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Teste de leitura 2

Nome N.º Turma Data

Avaliação Professor(a)

Lê o texto e as notas.

Palavras caras
Avança a causa de não usar poucas pa-
lavras quando se pode usar muitas. E para
quê usar curtas, se há compridas?
“Há”, por exemplo, pode-se substituir
5 por “existe a possibilidade”. Ou “encon-

tram-se à nossa disposição”.


Ao telefone, diz-me alguém que está a
“vislumbrar” os meus pagamentos. Inspi-
rado, vislumbro o meu telemóvel para
10 descortinar melhor.

Vislumbrarei no meu aparelho trans-


comunicacional a operação a que o meu
interlocutor se reporta?
Num restaurante, pergunto se há maneira de eu ver a ementa online. Perdoem-
15 -me, não é ver – é “ter acesso” a ela.

“Desconheço”, responde-me o empregado. Esta é a forma do velho “não sei”,


cuja variante insolente1 era “não faço ideia”.
Hoje pediram-me que “facultasse o meu nome”. Dantes, quando éramos todos
selvagens, dizia-se: “Como é que se chama?”
20 Hoje em dia, é preciso dizer que há muitas palavras compridas que são úteis e
que não podem ser convertidas em palavras pequenas sem perdas de significado.
É que os defensores das novas palavreiras dizem que é malcriado perguntar a
alguém “como é que se chama?” ou “qual é o seu nome?”. Daí que intercedam
junto de nós de modo a vislumbrarmos uma forma de lhes facultar o acesso ao
2
25 nosso registo onomástico .

Qualquer dia já não se pode dizer “gosto de ti”. Será preciso elucidar que “as
minhas disposições afetivas vão no sentido de avaliar positivamente os efeitos da
nossa interação pessoal”.
Caso se caia na asneira de chamar a atenção para o desperdício da nossa língua,
30 arriscamo-nos a ouvir como justificação: “Eu desfruto.”

Miguel Esteves Cardoso, “Palavras caras”, in Público (30-07-2020)

1. insolente: grosseira.
2. onomástico: relativo aos nomes próprios.

Livro aberto, 9.º ano – Testes de leitura | Questões de aula


Teste de leitura 2

1. Assinala com X, nos itens 1.1. a 1.6., a opção que completa cada frase, de acordo com o texto.

1.1. O autor aborda uma questão particular do uso da língua, fazendo


(A) uma crítica carregada de humor e ironia.
(B) um relato dos erros com que habitualmente se depara.
(C) propostas de correção dos erros que encontra.

1.2. O título “Palavras caras” é adequado porque o autor reflete sobre


(A) a erudição que cada vez mais pessoas revelam na linguagem do quotidiano.
(B) a tendência crescente para complicar o discurso, aumentando o número e a extensão das
palavras.
(C) o crescente conhecimento do vocabulário da língua demonstrado pelos falantes.

1.3. Nas linhas 18 e 19, a expressão “quando éramos todos selvagens” refere-se ao tempo em que
(A) a linguagem coloquial era menos rebuscada e mais direta.
(B) a maioria das pessoas usava a língua de forma rudimentar.
(C) os falantes não se preocupavam com princípios de cortesia.

1.4. Na linha 22, “novas palavreiras” refere-se a


(A) formas de discurso mais cuidadas.
(B) neologismos introduzidos na língua.
(C) palavreado desnecessário.

1.5. O autor expõe o seu ponto de vista sobre o uso de “palavras caras”
(A) repetindo-as de forma exagerada e cómica.
(B) demonstrando, pedagogicamente, o uso errado das mesmas.
(C) propondo alternativas para todos os exemplos citados.

1.6. No final da crónica, o autor


(A) aconselha o leitor a lutar por um uso mais económico da nossa língua.
(B) sugere que é inútil combater a tendência atual para o desperdício da língua.
(C) afirma que contrariar o discurso palavroso é cometer um erro.

2. Assinala com X a opção que melhor exprime o sentido global do texto.

(A) A opção por um discurso em que as palavras se multiplicam e a sua extensão se alonga não melhora a
comunicação nem a torna mais significativa.
(B) A opção por vocábulos menos comuns e construções mais elaboradas constitui uma mais-
-valia na comunicação.

Livro aberto, 9.º ano – Testes de leitura | Questões de aula

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