Você está na página 1de 6

Português, 11º Ano

Prof. António Alves

Os Maias, de Eça de Queirós - A Crónica de Costumes

O jantar no hotel central

 Objetivos:
o Homenagear o banqueiro Jacob Cohen;
o Proporcionar a Carlos um primeiro contacto com o meio social lisboeta;
o Apresentar a visão crítica de alguns problemas;
o Proporcionar a Carlos visão de Maria Eduarda.

 Intervenientes:
o João da Ega, promotor da homenagem e representante do Realismo/ Naturalismo;
o Cohen, o homenageado, representante das altas Finanças;
o Tomás de Alencar, o poeta ultra-romântico;
o Dâmaso Salcete, o novo-rico, representante dos vícios do novo-riquismo burguês, a
catedral dos vícios;
o Craft, o britânico, representante da cultura artística e britânica, o árbito das elegâncias.

 Temas discutidos:
o A literatura e a crítica literária

Tomás de Alencar João da Ega


 opositor do Realismo – Naturalismo;  defensor do Realismo/ Naturalismo;
 incoerente: condena no presente o que  exagera, defendendo o cientivismo na
cantara no passado: o estudo dos vícios literatura;
da sociedade;  não distingue Ciência e Literatura.
 falso moralista: refugia-se na moral, por
não ter outra arma de defesa; acha o
Realismo/ Naturalismo imoral;
 desfasado do seu tempo;
 defensor da crítica literária da natureza
académica:
 preocupado com aspectos formais em
detrimento da dimensão temática;
 preocupado com o plágio.

Carlos e Craft O Narrador


 recusam o ultra-romantismo de Alencar;  recusa o ultra-romantismo de Alencar;
 recusam o exagero de Ega;  recusa a distorção do naturalismo contido
 Carlos acha intolerável os ares científicos nas afirmações de Ega;
do realismo;  afirma uma estética próxima da de Craft:
 Carlos defende que os caracteres se «estilos, tão preciosos e tão dúcteis»:
manifestam pela acção; tendência parnasiana.
 Craft defende a arte como idealização do
que melhor há na natureza;
 Craft defende a arte pela arte.

Próximos da doutrina estética de Eça quando defende para a literatura uma nova forma

Publicado em http://portugues11ano.blogspot.com por António Alves Pág.1


o As finanças

 O país tem absoluta necessidade dos empréstimos estrangeiro;


 Cohen é calculista cínico: tendo responsabilidades pelo cargo que desempenha,
lava as mãos e afirma alegramente que o país vai direitinho para a bancarrota.

o A história e a política

João da Ega Tomás de Alencar

 aplaude as afirmações do Cohen;  teme a invasão espanhola: é um perigo


 delira com a bancarrota como para a independência nacional;
determinante da agitação revolucionária;  defende o romantismo político:
 defende a invasão espanhola;  uma república governada por génios;
 defende o afastamento violento da  a fraternização dos povos;
Monarquia;  esquece o adormecimento geral do país.
 aplaude a instalação da República;
 a raça portuguesa é a mais covarde e
miserável da Europa: «Lisboa é Portugal!
Fora de Lisboa não há nada.»

Próximo de Eça que defende uma


catástrofe como forma de acordar o
País

Jacob Cohen Dâmaso Salcete


 Há gente séria nas camadas políticas  Se acontecesse invasão espanhola, ele
dirigentes; «raspava-se» para Paris;
 Ega é um exagerado.  Toda a gente fugiria como uma lebre.

Conclusões a retirar das discussões:

 A falta de personalidade:
 Alencar muda de opinião quando Cohen o pretende;
 Ega muda de opinião quando Cohen quer;
 Dâmaso, cuja divida é «Sou forte», aponta o caminho fácil da fuga.
 A incoerência: Alencar e Ega chegam a vias de facto e, momentos depois, abraçam-se como se
nada tivesse acontecido;
 De tudo: a falta de cultura e de civismo domina as classes mais destacadas, salvo Carlos e Craft.

Publicado em http://portugues11ano.blogspot.com por António Alves Pág.2


As corridas de cavalos

 Objetivos:
o Novo contacto de Carlos com a alta sociedade lisboeta, incluindo o próprio rei;
o Visão panorâmica dessa sociedade (masculina e feminina) sob o olhar crítico de
Carlos;
o Tentativa frustada de igualar Lisboa às capitais europeias, sobretudo Paris;
o Cosmopolitismo (postiço) da sociedade;
o Possibilidade de Carlos encontrar aquela figura feminina que viu à entrada do Hotel
Central.

 As corridas:
o 1.ª Corrida: a do 1.º prémio dos «Produtos»
o 2ª Corrida: a do Grande Prémio Nacional
o 3ª Corrida: a do Prémio de El–Rei
o 4ª Corrida: a do Prémio de Consolação

 Visão caricatural:
o O hipódromo parecia um palanque de arraial;
o As pessoas não sabiam ocupar os seus lugares;
o As senhoras traziam «vestidos sérios de missa»;
o O bufete tinha um aspecto nojento;
o A 1.ª corrida terminou numa cena de pancadaria;
o As 3.ª e 4.ª corridas terminaram grotescamente.

 Conclusões a retirar:
o Fracasso total dos objectivos das corridas;
o Radiografia perfeita do atraso da sociedade lisboeta;
o O verniz de civilização estalou completamente;
o A sorte de Carlos, ganhando todas as apostas, é indício de futura desgraça.

Publicado em http://portugues11ano.blogspot.com por António Alves Pág.3


O Jantar dos Gouvarinhos

 Objetivos:
o Reunir a alta burguesia e aristocracia;
o Reunir a camada dirigente do País;
o Radiografar a ignorância das classes dirigentes.

Alvos visados

Conde de Gouvarinho Sousa Neto

 voltado para o passado;  acompanha as conversas sem intervir;


 tem lapsos de memória;  desconhece o sociólogo Proudhon;
 comenta muito desfavoravelmente as  defende a imitação do estrangeiro;
mulheres;  não entra nas discussões;
 releva uma visível falta de cultura;  acata todas as opiniões alheias, mesmo
 não acaba nenhum assunto; absurdas;
 não compreende a ironia sarcástica do  defende a literatura de folhetins, de
Ega; cordel;
 vai ser ministro.  é deputado.

Superficialidade dos juízos dos mais destacados funcionários do Estado;


incapacidade de diálogo por manifesta falta de cultura

A imprensa

 Objetivos:
o Passar em revista a situação do jornalismo nacional;
o Confrontar o nível dos jornais com a situação do país.

A “CORNETA DO DIABO” “A TARDE”

 O director é o Palma «Cavalão», um  O director é o deputado Neves;


imoral;  Recusa publicar a carta de retractação de
 A Redacção é um antro de porcaria; Dâmaso porque o confunde com um
 Publica um artigo contra Carlos mediante correligionário político;
dinheiro;  Desfeito o engano, serve-se da mesma
 Vende a tiragem do número do jornal carta como meio de vingança contra o
onde saíra o artigo; inimigo político;
 Publica folhetins de baixo nível.  Só publica artigos ou textos dos seus
correligionários políticos.

O baixo nível; a intriga suja; o compadrio político; tais jornais, tal País

Publicado em http://portugues11ano.blogspot.com por António Alves Pág.4


O sarau do Teatro da Trindade

 Objetivos:
o Ajudar as vítimas das inundações do Ribatejo;
o Apresentar um tema querido da sociedade lisboeta: a oratória;
o Reunir novamente as várias camadas das classes mais destacadas, incluindo a família
real;
o Criticar o ultra-romantismo que encharcava o público;
o Contrastar a festa com a tragédia.

 Os oradores:

Rufino Alencar

 bacharel transmontano;  o poeta ultra-romântico;


 o tema do Anjo da Esmola;  o tema da Democracia Romântica;
 o desfasamento entre a realidade e o  o desfasamento entre a realidade e o
discurso; discurso;
 a falta de originalidade;  o excessivo lirismo carregado de
 o recurso a lugares – comuns; conotações sociais;
 a retórica por parte do público tocado no  a exploração do público seduzido por
seu sentimentalismo. excessos estéticos estereotipados;
 a aclamação do público.

As classes dirigentes alheadas da realidade; uma sociedade deformada


pelos excessos líricos do ultra-romantismo; tal oratória, tal País

Publicado em http://portugues11ano.blogspot.com por António Alves Pág.5


O episódio final: o passeio de Carlos e Ega

O último capítulo funciona como o epílogo do romance, dez anos depois de acabada a intriga; o
passeio final de Carlos e Ega em Lisboa ocorre, pois, dez anos depois.
É semelhante aos outros objectivos críticos e diferente porque tem uma dimensão ideológica e o
processo de representação é de carácter simbólico. Os espaços percorridos estão impregnados de
conotações históricas e ideológicas.
Os espaços percorridos por Carlos e Ega podem agrupar-se em três conjuntos:
o a estátua de Camões que, triste, evoca o passado glorioso da epopeia portuguesa (anterior
a 1580) e desperta um sentimento de nostalgia. Com efeito, encontra-se perdida e
envolvida por uma atmosfera de estagnação.
o aspectos ligados a Portugal absolutista (anterior 1820): é a parte antiga da cidade. Embora
recusado este tempo pela perspectiva de Carlos, não deixa de manifestar uma
autenticidade nacional, destruída pelo presente afrancesado e decadente.
o Domina o presente (o tempo da Regeneração, a partir de 1851), tempo de decadência, do
fracasso da restauração, da destruição. As tentativas de recuperação não mobilizaram o
País, quer porque de alcance muito restrito (caso do monumento dos Restauradores), quer
porque imitações erradas de modelos culturais alheios (caso do francesismo).
O Ramalhete integra-se neste conjunto no sentido em que, atingido pela destruição e pelo
abandono, pode funcionar como sinédoque da cidade e do País, retirada a dimensão individual.

Em conclusão, o plano da crónica dos costumes, que constitui o espaço social de Os Maias,
possibilitou um exame profundamente crítico da alta sociedade lisboeta da segunda metade do
século XIX. Este espaço social será também precioso para detectarmos algumas coordenadas da
estética naturalista.

Publicado em http://portugues11ano.blogspot.com por António Alves Pág.6

Você também pode gostar