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PUC-SP
EMERSON SALINO
SÃO PAULO
2012
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
EMERSON SALINO
SÃO PAULO
2012
BANCA EXAMINADORA
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Sucesso
“Rir muito e com frequência; ganhar o respeito
de pessoas inteligentes e o afeto das crianças;
merecer a consideração de críticos honestos e
suspeitar a traição de falsos amigos; apreciar a
beleza, encontrar o melhor nos outros; deixar o
mundo um pouco melhor, seja por uma saudável
criança, um canteiro de jardim ou uma redimida
condição sócia, saber que ao menos uma vida
respirou mais fácil porque você viveu. Isso é ter
tido sucesso.”
Ralph Waldo Emerson
Aos Mentores Espirituais que nunca me
abandonaram; que me iluminaram e colocaram,
em meu caminho, pessoas e momentos
especiais.
AGRADECIMENTOS
Inicialmente, agradeço a minha orientadora, Profa. Dra. Leonor Lopes Fávero, por
sempre me incentivar neste caminho, mesmo depois de eu ter quase desistido de
tudo. Muito obrigada pela paciência, carinho e palavras de força!
Aos professores Márcia Molina e Jarbas Nascimento, pelas orientações e
opiniões, na qualificação;
aos professores do Programa de Pós-Graduação em Língua Portuguesa, que me
ensinaram e me enriqueceram com o saber acadêmico, em especial, aos
professores Dr. Dino Preti, Dra. Sueli Marquesi e Dra. Neusa Bastos;
a Lurdes Scaglione, mais que secretária, uma amiga-irmã que acompanhou meus
passos e agora continua em minha vida;
A Christianne Gally, minha “exmailove”, pela dedicação e apoio na construção
desta dissertação;
a Agnaldo Martino e toda a turma do Arouche, com quem pude me divertir um
pouco, mesmo em meio à tormenta;
à d. Eunice Fazito Jurado Fernandes e sua filha Luciane Fazito Jurado Acarino,
diretoras do Colégio Saint Clair, pelo carinho e apoio e por ter confiado em meu
trabalho;
aos meus alunos e professores colegas do colégio Saint Clair, que
compartilharam comigo as aflições e as alegrias;
a minha família, em especial, a minha irmã Diana Totti, pela cumplicidade;
e, finalmente, a todos os meus amigos e colegas que participaram de forma direta
ou indireta dessa minha jornada.
SALINO. Emerson. 2012. O século XIX abre as portas para a educação: o ensino
de língua portuguesa no Colégio Pedro II. Dissertação (Mestrado em Língua
Portuguesa). São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo /
Programa de Pós-Graduação em Língua Portuguesa.
RESUMO
Abstract
Under the History of Linguistic Ideas, this project has as the main goal to
describe the teaching of Portuguese Language during Brazilian Empire, with
emphasis on High School offered by Colégio Pedro II, whose educational
programs were adopted by other schools in Brazil. It was followed by apprpriation
and representation criteria that were proposed by Chartier (1990) through what the
reality can be understood by the discourses, ways and images where the people
express themselves and the world. After we can do a picture of the educational
aspects in Brazilian Empire, focusing the construction of schools, the impacts
caused by the Independence of Brazil and the institutionalization of educational
programs and ways of teaching, it was made a more detailed analysis of
educational programs in High School courses at Colégio Pedro II , due to the
teaching of Portuguese Language. Concluding, the teaching of Portuguese
Language was, mainly, tightly linked to the teaching of grammar, which was
influenced by the positive scientific rules between 1880 and 1930, and that its
main function was to graduate the high society that woul lead the future of the
country.
Pág.
Introdução .................................................................................................... 11
Pág.
37
Figura 01 D. João VI aos 53 anos .............................................................
100
Figura 12- Gramática Nacional Elementar- Caldas Auilete .....................
101
Figura 13- Curso Prático de Literatura Portuguesa- Caldas Aulete .........
11
Introdução
Nos séculos XVI e XVII, o ensino não era uniforme, metódico, uma vez que
este período refere-se às primeiras tentativas de civilizar o gentio e capacitar os
filhos dos nobres para a colonização desse vasto país.
O ensino jesuítico se deu por intermédio do formalismo pedagógico, que se
baseava nos princípios cristãos europeus e na realidade moral dos trópicos.
Desta forma, aceitava-se que o importante não era ser, mas parecer correto.
A estrutura e o currículo do ensino jesuítico eram considerados livrescos,
cuja função era o de, além de civilizar os índios, educar os filhos dos nobres. Para
disciplinar o ensino, os jesuítas construíram escolas, seminários; escreveram
dicionários e obras literárias voltadas para a conversão do gentio etc.
No século XVIII, a instrução pública teve novos rumos. Pombal expulsou os
jesuítas e confiscou seus bens, fato que comprometeu o sistema educacional que
já se instalara de forma, mais ou menos, sistemática.
12
Baseado nessa Lei, cada Província passava a responder por suas escolas
de ensino elementar e secundário. Logo, as dificuldades de professores
capacitados aparecem além da falta de escolas.
Foi por meio da descentralização da educação, através do Ato Adicional,
que, em 1835 surge a primeira Escola Normal do país, em Niterói, em 1836 na
Bahia, 1845 Ceará, 1846 a de São Paulo. Em 1837, na cidade do Rio de Janeiro,
foi criado o colégio Pedro II, considerada um escola modelo para as demais do
país.
O sistema de ensino Mútuo, introduzido no Brasil neste período foi
propugnado pelos liberais que desejavam levar a educação das grandes massas,
uma vez que centenas de crianças poderiam receber a instrução primária ao
mesmo tempo, sem a necessidade de vários professores acompanhando-as. Em
relação ao ensino secundário deste período, não havia planos nem organização
das cadeiras de Latim e de outras matérias.
O Colégio não conseguiu realizar seu objetivo inicial que era o de ser o
estabelecimento padrão do ensino no país e acabou por se tornar
apenas mais um estabelecimento de preparatórios aos exames para
ingresso nas escolas superiores. Só se converteria em padrão nacional
em 1890 quando, pela reforma assinada pelo então Ministro da Instrução
pública Benjamim Constant, passa a denominar-se Ginásio Nacional e
extinguem-se os exames parcelados de preparatórios, conferindo
unicamente aos exames de madureza nele realizados (ou nos
estabelecimentos a ele equiparados) a habilitação aos cursos superiores.
conjunto de regras que deveriam ser seguidas1. A gramática, porém, sempre foi
um dos instrumentos mais contestados pelos historiadores da educação, como é
o caso de Pires Almeida (1989, p. 103): “a gramática que se põe obrigatoriamente
nas mãos dos alunos do Colégio D. Pedro II, apresenta-lhes só fatos gramaticais,
na aparência bizarros e incoerentes, às vezes inexatos (...)”.
1
O conceito de gramática, conforme Neves (2004), pode ser entendido tanto como um “manual”
que organiza os saberes de uma língua, quanto uma “disciplina” que oferece múltiplas noções. No
modelo normativo puro, a gramática é vista como “o conjunto de regras que o usuário deve
aprender para falar e escrever corretamente a língua; no modelo descritivo ou expositivo, a
gramática como conjunto que descreve os fatos de uma dada língua; no modelo estruturalista, a
gramática como descrição das formas e estruturas de uma língua; no modelo gerativo, a gramática
como o sistema de regras que o falante aciona intuitivamente ao falar ou entender sua língua; e
assim por diante”. (NEVES, 2004, p. 30).
2
O mesmo que professores
3
Abílio César Borges, também conhecido como Barão de Macaúbas, famoso educador
proprietário-diretor de dois estabelecimentos de instrução primária e secundária: um, no Rio de
Janeiro e outro, em Barbacena, Minas Gerais.
17
Capítulo I
4
Com o intuito de construir uma história científica e racional, porém, tanto os marxistas quanto os
membros dos Annales estavam atrelados a uma história analítica, estrutural e explicativa (Cf.
CARDOSO, 1997)
22
Quando uma nova visão, uma nova linha de pesquisa surge, causa uma
revolução na ciência, que faz com que haja um reconhecimento mundial impondo-
se como paradigma, trazendo problemas, mas também soluções compartilhadas
por diversos cientistas.
concepções, hostil ou, pelo menos, indiferente à política e aos eventos”. (BURKE,
1992, p.12). Porém, seus representantes apresentaram divergências entre si e
modificaram alguns de seus propósitos durante os mais de 60 anos de existência.
Por isso, Burke (idem) prefere denominar de um movimento dos Annales, não
numa escola”. Esse movimento pode ser dividido em três gerações:
A segunda fase ficou conhecida como a Era Braudel por ser ele o seu
historiador representativo. Braudel analisou o tempo de três maneiras diferentes,
em sua obra O Mediterrâneo: primeiramente, ele constrói uma história quase
estática que representa a relação do homem com o ambiente; depois, apresenta
uma história que se movimenta, porém em um ritmo lento, que ser refere à
estrutura econômica, social e política; e, por último, ele faz a história dos
acontecimentos, embora não seja ela caracterizada como tradicional, uma vez
que Braudel enfatiza a insignificância dos eventos e defenda a existência de um
certo determinismo que limita a liberdade de ação dos indivíduos. Por causa
dessa obra, a fase Braudel ficou conhecida como aquela caracterizada pela
duração do tempo na história: “... na superfície: a história dos acontecimentos, do
tempo curto; na meia encosta: uma história conjuntural, que segue ritmo mais
lento; e na profundidade: uma história de longa duração”. (FÁVERO & MOLINA,
2006, p. 21).
25
(apud FALCON, 1997a, p. 92), “em França, a história das ideias praticamente
não existe, nem como noção, nem como disciplina... e a história intelectual parece
ter chegado demasiado tarde”. Apesar disso, em outras tradições historiográficas,
como a germânica e a italiana e, principalmente, a anglo-saxônica, a história das
ideias constituem pelo menos quatro disciplinas:
Fazer história das ideias nos permite de um lado, trabalhar coma história
do pensamento sobre a linguagem no Brasil, mesmo antes da Linguística
se instalar em sua forma definida; de outro, podemos trabalhar a
especificidade de um olhar interno à ciência da linguagem, tomando
posição a partir de nossos compromissos, nossa posição de estudiosos
especialistas em linguagem. Isto significa que não tomamos o olhar
externo, o do historiador, mas falamos como especialistas de linguagem,
a propósito da história do conhecimento sobre a linguagem. (...).
portanto, capazes de avaliar teoricamente as diferentes filiações teóricas
e suas consequências para a compreensão do seu próprio objeto, ou
seja, a língua.
32
Para Orlandi (2002, p. 16), a história das ideias linguísticas “inclui o político
(...)” que se “caracteriza como lugar de disputa dos princípios que regem a vida
social em suas diferenças, sendo ele próprio a prática dessas diferenças”. Daí a
importância da institucionalização do saber, da história institucional das disciplinas
atinente à linguagem e os lugares de seu ensino.
A história das ideias linguísticas, para Orlandi (idem, p. 17) tem o objetivo
de “pensar a gramática e o dicionário, a passagem da gramática para a
linguística, a diferença entre o método normativo e científico, ou o expositivo e o
histórico, a passagem deste para a descrição e a explicação que são o próprio da
linguística, e a relação do conhecimento linguístico com o ensino”. No Brasil, a
história das idéias linguísticas deve ser construída levando-se em conta os gestos
históricos, que são diferentes dos demais países, a constituição de instrumentos
linguísticos específicos, as políticas públicas, o ensino e a normatividade.
Capítulo II
A corte e sua nobreza pisam em solo brasileiro: mudanças
educacionais à vista
É claro que sua vinda para a Colônia brasileira não fora uma escolha
baseada nas belas paisagens ou nas belas praias. A chegada da família real
portuguesa ao Brasil, em 1808, foi impulsionada pela “Marcha do Anticristo”,
como era chamado Napoleão Bonaparte por D. Maria I, em direção a Portugal,
obrigando a Família Real a fugir. Napoleão era considerado megalomaníaco:
queria a Europa inteira para a França.
e de um mau cheiro exasperador. Fezes eram jogadas nas ruas, havia lojas
barulhentas e animais soltos.
Figura 02- Óleo sobre tela. Geoff Hunt – RSMA/1999 – 69 X 92 cm/Coleção Particular
Eram duas para as três horas da tarde a qual estava muito fresca, bela e
aprazível neste para sempre memorável dia 7 de março [de 1808], que desde a
40
aurora o sol nos havia anunciado como o mais ditoso para o Brasil (...) como
que se regozijava de presenciar a triunfante entrada do primeiro soberano da
Europa na mais afortunada cidade do Novo Mundo (SANTOS apud WILCKEN,
2004, p.104).
D. João VI não era bem visto pela maioria de seus biógrafos. Geralmente,
nos livros, ele é retratado como um monarca preguiçoso e bobo.
Mas o que era visto como covardia talvez devesse ser interpretado como
astúcia. Espremido entre um continente dominado pelo Exército grancês
e um oceano controlado pela marinha britânica, D. João VI adotou o
estilo mais apropriado para Portugal numa época em que qualquer ação
ousada poderia levar o reino à ruína. (...) De qualquer forma, o D. João
VI imundo e glutão que chegou ao Brasil revelou-se um governante com
frequentes rasgos de bondade e muitas ações práticas. (BUENO, 2003,
p. 145).
5
Encantado com uma natureza em que sobravam plantas, D. João VI instalou o Jardim Botânico,
que em 11 de outubro do mesmo ano, passou a Real Horto. Acreditava-se que as primeiras
plantas tinham sido trazidas do Jardim Gabrielle, de onde vieram muitas, principalmente durante
as guerras napoleônicas. Porém, o Jardim Gabrielle era nas Guianas e as primeiras plantas que
chegaram aqui vieram, na verdade, das ilhas Maurício, do Jardim La Pamplemousse, por Luiz de
Abreu Vieira e Silva, que as ofereceu a D. João. Muitas espécies de plantas foram trazidas e
serviam para estudos e embelezamento. O ambiente proporcionava um conforto incrível àqueles
que por momentos encontravam-se nesse espaço.
41
6
As informações vinham publicadas em pequenos folhetins que traziam um número de seu
registro em relação à publicação e ao ano da mesma.
42
• Acha-se residindo nesta Corte um sujeito que se oferece para ensinar por
casas particulares a ler, escrever, e contar, por ser para isso sumamente
hábil... (nº 44, 1809)
A instalação de uma tipografia também foi uma das atitudes joaninas que
contribuíram para o desenvolvimento cultural do Brasil, apesar de a censura ter
representado um entrave para a publicação de periódicos, livros, etc.
Entre nós, muita coisa ficou inédita, muita coisa se perdeu, outra tanta
circulou em manuscritos que, conforme Cipriano de Abreu devem ter
servido de textos nas classes. A situação se agrava se lembrarmos que
a severidade da censura recaía igualmente sobre a aquisição ou o
comércio do livro, dificultando enormemente a formação de bibliotecas
particulares, que só tivemos, e pouquíssimas no século XVIII, sem
mencionar as inofensivas coleções dos conventos. Porque, biblioteca
pública, e assim mesmo inicialmente de acesso controlado, data entre
nós da época de D. João VI, e quase certo que não tivemos a venda
regular do livro. (CASTELO, 1997, p.28).
Impressão Régia, instalada no Rio de Janeiro, e que até hoje está amparada pela
Lei 10.994, de dezembro de 2004.
.
Figura 03- Biblioteca Nacional – Rio de Janeiro
Foi, ainda, nesta Lei que os conteúdos das disciplinas foram determinados:
deveriam ser ensinados os princípios de moral cristã e de doutrina da religião
católica e apostólica romana e temas sobre a Constituição do Império e História
do Brasil, inseridos no ensino da leitura.
Esse método fez muito sucesso no Brasil desde que aqui foi implantado.
Ele consistia basicamente em observar e trabalhar. Enquanto observar significa
“progredir da percepção para a ideia, do concreto para o abstrato, dos sentidos
para a inteligência, dos dados para o julgamento”, trabalhar (...) consiste em
“fazer do ensino e da educação na infância uma oportunidade para a realização
de atividade concretas, similares àquelas da vida adulta”. (VALDEMARIN, 1998,
p. 69).
Uma das novidades desse método estava no fato de incluir nos currículos
os estudos da natureza, ciência considerada particularmente “interessante para
as crianças, que assume (...) a posição de conteúdo escolar central pelo fato de
possibilitar o conhecimento da forma, da força e do movimento, elementos
presentes em vários aspectos da vida, sejam eles concretos ou abstratos”. (idem
p. 71).
Várias foram as questões propostas para discussão e para cada uma delas
um ou mais institutores eram responsáveis pela apreciação. Assim, Costa e
Cunha responsabilizou-se pela discussão sobre a adoção de escolas mistas no
Brasil. Para ele, essa ideia era
Mas, um dos mais conceituados trabalhos, pelo menos, um dos que mais
obtiveram sucesso foi o do institutor Francisco Alves da Silva Castilho que
ressalvou o método de leitura e escrita, no qual se aprendia a ler e a escrever
com a ajuda de palavras que a ortografia excluiu.
imediatamente: tanto faz colocar meu filho na escola primária que não
custa nada, como no colégio que custa caro.
Essa nova era fora instituída pela Reforma proposta pelo Ministro e
Secretário de Estado dos Negócios do Império Paulino José Soares de Sousa que
estabelecia o seguinte plano de estudos:
trissecular, num momento em que não havia outros caminhos para a formação
intelectual a não ser dando à cultura um caráter predominantemente literário e
retórico. A cultura humanística, entretanto, pode ser muito mais definida por sua
finalidade própria do que por seu conteúdo linguístico e literário. Ela representa
uma educação gratuita, desinteressada, isto é, desprovida de todo objetivo
imediatista. Além disso, os estudos de Humanidades no Brasil não só formavam a
aristocracia e preparavam as elites condutoras como também reforçavam a
distinção entre os letrados e os ignorantes.
Para Gasparello (2002, p. 274),
No Brasil, o caráter desse modelo serviu a uma elite que tinha como
parâmetro de cultura o mundo ocidental europeu, que incluía a
admiração ao seu passado clássico. Os textos gregos e latinos, além da
ênfase no estudo da Antiguidade, reforçavam, pelo ensino, a ligação
espiritual do restrito círculo de pessoas que viajavam e conheciam a
língua e a história das nações civilizadas. Essa cultura, especulativa e
desinteressada foi a marca de distinção de uma elite (...) que permitia
aos seus possuidores títulos oficiais, cargos e funções públicas.
Capítulo III
Figura 06- “Marquês de Pombal” – Louis Michel van Loo – 1707-1771, Museu da Cidade de Lisboa
72
Com o Alvará Régio de 1759, ainda, documento que proíbe o uso de outras
línguas que não o português, a educação passou a ser privilégio do Estado. As
dificuldades, porém, assomaram-se num território antes dominado pelos jesuítas:
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Surge, então, o Colégio Pedro II, que, como vimos anteriormente, teve,
inicialmente, seu modelo inspirado nos regulamentos dos colégios da França,
ainda sem a dependência dos Exames Preparatórios, pois seu diploma de
Bacharel em Letras era o suficiente para dar direito ao ingresso em qualquer
faculdade do Império.
a) idade de pelo menos oito anos e de doze quando muito; os que excederem
esta idade, não serão admitidos sem licença especial do governo;
d) despacho de admissão do reitor. Além disso, deverá o que pretender ser aluno
interno ter bexigas naturais ou vacinados.
Ainda nessas primeiras décadas do século XIX, era comum ver-se, nos
programas do Colégio Pedro II, a designação de Gramática Geral, também
conhecida como Gramática Filosófica. O autor mais importante dessa modalidade
foi Jerônimo Soares Barbosa, com a publicação de As Duas Línguas ou
Gramática Filosófica da Língua Portuguesa, comparada com a latina, para ambas
se aprenderem ao mesmo tempo. Na segunda edição, de 1830, o título foi
alterado para Gramática Filosófica da Língua Portuguesa, ou Princípios da
Gramática Geral aplicados à nossa linguagem.
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7
Para Fávero (1996, p. 206), pode-se dizer que a Gramática Philosophica apresenta dois
objetivos: 1) elucidação teórica sobre a origem e a natureza da linguagem: deve-se explicar os
fatos com a universalidade da razão, já que é ‘razoada’ (...); 2) instituição da norma prescritiva,
atendendo a interesses políticos e culturais”.
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8
José Ignácio Roquette, clérigo português, “viveu muitos anos em Paris até ser nomeado em 1858
professor de Hermenêutica e Eloquência Sagrada do Seminário Patriarcal de Lisboa, cidade onde
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serviu também como secretário de despachos do cardeal patriarca D. Manuel Bento Rorigues. Em
1847, recebeu do Imperador do Brasil a Ordem de Cavaleiro Imperial da Rosa. O contato com o
Imperador brasileiro talvez tenha animado o autor a dedicar seu compêndio à "educação da
mocidade portuguesa e brasileira" Foi nomeado sócio correspondente da Academia Real das
Ciências de Lisboa em 1850”. (RAZZINI, 2000, p. 42).
90
Essa gramática fora adotada pela primeira vez em 1866. Desde então, ela
“reinou nos bancos escolares brasileiros antes mesmo do programa de exames
de Fausto Barreto”. (FÁVERO, 2006, p. 92). Apesar de seguir os princípios da
gramática filosófica, em grande parte já substituída pelo modelo histórico-
comparativo, e de receber críticas severas de Grivet, essa gramática continuou a
ser adotada por todo o país.
Logo em sua introdução, Sotero dos Reis divide sua gramática em geral e
particular, destacando a primeira como ciência e a segunda como arte. Segundo
Fávero (2006, p. 94), “inscreve a gramática portuguesa definindo que também
seria considerada a arte de falar e escrever corretamente”.
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Foi também nesse programa que apareceram alguns sinais de que novas
teorias linguísticas chegavam à escola, ao comparar o vernáculo com o latim e
estudar as influências que ele recebeu de outras línguas modernas e das línguas
arábica e indígena.
Ainda nos anos 60 do século XIX, Caldas Aulete publicou sua Grammatica
Nacional. Explicitamente, sua produção denotava “sua ocupação como homem de
letras perante a formação de uma cultura erudita, no cômputo da norma culta na
língua portuguesa. Era necessário formar o indivíduo para a construção do
discurso e para o uso elaborado das combinações linguísticas autorizadas pela
gramática nacional”.(BOTO, online).
9
Manoel Olímpio Rodrigues da Costa (?-1891) foi professor do Ginásio baiano, da Escola
Normal da corte e professor de português, aritmética e geografia do primeiro ano do Colégio Pedro
II. Publicou dois compêndios: Gramática portuguesa e Noções de aritmética, (o último "sob as
vistas" de Abílio Cesar Borges), ambos adotados pelo governo imperial.
100
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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BUENO, Eduardo. Brasil: uma história. 2ed. São Paulo, Ática, 2003.
BURKE, Peter. O que é história cultural? Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1995.
FARIA FILHO, Luciano Mendes de. Instrução elementar no século XIX. In:
LOPES, Eliane Marta Teixeira; FILHO, Luciano Mendes Faria & VEIGA, Cynthia
Greive (orgs.). 500 anos de educação no Brasil. 2 ed. Belo Horizonte: Autêntica,
2000.
FÁVERO, Leonor Lopes & MOLINA, Márcia A. G. História das ideias linguísticas:
origem, método e limitações. In.: Revista Anpoll. N.16. São Paulo, 2004.
GOMES, Laurentino. 1808: como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma
corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a História de Portugal e do Brasil.
São Paulo: Planeta, 2008.
PESAVENTO, Sandra Jatahy. História & história cultural. 2ed. Belo Horizonte:
Autêntica, 2005.
REIS, José Carlos. Escola dos Annales: a inovação em história. São Paulo: Paz e
Terra, 2000.