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Índice
1. Introdução.................................................................................................................................5
1.1. Objectivos.............................................................................................................................5
1.2. Objectivo Geral.................................................................................................................5
1.3. Objectivos Específicos......................................................................................................5
1.4. Metodologias do Trabalho.............................................................................................5
2. Os Países de Língua Oficial Portuguesa...................................................................................6
2.1. Conceito............................................................................................................................6
2.2. Génese e Instituições.....................................................................................................6
3. O Papel das Instituições da CPLP no Mundo Lusófono..........................................................9
3.1. A CPLP na economia mundial..........................................................................................9
3.2. Aspectos culturais e linguísticos da CPLP..................................................................10
3.3. Colonização........................................................................................................................12
3.4. O caso de Moçambique...................................................................................................12
3.5. Exploração e colonização de Moçambique.................................................................12
4. Língua Oficial em Moçambique.............................................................................................13
4.1. Outras Línguas............................................................................................................13
4.2. A afirmação da Cultura Moçambicana........................................................................14
4.3. Culinária......................................................................................................................14
4.4. Desenvolvimento Socioeconómico.............................................................................14
4.5. Principais produtos agrícolas.......................................................................................14
Em Moçambique destacam-se os seguintes principais produtos agrícolas:..........................14
 Algodão...........................................................................................................................14
4.6. Pecuária.......................................................................................................................15
No que se refere a área de agró-pecuária são destacadas as seguintes espécieis:..................15
4.7. Pesca............................................................................................................................15
4.8. Recursos minerais........................................................................................................15
4.9. Indústria.......................................................................................................................15
5. O Português como Língua oficial e de ensino........................................................................15
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5.1. O Processo Histórico da Língua Portuguesa em Moçambique...................................16


5.2. Na Guerra da Libertação.....................................................................................................17
6. O Português Moçambicano....................................................................................................19
6.1. Léxico do Português Moçambicano................................................................................19
6.2. Linguas Nacionais do ramo Bantu..............................................................................20
6.3. Grupo de Línguas........................................................................................................21
6.4. As línguas moçambicanas no sistema de ensino.........................................................21
7. Algumas questões sobre o ensino em Moçambique...............................................................23
7.1. A tripartida relação entre língua x cultura x ensino........................................................26
8. Conclusão...............................................................................................................................28
9. Referência Bibliográfica.........................................................................................................29
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1. Introdução

Este trabalho é da cadeira de Mundo Lusófono que versa sobre os países da língua oficial
portuguesa, e também irá desenvolver-se a questão de aspectos histórico-culturais,
socioeconómicos, políticos e linguísticos nos países de Língua Oficial Portuguesa que os define
como uma comunidade de países. Dentro deste contexto o grupo irá descrever de forma
particular o caso de Moçambique concretamente, tipo de colonização, a independência a opção
pela língua oficial portuguesa, a afirmação da cultura moçambicana, o desenvolvimento
socioeconómico, e por ultimo tratar-se-á da questão da educação e o ensino da língua portuguesa
e das línguas nacionais do ramo bantu. No entanto, vale realçar que a ideia da Comunidade dos
Países de Língua Portuguesa surgiu de considerações de natureza linguística e histórico-cultural.
Por considerações de natureza linguística entendem-se as referentes à importância e à
valorização da língua portuguesa, isto é, à lusofonia, Para delimitar o espaço em que se fala o
português, devemos percorrer os quatro continentes na companhia de populações as mais
variadas, por vezes imensas, por vezes diminutas. Só nos sete países de expressão portuguesa
somos hoje mais de duzentos milhões de pessoas. A esses se acrescentariam os imigrantes de fala
portuguesa em diferentes recantos do mundo. Este trabalho tem como objectivos Geral e
Específicos.
1.1. Objectivos

1.2. Objectivo Geral

Conhecer os Países da Língua Oficial Portuguesa

1.3. Objectivos Específicos


Identificar o tipo de colonização de Moçambique;
Reflectir sobre a opção pela língua oficial portuguesa;
Analisar sobre a educação e o ensino da língua portuguesa e das línguas nacionais do
ramo bantu.
1.4. Metodologias do Trabalho

Para a materialização deste trabalho foi possível através do uso do método bibliográfico que
consistiu em consulta de material já existente como livros, manuais, artigos que tratam a cerca
deste tema. E também, utilizou-se a internet para auxiliar a informação que a seguir será
apresentada.
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2. Os Países de Língua Oficial Portuguesa


2.1. Conceito

A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) é uma organização assinada entre
países lusófonos, que instiga a aliança e a amizade entre os signatários. A sua sede fica em
Lisboa e seu actual Secretário Executivo é Domingos Simões Pereira, da Guiné-Bissau.
Promove a data de 5 de Maio como o dia da Língua Portuguesa e da Cultura, celebrado em todo
o espaço lusófono.

2.2. Génese e Instituições


A CPLP foi criada oficialmente em 17 de Julho de 1996, a Comunidade dos Países de Língua
Portuguesa (CPLP), congrega os sete países do globo de língua oficial portuguesa: Angola,
Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe. O Timor Leste
era observador convidado e deve tornar-se membro pleno assim que completar a transição,
iniciada em Setembro de 1999, para a independência. No ano de 2002, após conquistar a
independência, Timor-Leste foi acolhido como país integrante. Na actualidade, são oito os países
integrantes da CPLP (Saraiva, s/d).
O primeiro passo de criação da CPLP foi dado em S. Luís de Maranhão em Novembro de 1989
por ocasião da realização do 1º encontro dos chefes de Estado e Governo dos países de língua
portuguesa nomeadamente: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné Bissau, Moçambique, São Tomé
e Príncipe e Portugal, a convite do presidente Brasileiro, José Sarney. Nesse encontro decidiu-se
criar o Instiuto Internacional da língua Portuguesa (IILP) que se ocupa da promoção e difusão do
idioma comum da comunidade.

Em 1983 a quando da visita oficial a Cabo Verde por então ministro dos negócios estrangeiros de
Portugal Jaime Gama teria referido que o processo mais adequado para tornar consistente e
descentralizar o diálogo tricontinental dos sete países da língua portuguesa de África, Europa e
América seria a realização de cimeiras relativas bienais de chefes de Estado e Governo,
promover encontros anuais de ministros de negócios estrangeiros, etc.
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O processo ganhou impulso na década de 90 concretamente a 17 de Julho de 1996. Em 2002,


com a conquista da sua independência Timor Leste tornou-se o oitavo país da CPLP.

A CPLP assume-se como um novo projecto político cujo fundamento é a língua portuguesa,
vínculo histórico e património comum dos oito países. A CPLP tem por objectivos gerais a
concentração política e a cooperação nos domínios sociais, cultural e económico.

A CPLP tem determinados princípios que a regem, nomeadamente:


Igualdade e soberana dos estados membros;
Não ingerência nos assuntos internos de cada estado;
Respeito pela sua independência nacional;
Reciprocidade de tratamento;
Primado de paz, da democracia, do estado de direito, dos direitos humanos e da justiça
social;
Promoção do desenvolvimento;
Promoção da cooperação mutuamente vantajosa.
No acto da criação da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) foram estabelecidos
como órgãos da comunidade as seguintes instâncias:
 A conferência dos chefes de estado e de Governo;
 O Conselho de Ministros;
 O Comité de Concentração Permanente;
 Secretariado Executivo.
Posteriormente, os estatutos revistos na IV Conferência de Chefes de Estado e do Governo
(Brasília, 2002) estabeleceram como órgãos adicionais da CPLP, os seguintes:
 As reuniões Ministeriais e sectoriais.
 A reunião dos pontos focais da cooperação.
Em Luanda, o X conselho de Ministros em 2005 estabeleceu como órgão adicional, o Instituto
Internacional de língua Portuguesa (IILP).
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“O Governo da Guiné-Equatorial e o Instituto Internacional de Língua Portuguesa (IILP)


firmaram no dia 7 de Fevereiro de 2012, o Protocolo de Cooperação no domínio do
desenvolvimento de acções de promoção da Língua Portuguesa.

Em representação das respectivas instituições estiveram presentes  o Ministro dos Negócios


Estrangeiros da Guiné-Equatorial, Pastor Micha e o Director-Executivo do IILP, Gilvan Muller
de Oliveira”.

Ainda de acordo com a mesma fonte “O ministro dos negócios estrangeiros da Guiné Equatorial
afirmou não perceber as críticas dos que se opõem à adesão do país à CPLP, porque a
candidatura tem motivações culturais e históricas e "não tem a ver com questões políticas".

Confrontado com as críticas dos que apontam violações dos direitos humanos no país para
defender que a adesão da Guiné Equatorial não deve ser aceite, Pastro Micha Ondo Bile afirmou
que a candidatura surge "por razões históricas e "não tem que ver com questões políticas".

Segundo Saraiva, J.F. S. (2012), “no decorrer da VI Conferência de Chefes de Estado e de


Governo realizada em Bissau em Julho de 2006, foram admitidos como dois observadores
associados: a Guiné Equatorial e as Maurícias. Na Cimeira de Lisboa, que teve lugar no dia 25
de Julho de 2008, foi a vez da formalização da admissão do Senegal como observador associado.

A Guiné Equatorial fez um pedido formal de adesão plena à CPLP em Junho de 2010 e deve
adicionar o português como terceira língua oficial (ao lado do espanhol e do francês) já que esta
é uma das condições para entrar no grupo. O Presidente da República da Guiné Equatorial,
Obiang Nguema Mbasog, e o Primeiro-Ministro Chefe de Estado, Ignacio Milam Tang,
aprovaram e apresentaram no dia 20 de Julho de 2011 o novo
Projeto-Lei Constitucional que pretende adicionar o português como língua oficial. O decreto
aguarda ratificação pela Câmara de Representantes do Povo e entrará em vigor 20 dias após a sua
publicação no Boletim Oficial do estado (equivalente ao português Diário da República).
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3. O Papel das Instituições da CPLP no Mundo Lusófono


3.1. A CPLP na economia mundial
A actividade ou potencialidades dos países em relação à economia mundial podem ser
apreendidas pela posição que ocupam na circulação dos capitais internacionais segundo as
estatísticas das Nações Unidas.
Duas importantes constatações merecem, desde já, ser sublinhadas: a primeira, refere-se aos
investimentos directos internacionais que aumentaram mais depressa do que a produção e as
trocas mundiais desde o início dos anos 80. Os investimentos internacionais e mais
particularmente os IDE tornaram-se “um dos motores da economia mundial, contribuindo não
somente para a integração dos mercados, mas também, e cada vez mais, para a integração dos
sistemas nacionais de produção (Torres & Ferreira, 1999 ).
A segunda, diz respeito à composição dos fluxos de capitais que se modificou nos últimos anos.
Os investimentos directos estrangeiros (IDE) e os investimentos estrangeiros de carteira (IEC)
representam hoje a maior parte do total dos fluxos de recursos líquidos direccionados para os
países em desenvolvimento. Mas se os IDE nos países em desenvolvimento aumentaram desde
1980, em contrapartida concentraram-se num pequeno número de países. As nações que não
recebem IDE suficientes ficam privadas não apenas de capitais mas igualmente de outros
recursos materiais e imateriais que são essenciais ao desenvolvimento.
Se nos detivermos, agora com mais pormenor, sobre os fluxos de investimento directo
estrangeiro (IDE) entrados nas diversas regiões entre 1987 e 1998 verificamos em primeiro lugar
que o total mundial desses fluxos em 1998 quadruplicou em relação à média anual do período
1987-1992, passando de 173 530 milhões de USD para 643 879 milhões de USD. Em 1998,
quase 72 % dos fluxos de capitais dirigiram-se para os países desenvolvidos (460 431 milhões de
USD) e apenas 26 % (165 936 milhões de USD) para os países em desenvolvimento.
Um dos principais desafios que se colocam à CPLP, no domínio económico, diz respeito à
multilateralização das suas relações económicas e financeiras. Para que se possa atribuir-lhe
algum sentido e conteúdo económicos inovadores, a ‘velha’ ordem em que assentaram quer o
comércio externo quer o investimento deve abandonar o carácter bilateral que foi a norma até à
criação desta comunidade (Torres & Ferreira, 1999).
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Como entender então a congratulação atrás referida dos Chefes de Estado e de Governo dos
países membros da CPLP? A resposta mais plausível é de que se trata, uma vez mais, de uma
declaração de fé própria da linguagem diplomática destes eventos, vazia de conteúdo e sem
qualquer substrato estatístico que possa levar àquela conclusão. Mas, se esta questão tem
implicações um pouco mais gravosas, a menos que se considere e se assuma que Portugal é o
referido pólo aglutinador do relacionamento económico intra-CPLP, então aquela declaração é
destituída de qualquer sentido e aderência à realidade do relacionamento económico intra-CPLP.
E a pergunta que se coloca é que: terá isso alguma coisa a ver com os propósitos de
multilateralização na CPLP?

3.2. Aspectos culturais e linguísticos da CPLP


Além dos temas políticos, estratégicos e de desenvolvimento, a existência de um discurso
culturalista, forjado principalmente a partir da produção académica e literária das personalidades
mencionadas anteriormente, que justificasse o envolvimento do Brasil com a África em
particular, foi fundamental. Evidenciou-se um legado africano, com reflexos considerados
positivos na conformação étnica (por exemplo, a idéia/mito de democracia racial) e na cultura
(por exemplo, música, religião, gastronomia) nacionais, tornando as relações com o continente
africano algo natural e quase instintivo, como um reencontro de família. Embora a sociologia
brasileira já estivesse questionando a validade dessas teses no final da década de 60, em especial
a partir dos trabalhos de Florestan Fernandes, a maior parte dos políticos, diplomatas e
estudiosos das relações internacionais levará algumas décadas para absorver os novos conceitos e
traduzí-los em atitudes, propostas e acções.

A política africana então gestada esbarrará, inicialmente, nas relações especiais do Brasil com
Portugal, nos termos do Tratado de Amizade e Consulta de 1953, defendidas por alguns sectores
da sociedade brasileira pelo menos até o final da década de 70, que dificultaram o apoio
inequívoco à independência das colónias portuguesas antes da Revolução dos Cravos em 1974.
Da mesma forma, uma proposta específica de formalizar os vínculos entre os falantes de língua
portuguesa é incompatível, neste momento, com a persistência do estatuto colonial da maior
parte dos futuros membros. A independência das colónias portuguesas só ocorrerá em 1974 e
1975 e, embora as relações entre o Brasil e a África se evoluam admiravelmente até a década
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seguinte, será necessário um tempo considerável para que a autonomia dos novos Estados se
consolide e sejam possíveis relações amistosas e equánimes destes com Lisboa.
Nessas duas décadas que antecedem a criação da CPLP, contudo, consolidar-se-ão algumas
condições que permitiram a sobrevivência, ainda que dormente, do antigo projecto.

Por um lado, ao desvincular a sua relação com os países africanos dos interesses portugueses, o
Brasil efectivou a sua presença na África com a realização de uma política africana, por outro, a
oficialização e a relevância da língua portuguesa naqueles países, em sequência à independência,
os manteve como membros potenciais de uma futura comunidade.

As contradições impostas pela insistência no respeito aos interesses portugueses, ao mesmo


tempo em que o discurso brasileiro apoiava o princípio da autodeterminação, encerram-se com a
transformação destes interesses após a Revolução dos Cravos em 1974.

Rapidamente o Brasil torna-se parceiro privilegiado de países africanos, em especial a Nigéria,


de quem compra petróleo, países da África Austral e as ex-colónias portuguesas. A experiência
revelou o potencial destas relações, cujo auge ocorre principalmente na década de 70, bem como
as limitações, que levam à ênfase em parcerias mais específicas a partir do final da década de 80.

Os reflexos dessa trajectória para a CPLP consistem tanto na busca de um projeto realista e
sustentável, como no facto das parcerias que restaram da política africana incluírem justamente
os lusófonos e a África Austral, onde se encontram dois membros da futura Comunidade.
O segundo factor que amadureceu nas duas décadas que antecedem a CPLP, a manutenção da
língua portuguesa pelas ex-colónias, atitude com a qual, é importante destacar, não se podia
contar antes de efectivada, é um dado de extrema relevância. Se a independência das colónias
representou uma ruptura dos novos países com Portugal, a língua portuguesa foi, e ainda é,
instrumental na construção dos novos Estados. Como ressalta Mourão, ela aparece como língua
de resistência em relação a terceiros, possibilitando a diferenciação das novas identidades
nacionais durante o processo de descolonização. O contexto para o estabelecimento das novas
nações caracteriza-se pela presença de inúmeras línguas africanas, além do inglês e do francês
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coloniais, em espaços sobrepostos às fronteiras políticas, situação que se torna ainda mais
complexa se acrescida da realidade dos constantes fluxos migratórios da África.

Outro factor de vulnerabilidade que torna a promoção da língua oficial mais premente é a
necessidade de afirmação de uma nacionalidade recém estabelecida quando os próprios conceitos
de Estado e soberania começam a ser colocados em questão em algumas análises das tendências
globalizantes. O português, assim, vai deixando de ser a língua colonialista e firmando-se como
símbolo nacional dos novos Estados. Isso permitirá, sobretudo, que a sua integração a uma
comunidade de língua portuguesa não ocorra como reflexo ou prolongamento da relação
metrópole-colónia, característica basilar da CPLP (Santos, 2004).
3.3. Colonização

3.4. O caso de Moçambique

Colonização é o acto de colonizar, ou seja, quando pessoas de um determinado país ou região


vão para uma outra região (desabitada ou com nativos) para habitar ou explorar. No processo de
colonização, ocorre a influência ou transferência cultural dos colonizadores para os colonizados
e vice-versa.

Existem dois tipos de colonização: de exploração e de povoamento. Em Moçambique, por


exemplo, a de exploração foi a que predominou, pois os Portugueses vieram para o nosso país, a
partir de 1498, para retirar recursos naturais e minerais ou para desenvolver o tráfico de escravos.
Os portugueses não estavam interessados em desenvolver Moçambique. Este mesmo tipo de
colonização também ocorreu nos países da América que foram colonizados pela Espanha.

Na colonização por povoamento, os colonizadores buscam desenvolver a região colonizada.


Criam leis, organizam, investem em infra-estrutura e lutam por melhorias. Como exemplo,
podemos citar a colonização inglesa nos Estados Unidos.

3.5. Exploração e colonização de Moçambique


Foi Vasco da Gama quem tomou contacto com a costa moçambicana na sua viagem rumo à
Índia, em 1498, levando consigo as informações que Pero da Covilhã tinha recolhido quando
visitou Sofala em 1490.
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Dando início ao período de ocupação de Moçambique são instaladas feitorias em Sofala e


Moçambique e inicia-se a sua exploração através de contactos efetuados por Lourenço Marques
e António Caldeira.
O estabelecimento e exploração em Moçambique concretizaram-se de forma mais eficaz através
da criação de feitorias e de capitanias (1506). Interessava conhecer e explorar o interior da nova
colónia, dirigindo a atenção principalmente para a zona do Monomotapa (que corresponde,
aproximadamente, ao Zimbabwe e certas regiões do Noroeste de Moçambique) onde era extraído
ouro.

4. Língua Oficial em Moçambique

De acordo com o parágrafo n.º 1 do artigo 5.º da Constituição da República de Moçambique


(revisão de 1990) "Na República de Moçambique, a língua portuguesa é a língua oficial". E no
parágrafo n.º 2 do mesmo artigo acrescenta: "O Estado valoriza as línguas nacionais e promove o
seu desenvolvimento e utilização crescente como línguas veiculares e na educação dos
cidadãos". Numa referência às numerosas línguas bantu, faladas em Moçambique.

Pensa-se que Moçambique tenha optado pela língua portuguesa por falta de Políticas
Linguísticas e a inevitabilidade da língua uma vez que após a independência não havia uma
língua que unisse o País de norte a sul.

4.1. Outras Línguas

O artigo 9 da Constituição diz ainda: "O Estado valoriza as línguas nacionais como património
cultural e educacional e promovem o seu desenvolvimento e utilização crescente como línguas
veiculares da nossa identidade". Em Moçambique foram identificadas diversas línguas
nacionais, todas da grande família de línguas bantu, sendo as principais (de sul para norte):
XiTsonga, XiChope, BiTonga, XiSena, XiShona, ciNyungwe, eChuwabo, eMacua, eKoti,
eLomwe, ciNyanja, ciYao, XiMaconde e kiMwani.

Mercê da considerável comunidade asiática radicada em Moçambique, são também falados o


urdu e o gujarati.
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4.2. A afirmação da Cultura Moçambicana

Moçambique é reconhecido por seus artistas plásticos: escultores (principalmente da etnia


Makonde) e pintores (inclusive em tecido, técnica batik). Artistas como Malangatana, Gemuce,
Naguib, Ismael Abdula, Samat e Idasse destacam-se na área de pintura. A música vocal
moçambicana também impressiona os visitantes. A timbila chope foi considerada Património
Mundial.

4.3. Culinária

Moçambique é reconhecido por seus dotes culinários. Tem muitos pratos típicos. A maioria são
pratos principais. Aqui vem uma lista de alguns pratos:

 Matapa
 Massa
 Xiguinha
 Mucapata

4.4. Desenvolvimento Socioeconómico

Cerca de 45% do território moçambicano tem potencial para agricultura, porém 80% dela é de
subsistência. Há extração de madeira das florestas nativas. A reconstrução da economia (após o
fim da guerra civil em 1992, e das enchentes de 2000) foi dificultada pela existência de minas
terrestres não desactivadas. O Produto Interno Bruto de Moçambique foi de US$ 3,6 bilhões em
2001. O país é membro da União Africana.

4.5. Principais produtos agrícolas

Em Moçambique destacam-se os seguintes principais produtos agrícolas:

Algodão
Cana-de-açúcar
Chá
Tabaco
Sisal
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Castanha-de-caju
Copra (polpa do coco)
Mandioca

4.6. Pecuária

No que se refere a área de agró-pecuária são destacadas as seguintes espécieis:

Bovinos (1,9 milhões)


Suínos (193 mil)
Ovinos (122 mil)

4.7. Pesca

Na área de pesca ressaltam-se o camarão, um dos principais produtos de exportação a nível do


país, com uma cifra de 30,2 mil toneladas em 1996.

4.8. Recursos minerais

Os principais recursos minerais incluem carvão, sal, grafite, bauxita, ouro, pedras preciosas e
pedras semi-preciosas. Moçambique possui também reservas de gás natural e mármore.

4.9. Indústria

A área de indústria é pouco desenvolvida, no entanto mostra-se auto-suficiente sobretudo em


culturas como o tabaco e em produção de bebidas como a cerveja. No ano de 2000 foi
inaugurada uma fundição de alumínio que aumentou o PIB (Produto Interno Bruto) em 500%.
Para atrair investimentos estrangeiros, o governo criou os "corredores de desenvolvimento" de
Maputo, Beira e Nacala, com acesso rodoviário, suprimento de energia eléctrica, e com ligação
por ferrovia até aos países vizinhos.

5. O Português como Língua oficial e de ensino

Com a independência política de Moçambique, a FRELIMO tinha como objectivo a redução do


número de analfabetos. Visto que já antes do dia da independência os portugueses, excepto um
número restante de mais ou menos 20.000, saíram do país precipitadamente, levando a
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FRELIMO a dirigir-se aos Estados do Bloco Oriental. Assim, docentes da antiga RDA chegaram
para serem empregues como formadores de professores.

Desde há vários anos, Portugal coopera na reativação do sistema escolar. Há pouco a RFA presta
também apoio à educação em Moçambique, sobretudo da parte da GTZ (Sociedade Alemã para a
Cooperação Técnica/Serviço Administração de Projectos). Todas as medidas de educação são
efectuadas em princípio na língua portuguesa.

Apesar de todos os esforços de reduzir o número de analfabetos, o número dos iletrados oscila
ainda hoje, à volta de 70%. Todas as instituições estatais servem-se exclusivamente da língua
Portuguesa. Esta vale para as autoridades, tribunais, polícia e forças armadas.

Todas as publicações são redigidas sem excepção em Português. Outra prática é apenas
imaginável em contactos orais com funcionários públicos individuais. Foi expressamente
estabelecido no artigo 10 da Constituição de 2004: Na República de Moçambique a língua
portuguesa é a Língua Oficial.

5.1. O Processo Histórico da Língua Portuguesa em Moçambique

A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, doravante designada por CPLP, é o foro
multilateral privilegiado para o aprofundamento da amizade mútua, da concentração político-
diplomática e da cooperação entre os seus membros, criado em 1996.

Nesse universo, Moçambique é um país que se destaca pela sua diversidade linguística, uma vez
que tem cerca de vinte línguas autóctones e a língua portuguesa como o idioma oficial. A nação
moçambicana sempre vivenciou uma enredada situação linguística devido a essa diversidade de
línguas nacionais que coexistem com a língua portuguesa desde o período colonial e,
oficialmente, somente a partir de 1990. Moçambique permaneceu como colónia portuguesa até
meados da década de 70 do século XX. Historicamente sabem primordialmente pela assimilação
linguística, uma vez que as línguas locais eram banidas dos domínios institucionais,
imprescindível em toda e qualquer colónia portuguesa, de se comunicar. No início do século XX,
foi obrigatório o uso do idioma português pelos Moçambicanos (FIRMINO, 2002).
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Colonizador português: a “missão civilizadora” que consistia, na realidade, na assimilação


cultural, por meio da qual o povo moçambicano, em seu próprio território, via-se obrigado a
aprender uma língua desconhecida para intercultura de um país que não era o do seu uso.

Nota-se, diante disso, que desde o período colonial (1895-1974), a realidade linguística
Moçambicana é praticamente ignorada pelos portugueses, e, consequentemente, pelos próprios
Moçambicanos. Nesse processo educacional, o indivíduo assimilado, o Moçambicano, adquiria
legalmente os mesmos direitos, oportunidades, benefícios educacionais e de progresso que os
brancos, os Portugueses, tinham.

A resposta Moçambicana ao regime colonial Português surgiu no início da década de 60, quando
os primeiros grupos nacionalistas – MANU (União Nacional Africana de Moçambique),
UDENAMO (União Democrática Nacional de Moçambique) e UNAMI (União Nacional
Africana para Independência de Moçambique) – se reuniram em um único grupo FRELIMO
(Frente de Libertação de Moçambique) para lutar não somente pelo fim do colonialismo, mas
também pelo processo de construção e consolidação da unidade nacional numa dimensão político
cultural mais abrangente para a edificação de um Estado-Nação (MAZULA, 1995).

5.2. Na Guerra da Libertação

Para que o movimento pudesse avançar em busca da independência completa e total do território
Moçambicano, seria necessário encontrar entre os seus membros de diferentes regiões do país,
uma língua que pudesse ser de entendimento de todos os guerrilheiros. De acordo com
Namburete (2006): “...foi durante a luta de libertação que a FRELIMO resolveu que, no meio das
tantas línguas faladas em Moçambique, o português seria aquela usada para a comunicação entre
os combatentes. Várias são as argumentações oficiais para esta decisão, incluindo a de que esta
seria uma língua “neutra” para servir aos objectivos da luta...” a de que banindo as línguas
moçambicanas nas comunicações entre os guerrilheiros combater-se-ia e materializar-se-ia o
espírito da unidade nacional quando todos os cidadãos falassem uma só língua.

Desse modo, observa-se que a escolha da língua portuguesa, como o idioma de comunicação
entre os combatentes, nivelava não só os conhecimentos linguísticos mas também agregava
unidade ao movimento.
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Para Brito (2004), “…essa escolha do português como língua do movimento também provoca
outra leitura, ligada à necessidade de conhecimentos técnicos para o manejo com o armamento
utilizado na guerra e, principalmente, aos interesses do grupo dirigente do movimento de
manutenção do seu status de grupo social dominante.”

Esse facto demonstra que a língua portuguesa era a língua dos dois lados da luta: do poder da
metrópole e da resistência da colónia (BRITO & MARTINS, 2004).

Curiosamente entre as variedades linguísticas próprias de Moçambique foi a língua do


colonizador que encontrou denominadores comuns em todos os povos Moçambicanos. Escolhida
a língua de comunicação, a luta de descolonização de Moçambique teve início, então, por volta
de 1964. Ao final de 1965, a FRELIMO já dominava algumas das principais regiões ao norte.
Esse movimento era violentamente reprimido pelas forças portuguesas, o que fez com que a
guerra de libertação, além de muito sangrenta, durasse cerca de dez anos. Paralelamente aos
movimentos de libertação da nação Moçambicana, ocorria em Portugal uma revolta que ficou
conhecida como a Revolução dos Cravos, de 25 de Abril de 1974. Essa insurreição lançou
Portugal em um novo ciclo político de base democrática. Isso implicou na queda da ditadura
fascista no país e fez com que o novo governo Português passasse a negociar, com as lideranças
dos movimentos de libertação nacional da África, a independência das colónias Portuguesas.

Em Setembro desse mesmo ano, autoridades de Portugal, juntamente com a FRELIMO,


assinaram um acordo em Lusaka, estabelecendo um governo de transição rumo à independência
de Moçambique. O Acordo de Lusaka reconhecia os direitos à autonomia e à independência de
Moçambique e dava início ao processo de transição do poder do governo Português para a
FRELIMO. É importante ressaltar que não foram realizadas eleições nem referendo. A República
Popular de Moçambique tornou-se independente em 25 de Junho de 1975. Moçambique teve seu
primeiro governo dirigido por Samora Machel, que ficou conhecido como o homem que, além de
ter conduzido o povo moçambicano à independência, foi o primeiro presidente Moçambicano, no
período de 1975 a 1986. A primeira constituição moçambicana foi publicada juntamente com a
proclamação da independência, mas não fez nenhuma referência ao idioma oficial da nova
nação.
19

Somente, a segunda constituição Moçambicana, publicada 15 anos após a independência, em seu


artigo 10, faz referência e oficializa a língua portuguesa como língua oficial da jovem nação
Moçambicana: “Na República de Moçambique a língua portuguesa é a língua oficial”.

6. O Português Moçambicano

Antes da independência, o Português da metrópole era prescrito compulsivamente como norma


linguística (língua-padrão) para toda a vida pública no seio da política de assimilação portuguesa.

Desta maneira, a política ultramarina na altura tencionava como objectivo a longo prazo
transformar todos os moçambicanos linguística e culturalmente em portugueses. Desvios da
norma europeia foram considerados com desdém como pretoguês. Esta obrigatoriedade para o
respeito da norma da metrópole deveria diminuir com a independência. Agora, palavras das
línguas autóctones foram introduzidas no Português. A orientação para o sistema político e
económico do Bloco Oriental conduziu também para a adopção de novas noções. Com o vento
da mudança política, no começo da década de 1990, o léxico de uso político deveria ser
abandonado parcialmente de novo.

6.1. Léxico do Português Moçambicano

Segundo Ribeiro (s/d), o Português falado em Moçambique é diferente do falado noutros países
lusófonos. Nós estamos a construir o nosso Português que tem várias influências das nossas
várias línguas maternas e também do Inglês. É um Português que, em termo de vocabulário,
gramática e estrutura, é diferente naturalmente. A decisão de Moçambique em ratificar o Acordo
Ortográfico, que pretende unificar o português falado nos países que o tem como língua oficial,
tem estado em análise há mais de dois anos.

Com o advento da Independência Nacional, o Português viu o seu prestígio mais reforçado com a
sua adopção como um elemento de Unidade Nacional, passando, deste modo, a ostentar o
estatuto de língua oficial em Moçambique. E através de um processo de interacção, entre esta
língua e as nacionais, atribuindo-lhe marcas e aspectos próprios, que se consubstanciam em
novas palavras e novas expressões. A expressão "Andar fora é maningue arriscado" significa
"trair é muito arriscado".
20

Maningue é uma palavra tipicamente moçambicana, que quer dizer "muito" e vem de "many", do
Inglês.

Há em Moçambique cerca de vinte línguas locais que derivam da família bantu. A nação
moçambicana esteve marcada durante anos pela presença de diversas culturas, como pela tensão
entre as diversas línguas existentes no local, paralelas a língua oficial. Foi a partir do convívio
dessa língua oficial, o português com as línguas autóctones (línguas locais) que se apresentou a
situação linguística actual em Moçambique.

Uma das principais razões do português ter sido instituído como língua oficial em Moçambique
foi em decorrência da existência de muitas línguas locais no país, pretendendo-se assim evitar
uma guerra civil entre os grupos étnicos.

O mesmo Português moçambicano possui ainda suas variantes dentro dele, que diferem entre
elas na área fonológica sem no entanto diferenças na ortografia.

Exemplos desta constatação apontam-se os seguintes:

 Na zona sul do país, o fonema “ lh tem um som típico em relação ao resto do país;
 Na província de Tete as palavras que terminam em “ nça são pronunciadas
diferentemente do resto do país.
 E na zona norte do país os fonemas “ b e “ s também são pronunciados de forma
diferente em relação ao resto do país.
6.2. Linguas Nacionais do ramo Bantu

As línguas Moçambicanas são todas línguas Bantu. Foram introduzidas em Moçambique através
das migrações de tribos de África Central. As diferenças entre as línguas indicam a diversidade
em origem histórica.

Influência de outras línguas aparece no sul onde há tons de línguas khoisan (clique) e ao longo
da costa onde há uma influência árabe, especialmente do Swahili e para Moçambique Kimwani
(mencionada como Swahili Moçambicano). Houve também contacto com a Índia (traços existe
na agricultura, mas traços linguísticos não foram encontrados).
21

Ainda na acepção de Firmino (2002), Moçambique é um país com treze grupos étnicos: Suahilis,
Macuas-Lomués, Macondes, Ajauas, Marave, Nhanjas, Sena, Chuabo, Chonas, Angonis,
Tsongas, Chopes, Bitongas; e oito grupos linguísticos: Swahili, Yao, Makua, Nyanja, Senga-
Senga, Shona, Tswa-Ronga e Chope; que se subdividem em diversas línguas.

6.3. Grupo de Línguas

SWAHILI: Swahili, YAO: Yao, Makonde, Mabiha/Mavia MAKUA: Makua, Lomwe, Ngulu,
W.Makua, Cuabo/Cuambo NYANJA: Nyanja, Cewa, Mananja, SENGA-SENGA: Nsenga,
Kunda, Nyungwe, Sena, Ruwe, Podzo, SHONA: Korekore, Zezuru, Manyika, Tebe, Ndau,
TSWA-RONGA: Tswa, Gwamba, Tsonga, Ronga, CHOPI: Chopi, Lenge, Tonga, Shengwe.

6.4. As línguas moçambicanas no sistema de ensino

Como língua oficial, passando assim, a ser a língua usada em todas as instituições e também a
língua de ensino em todas os estabelecimentos de ensino. As línguas nacionais que eram e
continuam a ser as línguas mais usadas pela maioria da população não gozaram desse privilégio
de puderem ser usadas como língua de ensino. Numa situação em que o português não é usado
em casa pela maior parte dos moçambicanos, principalmente os que vivem nas zonas rurais, que
é a zona onde habita a maior parte dos moçambicanos, o português torna-se um obstáculo para as
crianças que vão à escola para terem aulas numa língua em não lhes é familiar. Ngunga (2000)
afirma que, nas primeiras séries do sistema escolar, a língua tem sido um dos fatores que
inviabilizam aprogressão escolar, porque a maioria das crianças que ingressam na escola pela
primeira vez não sabem falar a língua oficial de ensino – no caso, a língua portuguesa.

Neste contexto, para além de receber os conteúdos lecionados na sala de aula, há uma
necessidade de primeiro aprender a língua, e como se sabe, a aprendizagem de uma língua leva o
seu tempo. Durante esse período em que o aluno vai aprendendo a língua portuguesa, as aulas de
outras disciplinas vão decorrendo normalmente, e de uma forma paradoxal, sem que o aluno
compreenda a língua de ensino, neste caso a língua portuguesa. Com isso exige-se que haja um
resultado satisfatório no final do ano, resultado num sitema de avaliação feita numa língua que o
aluno não tem domínio.
22

Pode-se afirmar que durante o decorrer do ano lectivo o aluno pela idade que tem facilmente irá
aprender o português e ser capaz de comunicar com os outros em sala de aula. Mas isso só seria
possível se o aluno se encontrasse inserido dentro dum meio em educação e o ensino da lingua
portuguesa em Moçambique que a tal língua fosse de uso cotidiano, não é o que acontece com a
maioria das crianças moçambicanas, em que esta língua portuguesa é estranha na comunidade,
até olhando pelo seu passado tido como língua do colonizador e que em muitos casos o seu não
uso era uma forma de resistência no seio dos moçambicanos. Dentro deste paradigma, os
resultados não chegam a ser satisfatórios nas classes iniciais como se gostaria que fossem.

Um outro factor que o aluno moçambicano falante das línguas nacionais aprendeu a viver com
ele é a intolerância. Intolerância por parte do professor e da escola pelo uso da língua que não
seja o português dentro do recinto escolar, violando claramente o artigo 3º da Declaração
Universal dos Direitos Linguístico, que diz ser “direito individual e inalienável e que deve ser
exercida em todas as situações o direito ao uso da língua em privado e em público”. Veja-se que
aqui há uma visão hierárquica das línguas, o aluno inconscientemente, passa a ter noção de que
existe uma língua superior, uma língua de prestígio diferentemente da língua que ele usa em casa
com seus pais e familiares, que pertence ao grau mais baixo dentro dessa hierarquia das línguas.
Este fato pode ter sido herdado do colonialismo e da sua política de assimilacionismo, em que no
país havia uma única língua, o português, e as outras línguas eram consideradas de dialetos, uso
erronêo do termo linguístico. Assim os assimilados eram obrigados a renegarem as suas próprias
línguas para poderem ascender a outro status dentro da sociedade colonial.

O último factor que aqui podemos descrever é a descriminação. Os alunos que são de centros
urbanos, enquanto locais onde o português é usado com fluência, se separam dos alunos oriundos
da periferia ou da zona rural que pouca fluência têm no uso do português. Em sala de aula este é
um motivo de inibição por parte destes alunos mesmo tendo noção do assunto a ser tratado na
aula e que poderiam livremente dar a suas opiniões, preferem manter-se calados. Este fato é mais
notório nas zonas rurais onde o português é menos usados e, consequentemente, a sua
contribuição para os maus resultados escolares, como refere Ngunga (2000).
23

7. Algumas questões sobre o ensino em Moçambique

Segundo Timbane (2009), no seu estudo sobre “A problemática do ensino da língua portuguesa
na 1ª classe num contexto sociolinguístico urbano”, o português é ensinado como L2 para a
maioria das crianças, mas existe um número considerável de crianças para quem o português é
língua materna. A metodologia do ensino utilizada em todos os contextos, entretanto, é a mesma,
os materiais são os mesmos, atitude que de certa forma provoca desequilíbrio e insucesso
escolares, principalmente no ensino público.

No meio rural, onde há predominância das línguas locais (da família bantu), observam-se
situações mais drásticas, uma vez que a maioria da população muita raramente fala ou conhece a
língua oficial. O que significa que a criança só fala a LP na escola, com o professor. Somente em
situação escolar é que os alunos entram em contacto com o português. É válido ressaltar sempre
que a língua é ao mesmo tempo cultura. Assim, relactivamente ao ensino da LP, ele foi realizado
sempre num contexto plurilíngue, mas não se chegou a considerar a importância das línguas
moçambicanas bantu no processo de ensino e/ou aprendizagem desta língua. Este processo
provoca, em alguns alunos, um sentimento de rejeição e de auto exclusão decorrente de um
sistema educacional discriminatório, contribuindo para o severo custo do ensino, o que se afigura
como uma das causas relevantes da evasão e do insucesso escolar em Moçambique. Olhando
bem para este facto, pode-se pensar que o problema está na escola, mas na realidade não é.

O currículo do ensino fundamental do Sistema Nacional de Educação moçambicano tem sete


classes organizadas em 2o graus. O 1º grau (EP1) compreende cinco classes (da 1ª à 5ª classes) e
o 2º grau (EP2) corresponde a duas classes (6ª e 7ª classes). A idade de ingresso para esse ensino
é de 6 anos. O Estado não se responsabiliza pelo ensino pré-escolar. Esse ensino é assegurado
por instituições privadas. Cada turma do EP1, é ensinada por um professor que lecciona todas as
disciplinas curriculares, enquanto que, no EP2, cada disciplina é lecionada por um único
professor (Ministério da Educação de Moçambique, 2003).

Segundo Gonçalves e Diniz apud Timbane (2015), discorrendo sobre “a dinâmica da língua
portuguesa no ensino primário”. Neste processo de ensino, há uma tendência de não associar a
língua local como meio de escolarização, pelo facto de ter turmas heterogêneas em termos
24

linguísticos e também de se marginalizar as variedades do português. Por outro lado, a


valorização da norma-padrão mostra que esse padrão não reflecte a realidade do contexto
moçambicano, marcado pela heterogeneidade linguística que se encontra vinculada na vida
sociocultural. A norma-padrão é neutra, não é língua materna de ninguém, ninguém a domina na
totalidade. É uma norma convencional, artificial e difere da norma popular.

Com efeito, em 1983, foi introduzido o Sistema Nacional de Educação (SNE), que ainda vigora e
que já foi revisto de modo a adequá-lo à nova ordem política, económica e social de
Moçambique. De acordo com Lopes (2004), consagrou-se a situação anterior como o
desenvolvimento das capacidades e qualidades da personagem de uma interação oral e escrita
entre os indivíduos; segundo o autor, este sistema permeia a generalização do uso da língua
portuguesa, como língua de unidade nacional e foi notória a exclusão da possibilidade de as
línguas nacionais desenvolverem essa capacidade olhando para esta arte da escola, ou seja,
ensinar como prática social, Senna (2012) considera que ensinar é levar o outro a viver novos
conceitos e incorporá-los aos anteriores.

Desta forma, viver a experiência de ensino “é condição imperativa, pois é tomando-a como acto
de vida que esta ganha um sentido pragmático, sem o qual nenhum conceito se constitui forte o
suficiente para agregar-se aos demais, construídos incidentalmente, por força da intenção de
integrar-se à sociedade” (Senna, 2012, p. 54).

No ensino básico moçambicano, como referenciamos no começo do trabalho, há uma grande


dificuldade dos alunos progredirem nos estudos, sobretudo nas fases iniciais, devido ao custo da
adaptação do português e da escrita alfabética, porque o português não é língua materna da
maioria da população. Num estudo sobre o Ensino Primário, em Maputo, Timbane (2014a),
afirma que, “a maior parte dos alunos que frequenta o ensino primário são crianças que entram
na escola, mas não leem e não escrevem em português, enfatiza dizendo que mesmo aqueles que
aprendem o português na família têm enormes dificuldades de se comunicar na sala de aulaˮ
(Timbane, 2014a, p.3).

Nos primeiros anos pós-independência, verificou-se um crescimento acentuado das taxas de


admissão no sistema de ensino, mas, nos anos subsequentes, houve um declínio sucessivo que
25

atingiu uma taxa de escolarização de 50,8%, em 1989. Esta realidade não será, com certeza,
alheia à prolongada guerra civil vivida em Moçambique que, além de criar uma situação
econômica e política devastadora, destruiu parte da rede escolar existente no país. Por causa
deste declínio que se registrou depois dos primeiros quatro anos da independência, em 1979,
realizou-se em Maputo o primeiro Seminário Nacional sobre Ensino da LP, e nesse encontro,
destacou-se a necessidade de aprofundar o estudo das línguas moçambicanas de modo a poderem
desempenhar um papel importante no desenvolvimento científico e cultural do país. Foi neste
seminário que nasceu o Núcleo de Estudos de Línguas Moçambicanas (NELIMO) na
Universidade Eduardo Mondlane (UEM), que deveria coordenar a pesquisa e a padronização das
línguas nacionais.

Nos anos 1990, são financiados vários projetos de universidades e ONGs para o estudo de
questões do bilinguismo e das LB faladas em Moçambique. O Instituto Nacional de
Desenvolvimento de Educação (INDE) promoveu, em 1991, uma fase experimental de educação
bilíngue, com o Projeto de Ensino Bilíngue em Moçambique (PEBIMO), que introduz as LB no
ensino básico, em algumas escolas de duas províncias: Tete (usando as línguas Nyanja e
português) e Gaza (usando as línguas Changana e Português):

O bilinguismo: uma proposta para um sistema de ensino de um país Multilíngue. Por


bilinguismo, compreende-se a capacidade de um indivíduo valer-se de dois sistemas linguísticos
(Crystal, 1988, p. 39), ou em outras palavras, a competência bilíngue é a soma de vários fatores
que, agregados, culminam na proficiência e fluência em duas línguas, sejam elas adquiridas
naturalmente ou aprendidas por meio da sis- tematização.

Weinreich (1967) considera que o contacto de línguas é visto, por alguns antropólogos, como um
aspecto do contacto de culturas e a interferência linguística é tida como uma faceta da difusão
cultural e da aculturação. Os contactos internos podem incluir a relação entre uma língua
dominante, isto é, majoritária, ou línguas dominantes e uma língua minoritária, ou entre línguas
minoritárias. Essas situações podem ser encontradas nas fronteiras de países ou dentro de um
país; em regiões próximas a países fronteiriços ou em comunidades bilíngues.
26

Ainda segundo Weinreich, a explicação do autor, nesta citação, descreve claramente e de forma
objectiva a situação de bilinguismo em curso em Moçambique, porque as línguas bantu são
tipicamente orais e ágrafas e o português é de carácter gráfico e normativo.

Portanto, o encontro das duas línguas traz consequências para o falante que quer usá-las. Isto
nota-se tanto para os nacionais que pretendem aprender português, como também para os
europeus que queiram aprender as línguas bantu, devido a estas diferenças em termos de
estruturas e falta de similaridades.

O especialista Lopes, no seu estudo de 2004, relactivo à introdução do ensino bilíngue em


Moçambique, coloca questionamentos sobre a fase do ensino primário no qual melhor seria
aplicável o letramento em línguas locais moçambicanas.

Considera que se tal estratégia for implementada no começo do ensino primário, esse seria o
caminho mais lógico; porém, chama atenção às grandes dificuldades das crianças moçambicanas
em aprender a ler e escrever em português, uma língua estranha para elas. Outra possibilidade
levantada seria a de começar-se no fim do ensino primário. Sobre ela, Lopes (2004) considera
que “dever-se-ia definir como objectivo que nenhuma criança deixaria a escola primária sem ter
igualmente aprendido a ler ou a escrever na sua língua materna” (Lopes, 2004, p. 473).

Um dos objectivos do PEBIMO, como afirma Lopes (2001), é a democratização e o acesso de


todos ao ensino, reduzindo o insucesso escolar e servindo de base de todo o processo de
transformação curricular, com vista ao alcance dos objectivos da educação para todos.

7.1. A tripartida relação entre língua x cultura x ensino

Olhando para as tradições africanas dos povos bantu, localizados geograficamente na região da
África Ocidental, Central e Austral, observam-se claramente nos ritos tradicionais como estes
três aspectos a língua, a cultura, e a educação informal são passados para as crianças.
Especificamente em Moçambique, os ritos de iniciação são uma escola, na qual estes três
conceitos aqui apresentados são discutidos e ensinados às crianças, uma vez que elas precisarão
de uma língua para se comunicar, precisarão conhecer as regras de ser e de estar na sociedade
(cultura) e esses processos são realizados pelos anciões (madodas), madrinhas e outros
27

intervenientes como líderes comunitários. Entendamos a ‘cultura’ como o conjunto de padrões


de comportamento, de conhecimento, de crença, da arte, da moral, da lei, dos costumes e de
todos os outros hábitos e capacidades adquiridas pelo homem como membro da sociedade
(Timbane, 2014a, p.46).

Saussure (2006, p.17) definiu a língua como “um produto social da faculdade de linguagem e um
conjunto de convenções necessárias, adotadas pelo corpo social para permitir o exercício dessa
faculdade nos indivíduos.” Coseriu (1959, p.28), por sua vez, trata a língua como um “sistema
expressivo que dentro duma comunidade humana serve de meio de expressão.” Entendamos,
portanto, a língua como o conjunto de signos, de sinais que um grupo de indivíduos pertencen-
tes a uma comunidade padroniza intencionalmente para servir de instrumento de comunicação
que expressa ideias, sentimentos, constatações e pensamentos, incluindo a transmissão da
cultura.

A língua, a cultura e o ensino no espaço escolar, juntos constituem um passo importante para
uma educação de qualidade que respeita os valores de um grupo social. Hoje, já não se senta “à
volta da fogueira” (como antigamente), mas sim “à volta da televisão e da internet”. Os
ensinamentos das novas tecnologias levam os jovens para caminhos sinuosos quando não são
acompanhados pelos pais ou tutores (professores). Os multiletramentos são uma prova de como
se pode aproveitar as tecnologias em prol do ensino.
28

8. Conclusão

Após a realização do presente trabalho, através da pesquisa feita pelo grupo, pode-se concluir que a
institucionalização oficial da língua portuguesa contribuiu para intensificar ainda mais essa já
enredada situação linguística de Moçambique. O país, que sempre vivenciou um emaranhado
linguístico, teve esse estado acentuado pelo facto de que apenas uma minoria da população
dominava a língua nomeada como oficial. A língua portuguesa em Moçambique convive
actualmente com cerca de outras vinte línguas nacionais; o inglês, idioma que, por vezes, é
apontado por alguns desconsiderando-se totalmente as relações entre língua e identidade cultural
como uma possível língua que deveria ser oficializada, pelo simples facto de ser actualmente a
língua franca do mundo.
29

9. Referência Bibliográfica
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identitária no contexto lusófono. São Paulo/Lisboa: Lusocom, 2004.

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