que Carlos
e Maria Eduarda vivem já um amor sem sobressaltos, fazendo planos para o futuro e esperando
apenas a ocasião mais propícia para que Carlos comunique a Afonso os seus planos. Os momentos mis
marcantes deste episódio são:
a ida de Carlos e Ega ao Teatro da Trindade apenas para cumprir uma obrigação social (o sarau
destinava-se a ajudar as vitimas das cheias no Ribatejo);
as revelações do Sr. Guimarães, precisamente no final do sarau, quando Ega e Cruges passavam à
porta do Hotel Aliança – o Sr. Guimarães (o “demagogo”, o tio de Dâmaso, que vivia há longos
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Eça de Queirós, Os Maias
anos em Paris) interpela Ega, entregando-lhe o fatídico cofre de Maria Monforte que contém as
revelações relativas ao parentesco entre Carlos e Maria Eduarda;
a importância do episódio para o desencadear da catástrofe final.
O desencantado passeio final de Carlos e Ega (capítulo XVIII) situa-se 10 anos após a partida de Carlos
para a viagem à volta do mundo e consequente instalação em Paris.
O estudo do espaço social não se esgota nestes episódios, visto que os serões no Ramalhete, o chá
dos Gouvarinho, as conversas ocasionais contribuem para a visão crítica da sociedade portuguesa do
final do século XIX.
Sublinhe-se ainda o facto de a crítica de costumes ser contruída através da apresentação de episódios
e do evoluir de personagens-tipo.
Lisboa é o grande espaço privilegiado ao longo de todo o texto. As suas ruas (Rua de S. Domingos, Rua
do Alecrim, Rua da Nova Trindade, Rua Garrett, Rua de S. Francisco, Rua Nova do Almada...) , as suas praças (Chiado,
Loreto, Rossio...), os seus hotéis (Bragança, Aliança), os seus locais de convívio (Bertrand, Baltreschi, a
Havanesa, o Grémio) e os seus teatros (Trindade, S. Carlos) assumem quase o estatuto de personagem ao
longo do romance.
Mas Lisboa também é o símbolo da sociedade portuguesa da Regeneração incapaz de se
modernizar (obras da Avenida da Liberdade) e que agoniza na contemplação de um passado glorioso
(referência à “estátua triste” de Camões).
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Eça de Queirós, Os Maias
Santa Olávia é o lugar mágico, para onde a família se desloca a fim de recuperar as forças perdidas,
de esquecer a dor e de encarar o futuro. É la que Afonso se refugia com Carlos após o suicídio de
Pedro, é lá que Carlos cresce e se prepara para a reabilitação da família. Depois da instalação dos
Maias em Lisboa, Afonso passa as férias de verão em Santa Olávia e quando, após 10 anos em
Paris, Carlos vem a Portugal, Santa Olávia é o primeiro local de peregrinação.
Sintra é a vila para onde Carlos, Cruges e Alencar vão passear (capítulo VII). A ida das personagens a
Sintra constitui um momento poético mas também hilariante d’Os Maias. Basta relembrar a cena
de Eusebiozinho, a declamação de Alencar à luz da lua e o esquecimento das queijadas por parte
de Cruges, para perceber que Sintra é um dos cenários privilegiados da sociedade lisboeta da
época: uma espécie de paraíso romântico perdido, um refúgio campestre, purificador e salutar,
que as personagens procuram para fugir ao tédio da capital.
a “Toca”
A descrição do ninho de amor de Carlos e Maria Eduarda aponta para a expressão de um gosto
exótico, requintado e sensual, apropriado à vivência de uma paixão marginal.
“Toca” é o covil de um animal, é onde este se esconde das ameaças do exterior. Aliás, é o próprio
Carlos que afirma: “Uma divisa de bicho egoísta na sua felicidade e no seu buraco: Não me
mexam!”
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Também Carlos e Maria Eduarda, num primeiro momento, vivem um amor “marginal”, um amor
que necessita de ser preservado da curiosidade da sociedade. Mas o facto de uma toca ser o
habitat de um animal poderá também ser relacionado com o carácter incestuoso da relação
amorosa, que subverte o tabu social. Ao longo da descrição da “Toca”, em especial a do quarto,
multiplicam-se os elementos simbólicos que indiciam o carácter interdito e o fim trágico do amor.
A partir do tópico anterior, conclui-se que há, efetivamente, um leque de espaços em Os Maias, com
predominância do espaço interior, o que se enquadra nas características da obra. Efetivamente, no
romance realista, o cenário é um pano de fundo importantíssimos, constituindo um universo de
pormenores que permitem reconstruir quer ambientes, que retratos físicos das personagens.
Assim, não é de estranhar que seja o espaço interior a desfilar nas páginas desta obra, revelando
requintados pormenores da vida aristocrática e cosmopolita do jovem Carlos da Maia e das pessoas
que constituem o seu círculo de amizades. É fácil confirmar a importância dada à descrição da
realidade circundante com recurso ao impressionismo literário, que vai buscar influências ao
movimentos pictórico com o mesmo nome – Impressionismo – o qual valoriza a cor, a luz, os
contornos esfumados e os efeitos da observação do real.
Deste modo, também nesta obra queirosiana as sensações que a observação do real provocam são
evidentes, sobretudo através da sinestesia, isto é, a associação de duas ou mais sensações
pertencentes a diferentes registos sensoriais – “uma luz macia, escorregando docemente do azul-
ferrete, vinha dourar as fachadas enxovalhadas”. Constata-se, pois, o recurso a um vocabulário rico e
essencialmente sensorial, em que os adjetivos, neste caso mas também os advérbios ou os verbos no
gerúndio desempenham um papel determinante.
O romance apresenta um leque vastíssimo de personagens que podem ser analisadas segundo várias
facetas, tendo em conta o seu relevo, a sua importância, e a sua representatividade social.
Afonso da Maia:
Afonso é a personagem que funciona como o esteio da família Maia: é para ele que todos se voltam
nos momentos de crise. Com efeito, Afonso constitui o ponto de equilíbrio dos Maias. É a ele que
Pedro entrega Carlos após a fuga da Maria, é ele que Carlos interroga na esperança de que o avô
desminta as revelações de Guimarães.
Afonso símbolo do Portugal liberal da década de 1820, que atirou “foguetes de lágrimas à
Constituição”, foi um jovem revolucionário que sofreu o exílio pela sua audácia ideológica.
Afonso é ainda a encarnação do bom senso, da experiência, dos valores da nação e da raça, é alguém
que defende o património português face à descaracterização e à invasão das modas estrangeiras.
Convive harmoniosamente com várias gerações e vários tipos de formação, de que os serões nos Paços
de Celas (Coimbra) e no Ramalhete são exemplo.
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No entanto, Afonso é humano e, embora tenha conseguido sobreviver à tragédia do filho, não supera
a do neto, morrendo também com ele o futuro da família.
Carlos da Maia:
A personagem Carlo, devido à sua centralidade tem direito a um tratamento privilegiado por parte do
narrador.
Assim, o leitor vai acompanhando o seu percurso, desde o seu período de formação em Santa Olávia,
submetido a uma rígida educação britânica até ao desencantado passeio final, em que a sua única
razão existencial parece ser a de se ter esquecido de encomendar para o jantar “um grande prato de
paio com ervilhas”.
Pelo caminho, encontramo-lo em Coimbra, levando uma vida de boémia estudantil e literária, em
Lisboa, passando belos momentos de ócio no seu consultório, aí fazendo planos para mudar a
mentalidade da sociedade lisboeta que frequenta e que o idolatra.
Vive de forma exacerbada e intensa a sua paixão por Maria Eduarda, interessando-se por tudo e por
nada ao mesmo tempo. Carlos é o diletante culto, por excelência, que acaba por se deixar submergir
pela “sonolência” da sociedade lisboeta em que vive, não sendo capaz de impedir que todos os seus
projetos se desmoronem, inclusive a sua paixão, embora esta última por razões que Carlos não
consegue controlar.
Como se justifica, então, dentro do cânones naturalistas, este falhanço de Carlos? A educação que
Carlos recebeu não deveria ter criado um indivíduo forte, capaz de ultrapassar as adversidades da
vida?
A resposta a esta questão não é única, uma vez que, e tendo em conta os pressupostos naturalistas,
não podemos esquecer que a carga hereditária dos pais também deve ser tida em conta; por outro
lado, o meio decadente em que Carlos se move também o influenciou.
No entanto, após a revelação do incesto e a morte do avô, Carlos consegue sobreviver pelo menos
fisicamente, talvez devido à sua educação britânica. Basta compararmos a sua atitude com a de Pedro,
para concluirmos como as duas personagens estão distantes.
Dever-se-á ainda referir que o percurso existencial de Carlos pode ser o símbolo da evolução da
sociedade portuguesa após a Regeneração. Quando Portugal parecia estar a entrar numa época
diferente, marcada por uma certa prosperidade (tal como Carlos foi a esperança de renascimento dos Maias), o
país acaba por cair no indiferentismo, num retrocesso por uma indefinição quanto ao futuro
(constatação de Carlos e Ega no passeio final).
Maria Eduarda:
Maria Eduarda é sempre apresentada ao leitor como uma “deusa transviada”, como um ser superior
que se destaca no meio das mulheres lisboetas. Ela é alta, loira, elegante, requintada, envolta numa
aura de mistério, o que aumenta o seu poder de sedução e a sua sensualidade. Era pois normal e
inevitável, tal como diz Ega, que ela e Carlos, também ele diferente do lisboeta comum, se
conhecessem, se sentissem atraídos um pelo outro e se amassem. Surgem em Lisboa, fazendo-se
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passar pela mulher do brasileiro Castro Gomes, com quem vivia há três anos, depois de ter enviuvado
de Mac Gren, pai de sua filha Rosa. Quando conhece e se torna íntima de Carlos, revela-se uma mulher
sensata, equilibrada, doce e com um forte sentido de dignidade, particularmente quando Castro
Gomes a abandona. O seu espírito culto – conhecia os grandes nomes da literatura e da música do seu
tempo- fascinava Carlos e os seus amigos, tanto mais que se mostrava solidária com os mais
desfavorecidos.
Maria Eduarda encarna a heroína romântica, perseguida pela vida e pelo destino, mas que acaba por
encontrar, ainda que momentaneamente, a razão da sua vida, na paixão e no amor. Ela é também
vítima do seu passado, das circunstâncias em que cresceu e viveu (bem ao jeito naturalista), mas o facto
de ser a própria personagem a narrar o seu percurso, omitindo, logicamente, aquilo que não sabe
referente ao seu passado, após o leitor já ter conhecimento do seu presente, afasta Maria Eduarda de
alguns dos preceitos estruturais do Naturalismo.
2.1. Características trágicas dos protagonistas (Afonso da Maia, Carlos da Maia e Maria Eduarda)
A ação central apresenta uma típica estrutura de tragédia que, no sentido clássico, se caracteriza pela
presença de um destino insondável que se abate sobre as personagens, envolvendo toda a família
Maia.
No entanto, não é só a presença do destino que confere tragicidade a esta obra. Assim, a intriga central
apresenta outros aspetos que a aproximam da tragédia, tais como:
A superioridade física e intelectual das personagens – Afonso, Carlos e Maria Eduarda destacam-
se no meio pequeno e medíocre em que vivem, pelas suas qualidades físicas, morais e intelectuais.
O papel do destino, da fatalidade, como força motriz – a destruição consuma-se por meio de um
agente dissimulado, o destino, frequentemente referido ao longo do romance:
- a inevitabilidade do destino;
- a concordância dos nomes e do destino;
- o destino “irreparável”.
Os indícios/presságios – que são sinais, afloramentos disfarçados do destino, que se revestem de
aparências diversas, dificultando o seu reconhecimento por parte das personagens incautas e
definitivamente à sua mercê:
- alusão por parte de Vilaça à fatalidade dos Maias;
- a semelhança fisionómica de Carlos com a mãe, reconhecida por Maria Eduarda;
- a semelhança temperamental de Maria Eduarda e Afonso da Maia, reconhecida por Carlos;
- a advertência a Carlos, por parte de Ega, de que a sua volubilidade sentimental terá
consequências trágicas;
- a imagem da alcova onde decorrem os amores de Carlos e Maria Eduarda como “tabernáculo
profano” – prenúncio da colisão violenta da situação incestuosa com valores morais de inspiração
sagrada.
Alguns aspetos estruturais trágicos:
- o amor incestuoso de Carlos e Maria Eduarda, que equivale à hybris da tragédia clássica, porque
constitui um desafio à ordem estabelecida;
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O descrédito do Naturalismo;
A inovação estética de Os Maias;
O falhanço dos valores positivistas;
O absurdo do real face à arbitrariedade do transcendente.
A negação das teses do naturalismo está representada em Carlos, ser superior, dotado de todos os
trunfos para vencer na vida que, no entanto, fracassa, não apenas por influência negativa da sociedade
portuguesa, mas sobretudo devido ao destino adverso que se abate sobre a sua felicidade,
provocando uma tragédia familiar.
Não só os elementos da família Maia são negativamente marcados pela paixão, como também Ega, o
excêntrico amigo de Carlos, tem a sua dose de relações atribuladas. Mas comecemos pela análise do
amor fatal entre os pais de Carlos – Pedro da Maia e Maria Monforte.
Após a morte da “mamã”, a vida de Pedrinho da Maia é marcada pela devassidão dos lupanares
(bordéis) e dos botequins, numa expressão clara do romantismo torpe que marca esta personagem.
O bastardo, do qual nada mais é dito ao longo do romance, e a vida dissoluta não agradam a Afonso,
contudo, tudo é preferível ao hipotético ingresso na vida eclesiástica. Tudo se altera quando conhece
Maria Monforte, a negreira que será sua perdição.
Este amor-paixão, que será um amor fatal, é o mesmo sentimento que pontuará a ligação incestuosa
de Carlos e Maria Eduarda. Já enquanto estudante, Carlos tinha tido um percurso académico que
caminhara a par e passo com um percurso sentimental curioso: envolveu-se com uma mulher casada,
Hermengarda, e com uma espanhola. O pudor moral não caracterizava o jovem médico, nem mesmo
quando se instala em Lisboa e inicia uma relação adúltera com a Condessa de Gouvarinho.
O carácter volúvel de Carlos é desde logo evidenciado pela forma como, ainda sem ter iniciado esta
relação, já sente um certo desinteresse, repulsa até, por esta mulher fogosa mas controladora.
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Eça de Queirós, Os Maias
No momento em que vê Maria Eduarda, no peristilo do Hotel Central, numa visão em tudo semelhante
à que seu pai teve quando viu Maria Monforte pela primeira vez, inicia-se a sua caminhada fatal.
Apesar de Maria Eduarda não ser, afinal, casada, está em Lisboa com Castro Gomes e, mais uma vez,
a questão moral não é impeditiva para Carlos, incapaz de controlar as suas emoções perante a
“brasileira”.
Deste modo, o adultério marca a intriga amorosa, que não se concentra apenas em Carlos, sendo
alargada para o seu amigo Ega, que se envolve com a mulher do banqueiro Cohen, Raquel, que voa
para os braços de Dâmaso, depois de Ega ter sido escorraçado do baile de máscaras pelo marido
traído.
Outras personagens:
Maria Eduarda Runa – filha do Conde de Runa, casa com Afonso, um jovem revolucionário e liberal,
cujas ideias progressistas a atormentam, levando o casal ao exílio em Inglaterra. A vida nesse país, à
qual nunca se adaptou, tornou-a ainda mais melancólica e doente, encontrando refúgio numa
devoção religiosa exacerbada. Assim, não confiando numa educação britânica, mesmo sendo católica,
faz ir o Padre Vasques de Lisboa para educar o “seu” Pedrinho, o único filho do casal.
Maria Monforte – destaca-se no universo feminino do romance, tanto pela sua beleza avassaladora,
como pela irreverência face às normas discriminatórias da sociedade oitocentista: é herdeira de uma
fortuna ganha à custa do tráfico de escravos (o pai era “negreiro”); foge com Pedro da Maia, depois de
um casamento secreto; mais tarde com o italiano Tancredo e já em Paris, muito mais tarde, “com uma
súcia para Baden”; é protagonista de soirées e tertúlias literárias que ela própria organiza e contam
com uma presença maioritariamente masculina; rompe com um casamento nobre que lhe permite
ser aceite na sociedade, salvando-a de uma situação social sem título; rejeita a fortuna do marido, em
busca do amor; foge, levando a filha e abandonando o filho, desfazendo, assim, a estrutura familiar;
já em Paris torna-se proprietária de uma casa de jogo que entra em decadência, quando se deixa
subjugar por um tal Mr. Trevernnes; insurge claramente contra o poder masculino, ao rejeitar o
dinheiro e os bens dos Maias, mesmo quando a miséria atinge.
Caetano da Maia – é a personagem que se afirma no romance como grande opositor do liberalismo.
A sua intolerância relativamente às ideias revolucionárias leva-o a expulsar o filho de casa,
desterrando-o para Santa Olávia, no Douro, por este se envolver com os simpatizantes da Revolução
Francesa e partilhar dos ideais jacobinistas. Era-lhe intolerável ter um filho revolucionário, tal era o
seu ódio pelo jacobinismo.
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João da Ega – Ega funciona como o Sancho Pança de Carlos, ou seja, é aquele amigo que o traz de
volta à realidade, que o faz pôr os pés no mundo. É também aquele que, nos momentos mais difíceis
e mais dolorosos, o ampara e ajuda, não só em termos psicológicos, mas também na resolução dos
problemas práticos (carta de Dâmaso, partida de Maria Eduarda de Lisboa). Para além destes aspetos, são
também evidentes afinidades culturais entre as duas personagens.
O amigo de Carlos é igualmente o símbolo da pura irreverência, do sarcasmo, da ironia, da crítica pela
crítica, do prazer de chocar e de questionar, mostrando-se, muitas vezes, contraditório nas suas
opiniões: literatura, educação da mulher, política, escravatura... Gosta, por isso, de se fazer notar e de
ser notado nos círculos que frequenta. Entusiasma-se facilmente pela novidade, iniciando vários
projetos, como a criação de uma revista que revolucionasse o ambiente cultural português e um livro
intitulado As memórias de um Átomo, projetos que nunca foram concluídos.
No passeio final, tal como Carlos, Ega extravasa o seu desencanto, a sua desilusão, a sua frustração,
não só em relação ao Portugal que o envolve, mas também em relação ao falhanço dos seus projetos.
Capítulo I
O romance inicia-se com a referência à instalação da família Maia no Ramalhete, no outono de 1875.
A família é constituída apenas pelo avô Afonso – “um antepassado, mais idoso que o século” – e pelo
neto Carlos – “que estudava em Coimbra”, “rapaz de gosto e de luxo que +assava as férias em Paris e
Londres”.
Este palacete, durante longos anos desabitado, sofrera, entretanto, obras de restauro, apesar da
discordância de Vilaça, o procurador da família, para quem as paredes do Ramalhete eram sempre
fatais aos Maias. As obras de restauro e a decoração são supervisionadas por Carlos, que, depois de
concluído este processo de renovação e já formado em Medicina, parte para uma viagem de um amo
pela Europa. Afonso, que fazia lembrar, segundo o seu neto, “um varão esforçado das idades
heroicas”, instala-se no Ramalhete, esperando o regresso de Carlos.
Inicia-se, então a longa analepse que evoca o passado de Afonso da Maia, da vida de seu filho Pedro
e da infância e formação de Carlos:
Afonso, jovem apoiante do Liberalismo, é expulso de casa por seu pai, Caetano, ferrenho
absolutista.
Após voltar a Portugal aquando da morte do pai, Afonso conhece e casa com Maria Eduarda Runa,
mas regressa a Inglaterra por questões políticas, já com um filho – Pedro.
Pedro (menino frágil e adoentado) recebe uma educação católica e retrógrada em Inglaterra, a cargo
do Padre Vasques, por vontade expressa de sua mãe.
A família regressa a Lisboa e ocorre a morte de Maria Eduarda Runa, que faz mergulhar Pedro
numa profunda depressão, iniciando uma vida devassa e boémia.
Pedro, entretanto recuperado do luto, apaixona-se por Maria Monforte, mulher muito bela e
elegante, filha de um negreiro.
Pedro e Maria casam-se às escondidas, contra a vontade de Afonso.
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Capítulo II
Pedro e Maria viajam em núpcias pro Itália e instalam-se em Paris, onde nasce a primeira filha,
Maria Eduarda.
Pedro e Maria levam uma vida social intensa e nasce o segundo filho, Carlos Eduardo.
Maria consuma a sua traição a Pedro, fugindo com Tancredo e lavando consigo a filha.
Pedro procura o pai em Benfica, entrega-lhe o filho bebé e suicida-se.
Afonso retira-se, com o seu neto, para Santa Olávia, a propriedade no Douro.
Capítulo III
Carlos recebe uma educação britânica em Santa Olávia, sob a supervisão de Mr. Brown.
Carlos e Eusebiozinho protagonizaram a educação britânica e a educação tradicional portuguesa,
respetivamente.
Carlos, contrariamente às expectativas, entra na Universidade de Coimbra, em Medicina.
Capítulo IV
Carlos instala-se no “paço de Celas”, em Coimbra, onde leva uma vida boémia, rodeado de amigos,
em constantes tertúlias supostamente intelectuais.
Carlos desenvolve uma grande amizade com João da Ega, sobrinho de um amigo de infância de
Afonso.
Após a formatura em Medicina, o neto de Afonso viaja pela Europa durante 14 meses, período
após o qual se instala em Lisboa, onde pretende montar um luxuoso consultório e um moderno
laboratório (fim da analepse inicial).
Carlos recebe a visita de Ega em Lisboa e este comunica-lhe que está a escrever um livro –
Memórias de um Átomo.
Capítulo V
Capítulo VI
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Eça de Queirós, Os Maias
Capítulo VII
Capítulo VIII
Carlos, acompanhado de Cruges, vai a Sintra, que deslumbra os dois amigos pela beleza da
paisagem.
Carlos falha a tentativa de encontrar Maria Eduarda, que já regressara a Lisboa.
Assiste-se ao episódio de Eusebiozinho, Palma Cavalão e das suas amigas espanholas.
Cruges e Carlos encontram Alencar, o velho poera romântico.
Os três visitam Sintra – Seteais, o Paço, os hotéis (o Nunes, a Lawrence) e decidem regressar a Lisboa
– e é então que Cruges, completamente frustrado e desiludido, percebe que se esqueceu das
queijadas.
Capítulo IX
Carlos vai a casa de Maria Eduarda, por intermédio de Dâmaso e na qualidade de médico, para
ver Rosa, a filha de Maria Eduarda que tinha ficado adoentada.
No baile de máscaras em casa de Cohen, o banqueiro expulsa Ega por ter descoberto o seu caso
com a divina Raquel, sua mulher.
Ega dorme nessa noite no Ramalhete e decide deixar Lisboa.
Carlos continua, apesar de pouco entusiasmado, o seu romance com a Gouvarinho.
Capítulo X
Assiste-se ao episódio das corridas de cavalos, marcadas pela apatia, pela falta de brilho e pelo
desajuste dos comportamentos, quer da assistência, quer dos participantes.
Carlos procura desesperadamente Maria Eduarda e fica a saber, por Dâmaso, que Castro Gomes
partira para o Brasil.
Maria Eduarda instala-se numa casa alugada à mãe de Cruges, na rua de S. Francisco.
A relação entre Carlos e a Condessa de Gouvarinho atravessa uma fase de tédio e de saturação.
Carlos recebe uma carta de Maria Eduarda, pedindo-lhe que a visite no dia seguinte, por ter “uma
pessoa de família, que se achava incomodada”. Carlos anima-se.
Capítulo XI
A pedido de Maria Eduarda, Carlos vai a sua casa e constata que é Miss Sara, a governanta, que
está doente.
A Condessa de Gouvarinho e o marido partem para o Porto.
Carlos vai-se familiarizando com Maria Eduarda, a pretexto das visitas como médico a Miss Sara.
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Ana Rita Azevedo
Português – 11º ano
Eça de Queirós, Os Maias
Dâmaso, ao aperceber-se da crescente intimidade entre Carlos e Maria Eduarda, pede explicações
ao amigo.
Capítulo XII
Capítulo XIII
Ega informa Carlos de que Dâmaso anda a difamá-lo a ele e a Maria Eduarda. Carlos fica furioso e,
ao encontrá-lo na rua, ameaça-o.
Carlos e Maria Eduarda fazem uma visita à casa dos Olivais; depois da visita e do almoço, fazem
amor.
Carlos e a Condessa de Gouvarinho terminam o romance.
Capítulo XIV
Capítulo XV
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Ana Rita Azevedo
Português – 11º ano
Eça de Queirós, Os Maias
Capítulo XVI
Assiste-se ao episódio do sarau do Teatro da Trindade, marcado pela falta de qualidade artística
e pela presença de um público insulto e provinciano.
Carlos e Ega vão ao sarau da Trindade ouvir Cruges e Alencar, que atuam nessa noite.
O amigo de Carlos encontra o Sr. Guimarães, o tio de Dâmaso, que vive em Paris e trabalha num
jornal parisiense.
Ega e o Sr. Guimarães conversam sobre Dâmaso e, no final, o Sr. Guimarães entrega ao amigo de
Carlos um cofre com os papéis da Monforte para ser entregue “ao Carlos da Maia, ou à irmã”.
Ega fica chocado com a verdade e decide pedir ajuda a Vilaça para contar tudo a Carlos.
Capítulo XVII
Ega, sem coragem para revelar a verdade a Carlos, procura Vilaça e conta-lhe tudo.
A abertura do cofre confirma a terrível verdade: Carlos e Maria Eduarda são irmãos.
Afonso diz a Ega que sabe que Carlos tem um caso com Maria Eduarda.
Apesar de já saber a verdade, Carlos continua a dormir em casa de Maria Eduarda, mas
progressivamente o amor dá lugar ao repúdio, ao “nojo físico”.
Afonso morre, esmagado por esta tragédia.
Ega conta a verdade a Maria Eduarda, que parte com Rosa para Paris.
Carlos deixa Lisboa e vai para Santa Olávia.
Capítulo XVIII
O romance acaba com os dois amigos a correrem para apanharem o americano que os levaria a um
jantar de amigos, depois de terem “construído” a sua filosofia de vida – “Nada desejar e nada recear...
Não se abandonar a uma esperança – nem um desapontamento”.
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Ana Rita Azevedo